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SOBRE O CONCEITO DE INTERDISCIPLINARIDADE

Recensão crítica apresentada à disciplina:


Construção do Conhecimento Interdisciplinar.

Tupã
2020
1 IDENTIFICAÇÃO DA OBRA
LEIS, H. R. Sobre o conceito de interdisciplinaridade. Cadernos de Pesquisa
Interdisciplinar em Ciências Humanas. Florianópolis, n. 73, ago. 2005. Disponível em:
https://ppgich.ufsc.br/files/2009/12/TextoCaderno73.pdf. Acesso em: 21 abr. 2020.

2 CREDENCIAIS DO AUTOR
Héctor Ricardo Leis, Professor do Departamento de Sociologia e Ciência Política da
UFSC.
3 QUADRO DE REFERÊNCIA DO AUTOR
O autor dá base ao seu artigo citando Leonor & Hansi, que fala dos três
diferentes conceitos para interdisciplinaridade fundamentado na lógica, na racionalidade
e subjetividade, que estão inseridas na cultura de cada sociedade com suas finalidades. E
cita Fazenda que dá enfoque na cultura brasileira e demais autores que vão falar de outras
culturas e do comportamento do pesquisador em outras épocas.

4 RESUMO DA OBRA
O conceito de interdisciplinaridade tem sofrido usos excessivos que podem
gerar sua banalização. Nesta obra não tem a intenção de provocar debates teóricos sobre
o que é a interdisciplinaridade.
Um obstáculo sério para entender o sentido da atividade interdisciplinar
reside no fato de que os pesquisadores e docentes estão envolvidos de tal modo que
entram em discussões intermináveis sobre um tema que ganha diferentes significados, em
lugares geográficos e instituições. É preciso entender o fenômeno mais como uma prática
em andamento, que como um exercício orientado por epistemologias e metodologia
perfeitamente definidas.
A prática interdisciplinar caminha na contramão de uma conceitualização.
Sua proposta deve ser apresentada da forma que seja operacional em termos da prática
interdisciplinar, preservando o caráter experimental e inovador da dita prática, sem tentar
sufocá-la. A busca por uma única definição para interdisciplinaridade deve ser recusada,
pois este ato descaracterizará a interdisciplinaridade em si mesmo que passará ser
disciplinar.
O pesquisador do mundo clássico e medieval tinha a preocupação em
estabelecer algum tipo de relação de aproximação com as diversas áreas do conhecimento.
Tinha em comum sua base do conhecimento ao ponto de que um e outro objeto podiam
conversar e trocar ideias produtivas. Cenário como esse é visto também na época de
Aristóteles ou de Galileu em que o pesquisador, de diferentes áreas, procurava
compartilhar conhecimento, se verifica hoje uma tendência geral que vai no sentido
contrário, fazendo com que o pesquisador se entrincheire em sua especialidade ou
subespecialidade, compartilhando seu conhecimento apenas no interior de um círculo
próximo e restrito. Tais hábitos, do ponto de vista epistemológico, cristalizam
pesadamente naquilo que Kuhn (1989) chamou de paradigmas científicos, que chamamos
de departamentos, como se divide a universidade.
A departamentalização da universidade foi levando-a progressivamente ao
abandono de sua vocação para os novos desafios no campo do ensino e da pesquisa,
conduzindo-a, sobretudo, para a reprodução do conhecimento voltado para o mercado de
trabalho ou mercado das profissões.
Os programas interdisciplinares são radicalmente diferentes dos disciplinares,
que buscam inspiração na experiência já existente. Os interdisciplinares produzem a
realidade que os contextualiza, ou seja, eles se auto-produzem enquanto programas
interdisciplinares.
Com relação aos movimentos interdisciplinares se constata que eles partem
de diversas premissas, as quais podem levar por caminhos aparentemente divergentes
entre si, mas não por isso menos válidos do ponto de vista interdisciplinar. Leonor &
Hansi (2004) apresentam três diferentes conceitos de interdisciplinaridade que se
constituem por movimentos que os impulsionaram. Ele destaca a cultura francesa, que
pode ser qualifica na lógica racional, centrado na busca de significado, portanto, abstrato.
A cultura científica norte-americana, que remete a uma preocupação marcada pela lógica
instrumental, orientada para a busca da funcionalidade social, que é a profissionalizante.
E a cultura científica brasileira, que privilegia as dimensões humanas e afetivas,
expressando uma lógica subjetiva dirigida à procura do próprio ser.
E esta diferenciação se fundamenta em culturas e finalidade diferentes. Na
França, a tradição da interdisciplinaridade deriva do Renascimento e do Iluminismo,
surge da luta contra o obscurantismo. No Estados Unidos, o recurso à
interdisciplinaridade parte de uma lógica instrumental, claramente oposta à francesa. Para
entender os impasses da universidade brasileira sobre a questão interdisciplinar é
fundamental entender bem o modelo cultural americano. Em certa forma, a cultura
científica americana é a mesma, tanto para o trabalho disciplinar, como interdisciplinar.
Partindo do privilegio do “fazer” não é difícil estabelecer a equivalência entre educar e
formar pessoas para o mercado de trabalho. Nos EUA a eficiência do taylorismo para o
aumento da produtividade nas fábricas está intimamente associada à eficiência da
departamentalização para o aumento da produtividade nas universidades. Modelo norte-
americano, a interdisciplinaridade pode estar pensada em termos de busca de novas
respostas, mas não para o avanço do conhecimento pelo conhecimento. A
interdisciplinaridade se transforma, de fato, numa nova especialização, apta para
responder problemas e alimentar profissões.
Segundo Fazenda (1994 e 2001) o enfoque brasileiro está centrado no ator -
professor ou pesquisador - como principal vetor da interdisciplinaridade a qual, portanto,
não seria primariamente reflexiva, nem instrumental. A finalidade da
interdisciplinaridade no Brasil é a busca da realização do ser humano. Postulando uma
perspectiva afetiva, a interdisciplinaridade procura responder perguntas pessoais dos
participantes.
O fator determinante da interdisciplinaridade não pode ser buscado
exclusivamente em torno das “necessidades” dos objetos, perguntando pelos seus
significados nos planos ontológico e epistemológico; também as “necessidades”
profissionais e sociais dos sujeitos não podem ser o fator determinante exclusivo; assim
como tampouco as dimensões humanas intersubjetivas podem ser vistas como fator
determinante exclusivo da interdisciplinaridade.
A busca pelo conhecimento não pode excluir nenhum enfoque, afinal a
interdisciplinaridade se dá a partir de manifestações de diversas áreas, dentro de um
processo que não se dá de forma delimitada em que a busca pela resposta será a única
verdadeira, considerando as demais como erros.
A tarefa deve ser vista como uma integração de alternativa complementares.
Bernstein (1983) sugere que o conhecimento deve ser empírico, interpretativo e crítico,
ao mesmo tempo. Podemos considerar hoje que conhecimento e ensino se constituem,
por excelência, como fruto de um esforço interdisciplinar, no contexto de uma
transformação cultural que possa facilitar tal esforço.

5 QUADRO DE REFERÊNCIA DE RESENHISTA


Durante a graduação, entre os anos de 2017 e 2019, tive contato com este
tema, com aplicação do método da interdisciplinaridade na disciplina “Trabalho
Orientado Interdisciplinar”.
Na processo seletivo para o mestrado, no ano de 2019, fiz a leitura de
TRINDADE, D. F. “Interdisciplinaridade: um novo olhar sobre as ciências” o autor fala
da interdisiplinaridade como uma reflexão sobre atitudes de humildade, de espera, de
deslumbramento, de respeito e de cooperação.
Atualmente, cursando a pós-graduação estou podendo aprofundar no tema a
partir das leituras de Edgar Morin “ A cabeça bem-feita: repensar a reforma, reformar o
pensamento”, onde autor traz para a discussão a totalidade da mente do indivíduo,
SATOLO, V. P. X et a “ Um panorama histórico-conceitual da pesquisa interdisciplinar:
uma análise a partir da pós-graduação da área interdisciplinar” que vai abordar a
interdisciplinaridade como sendo um importante instrumento de fomento para o
desenvolvimento regional, PHILIPPI JUNIOR, A. et al “Desenvolvimento sustentável,
interdisciplinaridade e Ciências Ambientais” onde faz um detalhamento do cerne da
interdisciplinaridade dentro das Ciências Ambientais e LENOIR & HASNI “La
interdisciplinaridad: por un matrimonio abierto de la razón, de la mano y del corazón” em
os autores discorrem sobre o uso da interdisciplinaridade a partir de três lógicas: a razão,
mão e coração.

6 CRÍTICA E COMENTÁRIOS DO RESENHISTA


Fica claro perceber que a interdisciplinaridade não se enquadra em uma
estrutura rígida e definida, mas é um processo que vai sendo construído a partir de cada
objeto de estudo, ou seja, o caminho interdisciplinar é feito caminhando, por isso não
cabe discutir a sua definição mas compreender o seu comportamento. Pois o seu
movimento na construção do saber vai seguir o modo de caminhar de cada grupo ou até
mesmo as partir das ferramentas que estão disponíveis.
É interesse perceber que o pesquisador medieval e clássico já tinham o
compartilhamento entre os saberes de forma intrínseca, em busca de uma resposta
satisfatória. A resposta era buscada por todos a partir de um ponto (base) comum, onde
era composto por diferentes saberes. A preocupação permeia na busca por uma relação
de aproximação dos saberes.
Na época de Aristóteles e Galileu o pesquisador buscava por si só outras áreas
do conhecimento para dar maior fundamento às suas respostas. Porém isso se dava de
forma natural.
Em diferentes épocas se percebia que a construção do conhecimento se dava
por diferentes áreas de saberes, penso que o pesquisador se sentia mais seguro quanto a
esse caminho que percorria, para obter respostas mais assertivas ao ponto que não abriam
mão de criar cada vez mais relações estreitas a fim de adquirir maior conhecimento, que
acontecia em uma troca natural.
Penso que este seja um movimento natural do ser pesquisador ou docente,
porém em um dado momento da evolução do saber essa etapa do processo, dessa
construção foi interrompida. Talvez a corrida por destaque nas mídias, na crença de que
receber sozinho os méritos de uma conquista seria o melhor, além do desejo de fazer
história, como tantas outras suposições levou o pesquisador a querer guardar para si e
suas informações que possivelmente poderia fazer com que outros lhe passassem a frente.
A interdisciplinaridade não pode ter uma única definição, não é possível fazer
sua conceituação a partir de um único olhar. O conceito de interdisciplinaridade vai se
dar a partir das vivências dos grupos, levando em consideração suas particularidades
como a região, cultura, sociedade. Com isso dar-se a esse processo educacional como
sendo peculiar que permite se movimentar conforme a realidade onde está sendo
implantado, mas ao mesmo tempo é uniforme, por carregar em si os mesmos valores e
objetivo.
A interdisciplinaridade, dentro da universidade, possibilita a instituição voltar
a razão para qual foi criada, de ser um local onde se busca conhecimento e, conhecimento
compartilhados.

7 INDICAÇÃO DA OBRA E APRESENTAÇÃO DA OBRA


Indico esta obra a pesquisadores, docentes e grupos de pesquisas.
Recensão de 25/04/2020.

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