Você está na página 1de 10

METODOLOGIA DE HISTÓRIA DE VIDA: A HISTÓRIA DE VIDA

PROFISSIONAL DE UMA PESSOA SURDA

MAESTRI, Rita de Cássia 1 UFPR

MINDAL, Clara Brener 2 - UFPR

Grupo de Trabalho - Formação de Professores e Profissionalização Docente


Agência Financiadora: não contou com financiamento

Resumo

Este artigo tem por objetivo descrever a metodologia da História de Vida na perspectiva da
formação/auto formação segundo Josso (2004; 2010), que tem como foco a valorização do
sujeito como singular e criativo, cujo desenvolvimento pessoal e cultural relaciona-se com a
evolução dos contextos de vida profissional e social. Nesse relato de experiência, a pesquisa
(auto) biográfica refere-se à própria autora3, que é psicóloga, professora de língua brasileira
de sinais (Libras) e surda desde os dois anos e meio. A metodologia de História de Vida
proposta por Josso utiliza o conceito de formação experiencial, destacando a importância da
narrativa neste percurso, pois ela permite manifestar a singularidade e perceber o caráter
processual da formação e da vida, relacionando espaços, tempos e as diferentes dimensões
dos sujeitos, em busca de uma sabedoria de vida A escrita narrativa mobiliza no sujeito uma
tomada de consciência, por emergir do conhecimento de si e das dimensões intuitivas,
pessoais, sociais e políticas impostas pelo mergulho interior, remetendo a constantes desafios
em relação às suas experiências e às posições tomadas. Pesquisas científicas que destacam a
singularidade dos sujeitos surdos são fundamentais para mostrar a realidade, uma vez, que na
atualidade os surdos brasileiros já contam com leis que legitimam o uso de sua língua, como a
Lei 10.436 de 2002 que regulamenta a língua brasileira de sinais e o Decreto Federal nº5626,
de 22 de dezembro de 2005 que estabelece o curso de letras Libras como currículo obrigatório
nos cursos de formação de professores, em nível médio e superior. Outro aspecto é a inclusão
educacional das pessoas surdas, onde encontramos poucos relatos sobre as vivências dos

1
Possui graduação em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (1984), é especialista em
Educação Especial pela Facinter (2004). Atualmente trabalha como psicóloga na Clínica de Psicologia e
Consultoria LIBRAS, Professora Substituta pela Universidade Federal do Paraná e mediadora do Programa de
Enriquecimento Instrumental para surdos. Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Educação da
Universidade Federal do Paraná (2012) na linha de Cognição, Aprendizagem e Desenvolvimento Humano. E-
mail:rita_maestri@hotmail.com.
2
Doutora em Educação: Psicologia da Educação pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUCSP).
Professora Adjunta da Universidade Federal do Paraná (UFPR). E-mail: clarabrenermindal@ufpr.br.
3
Psicóloga e professora de Libras: Rita de Cássia Maestri
14560

próprios surdos e seu processo de formação/auto formação. Desta maneira, por meio de
pesquisas de História de Vida pode-se contribuir para melhor compreensão da realidade surda
e sua formação profissional.

Palavras-chave: Metodologia de História de vida. Surdos. Formação profissional.

Introdução

Este trabalho inscrito na modalidade “relatos de experiências”, visa descrever a


metodologia de pesquisa utilizada para a elaboração da minha dissertação de mestrado que é a
de História de Vida (JOSSO, 2004; 2010). Como aluna regular do Programa de Pós-
Graduação em Educação da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e como pessoa surda,
psicóloga e professora de Libras, há mais de 29 anos, pretendo no mestrado relatar, refletir e
discutir minha própria história de vida enfatizando o aspecto profissional.

Desenvolvimento

Comecei o mestrado no Programa de Pós-Graduação em Educação no ano de 2012 na


UFPR, na linha de Cognição, Aprendizagem e Desenvolvimento Humano. Fui desafiada a
narrar minha história de vida, o objeto de pesquisa: minha trajetória profissional, enfatizando
os aspectos do processo de formação, conhecimento e aprendizagem. Para tanto, a
metodologia sugerida por minha orientadora foi a de História de Vida. Outro desafio que
encontrei foi em relação ao tempo de leitura, pois, na condição de pessoa surda com perda
profunda4, precisava de mais tempo nas leituras para decifrar o código da língua portuguesa,
que é a minha segunda língua, sendo a primeira a língua brasileira de sinais (Libras).
Necessitava buscar em cada linha da leitura o significado de palavras em dicionários e
buscadores da internet, relento várias vezes para chegar à logica do texto e isso me tomava
todo o tempo.5 Sabe-se que o surdo dentro da comunicação em massa perde muitas
informações e o mestrado exige domínio de conhecimentos em um tempo curto e esse está
sendo o meu grande desafio. Tenho contado ao longo desse processo com o apoio dos demais

4
Surdez profunda refere-se a perdas auditivas de 90dB , segundo Boone e Plante (1994)
5
Na comunicação digital não há acesso eficiente que contribui para ter base nas informações visuais, como
legenda na TV nas propagandas nos programas educativos, jornais (nem todos acessam legendas).
14561

professores do mestrado, com a minha orientadora, colegas, intérpretes e uma


psicopedagoga6, que possibilita a revisão do texto na língua portuguesa.
Inicialmente, fiz uma revisão bibliográfica sobre o tema “Metodologia da História de
Vida” e durante os seminários de pesquisa do mestrado apresentei meu projeto e a
metodologia referida para colegas e professores da pós-graduação.
Fiz leituras dos livros de Josso (2004, 2010), Antonio Nóvoa (1992), Souza (2006)
Dominicé (2010) entre outros, cujo foco era referente à Metodologia de História de Vida.
Meu projeto de pesquisa passou por algumas modificações e hoje se intitula “A História de
Vida profissional de uma pessoa surda”.
Fazendo a revisão de literatura e estudando os autores acima citados, destaco os
trabalhos de Nóvoa (1992) que discute as perspectivas metodológicas, mostrando que as
abordagens (auto) biográficas são fruto de uma insatisfação das ciências sociais em relação ao
tipo de saber produzido e da necessidade de uma renovação dos modos de conhecimento
científico. Por esse motivo, esta metodologia contribui nas investigações, cuja ênfase é a
formação de um professor reflexivo. Nóvoa descreve sua prática investigativa no livro “Vidas
de Professores”, por meio de oitos artigos utilizando a metodologia de História de Vida, o
autor dá “voz aos professores”, assim, os professores são sujeito e não objeto de pesquisa.
Em relação às dinâmicas de investigação-formação que sustentem as abordagens
(auto) biográficas, Pierre Dominicé (apud NÓVOA, 2010, p.24), afirma que:

A vida é o lugar da educação e a história de vida o terreno no qual se constrói a


formação. Por isso, a prática da educação define o espaço de toda a reflexão teórica.
O trabalho do investigador e dos participantes num grupo biográfico não é da
mesma natureza, na medida em que ele possui mais instrumentos de análise uma
maior experiência de investigação. Mas trata-se do mesmo objeto de trabalho. Dito
de outro modo, o saber sobre a formação provém da própria reflexão daqueles que
se formam. É possível especular sobre a formação e propor orientações teóricas ou
fórmulas pedagógicas que não estão em relação com os contextos organizacionais
ou pessoais. No entanto, a análise dos processos de formação, entendidos numa
perspectiva de aprendizagem e de mudança, não se pode fazer sem uma referência
explícita ao modo como um adulto viveu as situações.

Em relação à abordagem (auto) biográfica, Josso afirma que é uma investigação


científica, porque se relaciona à produção de conhecimentos experienciais dos sujeitos adultos
em formação, segundo a autora, as histórias centradas na formação evidenciam, através da
escrita narrativa, questionamentos das heranças, da continuidade e da ruptura, dos projetos

6
A psicopedagoga e professora universitária Noemi N. Ansay que trabalha há mais de 20 anos com pessoas
surdas.
14562

de vida, dos múltiplos recursos ligados às aquisições de experiência e outros aspectos. Esse
trabalho de reflexão da narrativa sobre a formação de si (pensando, sensibilizando-se,
imaginando, emocionando-se, apreciando, amando) permite estabelecer a medida das
mutações sociais e culturais nas vidas singulares e relacioná-las com a evolução dos contextos
de vida profissional e social. (JOSSO, 2004, 2010)
Segundo Souza (2006) a escrita narrativa estimula o sujeito a tomar decisões de forma
consciente, por emergir do conhecimento e das dimensões intuitivas, pessoais, sociais e
políticas impostas pelo mergulho interior, remetendo a constantes desafios em relação às suas
experiências e às posições tomadas. Diversos questionamentos surgem na tensão dialética
entre o pensamento, a memória e a escrita e se relacionam à arte de evocar, ao sentido
estabelecido e à investigação sobre si mesmo, construídos pelo sujeito, como um investimento
sobre a sua história, para ampliar o seu processo de conhecimento e de formação a partir das
experiências.
Os autores acima citados enfatizam nos campos das ciências humanas as pesquisas
com o método das Histórias de Vidas com (auto) biografias, mostrando os aspectos
metodológicos e teóricos. Neste relato de experiências utilizarei a metodologia das Histórias
de Vidas segundo Josso.

História de vida: metodologia inovadora de pesquisa

Na atualidade o ser humano tem buscado soluções para aprimorar seu


desenvolvimento individual, profissional e sociocultural, valorizado sua singularidade, suas
reflexões e sua formação. O mundo contemporâneo a cada dia faz novas exigências, sendo
necessário que o sujeito passe por um processo de autoconhecimento, caso contrário, ficará
perdido em meio a tantas demandas da sociedade onde vive.
Conhecer sua história e ter consciência dela pode ser um caminho para o
desenvolvimento pessoal. A metodologia de História de vida é uma abordagem que utiliza a
narrativa das vivências do sujeito para levá-lo a um processo de transformação. Segundo
Josso (2004, p.9) o sujeito pode “transformar a vida socioculturalmente programada numa
obra inédita a construir”. Esta transformação acontece, quando o sujeito toma consciência de
si mesmo, encarando sua trajetória de vida, os investimentos, os objetivos, as experiências
formadoras, os grupos de convívio, os valores, os comportamentos, as atitudes, as formas de
14563

sentir e viver, os encontros e desencontros. Por meio dessa conscientização ele vai criando e
entendendo os sentidos e significados da sua vida.
Para Josso (2004) a metodologia de História de Vida vendo sendo utilizada nas
últimas décadas na área das ciências humanas, contrapondo-se a hegemonia de modelos
funcionalistas, marxistas e estruturalistas. A partir da década de setenta, por meio da Teoria
dos Sistemas, proposta por Bertalanffy, que “reintroduziu a abertura e a indeterminação no
seio de uma visão determinista”, (JOSSO, 2004, p. 20), inicia-se uma nova forma de
compreender as singularidades do ser humano. Na antropologia, as contribuições de Batenson
(1980) que estudou sobre o conhecimento e o saber e a Escola de Palo Alto que compreendia
a realidade através de interações concretas. Também na sociologia, autores como Crozier e
Friedberg, citados por Josso (2004), trouxeram contribuições com suas obras, uma delas “ O
ator e o sistema” que utiliza uma visão da teoria sistêmica. Na década de 80 vários intelectuais
passaram a utilizar a abordagem interdisciplinar. Na Psicologia e na Educação importantes
autores como Carl Rogers, Paulo Freire e Bernard Honoré (JOSSO, 2004), possibilitaram um
terreno fértil para estudos biográficos, aproximando-se do sujeito aprendente, enfatizando “o
ponto de vista daquele que aprende e seu processo de aprendizagem”. (JOSSO, 2004, p. 19).
A redescoberta do sujeito em suas singularidades, o voltar-se para si mesmo, “o
caminhar para si”, também implica em caminhar com o outro, que nos desafia a refletir sobre
nossa própria existência no mundo. Esta metodologia coloca sujeito no centro do processo de
formação e aprendizagem. Os métodos que tomam a narração dos sujeitos são considerados
inovadores nas Ciências Humanas, pois consideram como um de seus instrumentos de
pesquisa a subjetividade individual, oferecendo a oportunidade de dar voz aos sujeitos que
pouco eram ouvidos ou tinham um pequeno espaço para expor-se.
A metodologia de História de Vida não é uma biografia, ou um “romance sobre a vida
de alguém”, é uma metodologia que utiliza uma variedade de fontes e procedimentos de
coleta de dados: documentos pessoais (autobiografias, diários, cartas, fotografias e objetos
pessoais), e também entrevistas biográficas (orais ou escritas). A narração leva o sujeito a
uma tomada de consciência, pois surge do conhecimento de si e de suas diferentes dimensões
(pessoais, sociais e políticas) levando o mesmo a tomada de posições. (SOARES;
SOBRINHO, 2012 )
Os estudos de História de Vida e de projetos (profissional, reinserção, expressão,
formação, vida) para Josso estruturam-se em dois eixos que são: “continuação do projeto
14564

teórico de uma compreensão biográfica da formação e a fortiori da autoformação, por meio


das perspectivas de pesquisa-formação e por outro, o uso de abordagens autobiográficas
postas a serviço dos projetos” (JOSSO, 2004, p. 22)
Dentro dos dois eixos as grandes linhas para reflexão são: as histórias de vida como
projeto de conhecimento e as “histórias de vida” a serviço de lógicas de projeto.
No caso das pesquisas feitas por meio de histórias de vida como projeto de
conhecimento estas objetivam um processo de mudança do posicionamento do pesquisador,
mediante procedimentos metodológicos de pesquisa-formação articuladas à construção de
uma história de vida. Também este processo propicia uma reflexão que abarca a formação, a
auto formação e suas características.
A tendência do projeto metodológico tem mobilizado individualmente e
coletivamente, tanto os pioneiros como os pesquisadores da segunda geração, pois essa
metodologia oferece opções para a necessidade de reivindicar, de dar um lugar, justificar sua
sustentação, dando uma legitimidade à mobilização da subjetividade como modo de produção
de saber e à intersubjetividade como suporte do trabalho interpretativo e de construção de
sentidos para os autores dos relatos. (JOSSO, 2004)
Muitos autores segundo Josso (2004) como Gaston Pineau (1989), Peirre Dominicé
(1990), Danielle Desmarais e Jean-Marc Pilon, Jean-Michel Baudouin (1998) e outros
tiveram com esta metodologia um desafio epistemológico (desafios de lugar e poder) relativo
ao valor de uso dos conhecimentos produzidos e às normas de legitimação de um saber
cientifico.
Quanto ao eixo que fala das “histórias de vida” a serviço de lógicas de projeto, a
narrativa oral ou escrita procura englobar a vida do sujeito, limitando-se a fornecer material
para um projeto especifico. Josso (2004) argumenta que não se trata de um trabalho
biográfico partindo de entradas experienciais e nem da abordagem temática de um itinerário,
mas sim, que a metodologia da Historia de Vida colocada a serviço de um projeto é adaptada
a perspectiva definida pelo projeto especifico, mas que também engloba a totalidade da vida
em todas as suas dimensões (passado, presente e futuro).

Caminhos da pesquisa: metodologia da história de vida

Segundo Warschauer (2004, apud JOSSO, p.09) o caminho proposto pela


“Metodologia das Histórias de Vida” é a narrativa, pois possibilita o estudo sobre a vida das
14565

pessoas e a exposição da sua singularidade, diante do universal. Desta maneira, os


procedimentos metodológicos possibilitam uma articulação entre espaço e tempo,
compreendendo a dinâmica das relações existenciais em busca de uma sabedoria de vida.
Josso (2004) descreveu sua metodologia de pesquisa-formação, cujo tema era história
de vida na educação de adultos, com um grupo de 27 pessoas que se encontravam uma vez
por semana, durante duas horas por quase um ano. As etapas elencadas foram:

1. Os animadores fazem uma introdução teórica sobre o tema da narração de vida


na educação de adultos com os participantes em um seminário.
2. Os participantes escrevem sobre o que esperavam do trabalho de reflexão sobre
seu percurso de vida.
3. Os animadores expõem algumas questões especificas sobre o tema e as pessoas
se dividem em três grupos de acordo com seus interesses.
4. Com a orientação do animador as pessoas de cada grupo são incentivadas a
narrar sua história de formação, inicialmente de forma oral e depois de forma
escrita.
5. As narrativas são questionadas;
6. Os três grupos participam de duas reuniões em uma plenária, onde cada
animador apresenta sua concepção de análise e como compreenderam as
narrativas.
7. Todos retornam aos pequenos grupos e trabalham coletivamente sobre a
passagem da “sua” formação individual para a “formação dos adultos”
8. No final os animadores e participantes fazem um balanço sobre o seminário.

Josso (2004) também descreve e discute as fases dessa abordagem: a fase da


introdução à construção da narrativa da história da formação, nesta fase é apresentada à
proposta e os questionamentos que deram origem às escolhas teóricas da autora. Na fase de
elaboração da narrativa, cada participante relata de forma oral e apresenta sua narrativa
escrita. Na fase de compreensão e de interpretação das narrativas escritas os participantes
são convidados a apresentar a sua narrativa escrevendo de forma a ser compreendido pelos
outros e lendo depois, a narrativa do outro participante, surgindo desta forma o processo de
reflexão e a reconstituição das significações da narrativa. Seguindo esses passos, surge a
14566

transformação das narrativas de vida focando a formação devido às diferentes interpretações


dos participantes. E na fase de balanço dos formadores e dos participantes onde se faz o
balanço dos conhecimentos e aprendizagens novas e prolongamento da reflexão experimental
e existencial, possibilitando uma tomada de consciência da formação do sujeito para o
surgimento de um sujeito em formação.

Contribuições da metodologia de história de vida para compreensão de sujeitos em sua


singularidade e universalidade

Na metodologia proposta por Josso (2004) em trabalhos grupais, os sujeitos são


confrontados com suas histórias de vida e com as de outros sujeitos, o que os leva a perceber
várias dimensões da sua realidade de vida, aprendendo com o ‘outro’. Os aspectos
trabalhados podem ser: a dimensão temporal da formação, a dimensão da subjetividade, a
dialética individual e coletiva, interioridade e exterioridade, o papel da imaginação e da
tomada de consciência.
Uma das contribuições da metodologia é a compreensão sobre a formação do sujeito
que integra a prática do saber-fazer a seus processos de aprendizagem, ou seja, o sujeito
incorpora a experiência direta as formulações e soluções teóricas, que auxiliam na resolução
de problemas.

O processo do caminhar para si apresenta-se, assim, como um projeto a ser


construído no decorrer de uma vida, portanto, é necessário a tomada de consciência
inerente à passagem de uma compreensão da formação do sujeito para o
conhecimento das características da sua subjetividade em exercício. Este processo
exige uma responsabilização do sujeito e põe em evidência a autonomização
potencial como escolha existencial. Assim, este autoconhecimento poderá inaugurar
a emergência de um eu mais consciente e perspicaz para orientar o futuro da sua
realização e reexaminar, na sua caminhada, os pressupostos das suas opções. Esses
são os objetivos formativos da abordagem histórica de vida, além das aprendizagens
que a abordagem, tal como é proposta, pode favorecer. (JOSSO, 2004, p.60)

Outra contribuição que essa metodologia pode oferecer é possibilitar um novo olhar
sobre a concepção escolar de formação, através da tomada de consciência das experiências de
vida de cada um, pode-se tirar lições e aprender muitas coisas. Através do registro de
narrativas os alunos, os pais, os colegas, os professores podem recordar momentos positivos e
negativos, alegres e tristes, em um processo árduo de ir ao passado com o pensar e o olhar de
hoje, em um exercício constante de reflexão, que visa a formação do sujeito aprendente
(JOSSO, 2004, p. 21).
14567

Considerações Finais

Trabalhar com a metodologia de História de Vida é um grande desafio, mas considero


que é um caminho possível e que atende as singularidades e especificidades de cada sujeito.
Através da narrativa, os sujeitos imaginam e criam ligações entre diferentes fatos de sua vida,
essas ligações implicam em uma “escuta atenta da sua vida interior” (JOSSO, 2004, p.265).
Essa pesquisa de mestrado está em andamento e ainda não foi realizada a análise dos dados da
história de vida da autora, no entanto, como pesquisadora surda, considero que através da
minha investigação posso contribuir para um melhor entendimento dos processos de
formação, conhecimento e aprendizagem da comunidade surda, uma vez que os surdos, já têm
seus direitos linguísticos garantidos por meio da Lei nº 10.436, de 24 de abril de 2002, além
do Decreto Federal nº 5.626, de 22 de dezembro de 2005, que também reafirma a importância
do curso de letras-libras na formação de professores.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Decreto N º 5.626, de 22 de dezembro de 2005. Regulamenta a Lei n º 10.436 de 24


de abril de 2202, que dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais-Libras. Brasília. 2005.

______. Lei n º 10.436, de 24 de abril de 2002. Dispõe sobre a Língua Brasileira de sinais-
Libras e dá outras providências. Brasília. 2002.

DOMINICÉ, P. O processo de formação e alguns dos seus componentes relacionais. In:


NÓVOA, Antonio & FINGER, Mathias. O método (auto) biográfico e formação. São
Paulo: Paulus, 2010. Cap. 03. p.81-95.

JOSSO, M.C. Caminhar para si. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2010.

__________. Experiências de vida e formação. São Paulo: Cortez, 2004.

NÓVOA, António (Org.). Vidas de professores. Porto, Portugal: Porto Editora, 1992.
(Coleção Ciências de Educação).

SOARES, A.M.F.; SOBRINHO, J.A.C.M. Autobiografia e formação docente: caminhos e


perspectivas para prática reflexiva. Disponível em
<http://alfabetizarvirtualtextos.files.wordpress.com/2012/09/soares_autobiografiaformacaodo
cente.pdf >. Acesso em: 10/03/2013.

SOUZA, E. C de. A arte de contar e trocar experiências: reflexões teórico-metodológicas


sobre história de vida em formação. Revista Educação em Questão, V. 25, n.11,jan./abr.
14568

2006 Disponível em <http://www.revistaeduquestao.educ.ufrn.br/pdfs/v25n11.pdf>. Acesso


em 10/03/2013.

______. O conhecimento de si: estágio e narrativas de formação de professores. Rio de


Janeiro: DP&A; Salvador: UNEB, 2006.

Você também pode gostar