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Colagem: uma prática no psicodiagnóstico - Ligia Corrêa Pinho Lopes

Daniel Pires Rodrigues Nunes - T353ID9

1. Introdução
Segundo o autor, a avaliação psicológica de crianças envolve compreender
queixas apresentadas por pais, exigindo organização das informações para
benefício da criança e família. O conhecimento teórico do psicólogo é crucial
para planejar intervenções visando saúde mental e desenvolvimento.
A história da avaliação psicológica, conforme o autor, tem raízes médicas e se
associou ao uso de testes, especialmente com crianças, o que conferiu
autonomia aos psicólogos. O objetivo inicial era medir capacidade intelectual e
aptidões, porém, testes psicométricos têm sido criticados por perpetuar
exclusão social.
Para o autor, o debate sobre avaliação psicológica no Brasil pós-
regulamentação nos anos 1960 trouxe reflexões e modificações em
instrumentos. O autor destaca divergências em compreensões, usos e
objetivos da prática. Nos Centros de Psicologia Aplicada da Universidade
Paulista, supervisores compartilham uma postura comum ao trabalhar com
avaliação psicológica, que prioriza a organização de conhecimentos sobre
aspectos biológicos, intrapsíquicos e sociais dos clientes.
No contexto dos encontros e discussões entre profissionais que atendem
crianças e pais, surge uma inquietação sobre a limitação dos recursos teóricos
e instrumentais diante das diversas expressões da subjetividade, como
observado pelo autor.
Segundo o autor, há debates sobre os termos adequados para descrever a
prática, seja avaliação psicológica, diagnóstico ou psicodiagnóstico. O foco é
compreender a demanda e proporcionar mudanças para melhor qualidade de
vida.
Recursos como entrevistas, observações lúdicas, testes e visitas têm o
propósito de investigar problemas relatados pelos pais. O autor afirma que
essa prática se adapta à demanda dos clientes e a mudanças pedagógicas do
curso de Psicologia. A Resolução n. 002/2003 do Conselho Federal de
Psicologia trouxe desafios à avaliação psicológica, exigindo revisão prévia dos
testes. Isso afetou a prática clínica, diminuindo recursos e mediação na
comunicação com crianças.
Na perspectiva do autor, a atividade de colagem proposta por Violet Oaklander
surge como alternativa. Essa atividade, conforme o autor, é vista como
experiência sensorial e emocional, revelando o mundo interno da criança.
Para o autor, Oaklander utiliza várias denominações para a colagem, como
"atividade de colagem", mas é a acepção de "técnica projetiva" que ressalta a
relevância do processo. O autor destaca que a colagem pode revelar o estado
de espírito e pensamentos da criança, representando seu mundo interno.
De acordo com a autora, a colagem pode ser praticada individualmente ou em
grupo, explorando diversas abordagens e temas. A variedade de tipos de
colagem é enfatizada pela autora, que destaca a simplicidade do processo,
usando figuras de revistas, tesoura, cola e um fundo.
Com base nessas ideias, começamos a introduzir a prática da colagem aos
clientes. Inicialmente, buscávamos observar suas reações, motivação,
preferências e atitudes em relação ao trabalho realizado.
Com o tempo, percebemos que a atividade de colagem se tornava um recurso
valioso tanto para compreender o cliente quanto para implementar
intervenções.

2. Utilização da colagem
Segundo o autor, a prática da colagem é descrita a seguir. São utilizados
materiais como figuras de revistas, tesouras, cola e cartolinas. As figuras são
recortadas previamente, abordando diversos temas, e são escolhidas pelo
cliente.
O autor destaca que é importante considerar o verso das figuras, evitando
imagens impróprias ou com significados culturais restritos. Os estagiários
chamam essa etapa de "recortagem", que desenvolve a capacidade de
associação entre imagens.
A colagem pode ser proposta em diferentes momentos do processo
psicodiagnóstico, mas deve-se evitar o uso excessivo de figuras relacionadas a
aspectos já revelados. Em grupo ou individualmente, temas são propostos para
explorar autoimagem, percepções internas, medos e preocupações.
Durante a colagem, observa-se a escolha das figuras, formas de exploração e
interações. A criança pode usar canetinhas e tesouras para modificar as
figuras. Depois, atribui significados à colagem e pode compartilhá-la com
outros, incluindo os pais, o que cria oportunidades para discussões.
O autor relata que, com a prática, as crianças desejavam mostrar suas
produções aos pais. O resultado da colagem passou a ser apresentado aos
pais na presença das crianças. Algumas crianças criaram um "jogo" de
adivinhação, em que os pais identificavam as produções dos filhos.
Nessas situações, os pais enfrentam a tarefa de decifrar uma mensagem
simbólica, demonstrando o conhecimento que têm do filho diante de todos. Isso
muitas vezes resulta em discussões conjuntas sobre acertos e erros,
acompanhadas de manifestações de felicidade ou frustração por parte das
crianças.
O autor explora a compreensão proporcionada pela atividade de colagem,
destacando a construção conjunta de significados e possíveis ressignificações.
A prática compartilhada com os pais promove aproximação afetiva e
reconhecimento dos sentimentos dos filhos, facilitando a avaliação e
compreensão dos avaliados.
O autor sugere a proposta da colagem para os pais na presença dos filhos. A
instrução pode ser vaga, como "Álbum de família", e se observa se é feita em
conjunto ou individualmente, discutindo-se ao final. As produções são
registradas e devolvidas aos clientes, e a visualização posterior pelas famílias
frequentemente provoca reflexões.

3. Análise
No entendimento do autor, diversos aspectos são considerados na análise da
colagem:
Tempo de reação.
Postura e modo de reação, como observação a distância ou impulsividade.
Escolha, colagem e abandono de figuras.
Tema preferido.
Tamanhos das figuras.
Uso do espaço da cartolina.
Uso do verso da cartolina.
Localização das figuras na cartolina.
Sentimentos expressos e impressões causadas.
Figura central e/ou sua localização.
Recorte das figuras para ajuste na cartolina ou exclusão de elementos.
Associações, explicações e falas durante a atividade.
Uso de lápis de cor e canetinhas para desenhos.
Modo de utilização da cola.
Quando pais e filhos realizam a colagem juntos, o autor ressalta que a análise
considera todos esses aspectos, focando na interação e nas significações
atribuídas às figuras. Dois exemplos ilustram isso. No primeiro, um pai ampliou
gradativamente seu espaço na colagem conjunta com o filho, revelando
problemas de limites e compreensão da problemática do adolescente. No
segundo, uma mãe excluiu figuras escolhidas pela filha, intensificando a
dependência da criança em relação a ela.
O autor enfatiza que a observação da interação entre pais e filhos não apenas
auxilia no diagnóstico das dificuldades, mas também possibilita intervenções
que ampliem a compreensão dos membros da família sobre essas dificuldades.
O autor apresenta exemplos ilustrativos. No primeiro caso, uma menina de 9
anos com problemas alimentares é acompanhada pela Unifesp. Seus pais
relatam dificuldades de alimentação e comportamentais, mas na atividade de
colagem são identificados interesses não percebidos por eles, como gostar de
doces e desejar ver os pais juntos.
No segundo caso, uma menina de 11 anos é trazida pelos pais por
comportamento introvertido. Através da colagem, a menina revela interesses
variados, pinturas, relação com a mãe, atividades físicas, contrastando com a
percepção do pai, que não reconhece sua capacidade de expressão.
Na atividade de "Álbum de família", a postura da menina chama atenção. Ela
se mostra assustada na presença dos pais, aproximando-se de uma estagiária,
sugerindo um possível tratamento cobrançoso ou controlador por parte dos
pais. Isso a leva a se comportar como se tivesse algum tipo de "retardo".
Num outro caso, Segundo o autor, a mãe do primeiro menino, de 13 anos,
busca ajuda devido a dificuldades de aprendizagem, relatando sua dispersão e
falta de interesse nas aulas. O autor relata que na atividade de colagem, o
menino enfrenta dificuldades em expressar a si mesmo, revelando um vazio na
cartolina. A figura do avô é destacada. No entanto, na presença da mãe, a
valorização do trabalho do menino parece ser ausente. O autor destaca a
ausência de expressão de sentimentos e uma autoimagem empobrecida.
O último caso apresentado pelo autor é de um menino de 12 anos com
dificuldades de aprendizagem. Ele descreve a criança como "atrasada em
tudo", embora inteligente, com provas em branco e caligrafia feia. O autor
observa que na colagem, o menino retrata a si mesmo com figuras de seus
interesses, indicando carência afetiva revertida em consumo. A única figura
humana é de um exército, sugerindo falta de identidade e controle. O menino
cria um "Álbum de família" com muitos prédios, refletindo a vida de sua mãe
arquiteta e a ausência de figuras humanas aponta para dificuldades afetivas. O
autor nota que o menino parece apreensivo com a reação da mãe à sua
produção.
O autor examina outras análises da técnica de colagem. De acordo com o
autor, o uso do espaço é um indicador valioso, sendo que uma produção
caótica pode refletir aspectos emocionais. O autor menciona um exemplo de
um menino de 8 anos que usou o espaço de forma curiosa, colocando uma
figura de mãe amamentando um bebê de ponta-cabeça no centro da cartolina.
O autor destaca que a escolha de figuras na colagem pode revelar segredos
familiares, como uso de drogas ou alcoolismo. A possibilidade de abordar
esses assuntos nas intervenções com crianças e pais é mencionada.
O autor destaca a conduta da criança de recortar figuras para excluir elementos
ou fazer as figuras caberem na cartolina. Isso pode refletir o desejo da criança
de explicitar seus desejos. Segundo o autor, a criança raramente abandona a
colagem para fazer desenhos, o que pode indicar resistência à tarefa. O autor
lembra que desenhar e escrever são habilidades que surgem mais tarde no
desenvolvimento da criança. A criança raramente assina seu nome ao término
da colagem, exceto quando deseja reafirmar sua identidade ou teme que sua
produção não seja identificada pelos pais.
O autor observa indícios de criatividade quando a criança integra
harmonicamente os materiais disponíveis, complementando as imagens com
desenhos. Sakamoto e Bacchereti (2007) são mencionados pelo autor como
abordando a técnica de colagem na psicoterapia e orientação profissional,
enfatizando sua utilidade na expressão de pacientes ansiosos ou com
dificuldades de comunicação. No entanto, o autor observa que eles não
detalham suas experiências clínicas nesse aspecto.

4. Considerações finais
Segundo o autor, a colagem é bem aceita por clientes de diferentes faixas
etárias e condições socioeconômicas, sendo uma atividade conhecida por
quem frequentou a escola. O autor considera que, do ponto de vista
psicológico, a colagem tem caráter projetivo, expressando sentimentos e
conflitos internos desconhecidos tanto para crianças como para pais.
O autor introduziu a colagem como recurso devido à impossibilidade de usar
testes projetivos, e ressalta sua utilidade na observação e compreensão de
aspectos intrapsíquicos e das interações familiares durante a tarefa conjunta.
O autor observou que a colagem facilita as intervenções do psicólogo durante o
psicodiagnóstico interventivo. O aspecto lúdico da atividade motiva sua
realização e a compreensão de aspectos subjetivos de forma simbólica.
Conforme o autor, o uso da colagem na clínica de crianças contribui
significativamente para a compreensão diagnóstica que vai além da
individualidade da criança. A colagem proporciona material de intervenção que
transcende os limites da comunicação verbal, oferecendo uma abordagem
mais ampla.

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