Você está na página 1de 126

FACULDADE DO VALE DO IPOJUCA - FAVIP

ENGENHARIA CIVIL

DISCIPLINA: MECÂNICA DOS SOLOS II


PROFESSORA: MARILIA MARY

ESTABILIDADE DE TALUDES E
OBRAS DE CONTENÇÃO
ÍNDICE

CAPÍTULO 1. MOVIMENTOS DE MASSA: CLASSIFICAÇÃO E MECANISMOS 1


1.1. Ocorrência e importância 1
1.2. Terminologia e classificação dos movimentos de massa 3
1.2.1. Características dos movimentos de massa 3
1.2.2. Velocidade dos movimentos de massa 7
1.2.3. Classificação dos movimentos de massa 8
1.2.4. Descrição geral dos tipos de movimentos de massa 13
1.3. Caracterização geotécnica e avaliação do risco associado a movimentos de massa 18
1.4. Mecanismos / processos em movimentos de massa 23
1.5. Fatores agravantes ou acionantes relativo a água em encostas 26
1.5.1. Influência da chuva na deflagração dos movimentos de massa 27
1.5.2. Influência das águas antrópicas na deflagração dos movimentos de massa 29
1.6. Influência da cobertura vegetal nos movimentos de massa 30

CAPÍTULO 2. MÉTODOS DE INVESTIGAÇÃO RELACIONADOS A 32


MOVIMENTOS DE MASSA
2.1. Aspectos gerais 32
2.2. Etapas de investigação geológico-geotécnicas destinadas a estabilidade de encostas 32
2.2.1. Levantamento de dados preexistentes 33
2.2.2. Investigação de superfície 34
2.2.3. Investigação de subsuperfície 34
2.2.4. Instrumentação 35
2.2.5. Ensaios de laboratório e “in situ” 36

CAPÍTULO 3. ANÁLISE DE ESTABILIDADE 38


3.1. Aspectos gerais / definição 38
3.2. Aspectos a serem considerados numa análise de estabilidade 40
3.2.1. Condição de resistência ao cisalhamento drenada e não drenada 40
3.2.2. Tempo crítico para análise do fator de segurança 42
3.2.3. Análise em termos de tensões totais e efetivas 44
3.3. Formulação básica do tipo equilíbrio limite para cálculo do fator de segurança 45
3.3.1. Modelo de análise 46
3.4. Métodos de análise de estabilidade 48
3.4.1. Método do momento (φ = 0) 49
3.4.2. Método do talude infinito 50
3.4.3. Método de Fellenius 53
3.4.4. Método de Bishop Modificado 54
3.4.5. Método de Spencer 56
3.4.6. Método de Janbu 59
3.5. Etapas para o cálculo operacional 61
3.6. Análise de estabilidade tridimensional 61
3.7. Comparação geral entre os métodos de análise 63

CAPÍTULO 4. PROCESSOS DE TRANSPORTE DE MASSA – EROSÃO 65


4.1. Aspectos gerais 65
4.2. Processos da dinâmica superficial 65
4.3. Erosão e seus efeitos nos recursos naturais 67
4.4. Classificação da erosão 68
4.5. Tipos de erosão hídrica 69
4.5.1. Erosão pluvial 69
4.5.2. Erosão laminar 70
4.5.3. Erosão linear 70
4.5.3.1. Sulcos 71
4.5.3.2. Ravinas 71
4.5.3.3. Voçorocas 71
4.6. Fatores condicionantes da erosão hídrica 72
4.7. Formas de uso e ocupação e os principais problemas associados aos processos 74
erosivos
4.8. Erosão urbana 75
4.8.1. Controle da erosão em áreas urbanas 76
4.8.2. Controle de ravinas e voçorocas 77
4.9. Ensaios de erodibilidade 78
4.9.1. Ensaio de dispersão 78
4.9.2. Ensaio de dispersão rápida 79
4.9.3. Ensaio de desagregação 79
4.9.4. Ensaio de furo de agulha 80
4.9.5. Ensaio de Inderbitzen 81

CAPÍTULO 5. MÉTODOS DE ESTABILIZAÇÃO 82


5.1. Aspectos gerais 82
5.2 Critérios para escolha da solução de estabilização 84
5.3 Estabilização em solo 85
5.3.1. Estabilização das erosões 91
5.4 Estabilização em rocha 91

CAPITULO 6. EXEMPLOS DE CASOS 93


6.1. Introdução 93
6.2 Caso 1:Ruptura de um talude em solos residuais de gnaisse 93
6.3. Caso 2: Erosão em encostas - Horto de Dois Irmãos 102
6.4. Caso 3: Movimento de massa em encosta com ocupação desordenada – proposta de 110
estabilização

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 117


CAPÍTULO 1

MOVIMENTOS DE MASSA: CLASSIFICAÇÕES E MECANISMOS

1.1 OCORRÊNCIA E IMPORTÂNCIA

Os movimentos de massa têm sido objeto de amplos estudos nas mais diversas latitudes,
não apenas por sua importância como agentes atuantes na evolução das formas de
relevo, mas também em função de suas implicações práticas e de sua importância do
ponto de vista econômico e social. A análise e o controle de instabilizações de encostas
tem seu amplo desenvolvimento com as grandes obras civis modernas, em paralelo à
consolidação da Engenharia e da Geologia de Engenharia. O estudo dos movimentos de
massa podem ser relacionados a (Figura 1.1):

a) Taludes naturais / taludes de cortes: através da construção e/ou recuperação de obras


civis tais como, rodovias, ferrovias e ocupação de morros urbanos;
b) Escavações: através da construção de canais e fundações em geral;
c) Aterro sobre solos moles: através da construção de estradas, rodovias e urbanização
de áreas;
d) Barragens: relacionado a estabilidade durante a construção, com o reservatório cheio
e rebaixamento rápido do reservatório.

(a) (b)

(c) (d)

Figura 1.1. Estudo de movimentos de massa. (a) Taludes naturais (b) Escavações (c)
Aterro sobre solos moles (d) Barragens.

Movimentos de massa já vêm sendo relatados há vários séculos na Ásia e na Europa. O


primeiro deslizamento de que se tem notícia ocorreu na Província de Honan localizada
na China no ano de 1767 provocado por um terremoto (Xue-Cai & Na-ning, 1986, a
partir de Schuster, 1996). Desde então vários são os relatos de deslizamentos ocorridos
em todo o mundo até os dias atuais, geralmente seguidos por relatos de perdas humanas

1
e econômicas. Como exemplo de perdas humanas significativas escolhemos a China, já
que este país junto com o Japão é provavelmente o que mais sofre com fatalidades
decorrentes de deslizamentos de massa. A Tabela 1 indica o número de vítimas de
deslizamentos ocorridos no período de 1917 a 1987. Pode-se observar na Tabela 1 os
diferentes tipos de ruptura ocorridas, como os deslizamentos de rocha, “debris” e loess,
corridas de “debris”, etc.; chamando-se a atenção para o deslizamento de loess ocorrido
na província de Ningxia em 1920, por virtude de um terremoto, o que acarretou a morte
de 100.000 pessoas.

Tabela 1. Deslizamentos ocorridos na China no período de 1917 a 1987 (Leroueil,


2001).

Ano Província Área afetada Tipo de ruptura Mortes


1917 Yunnan Daguan Deslizamento de rocha 1800
Deslizamento de loss induzido por
1920 Ningxia Haiyuan 100000
terremoto
1935 Sichuan Huili Deslizamento de rocha e “debris” 250
1965 Yunnan Luguan Deslizamento de rocha 444
1966 Gansu Lanzhou Deslizamento e corrida de “debris” 134
1972 Sichuan Lugu Deslizamento de rocha e “debris” 123
1965 Yunnan Luguan Deslizamento de rocha 444
1966 Gansu Lanzhou Deslizamento e corrida de “debris” 134
1972 Sichuan Lugu Deslizamento de rocha e “debris” 123
1974 Sichuan Nanjiang Deslizamento 195
1975 Gansu Zhuanglong Deslizamento de loess 500
1979 Sichuan Yaan Corrida de “debris” 114
1980 Hubei Yuanan Deslizamento de rocha e avalanche 284
1984 Yunnan Yinmin Corrida de “debris” 121
1984 Sichuan Guanlue Corrida de “debris” 300
1987 Sichuan Wushan Avalanche de rocha 102

De acordo com Schuster (1996), as perdas econômicas associadas a deslizamentos de


massa são de cerca de US$ 4.5 bilhões por ano no Japão, US$ 2.6 bilhões por ano na
Itália, US$ 2 bilhões nos Estados Unidos e US$ 1.5 bilhões na Índia. Hutchinson (1995)
(a partir de Leroueil, 2001) afirma que estas perdas representam cerca de 1 a 2% da
produção nacional em vários países desenvolvidos. Schuster (1996) afirma que a
atividade dos movimentos de massa está aumentando e esta tendência é esperada
continuar no Século 21, em conseqüência do aumento da urbanização e
desenvolvimento em áreas sujeitas a movimentos de massa; desmatamentos em áreas
também sujeitas a movimentos de massa e ao aumento das precipitações regionais
causadas por mudanças nos padrões climáticos. Sendo assim, fica evidente a
necessidade de intervenções por parte dos governos, do meio técnico, do meio científico
e das comunidades na prevenção de desastres referentes a movimentos de massa.

2
1.2 TERMINOLOGIA E CLASSIFICAÇÃO DOS MOVIMENTOS DE MASSA

1.2.1 Características dos movimentos de massa

O International Geotechnical Societies’ UNESCO Working Party on World Landslide


Inventory (WP/WLI) tem informalmente definido um deslizamento como um
movimento de massa que pode ser de rocha, debris ou solo encosta abaixo (Cruden,
1991).

Uma descrição mais detalhada das características morfológicas de um movimento foi


idealizada por Varnes (1978) onde a Figura 1.2 ilustra as características de um
movimento de massa classificado como um escorregamento de solo – escoamento de
solo. O WP/WLI (1990) apresentou um diagrama representado na Figura 1.3, onde as
várias características de um deslizamento são identificadas por números e detalhadas na
Tabela 1.1.

Figura 1.2. Termos descrevendo a morfologia de um deslizamento (Varnes, 1978).

Figura 1.3. Características de um movimento de massa (IAEG, 1990).

3
Fell et al. (2000) apresenta na Figura 1.4 de forma simplificada os componentes do
percurso de um deslizamento, onde se destaca a origem do deslizamento, caracterizado
pelo espaço entre a superfície de ruptura e a superfície original do terreno; o percurso do
movimento caracterizado pelo caminho percorrido pela massa de solo em movimento; e
o depósito caracterizado pela zona de acumulação do material proveniente do
movimento. A Figura 1.5 define a distância percorrida (L) e o ângulo de inclinação do
movimento (φa). O WP/WLI (1990) e IAEG (1990) também utilizam a nomenclatura
descrita anteriormente (Figura 1.3 e Tabela 1.2) para a definição de algumas dimensões
de um deslizamento ilustrado na Figura 1.6 e na Tabela 1.3.

Figura 1.4. Componentes do percurso de um deslizamento (Fell et al., 2000).

Figura 1.5. Definição da distância percorrida (L) e o ângulo de inclinação do


movimento (φa) (Fell et al., 2000).

4
Tabela 1.2. Definição da geometria de um deslizamento (IAEG, 1990).

NÚMERO NOME DEFINIÇÃO


1 Parte superior do talude Material praticamente não movimentado adjacente à parte
(coroa) mais alta da escarpa principal
2 Escarpa principal Superfície íngreme do terreno intacto à banda superior do
deslizamento causado pelo movimento do material
deslocado (13, área pontilhada) fora do terreno intacto; é a
parte visível da superfície de ruptura (10)
3 Topo Ponto mais alto do contato entre o material deslocado (13) e
a escarpa principal (2)
4 Cabeça Parte superior do deslizamento ao longo do contato entre o
material deslocado e a escarpa principal
5 Escarpa secundária Superfície íngreme no material deslocado do deslizamento,
produzida por movimentos diferenciais dentro do material
deslocado
6 Corpo principal Parte do material deslocado do deslizamento que fica sobre a
superfície de ruptura entre a escarpa principal (2) e o pé da
superfície de ruptura (11)
7 Pé do talude Porção do deslizamento que se deslocou além da base da
superfície de ruptura (11) permanecendo sobre a superfície
original do terreno (20)
8 Ponta Ponto na base (9) mais distante do topo (3) do deslizamento
9 Base Usualmente apresenta margem curva do material deslocado
no deslizamento mais distante da escarpa principal (2)
10 Superfície de ruptura Superfície que forma o limite mais baixo do material
deslocado (13) abaixo da superfície original do terreno (20)
11 Base da superfície de ruptura Intersecção entre a parte mais baixa da superfície de ruptura
(10) de um deslizamento e a superfície original do terreno
(20)
12 Superfície de separação Parte da superfície original do terreno (20) que ficou coberta
pela base (9) do deslizamento
13 Material deslocado Material deslocado da sua posição original no talude pelo
deslizamento; forma tanto a massa desprendida (17) e a
acumulação (18); é representado pelo pontilhado na Figura 4
14 Zona de redução Área do deslizamento em que o material desprendido (13)
permanece abaixo da superfície original do terreno (20)
15 Zona de acumulação Área do deslizamento em que o material desprendido
permanece acima da superfície original do terreno (20)
16 Redução Volume limitado pela escarpa principal (2), massa
desprendida (17) e superfície original do terreno (20)
17 Massa desprendida Volume do material desprendido que fica sobre a superfície
de ruptura (10), mas fica sob a superfície original do terreno
(20)
18 Acumulação Volume de material desprendido (13) que fica sobre a
superfície original do terreno (20)
19 Flanco Material intacto adjacente às laterais da superfície de
ruptura; limitar direções são preferíveis na descrição dos
flancos, mas se esquerda e direita são utilizados, eles
referem-se a como são vistos os flancos da coroa
20 Superfície original do terreno Superfície da encosta existente antes do deslizamento

5
Figura 1.6. Dimensões de um deslizamento (IAEG, 1990).

Tabela 1.3. Definição das dimensões de um deslizamento (IAEG, 1990).

NÚMERO NOME DEFINIÇÃO


1 Largura da massa desprendida, Wd Largura máxima da massa desprendida perpendicular
ao comprimento, Ld
2 Largura da superfície de ruptura, Wr Largura máxima entre flancos do deslizamento
perpendicular ao comprimento, Lr
3 Comprimento da massa desprendida, Distância máxima da ponta ao topo
Ld
4 Comprimento da superfície de Distância máxima da base da superfície de ruptura à
ruptura, Lr coroa
5 Profundidade da massa desprendida, Profundidade máxima da massa deslocada medida
Dd perpendicularmente ao plano contendo Wd e Ld
6 Profundidade da superfície de Profundidade máxima da superfície de ruptura abaixo
ruptura, Dr da superfície original do terreno medida
perpendicularmente ao plano contendo Wr e Lr
7 Comprimento total, L Distância mínima da ponta do deslizamento à coroa
8 Comprimento da linha central, Lcl Distância da coroa à ponta do deslizamento através
dos pontos na superfície original do terreno
eqüidistantes das margens laterais da superfície de
ruptura e material desprendido

Cruden & Varnes (1996) sugerem que o volume de massa desprendida de um


deslizamento pode ser estimado assumindo-se uma forma elipsoidal conforme ilustra a
Figura 1.7. Desta forma, o volume do material a ser desprendido antes da ruptura pode
ser calculado a partir da seguinte expressão:

VOL = 4/6 π Dr . Wr/2 . Lr/2 = 1/6 π Dr . Wr . Lr

6
Após a ruptura, o volume do material desprendido pode ser estimado por 1/6 π Dd . Wd .
Ld , já que normalmente o movimento provocado por um deslizamento faz com que
ocorra uma dilatação do material desprendido, aumentando seu volume em 33% em
média (Nicoletti & Sorriso-Valvo, 1991) (a partir de Cruden & Varnes, 1996). Ressalta-
se entretanto, que valores de dilatação em torno de até 10% são aceitáveis, valores
acima de 10% não são comuns (Melo Neto, 2005).

Figura 1.7. Estimativa do volume de um deslizamento considerando uma forma


elipsoidal Cruden & Varnes (1996).

1.2.2 Velocidade dos movimentos de massa

A Tabela 1.4 apresenta as classes de velocidades propostas por Varnes (1978) e as


classes atuais propostas pelo WP/WLI (1994).

Tabela 1.4. Velocidade dos movimentos de massa.

CASSES ANTERIORES CLASSES ATUAIS (PROPOSTA)


(VARNES, 1978) (WP / WLI, 1994)
Velocidade Valor Classes de Descrição da Limites de Valor
(mm/s) velocidade velocidade velocidade (mm/s)
Extremamente
7
rápida 5 m/s
3 m/s 3.103 5.103
6 Muito rápida
0,3 m/mim 5.101 3 m/mim
5 Rápida 5.101
1,5 m/dia 17.10-3 1,8 m/h
4 Moderada 5.10-1
1,5 m /mês 0,6.10-3 13 m /mês
3 Lenta 5.10-3
1,5 m/ano 48.10-3 1,6 m/ano
2 Muito lenta 5.10-5
60 mm/ano 1,9.10-3 16 mm/ano
1 Extremamente 5.10-7
lenta

As classes de velocidade descritas na Tabela 1.4 foram propostas por Morgenstern


(1985) a partir de Varnes (1978), onde este autor definiu que os prováveis danos
provocados por um deslizamento poderiam ser divididos em seis classes definidas na

7
escala proposta por Varnes (1978). A Tabela 1.5 apresenta a definição dos prováveis
danos provocados por movimentos de massa de acordo com as classes de velocidades
(WP/WLI, 1994).

Tabela 1.5. Definição dos danos provocados por movimentos de massa em função da
classe de velocidade.

CLASSE DE PROVÁVEIS DANOS


VELOCIDADE
7 Catástrofes de maior violência; construções destruídas por impacto de
materiais lançados; muitas mortes, fuga improvável
6 Algumas vidas perdidas; velocidade muito rápida para permitir que
todas as pessoas consigam escapar
5 Possível evacuação do local; estruturas, propriedades e equipamentos
destruídos
4 Estruturas pouco sensíveis podem permanecer temporariamente
intactas
3 Estruturas podem ser mantidas com trabalhos de manutenção
freqüente, se o movimento não for muito grande durante alguma fase
de aceleração
2 Estruturas não danificadas pelo movimento
1 Imperceptível sem instrumentos; construções são possíveis com
precaução

1.2.3 Classificação dos movimentos de massa

Os movimentos de massa podem ser classificados em dois grupos; sendo o primeiro


grupo referente aos movimentos de massa devido à ação da gravidade e o segundo
grupo os movimentos de massa causados por processo de transporte (erosão), podendo
ser dividida em erosão superficial e profunda. As erosões também podem ser
classificadas conforme a origem da água, podendo ser pluviais, fluviais e marítimas.

No geral, as classificações de movimentos de massa são baseadas na combinação dos


seguintes critérios:

- Cinemática do movimento: relacionada à velocidade, direção e seqüência dos


deslocamentos em relação ao terreno estável;
- Tipo de material: solo rocha, solos e rochas, detritos, depósitos, etc., estrutura,
textura e percentagem de água;
- Geometria: tamanho e forma das massas mobilizadas.

A classificação dos movimentos de massa a ser descrita é a proposta por Cruden &
Varnes (1996), a qual refere-se a uma revisão da classificação proposta por Varnes
(1978), introduzindo um sistema taxonômico. Nesta classificação são descritos o tipo
de movimento, o tipo de material e a atividade de um movimento de massa. Os tipos de
materiais considerados nesta classificação são: solo, rocha e debris; e os tipos de
movimentos são: quedas, tombamentos, escorregamentos, expansões laterais,

8
corridas/escoamentos, conforme mostra a Tabela 1.6. A Figura 1.8 ilustra os tipos de
movimentos de massa propostos nesta classificação.

Tabela 1.6. Classificação abreviada dos movimentos de massa (Cruden & Varnes,
1996).

TIPO DE MATERIAL
TIPO DE SOLO
MOVIMENTO ROCHA Predominantemente Predominantemente
Grosso Fino
Queda Queda de rocha Queda de detritos Queda de solo
Tombamento Tombamento de Tombamento Tombamento
rocha de detritos de solo
Escorregamento Escorregamento em Escorregamento Escorregamento
rocha de detritos de solo
Expansões laterais Expansões laterais Expansões laterais Expansões laterais
de rocha de detritos de solo
Escoamento Movimento lento/ Movimento lento / Movimento lento /
Corrida de rocha Corrida de detritos Corrida de solo

Figura 1.8. Tipos de movimentos de massa. (a) Queda (b) Tombamento (c)
Escorregamento (d) Escoamento (e) Expansões laterais (Cruden &
Varnes, 1996).

Cruden & Varnes (1996) recomendam que a completa identificação de um deslizamento


deve ser realizada na seqüência apresentada na Tabela 1.7, onde são descritas as
atividades (incluindo estado, distribuição e estilo), seguido pela descrição dos
movimentos (incluindo velocidade, teor de umidade, tipo de material e tipo do
movimento).

Os termos relativos à atividade definida por Varnes (1978) foram reagrupados em três
categorias, conforme apresentado na Tabela 1.7: estado de atividade, relacionado ao
estágio do movimento; distribuição da atividade, que descreve de um modo geral como

9
o deslizamento está ocorrendo e o estilo da atividade, que indica à maneira com que
diferentes movimentos contribuem para um deslizamento. As Tabelas 1.8, 1.9 e 1.10 e
as Figuras 1.9, 1.10 e 1.11 definem os termos relativos à atividade dos movimentos.

Tabela 1.7. Glossário para classificação de deslizamentos (Cruden & Varnes, 1996).

ATIVIDADE
Estado Distribuição Estilo
Ativo Avançada Complexo
Reativado Retrogressiva Composto
Suspenso Dilatada Múltiplo
Inativo Alargada Sucessivo
Adormecido Confinada Simples
Abandonado Diminuída
Estabilizado Deslocada
Reliquiar
DESCRIÇÃO DO 1º MOVIMENTO
Velocidade TEOR DE UMIDADE Material Tipo
Extremamente rápida Seco Rocha Queda
Muito rápida Úmido Solo Tombamento
Rápida Molhado (“wet”) “Debris” Escorregamento
Moderada Muito molhado (“very Expansões laterais
wet”)
Lenta Escoamento
Muito lenta
Extremamente lenta
Obs.: Movimentos subsequentes podem ser descritos repetindo-se as descrições acima
quantas vezes for necessário (Cruden & Varnes, 1996).

Tabela 1.8. Estado da atividade dos movimentos de massa (Cruden & Varnes,
1996).

TIPO DESCRIÇÃO
Ativo Está atualmente em movimento
Suspenso Moveu-se nos últimos 12 meses, mas não está ativo no momento
Reativado É um ativo que estava inativo
Inativo Não se moveu nos últimos 12 meses
Adormecido Inativo que pode ser reativado por causas originais, ou por outras causas
Abandonado Inativo que não está mais afetado pelas causas originais
Estabilizado Inativo que está protegido de suas causas originais por medidas corretivas
artificiais
Reliquiar Um movimento inativo, que se desenvolveu sob condições climáticas e
geomorfológicas consideravelmente diferentes das do presente. São
também denominados de movimentos de massa fósseis.

10
Figura 1.9. Estado da atividade dos movimentos de massa (1) ativo (2) suspenso (3)
reativado (4) adormecido (5) estabilizado (6) reliquiar (Cruden & Varnes,
1996).

Tabela 1.9. Distribuição da atividade dos movimentos de massa (Cruden & Varnes,
1996).

TIPO DESCRIÇÃO
Avançada Quando a superfície de ruptura se estende na direção do movimento
Retrogressiva Quando a superfície de ruptura se estende na direção oposta do
movimento
Dilatada Quando a superfície de ruptura se estende em direção as margens laterais
Alargada Quando o movimento é limitado ao material deslocado ou a superfície de
ruptura está alargando continuamente adicionando-se ao volume do
material deslocado
Confinada É quando o movimento possui uma escarpa, mas não apresenta superfície
de ruptura visível no pé da massa deslocada
Diminuída Quando um movimento que está ativo e o volume do material deslocado
decresce com o tempo
Deslocada Quando um movimento em que o material deslocado continua se
movendo, mas não mostra visíveis mudanças na superfície de ruptura

11
Figura 1.10. Distribuição da atividade dos movimentos de massa. (1) avançada (2)
retrogressiva (3) alargada (4) diminuída (5) confinada (Cruden & Varnes,
1996).

Tabela 1.10. Estilo da atividade dos movimentos de massa (Cruden & Varnes, 1996).

TIPO DESCRIÇÃO
Complexo Exibe pelo menos dois tipos de movimentos em seqüência
Composto Exibe pelo menos dois tipos de movimentos simultâneos em diferentes
partes da massa deslocada
Sucessivo É do mesmo tipo de um movimento anterior vizinho, mas não compartilha
com ele o material deslocado ou a superfície de ruptura
Simples É um simples movimento do material deslocado
Múltiplo Apresenta movimentos repetidos do mesmo tipo, freqüentemente seguidos
de alargamento da superfície de ruptura. A nova massa de solo
desprendida está em contato com a massa desprendida previamente e
freqüentemente compartilham da mesma superfície de ruptura

12
Figura 1.11. Estilo da atividade dos movimentos de massa. (1) Complexo (2) Composto
(3) Sucessivo (4) Simples (Cruden & Varnes, 1996).

1.2.4 Descrição geral dos tipos de movimentos de massa

A forma com que o movimento é distribuído através da massa de solo ou rocha


deslocada representa um dos principais critérios para classificação de deslizamentos. A
descrição dos tipos de deslizamento a ser descrita neste item irá seguir a classificação
proposta por Cruden & Varnes (1996), a qual engloba: quedas, tombamentos,
escorregamentos, expansões laterais e escoamentos (Tabela 1.6; Figura 1.8). A Tabela
1.11 ilustra em resumo as principais características dos movimentos de massa aqui
descritos.

Nas quedas (Figura 1.12), materiais rochosos diversos e de volumes variáveis se


destacam de encostas muito íngemes, num movimento tipo queda livre, ou em plano
inclinado (rolamento de matacões). Estes processos possuem velocidades muito altas e
podem atingir grandes distâncias. Os processos de quedas possuem um forte
condicionante litológico e estrutural, e sua deflagração pode estar intimamente
associada a processos erosivos, como na queda de detritos em taludes de rochas
sedimentares, ou rolamento de matacões em rochas graníticas (Augusto Filho, 1994).

13
Figura 1.12. Exemplo de queda (Infanti & Forrnasari Filho, 1998).

Os tombamentos (Figura 1.13) podem ser definidos como um tipo de movimento de


massa em que ocorre a rotação de um bloco de solo ou rocha em torno de um ponto ou
abaixo do centro de gravidade da massa desprendida. Este processo está condicionado
pela ação da água ou do gelo em planos de fraqueza existentes no maciço rochoso.
Segundo Cruden & Varnes (1996), tombamentos podem conduzir a movimentos tipo
quedas ou escorregamentos dependendo da geometria da massa movimentada, da
geometria da superfície de separação e da orientação e extensão das descontinuidades
existentes. A velocidade deste tipo de movimento pode variar de extremamente lenta a
extremamente rápida.

Figura 1.13. Exemplo de tombamento (Infanti & Forrnasari Filho, 1998).

14
Escorregamentos são movimentos rápidos, apresentado superfície de ruptura bem
definida, de duração relativamente curta, de massas de terreno geralmente bem
definidas quanto ao seu volume, cujo centro de gravidade se desloca para baixo e para
fora do talude (Guidicini & Nieble, 1984) (Figura 1.14). Ocorrem preferencialmente em
superfícies de ruptura bem definida ou em finas zonas da massa submetidas a intensas
tensões de cisalhamento. Freqüentemente, os primeiros sinais deste movimento são a
presença de fissuras. Este tipo de movimento caracteriza-se por velocidades de
deslocamento variando de médias a altas (m/h a m/s). Augusto Filho (1994) descreve
que um tipo de escorregamento muito comum em encostas ocupadas, é o
escorregamento induzido, ou seja, aquele que é potencializado pela ação antrópica,
através da execução de cortes/aterros inadequados, da concentração de águas pluviais e
servidas, da retirada da cobertura vegetal, etc.

Varnes (1978) subdivide os escorregamentos em rotacionais e translacionais. As


diversas categorias de escorregamentos constituem-se nos processos de instabilização
que mais causam danos sócio-econômicos às diversas formas de uso e ocupação das
áreas de encostas e adjacências.

Figura 1.14. Tipos de escoregamento (Cruden & Varnes, 1996).

Os escorregamentos rotacionais caracterizam-se por apresentarem superfícies de


deslizamento curvas e côncavas. Estão associados a materiais homogêneos, aterros,
depósitos mais espessos, rochas sedimentares ou cristalinas intensamente fraturadas.
Possuem um raio de alcance relativamente menor que os escorregamentos
translacionais. Os escorregamentos translacionais caracterizam-se por apresentarem
superfície de ruptura plana, relacionada com a zona de fraqueza (falhas, contato
solo/rocha, estratificação). Enquanto escorregamentos rotacionais ocorrem em geral em

15
taludes mais íngremes e possuem extensão relativamente limitada, escorregamentos
translacionais podem ocorrer em taludes mais abatidos e são geralmente espessos,
podendo atingir centenas ou milhares de metros. Sua geometria caracteriza-se por uma
pequena espessura e forma retangular estreita. Guidicini & Nieble (1984) subdividem os
escorregamentos translacionais em escorregamentos translacionais de rocha, de solo, de
solo e rocha .

Expansões laterais são movimentos caracterizados pela expansão de um solo coesivo


ou de uma massa de rocha combinado com uma subsidência da massa fraturada numa
camada de material subjacente que apresenta pouca resistência (Cruden & Varnes,
1996). A superfície de ruptura não se apresenta como uma superfície de intenso
cisalhamento. Expansões laterais podem resultar da liquefação ou escoamento de
materiais. Varnes (1978) distinguiu expansões laterais típicas de rochas, como
movimentos que não apresentam superfície de ruptura definida ocorridas devido a
liquefação dos materiais de camadas subjacentes.

Escoamentos, numa definição ampla, são representados por deformações, ou


movimentos contínuos, estando ou não presente uma superfície definida ao longo da
qual a movimentação ocorra. Guidicini & Nieble (1984) classificam os escoamentos em
movimentos lentos (rastejos) e movimentos rápidos (corridas).

Os rastejos (Figura 1.15) envolvem um conjunto de movimentos lentos que não


apresentam uma superfície de ruptura marcante, tampouco uma geometria bem definida.
À semelhança dos demais movimentos de massa, podem mobilizar qualquer tipo de
material, solo, rocha ou a mistura dos dois. Este tipo de movimento apresenta
velocidades de deslocamento muito baixas, com taxas de deslocamento decrescentes
gradualmente com a profundidade. Podem ser associados a mecanismos de movimentos
contínuos, resultantes da deformação sob uma tensão constante e a mecanismos
pulsantes, avançando com velocidade não-uniforme, associado a alterações climáticas
sazonais.

Figura 1.15. Exemplo de rastejo.

16
As corridas são formas rápidas de escoamento, de caráter essencialmente
hidrodinâmico, ocasionadas pela perda de atrito interno, em virtude da destruição da
estrutura, em presença de excesso de água (Guidicini & Nieble, 1984). Estes fenômenos
são bem mais raros que os escorregamentos, porém, podem provocar conseqüências de
magnitudes muito superiores, devido ao seu grande poder destrutivo e extenso raio de
alcance mesmo em áreas planas.

Tabela 1.11. Características dos principais grupos de movimentos de massa (Augusto


Filho, 1992).

PROCESSOS CARACTERÍSTICAS DO
MOVIMENTO/MATERIAL/GEOMETRIA
Rastejos - vários planos de deslocamento (internos)
- velocidades muito baixas (cm/ano) a baixas e decrescentes
com a profundidade
- movimentos constantes, sazonais ou intermitentes
- solo, depósitos, rocha alteradas/fraturadas
- geometria indefinida

Escorregamentos o- poucos planos de deslocamento (externos)


- velocidades médias (m/h) a altas (m/s)
- pequenos a grandes volumes de material
- geometria e materiais variáveis:
-planares: solos pouco espessos, solos e rochas com um plano
de fraqueza;
-circulares: solos espessos homogêneos e rochas muito
fraturadas;
-em cunha : solos e rochas com dois planos de fraqueza

Quedas - sem planos de deslocamento


- queda livre ou rolamento através de plano inclinado
- velocidades muito altas (vários m/s)
- material rochoso
- pequenos e médios volumes
- geometria variável : lascas, placas, blocos, etc.
- Rolamento de matacão e tombamento

Corridas - muitas superfícies de deslocamento (internas e externas à massa


em movimentação)
- movimento semelhante ao de um líquido viscoso
desenvolvimento ao longo das drenagens
- velocidades médias a altas
- mobilização de solo, rochas, detritos e água
- grandes volumes de material
- extenso raio de alcance, mesmo em áreas planas

Os mecanismos de geração de corridas podem ser através do fenômeno de liquefação


espontânea; ou a partir da remobilização de detritos acumulados no leito e por
barramentos naturais, acrescidos do material oriundo de escorregamentos nas encostas e
torrentes de águas geradas na bacia. As corridas podem ser subdivididas em corrida de

17
terra, com o colapso de estruturas fofas de solos arenosos e siltosos, com acréscimo de
poropressão devido a vibrações ou saturação; corridas de lama, compreendendo os
movimentos rápidos em solos moles sensitivos e as corridas de detritos, caracterizando
avalanches de grandes volumes de massa de blocos de rocha e solo.

1.3 CARACTERIZAÇÃO GEOTÉCNICA E AVALIAÇÃO DO RISCO


ASSOCIADO A MOVIMENTOS DE MASSA

Segundo Leroueil (2001) uma caracterização geotécnica constitui uma importante


ferramenta para análise de movimentos de massa e sua importância se deve aos
seguintes aspectos:

a) No conhecimento de movimentos de massa sob diferentes contextos


geomorfológicos, geológicos e climáticos. Podemos citar também aspectos no
que diz respeito ao conhecimento do comportamento de vários tipos de materiais
envolvidos em deslizamentos; onde Leroueil (2001) cita como exemplos as
argilas com estrutura complexa , argilas rijas fissuradas bem estudadas na Itália,
as argilas moles, e por fim a experiência brasileira no estudo de solos residuais
no contexto de movimentos de massa;
b) Na descrição geral de uma encosta. Onde uma caracterização geotécnica força o
engenheiro a definir os diferentes fatores que influenciam ou podem influenciar
os movimentos em uma dada encosta, e as consequencias deste movimento,
ajudando, desta forma no entendimento da situação / mecanismos e
consequentemente na seleção de soluções apropriadas;
c) Na análise da suscetibilidade e do risco.

Tendo em vista que as classificações de movimentos de massa propostas eram, em sua


maioria, essencialmente geomorfológicas, Leroueil et al. (1996) proporam uma
classificação geotécnica de movimentos de massa onde tanto os aspectos
geomorfológicos como o comportamento mecânico de solos e rochas fosse abordado.
A Figura 1.16 ilustra o esquema da classificação proposta por Leroueil et al. (1996)
representada numa matriz tridimensional, onde os eixos representam os tipos de
materiais, os tipos de movimentos e os estágios dos movimentos, associados a um
conjunto de informações pertinentes.

Os tipos de movimentos da classificação de Leroueil et al. (1996) foram essencialmente


os mesmos definidos por Cruden & Varnes (1996), isto é, quedas, tombamentos,
expansões laterais, escorregamentos, escoamento. Em termos de materiais, Cruden &
Varnes (1996) consideraram apenas três classes principais (solo rocha e debris)
entretanto, Leroueil et al. (1996) acharam necessário considerar um maior número de
classes, considerando-se que as características mecânicas de solos e rochas dependem
da mineralogia, distribuição granulométrica, grau de saturação, etc.

18
Controle de leis e parâmetros
Fatores predisponentes
Fatores acionantes
Conseqüências

Figura 1.16. Caracterização geotécnica dos movimentos de massa (Leroueil et al.,


1996).

A Figura 1.17 ilustra os tipos de materiais considerados na caracterização geotécnica.


Os quatro possíveis estágios dos movimentos de massa dizem respeito ao estágio de
pré-ruptura estágio de ruptura, estágio de pós-ruptura e o estágio de reativação.

Figura 1.17. Tipos de materiais considerados na caracterização geotécnica (Leroueil et


al., 1996).

Leroueil et al. (1996) verificaram que quatro diferentes estágios deviam ser
considerados na análise dos movimentos de massa, conforme ilustra a Figura 1.18.

19
Figura 1.18. Estágios dos movimentos de massa (Leroueil et al., 1996).

- Estágio de pré-ruptura: incluindo-se todo o processo de deformação conduzindo à


ruptura. A massa de solo está essencialmente pré-consolidada, intacta e contínua.
Esse processo é determinado a relativamente pequenas razões de deslocamento,
sendo controlado principalmente pelos fenômenos de ruptura progressiva e creep. A
razão de deslocamento aumenta ao se aproximar da ruptura, como conseqüências
têm-se uma gradual formação e propagação da zona de cisalhamento na massa de
solo. A duração do estágio de pré-ruptura depende das características do solo e do
estado de tensões inicial, que pode ser extremamente variável. Como fatores
agravantes para esses movimentos, podemos ter condições temporárias que venham
a ter efeito na velocidade dos mesmos, como, por exemplo, carregamento no topo do
talude; condições que induzam variação de poro-pressão, erosão no pé do talude,
etc.

- Estágio da primeira ruptura: é caracterizado pela formação de uma zona ou


superfície de cisalhamento contínua na massa de solo. Neste estágio, as forças
resistentes tornam-se iguais às forças cisalhantes. Embora o processo de ruptura seja
geralmente complexo e resultante de uma combinação de fatores, é geralmente
caracterizado pela envoltória de tensões efetivas cisalhantes. Os parâmetros
relevantes são freqüentemente difíceis de definir. As rupturas são influenciadas
pelos efeitos da velocidade de deformação, ruptura progressiva e descontinuidades.

- Estágio de pós-ruptura: descreve o movimento da massa de solo envolvida no


deslizamento depois da ruptura. Inclui o movimento de massa de solo ou de rocha,
envolvida no deslizamento, logo após a ruptura até ela essencialmente parar. Este
estágio é geralmente caracterizado por um aumento na razão de deslocamento logo
após a ruptura; seguido por um progressivo decréscimo na massa de solo
mobilizada. O comportamento do material deslizante durante este estágio, depende
principalmente da redistribuição da energia potencial requerida na ruptura, que se
divide na energia de fricção, na energia de desagregação e na energia cinética. A
duração do estágio de pós-ruptura é extremamente variável com as características
mecânicas dos materiais envolvidos e com as características geométricas da encosta.

- Estágio de reativação: descreve o deslizamento de uma massa de solo ao longo de


uma ou várias superfícies de ruptura pré-existentes. Este estágio é controlado pelo

20
comportamento de atrito de solo após grandes deslocamentos (ângulo de atrito
residual). A reativação pode ser ocasional ou contínua, com variações sazonais de
velocidade de movimento. estágio de movimento para outro, podendo variar
também com o tipo de material e de movimento.

Finalizando o entendimento da caracterização proposta por Leroueil et al. (1996), temos


que identificar para cada elemento conjunto da matriz de caracterização apresentada na
Figura 1.16:

a) O controle das leis e parâmetros, onde temos como exemplo o critério de Mohr –
Coulomb, com c’ e φ’ referentes ao estágio de ruptura. Como já abordado
anteriormente, os parâmetros de resistência variam consideravelmente de um
estágio de movimento para outro, podendo variar também com o tipo de
material, de movimento e do grau de saturação;
b) Os fatores predisponentes, os quais fornecem informações a respeito da situação
atual e determina a resposta do talude seguindo a ocorrência de um fator
acionante;
c) Os fatores acionantes, os quais conduzem à ruptura ou os fatores agravantes, os
quais produzem uma modificação significativa nas condições da estabilidade ou
na velocidade do movimento;
d) Os fatores revelantes, os quais fornecem a evidência antes e/ou depois do
movimento no talude mas geralmente não participa do processo;
e) As possíveis conseqüências do movimento.

Leroueil & Locat (1998) comentam que as incertezas a respeito dos parâmetros
identificados numa caracterização geotécnica dizem respeito a variação espacial dos
parâmetros que caracterizam os materiais e os fatores predisponentes; da extensão e da
qualidade da investigação realizada e das incertezas devido a variação temporal dos
fatores agravantes ou acionantes. Como exemplo de incertezas a respeito dos
parâmetros tomemos o caso apresentado por Lacasse & Nadim (1994) (a partir de
Leroueil & Locat, 1998) apresentado na Figura 1.19.

Figura 1.19. Fator de segurança e probabilidade de ruptura (Lacasse & Nadim, 1994) (a
partir de Leroueil & Locat, 1998).

21
Pode-se observar que um fator de segurança de 1.79 obtido com um alto nível de
incerteza diz respeito a parâmetros que podem corresponder a probabilidade de ruptura
significativamente maior do que um fator de segurança de 1.40 obtido com um baixo
nível de incertezas. Outras incertezas relacionam-se ao envolvimento dos processos que
são geralmente complexos tais como, influência da estrutura e anisotropia, efeitos na
velocidade de deformação, ruptura progressiva, influência de fatores geológicos, erosão
interna (“pipping”), etc. que muitas vezes não são considerados nos métodos de cálculo
existentes.

Uma caracterização geotécnica constitui-se de uma estrutura básica necessária para


análise de um movimento de massa, já que a mesma permite relacionar os tipos de
movimentos e tipos de materiais relacionando-os num determinado estágio do
movimento. Desta forma, ao se examinar o comportamento de um talude sob um ponto
de vista relacionado a aspectos mecânicos, estamos desta forma, permitindo a realização
de uma avaliação do risco associado a movimentos de massa. Em qualquer análise de
risco o primeiro passo consiste em se definir todos os possíveis danos, isto é, no nosso
caso, todos os possíveis movimentos de massa que podem causar conseqüências
(econômicas, sociais, perdas de vidas humanas) em uma determinada área.

Leroueil & Locat (1998) recomendam aos engenheiros organizar as informações a


respeito de um dado deslizamento forçando o mesmo a responder uma série de
perguntas essenciais ao entendimento da situação, sejam elas qual o tipo e quais as
características geométricas do movimento, qual o estágio em que o movimento se
encontra, quais os materiais envolvidos, quais os fatores predisponentes, acionantes ou
revelantes e quais as conseqüências do movimento (sendo esta informação essencial
para a análise de risco). No contexto de uma caracterização geotécnica os elementos de
risco e sua vulnerabilidade são relacionados as “conseqüências do movimento”
(Leroueil et al., 1996), conforme ilustra a Figura 1.20. Varnes et al. (1984) definiu o
risco total Rt como uma série de danos resultantes da ocorrência de um fenômeno,
representado pela seguinte equação:
Rt = Σ H Ri Vi
onde Rt = risco total; H = representa a suscetibilidade ou a probabilidade da ocorrência
de um fenômeno em uma determinada área em um período qualquer; Ri = representa os
elementos de risco; Vi = representa a vulnerabilidade de cada elemento representado
pelo grau do dano (compreendido entre os valores 0 – sem danos a 1- perda total).

Tipo de Estágio do
movimento movimento
Material

Leis e parâmetros de controle

Fatores predisponentes

Fatores acionantes ou agravantes

Fatores revelantes Informações que definem os


elementos em risco e sua
Conseqüência do movimento vulnerabilidade

Figura 1.20. Caracterização geotécnica, elementos em risco e a sua vulnerabilidade


(Leroueil & Locat, 1998).

22
1.4 MECANISMOS / PROCESSOS EM MOVIMENTOS DE MASSA

Os processos envolvidos em movimentos de massa compreendem uma contínua série de


eventos a partir de causas para efeitos (Varnes, 1978; Cruden & Varnes, 1996). O
projeto de apropriadas medidas / intervenções de custo efetivo, requer um claro
entendimento dos mecanismos e fatores que são importantes no movimento de massa.
Os processos de movimentos de massa podem ser classificados em três grandes grupos:

a) Aumento das tensões cisalhantes: relacionado a remoção do suporte lateral


(erosões, fluxos d’água, “pipping”), adição de
materiais no topo da encosta, explosões,
passagem de veículos pesados, forças tectônicas,
etc.

b) Contribuição para baixas resistências ao cisalhamento: relacionado tanto a


características inerentes do material envolvido
quanto à presença de fissuras, falhas e/ou
descontinuidades na massa de rocha / solo.

c) Redução na resistência do material: relacionado principalmente à materiais


argilosos ao sofrerem processos de intemperismo,
reações fisico-químicas (hidratação de
argilomonerais - perda de coesão), saturação.

As causas e características que contribuem para os movimentos de massa estão


sumarizadas na Tabela 1.12, agrupados em quatro grupos (geológicos, morfológicos,
físicos e antrópicos) de acordo com as ferramentas e procedimentos necessários para
iniciar uma investigação (Cruden & Varnes, 1996).

Numa caracterização geotécnica, todos os tipos de movimentos de massa num dado


estágio de movimento (Leroueil et al., 1996; Leroueil, 2004), estão associados com
fatores de causa específicos que podem ser divididos em três grupos, denominados de:

a) Fatores predisponentes: são os que informam sobre a situação atual e determina a


resposta do talude seguindo a ocorrência de um fator
acionante.

b) Fatores acionantes ou agravantes: são os que conduzem à ruptura do talude;


enquanto que os fatores agravantes produzem uma
modificação significativa nas condições da estabilidade ou
na velocidade do movimento.

c) Fatores revelantes: são os que fornecem a evidência do movimento no talude mas


geralmente não participa do processo.

23
Os fatores de causa predisponentes relacionam-se a geologia, a morfologia, as
características físicas e antrópicas da área; os fatores de causa acionantes ou agravantes
relacionam-se a morfologia, as características físicas e antrópicas, conforme ilustra a
Figura 1.21 e a Tabela 1.12.

GEOLÓGICOS

FATORES MORFOLÓGICOS
PREDISPONENTES

FATORES
FÍSICOS ACIONANTES /
AGRAVANTES

ANTRÓPICOS

Figura 1.21. Diagrama dos processos dos fatores de causas predisponentes e acionantes /
agravantes dos movimentos de massa.

A Tabela 1.13 relaciona os principais mecanismos de deflagração de movimentos de


massa, reconhecendo os fatores que aumentam as solicitações e os que diminuem a
resistência dos terrenos, com os respectivos fenômenos naturais e antrópicos a que estão
associados.

24
Tabela 1.12. Inventário de causas de movimentos de massa (Cruden & Varnes, 1996).

1. Causas Geológicas
a. Materiais Fracos
b. Materiais sensíveis
c. Materiais desgastados (intemperizandos)
d. Materiais cisalhandos
e. Materiais articulados ou fissurados
f. Massa descontínua orientada adversamente (estratificação, xistosidade, etc.)
g. Estrutura descontínua orientada adversamente (falha, contato, sem conformidade, ect.)
h. Contraste na permeabilidade
i. Contraste na dureza (duro, material denso sobre material plástico)
2. Causas Morfológicas
a. Subpressão tectônica ou vulcânica
b. Reação glacial
c. Erosão fluvial de pé de talude
d. Erosão de onda de pé de talude
e. Erosão glacial de pé de talude
f. Erosão das margens laterais
g. Erosão subterrânea (solução, “piping”)
h. Deposição de carga no talude ou na sua crista
i. Remoção da vegetação (por fogo na floresta, seca)
3. Causas Físicas
a. Chuvas intensas
b. Derretimento rápido de neve
c. Precipitação excepcional prolongada
d. Rebaixamento rápido ( de inundações e marés)
e. Terremoto
f. Erupção vulcânica
g. Descongelamento
h. Intemperismo/desgaste devido ao congelamento-e-descongelamento
i. Intemperismo/desgaste devido à contração-e-inchamento
4. Causas humanas
a. Escavação de talude ou do seu pé
b. Carregamento de talude ou de sua crista
c. Rebaixamento (de reservatórios)
d. Deflorestamento
e. Irrigação
f. Mineração
g. Vibração artificial
h. Vazamentos de águas servidas

25
Tabela 1.13. Fatores deflagradores dos movimentos de massa (Varnes, 1978).

AÇÃO FATORES FENÔMENOS NATURAIS/ ANTRÓPICOS


Remoção de massa - Erosão, escorregamentos;
- Cortes.
Sobrecarga - Peso da água de chuva, neve, granizo, etc.;
- Acúmulo natural de material;
AUMENTO - Peso da vegetação;
DA - Construção de estruturas, aterros, etc.
SOLICITAÇÃO
Solicitações dinâmicas - Terremotos, ondas, vulcões, etc.;
- Explosões, tráfego, sismos induzidos.
Pressões laterais - Água em trincas, congelamento, material
expansivo, etc.
Características - Características geomecânicas do material,
inerentes ao material estado de tensões iniciais.
REDUÇÃO Mudanças ou fatores - Imtemperismo, redução da coesão, ângulo de
DA variáveis atrito;
RESISTÊNCIA - Elevação do nível d’água
Outras causas - Enfraquecimento devido ao rastejo
progressivo;
- Ação das raízes das árvores e buracos de
animais.

1.5 FATORES AGRAVANTES OU ACIONANTES RELATIVOS A ÁGUA EM


ENCOSTAS

Inúmeros fatores atuam no desencadeamento de movimentos de massa, conforme


abordado no item anterior. Entretanto as águas sejam as de subsuperfície, e/ou as
provenientes de chuvas e/ou as águas provenientes do descarte antrópico, representam,
de um modo geral, o fator acionante ou agravante de maior influência nos deslizamentos
de massa em todo o mundo. Os principais mecanismos de atuação das águas no
desencadeamento de movimentos de massa são:

ƒ Redução da coesão aparente – maciços terrosos, com a permeabilidade


crescente com a profundidade, tendem a formar linhas de fluxo subverticais
que aumentam o grau de saturação e diminuem os efeitos da coesão aparente,
com o avanço em profundidade da frente de umedecimento.;
ƒ Variação do nível piezométrico em massas homogêneas – a elevação do
nível d’água nestas condições aumenta as pressões neutras, reduzindo as
tensões efetivas e em conseqüência a resistência ao cisalhamento;
ƒ Rebaixamento rápido do nível d’água (reservatórios) – os taludes de
reservatórios e cursos d’água estão sujeitos a alteamento e rebaixamentos
rápidos do nível d’água externo. Em taludes formados por solos
relativamente permeáveis, variações bruscas no nível d’água do reservatório
ou curso d’água, resultam em saturação e elevações rápidas do nível
piezométrico do terreno, gerando rupturas;
ƒ Carregamento dinâmico – através de terrremoto, vibração de máquina,
cravação de estaca, queda de bloco de rocha, etc., onde estes esforços
adicionais no talude geram o aumento da poropressão, favorecendo os
taludes à ruptura;

26
ƒ Elevação da coluna d’água em descontinuidades – o nível de água
subterrâneo sofre alteamentos mais intensos nos taludes rochosos pouco
fraturados, quando comparados com os de maciços terrosos em virtude de
suas porosidades. Estas elevações do NA nas descontinuidades diminuem
tanto as tensões efetivas, como podem gerar esforços laterais cisalhantes,
podendo ocasiosar à ruptura;
ƒ Erosão subterrânea retrogressiva (“pipping”).

1.5.1 Influência da chuva na deflagração dos movimentos de massa

As chuvas relacionam-se diretamente com a dinâmica das águas de subsuperfície,


atuando, de um modo geral, como o principal agente na deflagração dos movimentos de
massa. A maioria dos deslizamentos registrados está associada a episódios de elevada
pluviosidade, de duração compreendida entre algumas horas até alguns dias (Guidicini
& Nieble 1984).

Os índices pluviométricos críticos para a deflagração dos movimentos de massa variam


com o regime de infiltração no solo, a dinâmica das águas subterrâneas no maciço e o
tipo de instabilização. Os escorregamentos em rocha tendem a são mais suscetíveis a
chuvas concentradas, enquanto os processos em solo, dependem também dos índices
pluviométricos acumulados nos dias anteriores. Processos tipo corridas estão associados
a índices pluviométricos muito intensos, enquanto que as rupturas em áreas modificadas
pelo homem com desmatamentos, cortes, aterros, etc. (escorregamentos induzidos),
podem ocorrer com valores de precipitações considerados normais.

A associação entre a deflagração de deslizamentos e o índice pluviométrico tem levado


alguns pesquisadores a tentarem estabelecer correlações empíricas, probabilísticas ou
físico-matemáticas entre a pluviosidade e os movimentos de massa. A Figura 1.22
ilustra a proposta de Tatizana et al. (1987), os quais desenvolveram uma correlação
entre deslizamentos e índices pluviométricos para a Serra do Mar (São Paulo). Estes
autores obtiveram uma curva exponencial que define a envoltória correspondente à
condição pluviométrica a partir da qual é elevada a probabilidade de ocorrência de
movimentos de massa induzidos pela ocupação é elevada, correlacionando a chuva
acumulada de quatro dias com a chuva horária. Observa-se que as intensidades horárias
pluviométricas críticas para a deflagração dos movimentos, na área estudada, decrescem
exponencialmente com o aumento da precipitação acumulada nos dias anteriores ao
evento.

27
Figura 1.22. Gráfico da envoltória de deslizamentos induzidos na Serra do Mar
(Tatizana et al.,1987).

Para a cidade do Recife, os estudos realizados nos morros de Olinda-PE por Gusmão
Filho (1997), levaram uma significativa contribuição nas correlações entre pluviosidade
e deslizamentos, o qual durante três anos monitorou a variação do nível piezométrico
das encostas de Olinda. Concluiu-se que a instabilidade das encostas resulta da ação
combinada entre a intensidade de chuva acumulada (Pac), de janeiro até aquela data,
com a ocorrência de uma chuva diária de intensidade mínima (I) naquela data.

Definiu-se o parâmetro R como sendo o produto da chuva de 24 horas pela chuva


acumulada até o dia do evento (R= Pac x I). Na pesquisa encontrou-se o valor de R =
60.000mm2 como representativo de movimento iminente. Então, se a chuva acumulada
é de 600mm, basta uma chuva de 100mm para desestabilizar o maciço. A Figura 1.23
apresenta a correlação entre a chuva acumulada e a intensidade de chuva do dia.

Figura 1.23. Correlação entre a intensidade da chuva e a chuva acumulada para as


encostas da Formação Barreiras da cidade de Olinda – PE (Gusmão Filho,
1997).

28
A principal aplicação destas correlações é tentar se antecipar à deflagração dos
movimentos de massa, a partir do acompanhamento dos índices pluviométricos de uma
região, sendo possível alertar, antecipadamente a população da possibilidade de
deslizamentos. É mais fácil e barato monitorar o parâmetro chuva do que o nível d’água
e o grau de saturação dos taludes e encostas, principalmente em grandes áreas. Apesar
das limitações e imprecisões, essas correlações podem fornecer um importante
instrumento de baixo custo de implantação, para o monitoramento e gerenciamento de
riscos associados a escorregamentos em áreas urbanas.

1.5.2 Influência das águas antrópicas na deflagração dos movimentos de massa

Dentre os assuntos mais estudados, a literatura técnico-científica corrente tem


contemplado largamente as precipitações pluviométricas intensas e, em muito menor
grau, o descarte de águas residuárias. Tais descartes podem deflagrar ou, no mínimo
predispor o ambiente a processos erosivos e instabilizações, realidade que tem sido
estudada sem a freqüência e profundidade devidas.

De um modo geral, a maioria da população de baixa renda ao ocupar as encostas, o


fazem de forma desordenada, desconhecendo critérios técnicos de construção. A
população carente ao projetar loteamentos na maioria das vezes em relevos íngremes,
associado a realização de cortes, aterros e construção de fossas nas bordas do talude,
propiciam a ocorrência de movimentos de massa nestas áreas.

Outro agravante diz respeito a ausência de serviços de esgotamento sanitário e


drenagem, o que leva a população assente nestas áreas a seguirem práticas rudimentares
e inadequadas para destino dos seus efluentes domésticos. É comum aos que moram
nessas localidades lançarem as águas servidas diretamente sobre o solo, contribuindo
com a poluição do lençol freático e para o agravamento das condições de estabilidade da
área.

Como exemplo de descarte de águas servidas pela população podemos citar o exemplo
de Assunção (2005), a qual quantificou o descarte de águas residuárias em
assentamentos carentes localizados em Salvador. A Figura 1.24 ilustra alguns dos
resultados obtidos no estudo. Observa-se que nos meses do ano correspondentes ao
período de menor intensidade de chuva (verão – out / abr), a precipitação antrópica é
significativa e maior que a precipitação pluviométrica; ocorrendo o contrário no período
do ano de maior intensidade pluviométrica (inverno / maio - set).

Assunção (2005) afirma ainda que a precipitação antrópica foi superior a precipitação
pluviométrica em 269 dias no ano de 2002; concluindo que para a área de estudo e o
período estudado, na maioria dos dias do ano quem descarrega mais água é a
comunidade, porém em relação ao total anual, quem descarrega mais água é a chuva,
principalmente quando se consideram as precipitações de grande intensidade em curto
espaço de tempo.

29
400
Lâmina Antrópica

Precipitação (mm)
350
Lâmina Pluviométrica
300
250
200
150
100
50
0
jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez
Meses

Figura 1.24. Comparação entre a precipitação pluviométrica e precipitação antrópica


mensal (Assunção, 2005).

Embora, em geral, seja apenas a chuva frequentemente associada a movimentos de


massa, em áreas de encostas ocupadas desprovidas de infra-estrutura de esgotamento
sanitário e drenagem, as águas servidas (precipitação antrópica) podem, em conjunto
com as precipitações pluviométricas, agravar ou deflagrar, ou no mínimo, predispor o
ambiente a processos erosivos e de instabilizações (Assunção, 2005).

1.6 INFLUÊNCIA DA COBERTURA VEGETAL NOS MOVIMENTOS DE


MASSA

Segundo Augusto Filho & Virgili (1998), a cobertura vegetal apresenta efeitos
favoráveis e desfavoráveis em estabilidade das encostas:

a) Efeitos favoráveis:

- Redistribuição da água proveniente das chuvas: as copas das árvores impedem, em


parte, o impacto direto da chuva na superfície do terreno e retardam e diminuem a
quantidade efetiva de água que se infiltra no solo, além disso, a evapotranspiração
também retira água do solo;

- Acréscimo da resistência do solo devido às raízes: as raízes da vegetação de porte


arbóreo podem aumentar a resistência ao cisalhamento do solo de duas formas
principais: pelo reforço mecânico do solo, onde existe uma transferência parcial da
tensão de cisalhamento atuante no solo para as raízes; e por escoramento, quando as
raízes são profundas.

b) Efeitos desfavoráveis:

- Efeito alavanca: força cisalhante transferida pelos troncos das árvores ao terreno,
quando suas copas são atingidas por ventos;
- Efeito cunha: pressão lateral causada pelas raízes ao penetrar em fendas, fissuras e
canais do solo ou rocha;
- Sobrecarga vertical: causada pelo peso das árvores.

30
A Figura 1.25 ilustra a variação esquemática da estabilidade de encostas ao longo do
tempo em virtude de desmatamentos. Verifica-se que os processos de instabilização de
encostas e taludes tendem a se acelerar algum tempo após o desmatamento. Logo em
seguida à retirada das árvores, ocorre um acréscimo na estabilidade, devido à
eliminação dos efeitos negativos como sobrecarga, efeito alavanca, etc. Contudo, este
acréscimo de estabilidade tende a diminuir com o tempo, com o apodrecimento das
raízes e a eliminação do efeito de redistribuição de água de chuva.

Figura 1.25. Desmatamento e variação esquemática da estabilidade de encostas (Wolle,


1986).

31
CAPÍTULO 2

MÉTODOS DE INVESTIGAÇÃO RELACIONADOS A


MOVIMENTOS DE MASSA

2.1 ASPECTOS GERAIS

Uma investigação geotécnica está relacionada ao reconhecimento de um atual ou


provável deslizamento de massa, através da possibilidade de entendimento das causas e
mecanismos envolvidos em um movimento de massa. A realização de uma boa
caracterização geológico-geotécnica é de fundamental importância quando se objetiva a
elaboração de projeto de contenção, ou mesmo, a recomendação de medidas
emergenciais para se tentar evitar a ampliação de acidentes associados a movimentos de
massa. A maioria dos deslizamentos poderiam ser previamente diagnosticados face a
presença de uma investigação geotécnica. O objetivo básico da caracterização é
identificar os agentes, causas e condicionantes atuantes no processo de instabilização
existente ou potencial. Vale lembrar que o custo de prevenção de um deslizamento na
maioria das vezes é inferior aos danos que o mesmo pode vir a causar.

Os profissionais que atuam na prevenção e no controle de movimentos de encostas, se


defrontam, constantemente, com questões relativas ao tipo, ao número, à distribuição
espacial e à profundidade das investigações a serem realizadas (Dunnicliff, 1982;
Mikkelsen, 1996), bem como à utilização de outros métodos de caracterização
geológico-geotécnica, como instrumentação e ensaios “in situ” e de laboratório. Essas
questões requerem uma metodologia, que resulte na otimização dos trabalhos de
investigação e caracterização geológico-geotécnica e, ao mesmo tempo, na obtenção de
dados com qualidade e quantidade compatíveis com a melhor medida de estabilização
para o caso estudado (Augusto Filho & Virgili, 1998).

Segundo Johnson & Degraff (1988) o planejamento de uma investigação envolve os


seguintes aspectos:

ƒ A identificação da questão ou questões que a investigação pode responder, ou seja,


uma clara definição do propósito da investigação;

ƒ Identificação das características do deslizamento a serem investigados (plano de


investigação - etapas), incluindo a área, profundidade e duração da investigação.

2.2 ETAPAS DE INVESTIGAÇÃO GEOLÓGICA - GEOTÉCNICA


DESTINADAS À ESTABILIDADE DE ENCOSTAS

Augusto Filho (1992), apresenta na Figura 2.1 uma proposta metodológica para o
entendimento das investigações geológico-geotécnicas envolvendo oito etapas
organizadas em uma estrutura de fluxo cíclica.

32
PLANEJAMENTO

LEVANTAMENTO
DE DADOS

INVESTIGAÇÕES
SUPERFÍCIE

MODELO
FENOMENOLÓGICO INVESTIGAÇÕES DE
SUBSUPERFÍCIE

AVALIAÇÃO INSTRUMENTAÇÃO
insuficiente

suficiente
ENSAIOS

PROJETO DE
ESTABILIZAÇÃO

Figura 2.1. Etapas de investigação geológico-geotécnica voltada à correção de


escorregamentos (Augusto Filho, 1992).

2.2.1 Levantamento de dados preexistentes

Envolve o levantamento e tratamento dos dados que formam o conjunto de fatores


predisponentes, ou o conjunto de condições geológicas e geométricas da área a ser
estudada. Esses dados são obtidos a partir de mapas geológicos, geomorfológicos,
topográficos, cartas ou mapas geotécnicos e outros relatórios disponíveis. Os índices
pluviométricos e sua relação com a ocorrência de instabilizações na área estudada são
outra fonte importante para delimitação das condições de contorno do local investigado
(Augusto Filho & Virgili, 1998).

33
2.2.2 Investigações de superfície

Segundo Augusto Filho e Virgili (1998), a caracterização geológico-geotécnica voltada


para o estudo de encostas, inicia-se em geral pelas investigações de superfície, que
servem de base para todos os demais trabalhos. As investigações de superfície se
dividem em:

ƒ Levantamentos de campo: objetivam o mapeamento geológico de superfície, a


identificação de feições de instabilidade, tais como:
formações geológicas, perfil de alteração, estruturas
geológicas (foliação, fraturas, etc.), instabilizações
existentes, feições de movimentação (trincas,
degraus, etc.), surgências d’água e zonas de
saturação, geometria do talude, tipo de cobertura
vegetal, interferências antrópicas (terraplenagens,
obras, redes de esgoto e água, edificações, etc.).

ƒ Levantamentos topográficos: destacam-se os seguintes aspectos: definição da


bacia de contribuição, da continuidade da encosta,
das litologias principais, dos depósitos, etc.

ƒ Levantamentos fotogramétricos: a interpretação de fotografias aéreas representa um


poderoso instrumento no estudo de escorregamentos,
permitindo uma visão tridimensional do terreno, e a
identificação das inter-relações entre topografia,
drenagem, cobertura superficial, feições geológicas e
atividades humanas. Permite também acompanhar a
evolução das instabilizações. A documentação
fotográfica terrestre também constitui importante
ferramenta de investigação de superfície, facilitando
a documentação e descrição das instabilizações,
permitindo a restituição de cicatrizes de
escorregamentos e dos perfis de alteração e feições
de interesse.

2.2.3 Investigações de subsuperfície

As investigações de subsuperfície visam complementar os mecanismos e modelos de


instabilização, formulados a partir dos trabalhos de caracterização de superfície. São
utilizadas para caracterização qualitativa e quantitativa das unidades geológico-
geotécnicas, identificação da superfície de movimentação, deterrminação do nível
d’água, instrumentação e realização de ensaios “in situ”, e obtenção de amostras para
realização de ensaios de laboratório. A Tabela 2.1 apresenta os principais métodos de
investigação de subsuperfície utilizados na investigação de encostas, as aplicações e os
parâmetros obtidos e suas respectivas limitações.

34
Tabela 2.1 Principais métodos de investigação de subsuperfície utilizados na
caracterização geológico-geotécnica de encostas (Augusto Filho & Virgili,
1998).

TIPO APLICAÇÕES/PARÂMETROS LIMITAÇÕES


Poços, trincheiras Acesso direto aos diferentes horizontes em Presença de lençol freático;
e cachimbos maciços terrosos amostras indeformadas horizontes resistentes e
(ensaios de cisalhamento, triaxiais, etc.), ensaios dificuldade de aeração
de permeabilidade e perda d’água (poços com profundidades
superiores a 10 metros)
Sondagem a trado Nível d’água, horizontes em maciços terrosos, Avanço através de camadas
(manual e amostras deformadas (granulometria), ensaios de cascalho lateritas, argilas
mecânica) de permeabilidade e pesquisa de jazidas para rijas, blocos rochosos.
aterros Rendimento baixo para
pofundidades maiores que
Diretos

10 m (manual) e 30m
(mecânico)
Sondagem a Nível d’água, horizontes em maciços terrosos e Avanço através de blocos
percussão transição solo/rocha, amostras poço deformadas, rochosos métricos e topo
ensaio SPT rochoso. Difícil execução
em profundidades
superiores a 40m
Sondagem Parâmetros anteriores em maciços terrosos e Custo relativamente
rotativa rochosos amostras pouco deformadas para elevado
ensaios em laboratório, ensaios in situ
(permeabilidade, perda d’água, etc.), execução
de injeções e tirantes, realização de furos
inclinados
Geofísicos Levantamentos extensivos, extrapolações a Necessidade de algumas
partir de algumas investigações de investigações de
subsuperfície. Métodos elétricos e sísmicos são subsuperfície para
Indiretos

os mais utilizados. Identificação do topo calibração. Topografias


rochoso e posição do lençol freático acentuadas e horizontes
inclinados podem impor
dificuldades no tratamento
e interpretaçào dos dados

2.2.4 Instrumentação

A instrumentação no estudo de encostas é utilizada na investigação e na elaboração do


projeto de estabilização, permitindo a obtenção de dados quantitativos sobre a geometria
da superfície de ruptura, deslocamentos horizontais e recalques de áreas instáveis,
comportamento hidrogeotécnico do maciço e avaliação da resistência, deformabilidade
e estado de tensões do talude.

As medidas de deformações, deslocamentos e pressões neutras, obtidas com a


instrumentação, traduzem indiretamente as condições de estabilidade, devendo ser
analisadas e tratadas através de modelos matemáticos, correlações e experiência anterior
acumulada. A Tabela 2.2 apresenta os principais tipos de instrumentos utilizados nos
estudos de encostas e os seus respectivos parâmetros de medição.

35
Tabela 2.2. Principais tipos de instrumentos utilizados no estudo de encostas (Augusto
Filho & Virgili, 1998).

INSTRUMENTOS PARÂMETROS
Marcos superficiais
Prismas óticos
Extensômetros (haste e fio)
Fissurômetros Deslocamentos e
Medidores de recalque recalques
Indicadores de movimentações em profundidade
Inclinômetros
Células de carga em tirantes Cargas

Células de pressão total Pressões de terra

Piezômetros (tipo Casagrande, de máxima, hidráulicos e elétricos) Pressões d’água


Tensiômetros (pressões negativas de sucção)

Medidores de vazão (hidrômetros, vertedouros, recipientes) Vazões d’água

A quantidade e localização dos instrumentos são determinadas pelos objetivos


pretendidos (monitoramento de obra, sistemas de alarme, pesquisa, etc.), tipo de
processo de instabilização existente ou esperado e os recursos e prazos disponíveis para
as medições. No caso de projetos de estabilização, deve-se procurar instalar o maior
número possível de instrumentos nas fases iniciais da obra, permitindo o
aproveitamento dos dados levantados em possíveis adequaçòes de projeto. A operação
da instrumentação, os cálculos e o tratamento inicial dos dados devem ser
sistematizados o máximo possível. Critérios de aceitação e rejeição de leituras também
devem ser previamente estabelecidos.

2.2.5 Ensaios de laboratório e “in situ”

Os ensaios mais comumente utilizados no estudo de estabilidade de encostas buscam a


determinação das propriedades e dos parâmetros de interesse dos maciços terrosos e
rochosos em relação aos processos de instabilização. Os ensaios de laboratório
compreendem os ensaios para determinação de índices físicos, análise granulométrica,
limites de Atterberg, permeabilidade; e os voltados à determinação de parâmetros de
resistência (coesão e ângulo de atrito), tais como os ensaios de cisalhamento direto e
compressão triaxial.

A confiabilidade dos resultados dos ensaios de laboratório está diretamente associada à


obtenção de amostras representativas e de boa qualidade. No caso da obtenção de
parâmetros de resistência de maciços terrosos é usual extrair amostras indeformadas
(tipo bloco ou denisson quando em profundidade). Para extração de amostras em
profundidades maiores e/ou abaixo do nível d’água, utilizam-se amostradores tipo
shelby (usado para argilas moles saturadas, que podem ocorrer nas fundações de aterro).
Os ensaios SPT (“Standard Penetration Test”), realizados em sondagens à percussão, e o
CPT (“Cone Penetration Test”) são os mais utilizados para estimativa da resistência dos
materiais “in situ”. O “vane test”, ou ensaio de palheta, é utilizado para determinação da

36
resistência ao cisalhamento de argilas moles (resistência não drenada). A tabela 2.3
apresenta uma síntese dos principais ensaios de laboratório e “in situ” utilizados no
estudo de estabilidade de encostas.

Tabela 2.3. Principais ensaios de laboratório e campo utilizados em estudo de


estabilidade de encostas.

ENSAIOS UTILIZAÇÃO
Granulometria Caracterização física
Limites de Atterberg Caracterização física
Permeabilidade saturada Determinação da condutividade
hidráulica
Resistência ao cisalhamento Parâmetros de resistência (c e φ)
convencional
LABORATÓRIO Resistência ao cisalhamento com Parâmetros de resistência (c e φb)
sucção controlada
Ensaios triaxiais (CD, CIU, UU) Parâmetros de resistência (c e φ)
Palheta de laboratório Resistência não drenada
Ensaios edométricos Parâmetros de compressibilidade
(colapsibilidade, expansividade)
Sondagem a percussão - SPT Estimativa da resistência
Sondagem rotativa Extração de rochas
Permeabilidade – “guelph” Condutividade hidráulica “in situ”
CAMPO CPT / CPTU Atrito lateral, estatigrafia, poro
pressão, resistência de ponta
Palheta - Vane Resistência não drenada
Pressiômetro Módulo de deformação do solo,
resistência (pressão limite)

37
CAPÍTULO 3

ANÁLISE DE ESTABILIDADE

3.1 Aspectos gerais / definição

A análise de estabilidade envolve um conjunto de procedimentos visando a


determinação de um índice ou de uma grandeza que permita quantificar o quão próximo
da ruptura um determinado talude ou uma encosta se encontra, considerando um
determinado conjunto de condicionantes atuantes (poro pressões neutras, sobrecarga,
geometria, natureza do terreno, etc.). Uma análise de estabilidade significa verificar se o
talude é estável através da determinação do fator de segurança associado a uma
superfície potencial de deslizamento crítica.

Os métodos de análise de estabilidade podem ser divididos em três grupos principais


(Augusto Filho & Virgili, 1998):

™ Métodos analíticos (equilíbrio-limite): envolvendo os baseados na teoria do


equilíbrio-limite e nos modelos matemáticos de tensão e deformação;
™ Métodos experimentais: empregando modelos físicos de diferentes escalas;
™ Métodos observacionais: baseados na experiência acumulada com a análise de
rupturas anteriores (retroanálise, ábacos de projeto, opinião de especialistas, etc.).

As análises de estabilidade baseadas nos métodos analíticos empregando-se o


equilíbrio-limite são as mais utilizadas. A análise de equilíbrio limite considera que as
forças que tendem a induzir a ruptura são exatamente balanceadas pelos esforços
resistentes. A fim de comparar a estabilidade de um talude em diferentes condições de
equilíbrio-limite, defini-se o fator de segurança (FS) como sendo a forma numérica de
quantificar a estabilidade do talude através da relação entre as grandezas resistentes que
ocorrem na ruptura e as grandezas resistentes necessárias ao equilíbrio. O fator de
segurança define o estado da estabilidade de uma encosta. Quando o fator de segurança
tem valor unitário, a encosta encontra-se na condição de equilíbrio limite.

FS = Grandezas resistentes que ocorrem na ruptura (R)


Grandezas resistentes necessárias ao equilíbrio (S)

A adoção de um determinado valor do fator de segurança (FS) num projeto visando


estabilização de um talude, depende de vários fatores, entre os quais destacam-se as
consequências potenciais associadas à instabilização do talude (área urbana, mineração,
estrada, etc.), a dimensão do talude, a heterogeneidade do maciço investigado, a base de
dados utilizada, etc. Os métodos analíticos, que utilizam as relações de tensão-
deformação, requerem o conhecimento das resistências ao cisalhamento de pico, pós-
pico e residuais e do estado de tensões do maciço. Um aspecto básico de uma análise de
estabilidade reside na seleção adequada dos valores dos parâmetros envolvidos no
cálculo do FS (pressões neutras ângulo de atrito, coesão, peso específico). A tabela 3.1
apresenta valores de FS determinísticos e as respectivas condições de estabilidade do
talude.

38
Tabela 3.1. Exemplos de valores de FS.

Custos e conseqüências numa ruptura do talude Incerteza na medida de resistência


Pequeno 1 Grande 2
Custo de reparação comparável ao de construção. 1.25 1.5
Nenhum perigo a vidas humanas ou a outros bens
se o talude romper.
Custo de reparação muito maiores do que o custo de 1.5 2.0 ou maior
construção. Perigo a vidas humanas ou prejuízo a
outros bens se o talude romper.

1
as incertezas nas medidas de resistência são pequenas, se as condições do solo forem
uniformes e os parâmetros de resistência obtidos dos ensaios forem consistentes e de
elevada qualidade.
2
as incertezas nas medidas de resistência são grandes, se as condições do solo forem
complexas e os parâmetros de resistência obtidos dos ensaios não forem consistentes.

A depender dos fatores predisponentes e acionantes atuando em um maciço, podemos


ter variações do fator de segurança com o tempo, conforme ilustra a Figura 3.1. Agentes
como processos erosivos, precipitações intensas e carregamento do topo do maciço
podem deflagrar a instabilidade do mesmo ao longo do tempo.

Figura 3.1. Variação do fator de segurança com o tempo.

39
3.2 ASPECTOS A SEREM CONSIDERADOS NUMA ANÁLISE DE
ESTABILIDADE

De uma forma geral, as informações mínimas necessárias a uma análise de estabilidade


são:

ƒ Características do problema: FS/ Tempo crítico, análise em termos de tensões totais


ou efetivas, etc;
ƒ Geometria do talude (inclinação, altura, forma);
ƒ Perfil geotécnico;
ƒ Parâmetros geotécnicos dos materiais;
ƒ Hidrologia superficial e subterrânea;
ƒ Poro pressões;
ƒ Estudo da pluviometria;
ƒ Condições de carregamento (externo e interno);
ƒ Escolha do método de cálculo;
ƒ Definição da (s) superfície (s) potencial (ais) de ruptura;
ƒ Obtenção de um fator de segurança mínimo.

3.2.1 Condições de resistência ao cisalhamento drenada e não drenada

Movimentos de massa podem ocorrer sob condições drenadas ou não drenadas. Se a


instabilidade é causada por mudanças no carregamento, que podem acontecer com a
remoção de material da encosta ou com carregamento no topo da mesma; solos que
apresentam baixos valores de permeabilidade não tem tempo de drenarem a água interna
durante o período de tempo em que carregamentos são variados, ocasionando um
desequilíbrio de excesso de poro pressões, podendo levar a encosta à ruptura,
caracterizando desta forma, uma condição de ruptura não drenada. Submetendo-se a
mesmas razões de carregamento solos com maiores permeabilidades, ocorre drenagem
da água, significando ausência de excessos de poro pressões.

Duncan (1996) sugere a determinação do fator adimensional de tempo (T) para


estimativa da condição de ruptura drenada ou não drenada, através da seguinte
expressão:

T = CV t / D2

Onde: CV = coeficiente de adensamento vertical; D = comprimento de drenagem e t =


tempo requerido para drenagem.

Se T ≥ 3, temos um comportamento drenado da camada de solo envolvido no processo


de instabilização; se T ≤ 0.1, muito pouca drenagem irá ocorrer durante o período de
carregamento, consequentemente o solo pertencente à zona de ruptura é tratado como
não drenado nas análises de estabilidade. Se 0.1 < T < 3, uma drenagem parcial irá
ocorrer durante o período em que houver mudanças no carregamento. Neste caso, ambas
condições (drenada e não drenada) podem ser utilizadas para análise do problema.

Numa análise de estabilidade os parâmetros de resistência representados pelo ângulo de


atrito e a coesão são as propriedades mais significativas dos materiais envolvidos num

40
deslizamento. A Figura 3.2 ilustra correlaciona as tensões normais e as tensões
cisalhantes obtidas de um ensaio de cisalhamento direto (condição drenada). Visualiza-
se esquematicamente os resultados obtidos numa amostra de rocha que contenha uma
discontinuidade e que esteja sendo ensaiada ao longo da mesma.

Figura 3.2. Correlação entre a tensão cisalhante e a tensão normal.

A tensão cisalhante τ , necessária para provocar um deslizamento, aumenta com o


aumento da tensão normal σ. A inclinação da linha que relaciona as duas tensões,
normal e cisalhante, define o ângulo de atrito φ. Quando a tensão normal for igual a
zero, será necessário um determinado valor da tensão cisalhante para provocar a
movimentação. Esse valor inicial da tensão cisalhante define a coesão do material. A
relação entre as duas tensões pode ser definida pela equação de Morh-Coulomb
(τ = c + σ tan φ).

A resistência ao cisalhamento na condição não drenada é representada na Figura 3.3.


Observa-se que a tensão cisalhante (τ) não é influenciada com aumento das tensões
normais aplicadas (σ). Como conseqüência temos que a coesão corresponde a tensão
cisalhante representada por Su (τ = Su).

41
Figura 3.3. Resistência ao cisalhamento não drenada de um solo argiloso.

3.2.2 Tempo crítico para análise do fator de segurança

As Figuras 3.4 e 3.5 ilustram a variação do fator de segurança e da poro pressão com o
tempo para o caso de um aterro sobre solo mole (Figura 3.4) e de uma escavação
(Figura 3.5). Observa-se na Figura 3.4 que o fator de segurança é mínimo no final da
construção do aterro (curto prazo) coincidindo com máximas poro pressões, já que as
mesmas requerem um período de tempo além da construção para sua dissipação. Com o
tempo, ocorrendo a dissipação das poro pressões, as tensões efetivas aumentam,
consequentemente, aumentando também a resistência e o fator de segurança.

O inverso ocorre numa escavação, conforme ilustra a Figura 3.5, onde o fator de
segurança é mínimo apenas a longo prazo. Observa-se que logo após a escavação, as
poro pressões atuantes são mínimas e o fator de segurança é máximo. Ao longo do
tempo as poro pressões negativas são dissipadas com o tempo, conduzindo a uma
redução da resistência e do fator de segurança com o tempo.

42
Figura 3.4. Variação do FS com o tempo – Aterro.

43
Figura 3.5. Variação do FS com o tempo – Escavação.

3.2.3 Análise em termos de tensões totais e efetivas

A escolha da análise em termos de tensões totais ou efetivas irá depender das


características dos materiais e de condições impostas. As análises em tensões efetivas
representam as melhores análises, podendo ser utilizada em qualquer situação; desde
que se tenham o conhecimento das tensões totais e das poro pressões atuantes no caso
em questão. A análise em tensões totais é mais simples de se realizar; pois não é
necessário o conhecimento de poro pressões atuantes, porém pode não representar uma
análise precisa do problema. A dificuldade da análise em tensões efetivas é o
conhecimento das poro pressões, já que as mesmas não são grandezas de simples

44
definição. A Tabela 3.2 ilustra algumas condições impostas e suas considerações nas
análises de estabilidade em termos de tensões totais ou efetivas.

Tabela 3.2. Condições de estabilidade.

Condições Final da construção Carregamento em Longo prazo


etapas
Análise do Análise em tensão Análise em tensão Análise em tensão
procedimento e tensão efetiva usando c’ e φ’ efetiva usando c’ e φ’ efetiva usando c’ e φ’
cisalhante p/ condição
drenada
Análise do Análise em tensão total Análise em tensão total Análise em tensão
procedimento e tensão usando c e φ a partir de usando SU obtido do efetiva usando c’ e φ’
cisalhante p/ condição ensaios de campo, UU ensaio de laboratório.
não drenada (solos ou CIU (laboratório) CU estimativa de
impermeáveis) pressão de
consolidação
Poro pressão interna Análise em tensão Análise em tensão Análise em tensão
total, desconsidera poro total, desconsidera poro efetiva. u é obtido da
pressão interna. Fixa u pressão interna. Fixa u análise de percolação
igual a zero na entrada igual a zero na entrada
de dados. Análise em de dados. Análise em
tensão efetiva, u é tensão efetiva, u é
obtido de análise de obtido de análise de
percolação percolação
Pressão externa da incluir incluir incluir
água
Peso específico total total total

3.3 FORMULAÇÃO BÁSICA DO TIPO EQUILÍBRIO-LIMITE PARA


CÁLCULO DO FATOR DE SEGURANÇA

Considere um bloco apoiado sobre um plano de inclinação i, conforme ilustra a Figura


3.6.

Figura 3.6. Relação de forças na análise de equilíbrio-limite (Guidicini e Nieble, 1984).

45
Observa-se que o bloco é solicitado por seu peso próprio (P), sendo que a parcela
P sen i tende a causar o escorregamento do mesmo. O esforço normal atuante na base
do bloco (superfície de escorregamento) é P cos i.

O esforço resistente é representado por R = τ A, onde τ é a resistência ao cisalhamento


do contato bloco-plano inclinado, τ = c + σ tan φ, e sendo A a área da base do bloco, c e
φ a coesão e o ângulo de atrito no contato bloco-plano inclinado. Supondo que não haja
coesão entre o bloco e a superfície de apoio, resultará:

τ = P cos i . tg φ onde: R = P cos i . tg


Α

O fator de segurança (FS) é dado por:

FS = Forças Resistentes (R)


Forças Solicitantes (S)

FS = P cos i . tg φ = tg φ
P sen i tg i

Νa condição de equilíbrio-limite (FS=1) tem-se: i = φ.

3.3.1 Modelo de análise

Os métodos mais utilizados de análise de estabilidade subdividem a massa de solo em


potencial de deslizamento em “fatias”, conforme ilustra a Figura 3.7.

Figura 3.7. Divisão da superfície de deslizamento em fatias (Duncan, 1996).

46
As grandezas atuantes em cada fatia são representadas na Figura 3.8. Pode-se observar
que as grandezas atuantes são as cargas externas, o peso próprio (W), a pressão da água
(U) e a resistência do solo (τ = T). Observa-se também na Figura 3.8 outras grandezas
atuantes tais como: o esforço normal na base da fatia (N=P), o esforço horizontal nas
laterais das fatias (E) e a força cisalhante entre fatias (X). A largura da fatia (b) e o
ângulo de inclinação (α) também são representados. A condição de equilíbrio pode ser
considerada fatia por fatia. Se a condição de equilíbrio for satisfeita para cada fatia,
consequentemente também será válida para toda a massa.

Figura 3.8. Forças atuantes numa “fatia” (Duncan, 1996).

O número de equações de equilíbrio irá depender do número de fatias e do número de


condições de equilíbrio que serão utilizadas. Como ilustrado na Tabela 3.3, o número de
equações é 2N se apenas o equilíbrio de forças for satisfeito e 3N se ambos, o equilíbrio
de forças e momento forem satisfeitos. Se apenas o equilíbrio de for forças for satisfeito,
o número de incógnitas é 3N – 1. Se ambos, ou seja, o equilíbrio de forças e momentos
for satisfeito, o número de incógnitas é 5N – 2.

No caso especial em que N=1, o problema é estatisticamente determinado, onde o


número de equações de equilíbrio é igual ao número de incógnitas. Para representar uma
superfície de ruptura de forma realística, é usualmente necessário a utilização de 12 a 40
fatias, onde o número de incógnitas irá exceder o número de equações. O excesso de
incógnitas é N – 1 para análise em termos de equilíbrio de forças e 2N – 2 para análises
que satisfaçam todas condições de equilíbrio. Desta forma, o problema é
estatisticamente indeterminado, e hipóteses são necessárias para se resolver o problema.
Sendo assim, teremos diferentes hipóteses para cada método de análise, os quais serão
discutidos no item 3.4.

47
Tabela 3.3. Equações e incógnitas na análise do equilíbrio-limite (Duncan, 1996).

EQUAÇÕES INCÓGNITAS
Métodos que satisfazem apenas o equilíbrio de forças
N = equilíbrio horizontal N = forças normais na base das fatias
N = equilíbrio vertical N – 1 = forças laterais
N – 1 = ângulos entre forças laterais
1 = fator de segurança
2N Total de equações 3N – 1 Total de incógnitas
Métodos que satisfazem o equilíbrio e o momento de forças
N = equilíbrio horizontal N = forças normais na base das fatias
N = equilíbrio vertical N = localização das forças normais na base das
N = equilíbrio do momento fatias
N – 1 = forças laterais
N – 1 = ângulos entre forças laterais
N – 1 = localização das forças laterais nas fatias
1 = fator de segurança
3N Total de equações 5N – 1 Total de incógnitas

Se os momentos de equilíbrio requeridos podem ser satisfeitos, mesmo com a


simplificação assumida das forças de equilíbrio entre as fatias, uma melhor solução da
análise de estabilidade é obtida em comparação com uma análise feita apenas em termos
do equilíbrio de forças.

3.4 MÉTODOS DE ANÁLISE DE ESTABILIDADE

Os principais métodos de cálculo são divididos em lineares e não lineares, sendo estes
últimos subdivididos em superfícies ciculares e não circulares. As hipóteses gerais para
os métodos aqui apresentados são baseados no equilíbrio-limite, descritas a seguir:

™ O equilíbrio de uma massa de material é delimitada por uma superfície potencial de


ruptura;
™ O caso em estudo é considerado bidimensional;
™ O estado de ruptura dos materiais é definido pelo critério de Morh-Coulomb
τ = c + σ tan φ (análise em tensão efetiva)
 τ = Su (análise em tensão total)

A tabela 6.4 ilustra os principais métodos de cálculo. Vale destacar que neste curso
iremos apresentar apenas os métodos do momento, taludes infinitos, Fellenius, Bishop
modificado e Spencer.

48
Tabela 3.4. Principais métodos de cálculo.

MÉTODOS
Método do momento p/ φ=0
Taludes infinitos
LINEARES Método de Culman
Método de Rendulic
Método do círculo de atrito

Superfície circular Método de Fellenius


Método de Bishop
Método de Bishop Modificado
NÃO LINEARES
Superfície qualquer Método de Spencer
Método de Morgenstern e Price
Método de Janbu
Método de Sarma
Método dos Blocos

Cada método apresenta suas próprias características para satisfazer o equilíbrio e


solução do problema, sendo:

™ Considerações das formas de superfície de ruptura: circular e não circular;

™ Hipóteses simplificadoras: posição da força normal na base da fatia, definição sobre


as forças entre fatias (inclinação, posição, etc.);

™ Equações de equilíbrio: Σ FV , Σ FH , Σ M 0.

3.4.1 Método do momento p/ φ=0

É assumido que a ruptura ocorre pela rotação de um bloco de solo numa superfície
cilíndrica onde apenas a resistência não drenada é mobilizada (resistência puramente
coesiva), conforme ilustra a Figura 3.9.

Figura 3.9. Cálculo do fator de segurança para o Método do momento p/ φ=0 (Nash,
1987).

49
Considerando-se o comprimento do arco: L = R θ; τ é a resistência ao cisalhamento ao
longo de L, então: T = τ.L e considerando-se W = peso do bloco de solo, temos:

MO : Momento solicitante = Wx; momento resistente = T.R

Critério de ruptura: S = CU

Resistência ao cisalhamento mobilizada: τ = S/F; então τ = CU/F; onde F= fator de


segurança

No equilíbrio: Wx = T.R

Onde: Wx = CU L R F = CU L R
F Wx

Onde:

F = fator de segurança;
L = comprimento do arco
R = raio do arco
W = peso da fatia
X = distância entre o centro O e a força W

3.4.2 Método de Taludes Infinitos

É assumido que a ruptura ocorre pelo deslizamento de um bloco de solo formando uma
superfície de ruptura planar e paralela ao nível do terreno (Figura 3.10).

Figura 3.10. Cálculo do fator de segurança para o Método de talude infinito (Nash,
1987).
.

50
Para a fatia mostrada na figura 3.10: na base – tensão normal total σ, tensão de
cisalhamento τ, poro pressão u

Talude infinito: QL = QR

Perpendicular a base do talude: P = W cos β = σ l; então: σ = W cos2 β


b
Paralelo a base do talude: T = W sin β = σ l; então: σ = W sin β cos β
b

Critério de ruptura de Mohr- Coulomb: s = c’+ (σ-u) tan φ’

Resistência ao cisalhamento mobilizada: τ = s/F onde F é o fator de segurança

Assim: W sin β cos β = 1 (c’ + [ W cos2 β – u] tan φ’)


b F b

FS = c’ + [ γ z cos2 β – u] tan φ’
γ z sin β cos β

Casos particulares:

a) Taludes em solos não coesivos (c´ = 0) sem percolação (solo homogêneo):

c´ = 0 FS = γ z cos2β tg φ
γ z cosβ senβ
u=0

p/ FS =1 tgβ crít = tg φ ´ ; β crít = φ ´

b) Taludes em solos homogêneos não coesivos (c´ = 0) com percolação (NA =NT) :

c´ = 0 ; FS = (γ z cos2β - γw z cos2β ) tg φ ´ = (γ - γw) tg φ ´


γ z cosβ senβ γ tg β
Zr = Z

p/ FS =1 tgβ = γ sub tg φ
γ sat

tgβ ≈ 1/2 tg φ ´ (β ≈ φ ´/2)

51
Exemplo:

Calcule o FS para o talude abaixo e emita seu parecer quanto a estabilidade do talude.

Dados:

solo homogêneo
L/D > 10
φ ´ = 28º
γ h = 17kN/m3
γ sat = 19kN/m3

Aplicação da fórmula geral:

FS = c’ + [ γ z cos2 β – u] tan φ’
γ z sin β cos β

Desenvolvimento da fórmula:

FS = c ´ + [ (γ sat z sat + γ h z h - γ w zsat) cos2β ] tg φ ´


(γ sat z sat + γ h z h ) cos β sem β

Variáveis utilizadas:

z sat = 6,0 - 2,0 = 4,0m


zh = 2,0m
c ´ = 40 kPa , φ ´ = 28º
γ h = 17kN/m3
γ w = 10kN/m3
γ sat = 19kN/m3
β = 40º

Desenvolvimento do cálculo:

FS = 40 + [ (19 x 4 + 17 x 2 - 10 x 4) cos240 ] tg 28
(19 x 4 + 17 x 2 ) cos40 sen40

FS = 1,14

52
Parecer:

Conclui-se que o fator de segurança foi menor que o recomendável, FS = 1,5; e que está
muito próximo de 1. O talude apresenta-se marginalmente estável. Para sua estabilidade
recomenda-se a utilização de uma solução de estabilização, de forma a aumentar o seu
FS. Opções: rebaixamento do NA e/ou diminuir a inclinação β.

3.4.3 Método de Fellenius

É assumido que a ruptura ocorre pela rotação de um bloco de solo numa superfície
cilíndrica de deslizamento centrada no ponto O. Examinando o momento de equilíbrio
em relação ao ponto O, é obtida uma expressão para o fator de segurança (Figura 3.11).

™ Hipóteses: resultante das forças entre fatias em cada fatia é paralela a sua base
(θ=α); força normal no centro da base da fatia.
™ Condição de equilíbrio: Σ Fnormal à base = 0 ; Σ M 0.= 0

Figura 3.11. Cálculo do fator de segurança para o Método de Fellenius (Nash, 1987).
.

Para a fatia mostrada na figura 3.11: na base – tensão normal total σ, tensão de
cisalhamento τ, poro pressão u

Critério de ruptura de Mohr- Coulomb: s = c’+ (σ-u) tan φ’

Resistência ao cisalhamento mobilizada: τ = s/F onde F é o fator de segurança

P = σ l ; T = τ l então T = l (c’l + (P – ul) tan φ’)


F

Assumindo que resultante das forças entre fatias Q é paralela a base da fatia

Resolvendo normal a base da fatia: P = W cos α

53
Momento de equilíbrio em relação ao ponto O: Σ W R sin α = Σ T R
(as forças entre fatias são internas e seu momento resultante é nulo)

então: Σ W R sin α = Σ l (c’l + (P-ul) tan φ’)


F

FSm = Σ (c’l + (P-ul) tan φ’) ; substituindo por P:


Σ W sin α

Fm =
∑ (c' l + (W cosα − ul ) tan φ ')
∑Wsinα
onde,
Fm = fator de segurança;
c’= coesão efetiva;
l = variação do comprimento do arco na base da fatia;
W = peso da fatia;
α = ângulo que a força normal faz com a vertical;
u =poro-pressão;
φ’= ângulo de atrito efetivo

Características do método:

• É utilizado somente para superfícies circulares;


• Satisfaz as condições de equilíbrio de momento;
• Não satisfaz o equilíbrio das forças horizontais e verticais;
• É assumido que a resultante das forças entre fatias em cada fatia é paralela a sua
base;
• É altamente impreciso para análises em termos de tensões efetivas em taludes com
altos valores de poro-pressão, o fator de segurança obtido é muito baixo;
• O método é bem acurado para análises com φ =0 e para qualquer tipo de análise em
termos de tensões totais usando superfícies circulares;
• Não possui problemas numéricos;
• Não fornece diretamente o fator de segurança mínimo ou crítico;
• Não possui iterações, e permite análise com heterogeneidade do solo;
• É o método mais simples, mais rápido, porém, menos preciso na análise de
estabilidade do que os outros métodos.

3.4.4 Método de Bishop Modificado

É assumido que a ruptura ocorre pela rotação de um bloco de solo numa superfície
cilíndrica de deslizamento centrada no ponto O. Examinando o momento de equilíbrio
em relação ao ponto O, é obtida uma expressão para o fator de segurança (Figura 3.12).

54
™ Hipóteses: as forças entre fatias são horizontais (θ=0); força normal no centro da
base da fatia.
™ Condição de equilíbrio: Σ FV= 0 ; Σ M 0.= 0

Figura 3.12. Cálculo do fator de segurança para o Método de Bishop Modificado (Nash,
1987).

Para a fatia mostrada na figura 3.12: na base – tensão normal total σ, tensão de
cisalhamento τ, poro pressão u

Critério de ruptura de Mohr- Coulomb: s = c’+ (σ-u) tan φ’

Resistência ao cisalhamento mobilizada: τ = s/F onde F é o fator de segurança

P = σ l ; T = τ l então T = l (c’l + (P – ul) tan φ’)


F

Resolvendo verticalmente: : Σ FV= 0 ; P W cos α + T sin α = W – (XR - XL)

Assumindo XR - XL = 0 (forças horizontais entre fatias)

P = [ W - l (c’l sin α -ul tan φ’ sin α)] / mα


F

⎛ tgαtgφ ' ⎞
onde: mα = cosα ⎜1 + ⎟
⎝ F ⎠

Σ M 0.= 0 : Σ W R sin α = Σ TR

Substituindo por T: FSm = Σ (c’l + (P-ul) tan φ’)


Σ W sin α

55
Substituindo P (W= γ h b; b l cosα)

Fm =
∑ [b.(c'+(γh − u )tgφ ' / mα ]
∑W sen α
onde:
Fm = fator de segurança;
b =base da fatia;
c’= coesão efetiva;
γ = peso específico;
W = peso da fatia;
α = ângulo que a força normal faz com a vertical;
u =poro-pressão;
φ’= ângulo de atrito efetivo

Características do método:

• É utilizado somente para superfícies circulares;


• Satisfaz as condições de equilíbrio de momento e de forças verticais;
• Não satisfaz o equilíbrio das forças horizontais;
• É assumido que a resultante das forças entre fatias é horizontal;
• É um método iterativo;
• É preciso para todas as condições, exceto quando são encontrados problemas
numéricos;
• É usado como comparação com outros métodos mais sofisticados.

3.4.5 Método de Spencer

É assumido que a ruptura ocorre pela rotação de um bloco de solo numa superfície
cilíndrica centrada no ponto O, podendo-se também ser aplicado à uma análise em
termos de superfície não circular. Examinando o momento de equilíbrio e as forças de
equilíbrio duas expressões são obtidas para o fator de segurança (Figura 3.13).

™ Hipóteses: É assumido que a resultante das forças entre fatias têm uma inclinação
constante (θ), e a inclinação é encontrada na condição em que as duas expressões
resultarem no mesmo fator de segurança; sendo este último considerado o fator de
segurança do talude em questão.
™ Condição de equilíbrio: Σ FV= 0 ; Σ M 0.= 0

56
Figura 3.13. Cálculo do fator de segurança para o Método de Spencer (Nash, 1987).

Para a fatia mostrada na figura acima: na base – tensão normal total σ, tensão de
cisalhamento τ, poro pressão u

Critério de ruptura de Mohr- Coulomb: s = c’+ (σ-u) tan φ’

Resistência ao cisalhamento mobilizada: τ = s/F onde F é o fator de segurança

P = σ l ; T = τ l então T = l (c’l + (P – ul) tan φ’) (1)


F
Somatório das forças verticais: P cos α + T sin α = W – (XR -XL ) (2)

Substituindo por T, temos

⎡ l ⎤
P= ⎢W − ( X R − X L ) − (c' l sin α − ul tan φ ' sin α )⎥ / mα (3)
⎣ F ⎦

⎛ tan φ ' ⎞
Onde mα = cosα ⎜1 + tan α ⎟
⎝ F ⎠

Somatório das forças horizontais: T cos α - P sin α + ΕR - EL = 0 (4)

Substituindo por T, temos

ΕR-EL=P sin α − l (c’l + (P – ul) tan φ’)cos α (5)


F

X
Assumindo que = tan θ = constante em toda a curva. (6)
E

57
Momento de equilíbrio com relação ao ponto O: ∑WRsinα = ∑ TR (7)

Substituindo por T, temos

Fm =
∑ (c' l + ( P − ul ) tan φ ' ) (8)
∑Wsinα
Equilíbrio das forças:

Na ausência de superfície de carregamento: ∑ (E R − EL ) = 0 (9a)


∑ (X R − X L ) =0 (9b)

Da equação (5) ∑ (ΕR - EL) = ∑ P sin α − 1 ∑ (c’l + (P – ul) tan φ’) cos α
Ff

onde FF=
∑ (c' l + ( P − ul ) tan φ ')secα (10)
∑ (W − ( X − X )) tan α
R L

A solução é encontrada por iteração. Primeiro é admitido que XR - XL = 0. Então


valores de E e X são calculados usando as equações (5) e (6); os valores da tensão de
cisalhamento X constituem uma iteração. A inclinação θ entre as fatias é ajustada
quando Fm=Ff .

Na formulação origina do Método de Spencer a resultante das forças entre fatias Q é


utilizada, então Q cos θ = EL - ER , Q sin θ = XL - XR . P e T são eliminadas das equações
(2) e (4) acima para achar uma expressão para Q. O somatório dos momentos e das
forças de equilíbrio são satisfeitas pelas condições ∑ QR cos(α − θ ) = 0, ∑ Q = O e o
valor de θ é encontrado quando as duas expressões resultarem no mesmo fator de
segurança.

Ou seja, o fator de segurança é calculado usando um procedimento iterativo que varie F


e θ até as condições de forças e momento de equilíbrio serem satisfeitas para todas as
fatias.

Características do método:

O fator de segurança dado pela equação do momento varia apenas um pouco com o
aumento dos valores de θ. Para o caso em que θ=0, recai-se no método de Bishop
simplificado. Em contraste, a equação derivada das forças de equilíbrio era muito
sensível a θ. Ιsto, então, era a chave para a relativa acurácia do método de Bishop: que é
baseado apenas no equilíbrio dos momentos. Uma das vantagens do Método de Spencer,
é a sua utilização em superfícies não-circulares. Uma outra seria que a sua análise é feita

58
em termos do equilíbrio total dos momentos das fatias e do equilíbrio total de forças
entre as fatias, enquanto que Bishop utiliza apenas a análise em termos de equilíbrio do
momento.

3.4.6 Método de Janbu

É assumido que a ruptura ocorre pela rotação de um bloco de solo numa superfície não
circular. Examinando as forças de equilíbrio uma expressão é obtida para o fator de
segurança (Figura 3.14).

™ Hipóteses: É assumido que as forças cisalhantes entre fatias é zero, onde um fator de
correção é introduzido.
™ Condição de equilíbrio: Σ FV = 0

Figura 3.14. Cálculo do fator de segurança para o Método de Janbu (Nash, 1987).

Para a fatia mostrada na figura acima: na base – tensão normal total σ, tensão de
cisalhamento τ, poro pressão u

Critério de ruptura de Mohr- Coulomb: s = c’+ (σ-u) tan φ’

Resistência ao cisalhamento mobilizada: τ = s/F onde F é o fator de segurança

P = σ l ; T = τ l então T = l (c’l + (P – ul) tan φ’) (1)


F
Somatório das forças verticais: P cos α + T sin α = W – (XR -XL )

Assumindo XR = XL = 0 (forças horizontais entre fatias)

Substituindo por T, temos:

P = [ W - l (c’l sin α -ul tan φ’ sin α)] / mα (2)


F

59
⎛ tgαtgφ ' ⎞
onde: mα = cosα ⎜1 + ⎟
⎝ F ⎠
Resolvendo paralelo a base da fatia: T + (ER – EL) cos α = (W – (XR -XL )) sin α

Assumindo novamente XR = XL = 0 e substituindo por T

ER – EL = W tanα - l (c’l + (P – ul) tan φ’)secα (3)


F

Equilíbrio das forças: Σ ( ER – EL) = 0 (4)

Então Σ ( ER – EL) = Σ W tanα- l Σ (c’l + (P – ul) tan φ’)secα (5)


F

Onde F0 = Σ (c’l + (P-ul) tan φ’) secα (6)


Σ W tan α

Levando-se em consideração as forças XR e XL. Janbu aplica um fator de correção f0


para determinação do fator de segurança (ver Figura 3.15)

Desta forma, o fator de segurança total - Ft é dado pela seguinte expressão: Ft = f0 . F0

Figura 3.15. Fator de correção f0 utilizado no método de cálculo de Janbu (Nash, 1987).

60
3.5 ETAPAS PARA O CÁLCULO OPERACIONAL

ƒ Escolha do método de cálculo;


ƒ Definir superfície potencial;
ƒ Definir número e a posição das fatias;
ƒ Definir variáveis necessárias à equação / FS;
ƒ Determinar tabela e cálculo da equação / FS;
ƒ Obtenção do FS crítico.

EXEMPLO: Roteiro para cálculo de método de Bishop modificado:

Equações:

Fm =
∑ [b.(c'+(γh − u )tgφ ' / mα ]
∑W sen α

⎛ tgαtgφ ' ⎞
onde, mα = cosα ⎜1 + ⎟
⎝ F ⎠

F = Σ (16)
Σ (9)

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16
mα 14/mα
fatia c’ tg φ’ b h γh α sinα 4x u γh-u 3x 2+ 4x FS FS FS FS FS FS
6x 11 12 13
8

3.6 ANÁLISE DE ESTABILIDADE TRIDIMENSIONAL

Embora os métodos de cálculo de análise de estabilidade descritos anteriormente sejam


formulados para duas dimensões (2D), encontramos numa situação real uma dimensão
tridimensional (3D). Um questionamento que se faz refere-se a acurária e a
representatividade de uma análise em 2D, aplicada a um caso real (3D). Fatores de
segurança utilizando usando análises em 3D são maiores do que os calculados em 2D,
conforme ilustra a Figura 3.16.

61
Figura 6.16. Comparação entre análises em 2D e 3D (Duncan, 1996).

Verifica-se na Figura 3.16 (a) que os fatores de segurança em 2D obtidos são 1.10, 1.00
e 1.19. a seção central (seção 2) é a mais crítica, apresentando FS mínimo em análise
2D de 1.00. A Figura 3.16 (b) ilustra a análise em 3D. Observa-se que o FS mínimo em
3D para o caso da seção crítica é 1.01, correspondendo a um aumento de 1% em relação
ao fator de segurança encontrado na análise em 2D. Como a análise em 3D é bem mais
complexa do que a análise em 2D; a análise em 2D na maioria das análises de
estabilidade constitui-se suficiente para resolução dos problemas.

Azzouz et al. (1983) mostraram, através de uma análise tridimensional que o efeito das
extremidades geralmente é no sentido de aumentar o FS, obtido convencionalmente em
10 + 5%, podendo em certos casos, exceder a 20-30%. Isto implicaria em uma redução
da mesma ordem na resistência não drenada que corresponde a FS igual a unidade, de
forma a se obter o valor real de Su representativo da fundação. Os autores apresentam
am uma proposta prática para estimar esse efeito, para geometrias típicas de aterro
(Figura 3.17).

62
Seção A- A
O'
X

Rmín

Su
L Rmín
Y σ
A A
X
O

T
L FS 1 + 0,7 DR
FS 2L

Onde:
FST - fator de segurança tridimensional;
FS - fator de segurança bidimensional (convencional);
DR - Rmáx - Rmín
O'
Planta da superfície de ruptura

Figura 3.17. Análise tridimensional. Estimativa do efeito das extremidades do aterro


(Azzouz et al, 1983).

3.7 COMPARAÇÃO GERAL ENTRE OS MÉTODOS DE ANÁLISE

As diferenças encontradas nos métodos de análise de estabilidade referem-se a


consideração sobre o equilíbrio das forças e/ ou dos momentos e nas hipóteses sobre as
forças entre fatias (Duncan, 1996). A tabela 3.5 ilustra as características de alguns
métodos de análise.

Tabela 3.5. Métodos de análise (NASH, 1987).

Método Circular Não-circular Equilíbrio total Equilíbrio Hipóteses sobre


do momento total de forças as forças entre
fatias
Momento * *
Talude infinito * * Paralela ao
talude
Bishop * * * Horizontais
Janbu * * * Horizontais
Simplificado
Spencer * * * * Inclinação cte.

•MÉTODO DE FELLENIUS: fatores de segurança baixos - impreciso p/ taludes suaves


com elevadas poro pressões; utilizado apenas p/ superfícies circulares; assume que a

63
resultante das forças entre fatias é paralela a sua base; satisfaz condição de equilíbrio da
força normal a base da fatia.

• MÉTODO DE BISHOP MODIFICADO: método acurado; utilizado apenas p/


superfícies circulares; satisfaz condição de equilíbrio vertical e de momento geral de
equilíbrio; assume que as forças entre fatias são horizontais.

• MÉTODO DE JANBU SMPLIFICADO: método acurado; satisfaz apenas condição


de equilíbrio de forças; aplicado p/ qualquer superfície de ruptura; dificuldades de
cálculo.

•MÉTODO DE MORGENSTERN E PRICE: método acurado; satisfaz todas condições


de equilíbrio; aplicado para qualquer superfície de ruptura; a inclinação das forças
laterais podem ser as mesmas ou podem variar de fatia para fatia.

• MÉTODO DE SARMA: satisfaz todas condições de equilíbrio; aplicado para qualquer


superfície de ruptura.

• MÉTODO DE SPENCER: método acurado; satisfaz todas condições de equilíbrio;


aplicado p/ qualquer superfície de ruptura; assume que a inclinação das forças laterais
são as mesmas para cada fatia.

Os métodos de SPENCER, SARMA, MORGENSTERN e PRICE são métodos de


análise que satisfazem a todas condições de equilíbrio, apresentam FS com variações de
± 6%. O método de BISHOP SIMPLIFICADO é um caso especial, pois não satisfaz
todas as condições de equilíbrio e possui variação similar dos métodos que assim
procedem. O método de FELENIUS pode ser muito conservativo em até 50% p/ taludes
suaves e altas poro pressões.

Ao se comparar os métodos de Fellenius e Bishop; verifica-se o Método de Fellenius,


tem como vantagens principais a rapidez e a simplicidade de obtenção dos fatores de
segurança, aliado também a não necessidade de métodos iterativos. Porém, como
desvantagem possui algumas restrições por não levar em consideração as forças que
atuam entre as fatias por serem forças internas e não influenciarem na resultante do
momento; tendo como conseqüência resultados que podem ter erros da ordem de até
60%.

Com relação ao Método de Bishop Simplificado, verifica-se que este apresenta os


melhores resultados em se tratando de superfícies circulares, e se constitui de um caso
especial, pois não satisfaz a todas condições de equilíbrio e possui a mesma variação
dos métodos que assim procedem, sendo também bem mais preciso do que o Método de
Fellenius. Se o fator de segurança calculado usando o Método de Bishop Modificado for
menor do que o fator de segurança para o mesmo círculo calculado usando o Método de
Fellenius, pode ser concluído que ocorreram problemas numéricos com a análise feita
com o Método de Bishop Modificado. O fator de segurança obtido através do Método
de Fellenius é a melhor resposta nestes casos. Por esta razão é uma boa idéia calcular o
fator de segurança através do Método de Fellenius para cada círculo em que o Método
de Bishop é utilizado para se poderem comparar os valores obtidos.

64
CAPÍTULO 4

PROCESSO DE TRANSPORTE DE MASSA - EROSÃO

4.1 ASPECTOS GERAIS

A erosão é um processo da dinâmica superficial da terra onde ocorre à desagregação e


remoção de partículas do solo ou de fragmentos de rocha, pela ação combinada da
gravidade com a água, vento, gelo e organismos (plantas e animais) (Salomão e Iwasa,
1995).
Os fenômenos associados aos processos erosivos são comandados, basicamente por dois
conjuntos de fatores ou condicionantes principais: os fatores antrópicos e os fatores
naturais, destacando-se como mais importante a chuva, a cobertura vegetal, o relevo e o
tipo de solo. Em geral, distinguem-se duas formas de abordagem para os processos
erosivos: a erosão natural ou geológica e a erosão acelerada. A erosão acelerada quando
induzida por atividades humanas, é conhecida como erosão antrópica. Este tipo de
erosão é a que deve ser prevenida e combatida. A erosão por ação das águas é
predominante, responsável por danos como a queda de moradias, perda de solo
agricultável, soterramento de estradas, assoreamento de rios e canais, poluição, redução
da capacidade de armazenamento de reservatórios de água. No entanto, todo estes danos
podem ser prevenidos, pois é possível prever o desencadeamento e a evolução dos
processos, sendo necessário conhecer as potencialidades do solo e sua suscetibilidade à
erosão.

O intenso processo de urbanização, o acelerado crescimento industrial a expansão da


atividade agrícola e de mineração, provocam em seu conjunto, um grande número de
intervenções humanas no ambiente. Estas intervenções se processam sem maiores
critérios ou medidas de controle e prevenção, causando sérios danos ao ambiente e à
comunidade.

A atuação lenta e contínua dos processos erosivos modifica a forma do relevo,


normalmente após longos períodos de tempo. Com a interferência antrópica, esse
processo natural pode ser acelerado no tempo, ou como é mais freqüente ter aumentado
sua intensidade. Assim, o conhecimento do meio físico, solo, água e clima, suas
potencialidades e limitações constituem a base técnica, sobre a qual o poder público
deve estabelecer as medidas preventivas para o controle da erosão.

4.2 PROCESSOS DA DINÂMICA SUPERFICIAL

Apesar de aparentemente estático, o meio ambiente quando observado a distância é na


realidade extremamente dinâmico. Os quatro elementos que o constituem, águas, ar,
organismos e a superfície da terra, convivem em permanente interação e
interdependência, criando cenários físico-químico-biológicos em continuada renovação
de equilíbrio. O resultado da interação entre as formas naturais de energia com os
materiais naturais do meio ambiente constitui um processo deflagrado ou catalisado por
agentes externos.

65
De acordo com a figura 4.1, a erosão é caracterizada pela água como um processo de
dinâmica superficial onde os grãos do solo (materiais naturais), são desagregados e
mobilizados pela força da gravidade (energia) e por causa da água (agente).

AGENTES OU
FATORES ATIVOS

FLUXOS MATERIAIS
DE NATURAIS
ENERGIA

PROCESSOS DO
MEIO FÍSICO

Figura 4.1. Elementos de um processo do meio físico (Gusmão Filho, 1997)

Os processos que tendem a mudar a forma da superfície da terra, modelando e


destruindo as paisagens, estão diretamente relacionados com as diferentes formas de
energia (forças) atuantes na superfície da terra. Quando os processos agem no sentido de
fora para dentro são chamados exógenos, e quando são de dentro para fora são ditos
endógenos. Existe uma tendência da natureza para nivelar a superfície da terra, em um
processo de pleniplanização ou gradação, que compreende dois processos exógenos.

A agregação, quando constrói a superfície a partir dos pontos baixos, e a degradação


quando baixa os pontos elevados. Os processos que contribui para a agregação são de
forma geral, aquele que formam depósitos de solo, cujos principais agentes são as águas
livres e subterrâneas, ondas e correntes, ventos e gelo glacial. Já os processos de
degradação compreendem a intemperização que pode ser física/química, os movimentos
de massa e a erosão que inclui o transporte de seus agentes (Tabela 4.1).

66
Tabela 4.1. Agentes de transportes (Gusmão Filho, 1995).

Agente de erosão Processo de captura Processo de erosão Método de


Transporte
Água livre Ação hidráulica Abrasão, corrosão Flotação, saltação,
Suspensão, Solução,
Tração
Água subterrânea Solução Corrosão Solução
Ondas e correntes Ação hidráulica Abrasão Flotação, saltação,
Suspensão, Solução,
Tração
Vento Deflação Abrasão Saltação, Suspensão,
Tração
Gelo Desgaste Abrasão Suspensão, Tração

4.3 EROSÃO E SEUS EFEITOS NOS RECURSOS NATURAIS

A erosão é um fenômeno complexo, que basicamente consiste na desagregação ou


meteorização de um solo de material rochoso por ação dos agentes atmosféricos e
posteriormente desnudação por arraste das partículas desagregadas. A figura 4.2, mostra
a erosão como problema central e seu efeito nos recursos naturais.

DEGRADAÇÃO POLUIÇÃO DOS


DO SOLO MANANCIAIS

EROSÃO
DO SOLO

BAIXA ASSOREAMENTO
PRODUTIVIDA

Figura 4.2. Erosão e seus efeitos nos recursos naturais

A definição de erosão segundo o “American Geological Institute”, é constituída pelo


grupo de processos sob os quais o material rochoso é desagregado, decomposto e
removido de alguma parte da superfície terrestre. A água é o agente que considerado
isoladamente, é o mais importante pelo poder desagregador e como transportador dos
sedimentos. A intensidade com que se manifesta depende de uma série de fatores como:
geologia, clima da região, topografia etc. Observa-se também, uma inadequação do
planejamento de uso do solo, ao se deparar com o crescente número de habitações

67
implantadas em locais inadequados, e sem elaboração do devido estudo de impacto
ambiental.

O processo erosivo causado pela água das chuvas tem abrangência em quase toda a
superfície terrestre, em especial nas áreas com clima tropical, onde os totais
pluviométricos são bem mais elevados do que em outras regiões do planeta. Além disso,
em muitas dessas áreas, as chuvas se concentram em certas estações do ano, o que
agrava ainda mais a erosão. O processo tende a se acelerar, à medida que mais terras são
desmatadas para a exploração de madeiras e/ou para a produção agrícola, uma vez que
os solos ficam desprotegidos da cobertura vegetal e, conseqüentemente, as chuvas
incidem diretamente sobre a superfície do terreno.

No Brasil, destaca-se a água como agente erosivo, cujo início do processo se dá através
do desprendimento das partículas do solo, pelo impacto das gotas de chuva na superfície
e pelo escoamento superficial, Queiroz Neto & Christofoletti (1968); Foster et al.
(1985); Bertoni & Lombardi Neto (1985.)

4.4 CLASSIFICAÇÃO DA EROSÃO

A erosão é classificada quanto à velocidade do processo em:


™ Natural
™ Acelerada ou antrópica

E, quanto ao agente erosivo em:

™ Hídrica
™ Fluvial
™ Eólica
™ Glacial
™ Marinha

Quanto a velocidade, em geral se destingue duas formas de abordagem para os


processos erosivos: a erosão natural e a erosão acelerada ou antrópica. A erosão natural
é o processo que contrabalança o processo permanente de formação de solos, que se dá
em condições de equilíbrio ao longo de centenas de anos. Entretanto, este equilíbrio às
vezes é rompido com uma intensificação da erosão, quando então, ocorre a erosão
acelerada cuja intensidade é superior a formação do solo, não permitindo que ele se
regenere, e tendo como conseqüência a perda de diversas camadas ou horizontes do solo
até que aflorem as rochas subjacentes. Pode ser Laminar ou em lençol (causada por
escoamento difuso), e Linear (causada por concentração de linha de fluxo das águas de
escoamento superficial resultando em sulcos ravinas e voçorocas).

No que se refere aos tipos de erosão, deve-se considerar quanto à origem e quanto ao
agente, podendo desta forma ser classificada em erosão hídrica, fluvial, eólica, glacial e
marinha. Segundo Trillo (1999), a erosão hídrica é aquela em que os processos de
desagregação das rochas ou dos solos são efetuados pela água, e são dependentes de
fatores que afetam seu processo, sendo resumidos e esquematizados na figura 4.3.

68
Figura 4.3. Fatores que afetam a erosão hídrica.

Este tipo de erosão pode se manifestar como: Erosão pluvial; Erosão laminar; Erosão
por escoamento difuso (sulcos); Erosão por escoamento difuso interno (piping); Erosão
por escoamento concentrado (voçorocas). As modalidades de erosão hídrica são
apresentadas de acordo com a figura 4.4.

EROSÃO EM VOÇOROCA

EROSÃO ENTRE SULCOS


EROSÃO EM SULCOS
EROSÃO LAMINAR

Figura 4.4. Processo de erosão hídrica.

4.5 TIPOS DE EROSÃO HÍDRICA


4.5.1 Erosão pluvial

Também denominada por embate, decorre da energia de impacto do agente de encontro


ao solo, que além de desintegrar parcialmente os agregados naturais, libertam as
partículas finas, projetando-as para fora do maciço, conforme apresentado na figura 4.5.
Além disso, os agregados vão preenchendo os poros da superfície do solo, provocando a
selagem e a conseqüente diminuição da porosidade, o que aumenta o escoamento das
águas. O papel do salpicamento (splash), varia não só com a resistência do solo, ao

69
impacto das gotas de água, mas também com a própria energia cinética (Ec) das gotas
de chuva. Dependendo da energia impactada sobre o solo, vai ocorrer, com maior ou
menor facilidade, a ruptura dos agregados, formando as crostas que provocam a selagem
dos solos.

A energia cinética determina a erosividade, que é a habilidade da chuva em causar


erosão. A determinação do potencial erosivo depende principalmente dos parâmetros de
erosividade e também das características das gotas de chuva, que variam no tempo e no
espaço. O primeiro impacto é completamente pela ação do escoamento superficial, que
é muito mais intenso em áreas sem cobertura vegetal, ou seja, as gotas de chuva
rapidamente se juntam, formando filetes de água com força suficiente para arrastar as
partículas liberadas.

Figura 4.5. Desprendimento das partículas de solo pelo impacto das gotas de chuva.

4.5.2 Erosão Laminar

Este tipo de erosão é também denominado de erosão em lençol e se processa durante as


fortes precipitações, quando o solo superficial já está saturado, sendo produzido por um
desgaste suave e uniforme da camada superficial. Desenvolve-se quando há pouco
obstáculo e é considerado um fenômeno muito comum em regiões semi-áridas. É de
difícil observação e pode ser percebido pelo aparecimento de raízes ou marcas nas
estruturas, além de ser comandada por diversos fatores como: chuva, cobertura vegetal,
topografia e solos.

4.5.3 Erosão Linear

Corresponde às formas de erosão por escoamento superficial concentrado, e que


comanda o desprendimento e o transporte das partículas do solo, segundo as condições
hidráulicas desse escoamento, Foster et al. (1985). Pode haver também, a ação
combinada entre o escoamento superficial e o escoamento sub-superficial, Oliveira,
(1994). Pode ser classificadas em sulcos, ravinas e voçorocas (Figura 4.6).

No estudo da erosão linear (sulcos, calhas, ravinas e voçorocas), além do entendimento


dos fatores naturais, é fundamental conhecer o comportamento das águas de chuva e do

70
lençol freático. Muitos autores apontam que as condições de ocorrência de fenômenos
de ravinamento e voçorocamento podem estar relacionadas tanto às características
hidráulicas dos materiais das zonas de percolação das águas superficiais e
subsuperficiais, quanto às características do gradiente hidráulico ou, melhor, do
comportamento piezométrico do lençol freático.

4.5.3.1 Sulcos

São, em geral, de profundidade e largura inferiores a cinqüenta centímetros, sendo que


suas bordas possuem pequena ruptura na superfície do terreno (DAEE,1990). Bigarella
& Mazuchowski (1985), define que a erosão em sulcos sucede a laminar, podendo
igualmente se originar de precipitações muito intensas. FAO (1967) declara que não
existe nenhum limite definido, que assinale o final da erosão laminar e o começo da
erosão em sulcos. Estes ocorrem mais associados a trilhas de gado e em locais de solos
expostos devido à movimentação de terra.

4.5.3.2 Ravinas

A ravina corresponde ao canal de escoamento pluvial concentrado, apresentando feições


erosionais com traçado bem definido. A cada ano o canal se aprofunda, devido à erosão
das enxurradas, podendo atingir alguns metros de profundidade. A passagem da erosão
por escoamento concentrado (sulcos) para ravinas, não se caracteriza por nenhum índice
simples. Existe uma tendência que se admite uma profundidade mínima para as ravinas
em torno de 30 cm, Ponçano & Prandini (1987) ou 50 cm , Imerson & Kwaad, (1980).
Segundo Oliveira (1994), nas ravinas devem ser considerados mecanismos de erosões
que envolvem movimentos de massa, representados pelos pequenos deslizamentos que
provocam o alargamento da feição erosiva e também seu avanço remontante. As ravinas
são normalmente de forma alongada, mais comprida que largas e com profundidades
variáveis, raramente são ramificadas e não chegam a atingir o nível d´água subterrânea.

4.5.3.3 Voçorocas

A voçoroca consiste no desenvolvimento de canais, nos quais o fluxo superficial se


concentra. Formam-se devido à variação da resistência à erosão, que em geral é devido
a pequenas mudanças na elevação ou declividade dos terrenos. Voçoroca é o estágio
mais avançado da erosão acelerada, correspondendo à passagem gradual do processo de
ravinamento, até atingir o lençol freático, com o aparecimento de água. Este tipo de
processo atinge grandes dimensões, gerando vários impactos ambientais na sua área de
ação e na drenagem de jusante, tornando-se um complicador para o uso do solo nestas
áreas.

O potencial erosivo do voçorocamento depende da concentração do fluxo de água e do


gradiente hidráulico, promovido pela água subterrânea, com desenvolvimento de
fenômeno de piping. Piping é um tipo de erosão interna que provoca a remoção de
partículas no interior do solo, formando tubos vazios que provocam colapso e
escorregamentos laterais do terreno, alargando a voçoroca ou criando novos ramos.

71
Nível de água Voçoroca

Zona temporariamente
Sulcos ou Ravinas encharcada
Figura 4.6. Morfologia do processo erosivo.

4.6 FATORES CONDICIONANTES DA EROSÃO HÍDRICA

• CHUVA – sua ação erosiva depende da distribuição pluviométrica e sua


intensidade. Chuvas torrenciais ou pancadas de chuvas intensas, consiste a forma mais
agressiva de impacto da água no solo. Durante estes eventos a aceleração da erosão é
intensa. A mecânica da erosão pelas chuvas, deve-se a combinação do tamanho e da
velocidade das gotas, com a duração da precipitação e a velocidade do vento. A
velocidade terminal das gotas de chuva é função do seu tamanho: quanto maiores, maior
a velocidade. O momentum ou quantidade de movimento de uma gota, que é o produto
entre sua massa e sua velocidade, é relacionado com a desagregação de partículas do
solo e considerado uma boa medida para a erosividade da chuva, uma vez que é uma
medida de força por unidade de área. Contudo, as energias cinéticas, que é a energia do
número total de gotas em chuvas de determinada intensidade, é considerada como o
parâmetro mais importante para a determinação da erosividade.

• COBERTURA VEGETAL – é a defesa natural de um terreno contra a erosão.


Entre os principais efeitos da cobertura vegetal, destacam-se os seguintes:

a) Proteção contra o impacto direto das gotas de chuva;


b) Dispersão e quebra da energia das águas de escoamento superficiais;
c) Aumento da infiltração pala produção de poros no solo por ação das raízes;
d) Aumento da capacidade de retenção de água pela estruturação do solo, por
efeito da produção e incorporação de matéria orgânica.

72
• RELEVO TOPOGRÁFICO – Verifica-se principalmente, pela declividade e
comprimento da rampa (comprimento da encosta). Estes fatores interferem diretamente
na velocidade das enxurradas. As perdas de solo por erosão hídrica, crescem com o
aumento da inclinação e comprimento da rampa, como conseqüência do incremento da
velocidade e volume de escoamento superficial.

• SOLOS – Por influenciar e sofrer a ação dos processos erosivos, conferindo


maior ou menor resistência, constitui o principal fator natural relacionado à erosão. Sua
influência, deve-se às suas propriedades físicas, principalmente textura, estrutura,
permeabilidade e densidade. A figura 4.7, apresenta a influência que tem o ângulo de
inclinação de um terreno, sobre a erosão e sobre a vegetação.

Figura 4.7.Influência da inclinação de um talude sobre a erosão e a vegetação.

A textura ou seja, o tamanho das partículas, influi na capacidade de infiltração e


absorção da água de chuva, interferindo no potencial de enxurradas, e em relação a
maior ou menor coesão entre as partículas. Assim, solos de textura arenosa são
normalmente mais porosos, permitindo rápida infiltração das águas de chuva,
dificultando o escoamento superficial.

A estrutura, o modo como se arranjam as partículas do solo, influem na capacidade de


infiltração, absorção e na capacidade de arraste das partículas do solo.

A permeabilidade determina a maior ou menor capacidade de infiltração das águas de


chuva, estando diretamente relacionada à porosidade do solo.
A densidade, relação entre a massa total e volume, é inversamente proporcional à
porosidade e a permeabilidade. Por efeito de compactação do solo, observa-se um
aumento de densidade, como resultado da diminuição dos macroporos, em função disso,
o solo se torna mais erodível.

73
As propriedades químicas biológicas e mineralógicas do solo influem no estado de
agregação entre as partículas, aumentando ou diminuindo a resistência do solo à erosão.
A matéria orgânica incorporada no solo permite, maior agregação e coesão entre as
partículas, tornando o solo mais estável em presença de água, mais poroso e com maior
poder de retenção de água. Estas características, conjuntamente analisadas, determinam
sua maior ou menor capacidade de propiciar a erosão laminar, isto é, a sua
erodibilidade.

4.7 FORMAS DE USO E OCUPAÇÃO E OS PRINCIPAIS PROBLEMAS


ASSOCIADOS A PROCESSOS EROSIVOS

A definição das classes de uso e ocupação do solo adotado por Almeida & Freitas
(1996) foram: área urbanizada, áreas de expansão urbana, mata /reflorestamento,
pastagens e atividades agrícolas.

Áreas Urbanizadas - estas áreas consolidadas com as intervenções artificiais, são


fortemente alteradas em função da impermeabilização do solo, gerando grandes
volumes de escoamento superficial, que muitas vezes, pelo dimensionamento de
drenagem e lançamento em locais não apropriados, provocam erosões de grande porte;

Áreas de expansão urbana – os núcleos urbanos e loteamentos localizados


principalmente nas periferias são as áreas onde ocorre o mais intenso processo de
degradação ambiental, desencadeando entre outras, a erosão de forma intensa e
acelerada. Mesmo em áreas de baixa suscetibilidade, a erosão em função das fortes
modificações provocadas pelo parcelamento do solo, da falta de infra-estrutura urbana e
de grande mobilização dos serviços de terraplenagem, passa a construir áreas potenciais
à ocorrência de processos erosivos (Tabela 4.2);

Mata/reflorestamento – esta categoria de vegetação arbórea e arbustiva, condiciona


baixa tendência de indução dos processos erosivos, com a proteção do solo.;

Pastagens – estas áreas podem ser consideradas de tendência média a alta de indução
dos processos erosivos, apesar de manter uma cobertura do solo na maior parte do ano.
Um dos problemas com a compactação do solo é aumento do escoamento superficial;

Atividades agrícolas – esta categoria pode se constituir como de alta tendência à


processos erosivos, principalmente quando não são adotados práticas conservacionistas.

74
Tabela 4.2. Formas de uso e ocupação e os principais problemas
Categoria de uso Intervenção Conseqüências
Mata/Reflorestamento Desmatamento Possibilidade de desencadear
processo erosivo e
assoreamento
Pastagens Retirada da cobertura Compactação do solo, aumento
Pisoteio do gado e concentração do escoamento e
transporte de sedimentos
Atividades Agrícolas Cultivos sem práticas conservacionistas Erosão laminar, processos
erosivos lineares e transporte de
sedimentos
Áreas Urbanas Impermeabilização, ocupação das Inundação e enchentes,
baixadas, concentração das águas assoreamento
consolidadas
pluviais,estrangulamento do sistema de
drenagem
Áreas urbanas em Movimento de terra, parcelamento do solo Erosão (Laminar, sulcos,
e ausência de infra-estrutura ravinas e voçorocas)
expansão

4.8 EROSÃO URBANA

A alta freqüência de processos erosivos, resulta nas precárias condições de infra-


estrutura, por projetos mal concebidos ou pela escolha de áreas naturalmente adversas.
A erosão urbana se expressa mais freqüentemente nas formas de erosão laminar e de
sulcos e ravinas nas vias públicas e áreas periféricas, e mais intensamente na forma de
voçorocas que, de forma acelerada, destroem edificações e equipamentos urbanos.
Segundo Pontes (1980), os principais fatores que influem na erosão das áreas urbanas e
relacionadas com o escoamento superficial são:

ƒ Vazão do escoamento das águas pluviais;


ƒ Declividade do terreno e
ƒ Natureza do terreno

Dentre as principais causas do desencadeamento e a evolução da erosão urbana podem


ser destacados:
A maioria dos loteamentos populares e conjuntos habitacionais não conta com sistemas
de drenagem de águas pluviais e servidas, ou quando tem, são deficientes.
Sistema viário tem implantação inadequada, com ruas perpendiculares as curvas de
nível, ausência de pavimentação, guias e sarjetas.
Expansão urbana descontrolada, com a implantação de loteamentos e conjuntos
habitacionais em locais não apropriados, sob ponto de vista geotécnico e agravado pela
deficiência de infra-estrutura.
Implantação de loteamento em topos de colinas, fazendo com que as águas pluviais
sejam lançadas próxima das zonas urbanizadas ou cabeceira de drenagem.

75
4.8.1 Controle da Erosão em Áreas Urbanas

Na origem, a erosão esta associada a falta de planejamento adequado, que considere as


particularidades do meio físico, as condições socioeconômicas e as tendências de
desenvolvimento da área urbana. Este desenvolvimento amplia as áreas construídas e
pavimentadas, aumentando substancialmente o volume e velocidade das enxurradas e,
desde que não dissipadas, concentra os escoamentos, acelerando os processos de
desenvolvimento de ravinas e voçorocas, com perdas significativas para a população e o
poder público local. Pode-se considerar que já alcançada uma boa experiência nas
medidas corretivas que vem sendo implantadas no sul-suldeste brasileiro. A alta
incidência de feições erosivas resulta das precárias condições de infra-estrutura, projetos
de drenagem mal-concebidos, ou pela escolha de áreas naturalmente adversas.

O controle corretivo das erosões consiste na execução de um conjunto de obras, cuja


finalidade é evitar ou diminuir a energia do escoamento das águas pluviais sobre os
terrenos desprotegidos, que pode ser conseguido com obras do sistema de drenagem:
pavimentação, guias, sarjetas, galerias etc. O controle destes processos, é fundamental
na análise da bacia de contribuição para elaboração de projetos:

Microdrenagem – é importante no controle e prevenção da erosão, evitar o


escoamento direto sobre o solo através de estruturas de captação e condução das águas
superficiais.
Macrodrenagem – são obras responsáveis pelo escoamento final das águas
pluviais drenadas, até atingirem os locais adequados para deságüe em dissipadores de
energia, ou seções artificiais ou naturais, hidraulicamente estáveis.
Obras de extremidade – são os dissipadores de energia, dispostos nas saídas do
emissário, tendo como finalidade reduzir a velocidade das águas, de tal forma a
permitirem um escoamento tranqüilo no talvegue receptor.

Mesmo quando as águas superficiais são captadas por sistemas apropriados de redes de
galerias, constata-se com freqüência o desenvolvimento de erosão no ponto de
lançamento, devido a falta ou ineficiência de sistemas de dissipação de energia (Figuras
4.8 e 4.9).

Figura 4.8. Dissipador de energia.

76
Figura 4.9.Estruturas de combate e dissipação.

4.8.2 Controle de Ravinas e Voçorocas

O controle desses processos, além de difícil é muito caro, podendo ser mais elevado que
o próprio valor da terra. Portanto é essencial efetuar as medidas de controle destes
processos para prevenir a sal formação.As medidas para o seu controle poderá ser feita
através dos seguintes procedimentos (Bertoline et al., 1994):

• Isolamento da área afetada com cerca – para evitar o acesso do gado, trânsito de
máquina e veículos que pode favorecer a concentração da enxurrada e dificultar
o desenvolvimento da vegetação;
• Drenagem da área subterrânea – quando atinge o lençol freático, o sucesso do
controle da boçoroca é coletar essa água e ser conduzida até um leito de
drenagem estável, que pode ser feito com dreno de pedra ou feixes de bambu;
• Controle da erosão em toda a bacia de captação – evitar que o escoamento
superficial das águas pluviais tenha na erosão um canal escoadouro. Isso pode
ser conseguido com um sistema de terraceamento, canais escoadouros ou
divergentes, plantio em nível, cobertura vegetal ou outras práticas que deverão
ser implantadas em todas as áreas a montante e laterais, formando a bacia de
captação da erosão;
• Suavização dos taludes da erosão – as paredes da erosão são muito íngreme,
havendo a necessidade de se fazer suavização nos taludes, a fim de facilitar a
implantação da vegetação protetora do solo;
• Construção de paliçadas ou pequenas barragens – essas estruturas podem ser
feitas com madeira, pedra, galhos ou troncos de árvores, entulho ou terra, tendo
a finalidade de evitar o escoamento em velocidade no interior da erosão;
• Vegetação da erosão – deve ser feita com plantas rústicas que desenvolvam bem
em solos erodidos, proporcionem boa cobertura do solo e tenham um sistema
radicular abundante. As vegetações mais usadas na proteção da área com

77
boçoroca são as seguintes gramíneas (batatais, seda, capim-quicuío e a
braquinária) e leguminosas (cudzu e as diversas espécies de Lespedeza spp) ou
essências florestais (pinus e o eucalipto).

Aplicando essas medidas, o processo erosivo estabiliza-se e o solo começa a reconstruir,


mas a alternativa melhor é a adoção de medidas preventivas utilizando o uso da terra,
segundo sua capacidade, para não desencadear estes processos erosivos. O uso
inadequado das práticas conservacionistas também transforma áreas com grande
incidência de processos erosivos.

Iwasa e Prandini (1980), salientam a necessidade de manutenção em obras de controle,


bem como de um acompanhamento sistemático e crítico do desempenho da obra. tem-se
verificado que medidas de correção parcial de voçorocas urbanas, chegam agravar ainda
mais o processo. Os melhores resultados são obtidos mediante planos que levam em
conta o tratamento da bacia drenante a montante e o tratamento do processo erosivo

4.9 ENSAIOS DE ERODIBILIDADE

A erodibilidade constitui uma importante propriedade mecânica dos solos tropicais e


subtropicais. Entendida como propriedade que retrata a facilidade com que as partículas
do solo são destacadas e transportadas, imprescinde ainda de métodos adequados que a
caracterizem para fins de engenharia. São ainda insuficientes os esforços no
entendimento e na quantificação do potencial a erosão, através de propriedades do
comportamento estabelecidas na mecânica dos solos. A seguir serão descritos de forma
resumida, os ensaios para avaliação da erodibilidade dos solos.

4.9.1 Ensaio de dispersão

O objetivo deste procedimento é a avaliação da dispersividade de solos argilosos pelo


ensaio sedimentométrico comparativo, também conhecido como ensaio de dispersão
SCS (Soil Conservation Service). É um ensaio semelhante ao de granulometria,
normatizado pela NBR 7181, porém não são utilizados o agente dispersante
(defloculante) nem a agitação mecânica, no processo de sedimentação. A comparação
entre os resultados dos ensaios por estes dois procedimentos fornece uma medida de
dispervidade de solos argilosos. Sua principal aplicação ocorre em estudos de erosão
hídrica de argilas ou de outros solos que contenha mais de 12% da fração argila,
segundo a classificação obtida ao ser analisado o ensaio NBR 7181. A porcentagem de
dispersão é calculada da seguinte maneira:

Pd = %< 0,005 mm (sem defloculante) / %< 0,005 mm (com defloculante)

A proposta para avaliação da erodibilidade em função da porcentagem de dispersão é a


seguinte:

Pd > 50% - Solos altamente dispersivos - (Erodibilidade muito alta)


20% < Pd < 50% - Solo moderadamente dispersivo - (Erodibilidade alta)
Pd < 20% - Solo não dispersivo - (Erodilidade média)

78
4.9.2 Ensaio de dispersão rápida (Crumb-Test)

O ensaio de dispersão rápida, recomendado por Sherard et al (1972), foi desenvolvido


para verificar o grau de dispersão de solos argilosos para o uso em barragens. Silveira et
al (1974), utilizaram água destilada ao invés de solução de hidróxido de sódio. A
realização do ensaio com água destilada fornece uma idéia da floculação e estado de
agregação da amostra do solo argiloso, uma vez que o mesmo em se tratando de água
pura, haverá uma adsorção de íons H3O+ ou HO- na superfície das partículas de argila,
tendo o efeito de defloculante. Ao final do ensaio, após uma hora, é feita uma análise
visual (Figura 4.10).

Figura 4.10. Ensaio de dispersão rápida.

GRAU 1 – Comportamento não-dispersivo: formação de uma pilha de partículas, porém


não ocorre turvação do liquido;
GRAU 2 – Comportamento levemente dispersivo: apenas indícios de turvação no
líquido;
GRAU 3 – Comportamento moderadamente dispersivo: formação de uma nuvem de
colóides em suspensão;
GRAU 4 – Comportamento fortemente dispersivo: formação de uma nuvem coloidal
cobrindo o fundo do becker.

4.9.3 Ensaio de desagregação

O ensaio consistiu na colocação de amostras dentro de um recipiente com água,


observando-se então as suas reações ao processo de submersão. No primeiro recipiente
a amostra é submetida à imersão total durante 24 horas. No segundo recipiente, a
amostra é colocada sobre uma pedra porosa, com o nível d’água na altura da base por
um período de 30 min. A seguir, a altura d’água é aumentada sucessivamente para 1/3 e
2/3 até a submersão total, mantendo-se entre cada uma destas fases um intervalo de 15
min. Após a submersão total, o ensaio prossegue por 24 horas. Fonseca & Ferreira
(1981), concluíram que o ensaio de desagregação, é um bom índice qualitativo na
previsão do comportamento dos solos frente aos esforços erosivos.

Classificação dos tipos de reação à inundação, no ensaio de desagregação:

ƒ Sem resposta: quando a amostra mantém sua forma e tamanho originais;


ƒ Abatimento: quando a amostra se desintregra formando uma pilha de material
desestruturado;
ƒ Fraturamento: quando a amostra se quebra em fragmentos, mantendo a forma
original das faces externas;

79
ƒ Dispersão: as paredes da amostra se tornam difusas com o surgimento de uma
“nuvem” coloidal que cresce a medida que a amostra se dissolve

4.9.4 Ensaio de Furo de Agulha

Este ensaio é definido pela NBR 6502/1995 como ensaio de Furo de agulha, e resulta
em obter uma medida direta e qualitativa da dispersibilidade de solos argilosos, pelo
fluxo de água destilada através de um pequeno furo feito axialmente no corpo de prova
indeformado. A percolação da água tem início durante 8 minutos com carga hidráulica
de 2", e em seguida aumentada para 7", 15" e 40" respectivamente. Sempre é observado
se há turbidez e desprendimento de partículas durante o ensaio. É realizado o
procedimento no sentido inverso, verificando um possível alargamento do furo e
evidenciando processo erosivo, Santos & Camapum (1998). As Figuras 4.11e 4.12,
mostram os detalhes do equipamento e comportamento de solos para o ensaio Pinhole.

Figura 4.11. Detalhes do equipamento Pinhole Test.

Figura 4.12. Comportamento de amostras submetidas ao ensaio pinhole.

80
4.9.5. Ensaio de Inderbitzen

O ensaio de Inderbitzen, originalmente proposto por Inderbitzen (1961), consiste em um


dos mais simples ensaios utilizando escoamento em canais. Teve seu uso difundido no
meio geotécnico desde os trabalhos do LNEC, ainda na década de 60, e foi introduzido
no Brasil em 1979. O objetivo do idealizador do ensaio era determinar em laboratorio a
erosão em um talude de aterro, para uma certa condição de chuva e o consequente
escoamento de água superficial, permitindo considerar fatores como a compactação
relativa do solo, inclinação do talude experimental, vazão e duração do escoamento. O
autor cita que o aparelho pode ser modificado, para contemplar também a ação das
gotas de chuva na erosão. Tal modificação foi introduzida em alguns estudos (Freire,
2001; Lemos 2002). Apesar de seu objetivo inicial, o ensaio tem sido utilizado para
restudar problemas de erosão diversos. O uso frequente e diversificado, com bons
resultados relatados, provam que o ensaio é uma ferramenta valiosa. O procedimento do
ensaio exige planejamento cuidadoso para garantir sua qualidade. Não se tem notícia de
normas para este ensaio, necessidade apontada com freqüência em relatos (Fácio, 1991;
Santos, 1997; Lemos 2002).

O equipamento compreende uma rampa hidráulica em chapa metálica (25 cm de largura


e 60 cm de comprimento) dotada de um orifício central, onde é introduzida uma amostra
de solo confinada em um anel de PVC biselado. Esta rampa é articulada, permitindo a
variação na sua inclinação de 0o a 54o (Figura 4.13). O fluxo d’água na rampa é
alimentado diretamente da rede hidráulica e o controle e a medidas de vazão realizados
por um registro e rotâmetro, instalados junto a ponto de alimentação. A amostra é
instalada de tal forma que sua superfície coincida com o fundo da rampa. O sistema de
coleta e seleção do material erodido é constituído por baldes plásticos de 60 litros e por
um conjunto de peneiras nas malhas 4,8 mm (peneira # 4), 2,0 mm (peneira #10), 0,42
mm (peneira # 40) e 0,074 mm ( peneira # 200) (Figura 4.13). Os resultados são
expressos em pesos secos de solos erodidos acumulado por unidade de área da amostra
(g/cm2) e plotados em relação ao tempo de ensaio.

Figura 4.13. Equipamento para ensaio de Inderbitzen (Fonseca e Ferreira, 1981).

81
CAPÍTULO 5

MÉTODOS DE ESTABILIZAÇÃO

5.1 ASPECTOS GERAIS

A escolha de uma determinada obra de estabilização, requer o conhecimento dos seus


principais tipos, da sua forma de atuação e das solicitações que impõem ao terreno. A
adoção de um determinado tipo de obra de estabilização deve ser o resultado final do
estudo de caracterização geológico-geotécnico do talude ou encosta em estudo. Uma
obra de estabilização deverá atuar diretamente nos agentes e causas da instabilização
investigada, e as alternativas de projeto deverão sempre partir das soluções mais simples
e baratas.

Na maioria dos casos de estabilização dos processos de movimentos de massa,


executam-se diversos tipos de obras combinadas. As obras de drenagem e de proteção
superficial não devem ser encaradas apenas como obras auxiliares ou complementares
no projeto de estabilização. Uma correta execução destas obras pode ser o principal
instrumento na contenção de diversos problemas de instabilização. Retaludamentos,
aterros e mesmo obras com estrutura de contenção podem ser danificados ou destruídos,
quando seus projetos não prevêem sistemas de drenagem eficientes (Augusto Filho e
Virgili, 1998). As Tabelas 5.1 e 5.2 apresentam os principais grupos e tipos de obras de
estabilização segundo Carvalho (1991) e Santana (2006), respectivamente.

Tabela 5.1. Principais tipos de obras de estabilização de taludes e encostas (Carvalho,


1991).

GRUPOS TIPOS
Obras sem estrutura de contenção - retaludamentos (corte e aterro)
- drenagem (superficial, subterrânea)
- proteção superficial (naturais e artificiais)
Obras com estrutura de contenção - muros de gravidade
- atirantamentos
- aterros reforçados
- estabilização de blocos
Obras de proteção - barreiras vegetais
- muros de espera

Outro aspecto a ser considerado é que projetos de obras de contenção mal elaborados ou
de execução deficiente podem potencializar a magnitude das instabilizações, resultando
em danos sociais e econômicos principalmente em áreas urbanas. Entre as principais
causas específicas para o insucesso de obras de instabilização, destacam-se drenagem
insuficiente, remoção parcial da massa rompida, problemas de fundação de muros e
aterros, atirantamento dentro da massa instabilizada, etc.

82
Tabela 5.2. Principais tipos de obras de estabilização de taludes e encostas (Santana,
2006).

Grupos Subgrupos Tipos de Obras


Talude Contínuo e
Cortes (*)
Retaludamento escalonado (*)
(*) Aterro Carga de fase de talude
Compactado (muro de terra)
Gramíneas (*)
Grama armada com
Materiais geossintético
naturais (*) Vegetação Arbórea (mata)
Selagem de Fendas com solo
argiloso
Obras sem estrutura de Proteção Canaleta de borda, de pé e de
contenção descida (*)
Superficial Cimentado(*)
(*) Geomantas e gramíneas
Materiais Geocélula e solo compactado
artificiais (*) Tela argamassada (*)
Pano de pedra ou lajota
Alvenaria armada (*)
Asfalto ou polietileno
Lonas sintéticas (*)
Estabilização de Retenção Tela metálica e tirante
Blocos Remoção Desmonte

Grupos Subgrupos Tipos de Obras


Solo-Cimento(*)Solo-cimento ensacado(*)
Pedra seca
Pedra-Rachão(*)
Alvenaria de pedra(*)
Concreto armado
Muro de Concreto Concreto ciclópico
arrimo (*)
Gabião Gabião-caixa
Bloco de concreto articulado
Bloco de concreto
(pré-fabricado, encaixado sem
articulado
rejunte)
Obras com estrutura Solo-Pneu Solo-pneu
de contenção Placa pré-fabricada de
Terra armada concreto, ancoragem metálica
ou geossintéticos.
Placa e montante de concreto,
Micro-ancoragem ancoragem metálica ou
Outras geossintéticos.
soluções
Solo Compactado e Geossintético
reforçado Paramento com pré-fabricados
Solo reforçado Solo Grampeado
Outros Cortina Atirantada
(*) principais soluções de estabilização adotadas na Região Metropolitana do Recife.

83
Segundo a GEORIO (2000) a realização completa de um projeto de estabilização
implica três fases distintas:

ƒ Diagnóstico: compreende a identificação e o entendimento do movimento de


massa obtido através dos resultados dos estudos geológicos e
geotécnicos realizados.
ƒ Solução: ao final da fase de diagnóstico, o engenheiro está de posse de
todos os elementos que lhe permitem decidir sobre a melhor
solução a adotar para o caso em questão.
ƒ Monitoramento: compreende a fase de acompanhamento da obra de
estabilização verificando seu desempenho ao longo do tempo.

5.2 CRITÉRIOS PARA ESCOLHA DA SOLUÇÃO DE ESTABILIZAÇÃO

De acordo com o tipo de agente atuante podemos dividir as obras de estabilização nas
categorias descritas na Tabela 5.3.

Tabela 5.3. Escolha do método de estabilização de acordo com o agente atuante.

PRINCÍPIOS OBRAS
a) Superficial:
- valetas de crista de talude ou de plataforma
- canaletas/ escadaria, canais c/ ou s/ revestimento

Redução da poro-pressão b) Profunda:


(drenagem) - trincheira (galerias/ drenantes)
- drenos sub-horizontais
- poços de drenagem vertical

c) Revestimento superficial do talude:


- vegetação, concreto-solo-cimento, asfalto, argila
Redução das forças - Remoção do material do talude (retaludamento)
desestabilizadoras (atuantes) - Redução da declividade do talude
- Plataforma horizontal - banquetas
- Bermas de equilíbrio (no pé do talude)
Aumento das forças estabilizadoras - Aumento de resistência (aterros sobre solos moles - drenos de
areia, construção por etapas)
a) Reforço do solo
- Soil nailing - solo grampeado
- Micro estacas
- Colunas de brita / estacas de areia
- Estrutura solo reforçado

b) Estruturas de contenção
- Muros de arrimo
Suporte de uma área instável - Estruturas de terra e concreto, estrutura solo reforçado
(estruturas de contenção)
c) Métodos adicionais
- Instalação de estacas de cal
- Instalação de trincheiras de pedregulhos ou colunas de pedras
(brita)
- Tratamento químico
- Electro - osmose
-Tratamento pelo calor

84
5.3 ESTABILIZAÇÃO EM SOLO

Segundo a GEORIO (2000), as principais soluções para estabilização de taludes em solo


são: retaludamento, solo grampeado, cortinas ancoradas, muros, drenagem e proteção
superficial e reforço com geossintéticos (Figura 5.1).

Figura 5.1. Métodos de estabilização em solos (GEORIO, 2000).

ƒ Muros: em geral são economicamente eficientes para pequenas alturas (até 3m).
Acima deste valor, as soluções de reforço tendem a ser mais econômicas.

- A estabilidade é assegurada pelo peso próprio da contenção;


- Normalmente a base tem uma dimensão da ordem de 30 a 40 % da altura do muro;
- A base deve ser embutida no terreno (mínimo de 50 cm) para evitar eventual
descalçamento por erosão;
- São mais indicados para pequenas alturas (até 5 m);
- Pode ser construído por vários materiais (pedra, concreto, gabião, pneus, sacos com
solo-cimento, etc). Como exemplos de muros temos os de gravidade (Figura 5.2a) e o
gabião (Figura 5.2b).

85
(a) (b)

Figura 5.2. Tipos de muros. (a) gravidade (b) gabião.

ƒ Drenagem: solução presente na maioria das obras. Pode ser superficial (Figura
5.3a), tendo como objetivo a redução de processos de infiltração; e profunda tendo
como objetivo o controle da magnitude das pressões de água decorrentes ou não de
processos de infiltração (Figura 5.3b).

NA
(ANTES)
SURGÊNCIAS
(ANTES)
U<0
NA
(DEPOIS)

PARA
DRENO CANALETA
SUB-HORIZONTAL
(CALIFÓRNIA)

(a) (b)

Figura 5.3. Tipos de drenagem. (a) superficial - canaletas (b) profunda.

86
ƒ Retaludamento (cortes e aterros): depende da disponibilidade de área livre para a
implantação de novo corte.

Cortes (Figura 5.4):

- A retirada do pé do talude deve ser evitada;


- Após uma certa altura (5 a 10 m), devem ser feitas banquetas
intermediárias;
- O material excedente deve ser transportado e disposto de modo adequado
(evitar erosões e assoreamentos);
- A retirada do solo natural (solo laterizado) muitas vezes expõe o talude a
processos erosivos;
- Deve sempre ser previsto um sistema de drenagem proteção superficial do
talude.

Figura 5.4. Exemplo de corte.

Aterro (Figura 5.5):


- O material a ser usado deve ser preferencialmente o solo local;
- A compactação do material pode ser feita manualmente ou com
equipamentos;
- A superfície de assentamento do aterro deve ser previamente escarificada e
escavada em forma de degraus;

87
- Devem ser evitados aterros na crista do talude;
- Deve sempre ser previsto um sistema de drenagem proteção superficial do
talude.

Figura 5.5. Exemplo de aterro.

• Proteção superficial (cobertura vegetal):

- Reduz a infiltração das águas pluviais no talude (Figura 5.6);


- As raízes provocam um aumento da resistência ao cisalhamento dos solos, protegendo
contra a erosão;
- As espécies devem ser preferencialmente de pequeno porte, e adaptar-se às condições
climáticas locais;
- Devem ser evitadas árvores de grande porte (efeito do vento) e que acumulem água
(ex: bananeiras);
- A espécies podem ser usadas junto com telas metálicas ou geossintéticos para facilitar
a sua fixação em taludes mais íngremes.

88
Figura 5.6. Exemplo de cobertura vegetal.

ƒ Cortinas ancoradas: Compreende uma parede de concreto armado, fixada no


terreno através de ancoragens pré-tensionadas. Solução muito empregada pela
flexibilidade de poder ser aplicada em cortes (método construtivo descendente) e
aterros (método construtivo ascendente). O sistema de contenção com ancoragens
pré-tensionadas é suficientemente rígido para limitar os deslocamentos do terreno
(Figura 5.7).

Figura 5.7. Exemplo de cortina ancorada.

ƒ Solo grampeado: utilizado em cortes ou escavações. O grampeamento do solo


consiste em um reforço obtido através da inclusão de elementos resistentes
(grampos) de forma a introduzir esforços resistentes de tração e cisalhamento. É
facilmente aplicado a taludes inclinados, sem necessidade de cortes adicionais para
verticalização da parede (Figura 5.8 e 5.9).

89
Figura 5.8. Exemplo de solo grampeado.

Figura 5.9. Exemplo de solo grampeado.


ƒ Muros ou taludes de solo reforçado: em geral a solução mais barata para aterros
com alturas maiores que 3m e com extensões maiores que 20m. pode-se adotar a
solução de solo compactado e envelopado com geossintético (Figura 5.10).

Figura 5.10. Exemplo de solo reforçado.

90
5.3.1 Estabilização das erosões

A estabilização das erosões em encostas tem por finalidade básica estabilizar os taludes
sujeitos a influência de águas das chuvas e subterrâneas. As estabilizações podem ser
realizadas através de retaludamento da encosta, aterro das erosões, proteção superficial,
etc. A figura 5.11ilustra um exemplo de estabilização de erosões.

Figura 5.11. Estabilização das erosões através de confinamento celular.

5.4 ESTABILIZAÇÃO EM ROCHA

As soluções de projeto para os taludes em rocha constam na Figura 5.12; onde a


definição da solução depende de vários fatores indicados nesta Figura. Os tipos de
solução foram agrupados em eliminação, estabilização ou convivência com o problema,
descritos abaixo (GEORIO, 2000):

ƒ Eliminação: relocação da estrutura em risco, ou eliminando-se a causa, através do


desmonte do bloco ou talude causador do risco;

ƒ Estabilização: podem-se adotar as seguintes soluções: ancoragens e chumbadores,


implantação de banquetas, preenchimento de fissuras, proteção superficial,
drenagem.

ƒ Convivência com o problema: aplica-se a taludes muito fraturados ou com grande


quantidade de blocos soltos em que a fixação ou desmonte são antieconômicos. As
alternativas para convivência com o problema são: banquetas para redução de
energia, barreiras e muros de impacto, tela metálica (Figura 5.13), trincheira para
coleta de blocos e túnel falso.

91
Caracterização do problema
Eliminação
Localização
Situação
Inclinação do talude
Taludes Decisão
Risco Estabilização
em rocha de projeto
Volume e forma dos blocos
Centro de gravidade
Estruturas
Litologia Convivência
Grau de alteração
Condição de apoio

Figura 5.12. Alternativas de solução em rocha (GEORIO, 2000).

Figura 5.13. Proteção de rochas com redes metálicas.

92
CAPÍTULO 6

EXEMPLOS DE CASOS

6.1 INTRODUÇÃO

Os exemplos a serem descritos dizem respeito a dois casos de movimentos de massa em


encostas no estado de Pernambuco - PE; sendo o primeiro caso, um deslizamento
ocorrido em solo residual de ganisse; o segundo caso um estudo em encosta afetada por
processo erosivo e o terceiro caso um deslizamento ocorrido em uma encosta com
ocupação desordenada no bairro do Ibura (UR-2), no Recife, com conseqüente solução
de estabilização.

O objetivo da apresentação de exemplos de casos refere-se à aplicação dos conceitos


descritos neste trabalho relativos a classificação e caracterização geotécnica, junto com
o registro de experiências técnicas e de pesquisa anterior e atual no tema desenvolvidas
na Área de Geotecnia – DEC / UFPE. Vale destacar que os três casos de estudo dizem
respeito a dissertações de mestrado desenvolvidas na Área de Geotecnia da UFPE.

6.2 CASO 1: RUPTURA DE UM TALUDE EM SOLOS RESIDUAIS DE


GNAISSE
Este caso diz respeito ao estudo de um movimento de massa em solo residual de gnaisse
ocorrido numa encosta localizada na PE-89 em Machados – PE. Este trabalho fez parte
de Projeto Integrado do CNPq e de um convênio celebrado no período de 1994 a 1997
entre o Departamento de Estradas e Rodagens – DER / PE, com a Área de Geotecnia do
Departamento de Engenharia Civil da UFPE, sob a coordenação do Professor Roberto
Quental Coutinho, onde foram desenvolvidas várias teses de mestrado. O convênio
também teve a participação da COPPE/UFRJ - Professor Willy Alvarenga Lacerda e da
PUC/RJ – Professor Tácio Mauro Pereira de Campos.

A Figura 6.1 ilustra a vista geral do deslizamento, o qual apresenta dimensões de 170m
x 80m e declividade média de 35º. A região possui clima quente e úmido com média de
precipitações pluviométicas de 1200 a 1600mm por ano, com maiores intensidades no
período de abril a agosto. No ano do deslizamento (1972), a precipitação foi da ordem
de 200mm/mensal durante o período de abril a agosto. A principal litologia presente na
área refere-se à biotita-gnaisse, onde sua estrutura apresenta plano de foliação com
direção praticamente paralela ao talude em torno de 30º. A ruptura geral ocorreu no
primeiro período intenso de chuvas (inverno) logo após o corte na encosta para a
construção da estrada PE-89.

A Figura 6.2 apresenta o mapa topográfico da área de estudo juntamente com as


indicações dos locais onde foram realizadas as atividades de campo. A Tabela 16
apresenta as atividades de campo e ensaios de laboratório realizados. Maiores
informações do estudo realizado podem ser vistas em Coutinho et al. (1997, 1998,
2000); e nas dissertações de Costa (1996); Souza Neto (1998) e Melo Neto (2005).

93
Figura 6.1. Vista geral do deslizamento ocorrido em Machados – PE (Souza Neto,
1998).

Figura 6.2. Mapa topográfico da área do deslizamento (Coutinho et al., 2000).

94
Tabela 6.1 Atividades de campo e ensaios de laboratório realizado na encosta estudada
– Área 1 a Área 6.

ATIVIDADES DE CAMPO ENSAIOS DE LABORATÓRIO


Levantamento topográfico e geológico Caracterização física e mineralógica
Sondagens à percussão e rotativa Ensaios edométricos
Ensaios de perda d´ água e infiltração Ensaios de cisalhamento direto convencionais
Coleta de amostras (deformadas/ Ensaios MCT
indeformadas)
Determinação de perfis de umidade Ensaios de permeabilidade
Ensaios de permeabilidade “in situ” – Guelf Ensaios para determinação da curva
característica

A Figura 6.3 apresenta o resultado de um furo de sondagem mista (SPT + rotativa) da


área junto com algumas propriedades físicas dos materiais presentes no deslizamento.
Em geral, o solo residual maduro (horizonte B) é composto por uma argila arenosa com
espessura da camada de 2m. O solo residual jovem (horizonte C/Cr) corresponde a uma
areia siltosa, apresentando o mineral mica com características preservadas da rocha
matriz (planos de xistosidade em relação à horizontal) e espessura de camada da ordem
de 15m. A rocha (biotita – gnaisse) apresenta um alto grau de fraturamento com baixos
valores de RQD em algumas profundidades. Os resultados mostraram que a superfície
de ruptura situa-se próximo ao contato solo-rocha (impenetrável ao SPT).

Figura 6.3. Furo de sondagem, perfil de umidade e caracterização física dos materiais
presentes no deslizamento – Área 1 (Coutinho et al., 2000).

95
A Figura 6.4 (a e b) ilustra o perfil geológico – geotécnico do movimento de massa,
onde a partir dos mesmos, obteve-se um diagrama aproximado do movimento ocorrido
na encosta, ilustrado na Figura 40, sendo este baseado no modelo proposto pelo IAEG
Commission on Landslides (1990). Algumas características do movimento são definidas
na Figura 6.5, na qual foram obedecidas as numerações e definições constantes do
modelo do IAEG Commission on Landslides (1990). Maiores detalhes e as demais
características do movimento podem ser vistas no item 2.2 deste trabalho (Figura 1.2 e
Tabela 1.1).

(a)
(b)
Figura 6.4. (a) Perfil geológico-geotécnico da seção SM-1/A (b) Perfil geológico-geotécnico da
seção SM–2/SM – 3A (Costa, 1996; Souza Neto, 1998).
NÚMERO NOME
1 Parte superior do
talude (coroa)
2 Escarpa principal

3 Topo

6 Corpo principal

7 Pé do talude

9 Base

10 Superfície de ruptura

13 Material deslocado

20 Superfície original do
terreno

Figura 6.5. Diagrama aproximado do movimento de massa ocorrido na encosta e


definição de algumas características do movimento (Melo Neto, 2005).

96
Analisando-se o perfil geológico-geotécnico do movimento de massa ocorrido (Figura
6. 4 a e b), obteve-se o diagrama representado na Figura 6.6, o qual caracteriza as
dimensões do movimento conforme proposta do IAEG Commission on Landslides
(1990). Maiores detalhes podem ser vistos no Capítulo 1 deste trabalho (Figura 1.5 e
Tabela 1.2).

Número Nome
1 Largura da massa desprendida, Wd = 88,9m

2 Largura da superfície de ruptura, Wr = 80,0m

3 Comprimento da massa desprendida, Ld =


177,2m

4 Comprimento da superfície de ruptura,Lr =


170,4m

5 Profundidade da massa desprendida, Dd =


13,8m

6 Profundidade da superfície de ruptura, Dr =


15,2m

7 Comprimento total, L = 188,9m

8 Comprimento da linha central, Lcl = 180,0m

Figura 6.6. Dimensões do movimento de massa da encosta (Melo Neto, 2005).

Desses valores, pode-se determinar o volume aproximado do movimento como


segue:
1 1
VOLls = π .Dr .Wr .Lr = π .15,2.80,0.170,4 = 108.493,02m³
6 6
(volume de material deslocado – antes do movimento)
1 1
VOLest = π .Dd .Wd .Ld = π .13,8.88,9.177,2 = 113.826,45m³
6 6
(volume estimado de material deslocado – após o movimento)

Pode-se dizer que o movimento de massa pode ser considerado como de significativas
proporções. Gusmão Filho et al. (1997) sugere que um volume estimado de material
deslocado a partir de 50.000,00m³ implica em escorregamentos de significativas
proporções. Conforme se esperava, houve um aumento de volume do material
deslocado após o movimento, devido à dilatação deste material (Melo Neto, 2005).
A avaliação da estabilidade da encosta foi realizada considerando-se uma análise bi-
dimensional na condição não saturada, sendo dividida em duas etapas. A primeira

97
considerando-se a análise de fluxo para o histórico de precipitações pluviométricas
antes da ruptura; e a segunda análise, considerando o método do equilíbrio limite
(Sarma, 1979), considerando a poro pressão distribuída obtida da análise de fluxo. Vale
ressaltar que ambas as análises de estabilidade tiveram a colaboração da PUC/RJ.
Duas condições foram consideradas na análise de estabilidade: sendo a primeira, a seção
transversal antes da construção da estrada no pé da encosta (condição natural) e, a
segunda como sendo a seção transversal após a construção da estrada (condição da
ruptura). Para a condição da ruptura, duas hipóteses foram consideradas para o
deslizamento; sendo uma ocorrida em uma etapa – deslizamento como um todo (seção 2
–Figura 6.7a) e a outra ocorrida em duas etapas – um pequeno deslizamento perto do pé
da encosta e e o outro dando continuidade até atingir o topo da encosta (seções 10 e 8 –
Figura 6.7a). a Figura 6.7b apresenta uma seção típica para o caso do deslizamento em
uma única etapa (seção 2). Maiores informações podem se vistos em Costa (1996) e
Coutinho et al. (2000).

(a) (b)

Figura 6.7. a) Seções transversais para análise de estabilidade, b) Seção transversal -


seção 2.

Os resultados da análise de fluxo mostraram basicamente dois tipos de comportamento:


i) para sucções iniciais menores ou iguais a 10 kPa a chuva infiltra alcançando o topo da
rocha (superfície impermeável adotada nas análises), gerando poro pressões positivas ao
longo da superfície impermeável; ii) para sucções iniciais maiores do que 10 kPa, a
infiltração gerada pela chuva não satura a região da superfície impermeável gerando
poro pressões negativas em toda a encosta.

A Figura 6.8 (a) apresenta os parâmetros de resistência utilizados na análise de


estabilidade junto com a faixa de valores obtidos em laboratório para a resistência de
pico. A Figura 6.8 (b) ilustra os resultados do fator de segurança crítico considerando-se
o deslizamento ocorrido em uma etapa (seção 2 - Figura 6.7) para diferentes hipóteses
dos valores de coesão e sucção e considerando a permeabilidade do saprolito maior do
que a permeabilidade do solo residual jovem (KS > KRJ). Empregou-se o valor de 30º
para o ângulo de atrito dos solos residuais em todas as análises de estabilidade e um
ângulo de 45º para o saprolito. Para análise de estabilidade empregando-se as malhas de
poro pressão obtidas nas análises de fluxo, realizou-se um estudo paramétrico para

98
quatro possíveis faixas de valores representativas de coesões obtidas para ambos os
solos residual maduro e residual jovem, já que a coesão apresentou uma maior variação
em seus valores obtidos através dos ensaios de cisalhamento direto, considerando-se
também a influência da presença de sucção na encosta.

(a)
Figura 6.8. (a) Parâmetros de resistência considerados na análise de estabilidade –
estudo paramétrico (b) Relação entre o FS e a sucção (seção 2) (Coutinho et
al, 2000).

O comportamento do FS mostra uma contínua redução com a redução da sucção inicial


considerada na análise. Observa-se que a redução do fator de segurança FS aumenta
para valores de sucção iguais ou menores que 10 kPa, provavelmente devido a
ocorrência de poro pressões positivas durante a infiltração das chuvas. Observa-se que
para c’ = 0 a 5 kPa (hipóteses a e b), o FS é aproximadamente igual a 1 considerando
sucções iniciais da ordem de 7 a 10 kPa.

Os Quadros 1 e 2 (Melo Neto, 2005) apresentam os resultados síntese da aplicação,


neste caso, da proposta de Leroueil et al. (1996) de caracterização geotécnica de
movimentos de massa, considerando-se que o movimento tenha ocorrido em uma etapa
e para os estágios de pré-ruptura e ruptura, respectivamente.

Como conclusões a respeito deste caso de estudo, podemos verificar que os fatores
predisponentes estão principalmente relacionados à geologia; associada com a direção
da foliação da rocha gnaisse e a forte presença do mineral mica no material envolvido
no movimento. Os fatores agravantes ou acionantes estão relacionados à escavação no
pé da encosta para construção da estrada associada a um período de intensas
precipitações pluviométricas. A análise de estabilidade indicou que a superfície crítica
obtida é próxima da superfície de ruptura observada no campo (contato solo residual-
rocha alterada); e que os parâmetros de resistência de pico ou próximo ao estado crítico
podem explicar a ruptura associado a baixos valores de sucção (≤ 10 kPa). A análise de
estabilidade indicou também que a área apresenta suscetibilidade a escorregamento
durante a estação úmida, já que foram encontrados baixos valores do fator de segurança
da ordem de 1.15 a 1.20 na condição natural (antes do corte da estrada).

99
Quadro 1. Caracterização geotécnica para o estágio de pré-ruptura (Melo Neto, 2005).

Movimento: escorregamento de terra Estágio: pré-ruptura


translacional retrogressivo

Material: solo residual de gnaisse, areia siltosa (solo residual jovem)

Parâmetros e leis de controle:


- Critério de ruptura de Mohr-Coulomb para solos não saturados:
τ = c′ + (σ − ua) tg φ ′ + (ua − uw) tg φ b
- Princípio da tensão efetiva para solos não saturados (σ’ = σ - ua + χ . ( ua – uw ));
- Relação teor de umidade X sucção;
- Relação permeabilidade X sucção;
- Provável ruptura progressiva.

d
Fatores predisponentes:

- Complexo climático;
- Estabilidade precária da encosta: estrutura biotita-gnaisse – plano de foliação com
direção paralela ao talude (em torno de 30º);
- Elevada quantidade do mineral mica, implicando elevado Índice de Atividade, Ia,
igual a 1,25, e φ ’ (médio) = 29,6º e c’ = 2,9KPa ⇒ redução na resistência;
- Anisotropia do SRJ: c’ maiores nas direções perpendiculares ao plano de
xistosidade;
- Kfs (permeabilidade saturada) maior para o solo residual maduro e menor
permeabilidade da camada de rocha alterada, com o fluxo da água ocorrendo
preferencialmente ao longo da camada de SRM, criando altas poro-pressões na água
na camada do solo residual jovem;
- A suposta maior permeabilidade da camada de saprolito (existente entre o solo
residual jovem e a superfície impermeável verificada através da análise de fluxo)
em relação ao solo residual jovem.

Fatores agravantes ou acionantes:

- Fator agravante: o corte na encosta para passagem da estrada, implicando aumento


das tensões cisalhantes e diminuição do fator de segurança;
- Fator acionante: a ação da infiltração da água das chuvas intensas, com a redução na
resistência da camada de solo residual jovem.

Fatores revelantes:
- Prováveis poro-pressões positivas, devido à água infiltrada, que devem ter sido
geradas na camada de solo residual jovem, na região sobrejacente ao saprolito, na
base da encosta.

Conseqüências do movimento:
- Ruptura de toda a massa de solo sobrejacente ao saprolito ao longo da superfície de
ruptura formada no contato solo-rocha do pé da encosta ao topo.

100
Quadro 2. Caracterização geotécnica para o estágio de ruptura (Melo Neto, 2005).

Movimento: escorregamento de terra Estágio: ruptura


translacional retrogressivo

Material: solo residual de gnaisse, areia siltosa (solo residual jovem)

Parâmetros e leis de controle: critério de ruptura de Mohr – Coulomb para solos não
saturados: τ = c′ + (σ − ua) tg φ ′ + (ua − uw) tg φ b

Fatores predisponentes:
- Complexo climático;
- Estabilidade precária da encosta: estrutura biotita-gnaisse – plano de foliação com
direção paralela ao talude (em torno de 30º);
- Anisotropia do SRJ;
- Elevada quantidade do mineral mica, implicando elevado Índice de Atividade e
φ’= 29,6º e c’ = 2,9KPa ⇒ redução da resistência;
- Maior permeabilidade do SRM, com menor permeabilidade da camada de rocha
alterada, com o fluxo da água ocorrendo preferencialmente ao longo da camada de
SRM, criando altas poro-pressões na água na camada do solo residual jovem;
- A suposta maior permeabilidade da camada de saprolito (existente entre o solo
residual jovem e a superfície impermeável verificada através da análise de fluxo)
em relação ao solo residual jovem.

Fatores acionantes ou agravantes:

- Todos os fatores ligados ao estágio da pré-ruptura, sendo este estágio o acionante da


ruptura propriamente dita, com a infiltração da água de chuvas intensas, provocando
poro-pressões positivas e redução na resitência do SRJ, sendo o fator acionante, e o
corte na encosta para construção da estrada e a suposta maior permeabilidade da
camada de solo de saprolito em relação ao SRJ como sendo os fatores agravantes.

Fatores relevantes:
- Deslocamento da massa de solo, encosta abaixo, evidenciando-se, claramente e
visualmente, a natureza micácea e os planos de xistosidade do SRJ e a superfície
impermeável da rocha biotita-gnaisse, podendo-se, assim, observar toda a superfície
de deslizamento.

Conseqüências do movimento:
- Estágio da pós-ruptura, com deslocamento de toda a massa de solo rompida, sendo
que parte do solo permaneceu na área rompida e outra parte do solo avançou sobre
a rodovia destruindo parcialmente a estrada no local, interrompendo o tráfego e
ocasionando prejuízos econômicos e sociais.

101
6.3. CASO 2: EROSÃO EM ENCOSTAS - HORTO DE DOIS IRMÃOS

A encosta objeto de estudo (Figura 6.9), sofreu um processo erosivo de grande


intensidade, cujo principal agente deflagrador foi a ação antrópica, através de uma
intervenção realizada de forma inadequada. A origem do problema remonta à
implantação de uma área de lazer, no Horto Dois Irmãos, denominada Cidade da
Criança, para cuja construção foi necessário alterar a geometria da encosta natural,
construindo-se um talude em patamares.

A recuperação desta encosta é de grande importância, não apenas para evitar o avanço
do processo erosivo na área da reserva ecológica, como também, porque a mesma está
situada ao lado da Cidade da Criança, a qual é um dos atrativos do Horto Dois Irmãos.

A convite do Horto Dois Irmãos, através de um trabalho de parceria entre a Área de


Geotecnia-DEC/UFPE e o DER-PE, foram realizados estudos geológicos-geotécnicos
do processo erosivo ocorrido numa das encostas do Horto Dois Irmãos, Recife-PE,e
elaborado um projeto de recuperação.O Horto situa-se no domínio da Formação
Barreiras, com predominância de solos arenosos e a existência de lentes de argila. A
proposta de recuperação indicada buscou minimizar os impactos ambientais evitando o
desflorestamento e o tráfego de caminhões na área da reserva ecológica.

Figura 6.9. Vista geral da área erodida.

O município do Recife, com área em torno de 219 km2, localiza-se à 7°55’43” e


8°09’17”S e 34°52'05” e 35°00'59”W. O Horto Dois Irmãos, está localizado no bairro
de mesmo nome, a noroeste da cidade do Recife, com uma área de aproximadamente
4,0 km2. De acordo com a classificação climática de W. Köppen, a área do Recife,

102
apresenta o clima do tipo As’, tropical costeiro, quente (temperatura mínima de 18°C) e
úmido.

Em relação ao relevo, a reserva ecológica de Dois Irmãos localiza-se na sua totalidade


dentro do domínio da Formação Barreiras, com menor participação dos sedimentos dos
terrenos baixos. Os solos, pela sua variabilidade litológica e topográfica, são
classificados como associações de latossolos, podzólicos e podzois. Com respeito à
cobertura vegetal, a Mata de Dois Irmãos, na qual o Parque está situado, é uma das
áreas remanescentes da Mata Atlântica, com cerca de 370 ha de extensão, sendo
destaque na área de preservação ambiental.

Foi realizada uma grande campanha de ensaios (campo e laboratório), constando de


sondagens; retirada de amostras indeformadas; permeabilidade ‘in situ”; caracterização
física; compactação; cisalhamento direto convencional e com sucção controlada. A
análise da estabilidade foi realizada, com a finalidade de elaborar um projeto para
recuperação da área. A primeira campanha de ensaios teve por objetivo, definir os
parâmetros de projeto, através da retirada de amostras deformadas e indeformadas. A
segunda campanha ocorreu, após o início dos trabalhos de recuperação da encosta,
como objetivo de desenvolver pesquisa na temática de erosão.

Foram realizados três furos de sondagens, um em cada patamar da encosta, de acordo


com a norma brasileira NBR 6484. A Figura 6.10 mostra que a encosta é constituída,
predominantemente, por uma areia argilosa / siltosa com compacidade média,
classificada como SC no sistema SUCS. Não foi observada presença de nível d’água.
Para a estação seca, os teores de umidade variam entre 7 e 15%, podendo atingir valores
da ordem de 25% na estação chuvosa.

0 0 0
Areia siltosa
Areia siltosa média
2 2 2
Silte argiloso
4 4 4
Areia siltosa média

6 6 6
Silte arenoso médio
Profundidade (m)

8 Areia siltosa média 8 8


Silte argiloso
10 10 10

12 Areia siltosa média 12 12

14 14 14

16 Fim da sondagem 16 16
Jan/1998
18 Fev/2000
18 18
Jul/2000
Fev/2000
20 20 20
0 10 20 30 0 10 20 30
NSPT Umidade (%)

Figura 6.10. Perfil de sondagem e umidade.

103
Os ensaios de caracterização física e de compactação foram realizados a partir da coleta
de amostras deformadas, segundo as normas brasileiras (NBR 6467/86, 6459/86,
7180/84 e 7181/84). A Tabela 1 apresenta um resumo dos resultados dos ensaios de
caracterização. Observa-se na Tabela 6.2, que a quase totalidade das amostras foram
compostas por solos de textura grossa. A exceção ocorreu para a amostra da camada 2
que apresentou textura fina (mais de 50% passando na peneira 0,075 mm).

Tabela 6.2. Composição granulométrica.

Cam. Cota Granulometria (%) Limites de


(m) Atterberg
Areia Silte Arg. Ped. LL LP
5 508 87 3 8 2 NL NP
4 507 85 5 10 - 29 18
3A 503 77 8 15 - 29 19
3 502 55 15 30 - 38 23
2 501 31 33 36 - 40 24
1 500 67 15 18 - 34 21

Entretanto, observou-se um aumento na quantidade de argila, com as camadas mais


profundas (camadas 1, 2 e 3), apresentando percentuais variando entre 18 e 36%. Tal
fato pode indicar uma camada menos permeável subjacente às camadas mais
superficiais, contribuindo assim para o processo erosivo. Os limites de Atterberg
indicam que a maioria das amostras é de média plasticidade (10<IP<16).

O ensaio de compactação com Proctor Normal foi realizado segundo a norma NBR
7182 da ABNT. A compactação dos solos aumenta a densidade, através da diminuição
do índice de vazios pela expulsão do ar, obtendo-se uma maior resistência a qual
permanece basicamente constante em qualquer estação do ano e sob quaisquer
condições climáticas, tendo por isso grande importância na estabilidade de talude. De
acordo com a Figura 6.11, definiram-se os parâmetros de projeto, cuja densidade
máxima ficou em torno de 19,0 kN/m3 e umidade ótima entre 9% e 12%, para o trabalho
de preenchimento das áreas degradadas, Santos (2001).
Massa esp. aparente do solo seco (tf/m2)

20

19,5

19

18,5

18
Amostra 1 - h ótimo = 10,7 %; γsmáx = 19,9 KN/m3
Amostra 2 - h ótimo = 11,7 %; γsmáx = 19,5 KN/m3
Projeto - h ótimo = 9 %; γ smáx = 19,9 KN/m3
17,5
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18
Umidade (%)
Figura 6.11. Curvas de compactação das amostras deformadas e de projeto.

104
A curva característica do solo foi obtida utilizando três procedimentos: método do papel
filtro, membrana de pressão e dessecador a vácuo. No método do papel filtro os corpos
de prova constam de anéis cilíndricos, com diâmetro de 71mm e altura de 20mm. Em
cada corpo de prova eram colocados papéis filtro Whatman 42, envolvido por um filme
PVC, e mantido por um período de 10 dias. Em seguida, eram determinadas as
umidades de cada papel e os correspondentes valores de sucção. Nos ensaios de
membrana de pressão, foram utilizados corpos de prova cilíndricos com diâmetro de
50,5mm e altura de 20mm. Em síntese consiste em colocar uma amostra de solo sob
uma superfície saturada, conectada a uma coluna d’água dentro de uma câmara para
aplicação de uma pressão de ar. A diferença entre a pressão de ar e a pressão da água na
base da amostra, corresponderá à sucção matricial. No ensaio com dessecador a vácuo,
foram utilizados corpos de prova cúbicos, com arestas variando de 20 a 30mm. O ensaio
consiste em colocar uma amostra de solo dentro de um ambiente hermeticamente
fechado, contendo uma solução de um sal ou ácido. A solução gera uma sucção, que se
relaciona com a umidade relativa do ar. A Figura 6.12 apresenta a curva característica, a
qual foi ajustada pelo modelo de Van Genutchen (1980).

45
Membrana de Pressão
Papel Filtro
40
Dessecador a vácuo
Van Genutchen (1980)
35
Teor de umidade volumétrca (%)

Parâmetros
30 θs = 39%
θr = 5.5%
25 -1
αvg (cm ) = 0.0563
20 nvg = 3.9871
mvg = 0.4984
15

10

0
0,01 0,1 1 10 100 1000 10000

Sucção (kPa)

Figura 6.12 Curva característica ajustada por Van Genutchen (1980).

Observa-se que o solo apresenta uma curva típica de um solo arenoso, caracterizada
pela grande variação de umidade que ocorre em baixas sucções (1 a 10 kPa). De uma
forma geral, os três métodos apresentaram valores coerentes de sucção, sem dispersões
significativas. O valor de entrada de ar foi da ordem de 1 kPa e uma umidade
volumétrica residual da ordem de 5,5%, correspondendo a uma sucção da ordem de
8kPa.

Foram realizados ensaios de cisalhamento direto em corpos de prova, previamente


inundados na umidade natural e na sucção de 30 kPa, tendo como objetivo fornecer
parâmetros de resistência, para uma futura análise de estabilidade do talude a ser
efetuada dentro do projeto de recuperação. Nos ensaios foram utilizados corpos de
prova quadrados com 50.8mm de lado e 20mm de altura. Nos ensaios inundados os
corpos de prova ficaram submersos por 24 horas e em seguida cisalhados. Nos ensaios
de cisalhamento direto com sucção controlada foram utilizados corpos de prova

105
quadrados com 50mm de lado e 22mm de altura e submetidos à sucção de 30 kPa,
mantendo por um período de 7 dias. Na Figura 6.13, observa-se que as envoltórias de
resistência são lineares e praticamente paralelas, com os ângulos de atrito variando entre
35,7 e 37,2o, apresentando um leve aumento de φ com a sucção.

300
(1) Saturado
250 (2) Teor de Umidade
(3) Sucção de 30 kPa
200
Tensõa Cisalhante (kPa)

150
Parâmetros
φ( ) w(%)
o
100 c (kPa)
1) 7.7 35.7 23.3
50 2) 12.1 36.7 9.8
3) 19.7 37.2 4.1
0
0 100 200 300 400
Tensão Normal (kPa)

Figura 6.13. Envoltória de ruptura - cisalhamento direto.

Portanto, é razoável admitir que as pequenas diferenças em φ sejam conseqüências da


variabilidade natural dos corpos de prova. O intercepto de coesão variou na faixa de 7 a
20 kPa, aumentando com a redução da umidade, Coutinho et al. (2006).

Com o objetivo de provocar o mínimo de impactos ambientais possíveis foram


realizadas várias análises. Fatores como a falta de infra-estrutura adequada (estradas)
para o tráfego não usual de caminhões, carregados com material de empréstimo, e
ausência de áreas de empréstimo nas proximidades, bem como a concepção ambiental
do projeto, levaram a equipe técnica à realização de um estudo específico, visando o
aproveitamento do material de corte do próprio talude para o preenchimento da erosão.
Para que isto ocorresse, medidas adotadas na análise de estabilidade tiveram um papel
muito importante, através dos estudos das seções transversais de forma a garantir a
estabilidade da encosta, assim como para obtenção de volume adequado para o aterro.

Com a idéia de aproveitamento do material de corte para a recomposição da erosão e


após a análise de estabilidade, foi realizado o estudo referente ao cálculo do volume.
Todo o estudo de volumes necessários e disponíveis (cubação) foi realizado pela equipe
do DER-PE, com base no levantamento topográfico das secções transversais do talude.
Para a recomposição da encosta, o material deve ser de boa qualidade, do tipo arenoso-
argiloso amarelo não expansivo. Alguns dos materiais cortados não apresentaram estas
características, mas, apesar deste inconveniente, a quantidade de material de corte do
talude foi prevista ser suficiente para o preenchimento das erosões.

106
Para a análise de estabilidade utilizaram-se duas seções transversais típicas, (estacas
1+5,00 m e 1+10,00 m) para a região mais crítica da erosão. A Figura 6.14 mostra uma
das seções, com as possíveis soluções de recomposição da encosta. Estas propostas
consideram o preenchimento dos vazios provocados pela erosão, através do corte do
talude em alguns pontos, mantendo uma inclinação básica do talude de 1:1,5. Utilizando
o método de Bishop modificado para superfícies circulares, concluiu-se que a proposta
1 era a mais recomendada ambientalmente, pois não necessitaria o avanço na mata,
enquanto as propostas 2 e 3 consideravam um avanço na mata, modificando apenas as
larguras dos platôs. A Figura 6.15 apresenta os detalhes do sistema projetado para a
encosta.

30
Estaca 1 + 10,00 m Cota 522,44 m

20
Altura (m)

Talude Anterior
Proposta 1
10
Cota 499,946 m Proposta 2
Proposta 3

0
0 10 20 30 40 50 60 70 80
Comprimento transversal (m)

Figura 6.14. Propostas de estabilização (Santos, 2001).

Valeta
524,70 Terra

Talude
Projetado
519,00
Valeta Concreto

Talude Existente Descida D'água

513,00
Valeta Concreto

Descida D'água

5Desci
Valeta Concreto

• Cotas em Metros
Mureta • escala 1:400
Projetada
Rua
Valeta Concreto
499,974

6.15. Corte transversal da área (Santos, 2001).

107
Várias propostas de corte de talude foram analisadas em todos os aspectos envolvidos.
A proposta 1 foi a mais recomendada do ponto de vista da preservação ambiental por
não necessitar avanço e corte de árvores na Mata Atlântica, o que provocaria uma
agressão ecológica à reserva.

Para um preenchimento bem feito da área erodida, faz-se necessário a limpeza e


regularização da mesma, obtendo-se assim uma melhor aderência do solo compactado
ao terreno natural. Em campo a compactação se deu de forma manual e semi-
mecanizada. A compactação manual era realizada nas pequenas áreas erodidas, onde se
tornava difícil a utilização de uma compactação semi-mecanizada (Figuras 6.16).

Figura 6.16. Etapas para estabilização do local. (Santos, 2001).


Um dos principais fatores naturais que protege os terrenos contra a erosão é a cobertura
vegetal. A implantação de cobertura vegetal também aumenta a resistência do solo pela
presença das raízes reduzindo as possibilidades de nova erosão. Foi especificado no
projeto que o plantio deveria ser feito através de grama em placas do tipo “capim de
burro”. Nos platôs, antes do plantio, recomendou-se a colocação de uma camada de
matéria orgânica servindo como adubo, processo conhecido como conformação (Figura
6.17). Durante a execução ficou definido ainda, que seria feita plantação de bambu no
pé do talude para dar aspecto de talude natural, pois adjacente à área encontra-se este
tipo de vegetação.

108
Figura 6.17. Colocação da proteção vegetal (Santos, 2001).

A chuva é um fator que provoca a aceleração da erosão. Chuvas torrenciais ou pancadas


de chuvas intensas, como trombas d’água durante o período chuvoso constituem a
forma mais agressiva de impacto da água no solo. Portanto, um projeto de sistema de
drenagem é essencial. A valeta de proteção no topo do talude, seria executada em terra
com alguns degraus, em solo/cimento na sua descarga. A Figuras 6.18 apresenta os
detalhes do sistema de drenagem projetado para a encosta.

Figura 6.18. Sistema de drenagem do local (Santos, 2001).

A presença de solos arenosos finos com baixa compacidade (características de solos


erosivos), camadas internas de solos argilosos apresentando permeabilidade baixa,
associados à intensa precipitação e infiltração de chuvas na encosta (talude sem
proteção superficial e drenagem superficial sem manutenção), foram as principais
causas da intensa erosão que ocorreu na encosta na Cidade da Criança do Horto Dois
Irmãos.

Várias propostas para recuperação da área foram analisadas em todos os aspectos


envolvidos. A proposta 1 foi a mais recomendada ambientalmente, por não necessitar

109
avanço e corte de árvores na Mata Atlântica, que provocaria uma agressão ecológica à
reserva. Com esta recomendação e com os estudos técnicos apresentando condições
satisfatórias de estabilidade foi possível aproveitar o material de corte do próprio talude,
para o preenchimento das erosões, evitando o tráfego de caminhões com material de
empréstimo, o que poderia prejudicar a infra-estrutura da área. No caso das gramíneas,
procurou-se utilizar uma solução com uso de materiais locais com análise de botânica,
verificando-se que em poucos dias ocorreu um bom crescimento da vegetação.

6.4. CASO 3: MOVIMENTO DE MASSA EM ENCOSTA COM OCUPAÇÃO


DESORDENADA – PROPOSTA DE ESTABILIZAÇÃO

Este trabalho apresenta um resumo da análise de estabilidade de um deslizamento


ocorrido em uma encosta com ocupação desordenada no bairro do Ibura (UR-2), no
Recife. A ruptura, ocorrida na Formação Barreiras (presente no litoral brasileiro, desde
o Espírito Santo ao Rio Grande do Norte) teve como conseqüências: destruição de duas
residências; um óbito por soterramento registrado na residência destruída no patamar
inferior e, duas famílias desalojadas. A partir de um convênio entre a Prefeitura do
Recife através da sua Defesa Civil e a Universidade Federal de Pernambuco, foi
realizada uma campanha de atividades de campo e de laboratório. Com os dados
obtidos, foram feitas simulações utilizando o programa SLOPEW da GEO-SLOPE,
gerando-se então o relatório técnico para elucidação das causas do acidente. Ao final
deste trabalho é apresentada uma proposta à Prefeitura do Recife para estabilização
desta encosta. Este estudo tratou-se de um apoio técnico através de convênio entre a
Área de Geotecnia – DEC / UFPE – e a Defesa Civil do Recife, CODECIR. Ele foi
solicitado com objetivo de esclarecer as causas do deslizamento com a ocorrência de um
óbito em mês que tradicionalmente apresenta valores acumulados de precipitação muito
inferiores aos observados na média histórica anual.

A ruptura ocorrida na Rua Soldado Vasco Teixeira (Ibura) não foi a primeira a ocorrer
no local. Na verdade, o acidente que causou a vítima fatal por soterramento, é resultado
do segundo deslizamento a ocorrer na mesma encosta. Durante as chuvas de junho /
2000, parte desta encosta rompeu provocando a destruição total da casa que pertencia a
mesma vítima e, à época, havia sido construída com taipa (argila + madeira). Neste
primeiro acidente houve apenas prejuízos materiais já que ninguém se encontrava na
residência no momento do deslizamento. Por motivos financeiros, a família não
abandonou o terreno e reconstruiu a casa no mesmo local, desta vez utilizando a
alvenaria como material de construção.Desde então, este ponto de risco conhecido se
tornou continuamente monitorado pela defesa civil do município através de visitas
regulares realizas pelos técnicos. Entretanto, tal qual ocorreu na encosta durante as
chuvas de 2000, outro trecho da encosta rompeu durante a madrugada do dia
08/10/2005, resultando em duas residências destruídas e um óbito por soterramento.

O acidente ocorreu entre as 2 e 3 horas da manhã do dia 08/10/05. No referido dia,


houve uma precipitação de 36,8mm (Figura 6.19), o que correspondeu a, aproximada-
mente, 62% de toda a precipitação acumulada neste mês.

110
40

35
Precipitação
30

Chuva (mm)
25

20

15

10

0
1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29 31

Figura 6.19. Chuvas em Outubro de 2005 (INMET, 2006).

Aquela localidade não recebe água regularmente da companhia de abastecimento.


Normalmente, esta só é liberada alguns dias na semana e, geralmente, durante a
madrugada. Entretanto, aquele era o segundo dia consecutivo que a água era liberada
após grande período de desabastecimento. Segundo uma moradora, a tubulação (ligação
clandestina) que abastecia a residência do patamar superior apresentava um vazamento
(Figura 6.20). Segundo técnicos da CODECIR, apesar de advertidos, os moradores da
residência do patamar inferior (local do óbito) realizaram um corte de cerca de 0,50m
no pé da encosta.

Figura 6.20. Tubulação de água clandestina no local da ruptura.

Foram realizadas sondagens a trado para determinação do perfil do subsolo com


determinação da umidade e classificação tátil-visual das camadas. Foram também
coletadas amostras deformadas em sacos (total de 5 amostras) para classificação através
de ensaio de granulometria com sedimentação, limites de Atteberg e plasticidade.
Levando em conta os resultados dos ensaios de umidade, granulometria com
sedimentação, plasticidade (IP) e a Classificação Unificada dos Solos (Tabela 6.3),
foram admitidas 3 (três) camadas distintas no perfil do subsolo em estudo, estando estes
resultados ilustrados na Figura 6.21.

111
Perfil do Subsolo Umidade (%) vs.
Profunidadade (metros)

Um idade (%)
0 5 10 15 20
0 0

0,5 0,5

1 1

1,5 1,5
A reia argilo sa, silto sa,
Profunidadade (metros)

Profunidadade (metros)
marro m escura (to po ),
passando po r ro sada e
2 amarela clara, e amarela 2
escura na base.

2,5 2,5

3 3

A rgila de baixa
3,5 co mpressibilidade, areno sa. 3,5

Silte de baixa co mpres-


sibilidade, vermelho escuro .
4 4

Limite da so ndagem a trado

4,5 4,5

Figura 6.21. Perfil do subsolo e perfil de umidade.

O levantamento plani-altimétrico realizado no local (Figura 6.22) compreendeu a


determinação das curvas de nível de 2 em 2 metros para determinação do relevo da área,
além da definição de 5 (cinco) seções transversais:
a) Duas delas passando fora da área onde ocorreu o deslizamento (Seções A e E);
b) Duas passando pelo deslizamento ocorrido em Outubro de 2005 (Seções C e D);
c) Uma passando pelo deslizamento ocorrido em Junho de 2000 (Seção B).

Figura 6.22. Topografia com indicação do local do deslizamento.

112
A seção topográfica “C” (Figura 6.23) foi escolhida para ser utilizada na análise de
estabilidade por ser considerada como mais representativa do deslizamento ocorrido.

Área do
deslizamento

Colúvio

Figura 6.23. Seção topográfica utilizada na análise de estabilidade (Deslizamento


out/2005).

A Figura 6.23 ilustra simultaneamente o trecho da encosta que deslizou (hachurado) e o


perfil final da encosta após o deslizamento (perfil atual da encosta com a presença do
colúvio). Ou seja, ilustra o perfil pré e pós-ruptura. A Figura 6.24, criada a partir das
curvas de nível geradas no levantamento plani-altimétrico, ilustra em 3D a encosta em
estudo (a seta indica o local e o sentido do deslizamento).

Figura 6.24. Perfil da encosta em 3D, com indicação da área onde ocorreu a ruptura.

Foram coletadas 16 amostras indeformadas para ensaios de cisalhamento direto,


moldadas diretamente no talude onde houve a ruptura. Estes corpos de prova foram
coletados com um moldador, de modo a obter um lado de 5,08 cm e altura de 4,0 cm.
Também foram coletados blocos cúbicos de 20,0 cm de aresta nas 3 camadas envolvidas
na análise para a realização de ensaios de permeabilidade saturada em laboratório,
determinação do peso específico das camadas e curvas características (ainda não
concluídas), já que a encosta em estudo se trata de um solo não saturado.

A Tabela 6.3 apresenta os valores das massas específicas e dos Limites de Atteberg
obtidos das 5 (cinco) amostras coletadas da sondagem a trado (pertencentes as camadas
apresentadas na Figura 6.21), os resultados finais dos ensaios de granulometria com
sedimentação, a Classificação Unificado dos Solos e os pesos específicos das camadas
obtidos através das amostras indeformadas em blocos. Como se nota a partir desta
tabela, o IP dos solos varia entre 7 e 14, onde a camada 2, uma argila de baixa

113
plasticidade, apresenta este maior valor. As areias argilosas (SC) foram agrupadas numa
mesma camada (camada 1) por apresentar características similares entre si, enquanto os
solos com classificações distintas foram consideradas como camadas à parte (camadas 2
e 3)

Tabela 6.3: Massas específicas, Limites de Atteberg, Resultados Finais dos Ensaios de
Granulometria com Sedimentação, Classificação Unificado dos Solos das 5 (cinco)
amostras ensaiadas Pesos Específicos das Amostras Indeformadas.

Classificação
Profundidade (m) Amostra δg (g/cm )3
WL WP IP Argila Silte Areia γ (kN/m3)
% % % Unificada Camadas

dos Solos
0,00 a 0,60 1 2,685 24 17 7 0 8 90 SC
0,60 a 1,80 2 2,670 26 17 9 0 8 86 SC 1 17,1
1,80 a 3,30 3 2,674 29 17 12 0 7 91 SC
3,30 a 3,60 4 2,667 36 22 14 0 47 53 CL 2 20,5
3,60 a 4,00 5 2,681 36 24 12 0 32 65 ML 3 18,0
Obs.: δg = peso específico dos grãos, LL = Limite de Liquidez, LP = Limite de Plasticidade, IP = Índice
de Plasticidade, γ = Peso específico.

Após a definição das 3 camadas envolvidas no deslizamento, foram coletadas amostras


indeformadas para determinação da permeabilidade saturada no equipamento Tri-Flex
2. Os resultados obtidos são mostrados na Tabela 6.3.

Tabela 6.3. Permeabilidades saturadas em laboratório.

Camadas Profundidade (m) Δσ (kPa) kSat (m/s)


1 0,00 a 3,30 2 2,12.10-5
2 3,30 a 3,60 10 1,45.10-6
3 3,60 em diante 2 1,89.10-5
Obs.: Δσ = Tensão na base da amostra – Tensão no topo da amostra, kSat = Permeabilidade saturada.

Como se observa através da Tabela 6.3, a camada 2, classificada anteriormente como


uma argila de baixa plasticidade (CL) possui uma permeabilidade 10 (dez) vezes menor
que as outras duas camadas. Esta “barreira” pode haver contribuído no acúmulo de
águas que se infiltraram neste solo não-saturado na camada superior à camada 2,
resultando em considerável perda de sucção destes.

Os valores de resistência dos materiais foram obtidos a partir da realização de ensaios


de cisalhamento direto em amostras indeformadas coletadas no local. Os corpos de
prova ensaiados foram inundados antes da aplicação da tensão normal de adensamento e
cisalhados sob condições drenadas, simulando a condiçao mais crítica.Os corpos de
prova foram submetidos a 4 (quatro) tensões normais de cisalhamento, sendo estas: 50,
100, 150 e 200kPa, respectivamente. A Tabela 6.4 mostra os parâmetros de resistência
obtidos a partir das envoltórias de resistência ao cisalhamento para as 3 camadas
ensaiadas.

114
Os valores encontrados na Tabela 6.4 são similares aos encontrados para solos da
Formação Barreiras apresentados por Coutinho e Silva (2005)

Tabela 6.4. Resultados de resistência ao cisalhamento.

Camadas Profundidade (m) c’CD (kPa) φ' CD


(graus)
1 0,00 a 3,30 0 36,1º
2 3,30 a 3,60 0 29,0º
3 3,60 em diante 0 29,7 º
Obs.: c’ = Coesão, φ ’ = Ângulo de atrito.

As análises de estabilidade foram realizadas no programa SLOPE/W, considerando a


situação de ruptura e a atual, utilizando os parâmetros de resistência da Tabela 6.3.No
caso da análise da ruptura, foi considerada uma superfície de deslizamento pré-definida
observada no campo, de acordo com os dados topográficos gerados a partir da Seção
“C” (Figura 6.23). Na situação atual foi utilizada a geometria indicada na Figura 6.24
(sem a presença do material que deslizou ou o colúvio) procurando definir a superfície
crítica (menor Fator Segurança). O resultado da análise da ruptura, com a superfície e o
Fator de Segurança através do método de Bishop Modificado (FS = 1,091), pode ser
verificado na Figura 6.25.

Figura 6.25. Resultado da análise da ruptura.

Para a situação atual, o resultado obtido foi de FSMIN = 1,01, para a superfície crítica
indicada pelo programa. Dessa forma, estes resultados mostram o potencial de ocorrer
ruptura na situação mais crítica (solo saturado), justificando o acidente ocorrido. Na
análise da situação atual, o resultado obtido ilustra a necessidade de estabilização do
local.

Foi proposta à Prefeitura do Recife a solução para contenção / recuperação desta


encosta em muro de gabiões com retaludamento, plantio de gramíneas e drenagem
interna e externa, como se apresenta na Figura 6.25.

115
Guarda-corpo
6,50

1,20
Canaleta

0
0,3
Gramíneas
1,00 Reaterro
Solo-cimento (traço 1:25)

0,80
9,00

Dreno de areia + geotêxtil não


tecido com gramatura de 30g/m²

1,50

5,00
Tubo-dreno Canaleta
φ=4"
0,50

1,00
0,50 1,00

Figura 6.25. Muro de contenção em gabiões.

Outras possíveis opções similares para contenção seriam o uso dos muros de sacos de
solo-cimento ou de pedra argamassada no lugar do muro em gabiões. O resultado da
análise apresentada permite concluir que o processo de instabilização desta encosta se
deu essencialmente pela infiltração de água. As chuvas ocorridas antes do deslizamento,
o vazamento de uma tubulação clandestina e um pequeno corte realizado no pé da
encosta foram os principais fatores responsáveis por predispor e deflagrar este
movimento, com a diminuição dos valores de sucção nestes solos e redução das forças
resistentes (contrárias) ao movimento.

116
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALMEIDA , M.C.J. DE., FREITAS, C.G.L. de (1996). “Uso do solo: suas relações com
o meio físico e problemas decorrentes”. In: Simpósio Brasileiro de Cartografia
Geotécnica, 2, 1996, São Carlos. Anais. São Paulo: ABGE. P. 195-200.

ASSUNÇÃO, D. M. S. (2005). “Padrão quali-quantitativo do descarte de águas


residuárias em áreas carentes: um estudo no Alto do Bom Viver em Salvador”.
Dissertação de Mestrado em Engenharia Ambiental Urbana - Universidade Federal
da Bahia.

AUGUSTO FILHO, O. (1992). “Caracterização geológica-geotécnica voltada à


estabilização de encostas: uma proposta metodológica. Conferência Brasileira sobre
estabilidade de encostas. Rio de Janeiro, ABMS-ABGE-ISSMGE, Vol.2, pp. 721-
733.

AUGUSTO FILHO, O. & VIRGILLI, J. C. (1998). “Estabilidade de taludes”. Cap 15.


Geologia de Engenharia. Associação Brasileira de Geologia de Engenharia, ABGE.
Editora Oficina de textos, pp. 243-269.

AZZOUZ, A .S.; BALIGH, M.M. & LADD, C. C. (1983). “ Corrected field vane strngh
for embankment design” . ASCE- Journal of Geotechnical Engineering. Vol. 109,
Nº 5, pp. 730- 734.

BERTONI, J., LOMBARDI NETO, F. (1985). Conservação do solo. Piracicaba: Livro


Ceres. 392 p.

BIGARELLA, J., MAZUCHOWSKI, J.Z. (1985). “Visão integrada da problemática da


erosão”. In: Simpósio Nacional de Controle de Erosão, 3, 1985, Maringá. Livro
Guia... Maringá: ABGE. 332p.

CARVALHO, P. A.S. (1991). “Taludes de rodovias: orientação para diagnóstico e


soluções de seus problemas”. São Paulo: IPT. 410p.

COSTA, F.Q. (1996). Problemas de estabilidade de taludes em solo residual de gnaisse


– análise do escorregamento do Espinhaço da Gata PE-89 / Pernambuco. Dissertação
de Mestrado. UFPE. CTG. Engenharia Civil, Recife-PE.

COUTINHO, R. Q.;COSTA, F.Q.; SOUZA NETO, J.B. (1997). Geotechnical


characterization and slope stability evaluation of a slope in residual soil from
Pernambuco, Brazil. 2nd Pan- American Symposium on Landslide. Rio de Janeiro,
Brazil, Vol. 2, pp. 287-298.

117
COUTINHO, R. Q.; SOUZA NETO, J.B.; BARROS, M. L.S.; LIMA, E. S.;
CARVALHO, H.A (1998). Geotechnical characterization of a young residual
soil/gneissic rock of a slope in Pernambuco, Brazil. 2nd International Symposium on
the Geotechnics of Hard soil and soft rocks, Vol. 1. Naples, Italy, pp.115-126.
COUTINHO, R. Q.; SOUZA NETO, J. B.; COSTA, F. Q. (2000). Design strength
parameters of a slope on unsaturated gneissic residual soil. ASCE – Geotechnical
Special Publication, Nº 99, pp.247-261.

COUTINHO, R.Q, .SOUZA NETO, J.B, SANTOS, L.M. AND LAFAYETTE, K.P.V.
(2006). Geotechnical Characterization of an Unsaturated Soil in the Barreiras
Formation, Pernambuco – Brazil.

COUTINHO, R.Q. E SILVA, M.M. (2005) Conferência: “Classificação e Mecanismos


de Movimentos de Massa”. IV COBRAE. Escola Politécnica da UFBA, Salvador –
BA. Vol. Pós-congresso (no prelo).

CRUDEN, D. M. (1991). A simple definition of a landslide. Bulletin International


Association of Engineering Geology. 43, pp. 27-29.

CRUDEN, D. M. e VARNES, D. (1996), Landslide Types and Processes. In Landslides


Investigation and Mitigation. Cap 2. Editores – Turner, A. K. & Schuster, R.L.
National Academy Press, Special Report 247. Washington, pp. 337 - 370.

DEPARTAMENTO DE ÁGUAS E ENERGIA ELÉTRICA – DAEE. Instituto de


Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo – IPT. 1989. Controle da Erosão;
bases conceituais e técnicas; diretrizes para o planejamento urbano e regional;
orientações para o controle de boçorocas urbanas. São Paulo: DAEE/IPT/
Secretaria de Energia e Saneamento. 92 p.

DEPARTAMENTO DE ÁGUAS E ENERGIA ELÉTRICA – DAEE. Instituto de


Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo – IPT.(1990). “Controle de
Erosão: Bases Conceituais e Técnicas; Diretrizes para o Planejamento Urbano e
Regional; Orientações para o Controle de Boçorocas Urbanas”. São Paulo, DAEE
– IPT, 1989, 2º Edição.

DUNCAN J.M. (1996). “Soil slope stability analysis”. Landslides Investigation and
Mitigation. Cap 13. Editores – Turner, A. K. & Schuster, R.L. National Academy
Press, Special Report 247. Washington, pp. 337 - 370.

DUNNICLIFF, J. (1982). “Geotechnical instrumentation for monitoing field


performance”. Transportation Research Board, National Research Council,
Washington, D.C.

FELL, R.; HUNGR, O., LLEROUEIL, S.; RIEMER, W. (2000). Keynote Lecture:
Geotechnical engineering of the stability of natural slopes, and cuts and fills in soil.

118
International Conference on Geotechnical e Geological Engineering. Geo Eng.
Melbour, Austrália.
FONSECA E FERREIRA (1981). “Metodologia para determinação de um índice de
erodibilidade de solos”. Simpósio Brasileiro de Solos Tropicais em Engenharia,
COPPE/UFRJ, CNPq, ABMS, Rio de Janeiro. 646-667.

FOSTER, G.R. et al. (1985). “Process of soil erosion by water”. In. FOLLET, R.F.,
STEWART, B.A .(eds.). Soil erosion and crop productivity. Wiscosin: American
Socity of Agronomy. Crop Science Society of American. p. 137-162.

GEORIO (2000). “Manual técnico de encostas”. Análise e investigação. Volume 1. 2º


edição. 253p.

GUIDICINI, G. & NIEBLE, C.M. (1984). Estabilidade de taludes naturais e de


escavação. São Paulo: Edgard Blucher. 194p.

GUSMÃO FILHO, J. A. (1997) . “Encostas Urbanas: Aspectos Ambientais, Sociais e


Políticos” – 2nd Panamericam Symposium, Rio de Janeiro.

GUSMÃO FILHO, J.A.; FERREIRA, S.R.M.; AMORIM JR, W.M. (1997).


Escorregamento em morros urbanos do Recife: o caso Boleiro. In: 2nd Panamerican
Symposium on Landslides, Rio de Janeiro, ABMS.Anais, Vol. 2, pp.985-994.

HUTCHINSON, J. N. (1988). General Report: Morphological and geotechnical


parameters of landslides in relation to geology and hridrogeology. In Proc., Fifth
International Symposium on Landslides. Balkema, Rotterdam, Netherlands, Vol. 1,
pp. 3-35.
IAEG Commission on Landslides (1990). Suggested nomenclature for landslides.
Bulletin of the International Association of Engineering Geology, Nº 41, pp. 13-16.

IMERSSON, A.C., KWAAD, F.J.P.M. (1980). “Gully types and Gully prediction.
K.N.ªG. Geografisc Tijdischrift” , v. 14, n. 5, p. 433-441.

INDERBITZEN, A. L. (1961). “ An erosion test for soil. Materials Research &


standards, Philadelphia, v.1, n. 7, p. 553-554.

INFANTE Jr., N. & FORNASARI FILHO, N. (1998). Processos de dinâmica


superficial. Cap 9. Geologia de Engenharia. Associação Brasileira de Geologia de
Engenharia, ABGE. Editora Oficina de textos, pp. 131-152.

IWASA, O. Y.,PRANDINI, F.L. (1980). “Diagnóstico da origem e evolução de


boçorocas: condição fundamental para prevenção e correção”. In: Simpósio sobre o
Controle de Erosão, 1980, Curitiba. Anais... São Paulo: v. 2, p. 5-34

JOHNSON, R.B. & DeGraff, J.V. (1988). “Principles of Engineering Geology”. John
Wiley & Sons, New York, 497p.

119
LACASSE, S. & NADIM, F. (1994). Reability issues and future challenges in
geotechnical engineering for offshore structures. Plenum paper, Proc. 7th Int. Conf.
On the Behaviour of Offshore Structures, BOSS`94, MIT, Cambridge, USA, pp. 9-
38.
LEROUEIL, S; VAUNAT, J.; PICARELLI, L.; LOCAT, J.; LEE, H. & FAURE, R.
(1996). Geotechnical characterization of slope movements. Invited Lecture, 7th
International Symposium on Landslides, Trondheim. pp. 27-48.
LEROUEIL, S & LOCAT, J. (1998). Slope movements : geotechnical characterization,
risk assessment and mitigation. Proc. 8th Congress Int. Assoc. Engng Geology,
Vancouver, pp. 933-944, Balkema, Rotterdam.
LEROUEIL, S. (2001). Natural slopes and cuts: movement and failure mechanisms.
Geotechnique, Vol. 51, nº 3, pp. 197-243.
LEROUEIL, S. (2004). Geotechnics of slopes before failure. In IX International
Symposium on Landslides”. Rio de Janeiro, Brasil. V.2, pp. 863-884.
MELO NETO, M.V. (2005). Classificação e caracterização gepotécnica de dois
movimentos de massa no estado de Pernambuco. Dissertação de Mestrado. UFPE.
CTG. Engenharia Civil, Recife-PE.

MIKKELSEN, P. E. (1996). “Field instrumentation”. Landslides investigation and


mitigation. Cap 11. Editores – Turner, A. K. & Schuster, R.L. Special report 247,
National Academy Press, Washington, pp. 278 - 316.

MORGENSTERN, N. R. (1985). Geotechnical aspects of environmental control. In


Proc. 11th International Conference on Soil Mechanics and Fundations Engineering,
A. A. Balkema, Rotterdam, Netherlands, Vol. 1, pp. 155-185.

NASH, D. (1987). “A comparative review of limit equilibrium methods of stability


analysis”. Cap 2. Slope Stability. Edição – Anderson, M.G. & Richardas, K. S.,
John Wiley & Sons, pp 11- 76.

NICOLETTI, P. G. & SORRISO-VALVO (1991). Geomorphic controls of the shape


and mobility of rock avalanches. Bulletin of the Geological Society of America,
Vol. 103, nº 10, pp. 1365-1373.

OLIVEIRA, A . M. DOS S. (1994). “ Depósitos tecnodgênicos e assoreamto de


reservatórios São Paulo” , 211p Tese de doutorado – Departamento de Geografia
– USP.

PONTES, A.B. (1980). “Controle de erosão em áreas urbanas”. In: Simpósio sobre o
Controle de Erosão”, Curitiba. Anais... São Paulo: ABGE. Tema 3, p. 37-83.

QUEIROZ NETO & CHRISTOFOLETTI, A . (1968). “Ação do escoamento superficial


das águas pluviais na Serra de Santana – SP”. Bol. Polel. De Geogr. , 6(45), p. 59-
71.

120
SANTANA, R. G. (2006). Análise de soluções de engenharia para estabilização de
encostas ocupadas na Região Metropolitana do Recife-PE. Estudo de caso: ruptura
ocorrida em encosta com ocupação desordenada na UR-02, Ibura. Dissertação de
Mestrado, UFPE. CTG. Engenharia Civil, Recife-PE.

SANTOS E CAMAPUM (1998). “Ensaios de erodibilidade em voçorocas no Município


de Goiânia” Proc. XI Cong. Brasileiro de Mecânica dos Solos e Engenharia
Geotécnica Vol. 1, pp 581-588, Brasília.

SANTOS, L.M. (2001). Caracterização Geotécnica de um solo não saturado sob


processo erosivo. Dissertação de Mestrado, UFPE, Recife-PE, 114p.

SARMA, S.K. (1979). Stability analysis of embankments and slopes. Journal of the soil
Mechanics and Foundation Division. ASCE, vol. 105. nºGT12, pp.1511-1524.
SCHUSTER, R. L. (1996). Socioeconomic significance of landslides. Landslides
Investigation and Mitigation, Special Report. Washington, pp.12- 35.

SHERARD ET AL. (1972). “ Pipping in earth dams of dispersive clay” In SILVEIRA


et. al, 1974.

SILVEIRA et al. (1974). “Estudo da dispersão de solos argilosos através dos ensaios
químicos e de dispersão rápida”, Proc. V Congresso Brasileiro de Mecânica dos
Solos, v. 2 , pp. 157-172, São Paulo, Outubro.

SOUZA NETO, J. B. (1998), Características Geotécnicas do Solo Residual de Gnaisse


da Encosta Espinhaço da Gata, PE-89, Machados-PE. Dissertação de Mestrado.
UFPE. CTG. Engenharia Civil, Recife-PE.
TATIZANIA, C., OGURA, A. T., CERRI, L. E. S., ROCHA, M. C. M. (1987), Análise
de Correlação entre Chuvas e Escorregamentos, In: V CBGE, São Paulo, Vol. 2,
pp.225-236.

TRILLO, G. (1999). “Control de la erosión y obras de desagüe” – Manual de


Estabilización y Revegetación de Taludes. Entorno Grafico S. L., Madri.

VAN GENUCHTEN, M. T. (1980). A closed-form equation for predicting the hydraulic


conductivity of unsatured soils. Soil Sci. Soc. of Am. J., V. 44, p. 892-898.

VARNES, D. J. (1978). Slope movement types and processes. In Special Report 176:
Landslides: Analysis and Control, TRB, National Research Council, Washington, D.
C., pp. 11-33.
VARNES, D. J. & IAEG Commission on Landslides and Other Mass Movements on
Slopes (1984). Landslide Hazard Zonation – A review of the Principles and Practice.
UNESCO, Paris.

121
WP/WLI (1990). A Sugested method for reporting a landslide. Bulletin of the
International Association of Engineering Geology, Nº 41, pp. 5-12.
WP/WLI (1994). A Sugested method for describing the causes of a landslide. Bulletin
of the International Association of Engineering Geology, Nº 50, pp. 71-74.
XUE-CAI, F. & AN-NING G. (1986). Principal characteristics of eartquake landslides
in China. Geologia Applicata e Idreogeologia (Italy), Vol. 21, Nº 2, pp. 27-45.

122

Você também pode gostar