Você está na página 1de 67

UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA

“JÚLIO DE MESQUITA FILHO”


Faculdade de Engenharia e Ciências - Câmpus de Guaratinguetá

LEONARDO SANTANA DA SILVA


GUSTAVO MATIAS PINTO

ESTUDO SOBRE O PROCESSO DE DESÁGUE DE REJEITOS DE


MINERAÇÃO EM TUBOS TÊXTEIS GEOSSINTÉTICOS A
PARTIR DE ENSAIOS DE CONE

GUARATINGUETÁ - SP
2023

1
LEONARDO SANTANA DA SILVA
GUSTAVO MATIAS PINTO

ESTUDO SOBRE O PROCESSO DE DESÁGUE DE REJEITOS DE


MINERAÇÃO COM TUBOS TÊXTEIS GEOSSINTÉTICOS A
PARTIR DE ENSAIOS DE CONE

Trabalho de Graduação apresentado ao


Conselho de Curso de Graduação em
Engenharia Civil da Faculdade de Engenharia
do Campus de Guaratinguetá, Universidade
Estadual Paulista, como parte dos requisitos
para obtenção do diploma de Graduação em
Engenharia Civil

Orientadora: Profa Dra Mariana Ferreira Benessiuti Motta

GUARATINGUETÁ - SP
2023
DADOS CURRICULARES

LEONARDO SANTANA DA SILVA

NASCIMENTO 08/02/1999 – São José dos Campos/SP

FILIAÇÃO -Laercio Aparecido da Silva

-Teovanusia Santana da Silva

2017/2022 Curso de Graduação em Engenharia Civil

Universidade Estadual Paulista – “Júlio de Mesquita Filho”,


Campus de Guaratinguetá.

GUSTAVO MATIAS PINTO

NASCIMENTO 11/05/1995 – Atibaia/SP

FILIAÇÃO - Geraldo Matias Pinto

- Rosemeire de Paiva Santos Pinto

2016/2022 Curso de Graduação em Engenharia Civil

Universidade Estadual Paulista – “Júlio de Mesquita Filho”,


Campus de Guaratinguetá.
DEDICATÓRIA

Dedicamos este trabalho a todos aqueles que buscam fazer do mundo


um lugar melhor para as futuras gerações.
AGRADECIMENTOS

Gostaríamos de agradecer primeiramente a nossas famílias, pelo incondicional apoio e


investimento contínuo em nossa formação. Por acreditarem na educação como uma porta para
uma vida esclarecida, afortunada e independente.
Também agradecemos aos professores da Faculdade de Engenharia e Ciências de
Guaratinguetá, pelo zeloso ensino, e em especial, à nossa orientadora Professora Dra. Mariana
Motta, que desde o primeiro momento se interessou por nossa pesquisa e atuou como
verdadeira mentora no processo de desenvolvimento do trabalho, apontando as melhores
práticas e perspectivas científicas, que contribuíram ativamente para a qualidade do trabalho.
Parte importante no desenvolvimento do trabalho também foi a ajuda e incentivo da
empresa Huesker Ltda., que contribui com materiais e expertise na execução do trabalho, em
especial ao Eng. MSc. Eduardo Guanaes, que conta com profundo conhecimento da área em
estudo, apontou os principais trabalhos sobre o tema do deságue e compartilhou seu
conhecimento.
Não poderíamos deixar de agradecer ao apoio da Família da República O.NU, que nos
acompanhou na árdua jornada de toda graduação, compartilhando risadas, amigos e também
sabedoria.
“Compartilhe seu conhecimento, é uma forma de atingir a imortalidade.”
Henry Ford.
RESUMO

Nos últimos anos no Brasil tem se apresentado uma grande problemática que é a
questão dos rejeitos de mineração, mais especificamente por conta de acidentes
envolvendo barragens de rejeitos. Neste sentido, este trabalho visa avaliar a
possibilidade do uso de geotêxteis para o desaguamento destes rejeitos de mineração,
diminuindo assim seu teor de umidade e contribuindo para sua inertização pela
transformação em uma massa sólida estável. Para realizar esta avaliação foi utilizado o
Ensaio de Cone, no qual o rejeito é vertido em um filtro manufaturado com o geotêxtil,
podendo ser o rejeito previamente polimerizado. Para avaliar a eficiência do processo,
foram determinados parâmetros como teor de umidade, teor de sólidos, turbidez e
volume de água percolada no desaguamento. Foram avaliados três tipos de geotêxteis, e
diferentes polímeros floculantes, obtendo-se então como resultado um geotêxtil, que
apresentou os melhores resultados de desaguamento. Ao se utilizar um polímero N300
da Kemira para floculação e posterior desaguamento através do geotêxtil tecido de
polipropileno e manufaturado especificamente para esta função, obteve-se resultados
positivos, diminuindo-se a umidade do rejeito em 70% aproximadamente.

PALAVRAS-CHAVE: geotêxtil, rejeitos de minérios, confinamento de rejeitos, desaguamento,


ensaio de cone.
ABSTRACT

In recent years in Brazil, a major problem has been presented, which is the issue of
mining tailings, more specifically due to accidents involving tailings dams. This work
aims to evaluate the possibility of using geotextiles for dewatering these mining tailings,
thus reducing its moisture content and contributing to the inertization of the tailings,
transforming it into a stable solid mass. To carry out this evaluation, the Cone Test was
used, in which the tailing is poured into a filter manufactured with the geotextile, the
tailings which may be the previously polymerized. Three types of geotextiles were
evaluated, and different flocculant polymers, obtaining a geotextile, which presented
better dewatering results, when using a Kemira N300 polymer for flocculation and
subsequent dewatering through the geotextile, thus proving positive results in the use of
geotextiles to drain mining tailings, reducing the humidity of the tailings by
approximately 70%.

KEYWORDS: geotextile, geosynthetic, mining tailings, dewatering, cone test


SUMÁRIO

LISTA DE FIGURAS

LISTA DE TABELAS

1 INTRODUÇÃO 15
2 OBJETIVOS 17
2.1 OBJETIVO GERAL 17
2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS 17

3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 18
3.1 POLÍMEROS E GEOSSINTÉTICOS 18
3.2 PROPRIEDADES DOS GEOSSINTÉTICOS, ENSAIOS E NORMAS 20
3.2.1 Propriedades mecânicas 20
3.2.1.1 Ensaio de tração faixa larga (ABNT NBR ISO 10319, 2013) 20
3.2.2 Propriedades hidráulicas 21
3.2.2.1 Abertura aparente dos poros (ABNT NBR ISO 12956, 2022) 21
3.2.2.2 Permeabilidade normal ao plano (ABNT NBR ISO 11058, 2021) 21
3.3 GEOSSINTÉTICOS: APLICAÇÕES USUAIS 22
3.3.1 Filtração e drenagem 23
3.4 CONFINAMENTO E DESSECAGEM DE LODOS E LAMAS 25
3.4.1 Mineração 26
3.4.2 Alternativas para desaguamento de resíduos 29
3.4.3 Espessamento de lodo 29
3.4.4 Dessecagem de lodo 31
3.4.5 Barragens de rejeito 32
3.4.6 Fôrmas Têxteis tubulares (FTT) para dessecagem de resíduos úmidos 33
3.4.6.1 Materiais de confecção 37
3.4.6.2 Polimerização 38
3.4.6.3 Tensões na Geoforma 40
3.4.7 Ensaios para desaguamento em formas têxteis tubulares 41
3.4.7.1 Hanging Bag Test 42
3.4.7.2 Pillow Test 43

4 MATERIAIS E MÉTODOS 44
4.1 MATERIAIS 46
4.1.1 Rejeito de mineração utilizado 46
4.1.2 Geotêxteis utilizados 47
4.1.3 Polímeros floculantes 49
4.2 MÉTRICAS DE ANÁLISE 50
4.3 PROCEDIMENTOS DE ENSAIO 52
4.3.1 Ensaios preliminares 52
4.3.2 Ensaio de polimerização 53
4.3.3 Ensaios de cone 53

5 RESULTADOS E DISCUSSÃO 56
5.1 ENSAIOS PRELIMINARES 56
5.2 ENSAIO DE POLIMERIZAÇÃO 57
5.3 ENSAIOS DE CONE 58

6 CONCLUSÃO 64
7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 66
LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Polímeros. 18
Figura 2: Cadeias poliméricas 19
Figura 3: Método de carga constante 22
Figura 4: Método da carga variável 22
Figura 5: Geotêxteis em aplicados como material filtrante em (a) margem de canais, (b)
gabiões e (c) proteção de fundações submersas 24
Figura 6: Geotêxteis aplicados em sistemas de drenagem em (a) obras rodoviárias, (b) muros
de arrimo e (c) em base de solo reforçado. 25
Figura 7: Gráfico de fração rejeitada em processamento de minérios 26
Figura 8: Unidades de operação 28
Figura 9: Desenho esquemático de tanque adensador por gravidade, vista em corte. 30
Figura 10: Espessador de lodo de flotação por ar dissolvido, vista em corte 31
Figura 11: Tipos de represamento para barragens de rejeitos 33
Figura 12: Fase inicial de preenchimento 34
Figura 13: Início da primeira fase de desaguamento 35
Figura 14: Fim da fase de desaguamento inicial 35
Figura 15: Final da fase de preenchimento subsequente 36
Figura 16: Início da fase subsequente de desaguamento 36
Figura 17: Fim da fase subsequente de desaguamento 37
Figura 18: Processo de floculação 39
Figura 19: Chicanas misturadoras 39
Figura 20: Esforços de tração na geoforma 40
Figura 21: Rasgo na costura em forma têxtil de tubular 41
Figura 22: Hanging Bag Test 43
Figura 23: Ensaio Pillow Test 44
Figura 24: Fluxograma da sequência de ensaios 45
Figura 25: Fluxograma dos ensaios de cone realizados 45
Figura 26: Curva granulométrica dos sólidos do rejeito 46
Figura 27: Corpos de prova circulares. Da esquerda para direita: GTX-A, GTX-B e GTX-C 49
Figura 28: Polímeros e dosagens escolhidas. A) Polímero A137 na dosagem de 200 ppm, B)
Polímero N300 na dosagem de 300 ppm, C) Polímero A100 na dosagem de 170 ppm 54
Figura 29: Ensaio de cone e turbidez. (A) GTX-A com polímero N300 na dosagem de 300
ppm, (B) GTX-B com polímero N300 na dosagem de 170 ppm 55
Figura 30: Ensaio de cone do GTX-C 55
Figura 31: Ensaio preliminar polímero A100 56
Figura 32: Ensaio preliminar polímero A137 56
Figura 33: Ensaio preliminar polímero N300 57
Figura 34: Teor de sólidos em peso alcançados 59
Figura 35: Umidade alcançada após deságue 59
Figura 36: Volume de percolado no deságue 44
Figura 37: Turbidez do percolado após desaguamento 62
LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Funções dos geossintéticos em projetos de engenharia 23


Tabela 2: Dados iniciais do rejeito 47
Tabela 3: Propriedades dos geotêxteis 48
Tabela 4: Polímeros utilizados. 49
Tabela 5: Dados do turbidímetro digital 51
Tabela 6: Dosagens ótimas definidas no ensaio. 57
Tabela 7: Média do teor de umidade e teor de sólidos 58
Tabela 8: Volume percolado em ensaio de cone. 60
Tabela 9: Resultado do ensaio de turbidez. 61
Tabela 10: Eficiência de desaguamento. 62
1 INTRODUÇÃO

Os geossintéticos são materiais de construção aplicados nos mais variados campos da


engenharia: infraestrutura, obras hidráulicas, pavimentação, saneamento e tantas outras; sendo
muito versáteis devido aos mais variados tipos e formas em que são produzidos. De acordo
com Vertematti (2015), materiais naturais como fibras vegetais foram utilizados desde 3000
a.C para melhoramento de solos, entretanto, foi só a partir da década de 60 que verdadeiros
avanços aconteceram, com a utilização de polímeros para a confecção de geotêxteis não
tecidos de filamento contínuo. Desde então, a indústria de geossintéticos conquistou grandes
avanços, alavancados por pesquisadores entusiasmados que vêm até os dias de hoje,
descobrindo novas utilizações para estes materiais e tornando-as cada vez mais eficientes.
Em torno da década de 80, geotêxteis começaram a ser utilizados para confecção de
fôrmas tubulares, que ao serem preenchidas com areia servem propósito em obras de proteção
costeira, construção de diques e outras aplicações hidráulicas. Foi a partir dos anos 2000 que
novas correntes de pesquisa buscaram verificar a viabilidade destas fôrmas na utilização para
o desaguamento de lodos e lamas (VERTEMATTI, 2015), sendo que neste tipo de aplicação,
as geoformas recebem estas misturas através de bombeamento, agindo como recipiente e
filtro. Estes resíduos se apresentam como resultados de diversos processos, como o tratamento
de água, o tratamento de esgoto, processos industriais e também processos de mineração e
beneficiamento de minérios que geram lodos e lamas com alto teor de umidade, tornando
inviável o transporte e posterior disposição em aterros (MÜLLER et al., 2018). Também é
proibido o lançamento direto destes resíduos em corpos d’água, prática mais comum
historicamente, devido aos avanços na legislação ambiental.
Devido à necessidade de disposição adequada de lodos e lamas, o processo de
dessecagem através da utilização de diversos métodos, como leitos de secagem, filtros prensa
e finalmente formas têxteis tubulares, visa diminuir a umidade destes resíduos, tornando-os
passíveis de transporte, ao terem seu volume reduzido (GUIMARÃES et al., 2014), e após
diminuição do teor de umidade, obtêm características adequadas para disposição em aterros
sanitários ou outros locais de disposição de rejeitos, sejam áreas próprias dos geradores ou de
terceiros que fornecem este serviço.
No momento atual, a técnica de dessecagem e confinamento de resíduos utilizando as
fôrmas têxteis tubulares vêm ganhando muito espaço no mercado nacional e internacional,

15
sendo uma técnica consolidada que apresenta diversas vantagens, tanto do ponto de vista
operacional como de eficácia.
No ramo da mineração existe um problema de grande importância que vem
comprometendo os empreendimentos nesta área: a disposição segura de rejeitos de mineração.
Após dois grandes desastres brasileiros, ambos em Minas Gerais, em 2015 no município dem
Mariana, e em 2019 em Brumadinho, existe um grande esforço para otimizar as estruturas de
disposição de rejeitos, no caso as barragens de rejeitos. Além disso, novos métodos de
gerenciamento de rejeitos de mineração estão surgindo e sendo viabilizados. As FTTs
(Fôrmas Têxteis tubulares) se apresentam como uma dessas alternativas, sendo capazes de
diminuir o volume de rejeitos através do deságue, ao mesmo tempo tornando-o mais inerte e
estável devido à elevação do teor de sólidos e confinamento temporário ou permanente.
Neste contexto, este trabalho visa investigar o processo de dessecagem do rejeito de
mineração gerado em uma mina de ferro no Estado de Minas Gerais no Brasil. Para investigar
este processo qualitativa e quantitativamente serão realizadas análises do rejeito em seu
estado original, observando parâmetros físicos, e também o processo de dessecagem
utilizando-se ensaios de polimerização e de dessecagem em cone têxtil, um ensaio comum na
indústria, devido a sua grande praticidade, tendo sido estudado no trabalho de Fonseca et al.
(2022). Após os ensaios serão feitas avaliações de modo a determinar o melhor geossintético
e polimerização a serem utilizados no deságue, assim como outras análises a respeito do
rejeito e sua interação com o geossintético em questão, de modo a investigar a viabilidade do
método.
2 OBJETIVOS

2.1 OBJETIVO GERAL


Estudar a interação entre o rejeito de mineração e diferentes tipos de geotêxteis,
utilizando polímeros para floculação do material.

2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS


● Obtenção do rejeito de mineração a ser estudado;
● Caracterizar o rejeito e os polímeros, levantando dados de teor de sólidos e umidade
iniciais;
● Determinar o polímero floculante mais adequado ao experimento, através de dosagem
em ppm;
● Estudar os dados de ensaio e determinar o geossintético que possui o melhor
desempenho no deságue através do Ensaio de Cone.
3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

3.1 POLÍMEROS E GEOSSINTÉTICOS

Polímeros são formações macromoleculares baseadas na repetição de pequenos grupos


similares de moléculas denominadas meros, por meio de ligação covalente. Dada a
combinação exata a partir de uma molécula existente, tem-se o produto final polimérico. Um
exemplo comum de vasta utilização é o polietileno (PE), o qual possui o etileno como mero (
𝐶2𝐻4) e quando sofre um processo de crescimento de cadeia gera enfim o polímero, com

fórmula (𝐶2𝐻4)𝑛, sendo 𝑛 o grau de polimerização do composto, conforme ilustrado na figura

1 (LEONEL, 2020).

Figura 1: Polímeros.
Fonte: Leonel, 2020.

A polimerização, nome dado ao processo de confecção dos polímeros, é separada em


duas classes, segundo Bueno (2015): adição e condensação. Sendo a primeira realizada por
ligações covalentes e a segunda produzindo moléculas de água em seu processo. Sua
formação é dada através da combinação dos monômeros em sua composição, sendo estes
linearmente por um único monômero (homopolímeros) ou mais de um monômero
(copolímeros). No caso dos copolímeros, a ligação pode acontecer de forma alternada e
aleatória. Além disso, polímeros são classificados também a partir de sua estrutura de cadeia
polimérica, conforme ilustrado na figura 2 : lineares ((a) e (b)), ramificadas (c) e em rede ((d)
e (e)) (BUENO, 2015).

Figura 2: Cadeias poliméricas.


Bueno, 2015.

Desenvolvendo cada tipo de combinação molecular, estruturação e tratamento dessas


cadeias, resulta-se em duas morfologias típicas nos polímeros, amorfos e cristalinos. As
principais características que se atinge em relação a estes estados é de que quanto mais
cristalino for o material maior será a rigidez, estabilidade dimensional, resistência química,
resistência à abrasão, temperaturas de fusão e de transição vítrea. além de que, a densidade de
um polímero mais cristalino é maior que os demais (BUENO, 2015).

A utilização dos polímeros com foco na engenharia geotécnica ganhou força na


segunda metade do século XX, com avanços tecnológicos no emprego dos geossintéticos.
Este material é o produto polimérico manufaturado ou natural industrializado, com
desenvolvimento voltado para aplicação na construção civil, podendo desempenhar uma ou
mais funções, de acordo com sua composição (AGUIAR, 2015).

Segundo a NBR ISO 10318-1 (2021) - Geossintéticos Parte 1: Termos e definições,


este material possui, dentre outras funções: controle de erosão superficial, drenagem, filtração,
proteção, reforço e separação. Existem inúmeros tipos e aplicações para geossintético e, para
este trabalho o foco será o estudo dos geotêxtil tecido, o qual pode ser definido como o
produto do entrelaçamento de fios, monofilamentos ou laminates (fitas), segundo direções
preferenciais de fabricação denominadas trama (sentido transversal) e urdume (sentido
longitudinal), podendo ser tricotado, quando proveniente do entrelaçamento de fios por
tricotamento (GUANAES, 2009 apud VERTEMATTI et al., 2015). Um dos principais
polímeros utilizados na fabricação de geotêxteis tecido é o polipropileno (PP), matéria prima
termoplástica semicristalina com baixo peso molecular.

Além do polímero como pivô na fabricação dos geossintéticos, é comumente utilizado


aditivos para atingir propriedades desejadas, as quais destacam-se: plastificantes,
antioxidantes e inibidores da ação ultravioleta (anti UV). Os plastificantes são adicionados a
fim de conferir-lhes um aspecto de borracha, aumentando sua flexibilidade, e como esses
geotêxteis são empregados muitas vezes em obras com alta exposição solar, se faz necessário
o uso de anti UV, para garantir durabilidade e conservação das propriedades - o mais comum
deles é o negro-de-fumo. Por fim, os antioxidantes inibem os efeitos de oxidação,
principalmente em ambientes com presença de ozônio.

3.2 PROPRIEDADES DOS GEOSSINTÉTICOS, ENSAIOS E NORMAS


Geossintéticos são utilizados em grande escala nas obras de engenharia e, portanto,
devem atender rigorosos controles de qualidade em sua fabricação, para que sua função seja
cumprida de acordo com o que foi projetado pelo corpo técnico envolvido. Para isso, se faz
necessário a realização de diferentes ensaios, periódicos ou não, que evidenciem a eficiência
de cada material e seu respectivo princípio de utilização. Para o escopo da dessecagem de
lodos e rejeitos úmidos, as características mais importantes em relação aos geotêxteis que
compõem as FTTs são atreladas à resistência à tração e às características hidráulicas, que são
influenciadas pela permeabilidade e porosidade. Sendo assim, será feita uma breve introdução
dos ensaios utilizados para determinar estas características.

3.2.1 Propriedades mecânicas

3.2.1.1 Ensaio de tração faixa larga (ABNT NBR ISO 10319, 2013)

As FTTs quando preenchidas com uma substância fluida, se conformam sob a pressão
interna em formato de círculos achatados, sofrendo grandes esforços de tração na superfície
do geotêxtil. Este fenômeno, que será mais detalhado no capítulo 3.4.3.3, mostra a
importância de se determinar a resistência do geotêxtil à tração. Para esta finalidade é
utilizado o Ensaio de Tração Faixa Larga, normalizado pela ABNT NBR ISO 10.319 (2013).
Este ensaio é de simples execução, onde os corpos de prova de geotêxtil devem ter 200mm +-
1 mm de largura, com um comprimento variável, longo o suficiente para que possa ser preso
às garras do equipamento. A largura de 200m, é necessária para minimizar o efeito de
estricção que o geotêxtil sofre ao resistir esforços de tração. Este efeito é mais pronunciado
em seções estreita, e se caracteriza por uma queda abrupta na resistência.

Neste mesmo ensaio também é obtida a deformação máxima sob tração, que é de
extrema importância no âmbito das FTTs, pois conforme o geotêxtil de deforma, os poros se
alteram e ocorre uma mudança nas características hidráulicas. Portanto é desejável um
geotêxtil que sofra pouca deformação. Existem tecnologias que a costura dos geotêxteis
tecidos é feita de forma a preservar o tamanho dos poros, esta costura é conhecida como
“diamond weaven”.

3.2.2 Propriedades hidráulicas

3.2.2.1 Abertura aparente dos poros (ABNT NBR ISO 12956, 2022)

Esta norma visa determinar a abertura aparente dos poros de uma camada única de
geotêxtil ou material correlato, através do peneiramento úmido com o geotêxtil de um
material granular bem graduado. O resultado é expresso como O90, que é igual ao d90,
correspondente ao diâmetro da peneira na qual 90% da massa do material é passante.

Esta grandeza é extremamente importante no âmbito das FTTs, pois deve-se levar em
conta os critérios de filtração, que utilizam a abertura aparente dos poros para dimensionar o
melhor material filtrante. Caso os critérios de filtração não sejam atingidos, provavelmente
será necessário a polimerização do material, ou a utilização de uma dupla-camada de geotêxtil
com propriedades diferentes, de modo que seja possível atingir os critérios.

3.2.2.2 Permeabilidade normal ao plano (ABNT NBR ISO 11058, 2021)

A norma citada apresenta dois métodos para a determinação da permeabilidade normal


ao plano através de um geotêxtil, sendo indispensável para a determinação da capacidade de
percolação de um filtro geotêxtil. Uma diretriz geral na utilização de geotêxteis para filtros é
de que a permeabilidade do geotêxtil deve ser maior do que a do solo no entorno (Aguiar,
2015). Neste ensaio o corpo de prova é submetido a um fluxo de água unidirecional, sob uma
carga constante ou uma carga variável, determinando-se a permeabilidade do material (figuras
3 e 4).

Figura 3: Método de carga constante .


Fonte: NBR 11058 (2021).

Figura 4: Método da carga variável.


Fonte: NBR 11058 (2021).

3.3 GEOSSINTÉTICOS: APLICAÇÕES USUAIS


Conforme descrito nos tópicos anteriores, reforça-se que a escolha de materiais na
engenharia trabalha diretamente com as propriedades que melhor traduzam as condições
técnicas em que os elementos serão submetidos em sua utilização. Em outras palavras, o
material precisa reproduzir aspectos que são importantes na interação entre o geossintético e o
meio em que está inserido, além de apresentar vida útil suficiente para atender as obras onde
são empregados (BUENO, 2003). A tabela 1 mostra as principais utilizações dos
geossintéticos, sendo os geotêxteis os mais versáteis pelo amplo beneficiamento.

Tabela 1: Funções dos geossintéticos em projetos de engenharia.


Geossintético Separação Proteção Filtração Drenagem Erosão Reforço Impermeabi
lização

Geotêxtil X X X X X X X

Geogrelha X - - - - X -

Geomembrana X - - - - - X

Georrede - X - X - - -

Geocomposto - - - - - - X

Geocélula - X - - X X -

Geotubo - - - X - - -
Fonte: Adaptado de Vertematti (2015).

3.3.1 Filtração e drenagem

Uma das pioneiras na utilização de geossintéticos no Brasil, a tecnologia de filtração


ainda ocupa posição de destaque no mercado. Muito disso se deve às características de alguns
geossintéticos, mais precisamente geotêxteis, de substituir camadas de agregados naturais em
sistemas filtrantes convencionais (AGUIAR et al. 2015), com maior facilidade construtiva,
constância na preservação de propriedades, uniformidade do material, entre outras vantagens
do emprego desse material em obras.

Um desafio para sistemas de filtração é o comportamento do solo dentro do sistema,


principalmente quando se fala de erosão interna, baixa permeabilidade e colmatação. Para
isso, os geossintéticos aplicados a esse tipo de obra devem ser fiéis a alguns critérios: critério
de retenção, onde o filtro deve ter a capacidade de impedir a passagem de partículas do solo
sob ação da água; critério de permeabilidade, que deve proporcionar livre escoamento de
fluidos sem perda de carga; critério de anti colmatação e critério de durabilidade.
(PALMEIRA, 2018).

Para projetos de drenagem, o principal geossintético utilizado é o geocomposto, o qual


deve em priori atender duas propriedades que empreguem ao sistema aspectos requeridos para
a obra: permissividade e transmissividade. Na primeira, o geotêxtil deve possuir
permissividade que contribua para a passagem do fluído de forma satisfatória sem causar poro
pressão no sistema. A segunda, em casos que o geossintético também atua como condutor do
fluido de uma região para outra, deve possuir valores de transmissividade suficientes para que
a transmissão ocorra sem impedimentos e sem pressão. (PALMEIRA, 2018). A seguir nas
figuras 5 e 6, pode-se observar de forma prática a forma como geotêxteis são aplicados em
projetos de engenharia de filtração e drenagem.

Figura 5: Geotêxteis em aplicados como material filtrante em (a) margem de canais, (b)
gabiões e (c) proteção de fundações submersas.
Fonte: Vertematti (2015).
Figura 6: Geotêxteis aplicados em sistemas de drenagem em (a) obras rodoviárias, (b) muros
de arrimo e (c) em base de solo reforçado.
Fonte: Vertematti (2015).

3.4 CONFINAMENTO E DESSECAGEM DE LODOS E LAMAS


A dessecagem de lodos, lamas e rejeitos utilizando formas têxteis já é prática
consolidada no Brasil, sendo comum sua aplicação para lamas de estações de tratamento de
água (ETAs), lodos de estações de tratamento de esgoto (ETEs) e rejeitos de mineração, como
registrado por Muller et al. (2018). Os autores estudaram a aplicação das formas para o lodo
de uma ETA, no qual foi concluído que o desaguamento através desta técnica é de grande
valia, pois ocasiona uma grande redução de volume do lodo (redução em 17 e 25 vezes, nos
dois casos estudados no artigo), ocasionando diminuição com gastos financeiros em
transporte e armazenagem do resíduo.
Para o escopo deste trabalho, será revisitado apenas o setor da mineração, explorando
seus processos, que acabam gerando tais resíduos, buscando defini-los de forma a melhor
compreender o desafio que se impõe para realizar o correto gerenciamento dos resíduos que
estes empreendimentos geram.

3.4.1 Mineração

A indústria da mineração tem uma elevada importância para as cadeias produtivas


mundiais, sendo que os metais, por suas propriedades, são extremamente demandados por
diversas indústrias. A tendência é que com o desenvolvimento de países, indústrias e
tecnologias, a demanda por tais minérios continue a crescer. Entretanto, existe um grande
contratempo que se impõe a esta indústria crescente: de acordo com Soares (2010) diversas
atividades relacionadas aos processos minerários geram uma massa significativa de minérios
que são rejeitados nos processos de lavra e beneficiamento, devido à impossibilidade
técnico-econômica de beneficiamento desta massa, conforme demonstrado na figura 9. Isto
faz com que uma grande porção da produção de minérios seja de rejeitos sem valor
econômico, geralmente com alto teor de umidade que devem receber um descarte adequado.

Figura 7: Gráfico de fração rejeitada em processamento de minérios.


Fonte: Soares (2010).
Examinando-se o quadro acima, percebe-se a proporção na qual são gerados rejeitos
em diferentes empreendimentos de mineração, cada um com foco em um minério. Portanto,
um grande desafio atual das mineradoras é realizar o correto gerenciamento e destinação final
desta volumosa quantidade de rejeitos.
Uma das tecnologias mais utilizadas atualmente para a disposição de rejeitos é a
utilização de barragens de rejeitos, que podem ser construídas com técnicas tradicionais de
terra compactada, rejeitos da etapa de beneficiamento ou com estéril (SOARES, 2010).
Entretanto, antes do lançamento do rejeito nas ditas barragens, é necessário adensá-lo, para
diminuir o volume de água, facilitando o transporte e diminuindo o volume destinado à
disposição final.
Desta forma, existem diversas técnicas utilizadas para o adensamento do rejeito, que serão
exploradas nos capítulos seguintes.
Um dos maiores problemas com a técnica de disposição final em barragens de rejeitos
é que dois grandes acidentes aconteceram no Brasil na última década: o rompimento da
barragem em Mariana (MG) em 2015, e da barragem de Fundão em Brumadinho (MG) no
ano de 2019. Estes acidentes que deixaram diversas vítimas e imensuráveis danos ambientais,
evidenciam a principal desvantagem da técnica da barragem de rejeitos, que é seu alto risco.
De acordo com Soares (2010) entre 1970 e 1998 aconteceram 25 grandes acidentes com
barragens de rejeitos. Devido a estes acontecimentos, diversas medidas foram tomadas para
que o monitoramento das barragens seja mais adequado, mas ainda assim, a técnica vem
sendo vista com maus olhos pela população e também pela indústria. Portanto, novas técnicas
vêm sendo exploradas para a disposição final dos rejeitos de mineração, como é o caso do
confinamento em formas têxteis tubulares, de que trata este trabalho e o estudo de Silva,
(2017), que investigou o uso das FTTs no desaguamento de rejeitos da mineração de outro.
A seguir serão apresentados alguns detalhes dos processamentos de minérios que tem
como objetivo purificar e isolar a fração economicamente valiosa da massa estéril, de modo a
compreender a geração da massa de rejeitos. Estes processos estão cada vez mais inseparáveis
da engenharia ambiental, devido à grande importância do compliance ecológico, afirma
Fuesternau e Han (2011).
De acordo com Fuesternau e Han (2011) o processamento de minérios é a operação de
diferentes unidades com o objetivo de gerar produtos com alta concentração de metais. Estes
processos podem ser de separação física, como moagem, pulverização e peneiramento, que
não alteram a estrutura química dos materiais, como também podem ser processos hidro
metalúrgicos, que invariavelmente irão alterar as propriedades químicas dos minérios, de
acordo com a figura 10.

Figura 8: Unidades de operação.


Fonte: Adaptado de Fuesternau e Han (2011).

Na figura acima é dado um fluxograma genérico, que se refere a possíveis unidades


operacionais aplicadas ao processamento de minério, com exceção das unidades (4) e (6) que
seriam específicas da piro metalurgia. Cada passo no processamento de minério é chamado de
unidade de operação. Estes passos incluem redução do tamanho da partícula, separação por
tamanho, concentração, desaguamento e dissolução aquosa (Fuesternau e Han, 2011).
A seguir serão descritos com maiores detalhes cada unidade de operação de acordo
com as definições fornecidas por Fuesternau e Han (2011).
Redução de tamanho da partícula: O processo de fragmentação e diminuição do
tamanho das partículas tem três funções principais: liberar minérios valiosos da matriz da
rocha, aumentar a superfície de contato das partículas para maior reatividade e facilitar o
transporte de partículas entre as unidades de operação.
Separação por tamanho: a classificação por tamanho de partícula é necessária para
otimizar os processos, e geralmente são utilizadas peneiras para as partículas graúdas e
ciclones para o particulado fino.
Concentração: as propriedades físico-químicas das partículas são utilizadas em
diferentes métodos para realizar a concentração das frações mais valiosas. Estes processos de
concentração podem ser por flotação, gravidade, magnética ou eletrostática.
Desaguamento: a maioria dos processos de concentração de minério ocorre na
presença de água, sendo necessário o posterior desaguamento, diminuindo a umidade e
tornando possível o posterior refino do minério.
Dissolução aquosa: muitos metais são extraídos dos minérios através da dissolução
em ácidos na presença de oxigênio, processo denominado lixiviação. Após a dissolução, os
metais são concentrados e posteriormente recuperados através de reações de redução.
Deste modo, percebe-se a importância das unidades de processamento de minério para
sua concentração e como a água faz parte de processos cruciais, gerando grandes quantidades
de rejeitos aquosos e lamas, que são posteriormente descartados em barragens ou lagoas de
rejeitos.

3.4.2 Alternativas para desaguamento de resíduos

Conforme exposto no tópico anterior, a geração de resíduos com alto teor de umidade
é um problema em diversos processos essenciais à infraestrutura de saneamento e também às
indústrias diversas, principalmente da mineração. Para lidar com essa situação, existem
diversas soluções para realizar o gerenciamento dos resíduos úmidos, onde o primeiro passo,
é diminuir o teor de umidade, aumentando a concentração de sólidos totais e diminuindo o
volume total de resíduo, sendo que a água que vier a ser separada pode ser reutilizada nos
processos originais. Esse processo pode ser dividido genericamente em duas etapas
complementares: o espessamento do lodo e a posterior dessecagem do mesmo.

3.4.3 Espessamento de lodo

O espessamento de lodo, de acordo com Realli (1999), é a primeira etapa da remoção


de água de lodos de ETAs. Entretanto, operações análogas, baseadas nos mesmos princípios
de adensamento podem ser utilizadas em ETEs, resíduos de mineração e etc., sendo que os
equipamentos utilizados devem ser específicos para cada tipo de resíduo. Geralmente, o
espessamento eleva o teor de sólido do resíduo de concentrações mínimas a concentrações de
até 10% de teores de sólidos totais, possibilitando que fases posteriores de desaguamento
possam ocorrer com maior eficiência. Neste trabalho serão expostos alguns dos mais comuns
equipamentos para adensamento de lodo em ETAs, de modo a fornecer uma visão geral sobre
o assunto e os princípios de funcionamento.
Os mais comuns equipamentos de espessamento de lodo em ETAs são os espessadores
por gravidade (adensadores) e por flotação (flotação por ar dissolvido). O primeiro consiste
em um equipamento cilíndrico, com um ponto de alimentação de lodo na parte central, tal
alimentação pode ser feita de forma contínua ou por bateladas. Com o passar do tempo, as
partículas sólidas depositam-se no fundo e o líquido clarificado é coletado por calhas
periféricas na parte superior do tanque, ou por um tubo telescópico central que alcança a
camada de clarificado desejada e realiza a sucção. O equipamento conta com raspadores de
fundo, que empurram o lodo em direção ao centro do tanque, onde existe o tubo de coleta do
lodo espessado (Realli 1999). Segue modelo de tanque adensador na figura 11.

Figura 9: Desenho esquemático de tanque adensador por gravidade, vista em corte.


Fonte: Realli (1999).

Um outro equipamento utilizado para realizar o espessamento de lodo é o espessador


de flotação por ar dissolvido. Realli (1999) afirma que este equipamento vem despertando um
crescente interesse de profissionais do meio, devido à algumas vantagens que esse sistema
apresenta em relação ao espessamento de lodo por gravidade, como uma maior taxa de
alimentação de sólidos e de clarificação, permitindo o uso de unidades mais compactas e
também gerando um lodo mais espessado, com maiores concentrações de sólidos.
O espessador de flotação (figura 12) recebe a alimentação de lodo condicionado com
polímero para causar a floculação das partículas, então são utilizadas microbolhas de ar que se
aderem a estas e causam sua ascensão até a superfície do tanque, onde raspadores de lodo
fazem sua retirada. Já o líquido clarificado é retirado por tubulações no fundo do tanque. A
alimentação de lodo é feita de forma contínua.

Figura 10: Espessador de lodo de flotação por ar dissolvido, vista em corte.


Fonte: Realli (1999).

Após o devido espessamento, um grande volume de água já foi retirado dos devidos
resíduos, e então podem ser aplicados outros métodos que visam a dessecagem dos resíduos,
atingindo níveis de umidade ainda menores e possibilitando o descarte deles em aterros de
resíduos sólidos.

3.4.4 Dessecagem de lodo

A dessecagem, ou desaguamento, dos resíduos úmidos é a etapa final de retirada de


umidade. Após este processo, os resíduos devem ter teores de sólidos de modo a permitir um
descarte economicamente viável e que esteja de acordo com as diretrizes ambientais vigentes.
Para realizar o processo de dessecagem existem diversas técnicas e equipamentos, que podem
ser classificados em três princípios de funcionamento: Natural (por gravidade), mecânico e
híbrido. Os sistemas de dessecagem natural ou por gravidade englobam os leitos de secagem e
as lagoas de lodo, os sistemas mecânicos compreendem os filtros prensa, as centrífugas, os
hidro ciclones e por fim, os sistemas híbridos têm características tanto dos sistemas naturais
quanto dos sistemas mecânicos. Esta denominação engloba as formas têxteis tubulares, ou
geotubos.

3.4.5 Barragens de rejeito

As barragens de rejeitos são estruturas massivas e de concepção complexa, mais


utilizadas para a disposição de rejeitos de mineração, que compreende a fração sem valor
econômico do minério, e é resultante das etapas de processamento deste minério.
A complexidade da disposição destes elementos parte de sua heterogeneidade. Kerr
(2011) afirma que a composição, forma e volume dos rejeitos depende do tipo de exploração
mineral que ocorre, havendo também uma variação do local de instalação da barragem, onde
devem ser levadas em conta variações geológicas, hidro geológicas, topográficas,
climatológicas e principalmente sísmicas. Desta forma, compreende-se a complexidade que
deve ser levada em conta no projeto e gerenciamento das barragens.
Essas estruturas para deposição de rejeitos são desenvolvidas em conjunto com a
operação de mineração, de forma contínua: primeiramente com os levantamentos sobre as
características locais, solos, minerais e área disponível, depois o projeto, que leva em conta
estudos de diferentes alternativas, construção, que pode ocorrer em diversas etapas, conforme
os rejeitos são produzidos e monitoramento, que se torna cada vez mais importante, devido às
recentes tragédias de Brumadinho, Mariana e diversas outras.
Pode haver diversos tipos de conformações para o represamento e construção da
barragem de rejeitos, Kerr (2011) traz diversos exemplos na Figura 16.
Figura 11: Tipos de represamento para barragens de rejeitos.
Fonte: Kerr (2011).

Percebe-se que cada tipo de barragem é adequado a um tipo de topografia, havendo


assim grande adaptabilidade para este método, conforme é visto nas figuras 17, 18 e 19. É
importante que a concepção vise sempre o melhor aproveitamento do ambiente de modo a
elevar a segurança e diminuir custos. Considerações climatológicas e de infiltração no solo
são importantes para que a infiltração dos rejeitos não contamine as águas subterrâneas.
As barragens também podem ser classificadas de acordo com o método de construção,
a montante, a jusante e pela linha de centro. Cada método tem suas características e devem ser
conhecidas no momento do projeto. A seguir, algumas informações sobre cada tipo de
barragem serão expostas, de acordo com as definições por Kerr (2011).

3.4.6 Fôrmas Têxteis tubulares (FTT) para dessecagem de resíduos úmidos

As formas têxteis tubulares são formadas pela costura de diferentes painéis de


geotêxteis com o intuito de formar tubos flexíveis, resistentes, permeáveis e duráveis que
possam atuar como sistema de confinamento e deságue de resíduos. Enquanto os outros
sistemas de deságue dividem-se pelo seu princípio de funcionamento em mecânicos ou
gravitacionais, os tubos geotêxteis são apresentados com a combinação entre tais princípios,
ocorrendo uma sinergia.
O processo de confinamento e dessecagem com os tubos têxteis acontece em duas
etapas principais: primeiramente o resíduo úmido é bombeado para a forma, onde acontecerá
um processo de filtração forçada devido à pressão de bombeamento. Finalizado o
bombeamento, o tubo entra na fase de desaguamento, em que através da força gravitacional
ocorre a consolidação do material causando a saída da água através dos poros do tecido. Nesta
segunda etapa também é presente o processo de evaporação, que contribui para a diminuição
dos teores de umidade. Percebe-se que o mecanismo de desaguamento da filtração forçada é
de ação rápida; já a consolidação e a transpiração têm ação mais lenta e ocorrem
continuamente (MÜLLER et al, 2018). Yee e Lawson (2012) apresentam a seguinte divisão
das fases de preenchimento e consolidação que acontecem em uma fôrma têxtil, que são
descritas e ilustradas nas figuras 20 a 25, a seguir:

a) Fase de preenchimento inicial, onde existe apenas uma zona de suspensão de


partículas dispersas na água. Neste momento existe uma grande vazão de
desaguamento através dos poros do geotêxtil.

Figura 12: Fase inicial de preenchimento.


Fonte: Yee e Lawson (2012).

b) Início da primeira fase de desaguamento, onde as partículas entram em sedimentação,


formando uma zona consolidada no fundo da fôrma e a água continua a drenar através
dos poros.
Figura 13: Início da primeira fase de desaguamento.
Fonte: Yee e Lawson (2012).

c) Fim da fase de desaguamento inicial. Existe uma zona consolidada e uma pequena
vazão de deságue, devido à lenta consolidação das partículas.

Figura 14: Fim da fase de desaguamento inicial.


Fonte: Yee e Lawson (2012).

d) No final da fase de preenchimento subsequente, existem três zonas, uma zona em


suspensão, outra que começou a sedimentar e a zona consolidada ao fundo.
Figura 15: Final da fase de preenchimento subsequente.
Fonte: Yee e Lawson (2012).

e) Início da fase subsequente de desaguamento.

Figura 16: Início da fase subsequente de desaguamento.


Fonte: Yee e Lawson (2012).

f) Fim da fase subsequente de desaguamento.


Figura 17: Fim da fase subsequente de desaguamento.
Fonte: Yee e Lawson (2012).

O princípio de funcionamento das FTT (Fôrmas Têxteis tubulares) é simples,


consistindo na entrada do lodo na fôrma: enquanto a água permeia através dos poros, os
sólidos permanecem confinados no interior. Desta forma, as características importantes no
dimensionamento destes sistemas são: granulometria dos grãos, peso específico seco dos
grãos, volume de lodo a ser desaguado, teor de umidade por peso do lodo e consequentemente
o teor de sólidos por peso do lodo (razão entre a massa de sólidos e a massa total da amostra),
e densidade do lodo. Em posse destes dados, e usando as principais correlações, Vertematti
(2015) propõe a seguinte fórmula para a definição do volume de torta gerado:

𝑇𝑆𝑃𝑙 𝑥 𝑌𝑙 𝑥 𝑉𝑙
𝑉𝑡 = 𝑇𝑆𝑃𝑡 𝑥 𝑌𝑡
(1)

Onde Vt é o volume de torta desaguada, Yt é a densidade da torta, TSPt é o teor de


sólidos em peso da torta, TSPl é o teor de sólidos em peso do lodo, Yl é a densidade do lodo e
Vl é o volume de lodo. Desta forma, é possível realizar projeções da demanda de bolsas para
o encapsulamento dos resíduos em questão, realizando um planejamento do empreendimento.
A seguir serão explorados pontos importantes da utilização das FTTs (Fôrmas Têxteis
tubulares), que são críticas em relação à sua efetividade, e viabilidade.

3.4.5.1 Materiais de confecção

As FTTs (Fôrmas Têxteis tubulares) podem ser confeccionadas de diferentes tipos de


geotêxteis, dependendo das características do material a ser confinado e das necessidades de
resistência do tecido. A seguir será explicado os diferentes tipos de geotêxtil com os quais é
possível a confecção de FTTs, de acordo com o trabalho de Vertematti (2015).
Geotêxtil tecido: este tipo de material é o mais comum na confecção FTTs para
deságue de lodo, em razão da sua elevada resistência à tração, que é necessária para resistir as
tensões atuantes na superfície dos tubos. A baixa deformação máxima também é importante,
pois diminui a alteração nas características de filtração do tecido conforme este é solicitado. A
desvantagem do geotêxtil tecido é sua abertura de poros, que é grande em relação ao material
particulado fino, muito presente nos principais tipos de lodo. É necessário, portanto, a
utilização de polímeros para o efetivo deságue.
Geotêxtil não-tecido: são materiais de resistência baixa, se comparados aos geotêxteis
tecidos, e contam ainda com uma elongação máxima sob tração da ordem de 50%. Desta
forma, os geotêxteis não-tecidos quando utilizados isoladamente, são aptos para a confecção
de pequenos tubos, que não estão sujeitos a grandes tensões. Sua vantagem é que possui poros
de menores dimensões que o geotêxtil tecido, e dessa forma, pode dispensar a utilização de
polímeros quando utilizados no desaguamento de partículas finas.
Geocomposto: quando se utiliza uma combinação de geotêxteis tecidos e não-tecidos,
obtém-se o geocomposto, que se torna um material versátil devido à combinação das
características dos diferentes materiais. Quando deseja-se dispensar a utilização de
polimerização para realizar o desague de materiais finos, e ainda assim confeccionar tubos de
grandes dimensões que atinjam alturas grandes, na ordem de 2m, pode-se empregar o
geocomposto.

3.4.5.2 Polimerização

Este procedimento consiste na adição de polímeros ao lodo a ser desaguado, de modo


a neutralizar as cargas e promover a coagulação, de modo semelhante ao que ocorre nas
estações de tratamento, aumentando a velocidade de sedimentação devido à formação de
flocos, e permitindo que estes sejam retidos na malha do geotêxtil, pois os flocos têm
tamanho suficiente permitir a filtração.
A ação dos polímeros no lodo ocorre com a neutralização das cargas elétricas que
estão na superfície das partículas e impede que as partículas se agrupem, pois as cargas
elétricas iguais se repelem. Esta carga eletrostática também é conhecida como potencial
ZETA. Ao diminuir este parâmetro, pode então ocorrer a coagulação do lodo (PASTOR et al.
2008), como apresentado na figura 26.
Figura 18: Processo de floculação.
Fonte: Pastor et al. (2008).

A etapa seguinte à coagulação é da floculação, que consiste no crescimento dos flocos,


devido ao agitamento da água que permite que os coágulos entrem em contato uns com os
outros. A velocidade da mistura não deve ser demasiadamente elevada para impedir a quebra
dos flocos, que devem ser preservados para permitir a filtração. Este processo geralmente é
executado com a utilização de chicanas misturadoras, que são incorporadas à linha de sucção
e recalque após a injeção de polímero, um exemplo deste equipamento pode ser visto na
figura 27.

Figura 19: Chicanas misturadoras.


Fonte:Autores (2023).
3.4.5.3 Tensões na Geoforma

As formas têxteis devem ser resistentes aos esforços mecânicos de tração, para que
possam confinar o lodo pressurizado, sendo assim, o tecido e as costuras que compõem a
bolsa devem ter resistência e durabilidade adequada de acordo com a aplicação. O
dimensionamento utilizado para determinar a tração solicitada na geoforma pode ser obtida
através do método por Leshchinsky (1996). Este método leva em conta as seguintes
premissas:
● O problema a ser determinado é bidimensional, considerando-se a seção transversal da
geofôrma sendo constante ao longo do tubo. A perda de pressão pelos poros é
desconsiderada e a pressão é determinada na entrada do bocal;
● O geossintético que compõem a forma é fino, flexível e tem a massa desprezível;
● O material de enchimento é considerado fluido, e, portanto, existe uma pressão
hidrostática no interior do tubo;
● Tensões de cisalhamento não ocorrem entre o geossintético e as paredes do tubo.
Assim, é possível através de cálculos determinar os esforços de tração no sentido
circunferencial e longitudinal da geoforma, que são mostrados na figura 28.

Figura 20: Esforços de tração na geoforma.


Fonte: Leshchinsky (1996).

O software GeoCoPs 3.0, também de criação de Leshchinsky, é amplamente utilizado


na indústria para a determinação das tensões na geoforma.
Ao dimensionar os esforços na geoforma, utiliza-se fatores de redução, de modo a
trabalhar com segurança ao se operar o sistema, levando em conta perdas por danos de
instalação, fluência, danos ambientais e resistência das costuras. As costuras geralmente têm
uma resistência inferior ao do geossintético, e formam linhas preferenciais de ruptura, sendo
comum quando ocorrem rompimentos, que estes ocorram nas costuras, conforme a figura 29.

Figura 21: Rasgo na costura em forma têxtil de tubular.


Fonte:Autores (2023).

Desta forma, atualmente na indústria trabalha-se com solicitações de tensões da ordem


de 20% - 30% da resistência nominal das bolsas para dessecagem de lodo.

3.4.6 Ensaios para desaguamento em formas têxteis tubulares

Existem diversos ensaios para a verificação da possibilidade de desaguamento de


lodos, rejeitos e lamas utilizando-se geotêxteis assim como definição dos resultados
esperados. Esses ensaios buscam replicar de alguma maneira a situação real para a qual se
está elaborando o projeto. Entretanto nem todas as variáveis podem ser replicadas em
laboratório, como as grandes dimensões utilizadas para a confecção das formas têxteis de uso
real, as diversas camadas de consolidação de material no interior desta, através dos diversos
enchimentos e o prolongado tempo da consolidação do material sob seu peso próprio.
Portanto, os ensaios têm suas limitações, e mesmo assim, são essenciais para qualquer projeto
de desaguamento utilizando as FTTs.
A seguir serão apresentados os ensaios Hanging Bag Test e o Pillow Test, com suas
características, procedimentos e vantagens. O ensaio do Cone Test, que é o foco deste
trabalho, será detalhado mais profundamente na seção dos procedimentos de ensaio.

3.4.6.1 Hanging Bag Test

Este ensaio é muito utilizado para a verificação da capacidade de desaguamento de


geotêxteis com diferentes tipos de resíduos, tendo sido proposto primeiramente por Fowler
para o Corpo de Engenheiros do Exército Americano (Koerner & Koerner, 2006). É um
ensaio de maiores proporções que o cone test, chegando a utilizar até 175 litros de resíduo a
ser desaguado (Koerner & Koerner, 2006). Este fato desperta interesse pelo teste, pelas suas
grandes proporções, poderia chegar mais próximo de um resultado em escala real.
O teste é conduzido vertendo-se o material a ser desaguado em um saco geotêxtil
pendurado, aguardando-se que o resíduo deságue antes de verter-se mais resíduo
sucessivamente. Deste modo, espera-se obter resultados como taxa de vazão do percolado,
sedimentos passantes no filtro, propriedades da torta desaguada, assim como monitoramento
do tempo em que este processo acontece.
Entre as principais desvantagens deste método é que devido sua grande escala e
grandes volumes de resíduo necessário, é um ensaio mais dispendioso e trabalhoso, inibindo
interesse por parte dos projetistas de pequenos projetos, sendo realizado majoritariamente por
empresas com plenos recursos. Os parâmetros obtidos, em sua maioria, também podem ser
obtidos através do teste de cone, mesmo que com alguma adaptação. A seguir, a figura 30
demonstra o Hanging Bag Test.
Figura 22: Hanging Bag Test.
Fonte: Koerner & Koerner (2006).

3.4.6.2 Pillow Test

Este ensaio é normalizado pela ASTM D7880 (2013), e tem uma escala intermediária
entre o cone test e o hanging bag test, tendo em princípio, a mesma finalidade destes: verificar
a compatibilidade entre diferentes tipos de geotêxteis para o desaguamento de resíduos
úmidos, podendo utilizar polímeros floculantes, obtendo-se os parâmetros de importância:
taxa e volume de percolado, sufusão de partículas através do filtro e características da torta
após desaguamento. O teste consiste na utilização de um reservatório elevado de resíduos, que
por gravidade é inserido em uma bolsa têxtil no formato semelhante a uma almofada, por isso
o nome “Pillow Test”.
Avancini et al. (2021) realizou tanto o pillow test, quanto o cone test, e concluiu que
ambos os testes providenciaram parâmetros representativos dos processos em questão. A
seguir, a figura 31 ilustra o aparato utilizado para a realização do ensaio pillow test em sua
pesquisa.
Figura 23: Ensaio Pillow Test.
Fonte: Avancini et al. (2021).

4 MATERIAIS E MÉTODOS

O ensaio de cone é muito utilizado na indústria da engenharia de desaguamento para


verificar a interação entre rejeito e geotêxtil, e a necessidade de polímeros floculantes. Este
ensaio já foi realizado em diversos estudos como o estudo de FONSECA, et al. (2020). No
presente trabalho, foi decidido realizar diversos ensaios de cone para verificar qual o geotêxtil
mais adequado no desaguamento do rejeito de mineração, entre 3 tipos de geotêxtil diferentes,
utilizando-se polímeros floculantes quando necessário.
Para desenvolver este trabalho, o ensaio foi dividido em 3 etapas: Ensaio preliminar,
para verificar os 3 polímeros mais adequados à floculação do rejeito; Ensaio de
polimerização, para definir as dosagens ótimas de floculação do rejeito com os polímeros
previamente escolhidos; e finalmente o ensaio de cone, de modo a verificar qual geotêxtil é
mais adequado ao desaguamento do rejeito, seja polimerizado com as devidas concentrações
ótimas ou sem utilização de polímero. A seguir será apresentado um fluxograma na Figura 32
para facilitar a compreensão da sequência de ensaios.
Figura 24: Fluxograma da sequência de ensaios.
Fonte:Autores (2023).

Como dito anteriormente, foram realizados diversos ensaios de cone, utilizando-se 3


tipos de geotêxteis diferentes, o GTX-A, GTX-B e GTX-C; os dois primeiros são geotêxteis
tecidos e foi necessária a utilização de polímeros floculantes. Já o GTX-C é feito da
combinação entre um geotêxtil tecido e um geotêxtil não-tecido, portanto não foi necessário a
utilização de polímero, pois o geotêxtil não-tecido, devido suas diversas frentes de confronto
que seus filamentos proporcionam será encarregado de reter os sólidos. A seguir será
apresentado outro fluxograma na Figura 33, para esquematizar os diversos ensaios de cone
realizados.

Figura 25: Fluxograma dos ensaios de cone realizados.


Fonte: Autores (2023).
4.1 MATERIAIS
4.1.1 Rejeito de mineração utilizado

Os rejeitos de mineração são resultantes de diversos processos que tem como


finalidade última a concentração da fração economicamente valiosa dos minérios. No caso em
estudo, o rejeito é extraído de uma mineração de ferro, tem alta concentração de umidade e de
partículas finas. Originalmente, o rejeito era descartado em barragens de rejeitos, onde a
fração sólida se sedimenta e o sobrenadante é reaproveitado para recirculação dos processos.
Devido a diversos incidentes com barragens na última década, existem políticas que foram
impostas com a finalidade de barrar esta prática, como a Resolução Nº 95/2022 que consolida
os atos normativos sobre segurança em barragens de mineração. Portanto a mineradora em
questão optou por utilizar as FTTs como instrumento de encapsulamento dos rejeitos,
filtrando a água, que percola do tubo com boa qualidade e pode ser recirculada.
Para verificação da viabilidade e compatibilidade das FTTs com o rejeito em questão,
os ensaios de cone, como os presentes neste estudo, são realizados. Mas primeiramente é
necessário caracterizar os rejeitos em questão. A figura 34 a seguir, contém um gráfico com a
granulometria dos sólidos que compõem o rejeito de mineração.

Figura 26: Curva granulométrica dos sólidos do rejeito.


Fonte:Autores (2023).
O rejeito refere-se apenas à fração menor que 37 mícrons, que se denomina ultrafino
pela equipe de mineração. Sendo assim, as partículas são menores que as aberturas de poro
características dos geotêxteis utilizados, e portanto, é necessária a utilização de floculantes
para que estas partículas possam formar flocos e então ficarem retidas na trama do geotêxtil.
No caso do geotêxtil não-tecido, mesmo a partícula sendo menor que a abertura de poro
aparente (100 mícrons) a partícula fica retida pois no geotêxtil não tecido existem diversas
frentes de confronto, que consiste a estrutura do geotêxtil, e portanto é mais fácil a formação
do pré-filtro, que permite com que as próprias partículas possibilitem a formação de uma
estrutura que se interliga junto ao geotêxtil, impedindo a fuga de material.

O rejeito foi caracterizado em laboratório, em relação ao teor de sólidos em peso e


umidade da amostra, o procedimento foi realizado de acordo com a NBR 6457/2016, que
prevê secagem em estufa. A seguir, a Tabela 2 com os resultados obtidos do material.

Tabela 2: Dados iniciais do rejeito


Recipiente G01

Tara (g) 31,57

Tara + massa úmida (g) 87,26

Massa úmida (g) 55,69

Tara + massa seca (g) 44,81

Massa seca (g) 13,24

Massa água (g) 42,45

Teor de umidade (%) 321,00

Teor de sólidos (%) 23,80

4.1.2 Geotêxteis utilizados

Para o presente estudo de desaguamento em cone têxtil foram utilizados 2 tipos de


geotêxtil tecido e 1 geotêxtil não tecido. Os cones de desaguamento foram compostos dos
geotêxteis GTX-A e GTX-B, e um terceiro cone da combinação entre o geotêxtil GTX-B e o
geotêxtil não tecido GTX-NT, o material resultante desta combinação será denominado
GTX-C. A tabela 3 informa as propriedades dos 3 tipos de geotêxteis utilizados para realizar
os ensaios de cone.

Tabela 3: Propriedades dos geotêxteis


Propriedade Standard GTX-T (A) GTX-T (B) GTX-NW Unidade

Polímero - PP PP PP -

Resistência Longitudinal ISO10319 105 105 14 kN/m


à tração
Transversal ISO10319 105 105 16 kN/m

Deformação Longitudinal ISO10319 10 10 >50 %


na ruptura
Transversal ISO10319 10 10 >50 %

Abertura de poro ISO12956 0.24 0.40 0.10 mm

Permeabilidade normal ISO11058 20x10^-3 55x10^-3 3x10^3 m/s

Gramatura ASTMD5261 440 440 300 g/m²

Resistência UV DIN EN 12224 90 90 - %

Na figura 35 a seguir são apresentados os corpos de prova circulares, feitos a partir dos
geotêxteis A, B e C. É possível observar que o GTX-C está dobrado, de modo a demonstrar
suas duas faces, a face interna de geotêxtil não-tecido e a face externa de geotêxtil tecido.
Figura 27: Corpos de prova circulares. Da esquerda para direita: GTX-A, GTX-B e GTX-C.
Fonte:Autores (2023).

4.1.3 Polímeros floculantes

Foram utilizados para a floculação polímeros da empresa Kemira, de diversos pesos


moleculares, tanto dos tipos Aniônicos, Catiônicos e Não-Iônicos. Os polímeros são da linha
Superfloc voltados à formação de flocos para dessecagem de lodo. Os polímeros são feitos de
poliacrilamida e são capazes de flocular diferentes tipos de lodo. A seguir na Tabela 4 são
listados os polímeros testados nos ensaios.

Tabela 4: Polímeros utilizados.


Polímero Nomenclatura

Catiônico C-492

Catiônico C-496

Catiônico C-498

Não-Iônico N-300

Aniônico A-137

Aniônico A-150

Aniônico A-100
4.2 MÉTRICAS DE ANÁLISE

Para realizar o ensaio de floculação e posterior desaguamento em cone são utilizados


diversos parâmetros que serão detalhados. Primeiramente é importante explicar a forma de
dosagem do polímero, que é quantificada em PPM, de acordo com a equação a seguir.

𝑉𝑠𝑜𝑙𝑢çã𝑜 𝑥 𝐶𝑠𝑜𝑙𝑢çã𝑜
𝑃𝑃𝑀 = 𝑉𝑟𝑒𝑗𝑒𝑖𝑡𝑜
(2)

Onde PPM é a dosagem em partes por milhão da solução polimérica no volume de


lodo, Vsolução [litros] é o volume de solução polimérica que deverá ser dosada no lodo,
Csolução é a concentração da solução polimérica [mg/l], e Vrejeito [litros] é o volume de
rejeito. Desta forma, é possível calcular facilmente a dosagem de polímero que está diluída no
rejeito. Existe uma busca por diminuir a dosagem mantendo os resultados para melhorar a
economicidade de operação.
Diversos polímeros foram disponibilizados para realizar a floculação do rejeito de
mineração, então foi realizado um ensaio para determinar os 3 melhores, que tivessem
compatibilidade com o rejeito e realizasse uma floculação adequada, formando flocos grandes
e uniformes, com a separação visual das fases sólidas e líquida. Para esta predeterminação de
polímero, amostras de rejeito foram dispostas em lentes de relógio, numa quantidade de 10
ml, e depois adicionada uma quantidade de 1 ml de polímero de concentração 0,1%,
resultando em uma dosagem de 100 ppm. Posteriormente foi feita a análise visual qualitativa
dos flocos.
Após determinado os 3 polímeros mais adequados, iniciou-se um processo para
encontrar a dosagem ótima, que causasse a melhor separação sólido-líquido, ocasionando um
processo de deságue através do geotêxtil que demonstrasse também a compatibilidade dos
flocos formados com o geotêxtil, formando um pré-filtro, maximizando a retenção de sólidos
ao mesmo tempo em que se aumenta o volume de percolado.
Para este ensaio de cone foram então utilizadas amostras de 100 ml de rejeito
homogeneizado, e então foram testadas diversas dosagens, de 70 ppm até que se encontrasse a
dosagem ótima, e então o rejeito floculado foi vertido em um cone formado de uma amostra
circular de geotêxtil tecido, ou geocomposto. O volume de percolado era medido e também
inspecionado visualmente. Ao final do ensaio, determinou-se o teor de umidade do rejeito
filtrado, expresso pela seguinte expressão 2.

(𝑃−𝑃𝑠)
𝑊 = 𝑃𝑠
𝑥 100 (3)

Onde W é a umidade [%], P é o peso total da amostra úmida [g] e Ps é o peso da


amostra seca.
O percolado também foi avaliado através de um ensaio de turbidez, utilizando-se um
turbidímetro digital (tabela 5), que ao lançar feixes de luz sobre uma amostra de 10 ml de
percolado, faz a medição das unidades de turbidez da amostra.

Tabela 5: Dados do turbidímetro digital


Modelo TU430

Faixa de medição (NTU) 0 a 19.9 20.0 a 199.9 200 a 1000

Resolução (NTU) 0.01 0.1 1

Exatidão (NTU) ± 0.5 + 5%

Tempo de resposta 10 segundos

Memória 150 registros

Temperatura de operação (ºC) 0 a 50

Umidade de operação (UR) 10 a 90 %

Em relação ao rejeito filtrado, a partir da obtenção das umidades inicial e após o


desaguamento, e utilizando a densidade seca dos sólidos é possível caracterizar diversos
aspectos do rejeito no âmbito dos sólidos. Um dos aspectos mais importantes é o de conteúdo
de sólidos totais, obtido a partir da equação 3.

𝑃𝑠
𝑇𝑆𝑃 = 𝑃
𝑥 100 (4)

TSP é o teor de sólidos em peso [%], resultando da relação entre Ps que é o peso dos
sólidos secos [g] e P, o peso total da amostra [g]. Uma informação importante para as relações
paramétricas que caracterizam o rejeito é a densidade seca dos sólidos fornecida pela equipe
de operação, e a densidade inicial da amostra úmida (equação 4).

100 𝑥 ρ𝑤 𝑥 𝐺𝑠
ρ = [(100 𝑥 𝐺𝑠) − 𝑇𝑆𝑃 𝑥 (𝐺𝑠−ρ𝑤)]
𝑥 100 (5)

Onde ρ é a densidade do rejeito, 𝜌𝑤 a densidade da água e Gs a densidade seca dos


sólidos.
Existe um parâmetro apresentado na literatura (GUIMARÃES, 2014) chamado de
Eficiência de Desaguamento, o qual é dado pela seguinte equação:

𝑇𝑆𝑓𝑖𝑛𝑎𝑙 − 𝑇𝑆𝑖𝑛𝑖𝑐𝑖𝑎𝑙
𝐸𝐷 = 𝑇𝑆𝑖𝑛𝑖𝑐𝑖𝑎𝑙
(6)

Este parâmetro pode ser utilizado para comparar o aumento do Teor de Sólidos no
rejeito após o deságue, permitindo uma rápida avaliação e também comparação com outros
ensaios.

4.3 PROCEDIMENTOS DE ENSAIO

Diversos polímeros floculantes estão disponíveis no mercado, e igualmente, cada


efluente tem características diferentes. No caso da mineração, o tipo de minério, a cadeia de
processos e a composição do substrato do qual o minério é extraído são fatores que
influenciam na composição do rejeito gerado. Desta forma, não existe ainda possibilidade de
prever as características qualitativas do rejeito gerado. Sendo assim, o ensaio da interação do
rejeito aquoso com o polímero floculante é necessário para definir quais os polímeros têm
compatibilidade com o rejeito e resultam na floculação.

4.3.1 Ensaios preliminares

Inicialmente, em caráter qualitativo, amostras de 10ml de lodo foram separadas em


lentes. A quantidade de amostras é diretamente correlacionada com a quantidade de
condicionantes químicos disponíveis para validação.

Cada ensaio preliminar foi realizado da seguinte forma:


1. Lente com amostra de 10ml de lodo foi preparada;

2. Solução polimérica com o condicionante químico avaliado foi adicionada na


amostra de lodo, em dosagem de 100 ppm;

3. Com o auxílio de um bastão de vidro (misturador) o lodo e a solução polimérica


foram misturados, até a completa dissolução da solução de polímero no lodo;

4. Ao final da mistura, avaliou-se qualitativamente a formação de flocos.


Observando-se seu tamanho, resistência e separação do clarificado.

Com a execução deste ensaio preliminar para os condicionantes químicos disponíveis,


os mais eficientes podem então ser selecionados. Dessa forma diversos polímeros foram
testados até que se encontrasse os 3 polímeros mais adequados, que causaram uma formação
de flocos de tamanho adequado e a imediata separação das fases (sólido e líquido).

4.3.2 Ensaio de polimerização

Após definidos os polímeros, foi feito o estudo da dosagem, de modo a definir a


dosagem mais eficiente, que possibilitasse o uso adequado de recursos, gerando também um
bom resultado de deságue, cujos parâmetros considerados serão definidos a seguir.

Os ensaios de polimerização foram realizados da seguinte forma:

1. Solução polimérica foi preparada, com concentração conhecida, geralmente de 1,0 g/l;
2. Amostras de lodo foram separadas, com volume conhecido, geralmente 100 ml;
3. Dosagem estipulada de solução polimérica foi inserida no lodo e processo de mistura
por 14 quedas foi realizado. Cada “queda” corresponde ao ato de verter-se o líquido de
um recipiente para o outro para misturá-los.
4. Ao final da mistura, avalia-se qualitativamente a formação de flocos. Observando-se
seu tamanho, resistência e separação do clarificado.

4.3.3 Ensaios de cone

Sabendo da qualidade das dosagens de solução polimérica no lodo, ensaios de cone


puderam ser realizados. O ensaio de cone aponta a eficiência do geotêxtil escolhido na
retenção do particulado sólido do lodo, na drenagem do percolado e em sua qualidade. Foram
realizados ao todo 7 ensaios de cone, 6 ensaios utilizando-se os 3 polímeros escolhidos em
suas dosagens ótimas combinando-se com os geotêxteis A e B, e 1 ensaio de cone foi
realizado sem polímero, utilizando-se o geotêxtil composto C.

Os ensaios de cone foram realizados da seguinte forma:

1. Cortou-se um corpo de prova geotêxtil e lavando-o em água corrente. Com a ajuda


de um clip, formou-se um cone com o geotêxtil;

2. Posicionou-se o cone geotêxtil sobre um Becker;

3. Verteu-se o lodo previamente condicionado quimicamente, com dosagem


conhecida, dos ensaios de polimerização;

4. Avaliou-se a retenção do particulado sólido (flocos), ligação entre material retido e


superfície geotêxtil e qualidade do percolado.

Ilustrados na figura 39, estão 3 amostras de 100ml de rejeito devidamente


polimerizado, com os polímeros previamente definidos, cada um com sua dosagem ótima (em
ppm) para o ensaio de cone.

Figura 28: Polímeros e dosagens escolhidas. A) Polímero A137 na dosagem de 200 ppm, B)
Polímero N300 na dosagem de 300 ppm, C) Polímero A100 na dosagem de 170 ppm.
Fonte:Autores (2023).

A seguir, as amostras de 100 ml de rejeito polimerizadas foram vertidas nos cones


têxteis, conforme ilustrados na figura 40 a seguir com alguns exemplos. Uma exceção neste
ensaio, é que para o ensaio do GTX-C a amostra de rejeito não foi polimerizada antes da
realização do ensaio, pois o geotêxtil não-tecido na parte interna do cone retém o particulado
fino.

Figura 29: Ensaio de cone e turbidez. (A) GTX-A com polímero N300 na dosagem de 300
ppm, (B) GTX-B com polímero N300 na dosagem de 170 ppm.
Fonte:Autores (2023).

No caso do GTX-C não foi utilizado polímero, pois o geotêxtil não-tecido propicia
boa retenção do particulado fino. A figura 41 a seguir traz o registro do ensaio de cone com o
GTX-C.

Figura 30: Ensaio de cone do GTX-C.


Fonte:Autores (2023).
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO

5.1 ENSAIOS PRELIMINARES

Os polímeros que promoveram a melhor floculação, com formação de flocos grandes e


uniformes foram os seguintes polímeros da marca Kemira: A100, A 137 e N300, sendo os
dois primeiros polímeros aniônicos e o terceiro um polímero não-iônico. As figuras 36 a 38, a
seguir, trazem o resultado do ensaio, permitindo avaliação visual dos flocos.

Figura 31: Ensaio preliminar polímero A100.


Fonte:Autores (2023).

Figura 32: Ensaio preliminar polímero A137.


Fonte:Autores (2023).
Figura 33: Ensaio preliminar polímero N300.
Fonte:Autores (2023).

5.2 ENSAIO DE POLIMERIZAÇÃO

Ao final destes ensaios, várias dosagens foram avaliadas, de tal modo que foi
perceptível a passagem de dosagem insuficiente de condicionante químico, passando pela
dosagem ótima e chegando em dosagem exagerada. A percepção das dosagens insuficientes é
indicada por flocos pequenos e quebradiços, com qualidade do sobrenadante turva, ou não
formação de flocos. As dosagens próximas da ótima possuem flocos de tamanho homogêneo,
resistentes, com boa separação do sobrenadante, este estando límpido. A percepção das
dosagens exageradas é vista através de flocos muito grandes, de tamanhos distintos, e com o
sobrenadante espesso e viscoso.
As dosagens definidas após o ensaio de polimerização são descritas na tabela 6 a
seguir.

Tabela 6: Dosagens ótimas definidas no ensaio.


Polímero Dosagem ótima (ppm)

N300 300

A100 170

A137 200
5.3 ENSAIO DE CONE

A partir dos ensaios descritos no item anterior, foram obtidos valores médios de teor
de umidade e teor de sólidos do material retido, onde foi possível observar um melhor
desempenho nas duas utilizações com o polímero N300, mas destacando-se o GTX-A, que
apresentou os menores teores de umidade (95,33%) e maiores teores de sólidos (51,20%) do
ensaio, conforme mostra a tabela 7.

Tabela 7: Média do teor de umidade e teor de sólidos


Geossintético Polímero Teor de sólidos (%) Teor de umidade (%)

N300 51.30 95.10

GTX-A A100 49.40 102.30

A137 47.90 108.60

N300 51.10 95.80

GTX-B A100 48.90 104.70

A137 43.30 131.00

GTX-C - 39.60 152.40

A partir destes dados foi elaborado um gráfico, relacionando os teores de sólidos em


peso e teores de umidade alcançados e os respectivos geotêxteis e polímeros utilizados, para
melhor visualização e análise das informações (Figuras 42 e 43).
Figura 34: Teor de sólidos em peso alcançados.
Fonte:Autores (2023).

Figura 35: Umidade alcançada após deságue.


Fonte:Autores (2023).

Um segundo parâmetro observado através do ensaio foi o volume de material


percolado no sistema. Pode-se verificar que a combinação do geossintético GTX-A com
polimerização através do polímero N300 na dosagem de 300 obteve o maior volume
percolado no ensaio. Por outro lado, o geossintético GTX-A combinado ao polímero A100 na
dosagem de 170 obteve bons resultados, uma vez que a concentração utilizada é de 56% e o
volume de percolação atinge 63% em relação ao GTX-A(N300). Isso é um ponto que pode ser
levado em consideração, uma vez que se envolve um maior custo para atingir a dosagem do
N300, pela quantidade de material adicionado. O geossintético GTX-C, que foi ensaiado sem
a utilização dos polímeros obteve resultados satisfatórios de volume percolado, entretanto, a
turbidez observada foi deveras extrapolada em relação aos demais testes realizados, pois
como não houve a utilização de polímero, o particulado não se aglomera em flocos passando
com mais facilidade nos poros do geotêxtil, até que ocorra a formação do pré-filtro, onde as
partículas maiores formam uma estrutura que acaba segurando as partículas mais finas. A
comparação dos resultados é demonstrada na tabela 8 a seguir.

Tabela 8: Volume percolado em ensaio de cone.


Volume percolado
Geossintético Polímero Dosagem (ppm) (mL)

N300 300 65

GTX-A A100 170 41

A137 200 32

N300 300 57

GTX-B A100 170 25

A137 200 21

GTX-C - - 44

Da mesma forma realizada anteriormente, é considerado importante a representação


gráfica dos resultados para facilitar a avaliação, resultando na figura 44 a seguir.

Figura 36: Volume de percolado no deságue.


Fonte:Autores (2023).
Por fim, foram obtidos valores de turbidez do material percolado, utilizando-se um
turbidímetro que retorna valores em NTU (unidade de turbidez), com faixa que varia de 0 a
1000 NTU. A combinação que melhor apresentou valores de turbidez foi o geossintético
GTX-A com polímero A100 em 170 ppm com valores de 22,9 NTU, conforme ilustrado na
tabela 9. É possível observar o alto valor de turbidez quando percolado sem a presença de um
polímero, comprovando a importância e eficiência de sua utilização no sistema.

Tabela 9: Resultado do ensaio de turbidez.

Geossintético Polímero Turbidez (NTU)

N300 44.80

GTX-A A100 22.90

A137 25.20

N300 53.60

GTX-B A100 141.10

A137 180.80

GTX-C - 805

A partir dos dados acima é possível obter o seguinte gráfico, demonstrando a diferença
nos valores de turbidez obtidos com as diferentes combinações de geotêxteis e polímeros
(Figura 45).
Figura 37: Turbidez do percolado após desaguamento. (Fonte: AUTORES, 2022).

Comparando os dados disponibilizados nos ensaios realizados, pode-se concluir que a


melhor combinação de polímero e geossintético para o rejeito de mineração estudado foi o
GTX-A polimerizado com N300 na dosagem de 300 ppm. Este obteve o maior volume de
percolado, o menor teor de umidade e o maior teor de sólidos. Entretanto, no parâmetro
turbidez, o geotêxtil mais adequado continua sendo o GTX-A, mas com o polímero A100, que
obteve uma turbidez de 22,9. Isso pode ser explicado pois a abertura de poro característica do
GTX-A é menor do que a do GTX-B, permitindo maior retenção do particulado. De acordo
com a resolução nº 357 do CONAMA (2005), a turbidez máxima admitida para água doce é
de 40 NTU e, portanto, não atenderia a esse órgão, caso o efluente fosse lançado aos rios,
fazendo-se necessário melhorias nos resultados de turbidez do sistema.
Por fim apresenta-se a Eficiência de Desaguamento obtido nos ensaios. A tabela 10 a
seguir traz os referidos dados.

Tabela 10: Eficiência de desaguamento.

Geossintético Polímero ED (%)

N300 116

GTX-A A100 108

A137 102
N300 115

GTX-B A100 106

A137 82

GTX-C - 67

A eficiência de drenagem é um dado importante para compararmos os resultados das


amostras, entretanto, a comparação pode se tornar problemática ao comparar-se com o
processo de desaguamento de outras substâncias com características diversas, como lodo de
ETA. Fonseca et al. (2022) por exemplo, utilizando o ensaio de cone para desaguamento de
lama de ETA, obteve valores de ED entre 80 e 88%, entretanto, a lama inicialmente tinha uma
umidade de mais de 400%, ou seja, maior quantidade de água livre. Existem trabalho como o
de Guimarães et al. (2014), que estudam o desaguamento em geobags obtendo valores de
ED de mais de 1500%, entretanto, com mais de 160 horas de desaguamento, e utilizando
também um rejeito com umidade inicial elevada (7000%). Portanto, estes fatores de eficiência
são muito elásticos, a depender do tipo de rejeito e sua umidade inicial. Caso a umidade seja
muito elevada, a maior parte desta água corresponde à água livre, que é de fácil eliminação,
aumentando desta maneira os valores de eficiência de desaguamento. Portanto, o
recomendado é que a ED seja utilizada para comparações do desaguamento dos mesmos tipos
de resíduos ou correlatos.
6 CONCLUSÃO

As FTTs mostram-se, de acordo com suas características previamente expostas,


mostram-se uma técnica de simples funcionamento, sendo que o Ensaio de Cone pode e deve
ser utilizado para estudo do processo de desaguamento, auxiliando a escolha do geotêxtil e
polímero mais adequados previamente ao início da operação com a geoforma em escala real.
As conclusões do trabalho se deram por uma análise crítica dos resultados, levando-se
em conta a natureza de cada geotêxtil e os polímeros utilizados. Entre os resultados obtidos,
destaca-se uma diminuição da umidade de até 70% com o GTX-A utilizando o polímero
N300, aumentando-se ainda o teor de sólidos em peso em 116%. Entretanto deve-se observar
os parâmetros de projeto, pois se existir uma necessidade de melhorar a qualidade da turbidez
do percolado, poder-se-ia considerar o GTX-A utilizando o polímero A100.
Desta forma percebe-se a importância de considerar as diferentes necessidades de
projeto ao realizar os ensaios, buscando-se maximizar os parâmetros relevantes. De todo
modo, todas as finalidades do deságue são atendidas por todas as combinações utilizadas,
diminuindo-se o volume de rejeito com a percolação da água e aumentando-se os teores de
sólidos, obtendo-se uma massa mais estável. O que se deve avaliar é a questão de quais
parâmetros se está buscando. Se existir a impossibilidade de utilização de polímero, a opção
deverá ser pelo GTX-C, que mesmo sem polímeros obteve uma eficiência de deságue de 67%,
que é o mesmo que dizer que houve um aumento de 67% no teor de sólidos. O fato de não
utilizar polímero tem potencial de gerar grande economia para o projeto.
A partir da análise destes resultados seria possível prosseguir com maior segurança e
conhecimento para uma etapa real de projeto com a utilização de formas têxteis em tamanho
real. A partir da revisão bibliográfica sobre as formas têxteis tubulares para deságue e os
resultados dos ensaios pode-se concluir que estas são soluções relevantes para a administração
de rejeitos de mineração, oferecendo alternativas eficientes e seguras, ao encapsular no fim do
processo o rejeito em questão, e ainda contribuir no encapsulamento com a resistência do
material.
Por fim, é importante ressaltar algumas limitações do ensaio: levando em consideração
que o rejeito de início apresentou altos teores de sólidos, sua mistura com o polímero foi
dificultosa, mesmo com 14 ciclos de mistura, pode ser avaliado aumentar-se os tombos quanto
maiores forem os teores de sólidos, para facilitar o processo de polimerização. O processo de
deságue com o GTX-C não é plenamente compreendido, pois sabe-se que conforme a
colmatação dos poros do geotêxtil não-tecido interno acontece, a qualidade do percolado
melhora. Podem ser realizados futuramente, diversos ciclos de preenchimento em uma mesma
amostra de geotêxtil não-tecido combinado com geotêxtil tecido, de forma semelhante ao
GTX-C de forma a observar a melhora na qualidade do percolado e a evolução dos teores de
sólidos conforme os ciclos de preenchimento. O ensaio de cone, mesmo sendo amplamente
utilizado na indústria de deságue, de um modo geral ainda tem potencial de desenvolvimento
e padronização, de forma a atender diversos tipos de rejeito, lodos e lamas com maior
confiabilidade, e portanto, devem ser realizados esforços para padronizar e otimizar o ensaio,
podendo vir a tornar-se no futuro uma norma. Isso agregaria de forma relevante ao tratamento
dos resíduos utilizando as FTTs.
7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ABNT NBR ISO 10.319 (2013) Geossintéticos - Ensaio de tração faixa larga.

ABNT 11.058 (2021) Geotêxteis e produtos correlatos - Determinação das características de


permeabilidade hidráulica normal ao plano e sem confinamento

AVANCINI, L. L. S., et al. (2021). Application of polyelectrolytes for improving the dewatering
performance of drinking water treatment sludge using geotextiles. Ambiente & Água - An
Interdisciplinary Journal of Applied Science.

CORDEIRO, J. S. (1999). Remoção de água de lodos por filtração forçada. in. REALI, M. A. P.
(1999). Noções gerais de tratamento e disposição final de lodos de estações de tratamento de
água. Rede Corporativa de Pesquisas, Projeto PROSAB, ABES, Rio de Janeiro, Brasil.

FONSECA, R. S. C. et al. (2022). Avaliação da Eficiência de Geossintéticos no Desaguamento de


Lodo da Estação de Tratamento de Água (ETA) do Município de Guaratinguetá - SP. COBRAMSEG
2020 - VI Conferência Sul Americana de Engenheiros Geotécnicos Jovens.

FUESTERNAU, M. C., HAN, K. N. Introduction to Mineral Processing. in DARLING, P. (2011).


Mining Engineering Handbook. Third Edition. Society for Mining, Metallurgy and Exploration.
(U.S.)

GONÇALVES, R. F. et al. (1999). Gerenciamento do lodo de lagoas de estabilização não


mecanizadas. Projeto PROSAB. Departamento de Hidráulica e Saneamento. Centro Tecnológico,
Universidade Federal do Espírito Santo

GUANAES, E. A. (2009). Análise laboratorial do desaguamento do lodo residual de estação de


tratamento de água por meio de geossintéticos. Dissertação, Departamento de Engenharia Civil,
Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais, Belo Horizonte, Brasil.

GUIMARÃES, M. G. A. et al. (2014). Dewatering of sludge from a water treatment plant in


geotextile closed systems.

KERR, T., ULRICH, B. Tailings impoundments and Dams. in DARLING, P. (2011). Mining
Engineering Handbook. Third Edition. Society for Mining, Metallurgy and Exploration. (U.S.)

KOERNER, G. R., KOERNER, R. M. (2006). Geotextile tube assessment using a hanging bag test.
Geotextiles and Geomembranes 24 (2006) 129–137

LEONEL, R. F. (2020). Polímeros e Cerâmicas. Curitiba: InterSaberes, 2020. (Série panorama da


química.

LESHCHINSKY, D., LESHCHINSKY, O. (1996). GeoCoPs 2.0 Supplemental Notes. ADAMA


Engineering, USA. 24 p.

MÜLLER, M. et al. (2020). Dewatering of sludge from a sewage treatment plant with geotextile
tubes. GeoAmericas2020 – 4th Pan American Conference on Geosynthetics

PALMEIRA, E. M. (2018). Geossintéticos em geotecnia e meio ambiente. São Paulo: Oficina de


textos, 2018.
REALI, M. A. P. (1999). Noções gerais de tratamento e disposição final de lodos de estações de
tratamento de água. Rede Corporativa de Pesquisas, Projeto PROSAB, ABES, Rio de Janeiro,
Brasil.

SOARES, L. (2010). Barragem de rejeitos. Comunicação Técnica elaborada para o Livro


Tratamento de Minérios, 5ª Edição – Capítulo 19 – pág. 831–896. Editores: Adão B. da Luz, João
Alves Sampaio e Silvia Cristina A. França.

SILVA, LAÍS CRISTINA FREITAS. (2017).Utilização de tubos geotêxteis para confinamento,


desaguamento e empilhamento de rejeito de ouro. 159 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de
Geotecnia e Transportes, Geotecnia, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2017.

VERTEMATTI, J.C. et al. (2015). Manual brasileiro de geossintéticos. 2. ed., Blucher, São Paulo, BR,
570 p. ABNT. Associação brasileira de normas técnicas.

YEE, T. W., LAWSON, C. R. (2012). Modelling the geotextile tube dewatering process.
Geosynthetics International, 2012, 19, No. 5

Você também pode gostar