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UNIVERSIDADE DE UBERABA

PRÓ-REITORIA DE PESQUISA, PÓS-GRADUAÇÃO E EXTENSÃO


PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO
MESTRADO E DOUTORADO
ESTUDOS INTERDISCIPLINARES E EDUCAÇÃO
PROFESSOR DOUTOR GUSTAVO ARAÚJO BATISTA

Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Sanzio_01.jpg. Acesso em: 20/08/2013


 Etimologicamente, trata-se de uma palavra
composta de dois vocábulos latinos, quais
sejam: o prefixo inter, cujo significado é: entre,
no meio, no interior, dentro; o substantivo
disciplina, cujo significado é: ordem, rigor,
método, conteúdo. Portanto, a
interdisciplinaridade é, grosso modo, aquilo que
se refere a algo que se encontra entre as áreas
de saberes, ou o denominador comum do
conhecimento.
 De acordo com Fazenda (2012, p. 17), a
interdisciplinaridade é um movimento que se
inicia na década de 1970 (construção
epistemológica), continuando na década de
1980 (explicitação das contradições da
construção epistemológica), assim como na
década de 1990 (tentativa de construção de
uma epistemologia específica da
interdisciplinaridade).
 Ainda conforme Fazenda (2012, p. 18), o
movimento em prol da interdisciplinaridade
surge na Europa, principalmente na França e
na Itália, na década de 1960, época na qual
também eclodem movimentos estudantis,
reivindicando um novo estatuto de
universidade e de escola. Inicialmente, tratava-
se de um movimento docente com o propósito
de romper com a concepção fragmentada do
saber, herança da cultura de excessiva
especialização.
 Insurgindo-se contra a concepção multipartida
do conhecimento, herdeira do positivismo, o
movimento em prol da interdisciplinaridade
também combatia a formação unilateral do
discente, a qual não lhe possibilitava adquirir
diferentes olhares sobre um mesmo objeto.
Assim, propunha-se, em contrapartida, uma
concepção multifacetada do saber, a fim de que
fossem oferecidas perspectivas sob outros
ângulos de visão.
 Uma vez que a concepção multipartida do
conhecimento seria uma patologia do saber
(Japiassú, 1976 apud Fazenda, 2012) que
resultaria na falência da ciência, discussões
foram feitas no sentido de debater o
conhecimento sob a ótica da categoria da
totalidade. Tal categoria de reflexão, proposta
na década de 1970, por Georges Gusdorf,
orientava-se pelos ideais de convergência e de
unidade entre as várias áreas do saber.
 Além da categoria da totalidade, o movimento
da interdisciplinaridade também se serviu da
categoria da interioridade, que consiste em
promover a busca pelo autoconhecimento,
cujas raízes já se encontram desde a filosofia
socrática, a qual, adotando a inscrição délfica
(“gnwqi seauton” – “Conhece-te a ti mesmo”),
priorizou a investigação pautada no saber que
o indivíduo deveria ter acerca de si próprio.
 A questão da interioridade sempre esteve presente nas
reflexões filosóficas ao longo da história ocidental. Além
de Sócrates (471/470 – 399 a.C), da Antiguidade Clássica,
temos os exemplos de Santo Agostinho (354-430), da
Antiguidade Tardia (“Noli foras ire, in te ispum redi, in
interiore homine habitat veritas” – Não saias de ti, entra
em ti mesmo, no homem interior habita a verdade), bem
como de René Descartes (1596-1650), da Modernidade
(“Cogito, ergo sum” – Penso, logo existo). Na
Contemporaneidade, também há exemplos, como o de
Sören Aabye Kierkegaard (1813-1855): “Não há verdade
verdadeira que não seja subjetiva, isto é apropriada”; e de
Jean-Paul Sartre (1905-1980): “Não importa o que faremos
de nós. O que importa é o que faremos daquilo que
fizeram de nós”.
 O movimento da interdisciplinaridade é
contemporâneo à crítica do cientificismo, da qual
retira elementos para se nutrir, adotando a ideia
segundo a qual não é apenas a ciência a única e a
melhor maneira de conhecer, mas apenas uma
das múltiplas maneiras de saber, ao lado da
filosofia, da arte, da religião e do senso comum.
Assim, a interdisciplinaridade não é apenas uma
justaposição de conhecimentos, mas uma
maneira de conceber o saber não em perspectiva
hierárquica, mas sim circular.
 Ao vincular-se à crítica ao cientificismo, a
interdisciplinaridade também se insurgirá
contra o logocentrismo (centralização da
racionalidade), ao procurar abrir espaço para
outras modalidades de manifestação do
espírito humano (imaginação, emoção,
sentimento, sonho, fantasia) no processo de
construção do conhecimento.
 Multidisciplinaridade: Segundo Silva (apud
Sommerman, 2006), é a organização dos
componentes curriculares de forma
independente, não havendo diálogo entre eles;
 Pluridisciplinaridade: Conforme Silva (apud
Sommerman, 2006), os componentes
curriculares são organizados de forma a
cooperarem entre si; no entanto, ainda não há
coordenação entre eles;
 Transdisciplinaridade: De acordo com a síntese
do Congresso de Locarno (apud Sommerman,
2006), trata-se daquilo que está
simultaneamente entre as disciplinas, através
delas e além delas, cuja finalidade é
compreender o mundo atual, razão pela qual
pensar a unidade do conhecimento é
imperativo. Nesse sentido, o conceito de
transdisciplinaridade coincide com o conceito
de interdisciplinaridade defendido por
Fazenda (2012).
 1º. Fundamento: Dialética;
 2º. Fundamento: Memória;

 3º. Fundamento: Parceria;

 4º. Fundamento: Sala de aula interdisciplinar;

 5º. Fundamento: Projeto interdisciplinar;

 6º. Fundamento: Pesquisa interdisciplinar.

(Cf. Fazenda, 2012, p. 81-89).


 A interdisciplinaridade não é apenas especulação,
uma vez que requer ações a serem realizadas por
cada um dos indivíduos envolvidos no processo
educacional; trata-se mais de uma postura
intelectual; é uma postura moral, porquanto requer
respeito tanto por si mesmo quanto pelo outro.
Ademais, não se trata de algo a ser feito
aleatoriamente, pois requer tanto rigor teórico
quanto metodológico, ao exigir a elaboração de
projetos de forma horizontal, ou seja, envolvendo
todos os interessados em deles participar. Mais
que uma tendência, é uma necessidade do espírito
humano em sua busca por unidade e por
totalidade do conhecimento.
 “A transdisciplinaridade não constitui uma
nova filosofia. Nem uma nova metafísica. Nem
uma ciência das ciências e muito menos, como
alguns dizem, uma nova postura religiosa.
Nem é, como insistem em mostrá-la, um
modismo. O essencial na transdisciplinaridade
reside numa postura de reconhecimento onde
não há espaço e tempo culturais privilegiados
que permitam julgar e hierarquizar – como
mais corretos ou mais verdadeiros – complexos
de explicação e convivência com a realidade
que nos cerca” (D´Ambrósio, 1997, p. 9).
 D´AMBRÓSIO, U. Transdisciplinaridade. São
Paulo: Palas Athena, 1997.
 FAZENDA, I. C. A. Interdisciplinaridade:
história, teoria e pesquisa. Campinas: Papirus,
2012.
 SOMMERMAN, A. Inter ou
transdisciplinaridade? Da fragmentação
disciplinar ao novo diálogo entre os saberes.
São Paulo: Paulus, 2006.

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