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CUPERTINO, C.M.B.

Arte em Psicologia e Educação: o uso de recursos


expressivos no passado recente
Daniel Pires Rodrigues Nunes - T353ID9

RESUMO
Segundo o autor, a prática de atendimentos psicológicos baseados em
recursos expressivos tem sido observada em profissionais de Psicologia e
Educação. O estudo objetiva sistematizar e discutir as práticas formativas e
terapêuticas nesse contexto, analisando trabalhos acadêmicos entre 1996 e
2001 em universidades de São Paulo.

O autor destaca a análise de teses e dissertações de pós-graduação,


buscando compreender os modos de atuação e fundamentos dessa prática
recente. A preocupação é sistematizar o trabalho nessa área e discutir a
contextualização apropriada, identificando benefícios e limites percebidos pelos
praticantes.

Na busca por critérios, o foco recai sobre trabalhos acadêmicos que


abordam o uso de recursos artísticos com propósitos pedagógicos ou
terapêuticos. O autor esclarece a ambiguidade da expressão "uso de recursos
expressivos", diferenciando, por exemplo, pesquisas sobre o ensino de dança
(não desejado) e aprimoramento do ensino de Língua Portuguesa através de
contos tradicionais (aceitável para a pesquisa).

Ao discutir a aparente incongruência, o autor destaca a sutil, mas


significativa, diferença na definição de "uso de recursos expressivos". Destaca
a importância de separar as práticas formativas das curativas ao promover a
sistematização e discussão dessas abordagens.
Segundo o autor, o "uso de recursos expressivos" na formação é mais do
que uma adição às intervenções regulares, representando a criação de um
espaço que redefine internamente as atividades formativas. Esses recursos
funcionam como linguagem expressiva, facilitando a aprendizagem e tornando
disponíveis aspectos subjacentes não acessíveis pelos métodos tradicionais
baseados em explicação e lógica racional.

Na área de Psicologia, o uso de recursos expressivos é mais restrito a


desenhos livres e testes padronizados. O autor selecionou teses e dissertações
que referenciam esses recursos em diferentes contextos de atuação, excluindo
os casos mencionados anteriormente. Os limites dessa abordagem foram mais
claros nesse campo.
O autor leu e analisou o material encontrado, buscando compreender os
modos de funcionamento, fundamentos e resultados das atividades propostas.
Devido à natureza em construção da área, foi necessário recorrer a obras
correlatas que fornecessem subsídios para a reflexão, mesmo que não
abordassem especificamente o tema.

Foram identificados 41 trabalhos, sendo a maioria (31) proveniente dos


cursos de Psicologia e Educação na USP, seguidos por três da Escola de
Comunicações e Artes. Na PUC, foram encontrados apenas sete trabalhos,
destacando-se o uso de recursos expressivos como ferramenta auxiliar na
clínica ou atendimento psicológico institucional. A distribuição ao longo dos
anos indica um aumento gradual do interesse pelo tema em ambas as
instituições.
O autor destaca a predominância do uso de recursos expressivos em
contextos educacionais, especialmente no ensino fundamental e médio.
Também são mencionados casos em educação/formação de adultos e na área
da saúde, com enfoque em instituições de atendimento psicológico/psiquiátrico.
Além disso, trabalhos abordam populações excluídas, como presidiários,
comunidades carentes e moradores de rua, associando a arte à transformação
pessoal e inserção social.

A análise do material revela descobertas que vão além dos critérios


iniciais de seleção. Na educação, a ideia de abordagem complementar ao
ensino evolui para a compreensão de que não se trata apenas de um uso
adicional. Na área da saúde, os recursos expressivos ampliam as
possibilidades de aprendizado, mas sua maior utilidade reside em sensibilizar e
expandir horizontes existenciais.

A riqueza do estudo reside nas nuances entre o simples uso da arte no


ensino de disciplinas e a consideração dos processos de aproximação da
realidade, como nos gestos teatrais de presidiários. O autor organiza a
apresentação e discussão do material em três segmentos: práticas
educacionais, práticas na saúde e em oficinas de criatividade, e atividades
pertinentes que não se enquadram nas categorias anteriores.
Segundo o autor, este segmento aborda trabalhos direcionados ao Ensino
Fundamental e Médio, apresentados em programas de pós-graduação em
Educação. Os trabalhos destacam a necessidade de inovação e ampliação dos
recursos didáticos, utilizando predominantemente desenho, teatro e diversas
formas de expressão escrita, além de obras de artistas, lendas e contos.
Algumas iniciativas recuperam a narrativa oral, criticando a estrutura objetiva
das escolas tradicionais e buscando a expansão de recursos didáticos.

Os pesquisadores exploram modalidades de expressão artística como


meio de aproximar o estudante do conteúdo, estabelecendo um diálogo entre a
linguagem artística e a linguagem formal das disciplinas. A ênfase recai no
valor da expressão artística como linguagem poética, capaz de quebrar a
rigidez do ambiente escolar e promover a vivência do conhecimento. A
mobilização visa tornar o ambiente mais lúdico, desenvolver habilidades na
exploração de diferentes formas de expressão e estabelecer a interseção entre
a escolha do tema, os recursos de exploração e o efeito esperado.

Alguns trabalhos utilizam a análise linguística de letras de músicas


populares como recurso auxiliar ao ensino da Língua Portuguesa, buscando
aproximar o universo acadêmico da realidade linguística dos aprendizes. Essas
iniciativas propõem uma reflexão sobre a necessidade de aproveitar recursos
didáticos mais próximos ao cotidiano, sugerindo a importância do diálogo
bidirecional entre educador e educando. Este movimento visa à apropriação do
conhecimento pelo estudante, em contraste com a tradicional transmissão
neutra de um conhecimento abstrato e descontextualizado.
Nos trabalhos direcionados ao Ensino Fundamental e Médio, o autor
destaca a busca por inovação e ampliação dos recursos didáticos, utilizando
principalmente desenho, teatro e obras de arte como formas de expressão. A
narrativa oral também é recuperada, sugerindo críticas aos ambientes
escolares tradicionais e a necessidade de recursos mais dinâmicos e
envolventes, permitindo o trânsito entre experiência concreta e conceitos
abstratos.

No segmento de trabalhos com adultos, o foco está no uso de recursos


expressivos específicos como ferramentas complementares para aquisição de
conceitos e incorporação de conteúdos. Destaca-se a análise de linguagem
gestual de presidiários como forma de expressar e lidar com conteúdos
afetivos, defendendo a arte como promotora de mudanças de atitudes no
processo educacional.

Os autores desses trabalhos defendem os efeitos positivos do contato


com a arte e do fazer artístico em adultos, ampliando suas possibilidades de
conhecimento e leitura do mundo. Subjacente a essa abordagem está a ideia
do "modo artístico" de aprender, integrando afetividade, sensibilidade e
cognição, retomando a antiga noção de associar a aprendizagem formal à
experiência como benefício.

O autor faz uma conexão com as ideias de John Dewey, especialmente


em sua conferência "Experience and Education" de 1938. Dewey destaca a
escola como uma instituição distante das formas sociais de organização e
critica o modelo de acumulação e transmissão do conhecimento que se
estabeleceu desde o Renascimento. A compreensão desse modelo revela as
limitações do método científico tradicional e a falência da crença em Deus
como origem do conhecimento.
Segundo Martin Heidegger ([1962] 1990), a crítica ao empreendimento
científico-tecnológico moderno revela uma abordagem que trata o mundo e as
coisas como objetos disponíveis ao homem. Esse enfoque, chamado de
"reinado da razão, positividade e método", baseia-se na explicitação das
razões de um evento para afirmar sua verdade. A realidade é predefinida,
pressupondo uma ordem e leis.

A problematização dessa realidade exige a verificação da verdade das


suposições por meio de uma linguagem precisa. A representação linguística é
tratada como manipulação controlada da realidade, buscando a
correspondência entre os objetos e suas representações. A articulação lógica
das representações constitui o conhecimento acumulado, objetificando a
realidade por meio de conceitos operacionais.

A articulação lógica e progressiva das representações constituiria com


segurança, dessa forma, o conhecimento acumulado e o controle sobre as
coisas. Assim procedendo, ao nos confrontarmos com alguma coisa nova,
imediatamente temos que definir a qual das categorias daquilo que é conhecido
ela pertence, articulando-a com as demais, para que tudo faça sentido dentro
do pressuposto de uma ordem fundamental. E a linguagem representativa,
entendida em sua imprescindível necessidade de precisão, objetifica a
realidade, colocando a à disposição por meio de conceitos operacionais para
manipulação. Ao representar, o sujeito humano objetifica o mundo.

A manipulação e a articulação dos conceitos em sistemas organizados


dependem, assim, da fragmentação inicial da realidade em partes, num
processo de dividir para governar. A partir disso, cada fragmento é despojado
de suas particularidades e afastado de seu contexto natural, para que possa
ser compreendido e usado universalmente, em procedimentos de repetição dos
experimentos que visam explicar o mais detalhadamente possível suas origens,
composição e funcionamento. Apenas de posse desse conhecimento é
possível controlar e prever os desdobramentos de situações futuras, bem como
sistematizar o conhecimento obtido.

Heidegger enfatiza sua crítica a esse movimento que, segundo ele, trata o
ser das coisas apenas como uma “essência” ideal dos entes, ao afirmar que,
do ponto de vista da ciência tradicional, “a experiência não é possível a não ser
a partir do conhecimento da natureza transformada em pesquisa” (1990:106).
Isso significa que os eventos, fluidos e efêmeros por natureza, devem ser
devidamente fixados por meio de definições precisas, para que possam ser
submetidos e manejados de modo sistemático, confirmando ou rejeitando
expectativas registradas como hipóteses e extraindo daí sua veracidade, ou
sua razão de ser.
Segundo Martin Heidegger ([1962] 1990), a construção do conhecimento
acumulado moderno, pautada pela razão, positividade e método, trata o mundo
como objetos à disposição do homem. Esse enfoque pressupõe a predefinição
de uma realidade ordenada, onde a explicitação das razões de um evento é
essencial para afirmar sua verdade.

Heidegger critica a objetificação da realidade pela linguagem


representativa, que fragmenta e manipula a realidade em partes para acumular
conhecimento. A manipulação de conceitos em sistemas organizados depende
da fragmentação inicial, dividindo para governar. A linguagem, ao representar,
objetifica o mundo, permitindo o controle e a previsão baseados na
correspondência entre objeto e representação linguística.

A crítica à difusão uniformizante do conhecimento, iniciada nos séculos


XV e XVI, revela a impossibilidade de anular contextos e diferenças. Edgar
Morin contesta a lógica linear e progressiva, defendendo a abordagem da
complexidade, que destaca a necessidade de estudar as relações entre
diferentes elementos e os contextos onde os eventos ocorrem.

Edgar Morin (1994) questiona a objetividade das teorias, argumentando


que os fatos não existem puramente na realidade, mas estão diluídos em
eventos do mundo real. Ele enfatiza a impossibilidade de neutralidade no fazer
científico, pois a seleção, definição da linguagem e articulação em sistemas
dependem de processos humanos, escapando à previsão e controle.

Morin destaca que as teorias são construções que dependem da


comunicação entre seres humanos e da inserção em contextos apropriados. A
imaginação e a criatividade, essenciais no conhecimento, não podem ser
programadas. O aprendizado não ocorre apenas pela repetição, mas também
pelo desvio, divergência e navegação em processos que escapam às
formulações linguísticas.
De acordo com o economista William Brian Arthur, o aprendizado pela
experiência, que gera transformações únicas em cada situação, é crucial para
a construção do conhecimento, retomando ideias de Dewey. Este último
destaca dois movimentos filosóficos na educação: o modelo tradicional e o
progressista, que se opõem em vários aspectos, como imposição versus
expressão, disciplina externa versus atividade livre, e aprendizado por
professores e textos versus aprendizado pela experiência.

Dewey, ao refletir sobre a qualidade da experiência na educação, destaca


a importância de inserir a experiência num continuum, promovendo o desejo de
experimentar novamente e explorar novas possibilidades. Os pesquisadores
analisados neste contexto buscam validar iniciativas que introduzem recursos
artísticos nas atividades educativas tradicionais, aproximando a escola de uma
educação mais alinhada à vida.
Apesar das iniciativas destacadas, a introdução desses métodos revela
um descompasso da Educação contemporânea com as demandas do mundo
atual. Isso é evidenciado pelo fato de que, até agora, tais práticas não eram
consideradas possíveis ou viáveis. Críticas, como a de Cláudio de Moura
Castro, ressaltam que algumas dessas práticas inovadoras deveriam ser parte
do repertório padrão de técnicas dos professores, aprendidas durante a
formação, destacando uma lacuna na preparação dos educadores.
Segundo Kastrup (1999), a necessidade de explorar linguagens além da
representacional, vinculada à estrita racionalidade, destaca a importância de
processos como a intuição para apreender e compreender o mundo. Bergson,
conforme a autora, rejeita a redução do conhecimento à representação,
destacando a intuição como forma de conhecer, questionando a visão que
reserva o termo conhecimento apenas para o reconhecimento.

Arnheim (1989) esclarece a importância da intuição na produção artística,


criticando a oposição artificial entre intuição e intelecto. Ele destaca a tendência
de valorizar apenas o intelecto, principalmente em educação, relegando a
intuição às artes. Isso influencia a distinção entre programas "sólidos" e "leves"
nos currículos escolares, prejudicando o espaço dedicado às artes.

O texto foca em teses e dissertações sobre o uso de recursos artísticos


em Saúde Mental, apresentadas em programas de pós-graduação em
Psicologia, na PUC-SP e na USR. No programa de mestrado em Psicologia
Clínica da PUC, dois trabalhos investigam práticas já estabelecidas em
instituições de Saúde Mental, destacando oficinas de arte como parte das
atividades terapêuticas. Os autores refletem sobre o valor dessas atividades
para os profissionais de Saúde, priorizando a perspectiva destes em detrimento
dos benefícios para os pacientes.
Segundo os autores, o uso de oficinas é benéfico ao ampliar os
horizontes dos profissionais, promovendo a transdisciplinaridade e conectando
diferentes campos de atuação. Essas atividades são consideradas
equivalentes a festas e passeios, proporcionando um repertório terapêutico aos
profissionais, sem uma análise específica sobre os benefícios para os internos.
O foco principal é oferecer situações terapêuticas aos profissionais.

Em relação aos usuários dos serviços, destaca-se a criação artística


como terapia para a reinserção social, reconhecendo os participantes por suas
produções, não por seus distúrbios. A abordagem teatral também é defendida,
enfatizando a diferenciação entre arte e ciência na compreensão do humano e
na ressignificação de experiências. O registro fotográfico é explorado por sua
capacidade de resgatar aspectos relacionados à percepção individual e à
identidade de grupos, agindo como um espelho das pessoas, relações e
situações vividas.
Segundo a autora, cinco estudos exploram as "Oficinas Criativas" em
detalhes, incluindo a atividade investigada pela própria autora. Um trabalho de
Alessandrini (2000) adota uma abordagem mais positivista, utilizando o
referencial piagetiano para analisar o processo de construção pessoal de
projetos em argila, concluindo sobre a regulação das ações e ajustamento
afetivo-cognitivo compatível com o desenvolvimento. Carvalho (2000) e Gomes
(2000) compartilham propostas semelhantes, aplicando recursos artísticos em
oficinas criativas para educadores, promovendo novos modos de escuta e
discussão de problemas. Os resultados destacam expressão emocional,
interação mais próxima, trocas significativas e aceitação de diferenças.
Bernardo (2001), baseando-se na psicologia analítica, associa processos de
aprendizagem a recursos artísticos, enfatizando o papel desses recursos na
integração do conhecimento ao autoconhecimento para facilitar o
desenvolvimento psíquico.
Segundo Jordão (2001), a transformação individual é promovida pelo
flanar, destacando a escassez contemporânea de espaços criativos. Utiliza
gestos lentos e ociosos, posteriormente convertidos em expressões artísticas,
defendendo a terapia da vivência e referenciando autores diversos, como
Feldenkrais, Eutonia e Bachelard.
Na Saúde Mental e Oficinas de Criatividade, a utilização de recursos
expressivos, similar às técnicas projetivas, busca a externalização de aspectos
pessoais. A visibilidade da produção artística torna-se crucial para a
reintegração dos participantes na sociedade, afetando instituições e a
sociedade em si. Há ênfase na (re)integração, autoconhecimento,
conhecimento do outro, compartilhamento, aceitação da diversidade e
comunicação alternativa.
Assim como na Educação, onde a arte amplia o aprendizado pela
experiência próxima à realidade, na Psicologia, o uso de recursos artísticos se
concentra na expressão de sentimentos e emoções. A obra de arte é vista
como algo a decifrar, buscando a mensagem do autor, e não exige uma
representação fiel da realidade. Essa abordagem relaciona-se às mudanças na
arte no século XX.
Pain e Jarreau (1996) introduzem o conceito de arte-terapia, ressaltando
que o uso terapêutico de recursos artísticos depende da compreensão
contemporânea da arte. A arte contemporânea rompe com padrões antigos,
questionando sua função. As diversificações na expressão artística inspiram
abordagens arte-terapêuticas diversas.
Segundo Read (1978), a arte vai além da mera reprodução da realidade,
sendo uma expressão do ideal representável plasticamente, estranha à
realidade e dependente de ponto de vista e meio. A expressão artística pode
envolver emoções diretas ou disciplina e restrição do meio, permitindo seu uso
em atividades não artísticas, como na Psicologia, onde é explorada apenas
como expressão, desconsiderando habilidade técnica.
O sentido da arte reside na liberação da personalidade e na provocação
de emoções, gerando empatia. Sontag destaca a necessidade de interpretar a
obra com base em seu conteúdo, seja este figurativo, realista ou menos literal.
Este pressuposto é crucial na compreensão do uso terapêutico ou educativo
dos recursos artísticos, exigindo a interpretação dos produtos artísticos para
compreender seus autores.
Além de forma e conteúdo, a visão do artista sobre o tema é crucial. Para
Read, numa obra de arte perfeita, os elementos se combinam sob a
personalidade do artista, formando uma unidade de valor superior à soma das
partes. Mesmo após analisar os elementos físicos, a individualidade do artista
continua a ser justificada como elemento intangível que conduz a resultados
únicos.
Segundo Read, o uso de recursos expressivos por não artistas destaca-
se pela representação pessoal de um segmento do mundo, proporcionando
material precioso para explorar valores e visões de mundo. A arte, para Read,
é uma apreensão intuitiva, sendo símbolo e possibilitando uma compreensão
conjunta com o autor, mesmo fora da "obra de arte perfeita".
Read destaca as transformações na arte contemporânea, indicando a
inclinação para a interpretação imaginosa do atual em oposição à simples
reprodução, atribuindo ao artista a ressignificação da natureza, até mesmo com
recursos tecnológicos. A compreensão do mundo pelo artista, expressa em
manifestações "artísticas" do cidadão comum, reflete a busca por uma forma
intuitiva de expressão.
Quanto à expressão na arte, Read enfatiza que não qualquer expressão
pode ser considerada arte, sendo necessário o reconhecimento de imagens ou
objetos que contenham sentimento. Esse critério define o aproveitamento
parcial da arte em outras atividades, como nas Oficinas de Criatividade, onde
se utiliza a expressão plástica dos sentimentos sem a necessidade de
habilidade técnica.
Particularidades presentes nos trabalhos sobre Oficinas de Criatividade
incluem a imprecisão dos nomes dados a esse tipo de trabalho, refletindo a
dificuldade em descrever de forma operacional e unívoca o âmbito dos
acontecimentos englobados por ele.
O texto aborda atividades que não se concentram especificamente no
desenvolvimento da criatividade, conforme entendido em contextos mais
tradicionais. Em vez disso, essas atividades visam focalizar o potencial e o
processo de transformação dos participantes, buscando conscientização
emocional e reorganização da experiência por meio de formas de expressão
não exclusivamente lógico-racionais, promovendo uma abertura ao que afeta o
sujeito.
Segundo o autor, seja através de um recurso único, como a argila, ou por
meio de diversos recursos, o objetivo é alcançar e evidenciar uma
multiplicidade de processos relacionados ao amplo funcionamento do indivíduo,
priorizando seu modo de ser em detrimento de habilidades específicas.
Todos os trabalhos, exceto o de Alessandrini, seguem uma abordagem
multidisciplinar, incorporando diferentes áreas do conhecimento, como
Sociologia, Psicologia, Filosofia, Artes e Abordagens Corporais. Essas teses
não adotam relatos lineares típicos de trabalhos científicos, mas, ao contrário,
costuram informações, transitando entre diversos saberes de maneira não
linear, revelando sua completude de sentido apenas no desfecho da narrativa.
Esses indícios sugerem uma prática emergente que transcende os limites
de disciplinas isoladas, representando uma modalidade de conhecimento em
estágio inicial, prometendo articulações inéditas, conforme apontado pelo autor.
O texto aborda exceções à seleção estabelecida para teses e
dissertações, enfocando trabalhos que contribuem para o debate em torno de
questões fundamentais nas práticas analisadas e as condições para a
integração entre diferentes áreas. As análises incluem o papel da fotografia na
vida de um fotógrafo e o uso de jogos como facilitadores na aprendizagem de
leitura e escrita para portadores de necessidades especiais, ressaltando a
importância de recursos complementares para promover participação ativa e
crítica.
Segundo o autor, há trabalhos que defendem a distinção entre o ensino
da arte e seu uso como ilustração de outros conteúdos, enquanto outros
abordam a formação de educadores para o ensino artístico, argumentando que
ela deve ocorrer por meio da arte, cuja limitação no espaço escolar prejudica o
desenvolvimento estético. Trabalhos na ECA discutem fundamentos para
facilitar a interconexão entre diferentes formas de expressão e transmissão do
conhecimento, explorando temas como conhecimento visual, arte
contemporânea, expressão criativa através do desenho, e a relação entre
criatividade e saúde.
De acordo com o autor, as considerações finais destacam o trabalho dos
pesquisadores na criação de interfaces entre disciplinas, revelando lacunas na
educação que merecem atenção e apontando perspectivas inovadoras para
atuação em Saúde e Psicologia. As teses desafiam a oposição tradicional entre
abordagens, desorganizando estruturas terapêuticas e escolares, questionando
sua própria natureza. A exposição ao desconhecido e a coragem de explorar
áreas híbridas sugerem caminhos para futuras transformações, refletindo uma
tendência saudável à composição e complementação entre atividades,
disciplinas e práticas.

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