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República de Moçambique

Ministério de Educação e Cultura


Direcção Provincial de Educação de Cabo Delgado
Direcção de Planificação

Mapeamento da rede escolar de Cabo Delgado


Priorização de Investimento nas Escolas
2005-2009, com projecções até 2014

Abril 2005
ADPESE
CABO DELGADO

ÍNDICE DOS CONTEÚDOS


ÍNDICE DOS CONTEÚDOS .................................................................................................. 2
ÍNDICE DAS TABELAS ......................................................................................................... 4
ABREVIATURAS.................................................................................................................... 6
SUMÁRIO EXECUTIVO......................................................................................................... 8
1 INTRODUÇÃO E CONTEXTO ................................................................................................ 10
1.1 ECONOMIA 10
1.2 POBREZA E Bem-estar 10
2 OBJECTIVOS E METODOLOGIA .......................................................................................... 13
2.1 METODOLOGIA 13
3 OS CRITÉRIOS DE IDENTIFICAÇÃO E SELECÇÃO DE INTERVENÇÕES DE
INVESTIMENTO ................................................................................................................... 15
3.1 EQUIDADE 15
3.2 EFICIÊNCIA 18
3.3 QUALIDADE 19
3.4 SUSTENTABILIDADE DOS INVESTIMENTOS 19
3.5 OUTROS CRITÉRIOS UTILIZADOS 20
3.5.1 Pobreza 20
3.5.2 HIV/SIDA 20
3.5.3 Turismo 20
3.6 PONDERAÇÃO DE CRITÉRIOS 21
4 ANALISE DA REDE ESCOLAR DE CABO DELGADO ............................................................. 22
4.1 A REDE ESCOLAR EXISTENTE 22
4.2 O ACESSO À REDE ESCOLAR 24
4.2.1 Capacidade das escolas 24
4.2.2 Acesso à EP1 24
4.2.3 Acesso à EP2 26
4.2.4 Acesso à EPG 27
4.2.5 As escolas técnicas 27
4.2.6 Zonas de Influência Pedagógica (ZIP) 27
4.2.7 Salas anexas 28
4.3 O ESTADO FÍSICO DA REDE ESCOLAR 28
4.3.1 Material de construção das salas de aula 29
4.3.2 Saneamento e abastecimento de água 29
4.3.3 Energia eléctrica 30
4.3.4 Cantinas 30
4.5 A QUALIDADE DE ENSINO 30
4.5.1 Material escolar e bibliotecas 33
4.5.2 Formação de professores 34
4.6 CASA PARA TRABALHADORES 35
4.7 OUTROS INDICADORES UTILIZADOS 35
5 PROPOSTA DE PRIORIZAÇÃO DAS INTERVENÇÕES......................................................... 36
5.1 NOVAS EP1 37
5.2 AMPLIAÇÃO DE UNIDADES EXISTENTES 38
5.3 SUBSTITUIÇÃO DE SALAS DE AULA 39
5.4 PROMOÇÃO A EPC 41
5.5 NOVAS ESG 42
5.6 CIDADE DE PEMBA 42
5.7 ENERGIA, ÁGUA E VIVENDAS PARA PROFESSORES 43
5.8 ALFABETIZAÇÃO 44
5.9 EDIFICAÇÕES ESPECIAIS 44

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6 O IMPACTO DAS INTERVENÇÕES PROGRAMADAS........................................................... 46


6.1 IMPLICAÇÕES NOS RECURSOS HUMANOS 46
6.2 IMPLICAÇÕES NO MATERIAL ESCOLAR 47
6.3 IMPLICAÇÕES DO INVESTIMENTO NA MANUTENÇÃO DE INFRA-ESTRUTURAS 48
7 ASPECTOS A CONSIDERAR NA IMPLEMENTAÇÃO DO PLANO 49
8.1 RECURSOS FINANCEIROS 49
8.2 RECURSOS HUMANOS 49
8.3 O IMPACTO DO HIV/SIDA 49
8.4 LIGAÇÃO COM O PESE 50
9 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 51
10 ANEXOS – MAPAS TEMÁTICOS 52

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CABO DELGADO

ÍNDICE DE TABELAS

Tabela 1 Distribuição de escolas 15


Tabela 2 Taxa líquida de alunos 16
Tabela 3 Alunos por classe 17
Tabela 4 Professores em Cabo Delgado 17
Tabela 5 Desistência de alunas por classe 18
Tabela 6 Baixo peso ao nascer 20
Tabela 7 Crianças na idade alvo 26
Tabela 8 Equidade de acesso à EP2 26
Tabela 9 Escolas ESG 27
Tabela 10 Salas anexas 28
Tabela 11 Funcionamento de cantinas 30
Tabela 12 Turno de professores 30
Tabela 13 Formação de professores 31
Tabela 14 Desistência de alunos 32
Tabela 15 Equipamento escolar 33
Tabela 16 Livros nas bibliotecas 34
Tabela 17 Formação de professores 34
Tabela 18 Necessidades actuais de novas EP1 37
Tabela 19 Ampliação de unidades existentes 39
Tabela 20 Substituição de salas de material precário 40
Tabela 21 Quantidade de salas de pau a pique ou maticado a serem substituídas 40
Tabela 22 Promoção a EPC 41
Tabela 23 Novas ESG 42
Tabela 24 Cidade de Pemba – % da população nos bairros 43
Tabela 25 Intervenção em Pemba 43
Tabela 26 Necessidades adicionais de quadros trazidos pelo PESE até 2009 47

Mapa 1 Índice de pobreza 11


Mapa 2 Zonas de Cabo Delgado 22
Mapa 3 Escolas primárias até ao 3o nível 23
Mapa 4 Escolas Secundárias 23
Mapa 5 População e densidade em cabo delgado 23
Mapa 6 Alunos por escolas (transparência) 24
Mapa 7 Alunos por escola 24
Mapa 8 Equidade de acesso à EP1 – zona norte 25
Mapa 9 Equidade de acesso à EP1 – zona centro 25
Mapa 10 Equidade de acesso à EP1 – zona sul 25
Mapa 11 Crianças em idade escolar 25
Mapa 12 Equidade de acesso à EP2 26
Mapa 13 Distritos – ZIP 28
Mapa 14 Qualidade da construção 29
Mapa 15 Materiais de construção 29
Mapa 16 Alunos por professor 31
Mapa 17 Alunos femininos por professor 31
Mapa 18 Formação de professores 32

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Mapa 19 Desistência por género 32


Mapa 20 Livros nas bibliotecas 33
Mapa 21 Pobreza 35
Mapa 22 Analfabetismo 35

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ABREVIATURAS

MEC Ministério de Educação e Cultura


DP Direcção Planificação do MEC
DPE Direcção Províncial de Educação
DP Departamento de Planificação
DDE - SP Direcção Distrital de Educação Sector Planificação
ADPESE Apoio da Dinamarca ao Plano Estratégico da Educação
INE Instituto Nacional de Estatística
HIV/SIDA Síndroma de Imúno Deficiência Adquirida
MPD Ministério do Plano e Desenvolvimento
DPS Direcção Provincial Saúde
MISAU Ministério da Saúde
UNDP Projectos de Desenvolvimento das Nações Unidas
WHO Organização Mundial da Saúde
OE Orçamento do Estado
ONG Organização Não Governamental
PESE Plano Estratégico do Sector da Educação
PIB Produto Interno Bruto
PARPA Plano Acção Redução Pobreza Absoluta
EP1 Escola Primária 1o grau, da 1a à 5a classe
EP2 Escola Primária 2o grau, de 6a à 7a classe
EPC Escola Primária Completa, de 1a à 7a classe
ESG Escola Secundária Geral 1o e 2o ciclo
CFPP Centro de Formação de Professores Primários
IMAP Instituto do Magistério Primário
IAP Instituto de Aperfeiçoamento de Professores
INEF Instituto de Educação Física
EBA Escola Básica Agrária
EAO Escola de Artes e Ofícios
EBI Escola Básica Industrial
EIC Escola Industrial e Comercial
ZIP Zonas de Influência Pedagógica
UP Universidade Pedagógica
PPI Plano de Priorização de Investimentos

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SUMÁRIO EXECUTIVO

1. No âmbito do desenvolvimento do Plano Estratégico provincial a Direcção Provincial de Educação


de Cabo Delgado (DPE) participou entre Março a Abril de 2005, do trabalho de mapeamento da
rede escolar para a execução do Plano estratégico do Sector da Educação (PESE), com vista a
apoiar o processo de planificação estratégica provincial do Sector.
2. Os objectivos específicos do trabalho de mapeamento para o PESE são: (a) a consolidação da
informação sobre a rede educacional de Cabo Delgado; (b) a identificação das necessidades de
investimento e respectivas intervenções para o próximo quinquénio; e (c) utilização do
mapeamento como uma das ferramentas de planificação ao nível provincial. O objectivo final deste
exercício de planificação é atingir uma prestação equitativa de serviços de qualidade de uma forma
eficiente.
3. O processo de elaboração deste trabalho incluiu: (a) uma fase preliminar de definição dos
objectivos do plano e de estudo dos trabalhos e da literatura existentes; (b) uma fase de
levantamento exaustivo e análise de dados estatísticos sobre a rede educacional provincial; (c) a
organização de dois seminários provinciais, para a consolidação do processo de planeamento
participativo e para consulta com os operadores da rede ao nível da DPE e dos distritos; e,
finalmente (d) a elaboração do documento do Mapeamento da Rede Escolar de Cabo Delgado e
Priorização de Investimento nas Escolas

4. Os critérios aplicados na identificação, selecção e priorização das intervenções de investimento são


os utilizados pelo Plano Estratégico da Educação nacional. Utilizou-se o critério da equidade de
acesso geográfico e a eficiência do investimento, da qualidade, nas suas componentes de
reabilitação das estruturas existentes e da melhoria dos serviços de apoio; da sustentabilidade do
investimento proposto, conforme a disponibilidade de recursos humanos, de materiais escolares e
de recursos financeiros para o funcionamento. No exercício de planificação do investimento estes
critérios foram ponderados para se alcançar a priorização das intervenções propostas para o
próximo quinquénio.
5. A análise da situação da rede, efectuada durante a segunda e terceira fase do processo evidenciou os
desequilíbrios existentes e a necessidade de um investimento no reforço do património existente,
quer em recursos humanos quer em infra-estruturas.
6. No primeiro quinquénio do PESE, ênfase particular é para: (a) reabilitação e expansão das escolas
EP1; (b) melhoria da qualidade das escolas, através da substituição de salas em precárias condições
de funcionamento (c) promoção de escolas EP1 para EPC; (d) reavaliação dos horários de
professores (e) melhoria dos serviços prestados pelos sistemas de apoio de formação de
professores, de manutenção e logística. Entre as intervenções de maior vulto do primeiro
quinquénio, destacam-se: (i) a reabilitação do centro de formação de professores; (ii) a construção
de uma nova sede para a DPE e de um centro de formação de professores na zona norte da
província (iii) a construção de 18 escolas EP1 e 11 ESG e (iv) a substituição de 204 salas em
material precário. Considerou-se ainda outras intervenções cujos vultos não são financeiramente
significativos: a) promoção de 20 escolas para EPC; b) ampliação de 32 escolas; c) electricidade em
todas as escolas d) estudos de impacto, quer de recursos humanos como sociais, da utilização das
salas de aula em 3 turnos.
7. No segundo quinquénio de implementação do PIPS, o pacote de investimento inclui mais
intervenções a fim de conseguir-se dotar a rede educacional com condições de atender a população

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em idade escolar. Este pacote deverá ser reavaliado durante o último ano da implementação do
primeiro ciclo de investimento, com vista a incluir as novas necessidades que possam surgir até
2009 e actualizar os custos das intervenções. As vertentes essenciais deste segundo ciclo de
investimento serão: (i) aumento do número de escolas ESG, quer pela construção de novas escolas
ou pela ampliação das escolas existentes totalizando-se 165 ESG (ii) casas para trabalhadores da
Educação; (iii) não existência de salas de aula em materiais precários e (iv) ampliação de 115 salas de
aula.
8. A análise feita das implicações nos recursos correntes das intervenções do primeiro quinquénio do
PESE sugere que, até 2009 o investimento proposto terá de ser sustentável a médio e longo prazo
em termos de recursos humanos, material escolar e recursos financeiros para gastos correntes.
Estimou-se que as necessidades adicionais de quadros básicos e elementares serão amplamente
cobertas pela capacidade de formação da província, enquanto que as de médios e superiores serão
parcialmente cobertas.
9. Foram identificados alguns constrangimentos que terão que ser resolvidos com vista a assegurar a
realização do programa do PESE. Em relação à execução dos fundos de investimento da província,
acredita-se que a DPE terá capacidade de executar os projectos previstos, com o apoio central do
MEC para as grandes obras, e com alguma garantia de continuidade da assistência técnica para a
área dos investimentos ao nível da província. Os custos médios poderiam também ser reduzidos
através da contratação de empresas com maior capacidade para realizar grandes lotes de obras,
juntando-se, numa base geográfica, as várias intervenções previstas pelo PESE. Em relação à
manutenção das infra-estruturas e equipamento, para não comprometer os resultados alcançados
através do PESE, terá que se reforçar este sector, através de investimentos de vulto no pessoal e
nos meios de manutenção, ou explorar soluções alternativas de subcontratação de serviços junto ao
sector privado.
10. Prevê-se também a necessidade de um monitoramento deste plano, como forma de capacitar a
DPE a auto-gerir seus planeamentos e suas necessidades.

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1. INTRODUÇÃO E CONTEXTO

Cabo Delgado situa-se no extremo Nordeste do país, tendo o Oceano Índico ao longo de toda a costa
oriental. A Norte tem como limite a Tanzânia, a Oeste a província do Niassa e a Sul a província de
Nampula.
A província está dividida em 17 distritos, sendo a cidade de Pemba um dos distritos. De acordo com a
extrapolação populacional·, em 2004 a província contava com 1.621.571 habitantes, sendo 17% da
população urbana e 83% rural.
A província tem dois grupos étnicos – Macuas e Macondes. Os Macondes estão mais localizados a
Norte da província representando aproximadamente 22% e os Macuas estão localizados a Sul
representando linguisticamente 66%. Apesar de 22% da população conhecer o Português este é falado
habitualmente apenas por 2% da população. De acordo com o recenseamento da população de 1997,
55% dos habitantes seguem a religião muçulmana, 20 % a religião católica e 12% outras religiões.

1.1 Economia
Província tipicamente agrícola, de subsistência e com uso de baixa tecnologia, ressaltando-se a
produção de mandioca, milho, feijão e amendoim. As terras da província são férteis e geralmente existe
um excedente na produção agrícola, principalmente quanto ao milho e ao amendoim. A mandioca por
vezes apresenta problemas de podridão radicular. As principais culturas de rendimento da província são
o algodão e o caju (cerca de 9 % da produção nacional).
Cerca de 40 % da província está coberta de matas e florestas tendo Cabo Delgado uma extensa reserva
de árvores de madeiras valiosas. Esta madeira por ser exportada em toros traz pouco benefício para a
província. A pesca é explorada artesanalmente ao longo de toda a costa da província, sendo um
importante produto de consumo alimentar familiar.
De acordo com o último relatório de Desenvolvimento Humano (UNDP, 2000) a economia de Cabo
Delgado contribuiu com 4,9% do PIB Nacional, uma das menores proporções. O PIB da província foi
de US$ 98 em contraste com o PIB nacional de US$ 171.

1.2 Pobreza e Bem-estar


A má nutrição é a principal causa de morte em crianças até aos 5 anos de idade. O nível de má nutrição
crónica é muito alto, segundo a classificação da WHO1, representando 41% de má nutrição crónica no
país (peso por altura) reportado em crianças de 6 a 59 meses de idade, em 2003. A má nutrição é maior
nas zonas rurais que nas cidades, com 46% e 29% respectivamente, e maior na zona norte do país, com
Cabo Delgado apresentando uma taxa de 56%.

1
WHO (Word Health Organization) apresenta a seguinte classificação para medir a severidade da má nutrição (peso por altura): baixa (abaixo de
20%), media (entre 20 a 30 %), alta (entre 30 a 40 %) e muito alta (acima de 40%).

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As taxas de nutrição de crianças estão bastante correlacionadas com o nível de educação das mães. As
crianças cujas mães não tem educação tem três vezes mais condições de serem sub nutridas que as de
mães com ensino secundário (47% no primeiro caso e 15% no segundo caso)2.
Na abordagem do Desenvolvimento Humano, tal como é apresentada pela UNDP, mostra que Cabo
Delgado detém a segunda pior situação em termos de pobreza absoluta, na comparação nacional. A
pobreza foi considerada como: baixo peso das crianças, consumo, analfabetismo nos adultos, acesso à
água potável e aos serviços de saúde.
Em 2002 Cabo Delgado apresentava 60 % da população na pobreza absoluta (em termos nacionais a
percentagem média é de 50%). Esta percentagem representaria em 2005, uma população de
aproximadamente 970 mil na província.
O mapa 1 ressalta as taxas de pobreza absoluta na província, com as cores mais claras representando a
percentagem de 15 a 47% e as mais escuras de 85 a 93%. A zona norte da província detém os piores
índices de pobreza.
O Governo tem escolhido a luta contra a pobreza
como uma das suas prioridades, PARPA. Dentro
desta política, o sector da educação tem um papel
fundamental e as intervenções na área das infra-
estruturas educacionais devem certamente
significar um impacto na redução da pobreza.
O plano estratégico da educação identifica a
educação básica e o analfabetismo como um dos
maiores objectivos do sistema educacional.
Desenvolvendo o seu plano estratégico, o MEC,
reconfirma as prioridades identificadas na política
nacional da educação, com especial ênfase para a
importância do incremento das oportunidades do
ensino básico para todas as crianças
Moçambicanas. Adicionais objectivos incluem o
melhoramento da qualidade do ensino básico e
um sistema descentralizado de responsabilidades
co-geridas entre todos os que trabalham no e para
o sistema educacional.
Genericamente falando, o objectivo último do
plano estratégico da educação é o provimento de
um sistema educacional que permita que todos os Mapa 1
cidadãos Moçambicanos tenham acesso aos
conhecimentos técnicos que permitirá a
construção de um modo de vida sustentável, um
crescimento acelerado da economia e um reforço institucional da sociedade.
O plano estratégico da educação tem sido desenvolvido a partir de um constante processo consultivo e
participativo. O trabalho de mapeamento da rede escolar, que ora se apresenta, segue as directrizes e
estratégias do plano educacional do governo, priorizando a educação básica, a expansão estratégica e o

2
UNICEF, Update on the Situation of Children and Women in Mozambique, Outubro 2004

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melhoramento da qualidade do ensino primário. De acordo com o plano educacional do MEC existem
3 problemas fundamentais no sistema educacional:
Acesso limitado à educação
Qualidade da educação e
Desenvolvimento da capacidade institucional

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2. OBJECTIVOS E METODOLOGIA

O objectivo principal deste trabalho é o mapeamento da rede escolar da província de Cabo Delgado
como forma de facilitar e melhorar o exercício de planificação. Com o mapeamento e análises da rede
de escolas a consultoria pretende apoiar o trabalho desenvolvido pela Direcção de Planificação do
MEC. Este apoio contribuirá para a implementação do Plano Estratégico do Sector como modelo de
colaboração, descentralização, transparência e acesso público às informações existentes.
Além do objectivo principal, o mapeamento da rede escolar tem outros objectivos:
− Consolidar a informação da rede escolar;
− Desenvolver ferramentas de planificação e planos de investimentos com ênfase na participação
dos níveis Distritais e provinciais;
− Facilitar a identificação dos desequilíbrios existentes na rede escolar da província;
− Contribuir para o desenvolvimento da qualidade dos planos de investimento da rede escolar de
Cabo Delgado.

2.1 Metodologia
A elaboração do exercício de planificação com mapas temáticos foi o resultado de um esforço realizado
pela Direcção de Planificação do MEC, a DPE e as DDE-SP de Cabo Delgado, com a colaboração de
peritos da área. Este trabalho foi desenvolvido durante os meses de Março, Abril e Maio de 2005.
A abordagem adoptada na elaboração da priorização dos investimentos nas escolas utilizou
informações do INE, levantamentos efectuados anteriormente (perfil distrital da educação), bases de
dados do MEC e da DPE, mais precisamente a carta escolar e o levantamento 3 de Março. As informações
datam de 2004, na medida em que a DPE preparava-se para incluir os dados de 2005. Estas
informações técnicas foram aliadas às consultas efectuadas, envolvendo responsáveis distritais,
provinciais, nacionais e outros actores não governamentais.
A elaboração do plano foi desenhada em cinco fases:
a) Preparação e definição dos objectivos. Nesta fase preliminar definiram-se os objectivos e a
metodologia do trabalho a realizar, em consenso com os responsáveis provinciais. Como
resultado desta fase desenvolveram-se os termos de referência.
b) Um primeiro seminário provincial com a participação de todos os técnicos de planificação
dos distritos. O objectivo era o de apresentar o trabalho a ser realizado e colher subsídios para o
desenvolvimento do mapeamento, como uma ferramenta da planificação. Neste primeiro
encontro foram verificadas a localização, nome, tipo e quantidade de escolas.
c) Análise dos dados obtidos. Com a informação estatística disponível, do INE, do MEC e da
DPE, procedeu-se à elaboração do diagnóstico de situação da província levando-se em
consideração os critérios e indicadores predefinidos. Nesta fase foram criados os primeiros
mapas temáticos, visando desenvolver uma primeira análise da situação da rede escolar da
província.
d) O segundo seminário provincial. A realização do seminário de planificação cobriu a
necessidade de alargar o processo de elaboração do plano aos gestores da rede escolar,

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nomeadamente, Directores Distritais de Educação e Técnicos de Planificação. Foram estudados


e analisados os mapas temáticos, realizando-se na altura discussões e análises por regiões No
seminário também participaram activamente elementos da Direcção de Planificação do MEC.
Neste seminário elaborou-se uma proposta de priorização por zonas, de intervenções na rede
escolar. Foi convidado um elemento da Direcção Provincial de Educação da Zambézia para
participar das discussões e contribuir com a troca informações sobre a realidade de cada
província.
e) Redacção do documento final. Com o material recolhido nos levantamentos e as decisões
tomadas no seminário, elaborou-se o presente relatório, o qual vem detalhar o plano de
investimento da província.

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3. OS CRITÉRIOS DE IDENTIFICAÇÃO E SELECÇÃO DAS INTERVENÇÕES DE


INVESTIMENTO

As prioridades na área de investimentos devem ser definidas com base nos conceitos e na
conceptualização dos critérios utilizados. É fundamental conhecer-se os objectivos dos serviços da
educação e a forma como estão organizados na planificação da rede escolar. Os documentos
estratégicos definem quais são os princípios que devem orientar as acções no sector da educação, os
quais por sua vez devem ser considerados como critérios básicos na organização do sector.
Assim, o Plano Estratégico do Sector Educação identifica três problemas na educação em
Moçambique: o acesso limitado à educação, a qualidade do ensino e o desenvolvimento da capacitação
institucional. Este estudo parte do Plano Estratégico e propõe os objectivos de:
Equidade na distribuição dos recursos expandindo a educação;
A qualidade do ensino e;
Sustentabilidade do sistema através da descentralização, do aumento da capacidade institucional
e da informação pública.
A seguir, descrevem-se os critérios utilizados tanto na elaboração do diagnóstico da província de Cabo
Delgado como na discussão sobre a definição das intervenções prioritárias.

3.1 Equidade
O critério de equidade foi usado em três das suas abrangências: (a) equidade no acesso geográfico, (b)
equidade na distribuição dos recursos e (c) equidade no género.
(a) No primeiro significado, o indicador utilizado é a distância entre os núcleos populacionais e a
escola EP1 mais próxima (raios de acção). Foram considerados 3 tamanhos diferentes de raios
de acção – até 1 km, que seria o ideal, acessível a percorrer a pé; de 1 a 3 km, considerado
razoável percorrer a pé, e de 3 a 5 km considerado como distância máxima (apresentando
algumas dificuldades de acesso).
Note-se que a distância a percorrer até uma escola deve ter em conta não só a sua posição
geográfica mas também a disponibilidade de transporte e vias de comunicação adequadas.

Como indicador considerado como básico para todos os critérios, analisou-se os dados populacionais,
tanto em números absolutos como em densidade (habitantes por Km quadrado), obtidos através das
projecções do INE para 2004.
Também foi analisada como distância entre uma EP1 e EP2, a relação entre quantidade de EP1
sobre a quantidade de EP2. Em Cabo Delgado existem 812 escolas, conforme tabela 1:

Tabela 1 – Distribuição de escolas

Distrito EP1 EP2 EPC ESG Outras Total


Ancuabe 38 2 12 1 53
Balama 52 7 1 60
Chiúre 78 11 1 90

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Cidade de Pemba 5 16 3 3 27
Ibo 6 2 8
Macomia 38 8 1 47
Mecúfi 14 3 17
Meluco 20 5 25
Mocímboa da Praia 37 1 8 46
Montepuez 79 27 1 107
Mueda 42 1 11 54
Muidumbe 18 8 2 28
Namuno 106 1 9 1 117
Nangade 29 1 14 1 45
Palma 21 4 25
Pemba 21 1 5 2 29
Quissanga 29 5 34
Total 633 7 155 14 3 812

Existem dois indicadores que Tabela 2 –Taxa líquida de alunos


devem ser levados em 45000
consideração quanto ao acesso 40000
de alunos: a quantidade de 35000
alunos nas EP1 e a taxa líquida 30000
de admissão. A taxa líquida é 25000
considerada como a quantidade 20000
de crianças nas escolas em idade 15000
correcta (entre 6 a 10 anos) 10000
sendo um dado de equidade. 5000
Verifica-se que a maioria das 0
Montepuez
Mecufi
Ancuabe

Meluco

Mueda
Chiure

Ibo

Macomia

Mocimboa da

Muidumbe
Balama

CidadePemba

Namuno

Palma

Pemba

Quissanga
informações, obtidas na carta
Praia

escolar e no 3 de Março,
demonstram que existe uma
grande discrepância na alunos
quantidade de alunos nas EP1 e taxa liquida
aqueles que apresentam a idade
correspondente à classe. A razão entre os alunos existentes e aqueles que estão nas idades devidas
informa-nos do fosso existente em alguns distritos, demonstrando que a grande maioria dos alunos
ingressa no sistema educacional com idades mais avançadas (tabela 2).
Esta relação dá-nos uma ideia das infra-estruturas existentes e da ineficiência em atingir o objectivo de
acesso à escola para todas as crianças em idade da EP1.
No plano do sector do MEC está o desaparecimento das EP1, isto é a promoção de todas as EP1 para
EPC, sendo necessário um tempo para que tal aconteça. A relação quantidade de EP1 por cada EP2
por distrito (tabela 1) mostra-nos os locais onde a situação é mais grave. Da mesma maneira, é um
objectivo a longo prazo que todos os alunos possam continuar com a escola secundária no seu meio
ambiente. Existe um plano de ter uma escola secundária em cada distrito. Este é um indicador de
equidade e da qualidade de ensino.
Existem ainda algumas EP1, que não apresentam todas as classes. Os seguintes distritos contam com
EP1 até à 3a classe: Ancuabe – 2 EP1; Chiure, Moeda, Nangade, Pemba, Quissanga e Palma cada

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distrito com 1 EP1 até à 3a classe; Mocimboa da Praia e Macomia com 4 EP1 até à 3a classe; Namuno
com 7 EP1 incompletas e Montepuez com 15 EP1 até à 3a classe. Existem portanto 38 EP1
incompletas, ou seja 6% das EP1 existentes na província, o que demonstra os progressos feitos até ao
momento.
(b) A equidade na distribuição dos recursos trata da distribuição das salas de aulas e dos recursos
humanos. No primeiro caso define-se como o acesso das populações a uma determinada
formação, EPs, ESs independentemente do lugar onde residem. No segundo caso, trata-se da
distribuição dos professores formados e não formados.
A relação de alunos por turma dá uma ideia quanto ao uso e aproveitamento do espaço físico. As salas
de aulas são construídas numa relação de 40 alunos por sala. Portanto, um número maior de alunos por
sala implica um desequilíbrio, ou seja a necessidade de intervenção que tanto pode ser em aumentar o
número de salas ou em aumentar o número de turnos. Este pode ser um indicador de equidade na
distribuição dos recursos e também de qualidade já que uma sala superlotada e/ou uma relação maior
aluno/professor, tem um impacto negativo na qualidade das aulas. Em Cabo Delgado a relação alunos
por sala nas EP1 é a apresentada na tabela 3:
Tabela 3 – alunos por sala

alunos/classe
120
100
80
60
40
20
0
Montepuez
Ancuabe

Meluco

Mueda
Chiure

Ibo

Macomia

Mecufi

Mocimboa da

Muidumbe
Balama

CidadePemba

Namuno

Namgade

Palma

Pemba

Quissanga
Praia

A distribuição de professores formados e não formados na província não é homogénea. Em todos


os distritos existem professores formados e não formados, com o predomínio de professores
formados. Na província existem 4841 professores, distribuídos conforme apresentado na tabela 4.
Verifica-se que existe um predomínio de professores do sexo masculino (87%) e que a distribuição
do género na percentagem de professores, não apresenta diferenciações, quer os professores
tenham formação ou não.
Tabela 4 – Professores em Cabo Delgado
Total professores 4481
Prof. masculino 3906 87.2% % Prof. fem não formados 280 13.2%
Prof. feminino 575 12.8% % Prof. masc não formados 1839 86.8%
Prof. não formados 2119 47.3% % Prof. fem formados 295 12.5%
Prof. formados 2362 52.7% % Prof. masc formados 2067 87.5%

(c) A equidade do género foi analisada sobre o ponto de vista das alunas estudantes em relação aos
alunos e das professoras (mulheres) em relação aos professores (homens).

- 16 -
CABO DELGADO

O género é diferenciado tanto na relação de alunos como de professores. A quantidade de alunas na


EP1 (até à 7a classe) é de 43,2% do total de alunos; a percentagem de alunas na idade certa é de 47%.
Considerando-se o total de alunos na Província a percentagem de alunas desce a 42,6% do total de
alunos. Em alguns distritos essa proporção é menor, o que será evidenciado nos mapas temáticos.
Quanto aos professores é bastante diferenciada a percentagem de professoras (mulheres) em relação
aos professores (aproximadamente 13% para o sexo feminino), praticamente distribuída em toda a
província.·
Tabela 5 – Desistência de alunas por classe
As desistências das alunas é de 42% para 9000
alunas e em alunos 58%3. Verifica-se porém 8000
que as maiores taxas de desistência ocorrem 7000
nas duas primeiras classes (tabela 5). Os 6000
percentuais de desistência são 5000
a
respectivamente 33,4% para a 1 classe; 23,7 4000

% para a 2a classe; 14,5% para a 3a classe; 3000

11,7 % para a 4a classe e 16,5 % para a 5a 2000

classe. 1000
0
Cabo Delgado ocupa a segunda pior 1 classe 2 classe 3 classe 4 classe 5 classe

percentagem no país (sendo as piores Sofala


e Niassa) com 50 % das meninas entre 15 e 19 anos, que já são mães ou estão grávidas do primeiro
filho4.
A aplicação do critério de equidade deveria direccionar as acções para a expansão da rede escolar
visando o melhoramento do acesso geográfico das populações. Deveria também direccionar acções no
sentido de aumentar os recursos para as zonas actualmente mais desfavorecidas em termos de
formação de professores, beneficiando a integração do sexo feminino na estrutura da DPE, DDEs, na
ocupação de cargos de professores e por último e não menos importante, o acesso da rapariga à
formação, atacando os supostos factores que determinam a não assistência e/ou desistência das alunas.

3.2 Eficiência
Da mesma maneira que a equidade, o critério da eficiência foi usado em duas perspectivas diferentes:
(a) Eficiência na utilização dos recursos fixos e
(b) eficiência no sentido de rentabilidade dos investimentos.
De um lado, a primeira perspectiva analisa o grau de utilização dos recursos fixos disponíveis. Um
indicador utilizado habitualmente é a relação alunos por sala de aulas, no sentido de apresentar o grau
de utilização das instalações existentes. Aproximadamente 250.000 alunos frequentam aulas em 5.000
classes em Cabo Delgado, o que representa uma média simples de uma relação de 50 alunos por classe,
sendo que esta média está distribuída diferentemente nos distritos.
Por outro lado, a rentabilidade no investimento procura que os recursos investidos sejam utilizados
pelo maior número de pessoas possível. Por exemplo, a colocação de uma nova escola numa zona
densamente povoada é mais rentável, no sentido de que maior número de pessoas vão poder utilizar os
serviços oferecidos, relativamente a uma escola situada numa zona com pouca densidade populacional.

3
A percentagem de alunas é de 43 % do total de estudantes.
4
MISAU, 2004

- 17 -
CABO DELGADO

Considerando apenas este critério as intervenções deveriam focalizar-se nas áreas com maior densidade
populacional onde os recursos serão potencialmente mais usados. Contudo, note-se que o maior
consumo de serviços depende também de factores não ligados às estruturas físicas, como são por
exemplo, a produtividade dos professores ou a confiança da população no sistema educativo.
Do ponto de vista do plano operativo, onde se definem os investimentos a fazer para modificar a
situação existente, deve-se levar em consideração o critério da eficiência.

3.3 Qualidade
A qualidade refere-se ao ensino e aos materiais de construção das salas de aula. Para se medir a
qualidade do ensino, levou-se em consideração a percentagem de professores sem formação (47%) e a
qualidade da formação dos professores. Mas a formação depende da qualidade e agrupou-se a formação
dos professores em dois grandes grupos: básica ou mínima e suficiente. Foi considerado com formação
básica aqueles que cursaram 6a classe +1 ou +2 ou +3; 8a classe +2; 9a classe + 2 ou +3 e CFPP
5a/6a/7a/9a. Todas as outras qualificações foram consideradas como suficientes (Magistério Primário,
CFPP + 3; bacharelato, licenciado e INEF).
Dos professores com formação, ou seja 53 % do total de professores, aqueles que contam com uma
formação mínima representam 86% e os com formação suficiente representam 14% dos professores
formados. Também foi levado em consideração, que os professores deveriam ter um turno de trabalho
para uma maior qualidade do ensino (preparação de aulas e pesquisa) e em Cabo Delgado 56% dos
professores têm 1 turno de trabalho.

A quantidade média de alunos por professores (formados e não formados) é de 63 alunos.


A qualidade dos espaços (sala de aulas) também influencia na qualidade do ensino, tanto pelo material
de construção como pela capacidade de atendimento.
A qualidade do material de construção das salas de aula foi dividido em:
Paredes de tijolos e cimento; paredes de pau a pique ou maticado; paredes mistas (tijolos e pau a pique)
e outros tipos (a céu aberto, cartão, em baixo de árvore). A província conta com 20% de salas no
primeiro caso, 45 % no segundo caso, 31% com paredes mistas e 3% com outros tipos.
Neste critério deve analisar-se também a qualidade dos livros escolares existentes em bibliotecas. A
quantidade de livros existentes é bastante baixa (557 livros no total com 531 em estado bom ou
razoável).

3.4 Sustentabilidade do investimento


O facto de construir, ampliar ou recuperar uma infra-estrutura está associado a uma necessidade na
manutenção futura, colocação de pessoal, material escolar, equipamento e dotação de recursos
financeiros correntes para que a escola possa funcionar. É claro, portanto, que a necessidade de
recursos adicionais deverá ser considerada na tomada de decisões sobre as intervenções a realizar.
Assim, na hora de planificar os investimentos é preciso ter em conta: (a) número futuro de professores
a serem integrados na província, (b) a capacidade de aumentar o fornecimento de material escolar, (c) a
disponibilidade de recursos financeiros para sustentar o funcionamento corrente das novas escolas e (d)
dentro dos recursos correntes, disponibilidade futuras de verbas para a manutenção das infra-estruturas
e dos equipamentos.

- 18 -
CABO DELGADO

Note-se que, o tipo de intervenção afecta os recursos correntes de maneira diferente, no sentido que
uma reabilitação, uma refuncionalização, uma substituição ou uma ampliação, geralmente representam
um impacto menor que a construção de uma nova escola.
Assim, este critério deve ser visto como uma restrição ao modelo, no sentido que as decisões a serem
tomadas devem contar com as projecções futuras de todas as componentes dos recursos correntes.
Neste sentido é necessário conhecer o número de professores que vão ser formados nos próximos
anos, os tempos médios de colocação dos professores, a necessidade de habitação de professores, os
montantes indicativos de financiamento de material escolar para o país, entre outras informações.

3.5 Outros critérios utilizados


3.5.1 POBREZA
A pobreza é um indicador importante na tomada de decisões. Os índices de má nutrição nas crianças
estão bastante relacionados com o grau de conhecimento das mães, ou seja o grau de analfabetismo.5
Considerando-se os óbitos em crianças até 1 ano de idade em cada mil nascidos Cabo Delgado,
juntamente com Nampula, ocupam as piores posições no país, pois contam com 160 mortes em cada
mil nascidos. Cabo Delgado apresenta um dos mais elevados índices de má nutrição do país (60%). A
província detém o pior índice de nutrição em crianças, com 35% das crianças até 5 anos abaixo do
peso. Em 2004 a média do país foi de 9,7 e a província apresentou 13,5. Segundo informações do
MISAU o baixo peso ao nascer, em Cabo Delgado durante o ano de 2004, ficou distribuído conforme
apresentado na tabela 6. São consideradas normais as taxas abaixo de 3; de 3 a 10 ligeiro; de 10 a 16
moderada e de 16 a 30 alarme a acima de 30 grave:

Tabela 6 – Baixo peso ao nascer (2004)


Distritos Jan-Mar Abr-Jun Jul-Set Out-Dez
ANCUABE 10.2 14.9 14.3 10.9
BALAMA 12.3 22.2 7.7 11.2
CHIURE 16.5 18.2 13.5 12.6
CIDADE_DE_PEMBA 11.6 12.5 12.2 13.5
IBO 6.3 10.2 10.6 9.5
MACOMIA 18.8 17.7 8.2 13.5
NANGADE 11.3 11 13.4 17.3
MECUFI 13.6 15.5 14 13
MELUCO 17.2 14 12.3 16
MOCIMBOA_DA_PRAIA 17.8 14.4 18.1 19.2
MONTEPUEZ 15 14.1 14.2 8.3
MUEDA 9.8 7.8 6.8 7
MUIDUMBE 11.2 10.2 11.4 12.8
NAMUNO 15.5 10.9 7.6 8.3
PALMA 15.6 17.6 16.4 11
PEMBA 28.3 31.9 25.7 14.8
QUISSANGA 7.9 17.7 14.3 11.7

5
MISAU- Nutrição, Fev 2005

- 19 -
CABO DELGADO

3.5.2. HIV/SIDA
A província de Cabo Delgado tem o menor índice de SIDA do país. O factor HIV/SIDA deve ser tido
em conta de uma maneira preventiva, sobretudo nos conteúdos do ensino6. Na província de Cabo
Delgado vai ser iniciado um novo projecto (PISCAD) onde a educação para adultos, principalmente às
mães, é relacionada com esta doença.

3.5.3. TURISMO
A província de Cabo Delgado tem crescido bastante no que diz respeito à indústria do turismo. Cabo
Delgado até 2002 era considerado um das piores províncias em termos de turismo. Tal não se verifica
nos dias de hoje, depois da construção de um hotel de luxo em Pemba e de um resort numa das ilhas
do arquipélago das Quirimbas.

3.5.4 ANALFABETISMO
As informações de quantidade de analfabetos na província datam de 2003. Em Cabo Delgado a taxa
média de analfabetismo é de 70 %, verificando-se que os distritos de Ibo, Montepuez, Pemba-Metiuge
e Muidumbe estão abaixo da média provincial. A cidade de Pemba tem o menor índice de
analfabetismo da província (38%).7

6
MISAU, projecções oficiais sobre HIV/SIDA, agosto 2004
7
Perfil distrital de Cabo Delgado, ADPESE, 2004

- 20 -
CABO DELGADO

3.6 Ponderação dos critérios


O conflito entre os diferentes critérios obriga a ponderar o peso de cada um deles na tomada de
decisões. Implicitamente para a tomada de decisões tem que ser definido o peso de cada indicador,
através da análise da situação de cada critério e a consequente elaboração de uma lista hierarquizada das
intervenções a realizar. Em todas as análises considerou-se sempre os critérios sociais e demográficos,
mesmo quando se estavam julgando critérios de qualidade e ou eficiência do investimento.

A ponderação dos critérios foi a matéria principal do segundo seminário provincial. Além dos
indicadores existem outras situações particulares que devem ser analisadas pelos responsáveis dos
distritos, que conhecem em profundidade os detalhes de cada situações.

- 21 -
CABO DELGADO

4. ANÁLISE DA REDE ESCOLAR DE CABO DELGADO

Neste capítulo analisa-se a situação da rede escolar da província de Cabo Delgado quanto às infra-
estruturas e à eficácia da cobertura da população, com vista a entender a definição das intervenções a
realizar. Foram elaborados mapas temáticos baseados na informação existente (MEC) e nos indicadores
escolhidos (no primeiro seminário e na DP).
Os mapas temáticos devem ser vistos como uma ferramenta que facilita a leitura das inequidades e
desequilíbrios e onde vários temas podem ser visualizados simultaneamente. A leitura dos mapas
fornece uma ideia global que orienta as decisões a serem tomadas. Os mapas temáticos foram
apresentados nos seminários e analisados por todos os directores e técnicos distritais de planificação,
tendo sido escolhidos, por eles, como uma ferramenta de apoio ao processo de planificação. Os mapas
temáticos foram desenvolvidos a partir de informações do MEC (3 de Março e Carta Escolar),
informações da DPE e das DDE, INE, MISAU, MPD, UNDP e Perfis Distritais de Cabo Delgado.
A fim de facilitar a análise de cada indicador optou-se por dividir a
província em zonas. Inicialmente a ideia foi dividir a província em 4
zonas, a partir da homogeneidade na distribuição populacional. No
primeiro seminário de planificação, os intervenientes solicitaram que a
província fosse analisada de acordo com a divisão utilizada pela DPE.
As zonas, propostas pela Direcção de Planificação de Educação da
província, compreendem os seguintes distritos (mapa 2):

− Zona Norte: distritos de Palma, Nangade, Mocimboa da Praia,


Muidumbe e Mueda

− Zona Centro: distritos de Macomia, Quissanga, Ibo, Meluco,


Ancuabe, Pemba-Metuge, Mecufi e Cidade de Pemba. Mapa 2

− Zona Sul: distritos de Montepuez, Chiure, Namuno e Balama

Desenvolveram-se mapas temáticos por província e por zonas. Os mapas por zonas detalham os
indicadores, contudo, para não se perder o sentido da relação na província, foi desenvolvido um
pequeno mapa (presente no canto esquerdo), favorecendo a visualização do detalhe em comparação à
totalidade. Cada indicador está mapeado em todas as zonas.

4.1 A rede escolar existente


As escolas, para a análise, foram reclassificadas de acordo com as actividades que realizam. Assim Cabo
Delgado tem no total 812 escolas sendo 633 EP1, 7 EP2, 155 EPC, 14 ESG e outras 3 escolas técnicas
e privadas (tabela 1).
Algumas destas escolas estão situadas no mesmo sítio, nomeadamente a EPC/ESG de Metuge sede e a
EP2/ESG de Nangade, que foram contadas como escolas separadas segundo o tipo.
A rede escolar de Cabo Delgado é composta essencialmente por escolas primárias, EP1. De cada 100
escolas 98 são primárias e só 2 são secundárias. Das 98 escolas sobre 100 que são primárias, 19 são
completas e 79 são EP1. Apenas 38 EP1 têm até à 3a classe.

- 22 -
CABO DELGADO

Algumas escolas denominadas outras, qual sejam EAO (artes e ofícios) e EBI (básica industrial) estão
localizadas na região Sul; a ADPP, CFP, (formação de professores) e EIC (industrial e comercial) estão
localizadas na região Central.
Para melhor visualização de algumas escolas, EP1 e ESG, desenvolveram-se os seguintes mapas
temáticos por província:
Escolas Primárias até ao 3o classe (mapa
3) – Desenvolvido a fim de ressaltar a
relação de alunos por posto
administrativo e a localização e
quantidade de EP1 incompletas
(assinaladas com bolas vermelhas,
variando o tamanho conforme o número
de escolas por posto administrativo).
Escolas secundárias – mapa 4 –
Objectivando mostrar por distrito, a
relação entre ESG e EP1, EP2 e EPC.
Verifica-se que existem distritos onde
tem de 60 a 89 EP1 e EPC (ou EP2 e
EPC) para uma ESG (cor azul escura),
Mapa 3 Mapa 4 enquanto que em outros distritos existem
7 EP1 e EPC (ou EP2 e EPC) para 1
ESG (cor bege).
As escolas neste mapa temático fornecem uma ideia da distribuição espacial na província, estando
demonstradas sem definição do tipo.
Para se analisar qualquer referência a escolas é necessário saber-se da distribuição da população e da
densidade habitacional na província. A tabela 7 e o mapa 5 (população por distrito em 2004)
representam esta relação:

- 23 -
CABO DELGADO

Tabela 7 – População em Cabo Delgado - 2004

Distrito Homens Mulheres %


Cidade de Pemba 64000 67981 8.1
Ancuabe 60758 64537 7.7
Balama 61495 65320 7.8
Chiure 118985 126386 15.1
Ibo 3933 4178 0.5
Macomia 39564 42025 5.0
Mecufi 17888 19000 2.3
Meluco 12846 13645 1.6
Mocimboa da Praia 41827 44429 5.3
Montepuez 84183 89419 10.7
Mueda 54100 57465 6.9
Muidumbe 34923 37095 4.4
Namuno 86505 91885 11.0
Mapa 5 Nangade 30741 32653 3.9
Palma 26980 28658 3.4
Pemba 28312 30074 3.6
Quissanga 19291 20490 2.5
4.2 O acesso à rede escolar
A cobertura da rede escolar será analisada, em ordem de prioridades, quanto ao acesso às EP1, EP2 e
ESG.

4.2 1 Capacidade das escolas


O número de escolas pode dar lugar a enganos se não se prestar atenção para a capacidade das mesmas.
Aproximadamente 250.000 alunos frequentam aulas em 5.000 turmas em Cabo Delgado, o que
representa uma média simples de uma relação de 50 alunos por turma, 10 alunos a mais que a
capacidade das salas de aulas tipo (40 alunos). O distrito de Meluco tem menos que 40 alunos por
turma enquanto que 6 distritos ultrapassam os 50 alunos por turma (Cidade de Pemba, Pemba-Metuge,
Palma, Mecúfi, Chiúre e Nangade).
O número de salas e a relação com os alunos indicam o aproveitamento da sala. Considerando que
como media uma sala devia ser utilizada duas vezes por dia, os alunos por sala deviam rondar 80 para
que a sala não apresentasse sinais de sub ou sobre utilização. Em Cabo Delgado existem
aproximadamente 3.150 salas, e a relação alunos por sala é em média de 76, representando uma boa
situação. Alguns distritos (Cidade de Pemba, Muidumbe, Mecúfi, Ibo e Pemba-Metuge) têm mais de 90
alunos por sala enquanto que outros distritos têm menos de 70 alunos por sala (Nangade, Namuno,
Montepuez, Ancuabe e Meluco).
Para explicitar este indicador desenvolveram-se dois mapas temáticos diferentes de alunos por salas de
aula. Um dos mapas trata-se de uma transparência que permite acoplar este indicador com outros
indicadores, possibilitando uma maior complexidade de análises, mapa 6.

No outro mapa, 7, propõe-se a sobreposição de dois indicadores: i) a média de alunos por sala como
fundo (a cor mais escura sendo a pior condição) e ii) quantidade de alunos por escola, como graduação
do símbolo.

- 24 -
CABO DELGADO

Na combinação destes indicadores pode-se observar a inequidade, onde existem mais alunos a estudar:

Mapa 6 Mapa 7

4.2.2 Acesso à EP1


O acesso a EP1 significa a facilidade de chegar ao primeiro nível escolar e está determinado
essencialmente pela existência da EP1 a uma distância razoável que possa ser percorrida diariamente
pelas crianças. Desse modo, a distribuição geográfica das EP1 e EPC em relação à localização da
população é bastante relevante.
Assim, as escolas têm um raio de acção definido. Este raio foi definido tendo em conta factores
diversos como a existência de estradas, transporte público, transporte privado, topografia, etc. Em
Moçambique, na área rural, e em Cabo Delgado em particular, os estudantes deslocam-se a pé e não
existe transporte público ou escolar. Quando existe transporte público as famílias não têm condições de
suportar com as despesas inerentes. Utilizaram-se dois raios: até 3 km como aceitável e de 3 a 5 km
como difícil.
Colocando um raio de acção de 5 km, pode-se verificar que a rede tem uma cobertura quase completa
desde o ponto de vista da distribuição geográfica (mapas das zonas: 8, 9 e 10).

Mapa 8 Mapa 9 Mapa 10

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CABO DELGADO

Algumas vilas não estão dentro do


raio de acção de 5 km. Estas vilas
estão localizadas nos postos
administrativos de Mazeze e Ocua
(distrito de Chiure), Mirate e
Montepuez (distrito de Montepuez)
e Meluco (distrito de Meluco) na
zona Sul; Mesa e Metoro (distrito de
Ancuabe), Quissanga (distrito de
Quissanga) e Mucojo (distrito de
Macomia) na zona Centro; Chapa e
Negomano (distrito de Mueda),
Ntamba (distrito de Nangade) e
Palma (distrito de Palma) na zona
Norte.
A quantidade de crianças na idade
Mapa 11 alvo das EP1 (6 a 10 anos) por
posto administrativo permite analisar a distribuição das salas em função dessa população, ressaltando a
inequidade (mapa 118).
As salas de aulas têm uma capacidade de 80 alunos em dois turnos. A média de população alvo por sala
de aulas na província é de 51 crianças. Com 2 professores por sala, este valor implica uma capacidade
suficiente para receber os alunos na idade certa. Mas a distribuição não é uniforme e 3 postos
administrativos tem mais de 90 crianças na idade alvo por cada sala, vide tabela 8:

Tabela 8 – crianças na idade alvo


Distrito Posto Administrativo Crianças alvo por sala de aula

8
Anexo os mapas das outras regiões sobre o mesmo tema.

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CABO DELGADO

Chiúre Chiúre Velho 180


Palma Olumbi 169
Muidumbe Chitunda 146

Dentro deste tema analisamos os alunos na idade certa na EP1. De cada 100 alunos a cursar a EP1, 61
tem entre 6 e 10 anos. Os postos administrativos que têm menos alunos na idade certa são: Cidade de
Pemba (35%), Mueda seja (40%), Cidade de Montepuez (44%), N'Gapa (45%), Imbuo (47%),
Mocímboa da Praia (48%), Quissanga (48%), Nangade (49%), Mieze (49%), Meluco (50%), N'Tamba
(50%) e Miteda (50%).
Existem vários factores que explicam o ingresso tardio das crianças: o difícil acesso à escola,
desconhecimento dos responsáveis educacionais da idade dos filhos e analfabetismo dos responsáveis
educacionais, são alguns dos factores.
Deve ressaltar-se a existência de escolas incompletas, representando cerca de 6 % das EP1 existentes,
conforme referenciado na página 13.

4.2.3 Acesso a EP2


No plano do sector está previsto a extinção das EP1,
isto é a promoção de todas as EP1 para EPC. Para
atingir este objectivo terá que desenhar-se um plano
pois não é possível que isto aconteça num dia. A
relação quantidade de EP1 por cada EP2 por posto
administrativo mostra nos os locais onde a situação é
mais grave. O distrito de Namuno está em pior
situação, seguido do distrito de Balama, tabela 9 e
mapa 12. Neste mapa temático mostra-se no fundo a
relação de EP1 para EP2, onde neste caso a cor mais
escura é a pior condição, apresentando a diferenciação
no tipo de escola.
Tabela 9 – Equidade de acesso à EP2
Razão
Distritos EP1 EP2 EPC EP1/EP2
ANCUABE 38 2 12 3.6
CHIURE 78 0 11 8.1
IBO 6 0 2 4.0
MACOMIA 38 0 8 5.8
MECUFI 14 0 3 5.7
MELUCO 20 0 5 5.0 Mapa 12
MOCIMBOA DA PRAIA 37 1 8 5.0
MONTEPUEZ 79 0 27 3.9
MUEDA 42 1 11 4.4
NAMUNO 106 1 9 11.5
PALMA 21 0 4 6.3
PEMBA 21 1 3 6.0
QUISSANGA 29 0 5 6.8
CIDADE DE PEMBA 5 0 16 1.3
BALAMA 52 0 7 8.4
MUIDUMBE 18 0 8 3.3
MANGADE 29 1 14 2.9

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CABO DELGADO

4.2.4.Acesso à ESG
O acesso actual à ESG deveria ter em Distrito
Tabela 10 – Escolas ESG
EP1 EPC ESG EPC/ESG
consideração que cada 5 EP1 ou EPC ANCUABE 40 10 2 25
desse origem a uma ESG. Na medida CHIURE 74 14 1 89
em que a ESG tem maior capacidade IBO 6 2 0 0
de admissão de alunos, funciona por MACOMIA 38 9 0 0
disciplinas e conta com vários MECUFI 14 3 0 0
professores para uma mesma turma, MELUCO 16 9 1 25
pode atender mais alunos. Cabo MOCIMBOA DA PRAIA 38 7 1 45
Delgado conta com 15 ESG, sendo MONTEPUEZ 87 18 2 52
duas do 2o ciclo (em Montepuez e na MUEDA 43 9 2 26
cidade de Pemba). NAMUNO 104 11 0 0
PALMA 21 1 0 0
O mapa temático, mapa 4 demonstra PEMBA 22 5 0 0
a relação existente entre as EPs e a QUISSANGA 23 11 0 0
ESG. Alguns distritos como Ibo, CIDADE DE PEMBA 15 7 3 7
Macomia, Mecufi, Namuno, Palma, BALAMA 50 9 1 59
Pemba-Metuge e Quissanga não MUIDUMBE 20 7 1 27
contam com escolas secundárias, MANGADE 32 11 1 43
conforme pode ser visualizado na
tabela 10.

4.2.5 As Escolas Técnicas


Existem muito poucas escolas técnicas na província. A maioria das escolas técnicas está localizada na
zona Sul (distrito de Montepuez) e na zona central (cidade de Pemba). Existe uma escola, a Escola
Básica Agrária em Quissanga. As escolas de formação de professores estão localizadas na cidade de
Pemba, Montepuez e Bilibiza.
4.2.6 Zonas de Influencia Pedagógica (ZIP)

As Zonas de Influência Pedagógica são áreas que congregam 5 a 6 escolas EP1 com fins
administrativos e de suporte técnico pedagógico, sendo um mecanismo essencial de formação contínua.
Cada ZIP é dirigido por um “coordenador” geralmente o director da escola sede da ZIP. Geralmente
estas áreas não se sobrepõem. Como forma de visualizar as ZIPs desenvolveram-se mapas temáticos
por distrito onde é possível reconhecer as ZIPs e simultaneamente verificar as salas anexas em
funcionamento. Existem em Cabo delgado 160 ZIPs para as suas 816 escolas (média de 5 escolas por
ZIP). Para poder funcionar com eficiência, cada escola sede da ZIP deveria ter um centro de recursos,
uma sala de reuniões e actividades de formação, uma biblioteca de referência para professores,
equipamentos e material pedagógico básico que facilitem a elaboração de materiais de ensino.
A rede escolar mapeada refere-se a informações de 2004 e conforme já referenciado no item 3 não
estão ainda geocodificadas as escolas abertas em 2005. A título de demonstração apresenta-se um mapa
com as informações de ZIPs, mapa 13, desenhado em tamanho A2 para facilitar a visualização.
4.2.7. Salas Anexas

- 28 -
CABO DELGADO

Salas anexas são salas de aula a uma determinada distância da escola a que se referem, a quem estão
ligadas, mas continuando administrativa e pedagogicamente fazendo parte dessa escola (geralmente
denominada escola mãe). Segue uma directriz de
atendimento a uma determinada população que está
distante da escola. Geralmente as salas anexas dão
origem a futuras escolas.
No mapa temático apresentaram-se as ZIPs e as salas
anexas existentes. Houve alguns distritos que não
concederam informações sobre salas anexas e não foi
possível mapea-las, pois estas informações foram
colectadas com os planificadores distritais. Foram
criadas tabelas para todos os distritos com as salas
anexas geocodificadas. A título elucidativo apresenta-se
a tabela 11:

Mapa 13
Tabela 11 – salas anexas

Sala Anexa Escola mãe Longitude Latitude


Ntandedi (Mueda-Sede) Mueda-Sede 39.502 -11.674
Lyungo (Wavi) Wavi 39.670 -11.714
Nandi (Ntuchi) Ntuchi 39.744 -11.666
Nampula (Lyanda) Lyanda 39.698 -11.493
Namulya (Namatil) Namatil 39.499 -11.087
Machokwe (Mitama) Mitama 39.466 -11.416
4.3 O estado físico da rede Nachipande (Nambungale) Nambungale 39.170 -11.236
escolar Muilo (Muirite) Muirite 39.240 -11.887
Naucuma (Chudi) Chudi 39.534 -11.761
A análise da rede deve considerar Nacala (Quelimane) Quelimane 39.380 -11.540
aspectos qualitativos em termos da situação física das infra-estruturas. A qualidade dos serviços
depende, do ponto de vista da infra-estrutura, do estado físico dos edifícios, da área disponível para
realizar as actividades e das condições de saneamento em que são realizadas tais actividades.

Nesta fase, não foi possível avaliar o estado físico, das infra-estruturas, a área construída disponível da
rede da província, nem o custo das intervenções necessárias com exactidão, devido ao facto de que
estas informações estão ainda a ser levantadas em Cabo Delgado, pois o novo formulário está a ser
aplicado nesta província. Outras províncias já têm esta informação digitalizada o que facilitará
sobremaneira esta análise. Mas apenas ao longo da implementação do plano operativo, os custos
específicos poderão ser calculados depois de levantamentos detalhados e decisões de consenso sobre o
tipo de intervenção funcional a realizar. Quanto aos custos reais, só serão conhecidos depois das
respostas dos concorrentes aos concursos de serviços, aquisições e empreitadas. Contudo, há uma
necessidade para o planificador de poder avaliar de forma rápida e simples as consequências financeiras
das suas decisões eventuais. Alguns critérios “macros” foram definidos para a elaboração dos cenários

- 29 -
CABO DELGADO

de investimento, cenários que deverão ser actualizados ao longo do processo da definição detalhada das
intervenções.

4.3.1.Material de construção das salas de aula das escolas

De cada 100 salas de aulas 45 foram construídas em material local precário (pau pique, maticado), 31
foram feitas com material misto (mistura de tijolos ou blocos de cimento e materiais precários) e só 21
salas foram edificadas em cimento ou tijolo.
Mais de metade dos alunos tem aulas em escolas de pau a pique e maticado.
A distribuição dos recursos físicos não é equilibrada, os distritos de Namuno (79% das salas em pau a
pique), Palma (62%), Nangade (61%), Mueda (55%), Chiúre (53%), Meluco (53%), Mocímboa da Praia
(52%), Pemba-Metuge (51%) e Mecúfi (48%) têm uma percentagem mais alta de salas em pau a pique
que a média da província, que é de 43%. Em contrapartida os
distritos de Montepuez (30 %), Ibo (29%) e Macomia (22 %)
têm 30 ou menos salas de pau a pique e maticado em cada
100 e a Cidade de Pemba só tem 3 salas em cada 100 feitas
com material precário.
A fim de facilitar a visualização dos materiais construtivos
desenvolveram-se dois mapas temáticos. No primeiro, mapa
14, ressalta-se a
percentagem das salas
em pau a pique ou
maticado nos postos
administrativos,
verificando-se que na
província os postos com
mais salas em materiais
precários encontram-se
tanto na zona sul, como
na zona norte (área a sul
desta zona).
Para melhor visualizar a
localização das salas de Mapa 14
aulas em piores
condições desenvolveu-se este mapa que apresenta como fundo,
em tons mais escuros, os postos administrativos com maior
percentagem de salas de aulas em pau a pique em relação ao total
de salas, enquanto que os ícones mostram a quantidade de salas
Mapa 15 de aulas em pau a pique por escola.
Considerou-se a sala de aula em pau a pique como a pior
condição. Um posto administrativo pode ter uma alta
percentagem de salas de aulas em pau a pique, mas não ter muitas salas de aulas.
Na combinação destes indicadores pode-se perceber a pior condição e com esta percepção
desenvolveu-se um outro mapa, mapa 15, pensando-se em analisar a quantidade de alunos por sala de
aula (pano de fundo) e apresentando em cada posto administrativo, um gráfico que ressalta a
percentagem de salas de aula de cada um dos tipos de material de construção estudados.
4.3.2. Saneamento e abastecimento de água

- 30 -
CABO DELGADO

O saneamento das escolas faz parte da educação dos alunos. As componentes do saneamento são, em
primeiro lugar, o abastecimento de água, as instalações sanitárias do pessoal e dos alunos, o tratamento
do lixo e a vedação. Em Cabo Delgado apenas 1,3% das escolas têm água, sendo que 0,8% se localizam
na cidade de Pemba.
Quanto a latrinas verificou-se que, apenas 12% das latrinas existentes funcionam e apenas 1% das
escolas têm casas de banho em boas condições de utilização.
4.3.3 Energia eléctrica
A existência de energia pode ser de grande importância para a eficiência na utilização dos recursos.
Com energia eléctrica pode-se criar uma turma nocturna aumentando num terço a eficiência no uso das
salas de aulas, com um pequeno investimento de infra-estruturas. Em Cabo Delgado a energia eléctrica
existe em 1,8% das escolas.

4.3.4 Cantina
Apenas 9% das escolas têm cantinas. A situação dessas cantinas é a apresentada na tabela 12:
Tabela 12 – Funcionamento de cantinas
Bom 66.7%
Razoável 28.6%
Mau 28.6%
Total 9.1%

4.5 A Qualidade do ensino

O abandono das escolas, a formação técnica e a carga de trabalho dos professores são indicadores
utilizados para se analisar a qualidade de ensino.
O ideal é que um professor da escola primária leccione apenas num turno, para melhor preparar as
aulas e elevar a qualidade das suas classes. Em Cabo Delgado os professores têm em média 55.9% de
suas actividades em um turno, conforme tabela 13:

- 31 -
CABO DELGADO

Tabela 13 – turno de professores

1 turno
Distritos 1 turno e meio 2 turnos
ANCUABE 116 0 115
CHIURE 127 0 215
IBO 23 0 10
MACOMIA 80 8 86
MECUFI 72 0 26
MELUCO 51 0 38
MOCIMBOA DA PRAIA 87 0 95
MONTEPUEZ 423 0 121
MUEDA 106 0 125
NAMUNO 79 2 208
PALMA 43 0 33
PEMBA 74 0 48
QUISSANGA 53 0 49
CIDADE DE PEMBA 381 0 6
BALAMA 51 0 153
MUIDUMBE 56 0 89
MANGADE 69 1 66
Mapa 16

O mapa temático de professores por turno, mapa 16, demonstra


a situação dos turnos de professores: no fundo está representada
a percentagem de professores que dão aulas em dois turnos. Os
ícones representam as escolas com professores a trabalhar em
um, dois turnos e situações mistas.
Facilmente se pode ver
onde é necessário
reforçar a presença de
professores e com a
leitura dos ícones ver a
distribuição das
escolas em piores
condições.
Aliado a esse
Mapa 17 indicador, a
quantidade de alunos
por professor mostra a
carga do professor e
indica a necessidade de colocar mais professores. Um
professor que lecciona em mais de uma turma ou em turmas
grandes não consegue atingir um grau mínimo de qualidade
nas suas aulas. Para analisar este indicador desenvolveu-se o
mapa temático alunos / professor, mapa 17, onde se graficou
como fundo a relação alunos por professor e os ícones
representando as escolas variando o tamanho em função do
Mapa 18

- 32 -
CABO DELGADO

número de alunos. Na combinação destes dois indicadores é possível ver-se onde esta relação é mais
aguda.
Foi utilizado mais um indicador para a confirmação da hipótese de que, uma das razões pela qual as
mulheres não vão à escola seria porque os professores são homens. Este indicador combinado com a
percentagem de alunas no total de estudantes, pode ajudar a elucidar a questão, conforme demonstra o
mapa 18, alunos femininos por professor. Em forma de tarte representaram-se os professores e as
professoras e no fundo a percentagem de alunas sobre o total de alunos.
Aliado a estes indicadores estudou-se também a formação dos professores na província Este indicador
sugere uma distribuição equitativa dos professores formados disponíveis (equidade) e dá uma ideia da
qualidade do ensino nos postos administrativos (tabela 14).
Tabela 14 – Formação de professores
Prof. formados Prof. não formados
Distrito Feminino Masculino Feminino Masculino
Ancuabe 6 115 13 155
Balama 11 143 5 108
Chiure 17 213 19 191
Cidade Pemba 86 245 118 218
Ibo 0 22 0 21
Macomia 7 114 5 87
Mecufi 7 55 7 39
Meluco 5 62 1 46
Mocimboa da praia 9 123 6 88
Montepuez 99 302 66 277
Mueda 11 136 17 132
Muidumbe 3 102 1 85
Namuno 14 164 7 172
Palma 3 54 1 36
Pemba 10 74 7 53
Quissanga 6 60 2 49

O mapa 19, formação de professores referencia este


indicador, pois foram analisados como fundo a razão
entre professores formados e não formados e nos
ícones ressaltou-se a % de professores não formados
sobre os professores formados, sem distinção de
género do professor.
Este indicador vem completar a informação sobre
professores não formados mostrando o tipo de
formação dos professores formados e portanto da
qualidade de ensino. Representou-se no fundo, a
percentagem de professores sem formação pedagógica.
Os ícones representam os professores formados
segundo uma qualificação suficiente ou básica. As
formações estão descritas na página 16.

Mapa 19

- 33 -
CABO DELGADO

Neste mapa 19 pode-se ver e comparar a


quantidade de professores formados, a relação
professores com baixa formação e com formação
suficiente e as piores situações de professores não
formados por posto administrativo.
Relacionado à qualidade de ensino, a desistência na
EP1 é um indicador que pode mostrar a qualidade
do ensino ou a incidência de outros factores na
desistência dos alunos. As maiores percentagens de
abandono escolar ocorrem nos distritos e postos
administrativos ressaltados na tabela 14.

Tabela 15 – desistência de alunos

Posto Adm Distrito % de abandono


M'Bau Mocímboa da Praia 26%
Imbuo Mueda 19%
Mecúfi Mecúfi 19%
Chitunda Muidumbe 19%
Miteda Muidumbe 18%
Mapa 20
Chapa Mueda 18%
Metoro Ancuabe 15%

O indicador da desistência por género, serve para


verificar a ocorrência de uma maior desistência dependendo do sexo do aluno e assim descobrir os
factores que os levam a isso. Na análise efectuada verifica-se que em alguns postos administrativos
ocorrem mais desistências de meninas que em outros, sendo um fenómeno equitativo que depende das
características particulares e sociais de cada distrito. A análise sobre o abandono nas escolas, por classe,
foi já referida anteriormente, tabela 6.
O mapa temático desistência por género, mapa 20, elucida o exposto: sobre um fundo demonstrativo
da percentagem de desistência, representou-se a mesma por género. Desta maneira podemos ver quais
os postos administrativos com maior desistência e analisar se o género tem influência no abandono da
escola.

4.5.1 Material escolar e bibliotecas


A qualidade de equipamentos é também um instrumento de medição da qualidade do ensino e a
existência do tipo de equipamentos a nível da província são as constantes na tabela 16. No total de 568
equipamentos (sejam livros, equipamentos de laboratório e de oficinas) 50 % estão em bom estado de
conservação e 45 % estão em estado razoável. Os livros em bibliotecas representam 98% do total de
equipamentos existentes na província.

Tabela 16 – Equipamentos nas escolas

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CABO DELGADO

Estado de Equipamentos nas escolas


conservação
dos Livros Equipamento Equipamento
equipamentos biblioteca laboratório oficinas Total
Bom 280 3 2 285
Razoável 253 2 1 256
Mau 26 1 0 27
Total 559 6 3 568

Analisou-se a distribuição dos equipamentos por


distrito. Os equipamentos de laboratório e os de
oficinas estão concentrados nos distritos de
Montepuez e cidade de Pemba. A análise da
distribuição dos livros nas bibliotecas é
equitativa. A tabela 17 mostra a distribuição dos
livros e no mapa 21 estão representados o
número de livros existentes nas bibliotecas (sem
identificação do estado de conservação) e os
gráficos representam o estado de conservação
dos livros (vermelho em estado razoável de
conservação e azul em bom estado de
conservação).

Tabela 17 – Livros em bibliotecas


Mapa 21
Estado de conservação dos
livros
Distritos Bom Razoável Mau
ANCUABE 5 12 7
CHIURE 1 74
IBO 3 2
MACOMIA 17 17 3
MECUFI 12
MELUCO 2 1 6
MOCIMBOA DA PRAIA 23 14 2
MONTEPUEZ 32 5
MUEDA 21 22 1
NAMUNO 79 17 2
PALMA 19 2
PEMBA 17
QUISSANGA 20 8 1
CIDADE DE PEMBA 1 15
BALAMA 17 18 2

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CABO DELGADO

MUIDUMBE 20 4
MANGADE 22 11
TOTAL 279 252 26

4.5.2 Formação de Professores

Actualmente a província conta com 3 centros de formação de professores: um CFPP em Montepuez,


um IMAP na cidade de Pemba e um centro de formação de professores (ADPP) em Bilibiza que
ministra cursos de 2 anos e meio a graduados da 10a classe. Por informações obtidas in loco, DPE9,
verifica-se que são formados em média 650 professores por ano, conforme tabela 18:
Tabela 18 – Formação de professores
Ingressos Formados
Instituição Ano Homens Mulheres Total Homens Mulheres Total
2003 343 325 668 320 272 592
CFPP 2004 307 335 642 282 302 584
2003 158 40 198 152 36 188
ADPP 2004 163 40 203 164 40 204

O CFPP está superlotado e em condições bastante insatisfatórias. O IMAP foi inaugurado em 2004 e a
ADPP funciona desde 2003. Em Cabo Delgado estão também em funcionamento os cursos de
formação à distância do IAP, para os professores menos qualificados.

4.6 Casas para trabalhadores

Em Cabo Delgado não encontramos informações que permitissem uma análise fiel quanto a este
indicador.

4.7 Outros indicadores utilizados


4.7.1 Pobreza
Desenvolveram-se mapas com os indicativos de pobreza
e subnutrição para as três regiões, norte, centro e sul. A
fim de melhor analisar este indicador, estes mapas são
transparentes, possibilitando a superposição e a
combinação com todos os mapas temáticos (mapa 22)

4.7.2 Analfabetismo
Cabo Delgado conta com um percentual de 70% da Mapa 22
população analfabeta, ocupando o pior rank em termos
nacionais. A distribuição do analfabetismo na província
está elucidada no mapa 23

9
Ainda não estão disponíveis as informações referentes a 2005

- 36 -
CABO DELGADO

Mapa 23

- 37 -
CABO DELGADO

5. A PROPOSTA DE PRIORIZAÇÃO DAS INTERVENÇÕES

A proposta de priorização de intervenções (PPI) assenta fundamentalmente nas prioridades e nas


orientações expressas pela DPS e pelos Directores Distritais no âmbito dos seminários provinciais,
considerando-se um limite financeiro. As intervenções do plano dizem respeito às infra-estruturas e ao
equipamento da rede educacional, principal emente às EP1, EPC e ESG de todos os distritos de Cabo
Delgado, e aos respectivos sistemas de apoio de formação, logística, manutenção e administração.
O Plano está estruturado em dois períodos de implementação, uma fase prioritária inicial e uma
segunda fase aberta à renegociação, ocorrendo depois do acabamento do primeiro ciclo.
Na medida em que um plano de planeamento deve ser compreendido por etapas técnicas e políticas,
optou-se por desenvolver esta PPI da mesma forma. Orientações técnicas e políticas advindas dos
seminários e da participação dos directores de planeamento distritais e orientações predominantemente
técnicas (que referendam a primeira) analisadas no item 4 e especificadas a seguir, em cada uma das
intervenções a realizar.
A cidade de Pemba é analisada isoladamente dadas as suas especificidades.
Para efeitos do processo de priorização, é importante explicar que os quatro critérios mencionados
anteriormente no item 3.6 (equidade, qualidade, eficiência e sustentabilidade) podem gerar contradições
entre eles, ou apontar para diferentes intervenções de investimento. Como já referenciado, a maneira
como estes critérios foram negociados, ponderados e compatibilizados entre si constituiu o fundamento teórico
do processo de priorização dos seminários regionais do mapeamento e reflectido nas intervenções a
serem realizadas.
Equidade de acesso geográfico Vs. Eficiência (rentabilidade). Os critérios da equidade do acesso
geográfico podem entrar em contradição com a vertente da eficiência do investimento, visando o
primeiro critério garantir acesso à Educação para todas as crianças mesmo em regiões pouco povoadas
da província, mas pretendendo o segundo oferecer serviços onde o número de crianças beneficiadas
será maior. Numa situação de escassez de recursos, aplicar exclusivamente o primeiro critério significa
não conseguir oferecer serviços onde a necessidade é quantitativamente maior. Numa situação com
grandes desigualdades aplicar só o segundo critério significa agudizar estes desequilíbrios.
Expansão da rede Vs. Reabilitação e Qualidade. Numa situação de escassez de recursos e de capacidade
de execução de projectos, direccionar o investimento de um Sector para a expansão da rede conforme
o critério de equidade de acesso pode comprometer o investimento na qualidade e reabilitação das
estruturas existentes. Por outro lado, aumentar os pontos de prestação de serviços aumenta mais os
custos correntes do que no caso da reabilitação, incrementando também a pressão sobre os serviços de
apoio da Educação.
EP1 Vs. EPC e ESG. Os níveis de prestação de serviços representam cuidados diferentes e, muitas
vezes, atingem também camadas populacionais diferentes. Ao fazerem funcionar a educação como um
sistema de vasos comunicantes, a fraqueza de um nível reflecte-se necessariamente nos outros níveis.
Apesar da decisão de investir num ou noutro nível ter a ver com as políticas gerais do Governo, é
preciso alcançar um equilíbrio entre as várias componentes do sistema.

- 38 -
CABO DELGADO

Ao mesmo tempo melhorar o acesso à educação é “propiciar mais oportunidades, maior capacidade
iniciativa, inovativa, empreendedora e propulsora e principalmente maior consciência favorecendo o
espírito de auto-estima dos cidadãos”10.
Formação de Professores A quantidade de professores formados, conforme descrito e analisado no
item 4 é insuficiente para satisfazer as actuais demandas. Torna-se necessário investir-se tanto na
formação dos actuais professores não formados como reforçar a formação existente. Mas a formação
de professores não irá por si só resolver o problema da qualidade dos serviços, sendo necessário rever a
carga horária dos professores.
Apresenta-se a seguir para cada uma das intervenções a realizar, uma breve descrição dos critérios e da
maneira como foram utilizados e ponderados, para se alcançar uma definição nas prioridades. No geral
cada indicador foi estudado considerando-se a média na província, reconhecendo-se todos os valores
acima dessa média e agrupando-se os distritos em quartis11. Utilizou-se um número em função do
quartil (de 1 a 4), considerado então como “ponderação ou rank”. A partir desta ordem foram
concedidos pesos de importância para cada indicador.

5.1 Novas EP1


O PESE utilizou fundamentalmente o conceito de equidade de acesso geográfico às escolas EP1, isto é
o direito de todas as crianças em idade escolar terem uma escola a uma distância razoável que não lhes
limite o acesso. O conceito de “ acesso” considera as condições das estradas e a disponibilidade de
transportes. As páginas 22 a 24 apresentam a visualização da equidade às EP1 nas três zonas da
província.
A necessidade de construção de EP1 foi analisada a partir da existência de aldeias e vilas a distâncias
superiores a 5 km da EP1 mais próxima, ponderando-se simultaneamente os seguintes indicadores:
• População no posto administrativo, quantidade de crianças dos 6 aos 10 anos de idade
• Índices de analfabetismo
• Quantidade de alunos por sala de aula
Neste caso, para novas EP1, os pesos foram considerados como:
para as aldeias não atendidas como peso 3,
para o número de crianças em idade escolar como peso 2 e
peso 1 tanto para os índices de analfabetismo como para com a quantidade de alunos por sala
de aula.
Somando-se estes pesos obtivemos as seguintes prioridades (rank) como necessidade de novas EP1:

10
PARPA, março 2005
11
Medida estatística de agrupamento das informações conforme a frequência.

- 39 -
CABO DELGADO

Tabela 19 – Necessidades actuais de novas EP1


Região Centro Região Norte Região Sul
Postos Postos Postos
Distritos Administrativos Rank Distrito Administrativos Rank Distrito Administrativos Rank
Mecúfi Mecúfi 1 Mueda N'Gapa 1 Chiúre Ocua 1
Macomia Mucojo 1 Mueda Chapa 1 Namuno Machoca 3
Macomia Macomia sede 2 Mueda Negomano 2 Balama Kuekue 4
Ancuabe Meza 4 Nangade N'Tamba 3 Chiúre Chiúre Velho 5
Ancuabe Ancuabe 5 Nangade Nangade 3 Balama Balama 6
Pemba Metuge sede 7 Palma Palma 5 Namuno Meloco 6
Pemba Mieze 7 Muidumbe Miteda 6 Namuno N'Cumpe 7
Quissanga Mahate 7 Mueda Imbuo 6 Chiúre Catapua 7
Mocímboa da
Mecúfi Murrebue 7 Praia Mocímboa da Praia 7 Montepuez Mapupulo 7
Montepuez Mirate 7
Chiúre Namogelia 7

Porém todos os cálculos levaram em consideração a realidade e o momento actual. Na medida em que
se propõe uma programação para 5 anos, deve ser levado em consideração o crescimento vegetativo da
população. Mantendo-se o percentual de crescimento de 2,3 % ao ano, será necessário aumentar o
número de escolas EP1 na mesma percentagem. Este valor significara 22 salas por ano (3.150 x 2,3%).
Como as salas devem funcionar em 2 turnos temos uma necessidade de 55 salas num quinquénio, para
suprir o crescimento vegetativo populacional. Supondo-se que cada escola tem em média 5 salas,
precisamos planificar mais 11 escolas EP1.
Outro factor bastante debatido no seminário foi a distância à escola EP1. Em função da idade das
crianças, a distância de 5 km foi considerada unanimemente muito elevada, recomendando-se 3 km
como distância aconselhada. Esta análise leva em consideração a distância de 5 km em função de
constrangimentos financeiros.
O total de escolas EP1 a construir, neste momento, é de 7 escolas, duas na zona sul, três na zona norte e três na zona
sul.
Para o primeiro quinquénio deve ser prevista a construção de adicionais 11 escolas EP1, totalizando 18 escolas EP1 a
serem construídas.

5.2 Ampliação das unidades existentes


A construção de novas escolas pode por vezes comprometer a estrutura do processo como um todo.
Uma das alternativas é considerar-se a ampliação das actuais instalações, desde que existam condições
para tal. Esta seria uma medida que deveria ser tomada anteriormente à edificação de novas escolas.
Numa situação de escassez de recursos e de capacidade de execução de projectos, direccionar o
investimento de um Sector para a expansão da rede conforme o critério de equidade de acesso pode
comprometer o investimento na qualidade e reabilitação das estruturas existentes. O critério da
qualidade sobrepõe-se ao da eficiência, no sentido de privilegiar a consolidação da rede no que respeita
à expansão, com o duplo objectivo de capitalizar e melhorar a qualidade daquilo que já se tem, antes de
criar novos pontos de prestação de serviços.
Para a análise deste critério e apoiados nos estudos apresentados no item 4, para a priorização na
intervenção em ampliação e reabilitação da capacidade escolar existente, foram levados em consideração os
seguintes indicadores:
Alunos por sala de aula
População existente na idade escolar

- 40 -
CABO DELGADO

Quantidade de professores por turno


Com esta ordem foram concedidos pesos de importância para cada indicador. Neste caso os pesos
foram considerados como:
peso 3 para a quantidade de alunos por sala de aula,
peso 2 para o indicador quantidade de alunos previstos e
professores por turno como peso1.
A ordem na tabela da ampliação das unidades existentes foi o reflexo desta análise:
Tabela 20 – Ampliação das unidades existentes
Centro Norte Sul
Postos Postos Postos
Distritos Administrativos Rank Distritos Administrativos Rank Distritos Administrativos Rank
Ancuabe Ancuabe 1 Mueda Mueda sede 1 Balama Balama 1
Mecúfi Murrebue 1 Palma Palma 1 Balama Kuekue 2
Macomia Chai 2 Palma Quionga 2 Balama Kuekue 3
Pemba Mieze 3 Muidumbe Chitunda 3 Chiúre Chiúre 5
Ancuabe Meza 5 Muidumbe Miteda 3 Montepuez Mapupulo 5
Pemba Metuge sede 6 Nangade Nangade 4 Chiúre Ocua 6
Ancuabe Metoro 7 Muidumbe Chitunda 6 Montepuez Cidade de Montepuez 6
Macomia Mucojo 7 Palma Olumbi 6 Chiúre Ocua 7
Macomia Macomia sede 7 Nangade N'Tamba 7 Balama Mavala 7
Ibo Quirimba 7 Palma Pundanhar 7 Namuno Meloco 7
Mocímboa da
Praia Diaca 4 Namuno Namuno sede 8

Para a quantidade de salas a serem ampliadas terá que ser realizado um estudo individual por
posto administrativo dependendo das condições infraestruturais das escolas. Para esta
intervenção levou-se em consideração a possibilidade do funcionamento das salas de aula em 3
turnos (com energia eléctrica).
A necessidade actual de ampliação de salas nas 32 escolas é de 96 salas de aula, sendo esta uma intervenção prioritária.
Para o crescimento populacional é necessário prever-se um “crescimento”das actuais salas em 2,3 % em todas as escolas,
ou seja, mais 115 salas, totalizando 211 salas ampliadas até 2009.

5.3 Substituição de salas de aula


A substituição de salas em más condições de funcionamento por outras com materiais de construção
mais duradouros e de fácil conservação é uma das prioridades, como qualidade de ensino. Mas quando
se fala em materiais de construção mais duradouros não quer isso dizer apenas tijolos convencionais.
Existem materiais e técnicas construtivas locais, com óptimo desempenho térmico que podem e devem
ser utilizadas. Os materiais de edificação se revestem de um aspecto muito importante, já que facilitarão
um melhor ambiente de aprendizagem com uma boa ventilação, maior higiene e consequentemente,
melhores resultados na aprendizagem.
Aplicar o critério da qualidade na definição de investimento envolve, por um lado, melhorar a qualidade
do que já existe, reabilitar, e também, investir naqueles serviços de apoio para garantir que todos os
factores cheguem a tempo ao nível da prestação do serviço (sistemas de aprovisionamento, de
formação e de manutenção). Nas páginas 26 e 27 analisou-se a distribuição e quantidade de salas em
material precário na província.
Para a intervenção na substituição de salas de material precário levou-se em consideração os seguintes
pressupostos:

- 41 -
CABO DELGADO

Quantidade total de salas de aula


Percentual de salas em pau a pique
Alunos por classe e alunos por professor
Percentual de salas mistas (tijolos e maticado)
População por sala de aula
Para os indicadores utilizou-se a seguinte convenção:
alunos por classe, alunos por professor e população por sala de aula foi considerado o peso 1,
para a quantidade de salas e percentual de salas mistas o peso 2 e
para o percentual de salas em pau a pique atribuiu-se o peso 3.
A tabela de classificação ficou assim distribuída:
Tabela 21 – Substituição de salas de material precário
Centro Norte Sul
Postos Postos Postos
Distritos Administrativos Rank Distritos Administrativos Rank Distritos Administrativos Rank
Ibo Quirimba 1 Nangade Nangade 1 Namuno Namuno sede 1
Mecúfi Mecúfi 2 Mueda Imbuo 1 Chiúre Catapua 1
Pemba Mieze 2 Nangade N'Tamba 2 Chiúre Chiúre Velho 2
Ancuabe Meza 2 Mueda Chapa 3 Chiúre Namogelia 2
Ancuabe Ancuabe 3 Palma Palma 3 Namuno Machoca 3
Ancuabe Metoro Mueda Mueda sede 4 Namuno Meloco 4
Pemba Metuge sede 3 Palma Olumbi 4 Balama Balama 4
Macomia Quiterajo 4 Mueda N'Gapa 5 Namuno N'Cumpe 5
Quissanga Mahate 7 Muidumbe Chitunda 5 Namuno Hucula 6
Palma Quionga 6 Montepuez Cid. de Montepuez 7
Mocímboa da Mocímboa da
Praia Praia 5 Montepuez Mapupulo 8
Mocímboa da
Praia M'Bau 6

As quantidades de salas a substituir estão apresentadas na tabela 22, onde se considerou apenas os
postos administrativos que apresentaram um percentual superior a 50 % de salas em pau a pique.
Tabela 22 - quantidade de salas de pau e pique ou maticado a serem substituídas

Posto % de salas No. salas a


Zona Distrito Administrativo Pau a Pique substituir
Ibo Quirimba 100 1
Macomia Quiterajo 47 1
Centro

Mecúfi Mecúfi 60 5
Meluco Meluco 56 8
Meluco Muaguide 50 6
Pemba Mieze 63 7
Mocímboa da Praia M'Bau 83 4
Mocímboa da Praia Mocímboa da Praia 47 8
Mueda Chapa 100 4
Norte

Mueda Imbuo 78 6
Mueda Negomano 80 1
Mueda N'Gapa 54 8
Muidumbe Chitunda 66 4

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CABO DELGADO

Nangade Nangade 63 13
Nangade N'Tamba 57 8
Palma Olumbi 71 2
Palma Palma 61 5
Palma Pundanhar 56 1
Palma Quionga 57 1
Balama Mavala 57 3
Chiúre Catapua 86 6
Chiúre Chiúre Velho 72 9
Chiúre Namogelia 74 5
Chiúre Ocua 47 8
Montepuez Mirate 48 11
Sul

Montepuez Nairoto 64 3
Namuno Hucula 88 6
Namuno Machoca 85 9
Namuno Meloco 85 8
Namuno Namuno sede 81 31
Namuno N'Cumpe 73 8
Namuno Papai 60 4

Até 2009 não deveriam existir escolas com salas em pau a pique e maticado. A necessidade actual é a substituição de
204 salas.

5.4 Promoção a EPC


Existem ainda 6% das escolas EP1 incompletas, que urge torná-las EP1 completas (pagina 13).
O ideal é elevar todas as escolas primárias a escolas completas, mas enquanto a realidade não permite
que tal aconteça (principalmente em função de problemas de quantidade e qualidade dos recursos
humanos) é necessário que exista um mínimo de escolas primárias completas por distrito. No item 4
analisou-se a inequidade de atendimento de escolas completas e desse modo, a necessidade de
intervenção quanto à promoção para EPC levou em consideração:
quantidade de escolas EPC em relação às EP1
população por salas de aula
analfabetismo e pobreza
Com esta ordem foram concedidos pesos de importância para cada indicador. Neste caso os pesos
foram considerados como:
peso 3 ao primeiro indicador,
população por sala de aula atribuiu-se o peso 2 e
peso 1 foi concedido aos índices de analfabetismo e de pobreza.
A tabela resultante indica-nos os postos administrativos que deverão prioritariamente contar com
promoções de EP1 a EPC:
Tabela 23 – Promoção a EPC
Centro Norte Sul
Postos Postos Postos
Distritos Administrativos Rank Distritos Administrativos Rank Distritos Administrativos Rank
Macomia Mucojo 1 Palma Palma 2 Balama Kuekue 1
Pemba Metuge sede 1 Mueda Chapa 2 Namuno Namuno sede 1

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CABO DELGADO

Quissanga Bilibiza 1 Palma Olumbi 3 Balama Balama 2


Macomia Quiterajo 2 Mueda N'Gapa 4 Namuno Machoca 2
Ibo Ibo sede 3 Muidumbe Chitunda 4 Namuno N'Cumpe 3
Mocímboa da Mocímboa da
Quissanga Mahate 3 Praia Praia 2 Namuno Hucula 4
Mocímboa da
Ancuabe Meza 4 Praia M'Bau 6 Chiúre Catapua 4
Meluco Meluco 5 Chiúre Chiúre sede 5
Mecúfi Mecúfi 6
Mecúfi Murrebue 7

As necessidades imediatas são de 20 escolas promovidas a EPC, sendo 8 na zona centro 5 na zona sul e 7 na zona
norte. Em função do crescimento populacional deveriam existir em 2009 um total de 310 escolas EPC na província.

5.5 Novas ESG


Conforme os indicadores do plano estratégico da educação todos os distritos deverão ter pelo menos 1
Escola Secundária, que poderá tanto ser fruto de uma promoção de escolas EPC / EP2 para ESG
como construção de uma nova escola, dependendo das condições infraestruturais existentes em cada
distrito.
Como já foi referido a educação funciona como um sistema de vasos comunicantes, e o ideal deveria
ser a existência de 1 escola Secundária para cada escola EP1. Mas dada a realidade actual do País o ideal
deverá ter um horizonte mais alargado que o proposto neste PESE. Durante este período a razão
deveria ser, no mínimo de 5 EP1 e EPC para cada ESG. Esta relação implica em um número de 150
ESG na província. Porém dado que existem apenas 14 ESG realizou-se a análise em função de dois
indicativos: a) novas ESG e b)necessidade de mais ESG.
Para a análise de concessão de novas ESG levou-se em consideração o indicativo da não existência de
ESG e para a segunda opção utilizou-se como indicativos a quantidade de EP1 e EPC em relação às
ESG e a população em idade escolar para a ESG.
Para o primeiro indicativo utilizou-se o peso 4 e para os outros dois indicativos (número de EPS e
população em idade escolar) considerou-se peso 2, resultando em 11 ESG, nos seguintes distritos:
Tabela 24 – novas ESG
Distritos rank
MACOMIA 1
MECUFI 1
NAMUNO 1
PALMA 1
PEMBA 1
QUISSANGA 1
IBO 1
CHIURE 2
BALAMA 3
MONTEPUEZ 3
MOCIMBOA DA PRAIA 4

Para a segunda opção utilizou-se três indicativos: relação da quantidade de população em idade escolar
por ESG, o crescimento vegetativo da população, e a relação de 5 EPS por cada ESG, havendo-se
considerado os seguintes pesos:

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CABO DELGADO

indicativos populacionais como 2 e


a relação EP1 e EPC por ESG peso 3.
Nesta segunda opção obteve-se uma necessidade de 166 ESG.
Actualmente são necessárias 11 escolas secundárias. Para o quinquénio será necessário adicionar 155 ESG.

5.6 CIDADE DE PEMBA


Para a cidade de Pemba a análise realizada foi diferente do restante da província. Considerou-se a
percentagem de população dos bairros12, apresentada na tabela 25, a partir da qual se fez a análise da
quantidade de alunos por sala de aula e por professores. As ponderações utilizadas foram as seguintes:
peso 3 para população dos bairros na idade escolar,
quantidade de alunos por sala de aula como peso 1 e
por professores com o peso 1,
As informações colhidas nos seminários foram inseridas na presente análise o que determinou que, na
cidade de Pemba sejam necessárias as seguintes intervenções:

Tabela 25 – Cidade Pemba - % população nos Tabela 26 – Intervenção em Pemba


bairros
Intervenção Escola
CIDADE DE PEMBA Mahate
Bairro de ALTO-GINGONE 7.4 % Cariaco
Bairro de CARIACÓ 21.1% Substituição de salas Maringanha
Bairro de CHIUBA 4.1% Eduardo Mondlane
Bairro de CIMENTO 5.2% Natite
Bairro de INGONANE 14.0% Unidade - Pemba
Bairro de MACHARA 3.9% Ampliação Aeroporto
Bairro de MAHATE 4.0% Chiuba
Bairro de MARINGONHA 1.4% Ampliação para ESG 16 Junho
Bairro de NANHIMBE 1.7% Ampliação para EPC Melapanha
Bairro de NATITE 24.1% Pemba
Bairro de PAQUITEQUETE 10.8% Reabilitação Gingonhe
Bairro de WIMBE 2.3% Paquitequete
Nova EP1 Chiuta
Nova ESG bairro Alto-Gingone
Nova sede para a DPE

Para a cidade de Pemba estão previstas intervenções de: 5 ampliações, 3 reabilitações, 5 escolas com substituição de salas
em pau a pique e 3 novas edificações.

5.7 Energia, água e vivenda de professores


Conforme já referenciado no texto, os índices de existência de água e energia são muito baixos na
província.

12
Conforme projecções do INE para 2004

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CABO DELGADO

A implantação de energia não é uma tarefa muito difícil na medida em que poderiam ser utilizados
painéis solares para a captação de energia ou vento. Uma outra maneira de tentar suprir a energia para
as escolas é a captação do vento para transformação em “energia eólica”.
Com esta atitude poderiam as escolas funcionar em 3 turnos e portanto aumentar a capacidade de
atendimento em 1/3.
Poderiam estas salas do terceiro turno ser utilizadas para a alfabetização, principalmente de jovens.
O problema da água reveste-se de características técnicas diferenciadas pois é necessário um
conhecimento do tipo de solo e da existência e magnitude do lençol freático, para abertura de furos e
poços. As informações disponíveis sobre a rede de água, DNA, são de 2003 e mostram que este é um
problema da região, e não apenas das escolas (em média 52% da população da província não tem
acesso a este serviço). Obteve-se informações quanto a percentagem de população não servida por este
serviço, e condensando-se estas informações por zonas a situação é de que:
Na zona centro, 23 % da população13 é servida por água (quer por furos ou por poços). Detinha a
zona, em 2003, 518 fontes de água, com 149 dessas fontes avariadas;
Na zona norte, 37 % da população contava com fontes de água, ou seja 322, e 99 delas estavam
avariadas:
Na zona sul, 37 % da população contava com 387 fontes de água e 161 sem funcionarem.

5.8 Alfabetização
O índice de analfabetismo entre os jovens de Cabo Delgado é bastante elevado. É reconhecido que
geralmente nas escolas de alfabetização de adultos, os jovens não comparecem e quando o fazem são
quase que exclusivamente do sexo feminino.
É necessário fomentar a alfabetização de jovens em idades de 18 a 25 anos. Os jovens têm a ideia que a
alfabetização por si só não os prepara nem melhora a qualidade de vida e que são solicitados a
contribuir no orçamento familiar a partir de uma certa idade, como apoio à família. Na medida em que
este conceito está bastante enraizado na mentalidade dos jovens deve-se tentar criar alternativas de
“chamar os jovens para a alfabetização”, ou seja aliar a alfabetização à formação profissional e portanto
uma possibilidade de emprego futuro.
Em Cabo Delgado este tipo de actividade seria bastante favorecida por três razões:
Presença de várias ONG na província
Factores ambientais que favorecem o turismo
Necessidade de propiciar electricidade para a maioria das escolas (e talvez unidades sanitárias)
O turismo vem se desenvolvendo rapidamente na província. Deveriam ser criados cursos
profissionalizantes de “garçons” (atender quer em restaurantes quer em hotéis), guias turísticos,
acompanhantes de passeios para mergulhos e outras actividades ligadas ao turismo, que deveriam ser
frequentados por jovens analfabetos, que ao participarem nestes cursos de formação estariam
participando da alfabetização.
As duas ideias apresentadas no item 5.7, como uma opção criativa na solução do problema de
electricidade nas escolas, deveriam funcionar como um catalisador do processo de alfabetização,
actuando como “uma forma de chamar os jovens analfabetos”. Seriam desenvolvidos cursos
profissionalizantes para a execução de painéis solares e cata-ventos que aliariam estas funções técnicas
à alfabetização dos jovens. Na vizinha África do Sul a técnica em painéis solares é bastante

13
Não foi considerada a cidade de Pemba

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CABO DELGADO

desenvolvida e no Egipto a técnica de cata-ventos para a energia eléctrica é largamente utilizada, sendo
portanto recursos técnicos e políticos a serem considerados.

5.9 Edificações especiais


Cabo Delgado não tem sofrido ultimamente com desastres naturais, mas a história dos desastres
demonstram que há 10 anos a província foi assolada por dois ciclones. O distrito de Palma é o distrito
mais sujeito à ocorrência de ciclones.
Sabendo-se que da ocorrência de qualquer fenómeno natural a população recorre ao abrigo em escolas
e igrejas, deveria este distrito ter uma escola que fosse dotada de técnicas construtivas mais resistentes
aos ciclones.
Desse modo deveria ser escolhida uma escola para se transformar em abrigo em caso de ciclones. O
MEC estaria iniciando um trabalho conjunto com o INGC (Instituto Nacional de Gestão de
Calamidades) na preparação de desastres naturais. O INGC em caso de ocorrência de ciclones
chamaria a população a se abrigar nessa escola especial, tornando mais fácil o apoio e o socorro a ser
prestado às populações afectadas.
Existe em Moçambique capacidade técnica para o desenvolvimento desse tipo construtivo: a ONG
GTZ tem desenvolvido a capacitação local em construções para ciclones e inundações no país,
havendo criado um pequeno manual explicativo sobre esta técnica.

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CABO DELGADO

6. O IMPACTO DAS INTERVENÇÕES PROGRAMADAS

Nesta secção é tratado o tema das implicações das intervenções propostas por este plano em termos de
recursos correntes para o serviço provincial da Educação. Por um lado avalia a viabilidade do Plano em
termos de disponibilidade de recursos humanos, de livros e de recursos financeiros para o
funcionamento do sistema, e, por outro, define as alterações na alocação destes recursos que deverão
ser executadas entre os distritos, para melhor responder às mudanças da rede educacional trazidas pelo
PESE.
A primeira parte debruça-se sobre as necessidades adicionais de recursos humanos trazidas pelas novas
construções, promoções e reabilitações propostas pelo PESE até 2009, isto é, até o fim do primeiro
ciclo de investimento. Estas serão equacionadas com a capacidade actual de formação da província, e
possíveis constrangimentos serão identificados para o funcionamento das EPs e ESs em termos de
colocação e retenção de pessoal no sistema. A segunda parte diz respeito ao aumento das necessidades
de material escolar (livros, bibliotecas, equipamentos, laboratórios) devido às intervenções do PESE.
No capítulo anterior foram apontadas algumas necessidades e prioridades actuais a nível de distrito e de
posto administrativo. Estas podem ser resumidas em; energia eléctrica em todas as escolas viabilizando
3 turnos de ensino; construção de 18 escolas EP1; construção de 15 escolas ESG; substituição ou
melhoramento do material de construção de 836 salas; ampliação de 37 escolas existentes; reabilitação
do centro de formação de professores e construção de 1 novo centro além da construção da sede da
DPE.

6.1 Implicações nos recursos humanos


Em relação às implicações do PESE nos recursos humanos, é relevante notar que, sendo a
consolidação e reabilitação da rede o enfoque principal do Plano, o investimento previsto vai ter um
impacto moderado a grande em relação às necessidades adicionais de pessoal trabalhador do sector.
O INE projecta para Cabo Delgado, em 2009, uma população de aproximadamente 334000 alunos em
idade escolar. Este número representa um efectivo de 8550 professores para atender a esta população
(contando-se com 40 alunos por professor).
Para o efeito, conforme os padrões típicos de pessoal por escolas EP, as necessidades de quadros
adicionais foram calculadas em:
Formação de 2119 professores (já existentes e actualmente não formados),
Contratação de 4158 novos professores até 2009,
Contratação de técnicos administrativos e
Contratação de pessoal elementar para atender a estas propostas.
Prevê-se o crescimento actual da rede (12 % ao ano). Apresenta-se a seguir uma ideia das necessidades
de quadros adicionais por distrito, conforme tabela:

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CABO DELGADO

Tabela 27: Necessidades adicionais de quadros trazidas pelo PESE até 2009
Formação de Contratação População em
Distrito Actuais de Novos idade escolar
Professores Professores (6 a 12 anos)
168 411
ANCUABE 25,705
113 388
BALAMA 24,046
210 586
CHIURE 39,100
21 28
IBO 2,211
92 221
MACOMIA 15,546
46 125
MECUFI 8,600
47 72
MELUCO 6,499
94 248
MOCIMBOA DA PRAIA 16,450
343 127
MONTEPUEZ 26,273
149 291
MUEDA 20,414
86 218
MUIDUMBE 14,166
179 427
NAMUNO 29,260
87 215
NANGADE 13,549
37 228
PALMA 11,869
60 96
PEMBA-METUGE 12,426
336 331
PEMBA CIDADE 27,996
51 146
QUISSANGA 9,633
Total 2119 4158

A província de Cabo Delgado possui, através dos 3 Centros de Formação, a capacidade de uma
formação média de 500 professores por ano (representando no quinquénio 2500 professores). Com a
recomendação da abertura de mais um centro de formação de professores na região norte da província,
a formação passará a ser em média 700 professores por ano, ou seja 3500 professores no quinquénio.
Esta diferença de 800 professores poderia ser resolvida com a revisão do curriculum da formação de
professores visando a diminuição do tempo de formação de 2 anos e meio para 2 anos.
As implicações de mais pessoal técnico por distrito não deverá significar maiores problemas em termos
humanos, pois um efectivo de 4158 professores adicionais representaria a necessidade de 207 técnicos,
ou seja uma média de 1 técnico para cada 20 professores.

6.2 Implicações no material escolar


A quantidade de alunos prevista, 334 mil requer uma distribuição mínima de 1.002 mil livros escolares.
Para garantir a satisfação destas necessidades adicionais trazidas pelo investimento na rede, será
necessário, por um lado, monitorar a percentagem de livros que, ao nível do país, se destinam à
província de Cabo Delgado, e por outro lado, que a distribuição por distritos dentro da província
acompanhe as mudanças de exigências causadas pelo investimento na rede educacional.
Além dos livros escolares foi prevista a distribuição de material escolar extra, como material de
biblioteca para os alunos (visando o cultivo pela pesquisa e trabalhos em grupo) em cada sede de ZIP.
As 17 bibliotecas previstas deveriam comportar uma quantidade de 5000 livros, entre enciclopédias,
livros escolares, e livros de lazer.

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CABO DELGADO

Em todas as escolas Secundárias (31 escolas) deverá existir um laboratório, sendo portanto necessário a
previsão da distribuição de equipamentos de laboratório.

6.3 Implicações do investimento na manutenção de infra-estruturas


Um dos factores cruciais para a sustentabilidade dos investimentos é as despesas em manutenção
corrente. Nestas deverão ser previstas as infra-estruturas físicas, mobiliário fixo e equipamentos de
consumo.
No quinquénio este custo terá bastante peso no orçamento geral, em função dos materiais e
equipamentos necessários para as ampliações, novas construções e reabilitações propostas.
Em termos de meios, a Secção Provincial de Manutenção (SPM) da província deveria possuir
trabalhadores de nível elementar e básico desempenhando actividades de manutenção, e poder contar
com quadros técnicos médios ou superiores com capacidade de supervisão da área.
Em relação às infra-estruturas seria necessário a existência de um espaço fechado e de espaço coberto
para manutenção de veículos e mobiliário junto dos edifícios da DPE.
Com vista a manter o capital da rede educacional provincial será necessário: (a) reforçar a capacidade
existente de manutenção e potenciar a respectiva capacidade de absorção de fundos; (b) aumentar o
orçamento para bens e serviços para o efeito; e (c) explorar soluções alternativas de subcontratação de
alguns serviços de manutenção de infra-estruturas e equipamento.
Uma simples conta matemática nos indica que 900 escolas representam um valor considerável, o que
por si só justificaria a necessidade de uma área de controlo do património educacional da província.
Para manter o próprio capital em condições, a DPE deveria gastar entre 1,5 e 3,5% do valor actualizado
da rede.

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8.ASPECTOS A CONSIDERAR NA IMPLEMENTAÇÃO DO PLANO

Na implementação do Plano, a DPE deverá considerar diferentes aspectos que podem vir representar
uma limitação importante no plano. Ressalta-se alguns dos principais pontos que deveriam ser mais
monitorizados e acompanhados durante a implementação do plano. A análise feita das implicações das
intervenções do primeiro quinquénio do PESE sugere que o investimento proposto deveria, em
princípio, ser sustentável a médio e longo prazo em termos de recursos humanos, material escolar e
recursos financeiros para gastos correntes.

8.1 Recursos financeiros


É evidente que a disponibilidade de recursos financeiros será uma das principais limitações ao plano.
Porém não só os valores para os investimentos são importantes mas sim os recursos correntes para
manter a rede em funcionamento.

8.2 Recursos humanos


Os recursos humanos são de vital importância para o funcionamento do plano.
No que diz respeito à colocação de pessoal médio e superior, factores como o número de quadros a
serem formados na região norte, o nível pouco atractivo de salários oferecidos, junto com o
afastamento da capital provincial, tornam difícil a tarefa de satisfazer as necessidades destes quadros.
Visando à resolução desta questão, julga-se oportuno que a DPE de Cabo Delgado explore,
conjuntamente aos parceiros da província, as opções de bónus de instalação para os quadros de pessoal.
O desenvolvimento duma política de incentivos visando favorecer o pessoal das zonas rurais poderia
também facilitar a colocação de quadros nas zonas desfavorecidas do País. Estes incentivos terão que
ser dirigidos não só aos quadros de nível superior, mas também ao pessoal básico e elementar das EP1.
Também o sistema de incentivos terá que ter em conta duma vertente económica de tipo salarial, mas
também de aspectos como o da criação de condições de vida aceitáveis para o pessoal da educação das
zonas rurais e a formação contínua e progressão de carreira como retribuição pelo serviço
desempenhado em zonas pouco desenvolvidas e com menores possibilidades de desenvolvimento
pessoal. Através do investimento em casas de trabalhadores, o PESE visa também contribuir à criação
destas condições.
8.3 HIV/SIDA

As escolas tem um papel muito importante a desempenhar quanto a HIV/SIDA, já que é a partir da
formação de professores e do curriculum escolar que se poderá tentar manter a província com as
menores taxas do país. É necessário pensar em como adaptar o curriculum para se fazer a sensibilização
dos cuidados para se evitar contrair a doença, do estigma nos casos de seropositividade e do tratamento
a ser seguido no caso da doença.

É necessário que a DPE realize um trabalho de sensibilização junto aos professores, evitando-se a
SIDA entre os professores e desse modo criando-se um ambiente de manutenção do quadro técnico de
recursos humanos.

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Ligação com o PESE


O Plano, como consequência das directivas do PESE deve ser parte do Plano Estratégico provincial.
Sugere-se também que no processo de revisão e reformulação dos planos estratégicos futuros seja
realizada uma avaliação e o monitoramento da implementação do Plano, de maneira que este seja parte
dos instrumentos estratégicos utilizados pela DPE e se incorpore nas rotinas de planificação provincial.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

INE, IAF 1997, Census 1997


UNDP, Human Report.........
WHO, Nutrition and Health Results, Maputo, January, 2005
MISAU, Departamento de Nutrição, médias anuais do Indicador baixo peso ao nascer e de
crescimento insuficiente, Maputo, Fev, 2005.
MEC, Estatística da Educação, Aproveitamento Escolas, Maputo, Julho, 2004
MEC, Plano Estratégicoda Educação, draft, Maputo, 2005
MEC, Perfil da Educação de Cabo Delgado, Maputo, Março 2004
MEC, Brasil, Educação para todos, Brasil, 2004
MPD, Indicadores de Pobreza e Bem Estar, tabelas, Maputo, 2004
Proposta de Porgrama do Governo para 2005-2009, Maputo, Março 2005
PARPA, Plano de Acção de Reducção da Pobreza Absoluta, em revisão, Maputo, Março 2005
Arndt, Cahnning and others, Seasonality in calories consumption: evidence from Mozambique, 2005

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ANEXOS – MAPAS TEMÁTICOS

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