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DEDICATÓRIA.........................................................................................................................v
Lista de siglas...........................................................................................................................vii
RESUMO................................................................................................................................viii
INTRODUÇÃO..........................................................................................................................9
PROBLEMATIZAÇÃO...........................................................................................................11
JUSTIFICATIVA.....................................................................................................................13
OBJETIVOS.............................................................................................................................14
Objectivo Geral.........................................................................................................................14
Objectivos específicos..............................................................................................................14
1.1.1. Mulher............................................................................................................................15
1.1.3. Família............................................................................................................................17
2.Tipo de pesquisa....................................................................................................................35
2.2.2 Amostra...........................................................................................................................36
Conclusão.................................................................................................................................52
Apêndices.................................................................................................................................58
iv
DECLARAÇÃO DE HONRA
Eu, Gessica Jossias Pondja declaro por minha honra que esta monografia científica, é original,
constitui o resultado da minha investigação pessoal sobre a orientação do supervisor Mestre,
António Manuel Sarmento. Realçar que nunca foi apresentada, parcial ou integralmente, em
nenhuma outra instituição para obtenção de qualquer grau académico. No texto estão
indicadas as referências bibliográficas e as fontes utilizadas.
_____________________________________
DEDICATÓRIA
Ao trabalho que me confiará o grau de Licenciatura sempre em primeiro a Deus, que me
fortalece, e nada é possível sem a sua intervenção. Aos meus pais (em memória) por me
v
porem no mundo, a minha mãe Maria Amélia Ndimande por me incentivar a sonhar e por me
ensinar a lutar e nunca desistir dos meus objectivos e em especial gratidão as minhas irmãs
por estarem sempre em prontidão para mim faça chuva ou faça sol e ao meu parceiro pelo
suporte e apoio nesta fase da minha vida, as minhas colegas, amigas e irmãs de outra mãe a
Adriana David, Cândida Mula e a Flora Tamele pelo apoio incondicional e dedicação para
comigo.
AGRADECIMENTOS
vi
Em primeiro lugar a Deus pelo dom da vida, e por ter permitido que tivesse saúde e
determinação para ultrapassar todos os obstáculos encontrados ao longo da realização desse
trabalho.
Aos meus queridos pais Jossias André Pondja e Avelina Simião Sidumo (em memória), que
tanto fizeram por mim ao longo das suas vidas e desde cedo, me ensinaram o valor da
educação e me mostraram, com muita paciência e amor, que não há limites para a busca de
um sonho e ser feliz.
As minhas irmãs Tânia Jossias Pondja e Célia Jossias Pondja por me apoiarem e me
incentivarem a continuar com os estudos como os nossos pais sempre desejaram e por
existirem na minha vida.
Aos meus sobrinhos que muito me motivaram a continuar com os estudos e que este trabalho
de monografia seja para eles um incentivo e fonte de inspiração para que se dediquem mais
aos estudos.
As minhas colegas do curso Célia Mausse e Guilhermina Nhassope pelo apoio e suporte não
só na vida académica mas por se tornarem minha família.
Ao meu supervisor António Sarmento Manuel pelo saber, pela oportunidade, disponibilidade,
apoio concedido ao longo do trabalho.
O apoio e atenção dedicados a mim por todos foram imprescindíveis para a conclusão deste
trabalho. Gratidão, aos Docentes Dra. Lúcia Suzete, Dr. Daniel Canxixi, entre outros, pelos
seus esforços em transmitir os seus conhecimentos, paciência e atenção.
Lista de siglas
vii
FO – Fistula Obstétrica
RESUMO
O presente trabalho tem como objectivo analisar o impacto social da FO na cidade e província
de Maputo tendo como grupo alvo as mulheres jovens e funcionários de saúde, foram
selecionados por conveniência, os quais foram submetidos a uma entrevista semiestruturada
que visa captar informações das experiências do seu dia-a-dia com a doença e através das
declarações, as mulheres expressaram o impacto do seu sofrimento visivelmente físico com a
perda continua de urina e/ou fezes, dentre as feridas dolorosas, infecções, infertilidade e até a
morte e o psicológico que vai da depressão, pensamentos suicidas a outros problemas mentais
muita das vezes negligenciados, as causas maioritariamente são devido ao parto arrastado e
ou obstruídos e fora da unidade sanitária, os casamentos prematuros consequentemente as
gravidezes precoces, as elevadas taxas de natalidade, a pobreza extrema são alguns dos
factores que propiciam para tal situação e evidentemente as consequências da doença
culminam com a exclusão social e o abandono por parte da família, contudo constatamos
vários obstáculos não apenas de ordem económicas que são o desemprego e a pobreza mas
também de ordem sociais e morais, e conhecemos alguns pacientes que na sua maioria são
provenientes das zonas recônditas com difícil acesso a unidades hospitalar mas também tem
casos de pacientes oriundas dos arredores da cidade vivendo com a doença, portanto a
preocupação do governo para fazer face ao problema suscitou na necessidade de se criar um
mecanismo de combate com objectivo de reduzir a incidência e prevalência de fístulas através
da prevenção, tratamento, reintegração social, reabilitação física e psicológica das
sobreviventes, fazendo menção as estratégias de prevenção e mitigação da fístula e é evidente
em maior parte dos casos a influencia da tradição que está enraizada no modos vivendo da
população e os resultados indicam a necessidade de maior divulgação de informações corretas
tendo em conta que poucas pessoas tem o conhecimento da doença e garantir um apoio
psicossocial mais abrangente.
INTRODUÇÃO
O presente trabalho faz uma abordagem sobre, “ O impacto social da Fístula Obstétrica nas
mulheres jovens na cidade e província de Maputo “, na sua maioria mulheres com pouca ou
quase nenhuma escolaridade, que tiveram uma gravidez precoce, casamentos prematuros.
Portanto a fístula obstétrica trata se de uma lesão que pode ser prevenida e tratada, que ocorre
durante um parto prolongado ou obstruído sem a assistência devida e atempada de um
profissional de saúde qualificado, e origina uma abertura e comunicação entre a vagina e a
bexiga. Este tema é muito fundamental para o desenvolvimento na saúde pública no geral. A
fístula foi descrita pela primeira vez no século XI, como uma ruptura associada ao trabalho de
parto prolongado pelo médico persa Ibn Sina, no seu Tratado de Medicina (Al Qanunn fi
ALTibb). Mas só em 1957 esta ruptura, atribuída ao trabalho de parto, foi nomeada como
Fístula Vesico Vaginal – FVV, Pelo médico Luiz de Mercado no seu Tratado de Ginecologia
(Guerra, 2016 apud WLSA, 2011).
Nos países em vias de desenvolvimento, onde a maioria da população não tem acesso a
cuidados obstétricos, a principal causa de fístulas vesico vaginais corresponde ao trabalho de
parto obstruído prolongado. A pressão exercida pelo feto nas paredes da vagina, bexiga e
uretra proximal leva muitas vezes à necrose dos tecidos. Esta necrose pode levar a um
conjunto de complicações que vão desde as fístulas vesicovaginais, estenose vaginal, atresia
rectal, infertilidade secundária, incompetência do esfíncter anal. A semelhança de
Moçambique dos outros países em desenvolvimento são os factores determinantes para a
ocorrência das FO, são fundamentalmente: Gravidez na adolescência; as grandes distâncias da
sua casa a unidade sanitária; o estatuto da mulher no seio da família e da comunidade; a
pobreza; o limitado acesso a educação, a informação e aos cuidados da maternidade segura
(planeamento familiar, partos institucionalizados e cuidados obstétricos de emergência). É um
facto de que muitas pessoas não têm conhecimento sobre as fistulas nem as que sofrem da
mesma. Há necessidade de se divulgar mais sobre o assunto para poder combater a
descriminação e o isolamento da pessoa que sofre com a fístula. Observa-se que tem
aumentando cada vez mais os casos de fístula obstétrica, no entanto, é algo que ainda não é do
conhecimento da sociedade, uma vez que a fístula obstétrica está presente no seio de varias
famílias sendo algo negligenciado, impactando com danos na saúde física, mas
principalmente psicológica da mulher.
no estado de saúde estão de modo geral fortemente atreladas à organização social e tendem a
reflectir o grau de desigualdade existente em cada sociedade. Em Moçambique a FO constitui
uma preocupação do governo, tanto que incluí o tratamento gratuito das fístulas obstétricas
como uma das suas prioridades. Trata-se de um grave problema de saúde pública, com
consequências enormes do ponto de vista económico, social e cultural. As zonas de elevadas
taxas de aparecimento de fístulas, são Niassa, Tete, Zambézia, Nampula e Inhambane. A
elevada prevalência de fístulas nestas zonas prende-se, não só, com a baixa cobertura
assistencial ao parto nas zonas rurais destas províncias mas também com uma maior
incidência de factores de natureza cultural.
Para Frank (1995), a pessoa adoecida é uma contadora de histórias. Durante a pesquisa de
campo encontramos narrativas cheias de dor, sofrimento, mas, principalmente, de esperança.
Aqui, daremos destaque às suas trajectórias, únicas e não generalizáveis. Que não devem ser
entendidas como uma representação homogénea, mas, ao contrário, evidenciam a
multiplicidade de problemas de desigualdades sociais, de classe e de género, existentes no
país. Desse modo, as falas das pacientes nos apontam alguns elementos a partir dos quais
podemos pensar como o lugar da mulher é talhado na sociedade moçambicana.
Espera-se que os resultados do trabalho contribua para melhoria dos serviços em assistência
social e garanta um a poio psicossocial mais abrangente, dando a entender a importância de se
disseminar informações corretas, garantindo uma reinserção positiva e dar se um
acompanhamento adequado as pessoas que sofrem com a fistula obstétrica.
Este trabalho está organizado em três (3) capítulos: a revisão da literatura e os conceitos
básicos, a metodologia, a apresentação de dados e a conclusão.
Para além destes quatro capítulos apresentamos alguns pontos não menos importantes, a
introdução, problematização, justificativas e os respectivos objectivos que nos motivaram a
realização da pesquisa.
Assim sendo, o capítulo I é composto pela revisão da literatura, faz-se a análise dos
conteúdos, desde os diversos posicionamentos literários relacionadas a fístula obstétrica, a
opinião em relação
A cada ideia dos autores. Como também faz-se uma abordagem sobre a conceptualização dos
temas.
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No capítulo III, faz se a apresentação dos dados recolhidos que passam por uma interpretação
em relação as percepções dos envolvidos e a problemática do estudo feito. E por fim a
conclusão de todo o trabalho e os seus resultados.
PROBLEMATIZAÇÃO
As consequências das fístulas obstétricas verificadas no nosso país concretamente na cidade e
província de Maputo são devastadores para as mulheres, tanto do ponto de vista sanitário
como social e económico. As mulheres jovens fragilizadas, desprovidas de auto estima e
entregues a si próprias, elas tornam se vitimas da depressão, incapazes de cumprir as rotinas
básicas como ir a escola, trabalhar, ir a machamba, ao mercado, a igreja ou usar o transporte
público, acabam na mais profunda solidão e miséria se isolando do mundo. O índice de
pobreza causada pela desigualdade social propicia a ocorrência da FO e é durante o trabalho
de parto que a mulher sofre danificação dos nervos das pernas, que os médicos em
Moçambique chamam de síndrome do pé pendente, que leva à falta de mobilidade nos
membros inferiores, sendo necessário para além da cirurgia da reparação da fístula um longo
tratamento de reabilitação física. Sem falarmos do sofrimento psicológico que a doença causa,
onde afeta a auto-estima, relacionamentos íntimos e as relações sociais.
Em alguns casos as mulher têm deixado passar muito tempo sem tratamento devido, ao
preconceito e medo. Quanto mais tempo leva sem tratamento, infelizmente ocorrer casos em
que a fístula é considerada incurável, que implicam a impossibilidade da mulher de voltar a
ter relações sexuais ou gerar filhos o que acarreta uma série de problemas para estas mulheres,
relacionado principalmente com sua incapacidade de exercer sua função de esposa ou mãe.
De acordo com Garcia, Diaz e Acosta (2013), um facto sempre presente entre as gestantes é a
falta de informação e o medo de perguntar sobre os processos que irão ser realizados na
evolução do trabalho de parto. Essa situação pode levá-las a se conformarem com a
exploração de seus corpos por diferentes pessoas, aceitando diversas situações incómodas sem
reclamar.
Segundo a OMS (2014), gestantes do mundo todo sofrem abusos, desrespeito, negligência e
maus-tratos durante o parto nas instituições de saúde. Essas práticas podem ter consequências
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adversas para a mãe e para o bebé, principalmente por se tratar de um momento de grande
vulnerabilidade para a mulher.
Acaba por ter várias consequências devido aos maus tratos nos hospitais, de certa maneira
implica na saúde psicológica e física da mulher uma vez que a mesma começa a ter
pensamentos negativos pelo que tenha encontrado nos hospitais. Isto requer um estudo visado
a combater este tipo de violência existente nas nossas unidades hospitalares.
Tais atos violentos variam desde a negligência e discriminação até a agressão infligida por
meios físicos, verbais ou psicológicos.
Constatou-se que a literatura existente privilegia mais a descrição dos factores que concorrem
para o aparecimento da fístula obstétrica entre mulheres, mas são poucos estudos que
exploram as consequências e as directrizes para um apoio psicossocial as mulheres, em
particular as jovens que vivem com a doença. Neste sentido levantam-se a seguinte pergunta
de partida.
JUSTIFICATIVA
Abordar a dimensão sociopsicológica da Fístula Obstétrica em Moçambique significa olhar
para a mulher convivendo com esta doença, buscando desvendar alguns aspetos da realidade
por elas vividas, mostrando a complexidade das suas experiências e as ações e políticas
públicas que vem sendo desenvolvidas pelo governo moçambicano para tentar minimizar este
sofrimento.
A importância deste tema consiste em perceber as reais consequências que estão relacionadas
com o contexto que engendrou este fenómeno de forma particular o tipo de relação para obter
ferramentas que possam servir para uma intervenção social e psicológica.
Outro facto é que as mulheres que vivem com fístulas obstétricas são muito jovens, muitas
vezes com baixa escolaridade, grande parte destas jovens são provenientes de um contexto
social de pobreza, com baixo acesso aos cuidados básicos de saúde reprodutiva,
concretamente de maternidade segura, sendo vítimas de descriminação e rejeição (MISAU,
2012).
O estudo dos impactos e relações interpessoais revelou possíveis barreiras sociais que as
raparigas com fístula obstétrica enfrentam em decorrências dos valores e normas sociais
ligados a um quadro ideológico e normativo determinado. A persistência da Fístula Obstétrica
denuncia a desigualdade global e pobreza, e o falhanço dos sistemas de saúde e sociais em
proteger a saúde e os Direitos Humanos das mulheres e raparigas mais pobres e vulneráveis.
Nesta perspectiva, este trabalho traz uma visão sociológica pela qual podemos analisar a
convivência das mulheres jovens a partir deste fenómeno que é um produto de interacção
social, dentro de um grupo social. Espera-se que os resultados do trabalho contribuam
cientificamente para a área da Sociologia da saúde em Moçambique dando mais subsídios
para a produção do conhecimento acerca dos impactos da Fístula Obstétrica na sociedade.
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OBJETIVOS
Objectivo Geral
Analisar o impacto social da fístula obstétrica nas mulheres jovens da cidade e
província de Maputo.
Objectivos específicos
Identificar as principais causas da fístula obstétrica encontradas no Hospital Provincial
da Matola;
Descrever principais factores da Fístula Obstétrica encontrado no Hospital Provincial
da Matola;
Mostrar o impacto social que as fístulas obstétricas criam para as mulheres e jovens;
Descrever as estratégias de prevenção e mitigação da fístula.
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(Nietzsche, 1992, p.143). Considera a mulher como “ser” fracassado que busca elevar-se
alterando seus padrões próprios de conduta na sociedade. Dá ao homem a responsabilidade de
manter a mulher dependente e sob seu domínio. Assim, ele entende que o homem tem de
conceber a mulher como 'posse' como propriedade a manter sob sete chaves, como algo
destinado a servir e que só então se realiza.”
Na sua concepção, ele define “cabeça oca” os homens que apoiam a emancipação feminina, a
qual ele considera ponto alto param a regressão da mulher e sua “desfeminização”. O
preconceito às mulheres, evidenciado por vários filósofos contribuirá para sua não-aceitação
no espaço público protelando o acesso às oportunidades.
Apesar de não concordar com Nietzsche” ele expressa a visão da sociedade em torno da
mulher, como tem olhado para a mesma sendo um ser incapaz de realizações próprias e
dependente das intervenções e vontade do homem cabendo a mulher viver para o homem
como sua propriedade.
Segundo Beauvoir (1980, p.291), uma mulher torna-se plenamente humana quando tem
oportunidade de se dedicar ao exercício de actividades públicas e quando pode ser útil à
sociedade.
Ao longo dos anos as mulheres tem travado varias lutas e tem alcançado varias vitórias na sua
conquista pelo espaço no mercado de emprego e não só o direito a voz sem descriminação do
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género e dia após dia elas demostram a sua capacidade de trabalhar em pé de igualdade com
os do sexo oposto, apesar de suas capacidades de gerenciar e organiza se muito bem.
Para GASPARI (2003, p. 31) visto que Kant usa um discurso sexista ao descrever sobre a
mulher e seu viver para o homem, não a reconhecendo enquanto sujeito actuante da história.
Foi influenciado por Rousseau ao utilizar a ideia de inferioridade feminina em relação à sua
incapacidade de raciocinar como o homem, reforçando a ideia de inferioridade feminina.
Para estes autores demonstra-se que diante da evolução do cenário social a legislação não
permaneceu inerte, acompanhando deste modo mudanças referentes ao âmbito familiar e todo
o patriarcado que imperava e ainda impera sobre as famílias e principalmente sobre as
mulheres.
Estes aspectos situam o país quanto ao Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), que é um
dos piores do mundo, mas, desagregado, o indicador possibilita situar o país quanto ao Índice
de Desigualdade de Género (IDG), revelando que o país continua pobre em todos os termos e
quanto à igualdade de género (FNUAP, 2006, p. 3)
Nós mulheres afirmamos que também devemos erradicar a mentalidade que nos foi inculcada
pela cultura dominante de que é próprio da mulher ser inferior, incapaz, ineficiente, de que a
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mulher tem de ser dependente do homem. Esta concepção paternalista e androcrática constitui
a força ideológica da sociedade exclusiva e desigual em que vivemos que nos prepara para
aceitarmos com fatalismo e resignação a condição de cidadãs de segunda categoria, sem
capacidade para poder decidir das nossas vidas (CASIMIRO, 2005, p. 81).
1.1.3. Família
Segundo a Lei 10/2004 de 25 de Agosto, artigo 1, alínea 1, a família é a célula base da
sociedade, factor de socialização da pessoa humana.
A alínea 2 do mesmo artigo diz que a família enquanto instituição jurídica, constitui o espaço
privilegiado no qual se cria, desenvolve e consolida a personalidade dos seus membros e onde
devem ser cultivados o diálogo e a entreajuda.
Algumas famílias não levam as mulheres grávidas para o centro de saúde, muitas vezes isso
cria complicações no acto de parto e como consequência cria-se fístulas. Algumas práticas
culturais como uniões prematuras, a prática da medicina tradicional, a crença no sobrenatural,
os ritos de iniciação praticada entre comunidades têm impacto na saúde, ao influenciam a
exposição e vulnerabilidade à saúde das adolescentes.
Para Alarcão (2000), a família é o lugar onde naturalmente nascemos, crescemos e morremos,
ainda que, nesse longo percurso, possamos ir tendo mais do que uma família.
Este conceito acima nos leva a pensar em família como o centro de socialização dos
indivíduos porque é na família onde o mesmo aprende os seus costumes e as bases
comportamentais para sua sobrevivência na sociedade em geral.
A lei da família e autora Alarcão nos trazem a sua visão sobre o conceitos do termo família e
alguns autor, um conceito amplo e detalhado não podemos nos esquecer que todos descrevem
a família como sendo o início, ou o lugar onde começa a vida humana. Ele agora se dá à nossa
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Para os autores família é a base para uma boa convivência e é obrigada a assumir novas
configurações e novos papéis, estabelecendo entre os seus membros e com a sociedade novas
relações. Daí que a socialização primária dos jovens deixa de ser exclusivamente pela família,
ficando esta a ser permeável a maiores contactos com o exterior.
A lei da família vem nos dar outra visão o que é ser família organizada numa sociedade em
que estamos enquadrado visto ser fundamental na vida de uma grupo étnico e precisa de uma
organização, por isso a sociedade tem como obrigação a criação de uma lei da família.
Nestas organizações sociais, os papéis estão definidos com base nas relações de género que
colocam as mulheres em posições subordinadas e as definem como detentoras da tradição e
conservadoras da cultura, isto é, elas são elementos-chave nos dois tipos de comunidade, mas
sem poder algum. Neste sentido, a autonomia e emancipação das mulheres podem ser vistas
como aspectos que ameaçam o âmago da estrutura tradicional, na medida em que deixam
espaço de manobra para que as mulheres sejam actoras do seu destino, contrariando o
relegado às posições subalternas (Coller, 2007, p. 12).
Neste conceito todos os autores, estão alinhado nas suas ideias, falar das familias também
demonstram que o quotidiano delas é marcado por momentos de vulnerabilidade individual,
programática, social e cultural, no caso moçambicano, as questões culturais e tradicionais
discriminatórias e nocivas para as mulheres, que apontamos, são aspectos que se deve ter em
conta para analisar as relações de género e as consequências das mesmas para as maneiras de
ser e estar na sociedade por parte dos indivíduos.
Fístula Obstétrica é a comunicação entre a vagina e a bexiga e/ou reto resultante da necrose
dos tecidos por compressão da cabeça do feto numa circunstância de trabalho de parto
arrastado.
Para efeitos deste trabalho todos os conceitos tem enquadramento visto que uma complementa
a outra pois além do orifício que permite a comunicação da vagina e a bexiga, também pode
ser provocada por complicações traumáticas, cirúrgicas como do aborto ou de cesariana,
partos obstruídos ou arrastados, cirurgia e violação sexual, e cria uma comunicação anómala
entre duas ou mais partes do corpo que, em condições normais, não se comunicam entre si.
Estes conceitos se adequam aos nossos objectivos, que a ideia base são os inpactos
vivenciadas no processo de parto e nascimento que constituem como forma de fístula
obstétrica. As sociedades humanas são regidas por leis, que são instrumentos que favorecem a
convivência pacífica entre os membros que compõem uma determinada comunidade. Nesse
sentido, segundo Schutz (1979). Esta teoria ajudou-nos a compreender quais as percepções
das mulheres jovens face a fístula obstétrica e as consequências causadas pela doença.
De acordo com a Organização Mundial de Saúde a Fístula Obstétrica foi eliminada na Europa
e nos Estados Unidos, na sequência de um esforço de saúde pública que decorreu 1935 a 1950
e que permitiu o acesso universal das mulheres aos cuidados do parto seguro (OMS, 21 de
Abril de 2015). Actualmente, nos países desenvolvidos a fístula ocorrem principalmente em
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Segundo MISAU, (2012, p.13), As zonas que apresentam elevadas taxas de aparecimento de
fístula são as províncias de Niassa, Tete, Zambézia, Nampula, Inhambane, Manica e a zona
sul da província de Sofala.
Para Vaz (2011) a elevada prevalência da doença nestas províncias deve-se ao fato de serem
regiões rurais onde a maioria da população vive na pobreza absoluta e que possui baixa
cobertura da assistência ao parto.
Para UNFPA, (2003, p.42). Outro agravante está relacionado com o transporte e ao sistema
de comunicação que são precários e insuficientes, fazendo com que uma mulher com parto
obstruído não tenha acesso aos serviços de saúde, principalmente na região norte do país onde
o terreno é montanhoso.
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Sem o acesso de cesarianas de emergência, estas complicações, poder ser fatais. No entanto se
a mulher sobrevive ao parto, e comum que ocorra ferimento na hora do parto. O nascimento
do bebe, pode ser interrompido se o útero não se contrair adequadamente.
O parto feito fora de unidade sanitária tem causado esta doença, enfrentam impossibilidade de
conviver com a família e com os amigos e mesmo de terem algum relacionamento.
Entre as causas responsáveis por esta patologia, incluem-se também, para além do trabalho de
parto prolongado, lesões cirúrgicas acidentais relacionadas com a gravidez e operações
invasivas para induzir o aborto. Muitas destas causas ocorrem quer no contexto do próprio
sistema nacional de saúde pela insuficiente cobertura da rede de assistência institucional e
fraca preparação dos seus técnicos, quer à margem do sistema nacional de saúde devido à
existência de atitudes prejudiciais à assistência ao parto e à grávida. Estes factores agravam-se
nas zonas rurais dos países em vias de desenvolvimento entre os quais Moçambique se
encontra.
Pois, como bem coloca Amalique (2008), devido ao odor fétido de urina que exala, esta
mulher é colocada num “isolamento voluntário”. A maioria é pobre e não tem dinheiro para
adquirir absorventes ou fraldas descartáveis. Tendo de utilizar faixas de tecido dobradas como
absorvente da urina, que têm de ser constantemente trocadas, lavadas e reutilizadas. No
entanto, em muitos casos, essas mulheres não têm recursos para comprar sabão nem ao menos
possuem água corrente em casa. Dessa forma, a incapacidade de controlar a urina ameaça sua
auto estima, elas vêem sua reputação pessoal estigmatizada e desvalorizada nas interacções
sociais. A vida social activa, as celebrações com amigos, os convívios familiares e os
casamentos, por vezes, acabam.
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De acordo com Loforte (2003), a mulher tem a função de “reprodutora”. Então, quando
contrai o matrimónio, ela deve, antes de tudo, reproduzir, o que determina o estrito controlo
exercido pelo colectivo em relação à sua sexualidade de modo a assegurar o aumento de
efectivos.
Para Goffman, (1975), Como consequência, as fístulas não eram identificadas como um
problema de saúde prioritário nas unidades sanitárias, em virtude da sobrecarga de outras
patologias com maior incidência nessas unidades sanitárias. Por outro lado, a maioria das
doentes não tem capacidade de decisão para exercer pressão junto da comunidade (incluindo
familiares), A falta de controlo da urina, as dores durante sexo, as feridas na pele, o odor que
exalam e outros sintomas da Fístula podem marcar profundamente a identidade social dessas
mulheres, constituindo um estigma. O estigma é a evidência de um atributo considerado
socialmente diferente das expectativas normativas que se tem para aquela categoria.
Quando não tratada, a fístula pode provocar úlceras, infecções, problemas renais e até mesmo
a morte. Algumas mulheres bebem o mínimo de água possível para evitar a sua perda
involuntária, o que leva à desidratação. A danificação dos nervos das pernas é outra
consequência da fístula, que leva à falta de mobilidade da mulher, por isso após a operação
elas podem necessitar de uma reabilitação física prolongada.
Temos, portanto, uma expressiva população feminina que convive com Fístula Obstétrica, e,
ao que parece, em grande medida, ela é invisibilizada. Essa invisibilidade se estende às
Ciências Sociais. Até o momento, existe apenas uma pesquisa voltada especificamente para
entender a questão das Fístulas Obstétricas pela perspectiva antropológica. Apesar de a
doença ser bastante estudada do ponto de vista fisiológico e terapêutico por profissionais da
área da saúde, seria necessário contribuir para o seu quadro social, especialmente porque a
fístula atinge, principalmente, mulheres pobres que não têm acesso ao parto seguro.
De acordo com pesquisa realizada por Zeleke et al. (2013), cerca de 97% das mulheres com
Fístula Obstétrica apresentaram sintomas de depressão.
Vimos, ao longo deste tópico, que a Fístula Obstétrica altera a rotina de vida destas mulheres
e as obriga a desenvolver estratégias para conviver com a dimensão crónica da doença,
principalmente por medo de ser estigmatizada. O ato de “negar” ou “esconder” a realidade é
caracterizado, em alguns casos, pelo isolamento, mas, ao manter a fístula em segredo, elas
reforçam incertezas, mitos e ignorância em relação às causas e tratamentos da doença
(Lavander et al., 2016). Desse modo, a categoria “vulnerabilidade” torna-se central nesta
discussão e representa a complexidade em torno da exposição da doença e o impacto que a
falta de informação pode ter na busca pelo tratamento. A maior parte das mulheres que sofrem
de fístula em Moçambique não sabe que tem a doença. Diversas mulheres sofreram com a
doença durante anos antes de procurar tratamento.
pela população feminina, sendo resultante de várias características dos contextos políticos,
económicos e socioculturais, que aumentam ou diminuem o risco individual
De acordo com Ayres (1996), o termo saúde sexual e reprodutiva contribuindo para a
vulnerabilidade relacionada as DST‟s, HIV e a Fístula Obstétrica (Maúngue, 2020). Por estas
razões, é essencial a análise da situação da Fístula Obstétrica em Moçambique numa
perspectiva de género, já que ele se interliga com a temática da vulnerabilidade, sexualidade e
maternidade. A situação da mulher moçambicana é parte da realidade da mulher na África
Austral, onde os costumes característicos constituídos ao nível familiar e cultural determinam
a socialização de homens e mulheres. Essa desigualdade entre os sexos tem produzido,
historicamente, concepções de fragilidade, dependência e submissão, que dão aos homens
direitos de tutela sobre as mulheres (Estavela & Seidl, 2015).
Tanto nas formas alargadas das famílias, nas monogâmicas ou poligâmicas, nas zonas rurais
ou urbanas, mesmo nos sistemas de linhagem matrilinear as mulheres ocupam posições
subalternas (Lourenço & Tyrrell, 2009).
Sendo possível afirmar que a relação entre homens e mulheres é baseada na demarcação de
papéis distintos, que favorecem os homens, lhes dando oportunidades desiguais em relação às
mulheres, ampliando suas vulnerabilidades diante das doenças (Estavela & Seidl, 2015).
Deste modo, Osório (2004) constatou incapacidade da mulher em ser sujeito da sua própria
sexualidade e reprodução, permanecendo o controlo masculino sobre os corpos femininos,
seja qual for o grupo etário, o estado civil ou o contexto social.
Para além das características sociais e culturais prescritas ( Letherby, 2003), o género também
identifica as características socialmente construídas que definem e associam as relações de
poder, compreendendo poder como a capacidade de levar alguém a fazer algo ou a
comportarse de certo modo, independentemente da sua vontade (Weber, 1922).
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Para Barnard e Spencer (1996) A sociedade é uma condição universal da vida humana. Esta
universalidade admite uma interpretação biológica ou instintual, e outra simbólico-moral, ou
institucional. Assim, a sociedade pode ser vista como um atributo básico, mas não exclusivo,
da natureza humana: somos geneticamente predispostos à vida social; a ontogênese somática e
comportamental dos humanos depende da interação com seus conspecíficos; a filogênese de
nossa espécie é paralela ao desenvolvimento da linguagem e do trabalho (da técnica),
capacidades sociais indispensáveis à satisfação das necessidades do organismo.
Tratem da sexualidade das pacientes com Fístula Obstétrica, entre as quais destacamos uma
pesquisa realizada em Moçambique por Yeakey et al. (2009) e que aponta para os impactos na
capacidade de fazer sexo devido à baixa estima, dores ou disfunção sexual. Para algumas
interlocutoras, a fístula não interferiu na vida sexual, mas para outras, era necessária
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programação antes do ato sexual. Também foi possível verificar que a doença alterou ou, em
muitos casos, anulou a vida sexual dessas mulheres. Segundo a tradição moçambicana, cabe
ao marido a iniciativa para o ato sexual, porque é ele que necessita de relações sexuais
frequentes. Compete à mulher procurar satisfazê-lo (Osório Macuacua, 2013).
Ainda de acordo com Yeakey et al. (2009), mesmo nos casos que a relação sexual continuou,
apesar da fístula, as mulheres sentiam que a doença afectou seus relacionamentos. Algumas
delas optaram por abster-se do sexo.
Diversos estudos que abordam as relações sociais das mulheres com fístula indicam um nível
acentuado de isolamento entre os membros que compartilham dessa condição. Yeakey et al.
(2009) destacam que a ocorrência do isolamento, que não se limita a maridos e parceiros,
abrangendo família, amigos e igreja. Elas são forçadas a viver no ostracismo, a comer ou
dormir sozinhas, separadas do restante da família (Miller et al., 2005).
As perspectivas das pacientes vivendo com fístula indicam que a doença limita sua capacidade
de cumprir seus papéis conjugais. Sendo gerada, para além do abandono e do divórcio, uma
condição de tristeza (Yeakey et al., 2009). A doença acaba interferindo na vida destas
mulheres de tal forma que o termo tristeza (empregado como falta da alegria, animo,
disposição e outras emoções de insatisfação) esteve bastante presente na revisão de literatura
realizada a respeito da Fístula Obstétrica. Algumas mulheres pesquisadas tentam, na medida
do possível, manter suas vidas normais, cuidando dos filhos, da machamba, indo à igreja, mas
nada disso é suficiente para apagar os sentimentos de tristeza e isolamento infligidos pela
Fístula Obstétrica.
Existe uma expectativa social de que tem a ver com o papel da mulher como esposa e mãe,
que faz com que as pacientes busquem tratamento com duas esperanças: encerrar a fístula e
voltar a engravidar (Khisa & Nyamongo, 2012).
Com relação à sexualidade e à maternidade são elementos que constituem um processo sobre
si mesma, mas que, a nosso ver, se relacionam directamente com o status de ser mulher em
Moçambique Dessa maneira, são situações sociais corporificadas em sujeitos históricos, cujos
sofrimentos estão inseridos em ordens societárias que estruturam as relações.
Por meio da descrição dos principais temas e enfoques, constatamos que o abandono inicia,
por vezes, ainda no período da gravidez. O processo da gestação (quando é concebida antes
do casamento) é marcado pela rejeição e vergonha da família, factores que são agravados após
27
o desenvolvimento da fístula obstétrica. Pacientes narram, que sua condição da perda de urina
era tornada pública sempre que ocorriam embates com membros da família. Reflectindo, no
máximo da humilhação que uma pessoa portadora de uma doença crónica, carregada de
estigmas e preconceitos, pode ter, a exclusão social. São mulheres de segmentos populares,
que, ao desenvolverem a doença, se viram sozinhas no mundo (contando, em alguns casos,
com o apoio do seu núcleo familiar).
Vimos que grande parte das mulheres são abandonadas pelos maridos após o desenvolvimento
da doença, mas de acordo com (Khisa & Nyamongo, 2012) alguns casamentos acabam após a
cirurgia de reparação da fístula. Isto porque uma das orientações médicas no pós-cirúrgico é a
abstenção sexual (de 3 a 6 meses a depender do caso) e o intervalo de no mínimo dois anos
para engravidar. Só que não é fácil convencer os maridos, eles acreditavam que assim que as
esposas voltassem do hospital suas vidas retornariam a normalidade, mas não é isto que
acontece. Segundo Khisa e Nyamongo (2012) os homens não entendem, se já não sai mais
xixi pela vagina, porque não ter relações sexuais.
A Fístula normalmente acontece em mulheres pobres, especialmente aquelas que vivem longe
das unidades sanitárias. Dentre os factores que contribuem para a fístula, a pobreza é mais
determinante, porque está associada ao casamento prematuro e à desnutrição. Além disso, a
pobreza reduz as possibilidades delas se beneficiarem dos direitos e cuidados de saúde
reprodutiva, entre os quais a assistência ao parto. Por serem colocadas num estatuto
subalterno, as mulheres, em muitas comunidades, não têm o poder de decidir quando e onde
ter filhos (UNFPA, 2012).
Em Moçambique quem tem o maior risco de desenvolver a doença, são as mulheres jovens e
adolescentes, loboladas aos 11/12 anos, grávidas aos 13/15 anos e que dão a luz em casa,
como manda a tradição (WLSA, 2011).
Contudo, outros factores directos ou indirectos predispõem a mulher a ter um parto arrastado
ou obstruído. Os riscos de complicações na gravidez e no parto são maiores se a mulher tiver
tido muitas gestações. Estas distocias, que incluem hemorragia e Desproporção Céfalo Pélvica
são frequentes em mulheres multíparas e que podem também, igualmente as primigestas,
desenvolver fístula durante um parto complicado, sem assistência médica (Miller et al, 2005).
Lembrando que em Moçambique a taxa de natalidade é de 6.6 filhos por mulher (dados de
2011), mas durante a pesquisa muitas das entrevistadas afirmaram ter de 07 a 10 filhos.
Aspectos culturais;
Os mitos comuns em relação às fístulas são que as mesmas foram causadas por culpa dos
maus espíritos, de que a mulher está amaldiçoada ou que está sendo punida, por que ofendeu
os deuses ou foi infiel ao marido. Em algumas províncias de Moçambique, o trabalho de parto
complicado também está associado à infidelidade feminina. O que acaba provocando atrasos
29
Estas tradições fazem com que as parturientes se recusem a dar à luz nas maternidades,
sobretudo quando sabem que serão assistidas por homens ou parteiras jovens que ainda não
têm filhos. Para a Directora de Saúde da Província de Tete, Luisa Cumba a alta taxa de
mortalidade materna em Moçambique está associada a falta de poder de decisão da mulher
sobre sua própria vida, uma vez que a parturiente não pode tomar a iniciativa de ir para
maternidade sem a autorização da sogra ou do marido.
De acordo com Vaz (Jornal Domingo, 17/05/2015) as Fístulas Obstétricas são uma
demonstração viva do desastre e desigualdade social em que vivemos. Tendo como
denominador comum a pobreza, à distância e isolamento em que vivem, a falta de
escolaridade, falta de acesso aos cuidados de saúde e a demora desta mulher ter acesso aos
cuidados obstétricos de emergência disponíveis nos centros médicos.
Cada país realiza a Campanha em seu próprio ritmo, no caso de Moçambique a parceria do
Ministério da Saúde junto com a UNFPA tem desenvolvido desde 2003 o Programa Nacional
de Tratamento de Fístulas e de Formação de Técnicos de Saúde para Prevenção e Tratamento
das Fístulas Vesico Vaginais – FVV. Mesmo que de forma não periódica tem sido oferecidos
cursos de formação e missões de formação e tratamento em localidades do país com maior
prevalência da doença (Vaz, 2011). No ano de 2010 foi lançada nas Nações Unidas em Nova
York a Estratégia.
Foram mapeados os locais que prestam serviços de reparação e tratamento de fístulas no país
no esforço de definir e organizar uma rede de referência dos serviços de diagnóstico e
reparação, integrada no Serviço Nacional de Saúde (Jornal Domingo - 05 de Outubro de
2014). Sabendo que o tratamento para a doença implica em capacitação das equipes, podemos
afirmar que actualmente, existem 21 Unidades Sanitárias que fazem o tratamento regular das
Fístulas Obstétricas, geralmente tratando os casos de fístulas simples (baixa complexidade) e
encaminhando os casos de média e alta complexidade para uma das quatro unidades de
referencia para o tratamento da doença, a saber: Hospital Central de Nampula (região norte), o
Hospital Central da Beira e Hospital Provincial de Quelimane (região central) e o Hospital
Central de Maputo (região sul).
Ao longo dos anos a fístula obstétrica tem se tornado uma preocupação para o governo
moçambicano e o grande desafio do MISAU é aumentar a capacidade do sector de saúde na
prevenção e rastreio de fístulas, em paralelo com a necessidade de intensificar a promoção de
maternidade segura, em particular para as mulheres e adolescentes que vivem em zonas de
difícil acesso (Jornal Domingo - 05 de outubro de 2014). Desta forma o Ministério da Saúde
aprovou em 2012 a “Estratégia Nacional de Prevenção e Tratamento das Fístulas Obstétricas”,
que preconiza a implementação de acções multidisciplinares com a intervenção dos parceiros
de cooperação, Agências das Nações Unidas e organizações não-governamentais (UNFPA,
2012).
mulheres em idade reprodutiva, com enfoque especial nas jovens e adolescentes que estão sob
o risco sobretudo devido ao trabalho de parto arrastado ou obstruído (Ibdem).
A Estratégia foi elaborada com base numa abordagem holística e multidisciplinar de forma a
reduzir a incidência de novos casos e dos casos já existentes, além de permitir a reintegração
social destas mulheres. Tendo como pilares (MISAU, 2012, p.17):
Como vimos acima um dos “pilares” da Estratégia Nacional de Prevenção e Tratamento das
Fístulas Obstétricas em Moçambique é assegurar a reabilitação e reintegração social das
pacientes tratadas, sendo previsto a elaboração um programa de reabilitação que dê resposta
as suas reais necessidades, desenvolvendo um sistema de aconselhamento e suporte
psicológico, de forma a garantir que estas mulheres possam retomar uma vida normal
(MISAU, 2012:21).
Paralelamente a estes esforços, foi assinada em 2014, por mais de 150 países, entre ele
Moçambique, uma Resolução que apela para que a comunidade internacional realize trabalhos
de forma reintegrar estas mulheres na sociedade, mas também de acompanhar as que foram
curadas da doença garantindo principalmente que elas recebam os cuidados obstétricos
necessários nas futuras gravidezes de forma a prevenir a recorrência da fístula obstétrica
(UNFPA – Mozambique, 09/01/2015).
Pelo que tivemos a oportunidade de observar durante a pesquisa de campo, podemos afirmar
que há necessidade de se intensificar os serviços de apoio psicossocial, garantir maior
32
divulgação de informações tendo em conta que poucos sabem sobre a doença e a formação de
mais profissionais saúde sobre a matéria. É necessário aumentar a capacidade dos
profissionais de saúde no tratamento, mas também na prestação de cuidados integrados e
holísticos (MISAU, 2012, p.18).
Não podemos pensar esta política pública de forma isolada, mas sim enquadrada dentro dos
compromissos definidos pelo governo moçambicano para buscar reduzir a mortalidade
materna e a desigualdade de género no país (MISAU, 2012:16). O final de 2015 era o prazo
final para alcançar o “Objectivos de Desenvolvimento do Milénio”, incluindo a Meta 5, que
apela para a melhoria da saúde materna (UNFPA/Mozambique – 09/01/2015).
Mas apesar da “Estratégia nacional” ter apresentado resultados positivos, ainda é necessário
ampliar o âmbito das campanhas cirúrgicas no país, bem como melhorar o acesso das
mulheres a saúde sexual e reprodutiva, principalmente aos cuidados obstétricos básicos. Para
o Dr. Igor Vaz (2011) o tratamento para as Fistulas Obstétricas implica na capacitação dos
profissionais de saúde, bem como a criação de equipas especializadas. Num país tão grande
como Moçambique (801.590 km²) até pouco tempo atrás apenas três médicos22 eram capazes
de realizar a cirurgia de reparação da fístula obstétrica no país (UNFPA, 2003 e Velez,
2007:148). A “Avaliação nas Necessidades em Saúde Materna e Neonatal” realizada em
Moçambique no período de 2006-2007, mostra que 42,9% das Unidades Sanitárias tinham
Registro de pacientes com queixas de incontinência urinária/fecal, mas apenas 3,7% tinham
Registro de oferecer algum tratamento de reparação de Fístula Obstétrica (UNFPA, 2012),
geralmente estas pacientes são referidas para uma Unidade Sanitária de nível superior ou
voltam paras as suas casas sem tratamento. Ressaltamos que até 2010 o país possuía apenas
três grandes centros de reparação de fístula, sendo assim poucas mulheres conseguiam ser
abrangidas pelo sistema nacional de saúde, tendo de percorrer longas distâncias para ter
acesso ao tratamento ou esperar meses em alguns casos anos para conseguirem a cirurgia
(Vaz, 2011).
Mesmo esta realidade tendo melhorado um pouco ao longo dos últimos anos actualmente só
existem algumas unidades de saúde que realizam cirurgias para reparação da fístula obstétrica,
são eles o Hospital Central de Maputo, Hospital Central da Beira, Hospital Central de
Nampula, Hospital Provincial de Quelimane, e Hospital Provincial de Lichinga no Niassa
(Vaz, 2011). Em algumas províncias como Tete, Manica e Inhambane, as cirurgias de
reparação da FO acontecem através de missões específicas compostas por cirurgiões,
33
Mas a grande questão é como desenvolver um sistema de incentivos para que os médicos
tenham interesse no tratamento das fístulas (UNFPA, 2003:42), uma doença que atinge
maioritariamente a população pobre e não tem clientela nos hospitais privados, diferente do
que acontece com as cirurgias plásticas, por exemplo. Observamos que tem havido pouco
interesse por parte dos obstetras e ginecologistas em participar dos treinamentos oferecidos
pelo MISAU para reparar as fístulas obstétricas, o mesmo acontece com os residentes, que
tem de passar por cada especialidade cirúrgica, lhes é ensinado, mas nenhum teve interesse
em continuar a aprender essas habilidades (UNFPA, 2003, p41).
Além disso, são eles que ficam em contato direto com as pessoas em situações de
vulnerabilidade. Sendo assim, precisam entender a realidade da população para dar orientação
sobre como buscar informação e acessar os serviços aos quais todos têm direito.
34
IAMAMOTO, (1997, p. 14), define o objeto do Serviço Social nos seguintes termos: “Os
assistentes sociais trabalham com a questão social nas suas mais variadas expressões
quotidianas, tais como os indivíduos as experimentam no trabalho, na família, na área
habitacional, na saúde, na assistência social e pública.
O assistente social na área da saúde tem o papel de suporte para pacientes e seus familiares,
garantindo direitos e apoio quando solicitado. Ele também realiza diversas actividades,
envolvendo integração, serviços e facilitações às pessoas.
Neste capítulo passamos a apresentar os procedimentos através dos quais foi possível
operacionalizar os objectivos do estudo, tipo de estudo, descrição do local da pesquisa,
instrumento de recolha de dados, aspectos éticos, Procedimentos de recolha de dados e
amostragem, Procedimento de análise de dados, Potencialidades e limitações da pesquisa.
2.Tipo de pesquisa
Existem vários tipos de pesquisa mas tendo em conta os objectivos da presente trabalho,
optamos por adoptar para a presente pesquisa, uma metodologia qualitativa de natureza
exploratória. Segundo PANDROV e FREITAS (2013), descrevem a Pesquisa Qualitativa
como aquela que não requer o uso de métodos e técnicas estatísticas, e a natureza exploratória
consiste em dar relevância a um determinado tema dentro de uma determinada área de
conhecimento, para que sirva de objecto de pesquisas aprofundadas do futuro (Viera, 2010).
Optamos por um estudo qualitativo porque envolve a obtenção de dados no contacto directo
do pesquisador com situação estudada.
Actualmente o HGCh é composto por diversos serviços tais como: serviço de administração
central, banco de socorros, maternidade, laboratório, farmácia, psiquiatria, psicologia, PNCT,
nutrição, oftalmologista, estomatologia, banco de óculos e saúde materno-infantil.
A escolha destes locais justifica-se pelo facto de serem lugar onde as mulheres são encaminha,
para o Hospital central de Maputo, que podem ser internadas e receber devido tratamento da
Fístula Obstétrica.
2.2.2 Amostra
O estudo envolveu 20 participantes, todas identificadas no Hospital Geral de Chamanculo e
Hospital Provincial da Matola, e convidados ao estudo, preenchendo no momento e após o
seu consentimento formalmente fornecido o questionário referente a fístula obstétrica.
Para orientar o processo de recolha de dados foram definidos como critérios de inclusão no
presente estudo (i) Ser jovem do sexo feminino, com idade compreendida entre 18 a 34 anos;
(ii) Ser jovem com FO e que esteja internada no (HPM); (iii) Ser jovem do sexo feminino que
tenha doença (HPM); (iv) Consentir a participação no estudo. E como critério de exclusão (i)
Ser jovem do sexo feminino com idade compreendida entre 18 a 34 anos, mas com problemas
psíquicos que não lhe permitem dar consentimento informado; (ii) Não consentir a sua
participação no estudo.
Para os profissionais de saúde foram definidos como critérios de inclusão (i) Ser profissional
de saúde que trata, jovens que que tenham FO; (ii) Ser profissional de saúde que tenha
entendimento sobre FO; (iii) Consentir a sua participação no estudo. E como critério de
exclusão (i) Ser profissional de saúde que não tem conhecimento de alguns jovens que
padecem da FO; (ii) Ser profissional de saúde que não tenha conhecimentos sobre a FO; (iii)
Não consentir a sua participação no estudo.
quintasfeiras em que o cirurgião, para atender pacientes com FO. Foram nesses dias que que
os pesquisadores se deslocaram, contactaram e realizaram as entrevistas com as participantes.
Em relação ao HPM os dados foram recolhidos em dias úteis da semana, de segunda a sexta
feiras. As entrevistas foram realizadas dentro do recinto hospitalar em uma sala, cedido pelos
profissionais da saúde do HPM. Os profissionais de saúde ajudaram a localizar os pacientes
com as características desejadas pelos pesquisadores, uma vez que a enfermaria da urologia de
HPM, Interna outros pacientes que não padecem da FO.
A entrevista semiestruturada foi feita individualmente, com recurso à gravação, que foi
consentida pelos participantes da pesquisa, com uma duração de 30 a 45 minutos de duração.
As 30 entrevistas foram administradas em três 2 línguas, português, changana, para o caso das
participantes que tinham dificuldades de compreensão ou comunicar-se na língua portuguesa.
A análise tem como objectivo organizar e resumir os dados de forma que possibilitem
fornecimento de respostas ao problema proposto para investigação. Já a interpretação tem
como objectivo procurar o sentido mais amplo das respostas, o que é feito mediante sua
ligação a outros conhecimentos obtidos. (Gil 2009, pág. 156)
Assim que a Pesquisa usa o método qualitativa esta pesquisa é muito fundamental na
compreensão explicação e descrição das dinâmicas, experiências das relações sociais em torno
do tema que envolve mulheres jovens com fístula obstétrica respondendo questões a partir do
problema de pesquisa que tem como pergunta de partida a seguinte questão: Quais são os
impactos da Fístula Obstétrica vivenciadas pelas mulheres e jovens no processo da gravidez
e parto?
Os resultados da questão de partida de foram obtidas por via guião de entrevista- semi
estruturada foram direcionadas alguns grupos de profissionais de saúde e mulheres jovens.
Assim, fez se analise das respostas dadas pelos participantes.
Sendo assim, são apresentados os resultados da entrevista feita a alguns profissionais de saúde
e mulheres jovens residentes na cidade e província de Maputo. O mesmo reveste-se de
máxima relevância, uma vez que possibilitou a compreensão do problema de pesquisa
levantado.
Todos os entrevistados vivem em Maputo (cidade e província de Maputo), com uma idade
superior a 18 anos.
De seguida apresenta -se síntese das respostas e análise dos nossos a entrevistados.
Iniciaremos com as narrações obtidas nas perguntas feitas aos profissionais de saúde.
Do princípio procuramos saber aos profissionais de saúde (médicos). Se já haviam atendido
alguns pacientes com fístula obstétrica, e com que condições chegaram estes pacientes?
Alguns profissionais de saúde responderam que não e outros responderam que sim.
40
A fístula obstétrica tem como principal causa as complicações que a gestante sofre no parto.
Este preceito é defendido por Médicos sem fronteiras (2018), ao afirmar que, praticamente
41
Conforme as respostas dos entrevistados, com os dizeres dos autores acima descritos
percebese A fístula não discrimina por idade, mas as mulheres jovens são mais expostas à
situação, em particular, A condição pode levar a infecções, doença renal, feridas dolorosas,
infertilidade e até à morte. O odor constante de urina e fezes deixa as mulheres envergonhadas
e estigmatizadas, abandonadas por seus amigos e familiares e comunidades.
Nesta questão procuramos saber quais são os grupos alvo que sofrem com a doença Além da
falta de serviços de saúde de qualidade, a pobreza é um grande risco social porque está
associada ao casamento precoce e baixa estatura e as condições de saúde. No entanto,
mulheres mais velhas que já tiveram bebês também estão em risco ? Os entrevistados
responderam:
É nesta perspectiva que Schutz, (1979) explica que viver no mundo da vida quotidiana
significa viver em um envolvimento interactivo com muitas pessoas, em complexas redes de
relacionamentos, tendo em conta que, o mundo quotidiano é um mundo histórico, cultural em
que o indivíduo vincula-se em diferentes relações sociais. Estas relações influenciam na
produção de diferentes percepções em relação a FO entre as participantes da pesquisa.
Visto que a doenca tem afectado muito nas zona rural, como a existencia do casamento
prematuro. A importância do Serviço Social se inserir em todo o processo de alta. Em relação
ao trabalho em equipe, é essencial que essa articulação seja baseada em uma comunicação
assertiva entre os profissionais levando-se em conta a percepção holística do sujeito,
conforme discutido por Souza et al. (2012).
Pois, como bem coloca Amalique (2008), devido ao odor fétido de urina que exala, esta
mulher é colocada num “isolamento voluntário”. A maioria é pobre e não tem dinheiro para
adquirir absorventes ou fraldas descartáveis. Tendo de utilizar faixas de tecido dobradas como
absorvente da urina, que têm de ser constantemente trocadas, lavadas e reutilizadas. No
entanto, em muitos casos, essas mulheres não têm recursos para comprar sabão nem ao menos
possuem água corrente em casa. Dessa forma, a incapacidade de controlar a urina ameaça sua
autoestima, elas veem sua reputação pessoal estigmatizada e desvalorizada nas interações
sociais. A vida social ativa, as celebrações com amigos, os convívios familiares e os
casamentos, por vezes, acabam.
A fistula obstétrica tem como principal causa as complicações que a gestante sofre no parto.
Este preceito é defendido por Médicos sem fronteiras (2018), ao afirmar que, praticamente
todas as ocorrências de fístula obstétrica são resultantes, de parto abstruídos. Em região
remota da áfrica, onde há poucos hospitais parteiros e o cuidado obstétrico são raros, as
complicações pode prolongar o parto por dias.
Toda actividade natural em torno da gravidez é esperada pela mulher, porém, quando acontece
alguma situação de violência no seu processo, principalmente por quem exerce o papel de
cuidador e protecção, sendo estes os profissionais da saúde, resulta-se em um impacto
significativo no funcionamento do seu psicológico e comportamento (RIBEIRO,2017apud
DIAS e PACHECO, 2020).
45
Sem o acesso de cesarianas de emergência, estas complicações, poder ser fatais. No entanto se
a mulher sobrevive ao parto, e comum que ocorra ferimento na hora do parto. O nascimento
do bebe, pode ser interrompido se o útero não se contrair adequadamente. Paralelamente,
outros autores defendem que, As causas responsáveis por esta patologia; trabalho de parto
prolongado, lesões cirúrgicas acidentais relacionadas com a gravidez e operações invasivas
para induzir o aborto ou histerectomia (Vaz, 2011).
03, HGCH)
meu marido tinha uma amante, pensei que ela faz algo
para mim, quando descobri sobre o caso deles, tive uma
grande discussão com a minha rival, e ela jurou que eu ia
morrer no parto, ela não conseguiu matar a mim, matou a
criança e me deu a doença. (…) tentei por varias vez ir
fazer tratamentos a parte espiritual agora é só hospital
depois de muito tempo perdido a procura de culpado”
(Participante 10, paciente com a doença no HGCH).
O aborto é considerado como um dos principais factores da Fistula Obstétrica. Essa ideia é
sustentada pela ideia por VAZ (2011) ao afirmar que trabalho de parto prolongado, lesões
cirúrgicas acidentais relacionadas com a gravidez e operações invasivas para induzir o aborto
ou histerectomia são as causas da Fistula Obstétrica.
“Ela disse que foram discrimina por ser menor de idade, mas as
mulheres jovens são mais expostas à situação porque seus
corpos ainda não estão formados e preparados para o parto.”
(Técnico de saúde 05, HGCH).
Diversos estudos que abordam as relações sociais das mulheres com fístula indicam um nível
acentuado de isolamento entre os membros que compartilham dessa condição.
Neste sentido pode Identificar os mecanismos adoptados pelas mulheres jovens param o
tratamento e prevenção das fístulas obstétricas;
Ainda segundo Kleinman (Ibdem), esses sectores são sobrepostos e interligados, sendo
divididos entre: informal (família), popular (medicina tradicional) e profissional (médicos,
enfermeiros e outros).
As práticas populares têm se mantido nas diversas culturas e sempre foram utilizadas como
primeiro recurso para minimizar ou prevenir doenças. Muitas mulheres acreditam terem sido
vítimas de feitiço e procuram os médicos tradicionais para curá-las da fístula, gastando muito
dinheiro ao longo dos anos, mas sem resultado, já que a fístula só pode ser fechada através de
cirurgia (WLSA, 2011).
Como refere Schutz (1979), esta percepção em relação as modalidades de tratamento é retido
pelas jovens como um estoque de conhecimento visto que, a sua conduta em muitos casos, é
guiada por um conhecimento adquirido no processo de socialização. Assim, a partir do
estoque de conhecimento sobre os modelos de tratamento que as jovens escolhem tem a
consciência da interpretação que os outros agentes sociais dão aquela acção . O estoque de
conhecimento que interioriza nesse meio social sobre os métodos de tratamentos em relação a
sua doença, permite interpretar as suas experiências Por último: Compreender as
consequências físicas, sociais e psicológicas que a fístulas obstétricas criam para as mulheres
e jovens. Por fim, nos propusemos a compreender o impacto social que a fístulas obstétrica
criam para as mulheres e jovens, e em resposta a perguntas colocadas foi possível
compreender que:
“Pedi para o meu marido me devolver para casa dos meus pais,
devido a maus tratos e humilhações” (Participante 18, paciente
com a doença no HPM).
Alguns impactos da FO acima arroladas, foram encontradas citadas por outros autores:
BASHAH (2019), existe uma percepção errónea sobre a causa pela qual as mulheres as
mulheres afectadas não revelam sua condição por medo de serem culpadas. Portanto, elas
escondem-se e não são identificadas e continuam a sofrer silenciosamente das consequências
psicossociais e físicas.
Para Khisa e Nyamongo,( 2012), grande parte das mulheres são abandonadas pelos maridos
após o desenvolvimento da doença, e alguns casamentos acabam após a cirurgia de reparação
51
da fístula. Ainda com os mesmos autores, algumas mulheres pesquisadas tentam, na medida
do possível, manter suas vidas normais, cuidando dos filhos, da machamba, indo à igreja, mas
nada disso é suficiente para apagar os sentimentos de tristeza e isolamento infligidos pela
Fístula Obstétrica.
Cabe destacar que as Fístulas Obstétricas afectam diferentes dimensões do ser humana física,
psicológica, económica e social , sendo agravadas quando se trata da população de mulheres
jovens, que dependem de cuidados específicos e necessitam de suporte familiar efectivo na
busca pelo tratamento.
Pacientes narram, que sua condição da perda de urina era tornada pública sempre que
ocorriam embates com membros da família. Reflectindo, no máximo da humilhação que uma
pessoa
portadora de uma doença crónica, carregada de estigmas e preconceitos, pode ter, a exclusão
social.
PARA Granjo (2009), procurar por um médico é uma opção que os pacientes e seus familiares
tomam porque, ela lhes fornece uma mais-valia de significado e de reintegração social, uma
possibilidade consensual de expressar e gerir não apenas a enfermidade presente, mas também
as relações de solidariedade e conflito em que estão inseridos.
Conclusão
A perda incontrolável da urina/fezes altera e condiciona a socialização da mulher e países em
via de desenvolvimento como Moçambique a maioria da população não tem acesso aos
cuidados básicos obstétricos de qualidade e a FO é uma das complicações do parto arrastado e
prolongado realizado geralmente sem cuidados médicos imediatos e qualificados, que deixam
a mulher numa condição de incontinência urinária/ fecal expondo-a a situações de estigma,
vulnerabilidade, descriminação e exclusão social.
A organização UNFPA e em parceria com o governo têm desenvolvido ações e politicas para
a prevenção e o combate a FO, trabalho esse que tem devolvido o autoestima e a esperança as
mulheres que padecem da doença, contudo há muito ainda por se fazer para travar o problema
52
Sugestão
terem partos seguros e avaliar se uma mãe está tendo dificuldades para dar a luz e
buscar ajuda atempadamente);através do pessoal da saúde e todos os meios de
comunicação social (rádio, TV, jornais, palestras, atividades culturais nas diferentes
línguas).
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54
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ADANE, A.A. Depression among women with obstetric fistula, and pelvic organ
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57
Apêndices
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Guião de entrevista
2. Profissionais da saúde.
1. Nível académico 2.
Profissão
3. Já atendeu alguns pacientes com FO? Se sim, em que condições chega este paciente?
Guião de entrevista: População chave de Mulheres jovens com Fistula Obstétrica. Este
guião de entrevista é um instrumento de recolha de dados no âmbito do trabalho de conclusão
da Licenciatura em Educação e Assistência Social que tem como tema” O impacto social da
Fístula Obstétrica entre mulheres jovens na Cidade e Província de Maputo”. E tem como
propósito estudar o impacto da vivência de Mulheres jovens com a Fístula Obstétrica na
Cidade e Província de Maputo”.
Este instrumento de recolha de dados, foi elaborado de modo a não revelar sua identidade e
todas as respostas obtidas através desta pesquisa serão confidenciais e como finalidade
académica. Em respeito a ética académica as respostas são anónimas e estão garantidas as
condições de confidencialidade.
Todas as informações fornecidas apenas e exclusivamente serão usadas no âmbito deste
trabalho.
Agradecemos desde já a sua inestimável colaboração.
1. Idade________ (em anos).
2. Nível de escolaridade?
3. Trabalhas?
4. Tens parceiro?
5. O teu parceiro sabe desta lesão, (se sim) quem contou? Como tem sido a vossa relação?
6. Com quem vives?
7. Como e Quando teve conhecimento que tinha a doença?
8. A quanto tempo convives com a Fistula Obstétrica?
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9. O que você fez depois que percebeu pela primeira vez que saias urina/fezes de forma
descontrolada?
10. Como passou a ser o seu dia-a-dia desde que descobriu essa doença?
11. Como tem sido a reacção das pessoas que ficam sabendo que esta com essa doença? O que
estas pessoas dizem?
12. Como é que a sua família reagiu quando soube que tinhas a doença?
Ainda se relacionam contigo da mesma forma que antes? (Se não) o que mudou?
13. Te sentes acolhida ou rejeitada pela família ou amigos ou após informar sobre a lesão
vaginal?
14. Tem algum tipo de tratamento específico que eles adoptaram que mostra acolhimento ou
rejeição? Se sim qual?