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DIMENSIONAMENTO DE ROTUNDAS
TEXTOS DIDÁCTICOS
3ª EDIÇÃO
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ÍNDICE
1 INTRODUÇÃO 3
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3.3.7 A EXPECTATIVA DO CONDUTOR FACE A SOLUÇÕES MULTIVIAS 20
3.4 ANEL DE CIRCULAÇÃO 21
3.5 ILHA CENTRAL 22
3.6 DIMENSIONAMENTO DAS SAÍDAS 23
3.7 ILHÉU SEPARADOR 23
3.8 DEFINIÇÃO DE BERMAS 24
3.9 INCLINAÇÕES LONGITUDINAIS 25
3.10 SOBREELEVAÇÃO 25
3.11 ORDENAMENTOS ESPECÍFICOS 26
3.11.1 VIAS SEGREGADAS DE VIRAGEM À DIREITA 26
3.11.2 PEÕES 26
3.11.3 ORDENAMENTOS PARA CICLISTAS 28
3.11.4 TRANSPORTES PÚBLICOS 28
3.12 ILUMINAÇÃO PÚBLICA 29
4 ESTIMAÇÃO DE CAPACIDADES 29
5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 41
1 INTRODUÇÃO
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instrumentos da planificação de expansões e revalorizações de cidades da Europa, América do
Norte e do Sul.
A função de gestão da circulação apenas lhe é atribuída em 1906, quando o arquitecto francês
Eugéne Henard, desenvolve o conceito de “circulação giratória” em torno de uma ilha central,
tornando-se assim no pioneiro da conjugação das questões urbanísticas com as de circulação.
Várias são as referências bibliográficas que consideram que, em Portugal, as primeiras concepções
geométricas do tipo rotunda foram construídas e integradas pelo Engenheiro Ressano Garcia, nos
planos de reconversão da cidade de Lisboa no final do século XIX, (rotundas do Marquês do
Pombal, Entre-Campos e Saldanha), muito antes que Henard tivesse tido oportunidade de construir
em 1907, aquelas que foram as primeiras rotundas francesas: Place de la Nation e de Charles de
Gaule em Paris.
A generalização da “regra de prioridade à direita” foi o principal motivo que levou ao abandono
por diversos países das rotundas como elemento de gestão da circulação durante a década de 20, na
medida em que o crescimento sistemático da taxa de motorização exigia cada vez maiores secções
de entrecuzamento para stockagem dos veículos em fila de espera, tendendo naturalmente para o
bloqueio geral das intersecções. Apenas em Inglaterra, onde essa regra não foi institucionalizada,
as rotundas continuaram a difundir-se, embora sob o princípio de “concepção de grandes
geometrias e longas zonas de entrecruzamento”.
Apenas na década de 50 foi definida em Inglaterra a regra de “prioridade a quem circula no anel”
tendo os benefícios resultantes quer ao nível da capacidade quer da segurança sido
incontestavelmente comprovados em trabalhos de investigação. A sua institucionalização em
Inglaterra, em 1967, impôs uma nova filosofia de concepção: procuravam-se então soluções
compactas que induzissem naturalmente os condutores a reduzir a sua velocidade de aproximação
e de atravessamento. Os excelentes resultados obtidos despertaram o interesse de outros países,
sendo que durante as duas ultimas décadas este tipo de intersecção se difundiu um pouco por toda
a Europa, Austrália e Nova Zelândia.
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2 ENQUADRAMENTO E APLICABILIDADE DAS ROTUNDAS
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2.3.1 Rotunda Normal e Rotunda Semi-galgável
2.3.1.2 Aplicabilidade
É o tipo de rotunda de uso mais generalizado, adaptando-se particularmente bem na resolução dos
pontos de conflito entre três ou mais ramos confluentes. Constituem soluções facilmente
percebidas pelo condutor mesmo que perante mais de 4 ramos, sendo mesmo nestas circunstâncias
uma excelente alternativa às intersecções prioritárias ou semaforizadas, nomeadamente sempre que
estas conduzam a soluções geometricamente complexas e por sua vez de difícil legibilidade.
Se a geometria adoptada for adequada tendem a apresentar níveis de capacidade semelhantes aos
oferecidos pelos cruzamentos semaforizados permitindo ainda um mais fácil tratamento das
viragens à esquerda e das inversões de marcha. São igualmente recomendáveis para remodelação
de cruzamentos de nível que apresentem problemas de funcionamento, segurança ou por vezes de
capacidade.
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Designa-se por diâmetro do círculo inscrito de uma entrada (DCI), o maior diâmetro que se consegue inscrever no interior da
rotunda (incluindo bermas) e que passe tangencialmente à delimitação da entrada em estudo. Refira-se que em rotundas não
circulares, tais como as ovóides ou alongadas, poderão apresentar diferentes DCI para cada entrada.
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2.3.2 Mini-Rotunda
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Apesar das suas reduzidas dimensões, estudos desenvolvidos em Inglaterra (Kimber, 1980)
comprovam que as mini-rotundas, desde que devidamente concebidas e adequadamente
localizadas, são geralmente seguras e asseguram significativos níveis de capacidade.
2.3.2.2 Aplicabilidade
Pelas suas dimensões e modo de funcionamento, a sua implantação deve ser limitada a locais com
reduzidos fluxos de tráfego e onde o volume de viragens à esquerda e de inversão de marcha,
sejam pouco significativos.
Pelo reduzido espaço que ocupam, as mini-rotundas, adaptam-se particularmente bem no
reordenamento de cruzamentos existentes com grandes restrições de espaço, sendo contudo de
evitar em novas ligações.
Por outro lado as mini-rotundas apresentam um tipo de funcionamento compatível com reduzidas
velocidades de circulação, recomendando-se mesmo a adopção de restrições físicas à infra-
estrutura, tais como medidas de acalmia de tráfego que imponham a prática de velocidades
inferiores a 40-50km/h nas vias de acesso. São igualmente de evitar em vias onde se privilegie a
função de circulação tais como as vias estruturantes urbanas e as vias inter-urbanas, sendo o seu
campo de aplicação limitado a ramais de acesso e a vias com a função principal de acesso.
Pelas dificuldades de contorno impostas aos veículos de maiores dimensões, a sua implantação
deve limitar-se a locais onde a presença de veículos pesados seja excepcionalmente reduzida. Daí
que a sua aplicação seja frequentemente recomendada para zonas residenciais, onde a mini-rotunda
possa funcionar como um instrumento de moderação da velocidade.
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ROTUNDA DUPLA INTERLIGADA POR UM VIADUTO CENTRAL
Esta solução apoia-se num viaduto central que interliga duas rotundas
compactas localizadas lateralmente em relação à faixa de rodagem da via
considerada prioritária (Fig. 6), as quais são responsáveis pelo
redireccionamento dos movimentos de mudança de direcção e do tráfego
proveniente das vias secundárias. Cuidados especiais deverão ser
conferidos ao dimensionamento dos acessos, não só no que concerne à sua
capacidade mas também à garantia dos diferentes critérios de visibilidade.
Apesar de contemplar a construção de duas rotundas compactas, esta
solução caracteriza-se pela existência de uma única obra de arte, pelo que Fig. 6- Rotunda desnivelada -
quer em termos económicos quer de ocupação espacial, poderá constituir solução com um viaduto
uma solução mais vantajosa do que a anterior.
2.3.3.2 Aplicabilidade
Adaptam-se particularmente bem na resolução de pontos de conflito entre vias, onde, pela sua
importância se pretende beneficiar determinado movimento direccional. Surgem assim
essencialmente inseridas em auto-estradas ou em vias arteriais, onde a sua importância funcional
justifique um investimento inicial vultuoso.
Podem constituir igualmente soluções economicamente rentáveis no ordenamento de cruzamentos,
sempre que uma das vias intersectadas surge em escavação ou em aterro.
2.3.4.2 Aplicabilidade
A complexidade geométrica e de funcionamento característica desta solução, está na base da
limitação da sua aplicabilidade a zonas urbanas ou peri-urbanas.
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Tornam-se particularmente úteis na resolução de problemas de capacidade de rotundas que
apresentem dificuldades de funcionamento em apenas alguns dos ramos afluentes ou que, na
presença de fortes oscilações horárias, justifiquem a sua activação em determinados períodos do
dia. Pode ainda justificar-se a sua semaforização por questões de segurança rodoviária,
nomeadamente pela necessidade de controlar as velocidades de circulação ou garantir a segurança
de alguns dos utilizadores mais vulneráveis da via pública.
2.3.5.2 Aplicabilidade
A sua invulgaridade e consequentemente a sua difícil legibilidade pelos condutores menos
habituais, condicionam a sua aplicação aos países mais familiarizados com o funcionamento das
intersecções giratórias.
As rotundas duplas adaptam-se particularmente bem a locais onde a utilização de uma rotunda
normal resultaria numa solução de grandes dimensões com elevada ocupação de espaço,
nomeadamente na resolução de conflitos entre vias sensivelmente paralelas ou em cruzamentos
desfasados. Resultam igualmente em excelentes soluções, sempre que se pretenda atenuar o efeito
das viragens à esquerda em determinadas entradas, já que se consegue uma diminuição do seu
tráfego conflituante.
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As rotundas dispostas em anel, pela sua invulgaridade e atendendo a que permitem a circulação
nos dois sentidos do anel, apenas devem ser utilizadas no tratamento de zonas que permitam
assegurar consideráveis distâncias entre os diferentes ramos afluentes e por sua vez um grande raio
da ilha central.
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Resultam ainda em excelentes soluções sempre que os fenómenos de ponta diária ou sazonal sejam
acentuados ou onde os espectros de crescimento são inconstantes ou difíceis de prever. A sua
flexibilidade funcional permite que, mesmo no limiar de saturação, a rotunda mantenha o seu
desempenho e absorva eventuais alterações à repartição direccional.
Elevados fluxos de tráfego pedonal ou de bicicletas poderão justificar a sua não adopção, ou a
eventual aplicação de medidas específicas que defendam esse tipo de utilizadores.
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Uma rotunda salienta de uma forma marcante descontinuidades ou transições de envolvência,
sendo frequentemente utilizada como instrumento de valorização urbana ou de criação de focos de
referência. Os arranjos paisagísticos típicos da sua ilha central tornam-na uma solução que para
além de funcional em termos de circulação, pode associar claros benefícios urbanísticos (Bovy
et.al, 1991). Parece incontestável que a sua fácil integração paisagística constitui um dos principais
factores que está na base da sua crescente popularidade. A redução de velocidade que lhe é
inerente, para além de as compatibilizar com os ambientes urbanos ou com zonas de velocidades
condicionadas, diminuem consideravelmente os índices de poluição ambiental e acústica derivados
essencialmente de fortes travagens e arranques bruscos.
2.5 PRINCIPAIS DESVANTAGENS DA SOLUÇÃO ROTUNDA
Apesar da sua flexibilidade e vasto domínio de aplicação, as rotundas não podem ser encaradas
como solução de uso generalizado. Com efeito, a sua adaptação às condições de circulação pode
exigir uma considerável ocupação de espaço, nem sempre fácil de disponibilizar em zonas de
ocupação consolidada.
A rotunda não permite estabelecer hierarquias viárias, pelo que não permite favorecer um
determinado movimento direccional ou modo de transporte, tais como os transportes públicos ou
veículos prioritários. A sua utilização como estratégia dissuasora a um determinado itinerário pode
não ser a medida mais eficaz, nomeadamente quando comparada com os sistemas semafóricos que
permitem ajustar tempos de espera e atrasos às condições reais de circulação. Contudo e pelos
atrasos que lhe são inerentes, a sua inserção sequencial em itinerários onde se pretenda promover a
rapidez e conforto de atravessamento é igualmente desaconselhável.
Quando inseridas em eixos coordenados por sistemas activos de regulação, constituem um ponto
de rotura no sistema impossível de controlar, pondo em causa a estratégia de coordenação de todo
o sistema. Da mesma forma, os sistemas urbanos de gestão integrada exigem um controlo activo
dos fluxos de entrada, através da aproximação em tempo real dos espectros da oferta aos da
procura, pelo que a inclusão de uma rotunda no sistema com funcionamento passivo, poderá
comprometer toda a estratégia de regulação.
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É ainda consensual seguir uma filosofia de concepção geométrica concordante com o princípio de
“dificultar as entradas e facilitar as saídas”, isto é, que penalize as velocidades de circulação à
entrada e garanta uma fácil e rápida saída dos veículos do interior da rotunda.
A integração de rotundas ou mini-rotundas em ordenamentos específicos como técnicas de acalmia
de tráfego poderão também resultar em soluções eficientes do ponto de vista da circulação e
segurança rodoviária, contribuindo significativamente para a amenidade de circulação e
promovendo eventualmente a compatibilização da utilização do espaço público pelos diferentes
modos de transporte e utilizadores da via pública (critério da “segurança e amenidade de
circulação”). Refira-se que estes tipos de medidas se têm revelado extremamente úteis em
reordenamentos de zonas onde esta compatibilização é normalmente desejável, nomeadamente em
zonas residenciais, centrais ou em atravessamentos de povoações.
Por outro lado, o desempenho de qualquer intersecção depende do seu modo de funcionamento
global, pelo que qualquer concepção geométrica deve ser devidamente adaptada às condições de
circulação locais, resultando assim em soluções fluidas e capazes de canalizar os diferentes
movimentos direccionais (critério da “maximização da capacidade”).
Este último critério de concepção é por vezes difícil de compatibilizar com o critério da
“segurança”, determinando frequentemente tendências contrárias de dimensionamento. Contudo,
considera-se indispensável que qualquer ordenamento geométrico assegure o critério da
“legibilidade”, dependendo a valorização diferenciada dos outros dois critérios de diversos
factores, nomeadamente do local de inserção.
Em zonas inter-urbanas, pela habitual disponibilidade de espaço, prevalece frequentemente o
critério da garantia dos níveis do conforto de condução e segurança rodoviária, sem se tornarem
relevantes as questões de capacidade. Nestas zonas e desde que salvaguardadas as condições
desejáveis de circulação, a adopção de geometrias bem delineadas que induzam os condutores a, de
uma forma natural, alterarem o seu comportamento e a reduzirem a velocidade, torna-se assim
determinante. A conveniente localização da ilha central e dos ilhéus deflectores ou mesmo a
utilização de conjugações de curvas durante a aproximação que imponham adequadas deflexões
dos movimentos poderão contribuir igualmente para a amenidade de circulação.
A maximização da capacidade como critério de dimensionamento prevalece normalmente em
zonas urbanas, nomeadamente em locais onde o ambiente envolvente já convida naturalmente o
condutor a moderar a velocidade de circulação e onde a necessidade de responder a elevados níveis
de procura, particularmente nos picos horários, se assume como relevante.
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3.3.1 Parâmetros Geométricos da Entrada
Deve procurar-se acrescer pelo menos mais uma via de entrada relativamente ao número de vias na
aproximação, desde que tal medida não resulte em entradas tangenciais ou em desnecessários
custos acrescidos.
O número de vias de entrada deve ser preferencialmente limitado a 3. Com efeito, um elevado
número de vias de entrada associa-se a dificuldades de legibilidade e a indecisões sobre o
comportamento a adoptar, resultando frequentemente em quebras de capacidade ou mesmo em
acidentes de pequena gravidade. Em vias 2x2 e perante uma procura de tráfego considerável
aceita-se pontualmente o seu acréscimo para 4 vias de entrada.
Em termos de largura efectiva2 recomenda-se a adopção de
valores compreendidos entre os 4 e os 12m, podendo em
situações excepcionais de procura, atingir os
15msubdivididos em 4 vias de entrada. A largura mínima
da(s) via(s) de entrada é determinada pelas exigências de
manobrabilidade dos veículos de maiores dimensões pelo
que não se recomenda a adopção de vias de largura inferior
a 3,0m (junto à linha de cedência de prioridade), sendo que
perante uma única via de entrada esse valor deve ser
Fig. 10 - Parâmetros geométricos da
aumentado para 4,0m. entrada
A inserção do veículo no anel de circulação, segundo ângulos
de incidência adequados, determina para além do conforto visual e de condução, a taxa de
sinistralidade e a gravidade dos acidentes por perda de controlo à entrada. Interessa adoptar
ângulos de entrada (φ) que associados aos ilhéus separadores e à geometria das bermas, canalizem
os veículos na aproximação e os insiram no anel de uma forma segura e cómoda. Ângulos de
entrada compreendidos entre os 20 e os 60º são normalmente satisfatórios, apontando-se
idealmente para valores de 30 a 40º.
Por sua vez a influência do raio de entrada (parâmetro r) revela-se fundamentalmente ao nível do
conforto de condução e da segurança rodoviária, pelo que quando assume valores elevados pode
resultar em soluções caracterizadas por deficientes deflexões dos movimentos e indesejáveis
velocidades de entrada no cruzamento. Quando assumem valores reduzidos podem impor drásticas
restrições à circulação de veículos pesados, pelo que idealmente se devem aproximar dos 20,0m.
Na forte presença de tráfego de pesados ou em vias inter-urbanas recomenda-se a adopção de raios
superiores a 15m, aceitando-se em zonas urbanas que esse valor possa baixar até aos 6m. O valor
máximo a adoptar depende da geometria da aproximação e das medidas complementares
eventualmente adoptadas, recomendando-se contudo a adopção de raios inferiores a 50,0m.
2
Considera-se a largura efectiva da entrada, a largura da entrada medida na perpendicular à concordância junto à linha de
cedência de prioridade, tal como representado na Fig. 10.
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Por sua vez, o FHWA (2000) recomenda a imposição de diferentes velocidades máximas de
entrada em função da tipologia da solução e do meio de inserção (ver Tabela 3.1):
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visibilidade à entrada e no anel (apresentado a seguir) asseguram cumulativamente as
indispensáveis condições de visibilidade do condutor junto à linha de cedência de prioridade.
3
Assume-se como trajectória de menor esforço, a trajectória que é possível traçar o mais a direito possível passando
tangencialmente (a 1m) aos elementos físicos restritivos e ignorando a existência de pinturas horizontais eventualmente
existentes.
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(boa) (má)
Fig. 15 - Deflexão dos movimentos
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Também a geometria das bermas assume um papel preponderante na orientação e canalização dos
movimentos, pelo que o exterior da rotunda e os ramos de aproximação devem ser materializados
por lancil por forma a impedir a adopção de comportamentos inadequados. por parte dos
condutores.
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movimento (R5) deve ser balizada pela velocidade máxima praticada nos restantes
movimentos, não devendo as diferenças exceder os 20 km/h em relação ao movimento
prioritário de contorno (R4).
A situação mais crítica relaciona-se com o controlo da velocidade de entrada, nomeadamente em
ambientes rodoviários que incentivem a prática de elevadas velocidades de aproximação. ARNDT
(2002) defende que a curvatura de entrada é um dos parâmetros geométricos mais importantes na
determinação da segurança da rotunda, já que condiciona a prática de velocidades inadequadas no
interior do anel.
A adopção de curvas e contracurvas na aproximação de raios sucessivamente mais reduzidos que
induzam reduções progressivas das velocidades, é considerado o processo mais adequado, embora
a adopção de medidas de acalmia de tráfego ou de equipamento complementar de segurança,
possa resultar igualmente em bons níveis de desempenho (ARNDT, 2002).
Outro ponto crítico situa-se no anel de circulação sempre que o raio de circulação no anel é
substancialmente inferior ao adoptado na curvatura de entrada, sendo este fenómeno
particularmente agravado na presença da sobreelevação orientada para o extradorso. A
minimização deste efeito pode obrigar à diminuição do raio de curvatura de entrada aliada a uma
adequada geometria de aproximação.
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atempadamente para negociar em segurança a curva consecutiva e perder o controlo do veículo ao
nível do anel de circulação.
A invasão da via adjacente, como forma de minimizar o esforço de condução, afecta o
desempenho geral da rotunda, reflectindo-se os problemas quer ao nível da segurança quer da
capacidade. A situação mais comum relaciona-se com o condutor que circula na via da direita e
opta por atravessar a direito o anel de circulação com plena invasão da via da esquerda, ou com os
condutores que, ao circularem pela via da esquerda nas imediações da saída, optam por abandoná-
la por invasão da via da direita (tal como apresentado em Erro! A origem da referência não foi
encontrada.).
A metodologia proposta pelo FHWA (2000) assenta, perante uma geometria pré-concebida, na
avaliação da homogeneidade do traçado associada à trajectória correcta de mínimo incómodo
(com respeito pela sinalização horizontal), aplicada aos movimentos das diferentes vias
disponibilizadas. Essa avaliação assenta no controlo da variação dos raios de curvatura associada
aos elementos geométricos consecutivos associados a essas trajectórias e, por consequência na
verificação da variação diferencial das correspondentes velocidades nos mesmos termos
enunciadas em Erro! A origem da referência não foi encontrada..
Em zonas urbanas o FHWA (2000) recomenda ainda que, sem prejuízo de eventuais restrições
locais, o raio da curvatura de entrada seja balizado entre os 30 e os 60 metros, enquanto que
perante meios inter-urbanos o raio de curvatura possa variar entre os 40 e os 80 metros.
4
Valores baseados em estudos desenvolvidos em Inglaterra (TD 16/93) e na Austrália (Austroads, 1993)
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NÚMERO DE VIAS DE CIRCULAÇÃO NO ANEL
UMA VIA DUAS VIAS TRÊS VIAS
Raio da Ilha Faixa de ocupação DCI Faixa de ocupação (1 veículo DCI Faixa de ocupação (1 veículo DCI
Central, (1 veículo (m) articulado + 1 veículo (m) articulado + 2 veículos ligeiros) (m)
incluindo articulado) fo (m) ligeiro) fo (m) fo (m)
berma
(Ri) (m)
3 10,0 28,0 --- --- --- ---
4 9,4 28,8 --- --- --- ---
5 8,9 29,8 --- --- --- ---
6 8,4 30,8 --- --- --- ---
7 8,0 32,0 11,9 39,8 --- ---
8 7,6 33,2 11,5 41,0 --- ---
9 7,3 34,6 11,2 42,4 --- ---
10 7,0 36,0 10,9 43,8 14,8 51,6
11 6,7 37,4 10,6 45,2 14,5 53,0
13 6,5 41,0 10,3 48,6 14,2 56,4
15 6,2 44,4 10,1 52,2 14,0 60,0
17 6,0 48,0 9,9 55,8 13,8 63,6
19 5,9 51,8 9,7 59,4 13,6 67,2
21 5,7 55,4 9,6 63,2 13,5 71,0
23 5,6 59,2 9,5 67,0 13,4 74,8
25 5,5 63,0 9,4 70,8 13,3 78,6
27 5,4 66,8 9,3 74,6 13,2 82,4
29 5,4 70,8 9,2 78,4 13,0 86,0
31 5,3 74,6 9,1 82,2 12,9 89,8
51 5,0 114,0 8,8 121,6 12,6 129,2
101 4,6 213,2 8,4 220,8 12,2 228,4
5
O valor mínimo recomendado para o DCI, inclui bermas de 1m no contorno exterior da rotunda.
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Ilhas centrais muito pequenas tornam-se visualmente pouco marcantes e por sua vez dificilmente
perceptíveis durante a aproximação, resultando frequentemente na sua invasão ou mesmo
transposição. Apresentam ainda deficientes condições de manobrabilidade, nomeadamente na forte
presença de veículos pesados ou de movimentos de viragens à esquerda. Por sua vez ilhas centrais
de grandes dimensões, para além dos elevados custos de ocupação do solo que exigem, estão
habitualmente associadas à prática de elevadas velocidades de atravessamento, apresentando
tendencialmente maiores índices de sinistralidade.
Assim, a dimensão da ilha central é definida em função do valor do DCI adoptado e da largura do
anel de circulação, recomendando-se em condições normais de tráfego a adopção de raios
compreendidos entre 2 e 30m. Em zonas urbanas recomenda-se a adopção de raios
preferencialmente inferiores a 20m, enquanto que por razões de manobrabilidade dos veículos de
maiores dimensões, sempre que a sua presença assuma uma importância significativa
(nomeadamente em zonas peri ou inter-urbanas), a ilha central deva assumir raios superiores a 8m.
23
3.7 ILHÉU SEPARADOR
A concepção geométrica da entrada e da saída deve ser sempre
acompanhada de um esforço complementar no sentido de
disponibilização de espaço para implantação de um ilhéu separador
materializado ou simplesmente pintado. Entre outras funções, cabe a
este ilhéu separar as correntes de tráfego, canalizar os movimentos
direccionais, servir de protecção pedonal e albergar a sinalização e
mobiliário urbano. Por assegurarem uma separação física entre os
fluxos de entrada e de saída, algumas referências bibliográficas,
atribuem-lhe ainda alguma influência ao nível da capacidade da
entrada.
Fig. 18 - Traçado do ilhéu
Sempre que o ilhéu esteja associado a travessias pedonais, recomenda- separador
se que o ilhéu separador seja prolongado até à localização da passadeira e garanta uma largura
mínima de 1,80m (com mínimo absoluto de 1,2m) na continuidade dessas travessias.
A sua concepção geométrica deverá assegurar a devida canalização
dos movimentos e orientar devidamente o veículo em relação à
posição da ilha central. Assim e na sua forma mais simples e em
particular onde se prevejam velocidades inferiores a 50km/h,
aceita-se que o ilhéu separador resulte do prolongamento da curva
que intersecta tangencialmente o eixo da via afluente e a
delimitação da ilha central, desde que não sejam criados
estrangulamentos ao nível da entrada (Fig. 18). Contudo e
idealmente dever-se-á garantir que a posição da ilha central esteja
Fig. 19 - Delimitação fisica do
ilhéu separador no encaminhamento de uma tangente ao ilhéu separador. A sua
delimitação física deve ser recuada de 0,5m em relação à guia de
sinalização horizontal (Fig. 19), recomendando-se que o afastamento na direcção do anel de
circulação não ultrapasse o 1,0 metro de largura, por forma a não incentivar o estacionamento
ilegal, podendo mesmo em situações excepcionais atingir os 0,5m.
O ordenamento resultante deve garantir a sua percepção longínqua, pelo que qualquer dos seus
lados deverá apresentar um comprimento superior a 2,5m e uma área fechada superior a 6 m2.
24
delimitadora da faixa de rodagem, quer do lado da berma
quer do separador central, nos termos apresentados na
Fig. 22.
A largura das bermas na rotunda e nos troços de
aproximação não deve ser excessiva, na medida em que
pode incitar à prática de estacionamento indevido.
Recomenda-se assim a adopção de bermas com 1,0 metro
de largura, aceitando-se que em casos excepcionais possa
Fig. 22 - Definição de passeios em zona
urbana, com supressão de bermas ser reduzida para 0,5 metros. Em zonas urbanas e perante
condicionalismos de espaço, aceita-se que em rotundas
menos importantes a berma seja totalmente suprimida (Fig. 22)
3.10 SOBREELEVAÇÃO
Os valores e orientação a facultar à sobreelevação do anel, devem resultar da valorização
diferenciada entre a garantia de uma boa percepção da intersecção, a drenagem das águas
superficiais e o conforto de condução.
É habitual considerar-se a adopção de inclinações transversais no anel de 2 a 2,5 %, sendo contudo
controverso o sentido da orientação a facultar-lhe. Inclinações transversais orientadas para o
extradorso tendem a melhorar as condições de percepção durante a aproximação, enquanto que
para o intradorso resultam num maior conforto e segurança de condução no anel, tanto mais
importante quanto maior a velocidade de base, na medida em que permitem contrariar o efeito da
força centrífuga.
Aceita-se assim que para valores reduzidos do raio e largura do anel e para locais de influência
urbana onde operam velocidades de circulação moderadas, os condutores estão dispostos a
suportar maiores desconfortos provocados pela aceleração centrífuga, recomendando-se uma
orientação para o exterior. Esta medida facilita quer a implantação e manutenção do sistema de
drenagem superficial, quer a percepção global e a concordância do anel de circulação aos
diferentes ramos afluentes.
Sempre que o anel disponibilize mais do que uma via de circulação ou sempre que as velocidades
praticadas atinjam valores superiores a 50km/h, justifica-se a adopção de medidas que contrariem
o efeito das forças centrífugas, pelo que se recomenda uma sobreelevação em forma de “V”
invertido, onde as vias interiores destinadas aos movimentos de ida em frente e viragem à esquerda
25
e portando associadas aos percursos mais extensos, sejam orientadas para o intradorso, enquanto
que a via exterior, maioritariamente destinada aos movimentos de viragem à direita seja voltada
para o extradorso.
26
3.11.2 Peões
A existência de um fluxo considerável de peões é
frequentemente apontada como um critério para a não
aplicabilidade das rotundas.
Os circuitos pedonais associados às rotundas são
habitualmente pouco cativantes, impondo contornos
obrigatórios e consequentemente extensos percursos (Fig. 24).
Por razões de segurança e do desempenho da rotunda, deve
evitar-se a localização das travessias pedonais junto à
delimitação do anel e os atravessamentos do anel de circulação
por transposição da ilha central, apesar de intuitivos,
consideram-se inadmissíveis. Deve assim contrariar-se esta Fig. 24 - Os circuitos pedonais
tendência, através da utilização de revestimentos incómodos à
circulação pedonal (relva, arbustos, agregado solto, etc) e recorrendo se necessário à vedação
física.
Por outro lado a atractividade dos circuitos, depende não só da sua extensão mas da sua
continuidade e integração paisagística. Devem, assim conceber-se circuitos fáceis de identificar
pelo peão e que mediante arranjos paisagísticos adequados encaminhem naturalmente os peões
para as travessias das correntes de tráfego formalizadas.
O tipo de travessias a disponibilizar deve ser estabelecido em função da hierarquização funcional
da via atravessada, afectando por sua vez esta escolha a regra a adoptar na identificação da sua
localização.
Para minimizar as interferências no normal funcionamento da rotunda, as passadeiras, com
prioridade ao peão, devem estar localizadas entre 10 e 15m da delimitação do anel. A
disponibilização de um separador central ou de um ilhéu separador com dimensões adequadas é
contudo desejável sempre que não se pretenda atribuir formalmente a prioridade ao peão, servindo
como refúgio protector e permitindo o atravessamento em duas fases.
Em vias 2x2, é igualmente admissível a adopção de passadeiras pedonais de nível, excepto se
integradas em vias onde não se consigam assegurar as devidas condições de segurança
(nomeadamente a disponibilização de espaço para a implantação de um refúgio central
materializado), podendo-se nestes casos recorrer quer ao desnivelamento quer a sistemas regulados
por sinalização semafórica. Atendendo a que a exposição ao risco é neste tipo de perfis
transversais consideravelmente acrescida, a adopção de passadeiras de nível com prioridade ao
peão, apenas se considera viável se implantados ilhéus separadores fisicamente materializados que
permitam o atravessamento pedonal em duas fases. Em perfis 3x3, o comprimento de exposição ao
risco é consideravelmente acrescido, pelo que não se considera admissível a adopção de
passadeiras de nível com atribuição formal de prioridade ao peão. Nestas circunstâncias deverá ser
avaliada a possibilidade de reencaminhamento dos circuitos pedonais, semaforização da travessia
ou mesmo o seu desnivelamento.
O recurso a sistemas de controle semafórico ou mesmo o desnivelamento das travessias, poderá
ainda em qualquer caso, justificar-se em função das características e dos fluxos pedonais e dos
veículos envolvidos, ou da representatividade dos utilizadores mais vulneráveis, tais como
crianças, idosos ou pessoas com dificuldades de locomoção. Na presença de travessias
semaforizadas, a sua programação deve procurar minimizar os efeitos na capacidades das entradas
e as demoras dos veículos e peões. O controle deverá ser preferencialmente por actuação e por
fases, devendo a travessia ser localizada por forma a evitar que a stockagem dos veículos provoque
o bloqueio geral da rotunda ou que a presença dos semáforos possa ser erroneamente relacionada
27
com o sistema de controlo da rotunda. A garantia dos critérios de visibilidade torna-se
indispensável, recomendando-se afastar a travessia da delimitação do anel de circulação, de uma
distância mínima de 20m. O recurso a travessias desfasadas torna-se igualmente viável, tornando-
se neste caso a aplicação de vedações ou barreiras físicas, indispensável.
Os desnivelamentos, pelos custos de investimento e desconforto que quase sempre envolvem, são
apenas recomendáveis em circunstâncias excepcionais nomeadamente sempre que a função
hierárquica da via intersectada o justifique ou a orografia do terreno o facilite.
28
sobre o funcionamento global da rotunda. Preferencialmente e sempre que exista disponibilidade
de espaço e tal seja integrado na lógica global de funcionamento da rotunda, a paragem deve ser
prolongada até à linha de cedência de prioridade, funcionando como uma via complementar de
inserção.
Na presença de fortes fluxos de veículos ou de frequência do TP, devem prever-se paragens
segregadas da via de circulação, utilizando-se para tal um
ilhéu separador com dimensões adequadas a definir com Fig. 26 - Corredor BUS associado a
base nas funções que lhe são atribuídas. uma via de entrada na rotunda
29
4 ESTIMAÇÃO DE CAPACIDADES
Q j = ∑ qij j=1,....,n
i
∑Q = ∑Q '
i
i
j
j (2)
verifica-se que de (1) resultam 2n equações independentes, o que reduz a n2 o número de variáveis
a medir. Dado que os débitos direccionais em rotundas são os movimentos mais difíceis de
observar é habitual optar-se pelo registo dos débitos exteriores (de entrada e de saída) com recurso
a contagens manuais ou automáticas aos quais correspondem (2n-1) variáveis independentes. O
processo de recolha é colmatado com a leitura de matrículas em (n-1) ramos (entradas e saídas) o
que permite contabilizar as restantes (n-1)2 variáveis a definir. A Fig. 28 representa matricialmente
as variáveis a medir e o processo de medição para o caso geral de uma rotunda com n ramos de
entrada:
30
1 2 ... n-1 n S
1 q11 q12 q1(n-1) Q1n Q1 Qi/Qj Contagem automática ou manual
2 q21 q22 q2(n-1) q2n Q2
... ... Q’i/j Contagem e registo de matrículas
Este processo apesar de expedito, baseia-se no registo de matrículas, processo este habitualmente
apoiado por gravações áudio e portanto sujeito a erros significativos de dicção ou mesmo de
interpretação. Trata-se ainda de um procedimento onde na eventualidade de ocorrência de um
acidente de recolha de dados (quebra da fita áudio, falha de pilhas, regravação de uma cassete, etc)
põe em causa toda a secção de registo.
Estes erros em conjugação com outros erros comuns, nomeadamente os originados por diferentes
conceitos de classes de veículos por parte de cada observador, repercutem-se na qualidade dos
dados finais, sendo que a resolução do sistema de equações anteriormente definido pode resultar
em dados irreais. É assim importante neste tipo de sessões de contagens e inquéritos registar um ou
mais movimentos direccionais redundantes que permitam aferir os fluxos resultantes do processo
matemático.
INCLINAÇÃO
Classe de Veículo -4% -2% 0% 2% 4%
2 rodas 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7
Ligeiros 0.8 0.9 1.0 1.2 1.4
Pesados e BUS 1.2 1.5 2.0 3.0 6.0
31
4.4 MÉTODOS DE CÁLCULO DE CAPACIDADES
Considera-se habitualmente a existência de três tipos de modelos de estimação de capacidades: os
estatísticos, os probabilísticos e os de simulação.
Os ESTATÍSTICOS, que procuram reconstituir de uma forma empírica a curva da capacidade, por
recurso a observações locais efectuadas durante períodos de saturação de diferentes entradas com
características geométricas diferenciadas e para níveis de fluxos prioritários variados.
Os PROBABILÍSTICOS, baseados na conjugação da distribuição dos veículos da corrente prioritária
com o processo de chegada das vias secundárias, assumindo que ambas as distribuições obedecem
a leis de aleatoriedade e assumindo uma determinada lei de aceitação de intervalos entre veículos.
Os de SIMULAÇÃO são baseados na modelação, veículo a veículo, das interacções entre o fluxo de
entrada e o prioritário do anel de circulação apresentando-se de forma geral em sofisticados
programas computacionais.
Qe = K ( F − f c * Qc ) se f c × Qc < F ou,
Qe = 0 se f c × Qc > F
onde:
Qe é a capacidade da entrada
Qc, é o fluxo conflituante aqui considerado como o tráfego de circulação no anel em frente à entrada;
F e fc são parâmetros dependentes das características geométricas da entrada e da rotunda, tal que:
K = 1 − 0.00347(φ − 30) − 0.978{(1 / r ) − 0.05}
F = 303 X 2
f c = 0.21t p (1 + 0.2 X 2 )
t p = 1 + 0.5 / (1 + M )
M = exp{( DCI − 60) / 10}
X 2 = v + ( e − v ) / (1 + 2 S )
S = 16
. (e − v ) / l '
32
É ainda apresentada uma variante ao modelo, adaptada à previsão de capacidades em rotundas
desniveladas:
Q e = K (1.11F − 1.4 f c * Q c ) onde o significado das diferentes variáveis é o mesmo do
apresentado anteriormente.
Qualquer uma das duas formulações é composta por duas componentes fundamentais: a primeira
representativa do peso das características geométricas e a segunda do peso do tráfego conflituante.
Refira-se que se se considerar a situação particular de Qc=0, ou seja a inexistência de qualquer
tráfego conflituante prioritário, a segunda componente da formulação anula-se, obtendo-se a
habitualmente designada de capacidade geométrica como a correspondente à capacidade máxima
da entrada sujeita unicamente à influência das características geométricas da intersecção.
33
observada (ordenadas na origem), enquanto que o modelo do SETRA, é o que melhor representa a
importância do tráfego conflituante (inclinação das rectas).
A partir destas conclusões desenvolveu-se um modelo baseado na estrutura do modelo do TRL-UK
(Kimber, 1980). Este foi calibrado com base nos dados registados em 11 entradas de 8 rotundas
nacionais, 4 das quais (correspondentes a 6 entradas) localizadas em zona urbana e 4 (com 5
entradas) em zona peri-urbana, totalizando 952 minutos de observações, e através do qual se
explica 61,7% da variância observada. Deverá ter-se no entanto em atenção que o conjunto de
entradas estudadas representa numa amostra de dimensão reduzida particularmente ao nível dos
parâmetros geométricos, pelo que os resultados obtidos deverão ser encarados com alguma
precaução. A formulação resultante é a seguinte:
Qe = K ( F − f c* * Qc ) ,
com:
⎧1 ⎫
K = 1 − 0.00163(φ − 30) − 3.431⎨ − 0.05⎬
⎩r ⎭
F = 335.47 X 2
f c = 0.611 * t d (−0.457 + 0.2 X 2 )
0.983
td = 1 +
(1 + M )
M = exp{( DCI − 60) / 10}
X 2 = v + (e − v ) / (1 + 2 S )
S = 16
. (e − v ) / l '
34
Atendendo a que a capacidade da entrada em cada ramo é uma função do fluxo prioritário
conflituante e que por sua vez, este é uma função dos fluxos de entrada dos ramos precedentes, a
estimativa da capacidade de cada entrada depende do processo de convergência iterativa.
Em termos práticos o processo desenrola-se assumindo, numa primeira iteração, que não existem
no interior nem afluem à rotunda quaisquer veículos pelo que a capacidade de uma entrada
arbitrária, de acordo com a Equação 1, é equivalente à capacidade geométrica. Seguindo o sentido
de circulação, a capacidade da entrada consecutiva será uma função dos seus parâmetros
geométricos e do fluxo conflituante resultante do fluxo efectivamente inserido na entrada anterior
(correspondente ao menor dos valores: capacidade ou fluxo de chegada).
Este procedimento embora possa ser executado manualmente, encontra-se integrado no programa
de cálculo automático ARCADY, desenvolvido pelo TRL.
35
ESQUEMA RELAÇÕES ENTRE GEOMETRIA E VALORES DE CAPACIDADE
36
Tabela 5 – Níveis de Capacidade (cont.)
Da análise dos valores apresentados na Tabela 6, constata-se que uma entrada sem leque de uma
rotunda normal, com uma única via de entrada, apresenta uma capacidade de cerca de 1345 uve/h
subindo para 1835 quando um leque com 12m de comprimento permita a formação de 2 vias de
entrada (aumento de 37%) e para 2365 na presença de 2 vias de entrada contínuas (aumento de
76%). Por sua vez as mini-rotundas com uma única via de entrada e apesar das suas reduzidas
dimensões, revelam-se extremamente eficazes ao nível da fluidez assegurando capacidades na
ordem dos 1255 uve/h por entrada.
Por outro lado, constata-se que uma rotunda normal, constituída por entradas com uma única via é
capaz de assegurar capacidades globais na ordem dos 3250 uvle/, subindo para 3930, quando
providas de um leque com 12m que lhes permita a formação de duas vias de entrada. Por sua vez
uma rotunda de grandes dimensões com duas vias de entrada, assegura valores de capacidade
global na ordem dos 5010 uvle/h, subindo para 5450, se providas de um curto leque com 15m de
comprimento, que permita a formação três de vias de entrada.
Da utilização do modelo, pode ainda concluir-se que o aumento da dimensão global da rotunda
(DCI) não se traduz num aumento significativo dos valores de capacidade. Refira-se a título de
exemplo que o aumento numa rotunda normal do valor do DCI de 30 para 50m, se reverte no
aumento de cerca de 4% da capacidade geométrica (65 uvl/h em 1770 uvle/h) e de 5% na
capacidade global (200 uvl/h em 3730 uvle/h).
37
determinantes ao processo de decisão por parte do condutor na selecção do itinerário a adoptar,
pelo que a avaliação destes indicadores assume igualmente importância ao nível do Planeamento
dos Transportes. A sua previsão constitui ainda um elemento preponderante ao dimensionamento
da infra-estrutura rodoviária, nomeadamente na definição dos comprimentos a disponibilizar para a
stockagem dos veículos em fila de espera.
A determinação do tempo de espera resulta da avaliação dos atrasos impostos pela geração de filas
de espera e pelo nível de serviço da corrente não prioritária e nas quais se distinguem claramente
duas situações:
- Condições de circulação em regime permanente e aquém da saturação para as quais são
desenvolvidos modelos baseados na teoria das filas de espera aplicada a condições de
estacionárias no tempo;
- Condições de sobresaturação em que são válidas aproximações do tipo determinístico, já que
se admite que os veículos chegam e partem em intervalos de tempo constante.
Estas situações são habitualmente suportadas por teorias convencionais, a ESTACIONÁRIA no
primeiro caso e a DETERMINÍSTICA no segundo, sendo que ambas se têm revelado insatisfatórias na
previsão dos atrasos no limiar do período de saturação.
Com efeito e apesar de ser largamente utilizada, a teoria estacionária (vulgarmente designada de
“steady-state”) prevê a procura constante no tempo e aponta para a ocorrência de filas de espera
infinitas assim que a procura atinge o valor da capacidade (rácios procura/capacidade (ρ) ≅ 1), não
tendo portanto aplicabilidade quando a procura excede o potencial de atendimento disponível. Na
realidade, e à medida que a procura se aproxima da capacidade ou eventualmente a excede por
curtos períodos de tempo a formação de fila de espera permanecerá aquém da prevista pela teoria
estacionária
Por sua vez a teoria determinística despreza o efeito estocástico dos processos de formação de
filas, admitindo que chegam e partem em intervalos de tempo constantes e apenas prevê a geração
de filas depois de atingida a saturação, considerando os atrasos nulos abaixo desse limiar. Refira-se
que perante o fenómeno aleatório dos processos de chegada dos veículos, existe sempre uma
probabilidade finita de formação de fila de espera, antes de atingido o limiar de saturação.
Para ultrapassar estas limitações surgiram as teorias TRANSIENTES (Kimber, et al, 1979),
particularmente adaptadas à modelação dos picos horários e onde a procura, capacidade e por sua
vez a formação de filas de espera varia ao longo do tempo e que tem em conta a natureza aleatória
do tráfego.
D
Características Geométricas 38
entradas:
D= 70,0m
C
1 – Cálculo do tráfego conflituante com cada uma das entradas
B
QcA= QDB+ QDC+ QCB+= 1300+200+300= 1800 uvle/h
QcB= QAC+ QAD+ QDC+= 150+50+200= 400 uvle/h C
QcC= QBD+ QBA+ QAD+= 100+100+50= 250 uvle/h
QcD= QCA+ QCB+ QBA+= 600+300+100= 1000 uvle/h A
D
2 – Cálculo da capacidade de cada entrada e os respectivos graus de saturação, segundo o
modelo do TRL
Formulação
Qe = K ( F − f c * Qc ) ,
40
Dado que o Fluxo de chegada=1800> capacidade da entrada(QB), estamos perante uma entrada
congestionada e consequentemente da formação de fila de espera. O número de veículos que se
consegue inserir no interior da rotunda é agora dado pelo valor da capacidade, repartido
proporcionalmente pelos diferentes movimentos direccionais:
QDA=300/1800*1533=260; QDB= 1300/1800*1533=1104; QDC=200/1800*1533=169 uvle/h
ENTRADA A:
Neste momento todas as entradas contribuem para o fluxo no interior da rotunda e
consequentemente para o fluxo conflituante da entrada A:
QcA= QDB+ QDC+ QCB+= 1104+169+300= 1573 uvle/h e a capacidade da entrada:
Q A = 0.990 ( 2121 − 0.572 * 1573) = 1209
como QA>Fluxo Chegada = 400, mais uma vez todos os veículos que atingem a entrada A
conseguem inserir-se no interior da rotunda, repartindo-se pelos diferentes movimentos
direccionais proporcionalmente à distribuição lateral inicialmente registada:
QAB=50; QAC= 150; QAD=200 uvle/h
Volta-se assim novamente à entrada B. O processo iterativo continuaria até se atingir a
convergência.
RESULTADO FINAL
Graus de saturação
400
FRC A = = 0,33 < 0,85
1209
300
FRC B = = 0,16«0,85
1890
1000
FRC C = = 0,51 < 0,85
1958
1800
FRC D = = 1,17 > 0,85
1533
SOLUÇÃO PROPOSTA
Aumentar a largura de entrada da entrada D, por forma a permitir 3 vias de entrada, bem como a
criação de leque:
e=10,0m K=0,99 F=2809,6 QD=2118
l’=30,0m S=0,16 tp=1,134
FRCD=0,85
r=50,0m X2=9,27 fc=0,68
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5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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