Etimologicamente, trata-se de uma palavra composta de dois vocábulos latinos, quais sejam: o prefixo inter, cujo significado é: entre, no meio, no interior, dentro; o substantivo disciplina, cujo significado é: ordem, rigor, método, conteúdo. Portanto, a interdisciplinaridade é, grosso modo, aquilo que se refere a algo que se encontra entre as áreas de saberes, ou o denominador comum do conhecimento. De acordo com Fazenda (2012, p. 17), a interdisciplinaridade é um movimento que se inicia na década de 1970 (construção epistemológica), continuando na década de 1980 (explicitação das contradições da construção epistemológica), assim como na década de 1990 (tentativa de construção de uma epistemologia específica da interdisciplinaridade). Ainda conforme Fazenda (2012, p. 18), o movimento em prol da interdisciplinaridade surge na Europa, principalmente na França e na Itália, na década de 1960, época na qual também eclodem movimentos estudantis, reivindicando um novo estatuto de universidade e de escola. Inicialmente, tratava- se de um movimento docente com o propósito de romper com a concepção fragmentada do saber, herança da cultura de excessiva especialização. Insurgindo-se contra a concepção multipartida do conhecimento, herdeira do positivismo, o movimento em prol da interdisciplinaridade também combatia a formação unilateral do discente, a qual não lhe possibilitava adquirir diferentes olhares sobre um mesmo objeto. Assim, propunha-se, em contrapartida, uma concepção multifacetada do saber, a fim de que fossem oferecidas perspectivas sob outros ângulos de visão. Uma vez que a concepção multipartida do conhecimento seria uma patologia do saber (Japiassú, 1976 apud Fazenda, 2012) que resultaria na falência da ciência, discussões foram feitas no sentido de debater o conhecimento sob a ótica da categoria da totalidade. Tal categoria de reflexão, proposta na década de 1970, por Georges Gusdorf, orientava-se pelos ideais de convergência e de unidade entre as várias áreas do saber. Além da categoria da totalidade, o movimento da interdisciplinaridade também se serviu da categoria da interioridade, que consiste em promover a busca pelo autoconhecimento, cujas raízes já se encontram desde a filosofia socrática, a qual, adotando a inscrição délfica (“gnwqi seauton” – “Conhece-te a ti mesmo”), priorizou a investigação pautada no saber que o indivíduo deveria ter acerca de si próprio. A questão da interioridade sempre esteve presente nas reflexões filosóficas ao longo da história ocidental. Além de Sócrates (471/470 – 399 a.C), da Antiguidade Clássica, temos os exemplos de Santo Agostinho (354-430), da Antiguidade Tardia (“Noli foras ire, in te ispum redi, in interiore homine habitat veritas” – Não saias de ti, entra em ti mesmo, no homem interior habita a verdade), bem como de René Descartes (1596-1650), da Modernidade (“Cogito, ergo sum” – Penso, logo existo). Na Contemporaneidade, também há exemplos, como o de Sören Aabye Kierkegaard (1813-1855): “Não há verdade verdadeira que não seja subjetiva, isto é apropriada”; e de Jean-Paul Sartre (1905-1980): “Não importa o que faremos de nós. O que importa é o que faremos daquilo que fizeram de nós”. O movimento da interdisciplinaridade é contemporâneo à crítica do cientificismo, da qual retira elementos para se nutrir, adotando a ideia segundo a qual não é apenas a ciência a única e a melhor maneira de conhecer, mas apenas uma das múltiplas maneiras de saber, ao lado da filosofia, da arte, da religião e do senso comum. Assim, a interdisciplinaridade não é apenas uma justaposição de conhecimentos, mas uma maneira de conceber o saber não em perspectiva hierárquica, mas sim circular. Ao vincular-se à crítica ao cientificismo, a interdisciplinaridade também se insurgirá contra o logocentrismo (centralização da racionalidade), ao procurar abrir espaço para outras modalidades de manifestação do espírito humano (imaginação, emoção, sentimento, sonho, fantasia) no processo de construção do conhecimento. Multidisciplinaridade: Segundo Silva (apud Sommerman, 2006), é a organização dos componentes curriculares de forma independente, não havendo diálogo entre eles; Pluridisciplinaridade: Conforme Silva (apud Sommerman, 2006), os componentes curriculares são organizados de forma a cooperarem entre si; no entanto, ainda não há coordenação entre eles; Transdisciplinaridade: De acordo com a síntese do Congresso de Locarno (apud Sommerman, 2006), trata-se daquilo que está simultaneamente entre as disciplinas, através delas e além delas, cuja finalidade é compreender o mundo atual, razão pela qual pensar a unidade do conhecimento é imperativo. Nesse sentido, o conceito de transdisciplinaridade coincide com o conceito de interdisciplinaridade defendido por Fazenda (2012). 1º. Fundamento: Dialética; 2º. Fundamento: Memória;
3º. Fundamento: Parceria;
4º. Fundamento: Sala de aula interdisciplinar;
5º. Fundamento: Projeto interdisciplinar;
6º. Fundamento: Pesquisa interdisciplinar.
(Cf. Fazenda, 2012, p. 81-89).
A interdisciplinaridade não é apenas especulação, uma vez que requer ações a serem realizadas por cada um dos indivíduos envolvidos no processo educacional; trata-se mais de uma postura intelectual; é uma postura moral, porquanto requer respeito tanto por si mesmo quanto pelo outro. Ademais, não se trata de algo a ser feito aleatoriamente, pois requer tanto rigor teórico quanto metodológico, ao exigir a elaboração de projetos de forma horizontal, ou seja, envolvendo todos os interessados em deles participar. Mais que uma tendência, é uma necessidade do espírito humano em sua busca por unidade e por totalidade do conhecimento. “A transdisciplinaridade não constitui uma nova filosofia. Nem uma nova metafísica. Nem uma ciência das ciências e muito menos, como alguns dizem, uma nova postura religiosa. Nem é, como insistem em mostrá-la, um modismo. O essencial na transdisciplinaridade reside numa postura de reconhecimento onde não há espaço e tempo culturais privilegiados que permitam julgar e hierarquizar – como mais corretos ou mais verdadeiros – complexos de explicação e convivência com a realidade que nos cerca” (D´Ambrósio, 1997, p. 9). D´AMBRÓSIO, U. Transdisciplinaridade. São Paulo: Palas Athena, 1997. FAZENDA, I. C. A. Interdisciplinaridade: história, teoria e pesquisa. Campinas: Papirus, 2012. SOMMERMAN, A. Inter ou transdisciplinaridade? Da fragmentação disciplinar ao novo diálogo entre os saberes. São Paulo: Paulus, 2006.