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Diagnóstico, Patologia e Reabilitação de Elementos Não Estruturais em


Construção em Alvenaria de Pedra

Technical Report · October 2004

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2 authors:

Ivette Flores Jorge de Brito


Metropolitan Autonomous University University of Lisbon
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APONTAMENTOS DA CADEIRA DE REABILITAÇÃO NÃO-
ESTRUTURAL DE EDIFÍCIOS

MESTRADO EM CONSTRUÇÃO

INSTITUTO SUPERIOR TÉCNICO

DIAGNÓSTICO, PATOLOGIA E REABILITAÇÃO DE ELEMENTOS NÃO


ESTRUTURAIS EM CONSTRUÇÃO EM ALVENARIA DE PEDRA

Inês Flores e Jorge de Brito

Outubro de 2004
Prefácio

Estes apontamentos pretendem ser um apoio aos


alunos do Curso de Mestrado em Construção do
Instituto Superior Técnico, no domínio do
diagnóstico, patologia e reabilitação de elementos
não estruturais em construção em alvenaria de
pedra.
O texto foi dividido em quatro partes, sendo a
primeira dedicada a uma introdução sobre a
alvenaria de pedra, a segunda ao diagnóstico das
anomalias não estruturais neste tipo de
construção, a terceira à descrição das mesmas e
das respectivas causas e a quarta às técnicas de
reparação não estrutural.
Os apontamentos basearam-se fundamentalmente
em três monografias elaboradas no âmbito do
Mestrado em Construção, na disciplina de
Reabilitação de Construções - Estudo de Casos,
da responsabilidade do 2º autor, “Diagnóstico de
Patologia em Alvenaria Ordinária de Pedra e
Alvenaria de Pedra à Vista” da autoria de
Fernanda Sá de Oliveira, “Reabilitação de
Construções de Alvenaria Ordinária de Pedra” da
autoria de João Ricardo Gomes e “Reabilitação de
Construções de Alvenaria de Pedra à Vista” da
autoria de Ana Cravinho.
ÍNDICE

1. Alvenaria de pedra 1
1.1. A alvenaria de pedra 4
1.2. Tipos de paredes de alvenaria de pedra / cantaria 6
1.1.1. Parede de cantaria ou enxilharia 6
1.1.2. Parede de alvenaria de pedra aparelhada 8
1.1.3. Parede de alvenaria ordinária de pedra 9
1.1.4. Parede de alvenaria de pedra seca 10
1.1.5. Parede mistas de alvenaria 11
2. Diagnóstico 13
2.1. Considerações gerais 13
2.2. Técnicas não-destrutivas 14
2.2.1. Exame macroscópico 14
2.2.1.1. Inspecção visual pormenorizada 14
2.2.1.2. Monitorização de edifícios 15
2.2.2. Análise fotográfica 17
2.2.3. Análise de imagem 17
2.2.4. Fotogrametria 18
2.2.5. Termografia e termovisão 20
2.2.6. Boroscopia 21
2.2.7. Métodos electroquímicos 21
2.2.7.1. Medição da humidade superficial em paredes 21
2.2.8. Métodos químicos 22
2.2.8.1. Identificação de sais em eflorescências e na água 22
2.2.8.2. Medição da humidade no interior das paredes 23
2.2.9. Métodos dinâmicos 23
2.2.9.1. Tomografia sónica na alvenaria 23
2.2.9.2. Ensaios ultra-sónicos 24
2.2.9.3. Medição da velocidade dos impulsos mecânicos 25
2.2.10. Avaliação da porosidade por meio do ensaio de Karsten 25
2.2.11. Detecção de elementos metálicos ocultos 26
2.3. Técnicas destrutivas 26
2.3.1. Exame binocular e ao microscópio petrográfico 26
2.3.2. Ensaios de comportamento mecânico 28
3. Anomalias e respectivas causas 29
3.1. Considerações gerais 29
3.2. Agentes agressores 30
3.2.1. Agentes agressores e mecanismos de alteração 30
3.2.1.1. Agentes agressores 30
3.2.1.2. Mecanismos de alteração 34
3.3. Anomalias de origem física / mecânica 36
3.3.1. Erosão 36
3.3.2. Fendilhação / fissuração 36
3.3.3. Desagregação 40
3.3.4. Destacamento em placas 40
3.4. Anomalias de origem química 42
3.4.1. Alteração cromática 42
3.4.2. Sujidade / depósito superficial 43
3.4.3. Empolamento / bolha 44
3.4.4. Eflorescências / criptoflorescências 45
3.4.5. Arenização / pulverização 46
3.5. Anomalias de origem biológica 46
3.5.1. Presença de vegetação 46
3.5.2. Fungos / líquenes 47
3.5.3. Patina biológica 48
3.5.4. Outros agentes biológicos 49
4. Técnicas de reparação não estrutural 50
4.1. Considerações gerais 50
4.2. Soluções para humidades ascendentes 50
4.2.1. Formação de barreiras químicas 50
4.2.2. Corte mecânico com inserção de barreiras impermeáveis 51
4.2.3. Execução de valas drenantes 52
4.2.4. Drenos atmosféricos (ou de Knapen) 52
4.2.5. Sistemas electro-osmóticos 53
4.2.6. Remoção de bolores 54
4.2.7. Remoção de cogumelos 54
4.3. Soluções para humidades de condensação 54
4.4. Soluções para infiltrações 55
4.4.1. Barreiras físico-químicas exteriores 55
4.4.2. Técnicas para evitar infiltração (precipitação) 55
4.5. Rebocos desumidificadores 56
4.6. Rebocos armados em alvenarias 56
4.7. Argamassas projectadas em alvenarias 57
4.8. Resumo das técnicas de reabilitação não estrutural 58
5. Conclusões 59
6. Referências 62
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Diagnóstico, patologia e reabilitação de elementos não estruturais em construção em alvenaria de pedra
por Inês Flores e Jorge de Brito

DIAGNÓSTICO, PATOLOGIA E REABILITAÇÃO DE ELEMENTOS NÃO


ESTRUTURAIS EM CONSTRUÇÃO EM ALVENARIA DE PEDRA

1. A PEDRA

Em Portugal e no mundo (Figs. 1 e 2), desde tempos remotos até praticamente ao primeiro
quartel do séc. XX, altura em que o betão armado se assumem como materiais estruturais, a
pedra foi sempre empregue como componente principal das estruturas, de forma isolada ou
assente em leitos de argamassa.

Fig. 1 - “Stonehenge” na planície de Salisbúria, Wiltshire, Inglaterra, período Neolítico (à


esquerda) e as pirâmides de Gizé, Egipto, da quarta dinastia do Antigo Império (à direita)

Fig. 2 - Templo de Atena Nike, Acrópole de Atenas, Grécia (à esquerda) e Coliseu de Roma,
Itália (à direita)

A escolha do tipo de pedra a utilizar varia consoante a zona do edifício em questão. Assim:

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Diagnóstico, patologia e reabilitação de elementos não estruturais em construção em alvenaria de pedra
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 nas zonas de Trás-os-Montes, Beiras e Douro Litoral, onde predomina o granito, é esta a
rocha mais utilizada na construção (Fig. 3, à esquerda);
 no Douro e nas Beiras, é o xisto;
 nas regiões de Lisboa e Alentejo, é o calcário.

As argamassas de ligação (Fig. 3, à direita) variam também em função das disponibilidades


locais, entre a terra mais ou menos argilosa, o barro e as misturas de areia e cal aérea,
dependendo da região e da forma de extracção. As composições destas argamassas são
também ainda pouco conhecidas, dada a quase inexistente informação a seu respeito. No
entanto, pode-se salientar a importância da cal aérea, assim designada por só endurecer em
contacto com o ar.

Fig. 3 - Exemplo de pedreira no Norte do País (à esquerda) e preparação da argamassa de


assentamento (à direita)

Normalmente, a cal utilizada na construção (Fig. 4) é combinada com o cimento, para se


conseguir uma maior resistência da argamassa e para acelerar o tempo de presa. É por isso que
as alvenarias antigas apresentam normalmente argamassas bastardas como as de melhor
qualidade, porque estas juntam as características naturais da cal (maior plasticidade, menor
porosidade e o facto de permitir a respiração da alvenaria) e as vantagens do cimento (maior
resistência e menor tempo de presa).

Em alguns casos, pode-se encontrar o uso de cal hidratada com óleo. Este tipo de cal substitui
com vantagens qualquer tipo de argamassa bastarda, oferecendo grande plasticidade,
resistência e durabilidade, bem como ausência de fissuras durante e posteriormente à presa da

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Diagnóstico, patologia e reabilitação de elementos não estruturais em construção em alvenaria de pedra
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argamassa, deixa respirar a construção e é hidrófugo, protegendo a parede da humidade


exterior e da formação de sais na alvenaria.

Fig. 4 [14] - Duas fases (enchimento do forno e cozedura do calcário) da execução de cal

No domínio da construção, a pedra pode ser utilizada em alvenarias (Fig. 5, à direita),


cantarias (Fig. 5, à esquerda) ou coberturas interiores (abóbadas) e exteriores (terraços e
telhados). Assim, deverá apresentar as seguintes características:

Fig. 5 - Pedreiro talhando pedras de cantaria, Castro d’Aire (à esquerda) [45] e aplicação de
argamassa como ligante entre as pedras na execução de uma parede de alvenaria ordinária de
pedra (à direita)

 resistência mecânica à compressão, a qual é exercida sobretudo pelas cargas gravíticas,


como seja o peso próprio das paredes;
 resistência mecânica a acções externas à construção - sismos;
 resistência ao desgaste, sobretudo associada à acção dos agentes climatéricos e
atmosféricos - vento, chuva, gelo, poluição;
 resistência à acção do fogo;

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Diagnóstico, patologia e reabilitação de elementos não estruturais em construção em alvenaria de pedra
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 trabalhabilidade;
 compatibilidade com a função que deve exercer;
 compatibilidade com o material que lhe vai estar adjacente - argamassa.

1.1. A alvenaria de pedra

Em termos gerais, um edifício de “alvenaria de pedra tradicional” é constituído por fundações,


paredes, pavimentos, escadas e cobertura como principais elementos estruturais. Entre os
elementos referidos, constata-se todavia que, por se constituírem como principais elementos
estruturais dos edifícios e por estarem em contacto directo com todos os agentes climatéricos,
as paredes exteriores estão sujeitas a um grande número de situações que as podem degradar
ao ponto de provocarem a ruína do edifício.

Define-se alvenaria como o conjunto de elementos de pequena dimensão (pedras, tijolos ou


blocos) sobrepostos e arrumados, ligados ou não por argamassa, formando paredes (Fig. 6),
pontes (Fig. 9), fundações (Fig. 8) ou muros (Fig. 7). Quando esse conjunto sustenta a
construção, denomina-se por alvenaria estrutural.

Fig. 6 - Parede de alvenaria

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Fig. 7 - Muro de pedra

Fig. 8 [3] - Fundação em pedra

Fig. 9 - Ponte em pedra

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1.2. Tipo de paredes de alvenaria de pedra / cantaria

As paredes de pedra / cantaria dividem-se em três grandes grupos de acordo com a Fig. 10.

Fig. 10 - Quadro resumo dos tipos de paredes de pedra / cantaria

1.1.1. Parede de cantaria ou enxilharia

Este tipo de parede é formada por pedras aparelhadas, designadas por enxilhares (ou silhares),
com forma de prismas rectangulares de dimensões variadas, e aparelho pouco cuidado
(enxilharia). Quando apresentar uma maior regularidade de dimensões e, por conseguinte, na
altura das fiadas, designa-se por cantaria.

As paredes de cantaria tinham uma utilização restrita, devido ao preço da pedra e do


respectivo aparelho fora das zonas onde abundava. Na maioria dos casos, a sua utilização
estava associada a construções monumentais (Fig. 11) - palácios, igrejas, monumentos,
reservando-se para os outros edifícios apenas o guarnecimento dos vãos ou o forro dos socos,
embasamentos ou, em alguns casos, toda a fachada.

As paredes de cantaria são a alvenaria de pedra aparelhada mais nobre. Este tipo de parede
pode ser ou não argamassada (Figs. 12 e 13).

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Diagnóstico, patologia e reabilitação de elementos não estruturais em construção em alvenaria de pedra
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Fig. 11 - Cadeia da Relação, Porto (à esquerda) [14] e Mosteiro de Santa Maria do Bouro (à
direita)

Fig. 12 - Exemplos de paredes de cantaria não argamassadas

Fig. 13 - Exemplos de paredes de cantaria não argamassadas

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1.1.2. Parede de alvenaria de pedra aparelhada

Este tipo de parede é formado por pedras com uma face aparelhada (a face à vista). Existem
vários tipos de aparelhos:

 aparelho rústico;
 aparelho regular.

O aparelho rústico ou aparelho poligonal era constituído por pedras irregulares de dimensões
variáveis, sobrepondo-se pelas suas faces semelhantes, mas sem formar leitos ou fiadas
horizontais (Fig. 14).

Fig. 14 [3] - Exemplos de paredes de alvenaria de pedra aparelhada - aparelho rústico

O aparelho regular consistia em talhar as pedras na forma paralelepipédica, de dimensões


fixas, sendo estas dispostas em camadas ligadas entre si por argamassa ou simplesmente
depositadas umas sobre as outras (Fig. 15). Este tipo de aparelho permitia a formação de
fiadas de igual altura, com a correspondência das juntas verticais em fiadas alternadas. Este
aparelho tinha algumas variantes, entre as quais se destacam: alternância de uma fiada de
perpianhos com uma das placas; alternância de perpianhos um a um, ou um perpianho para

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cada duas ou três placas.

Fig. 15 [3] - Exemplos de paredes de alvenaria de pedra aparelhada - aparelho regular

Fig. 16 - Exemplos de paredes de alvenaria ordinária de pedra

1.1.3. Parede de alvenaria ordinária de pedra

São paredes constituídas por pedras toscas, angulosas ou roladas, de forma e dimensões
irregulares, assentes pela face que se apresentar mais regularizada, ligadas entre si por uma
argamassa ordinária de cal hidráulica e areia (Figs. 16). Esta é a solução construtiva mais

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predominante no nosso País, até meados do séc. XX (Fig. 17).

1.1.4. Parede de alvenaria de pedra seca

São paredes também constituídas por pedras toscas, angulosas ou roladas, de forma e
dimensões irregulares, assentes pela face que se apresentar mais regularizada, mas, ao
contrário da alvenaria ordinária, esta não é argamassada (Fig. 18)

Fig. 17 [45] - Conjunto de edifícios situados em Lamas de Oco, Mondim de Basto (à


esquerda) e habitação unifamiliar em Venade, Caminha (à direita)

Fig. 18 [3] - Exemplos de paredes de alvenaria de pedra seca

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Pode-se encontrar este tipo de alvenaria em algumas zonas do Minho, Douro, Trás-os-Montes
e Alentejo. É utilizada principalmente na construção de paredes das habitações que se
situavam em zonas rurais, como limite de terrenos e em enrocamentos (Fig. 19). O granito e o
xisto são as pedras escolhidas para esta alvenaria. A técnica de construção destas paredes
dispensa o uso de argamassa na ligação das pedras entre si, tendo-se desenvolvido
principalmente nas zonas onde a cal era escassa.

Fig. 19 [45] - Conjunto de edifícios em Mases, Lazarim (à esquerda) e Rua dos Quartéis em
Castelo Bom, Beira Alta (à direita)

1.1.5. Parede mistas de alvenaria

São paredes que conjugam vários tipos de constituintes, tais como:

 paredes de alvenaria de pedra e cantaria (Fig. 21);


 paredes de alvenaria de pedra e armação de madeira (Fig. 20, à esquerda);
 paredes de alvenaria de pedra e tijolo (Fig. 20, à direita).

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Fig. 20 - Exemplos de paredes mistas de alvenaria de pedra e armação de madeira (à esquerda)


e pedra e tijolo (à direita)

Fig. 21 - Exemplos de paredes mistas de alvenaria de pedra e cantaria

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2. DIAGNÓSTICO

2.1. Introdução

Neste capítulo, faz-se referência ao estado do conhecimento actual das técnicas de inspecção e
ensaio de anomalias em alvenaria de pedra ordinária (Fig. 22), considerando também algumas
técnicas aplicáveis a elementos metálicos, por estes poderem fazer parte das alvenarias, sob a
forma de gatos ou chumbadores.

Fig. 22 - Equipamento portátil de apoio à inspecção e diagnóstico de alvenaria de pedra

Alguns destes métodos são de aplicação simples e imediata (por exemplo, a inspecção visual
macroscópica). Outros exigem o emprego de equipamento sofisticado que obriga à colabora-
ção de equipas de especialistas (por exemplo, a termografia, a boroscopia ou a fotogrametria).

Para isso, tem de se conhecer as suas capacidades para poder solicitar o seu emprego e poder
interpretar os seus dados. Os métodos instrumentais de análise de elementos não estruturais
em alvenaria de pedra podem organizar-se em duas categorias (Quadro 1): os não destrutivos,
em que se podem observar e analisar os objectos sem que seja necessário destruí-los; os
destrutivos, que exigem que a amostra recolhida sofra manipulação adequada (moagem,
dissolução, etc.) de modo a permitir a aplicação das técnicas de análise.

A descrição exaustiva destas técnicas baseia-se na obra de Aires-Barros [1].

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Quadro 1 - Classificação das técnicas de inspecção e ensaio das anomalias


Técnicas não destrutivas Técnicas destrutivas
• Exame macroscópico • Exame binocular e ao microscópio petrográfico
• Análise fotográfica • Ensaios de comportamento mecânico
• Análise de imagem
• Fotogrametria
• Termografia e termovisão
• Boroscopia
• Métodos electroquímicos
• Métodos químicos
• Determinações ultra-sónicas
• Ensaio de Karsten
• Detecção de elementos metálicos ocultos

2.2. Técnicas não-destrutivas

2.2.1. Exame macroscópico

2.2.1.1. Inspecção visual pormenorizada

A inspecção visual pormenorizada e sistemática é o primeiro, o mais simples e o mais


fundamental meio de avaliação das anomalias. Neste exame, deve recorrer-se ao auxílio de
lupas e por vezes de binóculos (Fig. 23), de modo a obter imagens pormenorizadas mesmo em
zonas de difícil acesso.

Fig. 23 - Lupa e binóculos - acessórios importantes na análise macroscópica

O exame macroscópico é normalmente acompanhado pela tomada de apontamentos


(patologias diagnosticadas, caracterização dos tipos litológicos usados na construção, etc.) e
pela elaboração de esquemas e de desenhos onde, inclusivamente, deverão ser referenciados

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os locais de colheita de amostras (quando possível) para futuros estudos laboratoriais. A


inspecção visual cuidada será a base de exames futuros e deverá ser repetida sempre que se
julgue necessário de modo a obviar perda de tempo em pesquisas elaboradas mas sem base na
realidade. Nas visitas de estudo para exame visual de um monumento, é comum serem feitas
fotografias dos aspectos mais relevantes encontrados.

2.2.1.2. Monitorização de edifícios

Este tipo de intervenção integra um conjunto de actividades que, para além de


aparelhagem fotográfica e videográfica e do equipamento topográfico clássico, envolvem
a instalação em obras de instrumentos de observação de diverso tipo, como fissurómetros,
para controlo de aberturas de fendas. Uma intervenção deste tipo desenvolve-se,
geralmente, ao longo de duas linhas de acção: a caracterização prévia do estado de
conservação dos edifícios envolvidos e a monitorização do comportamento dos edifícios
circundantes, durante e após as obras. Este tipo de monitorização permite acautelar
situações potencialmente perigosas.

Medição de deslocamentos em juntas e fissuras com o alongâmetro

As construções apresentam, com frequência, fissuras ou fendas, resultantes de deformações


ocasionadas por variadas causas. Independentemente de estas fissuras ou fendas serem ou não
manifestações do comportamento estrutural, há interesse em acompanhar a variação da sua
abertura ao longo do tempo, em diversos pontos do seu desenvolvimento.

Como equipamento, tem-se um alongâmetro mecânico de milésimos, utilizado para medir, com
precisão, pequenos deslocamentos em juntas e fissuras. Usa-se também uma barra padrão,
cuja finalidade é corrigir os valores lidos da influência tanto de variações de temperatura no
aparelho, como de esforços a que este possa ser submetido durante a sua utilização.

A análise das leituras ao longo do tempo permite ter uma ideia da tendência do movimento
para um agravamento, para uma estabilização, para uma recuperação ou para uma variação
cíclica. Permitirá eventualmente estabelecer relações causa-efeito com acções ou ocorrências a

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que a construção esteja sujeita.

Medição de variação de abertura de fissuras e fendas

Existem aparelhos que permitem medir a variação de fissuras e fendas, utilizando meios
mecânicos e eléctricos. Correntemente, porém, são colocados sobre as fissuras “testemu-
nhos” constituídos por calços de gesso, tiras de vidro ou de papel, que apenas permitem
detectar, grosseiramente, eventuais acréscimos da abertura ou deslizamento da fissura,
sem permitirem contudo, quantificar a sua evolução.

O fissurómetro (Fig. 24) é um pequeno instrumento destinado a medir, de forma expedita


e económica, os movimentos relativos que se verificam num ponto de uma fissura
existente numa construção.

Fig. 24 - A monitorização de fissuras é essencial numa fase de análise e diagnóstico

Pode-se ainda utilizar o comparador de fissuras e o medidor óptico de fissuras (Fig. 24),
que permitem quantificar, respectivamente, com menor ou maior rigor a abertura das
fissuras, podendo ser utilizados para complementar os dados recolhidos pelo fissuróme-
tro, que apenas permite medir a variação da abertura. A análise das leituras ao longo do
tempo permite recolher o mesmo tipo de informação obtido com o alongâmetro (Fig. 25).

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Fig. 25 - Alongâmetro mecânico para medição de deslocamentos em juntas e fissuras

2.2.2. Análise fotográfica

As fotografias tradicionais (Fig. 26) são tiradas com luz branca, visível. Deve-se fazer
fotografias de aspectos de conjunto, bem como dos pormenores mais relevantes, como as
anomalias da alvenaria, o registo de restauros efectuados no decorrer do tempo, etc..

Fig. 26 - A fotografia como instrumento de diagnóstico

A elaboração de um catálogo fotográfico (e sempre que adequado, gráfico) com todos os


aspectos relevantes do estado de conservação do elemento em estudo é imprescindível. A
existência deste registo está na base do lançamento do programa de análises laboratoriais a
desenvolver posteriormente.

2.2.3. Análise de imagem

Designa-se por “análise de imagem” o conjunto de todas as técnicas, quer macroscópicas quer
microscópicas, que permitem, a partir da recolha da imagem, quer por fotografia como por
filmagem, tratar essas imagens matematicamente, de modo permitir a quantificação dos
aspectos observáveis nessa documentação gráfica. Com efeito, a análise de imagem baseia-se

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em conceitos matemáticos que permitem a descrição quantitativa de imagens obtidas.

De um modo geral, a análise de imagem procura responder a dois grandes problemas:

1) O reconhecimento das formas baseando-se na sua identificação e comparando-as com


imagens-tipo;
2) A análise quantitativa usando parâmetros morfológicos (análise morfológica de estru-
turas), que permite o estabelecimento de relações entre os parâmetros morfológicos e
outros parâmetros representando, por exemplo, características geométricas.

A utilização da análise e tratamento digital de imagens no domínio da conservação e restauro


dos monumentos é apropriada para estudar desde as etapas do diagnóstico das anomalias que
afectam os monumentos até ao acompanhamento in situ dos tratamentos e operações de
limpeza realizados.

A principal vantagem desta técnica é ser não destrutiva, e permitir uma elevada rentabilidade
em termos de tempo gasto nas operações de exames e análise. É ainda uma técnica com
elevado grau de fiabilidade.

A informação contida num sinal pode ser transmitida de forma contínua ou discreta. Os sinais
contínuos ou analógicos podem ser interpretados como ondas ou vibrações e a sua descrição
matemática faz-se com base na análise de Fourier. Para que uma imagem possa ser
processada por um computador, tem de ser digitalizada ou seja expressa por uma série de
números. A digitalização das coordenadas espaciais de uma imagem faz-se por meio de uma
amostragem da imagem em que a grandeza da digitalização é definida pela quantificação do
nível do cinzento.

2.2.4. Fotogrametria

A fotogrametria (Fig. 27) permite obter uma representação gráfica e numérica fiel dos obje-
ctos fotografados, independente de qualquer hipótese preliminar sobre as formas geométricas
dos elementos que compõem e sobre a representação espacial destes. Esta técnica baseia-se na
reconstituição de uma visão binocular de um objecto, observado de duas posições diferentes.

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Fig. 27 - Equipamento de fotogrametria

Esta representação é muito útil para a figuração de porções (fachadas, pilares, etc.) de
monumentos (Fig. 28) onde se pretende fazer o rastreio dos tipos litológicos presentes e/ou
das anomalias que os elementos exibem. Permite a “leitura” das fachadas, das colunas, das
abóbadas em termos da sua descrição pormenorizada, com representação gráfica adequada
que dá o tipo e a intensidade do fenómeno observado. É um precioso auxiliar da visão
macroscópica e do registo fotográfico.

Fig. 28 - Análise de fachadas de monumentos

Acresce que os levantamentos fotogramétricos feitos em intervalos de tempo escolhidos (men-


sais ou anuais) possibilitam evidenciar modificações estruturais (deslocamentos) ou o desen-
volvimento de fenómenos de alteração que se observam em grandes edifícios sob a acção de
causas naturais como assentamentos do solo, movimentos dos terrenos de fundação, etc..

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2.2.5. Termografia e termovisão

A temperatura de um objecto pode ser obtida função da energia radiante que ele emite e que é
proporcional à temperatura a que se encontra. É particularmente interessante a utilização de
radiações infravermelhas de origem térmica emitidas pela superfície do objecto (parede,
coluna. etc.) que se quer estudar (Fig. 29).

Fig. 29 - Câmara e imagem de termografia

Podem usar-se termómetros portáteis de infravermelho que permitem efectuar medições de


temperatura à distância. É possível fazer a inspecção visual do objecto (uma coluna, ou painel
ou parede) e ir medindo a temperatura das zonas que se apresentem com aspectos diferentes.

É necessário ter em atenção que não se obtêm medições correctas em objectos colocados atrás
de vidros pois estes não transmitem a radiação infravermelha. Devem ter-se cuidados
especiais com medições feitas em objectos expostos à radiação solar directa. Os valores
obtidos pecam por excesso, já que são a soma das radiações infravermelhas reflectidas e
emitidas pelo objecto em observação.

A termovisão é uma técnica de grande interesse já que, com base nas radiações infravermelhas
de origem térmica emitidas por uma superfície, usa uma câmara especial sensível àquelas
radiações e com resposta nos comprimentos de onda de 5 a 6 μm. A câmara pode explorar
superfícies horizontais ou verticais de monumentos e o sinal de saída do captador é tratado de
modo adequado por computador de modo a formar uma imagem do objecto em um monitor a
cores. Existe uma escala cromática a que corresponde a escala de temperaturas.

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Esta técnica possibilita revelar zonas mais húmidas do que outras, zonas de destacamentos
diversos, descontinuidades da superfície e modificações que houve em fachadas e paredes
(antigas portas, janelas, etc.).

2.2.6. Boroscopia

A observação boroscópica de cavidades e fendas é uma técnica baseada na utilização de


um instrumento óptico, o boroscópio (Fig. 30), e constitui uma forma reduzidamente
intrusiva de efectuar observações no interior de cavidades e fendas de pequenas
dimensões existentes em materiais ou elementos.

Fig. 30 - Óptica de haste boroscópica, fonte de iluminação e imagem boroscópica

O boroscópio consiste numa haste delgada dotada, numa das extremidades, de uma ocular
e, na outra, de uma objectiva e um prisma. A fim de permitir a iluminação da cavidade a
observar, um segundo sistema óptico é montado no interior da mesma haste e conduz um
feixe luminoso intenso que é dirigido para o campo observado.

2.2.7. Métodos electroquímicos

2.2.7.1. Medição da humidade superficial em paredes

A resistência eléctrica ou a capacidade de um meio poroso como a alvenaria de pedra variam


com a quantidade de água presente nos poros, sendo possível, para um dado material,
estabelecer uma correlação entre as duas grandezas. Repetindo as observações ao longo de um

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determinado período, é possível acompanhar a evolução da distribuição da humidade na


parede, avaliando, por exemplo, o efeito de medidas correctivas introduzidas.

As determinações são feitas electronicamente, utilizando um aparelho portátil, dotado de dois


eléctrodos pontiagudos, que se vão posicionando sucessivamente sobre a superfície da parede
ao longo de uma malha de referência, previamente marcada (Fig. 31).

Fig. 31 - Medição da humidade superficial em paredes

2.2.8. Métodos químicos

2.2.8.1. Identificação de sais em eflorescências e na água em contacto com construções

Esta identificação é feita através de ensaios in situ de caracterização rápida da água em


contacto com as construções, do ponto de vista da presença de sais potencialmente nocivos
para essas construções, e de identificação das eflorescências salinas por vezes presentes nessas
mesmas construções (Fig. 32, à esquerda).

Pode fazer-se uma análise tirimétrica, em que se usa uma solução titulante específica que é
adicionada progressivamente até a um ponto de viragem, detectado geralmente por mudança
de cor ou de condutividade. Outro tipo de análise a fazer é a colorimétrica, onde é usado um
excesso de reagente específico, que é adicionado, formando-se um produto corado e sendo a
intensidade da cor proporcional à concentração da espécie a analisar.

Como equipamento, são utilizados um laboratório compacto e um espectro-fotómetro

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portáteis (Fig. 32, à direita). O espectro-fotómetro dispõe de um microprocessador que


permite apresentar as concentrações determinadas num mostrador electrónico.

Fig. 32 - Kit de ensaio, para identificação de sais em eflorescências (à esquerda) e espectro-


fotómetro portátil (à direita)

2.2.8.2. Medição da humidade no interior das paredes

Para este tipo de medição, dever-se-á recolher amostras da estrutura em estudo e colocá-las num
depósito metálico (Fig. 33) com uma tampa dotada de um sistema de aperto capaz de garantir
uma vedação hermética, onde se dá a reacção entre a humidade presente na amostra e o
carboneto de cálcio. Devido à vedação hermética do depósito, a produção de gás (originado na
reacção química) traduz-se num aumento de pressão, que é medido por meio de um manómetro.

Fig. 33 - Kit de ensaio, para medição da humidade no interior de paredes

2.2.9. Métodos dinâmicos

2.2.9.1. Tomografia sónica na alvenaria

A tomografia sónica (Fig. 34) permite a obtenção de um mapa detalhado da distribuição da

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velocidade de propagação do som numa secção plana da estrutura em estudo, com o objectivo
de identificar heterogeneidades e áreas de deficiente resistência. O equipamento é constituído
por um gerador da onda de tensão, um martelo ou um impactor calibrado, um acelerómetro
receptor e um dispositivo para registar o impulso inicial e a onda recebida.

Fig. 34 - Tomografia sónica na alvenaria

2.2.9.2. Ensaios ultra-sónicos

O uso dos ultra-sons (Fig. 35) na avaliação de descontinuidades e defeitos nos materiais
pétreos (e outros) é de aplicação corrente. Os ultra-sons têm a propriedade de percorrer um
dado objecto a uma velocidade de alguns milhares de metros por segundo (consoante os
materiais) e de serem reflectidos quando encontram materiais com densidades diferentes como
é o caso de uma descontinuidade do meio (fractura, poro, etc.) ou quando encontram a
superfície que limita o objecto em estudo. O tempo de atraso e a intensidade da onda
reflectida dão indicações sobre a posição e a natureza do defeito encontrado.

Em geral, os sistemas de teste ultra-sónicos consistem num gerador de impulsos eléctricos à


base de materiais piezoeléctricos (em geral, cerâmicas de titanato de bário - BaTiO3, de
zirconato de chumbo, etc.). Este sistema é capaz de emitir, por cada impulso eléctrico, um
impulso ultra-sónico. A sonda é composta de duas partes que funcionam por meio de fontes
emissoras e receptores. O sinal de retomo (eco) é transformado em impulsos eléctricos que
são registados e visualizados num osciloscópio.

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Fig. 35 - Aplicação dos ultra-sons (à esquerda) e equipamento de ultra-sons portátil (à direita)

Há instrumentos portáteis que permitem o estudo não destrutivo de defeitos e texturas de


materiais heterogéneos e porosos (rochas, betões, argamassas, etc.). Estes sistemas ultra-
sónicos permitem não só calcular a velocidade do som com base no tempo de trânsito e,
consequentemente, avaliar a homogeneidade do material em estudo, como ainda calcular o
módulo de elasticidade do material testado.

2.2.9.3. Medição da velocidade dos impulsos mecânicos na alvenaria

O ensaio permite determinar a velocidade de propagação de impulsos mecânicos de baixa


frequência na alvenaria. Os impulsos são induzidos percutindo a alvenaria com um martelo
instrumentado. O objectivo deste tipo de ensaio é detectar defeitos ou vazios em elementos de
alvenaria ou avaliar a sua uniformidade.

O equipamento é constituído por um gerador de ondas de tensão (martelo ou impactor


calibrado), um acelerómetro receptor e um dispositivo de registo, para registar o impulso ini-
cial e a onda recebida. Consegue-se um impulso mais consistente batendo numa placa de aço
previamente colada no ponto de impacto. O modo mais simples de utilizar este tipo de ensaio
consiste em medir os tempos de percurso e calcular uma velocidade média, por impulso.

2.2.10. Avaliação da porosidade por meio do ensaio de Karsten

Trata-se de uma técnica de ensaio muito simples e expedita destinada a avaliar a

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porosidade superficial de uma alvenaria ou de um revestimento. Como equipamento,


utiliza-se apenas um tubo de plástico, designado por tubo de Karsten (Fig. 36).

Fig. 36 - Tubo de Karsten

A superfície do bordo do tubo que irá ficar em contacto com a parede é coberta com
mastique e pressionada contra a superfície. Após o endurecimento do mastique, o tubo é
cheio com água até ao seu nível máximo, sendo o abaixamento do mesmo medido aos 5,
10 e 15 minutos.

2.2.11. Detecção de elementos metálicos ocultos

Existem detectores de metais (Fig. 37) que permitem identificar a localização / existência de
elementos metálicos dentro da alvenaria (por exemplo, esticadores) que têm, no entanto, o
inconveniente de também detectarem outros elementos metálicos não pretendidos.

2.3. Técnicas destrutivas

2.3.1. Exame binocular e ao microscópio petrográfico

O recurso aos exames à lupa binocular e ao microscópio polarizante é fundamental quando se


pretende estudar não só as rochas e seus produtos de alteração, mas ainda os produtos das
eflorescências e de preenchimento de fissuras ou os diversos tipos de crostas que se geram nos
mais variados locais dos monumentos.

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Fig. 37 - Detecção de metais em alvenaria de pedra

O exame à lupa binocular

Com este exame, procura-se observar o material em condições de ampliação que podem ir de
duas a 20 vezes, na generalidade dos casos. Normalmente, este tipo de observação permite es-
tudar a textura e mesmo diagnosticar alguns produtos, mas principalmente permite separar e
escolher adequadamente material para exames mais elaborados (difracção dos raios X, infra-
vermelhos, etc.). O material, normalmente branco, facilmente solúvel na água, que é colhido
em crostas e eflorescências, é estudado previamente neste exame, já que não permite a
elaboração de lâminas delgadas e/ou superfícies polidas para exame no microscópio
polarizante (Fig. 38). Igualmente, são estudados à lupa binocular inúmeros fungos e líquenes,
fazendo-se assim uma análise prévia a que se seguirá, ou não, o exame mais pormenorizado
ao microscópio.

Fig. 38 - Exame com microscópio polarizante

O microscópio polarizante permite que lhe sejam associados aparelhos fotográficos e sistemas
diversos de análise de imagem. A acrescentar ao já referido, o microscópio óptico, quer

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biológico quer polarizante, permite o estudo de espécies vegetais infestantes e produtos


derivados (oxalatos, sulfatos, etc.).

2.3.2. Ensaios de comportamento mecânico

Estes ensaios visam contabilizar através de avaliações a amplitude dos danos. Podem efectuar-
se os seguintes ensaios, em laboratório ou in situ:

 ensaio de dureza superficial (Fig. 39);


 determinação de espessura;
 peso dos materiais;
 humidade dos materiais.

Fig. 39 - Medição da dureza superficial com esclerómetro de pêndulo

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3. ANOMALIAS NÃO ESTRUTURAIS E RESPECTIVAS CAUSAS

3.1. Considerações gerais

Quase sempre as anomalias decorrem da conjugação de vários factores adversos, conjugação


essa que pode dar-se simultaneamente no tempo, ou surgir na sequência da acumulação de
efeitos, provocando ou acentuando o processo de degradação. Para o tratamento destas
anomalias, é necessário proceder-se a um diagnóstico correcto. Os agentes climatéricos e
atmosféricos desenvolvem uma acção transformadora sobre todos os materiais que a eles estão
expostos, sendo por isso os principais “inimigos” da conservação arquitectónica.

Os fenómenos de alteração das alvenarias de pedra utilizadas na construção resultam de uma


conjugação de factores, a que se dá tecnicamente o nome de “stress-corrosion”, significando a
sobreposição de acções químicas de corrosão que se efectuam sobre os danos, causados pela
tensão mecânica gerada por factores externos, como um sismo e por factores internos, como a
presença de sais. É por isso importante a determinação dos factores que podem determinar a
alteração das alvenarias de pedra utilizadas na construção, como os factores climáticos, os
factores químicos e os factores microbiológicos (ex.: ataque de fungos).

Na origem das anomalias, podem estar erros humanos, provocados ao longo das várias fases
por que passa uma construção, e, de um modo que merece especial destaque, durante o seu
período de utilização, pela ausência, insuficiência ou inadequação da manutenção. A falta de
manutenção associada à avançada idade dos edifícios agrava a generalidade das situações
anómalas, contribuindo de forma decisiva para o estado de degradação dos materiais e, muitas
vezes, para o próprio colapso do edifício. Pode manifestar-se sob várias formas:

 escorrência de águas;
 materiais destacados dos paramentos;
 zonas em que as alvenarias se encontram à vista (degradação dos revestimentos e/ou
acabamentos do exterior);
 fendilhação dispersa nos paramentos;
 degradação dos caixilhos dos vãos exteriores;

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 corrosão das guardas metálicas.

As principais anomalias não estruturais que se podem encontrar nas paredes em alvenaria
ordinária de pedra podem incluir-se nos seguintes grupos:

 anomalias da argamassa de assentamento;


 anomalias do revestimento e acabamento;
 anomalias de execução.

De forma a simplificar a classificação das anomalias, o critério utilizado foi a aproximação


segundo a origem do seu elemento agressor principal. Desta forma, pretende agrupar-se as
diversas anomalias não estruturais pela origem comum, tendo em consideração a necessidade
de inter-relacionar as diversas origens (Quadro 2).

Quadro 2 - Classificação das anomalias não estruturais em alvenaria ordinária de pedra


Anomalias de origem física / mecânica Anomalias de origem química Anomalias de origem biológica
• Erosão • Alteração cromática • Presença de vegetação
• Fendilhação / fissuração • Sujidade • Fungos / líquenes
• Desagregação • Empolamento / bolha • Pátina biológica
• Destacamento em placas • Eflorescências / criptoflorescências • Outros agentes biológicos
• Arenização / pulverização

3.2. Agentes agressores

3.2.1. Agentes agressores e mecanismos de alteração

As agressões raramente são originadas por um elemento único nem por um mecanismo de
alteração único. No entanto, para melhor sistematizar, optou-se por fazer uma clara separação
dos diversos tipos de agentes agressores e de mecanismos de alteração a que dão lugar.

3.2.1.1. Agentes agressores

Agentes químicos dos materiais ou do solo

Alguns agentes químicos capazes de deteriorar as alvenarias de pedra estarão na sua própria

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composição, nos materiais com as quais contactam - nas alvenarias de base, nas argamassas de
assentamento, nos materiais empregues nas suas ligações, etc. - no solo, em casos particulares
de exposição em atmosfera salina, ou na composição de produtos utilizados na limpeza ou
conservação das construções.

São normalmente sais solúveis - nomeadamente sulfatos, cloretos, nitratos, e com menos
frequência carbonatos - arrastados pela água que cristalizam quando esta se evapora
constituindo as eflorescências (quando a cristalização se dá junto à superfície) ou
criptoflorescências quando se dá no interior da pedra.

A água

Além da acção que pode exercer por si mesma, é indispensável, para que a água exerça a sua
acção destrutiva, a presença de gases e de sais solúveis, pois participa na maior parte das
reacções químicas que se dão nos materiais. Pode haver absorção de água, formando-se uma
película intergranular (sobretudo em argilas, micas, cloratos, etc.) que só se conseguirá
eliminar por intercâmbio molecular.

A água retida por acção capilar só poderá ser eliminada se forem aplicadas forças superiores
às da acção de sucção produzida pela capilaridade. A quantidade de água retida por
capilaridade dá uma informação valiosa acerca do tamanho dos poros. Também pode haver
água em circulação livre pelos micro-canais de maior diâmetro. Esta água é fácil de eliminar.

Em termos de origem, a água no material pode classificar-se como (Fig. 40):

 própria - quando está contida na rocha no momento da sua extracção ou no


revestimento na sua execução;
 de condensação - quando é consequência do depósito sobre a superfície da pedra
do vapor de água do ar;
 capilar - quando é originada pelo terreno, com algum conteúdo de sais solúveis,
e introduzida no material por efeito de sucção;
 da chuva - entre as suas características principais está o facto de conter iões

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existentes na atmosfera, estando o seu pH compreendido entre 4 e 7 em zonas de


ar não contaminado, apesar de se verificar sempre a presença de CO2
(independentemente da contaminação ou não da atmosfera envolvente).

Fig. 40 - Diferentes origens da água na construção

A origem dos gases que exercem uma acção agressiva contra os materiais encontra-se
basicamente no ar contaminado por efeitos das combustões nocivas dos automóveis,
indústrias, centrais térmicas, etc., e, de uma forma menos importante, na acção biológica de
certos fungos e bactérias. Os gases agressivos existentes numa atmosfera contaminada são
basicamente o CO2 e o SO2. Não obstante, numa atmosfera limpa também existe algum
conteúdo de CO2, ainda que consideravelmente inferior ao existente no ar contaminado.

Mais importante, pela sua maior agressividade e volume, é a acção do SO2. As agressões
causadas aos materiais pelo efeito do SO2 têm lugar a partir da interacção entre SO4H2 e os
constituintes, sobretudo em revestimentos com componentes calcários que se transformam em

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gesso, com um aumento de volume de 32%.

A produção de ácidos como consequência da acção de fungos e de bactérias, ainda que de pe-
quena influência em termos quantitativos, deve-se basicamente ao ácido cítrico e oxálico dos
fungos, e às oxidações do N2 do ar por certas bactérias que, com a inclusão da água da chuva,
se transformam em nitratos, além de outras oxidações, como a dos sulfuretos em sulfatos.

Os sais solúveis

O efeito dos sais solúveis é mais frequente e extenso. Geralmente, são sulfatos e cloretos de
sódio, de potássio, de cálcio e de magnésio, nitratos de sódio, de potássio e de cálcio e
carbonatos de sódio e potássio. Põem-se em movimento através da água, acumulando-se e
cristalizando nas zonas de evaporação. Os movimentos de água no estado líquido e as
alterações de humidade fazem com que os sais cristalizem, se hidratem e se dissolvam,
repetindo-se cada ciclo até à destruição do material.

A sua origem pode estar nos materiais originais ou de restauro, os quais podem contê-los ou
produzi-los por alteração. Pode estar igualmente no ar, como consequência da contaminação
ou do transporte desde as zonas marítimas. Pode também encontrar-se no solo como
consequência de transformações de resíduos orgânicos, introduzidos no material por
capilaridade. Finalmente, pode ser consequência do emprego de produtos de limpeza,
conservação e consolidação inadequados.

Os cloretos são muito higroscópicos e, quando se produzem condensações, são os primeiros


sais que se dissolvem, tornando-se muito activos. Por analogia, actuam os nitratos e os sais de
ácidos orgânicos. Os sulfatos depositam-se nos poros a partir de soluções sobre-saturadas em
forma de hidratos.

A poluição

A expansão dos centros urbanos, o seu trânsito cada vez mais intenso e as indústrias cada vez
mais numerosas e mais potentes têm contribuído para um vertiginoso acréscimo da poluição

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atmosférica com consequências desastrosas para a alvenaria de pedra.

O grau de deterioração sofrido pela alvenaria de pedra está relacionado não só com a
composição qualitativa e quantitativa dos agentes de poluição como com as características dos
próprios materiais. Assim, a sua composição química (substâncias reactivas) e mineralógica
(minerais susceptíveis de meteoriação, ligação entre partículas) e as suas propriedades físicas
(porosidade, superfície específica, porometria) são parâmetros de que depende a sua
susceptibilidade aos agentes agressivos. Compreende-se, portanto, que o ataque e destruição
da alvenaria de pedra resultem de uma interligação complexa de factores, de difícil análise.

Como se disse, os poluentes atmosféricos têm uma importante acção na deterioração das
alvenarias de pedra. Como muitos deles se encontram presentes simultaneamente, é muito
difícil, senão impossível, quantificar o efeito de cada um isoladamente. Os poluentes com
maior incidência na deterioração das alvenarias de pedra são os seguintes: compostos
oxigenados de enxofre, dióxido de carbono, óxidos de azoto, ácido clorídrico e cloretos, ácido
fluorídrico e fluoretos, ácido sulfídrico, ozono, amónia e poeiras.

3.2.1.2. Mecanismos de alteração

A dissolução e a hidrólise

A força mais intensa que é exercida pela água é o seu poder de dissolução. A capacidade de
dissolver da água intensifica-se por adições que lhe dão, muitas vezes, o carácter de um ácido.
Essas adições efectuam-se no ar na forma de CO2 e como NO2, resultante do N2 e do O2
existentes no ar.

Qualquer material vê afectada a sua resistência quando se dissolvem partes da sua estrutura.
Devido à heterogeneidade de muitos materiais, as partículas da superfície apresentam
diferentes solubilidades. A água penetra também nos vários pontos em diferentes
profundidades, produzindo uma superfície desigual e enfraquecendo progressivamente o
material. Com a dissolução das partículas facilmente solúveis, as zonas salientes que surgem
da superfície desigual perdem a sua coesão e estabilidade, destruindo-se com o tempo.

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Os processos biofísicos

De considerável importância é o processo de agressão devido a agentes orgânicos, sobretudo


de musgos, algas, vegetação e líquenes, que se desenvolvem na água embebida nas alvenarias
de pedra e geram, por evaporação, manchas que variam de intensidade e tonalidade.

As algas, que se desenvolvem exclusivamente em atmosferas muito húmidas, são organismos


vegetais de dimensões microscópicas, predominantemente unicelulares; reagrupam-se em
colónias de numerosos indivíduos. Podem ser consideradas as primeiras colonizadoras da
superfície das alvenarias de pedra. São sensíveis às radiações ultravioletas e, por este motivo,
dificilmente se encontram em superfícies expostas à radiação solar, localizando-se
preferencialmente em zonas voltadas a Norte, altamente humedecidas.

Os musgos são plantas primitivas formadas da composição e agrupamento de múltiplos


indivíduos. Desenvolvem-se em áreas húmidas, com alguma preexistência orgânica, onde se
radica e fortalece.

Os líquenes são associações simbióticas entre fungos e algas. São considerados organismos
pioneiros, pois dão substância ao colonizar e tornar férteis para a fixação de outros
organismos, nomeadamente vegetais, às superfícies das alvenarias de pedra. Sobrevivem em
condições climatéricas muito precárias. A existência de líquenes (algas e fungos) é também
um indício de uma alta concentração de humidade (capilar, proximidade de lençóis
freáticos...) e constituem a primeira fase de um solo com capacidades de suportar espécies
mais elaboradas.

Os efeitos destrutivos das plantas centram-se essencialmente na expansão das suas raízes e na
acção química que o CO2 que libertam, auxiliado pela água, provoca nos materiais calcários.

Dentre os animais, sobretudo as aves, é de assinalar a acção destruidora das pombas cujos
excrementos contêm nitratos, grande quantidade de enxofre e 2% de ácido fosfórico.

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Os processos bioquímicos

Não está completamente provada a acção dos fungos sobre as alvenarias de pedra. Os mais
activos, Aspergillum Niger, Spicaria sp e Penincillum sp, são responsáveis pela produção de
ácido cítrico e oxálico a partir de soluções de glucose a 5%, que poderá ser responsável pelo
desgaste do material nos locais onde se fixam.

Também é duvidosa a influência, em termos quantitativos, dos microrganismos na alteração


das alvenarias de pedra. Em materiais calcários sulfatados, observaram-se tiobactérias oxidan-
tes de sulfuretos, que reduzem os sulfuretos existentes no terreno a sulfatos e estes são arrasta-
dos para o interior das paredes pela água de capilaridade, concentrando-se ao evaporarem-se
as dissoluções. Estas tiobactérias actuam também como mineralizadores do enxofre orgânico,
gerando o ácido sulfídrico, que poderá estar na base de alguma degradação do material.

3.3. Anomalias de origem física / mecânica

3.3.1. Erosão

A água das chuvas provoca a dissolução da alvenaria de pedra, tornando-a rugosa e


evidenciando algumas estruturas sedimentares existentes. A degradação afecta, sobretudo, a
sua aparência, não colocando em perigo a função estrutural da parede. Observa-se então uma
transformação superficial do material (Fig. 41).

É uma modificação que arrasta uma perda de massa à superfície da parede. Se as causas da
erosão são mecânicas (resultado do impacto de partículas), designa-se como abrasão; Quando
as causas são químicas ou biológicas, designa-se como corrosão. Quando as causas são
antrópicas, diz-se usura [1]. As causas da erosão encontram-se nos agentes atmosféricos,
como o vento, a água de precipitação e a acção do gelo.

3.3.2. Fendilhação / fissuração (Fig. 42)

As fendas são aberturas longitudinais incontroladas, que afectam toda a espessura do

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elemento. Estas fendas possuem inclinações características, que permitem determinar a


direcção dos movimentos nas fundações. Assim, por exemplo, no caso de acções sísmicas,
estas fendas possuem inclinações de 45º.

Fig. 41 - Erosão em alvenaria ordinária de pedra

Fig. 42 - Fendilhação e fissuração em alvenaria ordinária de pedra

As fissuras são aberturas longitudinais que afectam a superfície dos elementos ou apenas o seu
acabamento. A fissura constitui assim uma primeira etapa de uma fenda, apesar de possuir
uma origem e evolução distintas.

As fendas podem ocorrer nas zonas correntes das paredes, junto às aberturas de vãos, ou na

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ligação entre paredes ortogonais, sendo as causas seguintes as mais importantes:

 assentamentos diferenciais das fundações (fendilhação inclinada) (Fig. 43, à esquerda);


 frequente na proximidade de vãos ou na ligação de paredes ortogonais (Fig. 43, à direita);
 erros construtivos, principalmente, quando não existem “perpianhos” (pedras que
ocupam toda a espessura da parede - fendas verticais);
 a presença de água (expansão da alvenaria) no sentido do agravamento;
 acção sísmica (fendas a 45º);
 deficiente isolamento térmico nas coberturas em terraço, causando variações
dimensionais na estrutura;
 impulsos horizontais devidos a abatimento de arcos (fendas horizontais);
 deficiências de funcionamento estrutural das asnas de cobertura;
 corrosão de elementos metálicos inseridos na parede;
 expansão da alvenaria por acção da humidade;
 abertura de vãos em paredes (concentração de esforços);
 acção do gelo-degelo (introdução de tensões internas na alvenaria) (Fig. 45, à esquerda).

Fig. 43 - Fissuração devido a assentamento diferencial de fundações (à esquerda) e fissuração


na ligação de paredes ortogonais (à direita)

No caso dos revestimentos do tipo cimentício (rebocos), podem observar-se vários tipos de
fendas / fissuras:

• sem orientação preferencial e de pequena largura (Fig. 44, à esquerda) afectando, em ge-

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ral, praticamente todo o revestimento do paramento; este, quando percutido com o cabo
de um martelo, soa a oco em várias zonas, em especial sobre as fendas, devido ao des-
colamento do revestimento relativamente ao suporte; com o decorrer do tempo, pode no-
tar-se uma evolução no sentido da predominância de fendas com orientação horizontal;
• com orientação preferencialmente horizontal desde o início (Fig. 44, à direita), em cor-
respondência com o traçado das juntas de assentamento dos tijolos ou blocos da parede;
• de traçado contínuo ao longo das junções de materiais de suporte diferente, quando
revestidas em continuidade;
• desenvolvendo-se a partir dos cantos de quadros de vãos abertos nas paredes do suporte.

Fig. 44 - Fendilhação em rebocos: sem direcção preferencial (à esquerda) e com orientação


horizontal (à direita)

O aparecimento em praticamente todo o paramento de fissuras relativamente finas e sem


orientação preferencial (“mapeado” ou “pele de crocodilo”) tem como causa mais frequente a
retracção de secagem inicial das argamassas de revestimento, por serem demasiado ricas em
cimento, água ou elementos finos, ou por falta de cuidados de execução, tais como:

• aplicação em camadas de espessura exagerada;


• desrespeito pelos intervalos de tempo de secagem entre camadas, para que a camada
inferior sofre parte significativa da sua retracção de secagem inicial antes da aplicação
da camada seguinte;
• aplicação em condições atmosféricas inadequadas;

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• desacompanhamento da cura.

Podem ocorrer no revestimento do paramento fissuras muito superficiais e quase


imperceptíveis, de cuja reparação poderá ser preferível abdicar, para evitar a ocorrência de
manchas e diferenças do aspecto final resultante. Serão, no entanto, de reparar fissuras que
ponham em causa a durabilidade e as funções do revestimento, quer se desenvolvam apenas
no revestimento ou tenham também correspondência no suporte.

As fissuras que se formam no revestimento e não penetram no suporte podem ou não ser
acompanhadas de perda de aderência nas zonas contíguas aos seus bordos. Deve, então,
começar-se por efectuar o diagnóstico da situação em presença. A detecção da existência ou
não de descolamento pode realizar-se de modo expedito, batendo ao de leve no paramento na
área adjacente à fenda, e verificando se soa a oco (tipo de som que indica a perda de aderência
do revestimento de suporte).

3.3.3. Desagregação

A desagregação pode resultar da progressão e do agravamento da fendilhação existente;


caracteriza-se por um destacamento de grânulos ou cristais à mínima solicitação mecânica
(Fig. 45, ao centro e à direita). De entre várias causas prováveis, as mais importantes são:

 alternância de calor (dilatações) e frio (contracções) originando tensões;


 acção do vento ao arrastar partículas (erosão);
 acção da água (chuva; capilaridade - eflorescências e criptoflorescências; infiltrações
diversas; condensação; poluição - chuvas ácidas);
 ausência de conservação e manutenção;
 mais grave ao nível do rés-do-chão (vandalismo; choques acidentais).

Este tipo de acções, juntamente com a poluição, são responsáveis pelo desgaste superficial das
paredes que, no caso de serem constituídas por pedras de má qualidade, podem atingir níveis
preocupantes de deterioração.

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Fig. 45 - Fissuração e descasque do revestimento devido à acção do gelo-degelo (à esquerda) e


desagregação (ao centro e à direita) em alvenaria ordinária de pedra

3.3.4. Destacamento em placas

Os sintomas desta patologia são a queda de porções ou da quase totalidade do revestimento


algum tempo depois de ter sido aplicado (Fig. 46). Procedendo aos descasque do paramento,
verifica-se não restarem vestígios de aderência do revestimento ao suporte.

Fig. 46 - Destacamento do reboco em placas

A causa do destacamento sem deixar quaisquer vestígios de aderência no suporte é o facto de


nunca ter sido estabelecida essa aderência, porque o suporte era demasiado liso e haveria
necessidade de se proceder ao seu tratamento e preparação prévia através da criação de uma

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rugosidade, aplicação de um crespido, aplicação de uma rede, etc., ou porque no momento da


aplicação de algum hidrófugo, ou ainda porque a argamassa utilizada no revestimento era
exageradamente “fraca”.

O destacamento do reboco ocorre em geral depois de ter ocorrido o seu empolamento, devido
ao ataque da argamassa pelos sulfatos solúveis na água, em consequência da presença
prolongada de água no suporte. Relativamente aos rebocos de execução recente, o seu
destacamento pode ocorrer por nunca ter sido estabelecida a aderência entre este e o suporte,
ou por a retracção do reboco ter provocado a rotura por corte relativamente ao suporte (tosco
da parede ou camadas subjacentes de reboco antigo) em virtude de o reboco ser demasiado
“forte” para o suporte em questão.

Outra anomalia resulta da aplicação recente de argamassas ricas em cimento portland,


incompatíveis com os suportes antigos de pedra e cal. Os rebocos dessas argamassas,
aplicados sobre bases com propriedades muito diferentes, tornam-se incompatíveis, a curto e a
médio prazo, com as bases de pedra e cal, conduzindo à fissuração e posterior descolamento
dos novos revestimentos.

Os diversos tipos de patologia referidos nas alíneas anteriores coexistem frequentemente num
mesmo edifício e são, em geral, independentes.

3.4. Anomalias de origem química

3.4.1. Alteração cromática

A alteração cromática define-se como uma variação de parâmetros de cor. Na sua origem
podem encontrar-se diversos factores (Fig. 47). Mancha é uma alteração cromática numa zona
circunscrita e contrastante com as zonas vizinhas.

As alterações químicas que podem conduzir à erosão química correspondem a uma alteração
molecular (reacção química a substâncias atacantes). Estes contaminantes podem ser atmosfé-
ricos, sais ou álcalis dissolvidos em águas de capilaridade, filtração ou acidentais e produtos

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aplicados. Estas reacções resultam na modificação da estrutura dos materiais e variação do


aspecto dos paramentos em alvenaria de pedra, com evaporação e perda do material.

Fig. 47 - Alteração cromática em alvenaria ordinária de pedra

Os fenómenos associados a estas alterações químicas podem ser a carbonatação, a dissolução


e a oxidação-redução. A carbonatação consiste na transformação do dióxido de carbono da
água em ácido carbónico (que constitui um agente químico poderoso de ataque às rochas). A
dissolução afecta os materiais carbonatados com perda de massa das rochas, formação de
cavidades e de zonas claras. A oxidação-redução consiste na reacção química onde o oxigénio
e o dióxido de carbono dissolvidos em água reagem com os silicatos de ferro e magnésio
(micas), o sulfureto de ferro (pirite) ou os carbonatos de ferro (siderite) formando uma solução
fraca em ácido sulfúrico.

3.4.2. Sujidade /depósito superficial

A sujidade consiste num depósito compacto de extensão limitada, com crescimento não
paralelo à superfície, que resulta da acumulação de material estranho, de natureza diversa, que
resulta numa alteração cromática da rocha numa zona circunscrita e contrastante com as zonas
vizinhas (Fig. 48).

O depósito superficial é originado especialmente pela poluição e é um fenómeno mais grave.

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A deposição de diversos componentes estranhos (sulfatos e certos sais, ferro e partículas


carbonosas) pode originar a formação de crostas e, posteriormente, causar apreciáveis
degradações dos materiais. Dentre as principais causas desta anomalia, destacam-se a falta de
manutenção e o envelhecimento dos materiais.

Fig. 48 - Sujidade (à direita) em alvenaria ordinária de pedra

3.4.3. Empolamento / bolha

O empolamento corresponde à existência de uma camada superficial não aderente ao substrato


que, a curto prazo, leva à desagregação do paramento com a consequente queda do material. O
termo empolamento é usado em particular para superfícies de reboco ou azulejo. Por vezes, é
também utilizada a designação de destaque. O termo bolha corresponde à elevação superficial
e localizada, assumindo formas e consistências variáveis. As causas desta anomalia estão em
processos químicos despoletados pela humidade.

O principal sintoma desta patologia (Fig. 49) é o descolamento do revestimento com formação
de convexidades em grandes áreas do paramento ou somente numa ou noutra área muito
localizada (correspondendo, por vezes, apenas às áreas das faces de alguns blocos da parede),
seguida de queda do revestimento. Este destaque do revestimento inicia-se nas zonas onde
começou o empolamento e depois, se essa zona não for reparada, alastra-se à generalidade do
paramento por perda de aderência do revestimento ao suporte.

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Fig. 49 - Empolamento de reboco sobre alvenaria de pedra

A causa desse empolamento é, em geral, o ataque da argamassa de revestimento pelos sulfatos


solúveis na água - sulfatos de sódio, de magnésio ou de cálcio, em consequência de presença
prolongada e abundante da água nos suportes com teor significativo destes sais. O aluminato
tricálcico do cimento portland, reagindo com os sulfatos dissolvidos na água, dá origem ao
sulfoaluminato de cálcio, cuja formação é acompanhada de expansão. Esta expansão, na zona
de aderência do revestimento ao suporte, provoca a desagregação do paramento deste, e
conduz ao empolamento do revestimento.

A possibilidade de ocorrência de humedecimento abundante e prolongado das paredes


decorrerá da severidade da exposição, de deficiências do revestimento ou da ausência das
adequadas disposições construtivas de protecção dos topos superiores do revestimento,
nomeadamente ao nível das coberturas e dos vãos.

3.4.4. Eflorescências / criptoflorescências

As eflorescências consistem na formação superficial de substâncias, de cor esbranquiçada e


aspecto cristalino, pulveriforme ou filamentoso (Fig. 50, à esquerda). Resultam da cristaliza-
ção à superfície de sais solúveis constituintes da pedra ou das argamassas de assentamento e
reboco, que migraram por capilaridade para a superfície dos paramentos. Quando resultam da
cristalização no interior do material, têm o nome de criptoflorescências (Fig. 50, à direita).

As anomalias mais frequentes que resultam desta ocorrência são a formação e destacamento

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de placas e a degradação sob a forma de areia ou de pó - arenização e pulverização,


respectivamente. Na sua origem, estão processos químicos associados à presença de água.

Fig. 50 - Eflorescências (à esquerda) e desagregação do revestimento da parede devido a


criptoflorescências (à direita) em alvenaria ordinária de pedra

3.4.5. Arenização / pulverização

Esta anomalia caracteriza-se pela desintegração dos paramentos em fragmentos arenosos com
queda espontânea do material [2]:

 arenização - desintegração dos paramentos em fragmentos arenosos com queda


espontânea do material;
 pulverização - perda de coesão da superfície que conduz ao desprendimento de material
sob a forma de pó ou grânulos.

Na sua origem estão outras anomalias e resulta de processos químicos associados às acções
físicas dos agentes atmosféricos (como o vento ou a chuva).

3.5. Anomalias de origem biológica

3.5.1. Presença de vegetação

A profusão de ervas na fachada de edifícios de alvenaria de pedra é uma questão que merece
atenção, pois algumas plantas e árvores podem ser responsáveis pela degradação de muros e
fachadas de pedra, quer por se alimentarem de nutrientes contidos nas alvenarias de pedra,

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quer pelas suas raízes e rebentos pressionarem os poros da pedra, dilatando-os e degradando-
a. A hera é uma planta particularmente perigosa pois cresce muito rapidamente e fixa-se em
vários pontos da parede.

Os principais problemas associados ao crescimento de vegetação nas paredes de alvenaria de


pedra (Fig. 51, à esquerda) são:

 persistência de humidade nas paredes;


 incómodo provocado pelos ramos e segmentos libertos;
 incómodo provocado pelas goteiras;
 interrupção dos sistemas de drenagem das coberturas;
 degradação superficial das paredes;
 entrave ao acesso às reparações e pintura das paredes;
 restrição às operações de manutenção;
 riscos de segurança (pela facilidade de acesso a pisos superiores).

No caso da hera (à excepção das espécies decorativas), o problema mais sério é o seu rápido
crescimento através de caminhos aéreos, fixando-se nas juntas e provocando a sua abertura.
Regra geral, é fortemente recomendado que as plantas de grande envergadura sejam afastadas
completamente das paredes de alvenaria de pedra, pelas suas acções biofísicas extremamente
prejudiciais.

3.5.2. Fungos / líquenes

Apesar de não parecer à primeira vista, muita da sujidade presente nos edifícios aponta, na
realidade, para a presença de entidades orgânicas (Fig. 51, à direita). Mesmo os pequenos
pontos negros visíveis são frequentemente uma conjugação entre líquenes e musgos. Em
várias circunstâncias, o aparecimento de líquenes e mesmo de pequenos elementos vegetais
nas paredes de alvenaria de pedra podem não apresentar qualquer perigo ou efeito adverso. No
entanto, noutros casos, poderá mesmo ser necessário efectuar um tratamento de esterilização
por motivos de manutenção da aparência do edifício.

Um aspecto a ter em consideração em edifícios com paredes descobertas e de difícil acesso ao

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seu extremo superior é que os líquenes são formadores de terreno fértil para o
desenvolvimento de fungos e de vegetais. A limpeza cuidada dessas zonas é assim
fundamental para a manutenção do edifício.

Fig. 51 - Presença de vegetação (à esquerda) e fungos (à direita) em alvenaria ordinária de pedra

Os líquenes e fungos constituem ataques químicos, principalmente em paramentos


constituídos por materiais porosos, húmidos e pouco ventilados, provocando alterações de
coloração e de aspecto, aparecimento de bolores e libertação de substâncias químicas que
levam à erosão química dos paramentos (processos bioquímicos) (Fig. 52, à esquerda).

3.5.3. Pátina biológica

A patina biológica constitui uma camada fina, homogénea, aderente à superfície da parede, de
natureza biológica evidente e cor variável (normalmente verde). Esta anomalia corresponde ao
aspecto dos materiais após envelhecimento natural. São modificações naturais da superfície
dos materiais não atribuíveis a fenómenos de degradação, que levam à variação da cor original
dos mesmos.

Quando esta camada fina resulta da deposição de microrganismos, designa-se por película.
Constitui um estrato superficial de substâncias coerentes e estranhas aos materiais pétreos,
com espessura diminuta, que mantém o substrato íntegro.

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3.5.4. Outros agentes biológicos

Seres vivos

A decomposição microbiana de detritos orgânicos leva à formação de ácido húmico que


acelera a decomposição de alvenarias de pedra. Os excrementos de seres vivos também
possuem uma acção destruidora para as alvenarias de pedra, com a formação de ácido
fosfórico e enxofre, que vão corroer os materiais. As aves (pombos) exercem uma acção física
sobre as superfícies dos materiais, através de bicadas, unhadas e instalações de ninhos (os
grãos de areia constituintes da pedra auxiliam a sua digestão).

Agentes biológicos em paredes com elementos de madeira

Esta situação (Fig. 52, à direita) está relacionada com a presença da humidade (humidade
sazonal, roturas de tubos de queda e algerozes, telhas partidas, etc.) e corresponde ao apodre-
cimento da madeira incluída nas paredes resistentes devido aos fungos de podridão (líquenes,
algas, raízes - ataque químico) ou a ataques de insectos, térmitas e carunchos, afectando a sua
resistência mecânica. As causas mais importantes que originam esta anomalia são:

 rompimento de tubagens de redes de águas e esgotos que atravessam paredes;


 variação sazonal da humidade.

Fig. 52 - Bolores em alvenaria ordinária de pedra (à esquerda) e acção dos agentes biológicos
em elementos de madeira (à direita)

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4. TÉCNICAS DE REPARAÇÃO NÃO ESTRUTURAL

4.1. Considerações gerais

As técnicas de reparação não estrutural dependem do desempenho final a atingir, tendo em


conta as anomalias existentes, meios disponíveis e custos envolvidos. Existem várias
estratégias possíveis:

 eliminação das anomalias;


 substituição dos elementos e materiais afectados;
 protecção contra os agentes agressivos;
 ocultação das anomalias;
 eliminação da causa da anomalia;
 reforço do comportamento relativo às exigências funcionais.

4.2. Soluções para humidades ascendentes

Quando se detecta o fenómeno da humidade ascendente, o primeiro passo será secar a fonte de a-
limentação de água, tratar a alvenaria afectada e fazer-se um tratamento superficial do terreno.
Para tratar a alvenaria afectada, existem inúmeros métodos uns mais eficazes do que outros.

4.2.1. Formação de barreiras químicas

Esta técnica consiste na execução de barreiras horizontais de impermeabilização contra a


humidade ascendente através de uma impregnação lenta com produtos apropriados. Neste
processo, é constituída uma banda estanque na qual as propriedades capilares do material,
designadamente o ângulo de contacto entre a água e a superfície interior dos poros, são
modificadas quimicamente. No entanto, as injecções irão apenas, de um modo geral, controlar
a humidade e não impedi-la de subir.

Os produtos utilizados para impedir a ascensão da humidade do terreno por capilaridade,


podem ser de três tipos:

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 produtos tapa-poros (resinas epóxidas, silicatos alcalinos, gel de acrilamina);


 produtos hidrófugos (siliconatos, silicones, organo-metálicos);
 elementos impermeabilizantes (folhas de chumbo, cobre, poliéster, PVC, asfalto).

Os produtos podem ser introduzidos por dois métodos: gravidade ou pressão (Fig. 53). No
primeiro caso, o produto escorrerá livremente para a parede através das forças gravíticas,
estendendo-se seguidamente, por difusão, por toda a sua espessura. A injecção sob pressão, tal
como o nome indica, é executada através da ajuda de uma bomba, que será ligada a vários
tubos introduzidos na furação existente.

Fig. 53 - Aplicação de produtos líquidos de impermeabilização por sistema de injecção por


gravidade (à esquerda) e por pressão (à direita)

De um modo geral, estes dois processos podem atingir bons resultados, se se recorrer a mão-
de-obra especializada. A maior desvantagem é o facto de a base das paredes permanecer
sempre húmida, já que o processo não constitui uma barreira totalmente estanque e uniforme.
A utilização de emulsões à base de solventes poderá também causar problemas nocivos à
saúde dos utilizadores dos espaços tratados, nomeadamente em condições higrométricas
desfavoráveis - elevadas humidades relativas.

4.2.2. Corte mecânico com inserção de barreiras impermeáveis

Trata-se de um método de desumidificação para alvenarias sujeitas à ascensão capilar,


destinado a bloquear definitivamente o processo através da inserção de uma barreira
horizontal. Neste método (Fig. 54), são realizados furos na parede, incorporando elementos
impermeabilizantes (folhas de chumbo, cobre, poliéster, PVC, asfalto, etc.).

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Fig. 54 - Furos para incorporação dos elementos impermeabilizantes

4.2.3. Execução de valas drenantes

Sempre que possível, dever-se-á rebaixar o pavimento exterior, promovendo o abaixamento


do nível da água em contacto com elementos estruturais. Depois deverão ser executadas valas
drenantes exteriores com enchimento, afastadas cerca de 1.5 m das fundações e com a
profundidade de 0.20 a 0.40 m abaixo do nível das fundações (Fig. 55, à esquerda). Esta
técnica permite a melhoria das características mecânicas do solo de fundação por tratamento,
utilizando a drenagem de terrenos.

Deverão, sempre que possível, ser executadas valas drenantes interiores em pavimentos
térreos de madeira (Fig. 55, à direita). Estes devem ser reconstruídos sobre caixa-de-ar
(ventilada) com pelo menos 30 cm de altura.

Fig. 55 - Vala drenantes exteriores, periféricas à construção (à esquerda) e vala drenantes


interior à construção, com pavimento térreo de madeira (à direita)

4.2.4. Drenos atmosféricos (ou de Knapen)

Esta técnica consiste na introdução de drenos nas paredes (Fig. 56) de forma a proceder à sua

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secagem. É no entanto um método pouco eficaz e limitativo, pois não constitui uma solução já
que apenas atenua o efeito da humidade.

Fig. 56 - Drenos de Knapen em parede de alvenaria de pedra

4.2.5. Sistemas electro-osmóticos

Esta técnica (Fig. 57) consiste em inserir eléctrodos na alvenaria e no solo ligando-os entre si
através de fios condutores. As sondas inseridas na parede funcionam como ânodo, enquanto
que as tomadas de terra actuam como pólos negativos, ou cátodos. Assim, estabelece-se a
corrente entre pólo positivo e negativo provocando a deslocação da água carregada de sais
(nitratos e sulfatos) que será anulada ou invertida. É uma técnica morosa e cara, que requer
um profundo conhecimento dos materiais a tratar e do teor de sais das alvenarias. É muitas
vezes utilizada em associação com outros métodos.

Fig. 57 - Método de electro-osmose

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4.2.6. Remoção de bolores

Para resolver esta anomalia, propõem-se as seguintes medidas:

• lavagem esterilizante com lixívia diluída em água;


• lavagem com água simples;
• secagem perfeita;
• utilização de um maçarico (com as reservas acima referidas relativamente à utilização
do fogo) para garantir a queima de todas as zonas afectadas, numa altura até 0.50 m
acima das mesmas;
• aplicação de um produto fungicida;
• pintura geral do paramento da parede afectado.

4.2.7. Remoção de cogumelos

Para resolver esta anomalia, propõem-se as seguintes medidas:

• remoção de todas as peças de madeira afectadas e das que com elas contactam;
• limpeza com escova de arame das zonas afectadas das alvenarias para remoção de
elementos soltos, e eventual remoção do reboco local;
• utilização de um maçarico para garantir a queima de todas as zonas afectadas, numa
altura até 0.50 m acima das mesmas;
• esterilização das alvenarias com um fungicida adequado;
• aplicação de madeiras novas secas, tratadas com produtos fungicidas;
• refazer a parte da alvenaria ou do reboco afectado ou removido;
• melhorar as condições de ventilação.

4.3. Soluções para humidades de condensação

Para se proteger as paredes contra a humidade de condensação, pode fazer-se um reforço do


isolamento térmico (Fig. 58). No entanto, quando se trata de paredes à vista, este reforço não é
praticável. Este método tem como objectivo o aumento da temperatura superficial interior das

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paredes, diminuindo o risco de ocorrência de condensações superficiais.

Fig. 58 - Melhoria do isolamento térmico pelo interior (à esquerda) e pelo exterior (à direita)

Para diminuir a humidade relativa do ar, pode fazer-se um reforço da ventilação dos espaços
através: da correcção de eventuais deficiências no sistema de extracção do ar; instalação de
dispositivos mecânicos de extracção do ar, com funcionamento automático ou instalação de
grelhas de ventilação especiais na zona superior das paredes exteriores de cada compartimento.

Deve também fazer-se um reforço da temperatura do ambiente, para assim se conseguir uma
diminuição da humidade relativa do ar ambiente e um aumento da temperatura superficial das
paredes, tendo o cuidado de não utilizar aquecedores de combustão, por estes libertarem
grandes quantidades de vapor de água.

4.4. Soluções para infiltrações

4.4.1. Barreiras físico-químicas exteriores

Trata-se da execução de barreiras físico-químicas por injecção, exteriores às alvenarias,


quando se verificam infiltrações de água provenientes das paredes e muros em contacto com o
terreno, mas que são inacessíveis (Fig. 59, à esquerda).

4.4.2. Técnicas para evitar infiltrações (precipitação)

Em relação às anomalias provocada pela humidade de precipitação (chuva), as principais


medidas de reabilitação resumem-se a:

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 substituição dos rebocos existentes por outros, constituídos por argamassas bastardas
(de cimento, cal aérea e areia, ou cal hidráulica e pozolana e areia);
 aplicação de sistemas de pintura impermeáveis à água, mas permeáveis ao vapor de
água.

4.5. Rebocos desumidificadores

Trata-se da aplicação de rebocos (com tratamento de fundo à base de produtos antisalinos e/ou
hidrófugos, 1 ou 2 camadas) que possuem em geral bons parâmetros de permeabilidade (Fig.
59, à direita). As argamassas a utilizar devem permitir o fabrico de um reboco que possua as
seguintes funções:

 perfeito controlo de fluxo capilar;


 promover a evaporação da humidade do interior das paredes para o exterior;
 prevenir a formação de eflorescências.

Fig. 59 - Injecção de resinas para resolver os problemas de humidade (à esquerda) e aplicação


de reboco desumidificador (à direita)

4.6. Rebocos armados em alvenarias

Consiste em reabilitar / substituir o revestimento da parede de alvenaria, aumentando a


resistência da parede. Os passos de execução encontram-se ilustrados na Fig. 60.

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Saneamento da alvenaria Limpeza da alvenaria

Injecção das fendas (complementada ou não


Substituição do material degradado
com gateamento usando grampos de aço)

Fixação da armadura metálica (aço galva-


nizado ou aço inoxidável) ou armadura de Armadura metálica (aço galvanizado ou aço
fibra de vidro (protecção anti-alcalina) com inoxidável)
ou sem conectores de travamento

Armadura de fibra de vidro (protecção anti-


Reboco com argamassas de formulação
alcalina)

Aspecto aquando da execução de reboco Aspecto aquando da execução de reboco


com armadura metálica com armadura de fibra de vidro

Aspecto final

Fig. 60 - Passos de execução do reboco armado

4.7. Argamassas projectadas em alvenarias

Para maiores espessuras de contenção (superiores a 3 cm), recorre-se à argamassa projectada.

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Após regularização e preparação da superfície a revestir, aplica-se uma ou mais camadas de


argamassa projectada, normalmente armadas com uma rede de metal distendido, galvanizada
(espessura aproximada de 5 cm) (Fig. 61).

Fig. 61 - Argamassa projectada

4.8. Resumo das técnicas de reabilitação não estrutural

O Quadro 3 apresenta um resumo das intervenções no âmbito da reabilitação em função das


anomalias não estruturais.

Quadro 3 - Resumo das intervenções no âmbito da reabilitação em função das anomalias não
estruturais
ANOMALIAS NÃO ESTRUTURAIS INTERVENÇÕES PROPOSTAS
DE ORIGEM Destacamento e
FÍSICA / degradação das Tratamento de juntas
MECÂNICA argamassas de ligação
Limpeza com pastas de argilas absorventes ou com pastas gelatinosas
Sujidade
dissolventes
DE ORIGEM
Limpeza por micro-jacto de precisão de partículas abrasivas. No caso
QUÍMICA Crostas
de crostas negras, limpeza com laser pulsado ou com ultra-sons
Eflorescências Limpeza com compressas biológicas
Limpeza com biócidas e aplicação de herbicida próprio. Após
Vegetação secagem, remoção total das plantas com recurso a ferramentas
manuais.
DE ORIGEM
Fungos, algas e Pré-escovagem a seco, com recurso a escovas macias e seguidamente
BIOLÓGICA
líquenes limpeza com biócidas
Limpeza por micro-jacto de precisão de partículas abrasivas e com
Pátina, película
produtos químicos
Após estes tratamentos, deve-se introduzir camadas superficiais de protecção hidrófugas

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5. CONCLUSÕES

“O património edificado constitui uma referência histórica de extrema importância, quer sob o
ponto de vista social, quer sob o ponto de vista técnico, fornecendo elementos preciosos para
o entendimento da própria evolução da capacidade humana de adaptação ao meio envolvente,
desde os primórdios da História” [3].

Na reabilitação, privilegia-se a manutenção do uso e ambientes, permitindo alterações técnico-


construtivas e formais, de forma a dar resposta a melhores condições de segurança,
salubridade e conforto. A integração de novos e velhos materiais é feita de forma visível. A
reabilitação é a forma de actuação cada vez mais assumida no contexto urbano, por apontar
numa direcção que ultrapassa a recuperação física do edifício, procurando dar-lhe uma nova
vida e adequá-lo às novas exigências de conforto e segurança. O que se pretende implicar
neste conceito é que a recuperação de edifícios só fará sentido inserida num processo
abrangente de reabilitação e de gestão ao nível arquitectónico e urbanístico, com objectivos de
eficácia técnico-económica.

Existem algumas condicionantes ao processo de reabilitação, que são:

 o contexto histórico-cultural em que a estrutura se insere e correspondente valor pa-


trimonial / arquitectónico; este factor é muitas vezes determinante, obrigando à adopção
de soluções que preconizem a manutenção de arquitectura ou soluções estruturais que se
enquadram noutras épocas (ex.: reconstrução de zonas históricas das cidades);
 a ocupação, utilização passada e sua coordenação com o futuro funcionamento da
estrutura; torna-se necessário para a avaliação das acções que se vão desenvolver no
edificado e requalificá-las ou adaptá-las a outras não previstas inicialmente;
 os materiais utilizados na construção e o seu estado de conservação.

Na conservação e reabilitação de edifícios e sobretudo naqueles considerados como


património arquitectónico, há a necessidade de se atingir uma grande qualidade nas
intervenções. Deverão por isso ser definidas as exigências que se colocam para que essa
qualidade seja atingida:

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 exigências de autenticidade - respeitando e mantendo os materiais originais, preservando


as ideias arquitectónicas e as tecnologias utilizadas, pois estas reflectem o espírito das di-
versas épocas que o edifício atravessou; garantir a autenticidade histórica e a autenticida-
de na preservação do carácter do lugar, porque um edifício nunca surge isolado, antes
estabelece relações com o lugar, influenciando e sendo influenciado por este;
 exigências de durabilidade - os tempos de vida que se desejam para os edifícios antigos
são superiores aos esperados para edifícios correntes;
 exigências de compatibilidade e reversibilidade - relativamente aos novos materiais e
tecnologias em função dos materiais existentes; deve-se ter em atenção as características
físicas, químicas e mecânicas dos materiais a empregar, para assim garantir uma não
incompatibilidade com o suporte existente;
 exigências de economia - a previsão de custos num edifício a reabilitar é difícil, pois
durante a intervenção poderão surgir novos elementos ou circunstâncias que levem a
trabalhos não definidos e que têm de ser executados muitas das vezes para garantir a
própria integridade do edifício; não se pode esquecer que esperar por financiamentos e
novas soluções mais económicas pode levar à perda de património.

A nível da reabilitação, cada caso deve ser analisado separadamente, de modo a que a
intervenção seja tão específica quanto possível. É por isso extremamente importante,
desenvolver uma metodologia de base, eficaz para efectuar uma reabilitação adequada ao
problema em causa.

Primeiramente, deve-se elaborar um levantamento da construção escolhida, através de peças


desenhadas e fotografias, procedendo-se a uma descrição da obra e das soluções construtivas a
ela aplicadas. Depois, através de uma cuidadosa inspecção visual, as anomalias mais
importantes são identificadas, apresentando-se hipóteses para as suas causas.

Para a caracterização dos materiais e anomalias, é elaborado um plano de ensaios, que permite
quando possível, determinar de uma maneira mais eficaz, as causas e os possíveis modos de
intervenção. É importante salientar que a escolha do método de diagnóstico dependerá da
consideração de alguns factores, como o valor histórico do edifício em estudo, os danos

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resultantes da aplicação dos métodos de carácter destrutivo ou semi-destrutivo e os custos


relativos dos vários métodos de diagnóstico face aos possíveis benefícios.

Propõe-se por isso como metodologia base, tendo em vista o processo de reabilitação:

 levantamento da construção, através de peças desenhadas, fotografias e vídeo e


levantamento topográfico do terreno;
 levantamento das anomalias da construção e envolvente;
 avaliação da incidência de cada tipo de anomalia nas diferentes partes do edifício e
envolvente;
 realização de ensaios no local, ou quando necessário recolha de amostras no local para
ensaios laboratoriais;
 determinação das causas responsáveis pelas anomalias, com base em todos os elementos
analisados;
 definição dos processos de intervenção.

Assim, para se poder definir com maior exactidão o processo de intervenção a adoptar, é
necessário um diagnóstico eficaz, onde a recolha de informação é uma das tarefas básicas a
desenvolver inicialmente. Essa recolha consiste na análise dos dados antecedentes e na
observação in situ da situação presente. A observação pode ser feita: através de uma simples
inspecção visual; realizando ensaios sobre a construção, ou sobre provetes dela retirados e
efectuando medições.

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7. REFERÊNCIAS

Nota: as referências bibliográficas indicadas de seguida não incluem as referidas no capítulo


de introdução a este documento, assim como um número não especificado de sites da Internet
e catálogos comerciais.

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Volume 1, IPPAR, Lisboa, 2001.
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ITPRC2, LNEC, Lisboa, 2004.
[3] Pinho, F., “Paredes de Edifícios Antigos em Portugal”, Colecção Edifícios, Vol. 8,
LNEC, Lisboa, 2001.
[4] Campanella, C., “Obras de Conservação e Restauro Arquitectónico: Condições Técnicas
Especiais”, Coordenação e adaptação de João Mascarenhas Mateus, CML, Lisboa, 2003.
[5] Appleton, J., “Reabilitação de Edifícios Antigos - Patologias e Tecnologias de
Intervenção”, Edições Orion, Amadora, 2003.
[6] Brito, J. de; Flores, I., “Paredes de Alvenaria de Pedra Natural”, IST, Lisboa, 2003.
[7] Pinho, F., “Reabilitação de Construções em Alvenaria de Pedra Tradicional”, Curso de
“Construções em Alvenaria de Pedra e Terra Aditivada: Razões para a Sua Viabilidade
em Portugal”, FUNDEC, Lisboa, 2002.
[8] Flores, I., “Reabilitação de Construções - Estudo do Claustro da Sé de Lisboa”.
Monografia do Mestrado em Construção, IST, Lisboa, 1999.
[9] Ashurst, J.; Dimes, F., “Conservation of Building & Decorative Stone”, Oxford, 1998.
[10] Pinto, A. P., “Conservação de Pedras Graníticas: Estudo da Acção dos Hidrófugos”,
Dissertação de Mestrado, IST, Lisboa, 1993.
[11] NORMAL 1/88, “Alterazioni Macroscopiche dei Material Lapide”, CNR-ICR, Roma,
1990.
[12] Paz Branco, “Manual do Pedreiro”, Publicação M-3, LNEC, Lisboa, 1981.
[13] Segurado, J., “Alvenaria, Cantaria e Betão”, Colecção Biblioteca de Instrução
Profissional, Livraria Bertrand, Editora Paulo de Azevedo, Lda. Lisboa, 1908.
[14] Teixeira, Gabriela de Barbosa e Margarida da Cunha Belém, “Diálogos de Edificação:
Técnicas Tradicionais de Construção”, CRAT - Centro Regional de Artes Tradicionais,

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Diagnóstico, patologia e reabilitação de elementos não estruturais em construção em alvenaria de pedra
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[18] “Revestimentos de Paredes”, Curso de Especialização, LNEC, Lisboa, 2000.
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Diagnóstico, patologia e reabilitação de elementos não estruturais em construção em alvenaria de pedra
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