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Técnicas de demolição de edifícios correntes

Technical Report · September 1999


DOI: 10.13140/RG.2.1.2027.0565

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1 author:

Jorge de Brito
University of Lisbon
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INSTITUTO SUPERIOR TÉCNICO

MESTRADO AVANÇADO EM CONSTRUÇÃO E


REABILITAÇÃO

CADEIRA DE CONSTRUÇÃODE EDIFÍCIOS

TÉCNICAS DE DEMOLIÇÃO DE EDIFÍCIOS CORRENTES

Jorge de Brito

Setembro de 1999
ÍNDICE

1. Introdução 1
2. Classificação das técnicas de demolição 4
2.1. Generalidades 4
2.2. Técnicas com recurso a equipamento mecânico 6
2.2.1. Generalidades 6
2.2.2. Demolições por embate, empuxe, tracção ou escavação 7
2.2.2.1. Ferramentas manuais 7
2.2.2.2. Martelos pneumáticos, hidráulicos ou eléctricos 7
2.2.2.3. Demolições por impacto 10
2.2.2.4. Demolições com retro-escavadoras, giratórias ou pá de arrasto e
acessórios 13
2.2.2.5. Demolições por tracção de cabos 19
2.2.2.6. Demolições por derrube ou afundamento 19
2.2.3. Demolições por rebentamento interior 20
2.2.3.1. Cavilhas mecânicas 20
2.2.3.2. Quebrador de cunhas (“Darda”) 21
2.2.3.3. Quebrador de pistões 23
2.2.3.4. Macacos planos 24
2.2.4. Demolições por esmagamento pelo exterior 24
2.3. Processos térmicos 26
2.3.1. Lança térmica 26
2.3.1.1. A oxigénio 26
2.3.1.2. A pólvora 28
2.3.2. Maçarico 29
2.3.2.1. A pólvora 29
2.3.2.2. A plasma 31
2.3.3. Laser 32
2.4. Uso controlado de meios explosivos 33
2.4.1. Explosões 33
2.4.1.1. Mecanismo tipo telescópio 35
2.4.1.2. Mecanismo tipo derrube 35
2.4.1.3. Mecanismo tipo implosão 35
2.4.1.4. Mecanismo tipo colapso sequencial 37
2.4.2. Micro-explosão 37
2.4.3. Expansão 38
2.4.3.1. Expansão lenta com gás 38
2.4.3.2. Expansão súbita com gás 39
2.4.3.3. Expansão com cal viva 39
2.4.3.4. Expansão química 40
2.5. Processos abrasivos 41
2.5.1. Corte diamantado 41
2.5.1.1. Serra com disco 42
2.5.1.2. Serra com fio 44
2.5.1.3. Carotagem 46
2.5.2. Corte com carborundo 47
2.5.3. Jacto de água (hidrodemolição) 47
2.5.4. Jacto de água e areia 49
2.6. Processos eléctricos 50
2.6.1. Aquecimento das armaduras (indução de calor) 50
2.6.2. Electrofractura 50
2.6.3. Aquecimento induzido de um material ferromagnético 51
2.6.4. Arco voltaico 52
2.6.5. Microondas 53
2.7. Processos químicos 53
2.7.1. Ataque químico 54
2.7.2. Ataque electro-químico 55
2.8. Selecção dos métodos a adoptar 55
2.8.1. Em função do tipo de construção 56
2.8.2. Em função de uma caracterização técnico-económica 58
2.8.3. Em função do seu desempenho pseudo-quantitativo 58
2.8.4. Em função da análise da sua adequabilidade 60
2.8.5. Algumas conclusões 61
3. Trabalhos preliminares e posteriores à demolição 66
3.1. Escolha do empreiteiro 66
3.2. Avaliação da situação estrutural 68
3.3. Licenças a obter 69
3.4. Corte de serviços 69
3.5. Montagem de equipamento 70
3.6. Estrutura de contenção de fachada 70
3.7. Remoção de produtos sobrantes 72
3.8. Trabalhos posteriores 73
3.9. Demolições por implosão 73
4. Processos e sequência de demolição 75
4.1. Processos de demolição 75
4.1.1. Demolição elemento a elemento 75
4.1.1.1. Demolição manual 75
4.1.1.2. Demolição por desmantelamento 76
4.1.2. Demolição com controlo reduzido 78
4.1.2.1. Demolição por empuxe 78
4.1.2.2. Demolição por impacto e tracção 79
4.1.2.3. Derrube por tracção de cabos 79
4.1.2.4. Demolição por explosão 80
4.1.3. Demolição sem controlo 81
4.1.3.1. Demolição por impacto 81
4.1.3.2. Colapso deliberado 81
4.2. Sequência de demolição elemento a elemento 82
4.2.1. Demolição de edifícios de alvenaria tradicional 84
4.2.2. Demolição de edifícios de betão armado ou pré-esforçado 90
4.2.2.1. Lajes 91
4.2.2.2. Vigas 93
4.2.2.3. Pilares e paredes 93
5. Segurança durante a demolição 95
5.1. Regulamentação nacional 95
5.2. Medidas gerais de segurança 98
5.2.1. Aspectos relacionados com o pessoal 99
5.2.2. Vestuário de trabalho e equipamento de protecção e segurança 99
5.2.3. Equipamento e materiais de demolição 99
5.2.4. Equipamentos de protecção colectiva 100
5.3. Medidas de segurança específicas de determinadas técnicas 100
5.3.1. Corte de betão 100
5.3.2. Implosão 101
5.4. Escoramento das construções vizinhas 101
6. Bibliografia 103
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Técnicas de demolição de edifícios correntes por Jorge de Brito

TÉCNICAS DE DEMOLIÇÃO DE EDIFÍCIOS CORRENTES

1. INTRODUÇÃO

A demolição pode ser definida como o conjunto de trabalhos efectuados para remover uma
estrutura existente e para viabilizar o reaproveitamento do mesmo espaço. Pode ser efectuada,
com carácter global ou parcial, quer em construções com alguns anos de utilização quer em
construções recém-construídas. Os factores que propiciam a demolição das primeiras
incluem:

 adaptação a novos condicionalismos funcionais;


 reforço estrutural;
 deformações a longo prazo consideradas excessivas;
 imposições regulamentares (retrofitting);
 anomalias de durabilidade;
 catástrofes naturais (sismo) ou humanas (explosão).

As construções acabadas de construir poderão ter de ser demolidas pelas seguintes razões:

 alteração do projecto;
 incompatibilidades entre projectos de diferentes especialidades;
 erros / deficiências de projecto e/ou de construção;
 acidentes.

Este documento pretende servir de apoio aos alunos do Mestrado Avançado em Construção e
Reabilitação do Instituto Superior Técnico na Cadeira de Construção de Edifícios. Foca o
capítulo dessa mesma cadeira dedicado às técnicas de demolição que, tal como toda a restante
matéria, se restringe fundamentalmente aos edifícios correntes.

O documento aborda fundamentalmente os seguintes assuntos relacionados com a demolição


de edifícios correntes: classificação e descrição sumária das técnicas de demolição

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Técnicas de demolição de edifícios correntes por Jorge de Brito

disponíveis, independentemente da maior ou menor frequência da sua utilização na indústria


da construção, nomeadamente em Portugal; descrição de todos os trabalhos que devem
preceder uma operação de demolição e das diligências a tomar após essa mesma operação;
descrição dos diversos métodos gerais de demolição de edifícios, da sequência a adoptar e de
algumas operações individualizadas; finalmente, uma alusão aos aspectos relacionados com a
segurança no contexto específico da demolição.

A elaboração deste documento não resultou de investigação específica sobre o tema efectuada
pelo seu Autor mas sim de alguma pesquisa bibliográfica, da consulta dos profissionais do
sector, da organização de um Seminário de Especialização sobre o tema e de monografias
escritas realizadas por alunos do Instituto Superior Técnico, tanto na Licenciatura em
Engenharia Civil como no Mestrado em Construção. Assim, muita da informação nele contida
poderá também ser encontrada nos seguintes textos, que não serão citados ao longo do texto:

 Jorge de Brito, “Descrição Sumária das Técnicas de Demolição de Edifícios Correntes”,


Seminário sobre Técnicas de Demolição de Edifícios Correntes, FUNDEC / ICIST, Junho
de 1999, Lisboa;
 Vitor Santos, “Demolição Elemento a Elemento de Edifícios de Alvenaria Tradicional”,
Seminário sobre Técnicas de Demolição de Edifícios Correntes, FUNDEC / ICIST, Junho
de 1999, Lisboa;
 Raul Gomes, “Demolição com Recurso ao Uso Controlado de Explosivos”, Seminário
sobre Técnicas de Demolição de Edifícios Correntes, FUNDEC / ICIST, Junho de 1999,
Lisboa;
 Rita Moura e Jorge de Brito, “Técnicas de Demolição Inovadoras e/ou Menos Correntes”,
Seminário sobre Técnicas de Demolição de Edifícios Correntes, FUNDEC / ICIST, Junho
de 1999, Lisboa;
 Duarte Simões, “Sistemas Mecânicos Não Convencionais de Demolição de Betão
Armado”, Monografia apresentada no 8º Mestrado em Construção, Instituto Superior
Técnico, 1999, Lisboa;
 Nuno Valente, Nuno Araújo, Filipe Temporão e Rui Carvalho, “Demolições com Recurso
a Explosivos”, Monografia apresentada na Licenciatura em Engenharia Civil, Instituto
Superior Técnico, 1998, Lisboa;

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 Ana Sampaio, Renata Reis, Nuno Reis e Carlos Graça, “Monografia sobre Demolições”,
Monografia apresentada na Licenciatura em Engenharia Civil, Instituto Superior Técnico,
1999, Lisboa;
 Ana Pereira, Carlos Rodrigues e Natércia Trindade, “Processos Não Tradicionais de
Demolição”, Monografia apresentada na Licenciatura em Engenharia Civil, Instituto
Superior Técnico, 1999, Lisboa;
 Nuno Vieira, Febin Naguindás, Pedro Margaça e Filipa Melo, “Demolições”, Monografia
apresentada na Licenciatura em Engenharia Civil, Instituto Superior Técnico, 1999,
Lisboa;
 Gonçalo Nuno, Ricardo Baptista, Rui Bóia e Ricardo Antunes, “Demolições - Processos
Mecânicos e Térmicos”, Monografia apresentada na Licenciatura em Engenharia Civil,
Instituto Superior Técnico, 1999, Lisboa.

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2. CLASSIFICAÇÃO DAS TÉCNICAS DE CLASSIFICAÇÃO

2.1. GENERALIDADES

O objectivo principal deste capítulo é o de listar e descrever de uma forma muito sucinta as
técnicas de demolição de edifícios correntes disponíveis no mercado, nacional e internacional
e até mesmo ao nível da investigação.

Assim, são aqui descritas técnicas que se englobaram nos seguintes grupos principais (ver
Quadro 1): com recurso a equipamento mecânico, processos térmicos, uso controlado de
meios explosivos, processos abrasivos, eléctricos e químicos. Dentro dos grupos principais,
definiram-se subgrupos e, dentro destes e sempre que se justificava, variantes. Daqui resultou
um número bastante elevado de técnicas que vem demonstrar inequivocamente que esta é
uma indústria na qual se aposta em termos de novas tecnologias.

Nas operações de demolição de edifícios correntes ou de qualquer outro tipo de estrutura,


existe actualmente uma multitude de técnicas disponíveis. Estas técnicas podem nalguns
casos ser facilmente integradas em grupos, em face da sua semelhança ou da proximidade do
seu princípio de funcionamento. Em muitos casos, no entanto, cai-se em situações de fronteira
dificilmente classificáveis e, noutros ainda, recorre-se a equipamento de origem diversa.
Finalmente, regista-se um desenvolvimento significativo em termos de sistemas inovadores,
ao mesmo tempo que alguns outros se tornam funcional ou economicamente obsoletos,
nalguns casos nunca chegando a ultrapassar a fase experimental.

Por todas estas razões, torna-se difícil encontrar um sistema que se afigure universalmente
consensual. Uma outra dificuldade não negligenciável é o facto de, em diferentes países ou
diferentes meios do mesmo país, haver por vezes alguma confusão em relação à terminologia
a adoptar, o que tem como resultado se correr o risco de descrever como diferenciadas
técnicas que, na realidade, se baseiam no mesmo princípio de funcionamento. Existe também
alguma escassez de bibliografia especializada sobre os temas de carácter intrinsecamente
técnico e, particularmente, no que se refere às demolições.
Quadro 1 [1] - Sistema classificativo das técnicas de demolição

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Grupo principal Subgrupo Variante


Com recurso a equipa- Por embate, empuxe, trac-  com ferramentas manuais
mento mecânico ção ou escavação  com martelos pneumáticos, hi-
dráulicos ou eléctricos
 por impacto (bola de grande
massa ou pilão)
 com retro-escavadoras, giratórias
ou pá de arrasto e acessórios (te-
soura, ripper, nibbler, alicate, tri-
turador, pinças, martelo, etc.)
 por tracção de cabos
 derrube ou afundamento
Por rebentamento interior  com cavilhas mecânicas
 quebrador de cunhas (Darda)
 quebrador de pistões
 com macacos planos
Por esmagamento exterior
Processos térmicos Lança térmica  a oxigénio
 a pólvora
Maçarico  a pólvora
 a plasma
Laser
Uso controlado de meios Explosões (no meio ambi-  mecanismo tipo telescópio
explosivos ente)  mecanismo tipo derrube
 mecanismo tipo implosão
 mecanismo tipo colapso sequen-
cial
Micro-explosão
Expansão  lenta com gás
 súbita com gás
 com cal viva
 química
Processos abrasivos Corte diamantado  serra com disco
 serra com fio
 carotagem
Corte com carborundo
Jacto de água (hidrodemoli-
ção)
Jacto de água e areia
Processos eléctricos Aquecimento das armaduras
Electrofractura
Aquecimento induzido de
um material ferromagnético
Arco voltaico
Microondas
Processos químicos Ataque químico
Ataque electro-químico

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Decidiu-se portanto aceitar neste documento a classificação proposta pelo Centre Scientifique
et Technique de la Construction, sediado em Bruxelas, patente do relatório “Les Techniques
de Démolition des Ouvrages de Béton” [1] e, a partir da mesma acrescentar as que dela não
constam e que foram entretanto aparecendo. Tratando-se de um relatório de 1982, é
perfeitamente natural que algumas das técnicas aí referidas, algumas das quais ainda em fase
experimental, tenham entretanto caído em desuso ou sido consideradas pouco eficientes do
pontos de vista técnico e/ou comercial. Por outro lado, o documento retrata sobretudo a
realidade do mercado de construção Belga, que não se equivale ao mercado Português,
nomeadamente o actual. Finalmente, as técnicas de demolição referidas neste documento
aplicam-se todas elas ao betão, não sendo referidas aquelas que são exclusivas de estruturas
de outros materiais. Esse não é no entanto um inconveniente, já que a esmagadora maioria dos
edifícios correntes em Portugal susceptíveis de virem a ser demolidos a curto ou médio prazo
são efectivamente estruturas em betão.

Feitas todas estas ressalvas, apresenta-se o Quadro 1, em que são resumidas as técnicas de
demolição susceptíveis de serem aplicadas em edifícios correntes, quer na demolição global
dos mesmos quer em demolições parciais em trabalhos de reabilitação.

2.2. TÉCNICAS COM RECURSO A EQUIPAMENTO MECÂNICO

2.2.1. Generalidades

A mais antiga técnica de demolição é a que recorria à força braçal associada, a partir de
determinada altura, a equipamento mecânico rudimentar, tratado seguidamente no âmbito das
ferramentas manuais. Não obstante os avanços tecnológicos que permitiram aumentar
exponencialmente o rendimento conseguido neste tipo de operação e diminuir o esforço físico
humano na sua execução, em todas as técnicas de demolição que serão aqui descritas existe,
em maior ou menor grau, a contribuição da demolição com equipamento mecânico,
nomeadamente com as supraditas ferramentas manuais. Por essa razão, elas não deixaram de
ser aqui referidas, não obstante o fraco teor tecnológico que lhes está associado.

2.2.2. Demolições por embate, empuxe, tracção ou escavação

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Neste sub-capítulo, são descritas todas as técnicas que correspondem à utilização de


equipamento mecânico a partir do exterior da estrutura ou dos elementos com o fim de os
demolir. Incluem-se nesta situação as técnicas que provocam impactos, de carácter global ou
localizado, empurram ou puxam a estrutura de forma a colapsá-la ou derrubá-la e ainda as que
lhe retiram o suporte.

2.2.2.1. Ferramentas manuais

O equipamento manual mais correntemente utilizado na demolição de pequena monta em


materiais estruturais ou semi-estruturais é o martelo e o escopro. Outras ferramentas são
também bastante utilizadas (Fig. 1, à esquerda), tais como a marreta, a picareta, os martelos
de diversos tipos, o pé-de-cabra, a pá, a serra, os baldes e outros recipientes e a maioria das
outras ferramentas utilizadas na construção civil.

Onde estas ferramentas, em particular, e as técnicas com recurso a equipamento mecânico, em


geral, têm maior aplicação é na chamada demolição elemento a elemento, nomeadamente de
edifícios antigos. Nestes, a estrutura não é em geral em betão armado, sendo mais corrente ser
em alvenaria de pedra argamassada na periferia, tabiques de alvenaria de tijolo maciço ou de
madeira, lajes de tabuado de madeira sobre toros do mesmo material e cobertura de asnas de
madeira ou metálicas. Todos estes materiais, para além dos que constituem os revestimentos e
acabamentos, os equipamentos sanitários, eléctricos e outros, parapeitos, clarabóias e todos os
restantes elementos secundários, são removidos com uma forte incidência de trabalho braçal.

2.2.2.2. Martelos pneumáticos, hidráulicos e eléctricos

Os martelos trabalham por percussão (martelo picareta) ou por percussão e rotação


simultâneas (martelo perfurador), em ambos os casos com uma frequência intensa,
provocando a rotura do betão por tracção. O seu peso, que pode variar nos equipamentos
manuais (Fig. 1, à direita) entre os poucos quilogramas e os mais de 65 kg, é uma função da
dureza dos materiais a demolir e da extensão do trabalho. Existem martelos perfuradores
substancialmente mais pesados (até várias toneladas) montados em unidades automotrizes, do

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tipo retro-escavadoras, giratórias (Fig. 3, à esquerda) ou outros. As pontas (Fig. 1, ao centro)


dos martelos variam em tamanho e forma consoante o tipo de trabalho que se pretende
efectuar.

A extensão do trabalho, tanto em área como em profundidade, é relativamente limitada, já que


para grandes volumes existem métodos mais eficientes com equipamento mais pesado. Assim,
o martelo picareta é utilizado na remoção de espessuras pequenas de betão (até cerca de 30
cm, Fig. 2, à direita, podendo ser mais em peças pequenas como pilares). Quanto ao martelo
perfurador, pode realizar praticamente qualquer trabalho ainda que geralmente não seja
utilizado para trabalhos de demolição global mas sim para fragmentar maciços, lajes de
fundação e escombros de grandes dimensões.

A fonte de energia varia desde os martelos pneumáticos (Fig. 1 e 3 à esquerda - ligados a um


compressor acoplado a um motor a diesel) aos hidráulicos (Fig. 2 à esquerda - ligados a uma
bomba acoplada a uma fonte de energia eléctrica ou térmica), passando pelos eléctricos (Fig.
2, à direita) e os movidos a gasolina ou diesel.

Os martelos apresentam algumas vantagens [1]:

 são possantes, muito versáteis e eficazes;


 não necessitam de mão de obra especializada, ainda que o rendimento dependa bastante
desse factor, nem de grande espaço de manobra (os manuais);
 são geralmente portáteis, mesmo que com algum esforço, e robustos;
 são económicos, não exigem grande manutenção (sobretudo os pneumáticos) e duram
bastante;
 são relativamente seguros;
 o martelo perfurador é relativamente limpo e preciso (opera em áreas limitadas).

mas também alguns inconvenientes [1]:

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Fig. 1 - À esquerda, algumas ferramentas manuais utilizadas na demolição (pás, picareta,


martelos e serras); ao centro, pontas usadas em martelos e, à direita, vários martelos
pneumáticos manuais

Fig. 2 - Martelos picareta: à esquerda, hidráulico ligado a uma giratória e, à direita, eléctrico,
utilizado na remoção de betão superficial

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Fig. 3 [1] - À esquerda, martelo-picareta pneumático (1 - lubrificante; 2 - válvula de seguran-


ça; 3 - válvula de caixa esférica; 4 - alimentação do ar; 5 - cilindro; 6 - pistão; 7 - silencioso; 8
- picareta; 9 - encaixe; 10 - calço) e, à direita, martelo perfurador com colector de poeiras

 são barulhentos (existem já os chamados “martelos silenciosos” de nível sonoro  20 dB);


 introduzem grandes vibrações;
 nos equipamentos manuais, o trabalho é cansativo, de baixa produtividade e exige muito
do manobrador;
 originam poeiras e fumos (na Fig. 3, vê-se como obstar um pouco a este problema);
 dá-se uma propagação de fendas claramente visível;
 dá-se o descasque das arestas e cantos dos elementos de betão;
 o rendimento é bastante mais baixo em estruturas fortemente armadas;
 trabalho lento sobretudo em peças pequenas e com o martelo picareta.

2.2.2.3. Demolições por impacto

Bola de grande massa (ou aríete)

Esta técnica consiste em suspender através de cabos uma bola de elevada massa (entre 500 e 4
000 kg) do braço de uma grua convenientemente equipada para o efeito (Fig. 4, à esquerda),

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que é puxada para uma posição elevada através do cabo de reposicionamento (Fig. 4, à
direita) após o que é largada, embatendo com grande impacto no edifício (a bola também
pode ser largada em queda na vertical ou deslocar-se na horizontal acompanhando o braço da
grua). Esta operação é repetida as vezes que for necessário até se conseguir a demolição de
uma parte importante da estrutura, obtendo-se fragmentos de grandes dimensões. A fim de
amortecer os efeitos dinâmicos no cabo de trabalho, pode-se intercalar um pneu entre o
mesmo e a bola (Fig. 4, à direita). O cabo de reposicionamento tem também a função de
agarrar a bola no caso de rotura do cabo de trabalho, pelo que os pontos de união dos dois
cabos à bola devem ser claramente distintos.

Trata-se de uma operação extremamente especializada realizada pelo condutor da grua e que
só deverá ser efectuada dentro de limites claramente definidos para evitar a sobrecarga da
grua e o esforço excessivo da lança do guindaste assim como do terreno. Neste método é
vulgar começar por remover manualmente o telhado e 50% a 75% dos pavimentos antes de se
iniciar o trabalho de demolição com a bola e, depois de esta se iniciar, ninguém deverá ser
autorizado a entrar no edifício. Esta técnica pode ser utilizada em qualquer tipo de estrutura
não muito alta e que não tenha vários metros de espessura em betão. Serve também para
fragmentar estruturas tombadas através de outras técnicas de demolição, para facilitar a
remoção dos escombros.

Apesar de ter como vantagens o facto de ser possante, económica e bastante rápida, esta
técnica tem também como desvantagens as seguintes [1] [3]:

 introduz vibrações importantes no terreno (pelo que este deve ser firme) e em eventuais
estruturas em contacto (deve-se deixar 1 m livre);
 é potencialmente perigosa para o pessoal quer durante quer depois na fase de remoção dos
escombros, tal como exige algum espaço livre em redor do edifício a demolir ( 6 m) por
se tratar de um processo de desmonte não controlado; a visão do operador é reduzida;
 obriga a trabalhos posteriores de fragmentação dos escombros de maiores dimensões;
 não é muito eficaz em estruturas de betão fortemente armadas;
 origina muita poeira;
 é barulhenta;

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 existe o risco de danificar as redes infra-estruturais subterrâneas;


 está limitada em altura aos 30 m e, em termos do ângulo do braço da grua, a 60º;
 é muito dependente em termos de rendimento do operador.

Fig. 4 - À esquerda, grua e bola de grande massa e , à direita [1], demolição de um maciço de
grandes dimensões em betão armado (1 - cabo de trabalho; 2 - cabo de reposicionamento; 3 -
bola de grande massa)

Fig. 5 - Pilão montado num veículo próprio (à esquerda [1]) ou numa giratória (à direita)

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Pilão

Nesta técnica, a rotura do betão é feita por impacto e pressão, obtendo-se um elevado grau de
esboroamento do betão que permite a sua separação fácil das armaduras. O aparelho, montado
num veículo automotriz próprio (Fig. 5, à esquerda) ou numa giratória (Fig. 5, à direita),
deixa cair de uma altura entre 1 e 3 m uma massa que pode atingir várias toneladas, a um
ritmo de entre 25 e 120 pancadas por minuto. A técnica, relativamente pouco eficaz para
betão armado, é aplicada sobretudo na demolição de grandes massas de betão simples e em
estradas, de espessura máxima de 90 cm.

As vantagens desta técnica são [1]:

 ser relativamente pouco barulhenta (ruído abafado);


 permitir um elevado rendimento;
 ser económica.

Em contrapartida, tem os seguintes inconvenientes [1], para além das limitações acima
apontadas:

 tem limitações em termos de peso da massa e da sua altura de elevação;


 alguns dos equipamentos de elevação só trabalham em superfícies quase lisas e
horizontais.

2.2.2.4. Demolições com retro-escavadoras, giratórias ou pá de arrasto e acessórios

Actualmente, praticamente todas as demolições, sobretudo as de carácter global, recorrem a


este tipo de equipamento mecânico, de grande envergadura e preço de aquisição muito
elevado, mas também susceptível de atingir rendimentos fora do alcance da maioria das outras
técnicas. Mesmo em situações em que alguma das técnicas alternativas ganha uma certa
preponderância, existe sempre um conjunto de tarefas em que se recorre a este equipamento
específico.

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Os equipamentos aqui referidos, geralmente hidráulicos, são constituídos por um conjunto


motriz assente sobre lagartas, rodados de grandes dimensões ou mesmo pontos localizados,
com uma lança articulada (Fig. 12, à direita), na extremidade da qual são ligadas ferramentas
especializadas de grandes dimensões (acessórios): tesouras (Foto da capa e Fig. 6, à
esquerda), baldes (Fig. 7, à esquerda), martelos hidráulicos (Fig. 7, à direita), garras (Fig. 8, à
esquerda), pás de arrasto (Fig. 8, à direita), power grapples (Fig. 9, à esquerda), alicates (Fig.
7, ao centro), trituradores (Fig. 6, à direita), pinças (Fig. 6, à direita), ripper (Fig. 10, à
esquerda), nibbler (Fig. 10, à direita), etc..

Fig. 6 - Acessórios hidráulicos: da esquerda para a direita, tesoura hidráulica para corte de
armaduras, alicate (power shear) e trituradora, ambos permitindo partir e separar o betão das
armaduras (existem ferramentas multi-uso)

Fig. 7 - Balde (à esquerda) e martelo hidráulico (à direita), ligados a uma giratória (ambos
estes equipamentos são bastante populares em Portugal)

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Fig. 8 - Garras (power grabs) (à direita) acopladas a uma giratória e pá de arrasto (à esquerda)
montada numa retro-escavadora

Fig. 9 - Power grapples (à direita) ligadas a giratórias e pinça para triturar betão (à esquerda)

Fig. 10 [1] - À esquerda, ripper de suporte ajustável (1 - barra porta-utensílios (para um, dois
ou três dentes); 2 - suporte do dente; 3 - dente amovível continuamente afiado pela própria
operação) e, à direita, nibbler standard

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Os equipamentos mais utilizados são: retro-escavadoras (Fig. 11, à esquerda), giratórias (Foto
da capa e Fig. 12 e 13, à direita), pás de arrasto (Fig. 8 e 13a, à direita), bobcats (Fig. 12, à
esquerda) e até robots (Fig. 11, à direita). A sua grande versatilidade (Fig. 13, à esquerda) e a
possibilidade de serem elevados (Fig. 13, à direita) permitem a sua utilização mesmo em
locais pouco acessíveis (Fig. 13a, à esquerda).

Fig. 11 - À esquerda, retro-escavadora equipada com super-martelo (power sledge) e, à


direita, utilização da robótica para demolir com segurança em locais de difícil acesso

Fig. 12 - À esquerda, bobcat equipado com martelo e, à direita, giratória hidráulica munida de
lança telescópica articulada

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Fig. 13 - À esquerda, equipamento portátil do tipo giratória munido de martelo hidráulico e, à


direita, giratória equipada com martelo hidráulico a ser colocada em local de difícil acesso

Fig. 13a - À esquerda, retro-escavadora equipada com martelo hidráulico a trabalhar no


último piso e ;à direita, pá de arrasto utilizada na demolição por empuxe de uma edificação
pequena

A pá de arrasto está vocacionada para um tipo de demolição designada de “por empuxe” (Fig.
13a, à direita). É aplicada quando a altura do edifício ou parte dele não excede 2/3 da altura

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máxima alcançada pela máquina utilizada, devendo esta evoluir sempre sobre um solo
consistente. Na existência de planos inclinados como águas de coberturas que possam deslizar
sobre a máquina, estes devem ser demolidos previamente por outros métodos.

As principais vantagens deste tipo de equipamento são [1]:

 potência, versatilidade, alcance (há lanças telescópicas com mais de 30 m) e rapidez;


 boa adaptação a este tipo de trabalho e mobilidade em caso de perigo eminente;
 pequeno número de pessoal necessário, ainda que com algum grau de especialização.

Como inconvenientes deste tipo de equipamento, registam-se os seguintes [1]:

 a poeira e ruído a seguir à queda dos escombros;


 a necessidade de um bom suporte para as máquinas e de algum espaço livre (6 m);
 em construções de maior altura, é geralmente necessário recorrer à demolição manual nos
pisos mais elevados;
 técnica mais aconselhada para a alvenaria do que propriamente para o betão armado.

Fig. 14 - À esquerda [7], macaco hidráulico usado na demolição de lajes e, à direita [1],
demolição de um edifício de pequeno porte por tracção de cabos

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2.2.2.5. Demolições por tracção de cabos

A técnica consiste fundamentalmente na cintagem da estrutura com um conjunto de cabos de


aço (Fig. 14, à direita) estrategicamente colocados, os quais são traccionados de forma
gradual, através de guinchos e/ou equipamento mecânico solidamente fixos ao terreno, até
levar ao colapso daquela. Deve ser guardada uma distância de segurança de pelo menos uma
vez e meia a duas vezes a altura total da estrutura a demolir. Os cabos devem ser claramente
sobredimensionados para evitar quaisquer roturas durante a operação (perigo de efeito de
chicote), sendo ainda aconselhada a sua duplicação. Para evitar o corte de elementos, os cabos
contactam com a estrutura através de calços de madeira (evitar arestas vivas).

O domínio de utilização desta técnica está limitado a estruturas relativamente sãs (ou a troços
dessas mesmas estruturas, tais como nembos entre aberturas de paredes) que, no caso do
betão armado, devem ser pré-enfraquecidas através de rasgos nos elementos resistentes
verticais no piso térreo através dos quais as armaduras são cortadas a maçarico. Em edifícios
de estrutura de alvenaria, não devem ser ultrapassadas alturas da ordem dos 20 m.

Sendo rápida e de custos baixos, esta técnica apresenta no entanto diversas desvantagens [1]:

 risco de o cabo chicotear no caso de rotura;


 após a operação, é necessário escorar todos os elementos que se encontrem instabilizados,
para evitar desabamentos, por exemplo devidos ao vento.

2.2.2.6. Demolições por derrube ou afundamento

Estas técnicas, muito pouco correntes e algo obsoletas, consistem em derrubar a construção
que se desconjunta ao embater no terreno (técnica da derrube, também designada por colapso
deliberado) ou é feita desaparecer sob o mesmo (técnica do afundamento). Estes métodos são
perigosos já que a estrutura pode colapsar precocemente e/ou em direcção imprevisível.

No derrube, demolem-se os elementos portantes na base da construção, previamente


substituídos por escoras. Se forem em madeira, são posteriormente queimados. Se forem

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metálicas, são cintadas por cabos que são depois puxados bruscamente. A técnica é
geralmente aplicada a construções de grande esbelteza, tais como chaminés.

No afundamento, escava-se o terreno de fundação injectando-o com água e bombeando a


lama assim criada. Alternativamente, escava-se sob as fundações, escorando-as com escoras
de madeira, posteriormente queimadas. A técnica é utilizada em pavimentos térreos assentes
sobre areia ou solo movediço.

2.2.3. Demolições por rebentamento interior

As demolições que vão ser de seguida referidas são as que, ainda que recorrendo a
equipamento de carácter mecânico, conseguem a demolição do betão através do seu
rebentamento a partir do interior. O princípio mecânico envolvido é o da cunha que,
introduzida através de uma abertura (furo) previamente efectuada para o efeito, introduz
tensões de tracção no betão, levando à sua fragmentação. A eficácia do processo depende
sobretudo do posicionamento dos furos, da sua profundidade e orientação e ainda da
resistência do betão.

2.2.3.1. Cavilhas mecânicas

As cavilhas mecânicas funcionam como já referido, podendo ter a forma de cunha (Fig. 15 à
esquerda) que é martelada ou de agulha (Fig. 15 à direita) enfiada à marretada. Com esta últi-
ma, os furos prévios, de 35 a 45 cm de profundidade e diâmetro entre 41 e 44 mm, estão espa-
çados de cerca de 40 cm, permitindo fragmentar o betão em profundidades entre 30 cm e 1 m.

Sendo uma técnica simples e económica, apresenta no entanto as seguintes desvantagens [1]:

 ruído elevado;
 ausência de controlo preciso da demolição;
 a cunha só permite demolir pequenas espessuras de betão.

Actualmente, ainda que mais utilizado no âmbito da reabilitação de estruturas, existe o


martelo de agulhas, normalmente eléctrico, cuja função é a de retirar uma camada

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relativamente pouca espessa de betão superficial deteriorado ou, pura e simplesmente, tornar
rugosa a sua superfície para colocação de uma camada exterior de material.

2.2.3.2. Quebrador de cunhas (“Darda”)

Neste equipamento, designado na gíria por “Darda” (Fig. 16), são aplicadas duas contra-
cunhas metálicas num furo previamente executado (Fig. 17). O seu diâmetro é um pouco
maior na ponta interior para direccionar a energia para o interior da peça. Um pistão força a
cunha a afastar as contra-cunhas, desta forma rebentando com o betão por tracção. A energia
é fornecida por um motor pneumático, hidráulico ou diesel que alimenta uma bomba
hidráulica. A pressão é medida através de um manómetro.

Tal como na técnica anterior, a sequência e localização dos furos é fundamental para o êxito
da operação e para a maximização do seu rendimento (Fig. 18).

Este sistema apresenta diversas vantagens [1]:

 demolição controlável;
 é silencioso, seguro e económico;
 não provoca poeira ou vibrações;
 boa relação custo / produtividade;
 grande eficácia de demolição;
 boa adaptação para demolição de grandes volumes de betão;
 facilidade de manuseamento do equipamento, sem necessidade de mão-de-obra
especializada;
 boa capacidade de adaptação a locais de dimensões exíguas e de difícil acesso;
 dispensa a utilização de líquido refrigerante.

Em contrapartida, o sistema apresenta algumas desvantagens [1]:

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Fig. 15 [1] - Cunha e escopro (à esquerda) e agulha (à direita: 1 - marreta; 2 - corpo da


agulha; 3 - elemento a demolir; 4 - haste; 5 - vazio; 7 - sentido da fissuração) para demolição
do betão por rebentamento interior

Fig. 16 [1] - Quebrador de cunhas: 1 - punho; 2 - pistão; 3 - cilindro; 4 - cunha central; 5 -


contra-cunhas extensíveis

Fig. 17 - Utilização da “Darda”, sendo visíveis os furos prévios que foi necessário efectuar

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Fig. 18 [1] - Sequência de corte de elementos de betão com recurso à “Darda”: à esquerda,
elementos de grandes dimensões e, à direita, de menores dimensões

 grande dificuldade em se controlar a fendilhação e a fissuração;


 necessidade de efectuar “negativo” para colocar o equipamento em tensão (morosidade);
 superfície de corte irregular;
 funcionamento deficiente para volumes de baixa compacidade ou com “negativos”;
 espessura máxima de demolição (de cada vez): 60 cm;
 requer equipamento auxiliar para prosseguir com a demolição (seccionamento dos
volumes fraccionados e corte a maçarico das armaduras) o que torna sua utilização difícil
em peças muito armadas.

2.2.3.3. Quebrador de pistões

Neste processo, o betão é separado por blocos através da sua fractura em planos perpendicula-
res ao eixo dos pistões. O aparelho consiste num cilindro equipado com um determinado nú-
mero de pistões hidráulicos radiais (Fig. 19, à esquerda). A força de rebentamento é produzida
por uma bomba a óleo alimentada por um compressor a ar ou, alternativamente, por uma
bomba manual de uma mistura de água e óleo solúvel. São executados furos de secção
circular (entre 80 e 160 mm de diâmetro), sendo a distância entre furos e a sua profundidade
função da qualidade e espessura do betão e da taxa de armaduras. O aparelho é introduzido
nesse furo, havendo o cuidado de tentar uniformizar o nível das pressões introduzidas (Fig.
19, à direita).

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O campo de aplicação deste método cinge-se às peças de espessura entre 20 e 80 cm, às


situações em que exija silêncio e ausência de poeiras e à fragmentação de escombros de
grandes dimensões criados por outros métodos.

Quanto às suas vantagens e desvantagens, elas são muito semelhantes às referidas


relativamente ao quebrador de cunhas.

2.2.3.2. Macacos planos

Os macacos planos são utilizados para a demolição de estruturas de uma forma idêntica àquela
em que são utilizados na indústria das rochas ornamentais. Restringe-se a trabalhos auxiliares,
como facilitar o acesso a armaduras para o seu posterior corte com maçarico. Para isso, são
introduzidos em entalhes ou rasgos efectuados previamente, provocando por injecção de óleo
o afastamento dos bordos de betão. Têm rendimentos semelhantes aos conseguidos com
quebradores hidráulicos, podendo ao invés destes ser empregues em elementos de pequena
espessura.

Existe ainda referência [7] a uma técnica, raramente usada hoje em dia por ser pouco segura e
eficaz, em que se recorre a um macaco hidráulico posicionado na vertical que se faz ajustar ao
pé-direito livre das lajes e é instalado numa pequena máquina hidráulica (Fig. 14, à esquerda).
Desde que a base de suporte do macaco tenha resistência suficiente para resistir à carga intro-
duzida pelo macaco (de cima para baixo), a laje de cima irá estar sujeita a uma carga igual mas
de baixo para cima, contrária às cargas de projecto e portanto susceptível de a levar à rotura.

2.2.4. Demolições por esmagamento pelo exterior

Este sub-capítulo serve para referir um equipamento designado por pinças para trituração do
betão, geralmente utilizado manualmente por dois operadores (Fig. 20) para fragmentar
blocos de betão demasiado grandes para ser removidos para aterro. O equipamento possui um
corpo central maciço, ligado a um grupo hidráulico auxiliar, que tem nas suas extremidades
em forma de U dois veios metálicos de aço especial (pinças) accionados por pressão
hidráulica. O equipamento é intercalado no elemento a demolir e, ao ser accionado, os veios

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deslocam-se em constantes movimentos de vaivém que fragmenta completamente a peça a


demolir.

Fig. 19 [1] - Esquema do quebrador de pistões (à esquerda: 1 - corpo do aparelho; 2 - barra


niveladora de pressões; 3 - pistão; 4 - bomba hidráulica; 5 - tubo de alimentação) e posiciona-
mento do mesmo no furo previamente executado (à direita: 1 - corpo do aparelho; 2 - barra
niveladora de pressões; 3 - cilindro de retenção do pistão)

Fig. 20 - Dois exemplos de utilização da pinça para trituração do betão

Este equipamento apresenta diversas vantagens:

 é muito versátil;
 não provoca ruído, vibração ou poeiras;
 dispensa a utilização de líquido refrigerante;
 equipamento de simples manutenção;

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 possibilidade de ser adaptado a equipamento de escavação (ao braço mecânico de retro-


escavadora ou “giratória”).
Em contrapartida, o equipamento apresenta algumas desvantagens:

 baixo rendimento de corte / demolição;


 a espessura da secção a demolir não deve ser superior a 300 mm (pode, no entanto, atingir
os 500 mm com recurso à utilização de adaptador especial);
 necessidade de cortar as armaduras para prosseguir com os trabalhos;
 superfícies de corte muito irregulares;
 necessidade de remover constantemente os produtos da demolição para limpeza das áreas
de trabalho;
 tem uma relação custo de aquisição / produtividade muito elevada.

2.3. PROCESSOS TÉRMICOS

Os processos térmicos têm em comum entre si o facto de recorrerem a uma fonte térmica
muito intensa e localizada para aquecer o betão e o aço e provocar assim, através de um
choque térmico, a sua fractura e/ou fragmentação. Diferenciam-se fundamentalmente em
função dos aparelhos utilizados e da respectiva fonte de energia e calor.

2.3.1. Lança térmica

2.3.1.1. A oxigénio

O processo consiste em aplicar contra as secções a cortar (chapas metálicas ou betão) a


extremidade colocada em brasa (através de um sistema de oxi-acetileno) de uma barra de
ferro (e alumínio), através do interior da qual é enviado um jacto de oxigénio, conseguindo
por combustão do material da barra derreter, perfurar e/ou cortar o aço e o betão. É exercida
sobre estes últimos uma tripla acção: térmica (temperaturas da ordem dos 2 000 a 2 500 ºC),
química (por combinação dos óxidos de ferro com os componentes do betão que acabam por
fundir) e cinética (pela pressão do jacto de oxigénio). O equipamento necessário à execução
desta técnica está representado na Fig. 21. Uma variante desta ferramenta, designada por

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ultra-thermic cutting rod, atinge temperaturas superiores a 20 000 ºC, o que permite maior
rapidez de corte, evitar a criação de escória e ser utilizada debaixo de água.

Fig. 21 [1] - Esquema da organização de um estaleiro de corte com lança térmica: 1 - garrafas
de oxigénio; 2 - manómetro; 3 - tubos flexíveis; 4 - assistente a preparar nova lança térmica;
5 - porta-lança com braço em cruz e munido de válvula; 6 - posto de oxigénio de reserva; 7 -
operador; 8 - lança em utilização; 9 - écran metálico; 10 - placa de asbesto coberta com areia;
11 - escorrimento da escória de combustão; 12 - elemento a cortar; 13 - fagulhas projectadas

Fig. 22 - À esquerda, corte de peça com lança térmica a oxigénio acompanhada de forte
projecção de fagulhas e, à direita, corte com maçarico e a plasma

O corte obtido tem cerca de 5 cm de largura a um ritmo de cerca de 50 cm/min. É necessário


garantir um espaço de trabalho livre de pelo menos 1 a 1.5 m. Os elementos de betão a demolir
e os 10 m em seu redor não devem conter materiais inflamáveis (madeira) nem condutas que

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prossigam para outros locais. Esta técnica tem vindo a ser utilizada quer para a demolição global
de estruturas quer para realizar aberturas de grandes dimensões e outras tarefas de reabilitação.
A técnica apresenta como vantagens as seguintes [1]:

 possibilidade de cortar peças de grande espessura e com formas irregulares;


 aplicável quer a betão armado quer a pré-esforçado;
 não provoca vibrações, é rápida e silenciosa;
 a mão-de-obra rapidamente se familiariza com a técnica;
 o material é simples e ligeiro (à excepção da reserva de garrafas de oxigénio);
 permite trabalhar ao ar livre, no interior e até debaixo de água;
 permite trabalhar em locais de difícil acesso;
 altera pouco as propriedades do betão nas proximidades do rasgo.

No entanto, tem também alguns inconvenientes [1]:

 pequena precisão do corte;


 origina escorrimento de escória de combustão;
 as superfícies de betão em contacto com essa mesma escória ficam marcadas;
 só com uma ventilação muito eficiente, é possível trabalhar no interior devido aos fumos
provocados;
 existe um risco de incêndio e da integridade física do operador (Fig. 22, à esquerda),
sobretudo no início do corte, devido à projecção de materiais em fusão;
 por essa razão, obriga à utilização de vestuário especial de protecção do manobrador;
 o custo do equipamento e da operação é bastante elevado.

2.3.1.2. A pólvora

Trata-se de uma técnica intermédia entre a lança térmica a oxigénio e o maçarico a pólvora,
descrito seguidamente, com vantagens e desvantagens também semelhantes. É injectada uma
mistura de pó de ferro e, facultativamente, de alumínio no jacto de oxigénio. A pólvora é
transportada por um jacto de ar comprimido. O porta-lança consiste, por um lado, de um
injector que faz a mistura pólvora - oxigénio e, por outro, de uma mola que garante a abertura

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e fecho simultâneos da chegada de oxigénio e de pólvora (Fig. 23, à esquerda). Por


comparação com a lança térmica a oxigénio, o consumo das lanças de pólvora é um pouco
menos rápido mas, em contrapartida, o consumo de oxigénio é maior, a ignição menos regular
e o furo obtido maior.

2.3.2. Maçarico

Para além dos aparelhos apresentados de seguida, que permitem o corte do betão, os
maçaricos do tipo do da Fig. 24, também susceptível de ser usada para soldar aço, são
utilizados no corte das armaduras, em apoio a vários outros métodos anteriormente descritos.

2.3.2.1. A pólvora

Neste aparelho, é projectada uma mistura de partículas finas de pó de ferro e de alumínio


junto ao bico de um maçarico de oxi-acetileno, hidrogénio, metano, propano ou butano (Fig.
23, à direita). As partículas, na sua combustão na periferia do jacto de oxigénio, aquecem-no
fortemente. Este método apresenta duas vantagens: fornece um suplemento de óxidos de ferro
superaquecidos e limpa o corte feito através das partículas em movimento.

Com esta técnica, conseguem-se cortar peças de espessura até 130 cm, ainda que a partir dos
60 cm o consumo se torne muito elevado. O rasgo apresenta uma largura da ordem dos 3 a 4
cm.

Como vantagens deste equipamento, citam-se as seguintes [1]:

 é pouco barulhento e não introduz vibrações;


 pode ser utilizado quer para betão armado quer pré-esforçado;
 é bastante rápido;
 consegue realizar um rasgo de forma irregular sem recorrer a sucessivos furos tangentes;
 o betão adjacente ao corte mantém-se praticamente inalterado.

Em contrapartida, tem alguns inconvenientes tais como [1]:

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Fig. 23 [1] - À esquerda, esquema do funcionamento da lança térmica a pólvora: 1 - garrafa


de oxigénio; 2 - contentor de pólvora; 3 - pólvora; 4 - manómetros; 5 - botija de ar
comprimido; 6 - câmara de secagem; 7 - lança. À direita, esquema da cabeça do maçarico a
pólvora: 1 - pulverizador de pólvora; 2 - saída do oxigénio; 3 - mistura oxicombustível

Fig. 24 - À esquerda, maçarico de corte e, à direita, diferentes tipos de bocal

Fig. 25 [1] - À esquerda, esquema do funcionamento do maçarico a plasma: 1 - cátodo; 2 -


isolante; 3 - fluxo; 4 - ânodo; 5 - plasma; 6 - escória fundida; 7 - elemento de betão a demolir;
8 - alimentação eléctrica; 9 - chegada do oxigénio. À direita, esquema do corte a laser: 1 -

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dispositivo de emissão de raios laser; 2 - lente; 3 - eventual fusão; 4 - zona aquecida; 5 -


perda de calor por condução; 6 - fissuras
 é preciso prever protecções para pessoal e materiais adjacentes devido às fagulhas e
escorrimentos;
 o pulverizador corre o risco de entupir se a pólvora não estiver perfeitamente seca;
 é bastante caro;
 dá origem a poeira e fumos;
 obriga à realização por outro método de um primeiro furo para ignição do maçarico;
 é pouco eficaz para espessuras acima dos 20 cm;
 corre-se o risco de o escorrimento entupir o maçarico.

2.3.2.2. A plasma

Em fase de desenvolvimento em 1982, esta técnica consiste em ionizar um gás plasmático (um
plasma é um estado diluído da matéria, semelhante a um gás, constituído por partículas com
carga, iões e electrões, em proporções tais que o meio seja globalmente neutro), normalmente
o azoto, através de um arco eléctrico estabelecido entre dois eléctrodos: o ânodo e o cátodo
(Fig. 25, à esquerda). O ânodo é constituído por um tubo oco de aço e o cátodo por uma lança
a oxigénio modificada. No espaço entre eles, circula um fluxo de hidrogénio, azoto e árgon
que estabiliza o plasma. Os eléctrodos consomem-se permitindo o corte através de um proces-
so semelhante ao da lança térmica a oxigénio (Fig. 22, à direita), ou seja, através de uma acção
tripla (térmica, química e cinética). Existe também uma ferramenta de funcionamento seme-
lhante, o jet flame cutter [7], que emite um fluxo de querosene que é misturada com oxigénio.

Este método apresenta as seguintes vantagens [1]:

 em pleno funcionamento, é mais eficaz e rápido que os outros processos térmicos;


 permite o corte em todas as direcções;
 pode ser utilizado quer para betão armado quer pré-esforçado e mesmo debaixo de água;
 tem baixos custos de operação;
 proporciona um trabalho limpo.

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Apresentava, no entanto, em 1982, os seguintes inconvenientes [1]:

 é muito barulhento;
 tem um consumo muito rápido dos eléctrodos;
 tem um rendimento energético muito baixo e obriga a uma grande potência eléctrica de
alimentação;
 provoca fumos e dá origem a escorrimento de escória fundida;
 existe o perigo de electrocussão;
 torna-se difícil retirar o material fundido que ressolidifica e se aglomera muito rapidamente.

2.3.3. Laser

Também em fase de desenvolvimento em 1982, mas actualmente já perfeitamente


estabelecida no mercado, a técnica de corte com recurso a raios laser (Light Amplification by
Stimulated Emission of Radiation) consiste na emissão de um feixe de luz “coerente” e
monocromática, conseguido por excitação do dióxido de carbono de que resulta uma onda
única de grande densidade de energia. Quando a irradiação encontra o betão, uma parte da sua
energia é absorvida, o que provoca um aumento da temperatura na zona afectada.
Concentrando esta energia numa área muito pequena, dá-se um choque térmico no betão,
provocando a sua fragmentação (Fig. 25, à direita).

Este método apresenta as seguintes vantagens [1]:

 corte muito preciso;


 ausência de ruído, vibrações, fumos, gases tóxicos e poeiras;
 rapidez.

No entanto, apresentava ainda em 1982 as seguintes desvantagens [1], algumas das quais
foram entretanto ultrapassadas:

 a potência dos aparelhos era insuficiente e a sua utilização incómoda;

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 era necessário combinar esta técnica com outras, nomeadamente para o corte das
armaduras;
 o raio é invisível e, daí, perigoso, por poder provocar queimaduras;
 necessidade de protecções eléctricas e de isolamento do aparelho;
 muito onerosa.

2.4. USO CONTROLADO DE MEIOS EXPLOSIVOS

As técnicas a seguir descritas têm em comum entre si o facto de serem provocadas por um
processo explosivo, no qual os materiais explosivos (à base de nitroglicerina) são utilizados
de uma forma tão controlada quanto possível, para não danificar pessoas e bens nas
proximidades do local a demolir. Distinguem-se fundamentalmente dois tipos de técnicas: as
explosões no meio ambiente, de carácter global e a uma grande escala e as micro-explosões e
processos de expansão, ocorrendo no interior de elementos e de carácter localizado.

2.4.1. Explosões

As explosões na demolição são processos em que são colocadas cargas explosivas em locais
criteriosamente escolhidos por forma a provocar uma descontinuidade na estrutura principal e
o seu colapso global (Fig. 26). Os escombros daí resultantes poderão ou não ter de ser
posteriormente fragmentados através de outras técnicas antes da sua remoção. O princípio
básico de tais demolições é o de aplicar o mínimo de energia de forma concentrada para
remover e/ou cortar elementos críticos da estrutura.

Esta técnica, não obstante ser económica, rápida e eficaz, tem desvantagens importantes [1]:

 dificulta imenso a reciclagem / aproveitamento dos materiais de construção;


 provoca projecção de materiais e vibrações importantes no terreno;
 provoca uma onda de choque importante que pode provocar estragos nas construções
vizinhas, sobretudo nos vidros;
 provoca um ruído muito grande na detonação e no impacto da estrutura no terreno;
 não é um processo completamente controlável;

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 é de difícil aplicação em pisos enterrados;


 é uma técnica potencialmente perigosa para pessoas e bens nas proximidades mas também
para o pessoal, que tem de ser especializado no manuseamento de explosivos;
 pode provocar gases (sulfurosos e nitrosos) perigosos para a saúde humana.

Fig. 26 - Demolição de um hotel em Las Vegas por explosivos realizada em apenas 17 s

Fig. 27 - Mecanismo de colapso: tipo telescópio, à esquerda, e tipo derrube, à direita

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Os quatro mecanismos básicos de colapso de uma estrutura por recurso ao uso controlado de
explosivos dependem fundamentalmente da geometria e resistência da mesma, da envolvente
desta e da sua utilização futura e são [2]:

 telescópio;
 derrube;
 implosão;
 colapso progressivo.

2.4.1.1. Mecanismo tipo telescópio

O primeiro tipo de mecanismo é normalmente usado na demolição de torres de arrefecimento,


do tipo central termoeléctrica, provocando-se basicamente a demolição, simultaneamente ou
não, de vários trechos em altura na estrutura da torre. Esta acaba por ruir numa área
aproximadamente igual aquela que inicialmente ocupava, de uma forma parecida com o
fechar de um “telescópio” (Fig. 27, à esquerda).

2.4.1.2. Mecanismo tipo derrube

O segundo tipo de mecanismo é normalmente utilizado em chaminés (Fig. 27, à direita),


bunkers e estruturas de aço, bem como em todo o tipo de estruturas onde exista uma grande
relação entre a altura e a base, não havendo perigo se a estrutura cair para um dos seus lados.
Neste método, procura-se apenas derrubar a estrutura sobre uma área previamente definida e
assim facilitar o acesso a partir do solo das máquinas convencionais de demolição à estrutura.
O mecanismo de derrube envolve normalmente menos trabalhos preparatórios, menos
quantidade de explosivos e, dependendo da construção, pode induzir na estrutura uma maior
fragmentação durante o colapso.

2.4.1.3. Mecanismo tipo implosão

O método mais conhecido entre nós é o designado por implosão onde, por meio de
explosivos, se consegue criar uma descontinuidade em determinados pontos da estrutura

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(normalmente pilares), fazendo assim com que esta entre em ruína e que, através do seu peso
próprio, se fragmente o mais possível durante a queda e quando atinge o solo. Neste
mecanismo, o colapso é provocado centralmente fazendo com que a estrutura ceda sobre si
mesma, como se algo a “puxasse” na direcção do seu centro de gravidade.

Como o explosivo não é colocado ao longo da altura de toda a estrutura, espera-se que parte
desta se fragmente apenas no seu contacto com o solo. É o método apropriado para estruturas
de elevado porte (Fig. 28).

Fig. 28 - Dois exemplos do mecanismo tipo implosão

Fig. 29 - Dois exemplos do mecanismo tipo colapso sequencial


2.4.1.4. Mecanismo tipo colapso sequencial

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Finalmente, no que respeita ao último tipo de mecanismo básico, este descreve-se como a
“queda sequencial de peças de um jogo de dominó”. Com efeito, este método é normalmente
empregue em edifícios contíguos ou com um grande desenvolvimento em comprimento,
provocando-se um colapso sequencial normalmente do tipo descrito anteriormente (Fig. 29).

2.4.2. Micro-explosão

Este é um método de corte localizado e de demolição parcial, que utiliza pequenas


quantidades de explosivos inseridos em furos cilíndricos (Fig. 30, à esquerda), com o
objectivo de destacar blocos de betão, ou em “pistolas” que disparam um projéctil sobre o
betão (Fig. 30, à direita), com o objectivo de cortar armaduras.

É a seguinte a apreciação global relativa ao primeiro método [1]:

 a técnica é lenta, complexa (em face da escolha da posição dos furos) e só se aplica a
elementos de grandes dimensões e pouco armados;
 a demolição não é completamente controlável;
 o processo é barulhento, provoca vibrações no terreno e projecção de estilhaços;
 a dimensão excessiva dos bocados de betão destacados pode obrigar à sua fragmentação
posterior para facilitar a sua remoção.

Quanto à segunda técnica, ela apresenta as seguintes características [1]:

 é preciso o prévio conhecimento das armaduras;


 não serve para grandes espessuras;
 é barulhenta;
 tem um grande consumo de explosivos;
 é utilizada sobretudo para criar pontos fracos nas peças que são posteriormente demolidas
por outros métodos.
2.4.3. Expansão

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Nestes métodos, recorre-se à força expansiva de determinados componentes, gasosos ou não,


para introduzir tensões internas de tracção no betão que levam à sua fragmentação. São
sobretudo técnicas auxiliares e de carácter localizado.

Fig. 30 [1] - Demolição por micro-explosão: à esquerda, as cargas são colocadas em furos (1 -
bucha; 2 - dispositivo de disparo; 3 - detonador; 4 - cartucho; 5 - bloco de betão expulso; 6 -
fissuração); à direita, é disparado um projéctil (1 - fulminante; 2 - carga; 3 - projéctil cónico
ou hemisférico em metal duro; 4 - distância de tiro (2/3 a 1/5 de ); 5 - armadura)

Fig. 31 [1] - À esquerda, equipamento de expansão lenta com gás: 1 - bucha especial de
cauchu; 2 - gás; 3 - dióxido de carbono (pressão de serviço 80 a 120 bars). À direita, tubo
Cardox (expansão súbita com gás): A - cabeça de ignição; B - fuste do tubo; C - cabeça de
descarga; 1 - válvula de enchimento; 2 - ligações eléctricas; 3 - câmara de aquecimento; 4 -
dióxido de carbono líquido; 5 - disco de rotura; 6 - grampo)

2.4.3.1. Expansão lenta com gás

É efectuado no betão um furo de 30 a 40 mm de diâmetro, selado com uma bucha de cauchu


na qual se faz passar um tubo metálico ligado a uma bomba que contém um gás inorgânico
(geralmente dióxido de carbono) que é posteriormente injectado a alta pressão (Fig. 31, à
esquerda).

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Como vantagens [1], esta técnica apresenta o facto de pouco barulhenta, não introduzir
vibrações significativas, não provocar a projecção de estilhaços e não haver o perigo de o gás
inflamar. Como inconvenientes [1], há que referir os seguintes:

 a dificuldade em demolir betão armado;


 a necessidade de criar barreiras de protecção para o pessoal;
 a dificuldade de manipulação;
 a falta de precisão.

2.4.3.2. Expansão súbita com gás

Numa variante à técnica anterior, o tubo Cardox (Fig. 31, à direita) provoca a expansão
brusca (2 a 4 x 10-2 s) de dióxido de carbono a uma pressão muito elevada (200 bars) através
de um furo, introduzindo no betão pressões da ordem dos 120 a 270 MPa que se fractura por
tracção.

As vantagens da técnica [1] são a sua maleabilidade e economia, a ausência de ondas de


choque e as poucas vibrações e a relativa segurança para o pessoal. As principais
desvantagens são [1]:

 a pouca eficácia para o betão armado;


 o raio de acção reduzido (50 a 80 cm no máximo);
 o barulho provocado;
 o perigo que advém de o tubo não estar convenientemente fixo;
 a dificuldade de controlo da zona a demolir;
 a projecção eventual de detritos.

2.4.3.3. Expansão com cal viva

Já conhecida desde a Antiguidade, a expansibilidade da cal viva hidratada pode ser utilizada
na demolição do betão. Para tal, realiza-se um furo de entre 35 e 50 mm de diâmetro. O furo

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não deve ser muito pequeno para que o betão fissure, mas também não deve ser demasiado
grande para que a cal não transborde para fora do mesmo. No furo previamente seco, é
introduzido produto (80 % de cal viva, 10 % de areia siliciosa e 10 % de retardador) diluído
com 30 % de água, nunca mais de 10 minutos após a mistura. Nos furos horizontais, haverá
necessidade de os tamponar. Os furos estão espaçados entre si entre 20 e 90 cm, consoante a
resistência do betão e o grau de fragmentação pretendido. O domínio de aplicação desta
técnica inclui os grandes maciços de fundação ou de suporte de terras em betão simples.

A técnica apresenta algumas vantagens, tais como [1]:

 ausência de ruído, vibrações e projecção significativa de detritos;


 mão-de-obra não especializada;
 ausência de perigo para o pessoal;
 susceptível de servir de apoio a outras técnicas.

No entanto, tem também alguns inconvenientes, tais como [1]:

 pouca eficácia em betão armado;


 dificuldade de regular com precisão a expansão da cal viva;
 dificuldade de realizar diversas expansões em simultâneo em clima frio;
 relativamente cara;
 lenta (expansão máxima só ao fim de 6 horas).

2.4.3.4. Expansão química

Com um princípio de funcionamento que é um meio termo entre a expansão com cal viva e a
micro-expansão, existe uma técnica que consiste na colocação em furos abertos (com entre 40
e 50 cm de diâmetro) em rocha ou betão de um produto, designado comercialmente por
Bristar [6]. Trata-se de um pó de um composto inorgânico produzido a partir de uma
variedade especial de silicato e de um composto orgânico que, misturado com água, endurece,
expande-se e provoca fendilhação no maciço no qual foi introduzido (Fig. 32). As fendas
propagam-se de um furo para os adjacentes, levando a que se solte um bloco de grandes

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dimensões. Existem três tipos de produto consoante a temperatura do material a ser


fracturado.

Fig. 32 [6] - Separação de blocos de betão ou rocha por expansão química

Segundo o fabricante [6], o produto é seguro, não provoca ruído, atinge a sua força expansiva
máxima após 24 horas, tem a sus força expansiva (mais de 3 000 t/m2) aumentada com o
diâmetro do furo mas diminuída quando a percentagem de água misturada se afasta muito dos
30 %, para cima ou para baixo.

2.5. PROCESSOS ABRASIVOS

Nos métodos a seguir descritos, o aspecto comum é o facto de o mecanismo de demolição ser
a abrasão do betão, provocada por um material no estado sólido ou líquido, conduzindo ao
corte daquele em blocos ou à remoção de uma camada superficial do mesmo. Ainda que
alguns deles possam ser utilizados para demolição global, em virtude de serem geralmente
caros, o seu campo de aplicação mais corrente é a remodelação e reabilitação de estruturas.

2.5.1. Corte diamantado

Os utensílios de corte diamantado são constituídos na sua parte activa por grãos de diamante
industrial retidos numa matriz geralmente metálica. Estas partículas funcionam como um
grande número de utensílios cada um arrancando um pouco de betão. Consoante os trabalhos,
qualidade do betão e dos inertes e densidade das armaduras, haverá que escolher a opção mais

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adequada em termos de: tipo de aparelho, sua dimensão e velocidade de processamento, a


potência do motor, a profundidade do corte e a velocidade do mesmo.

2.5.1.1. Serra com disco

Este equipamento é constituído por um disco metálico, que pode atingir mais de 1 m de
diâmetro, diamantado na sua periferia e arrefecido a água, que se desloca sobre uma calha de
rolamento (Fig. 33, à esquerda). O motor, eléctrico ou diesel, com grupo hidráulico exterior
de potência variável, imprime tracção para fazer rodar o disco. Existem versões compactas,
mais leves mas de menor potência.

Este equipamento pode ser utilizado em corte de betão armado quer em superfícies
horizontais (Fig. 33, à direita), quer verticais (Fig. 33, à direita), manifestando uma grande
versatilidade: o tamanho do disco pode ser alterado com alguma facilidade e, graças à
denominada “serra de mergulho”, não fica limitado pelo diâmetro do disco. É particularmente
útil na execução de aberturas em superfícies de betão existentes, dando origem a blocos de
betão (Fig. 34), que são posteriormente removidos com a auxílio de uma grua.

Este sistema apresenta diversas vantagens [1]:

 corta com facilidade betão armado;


 elevado rendimento de corte, ainda que claramente reduzido pela existência de muitas
armaduras;
 manipulação simples (versão compacta);
 secção de corte muito lisa, sem necessidade de trabalhos adicionais, e sem afectar o betão
adjacente;
 grande precisão de corte (com adaptação de calha);
 não tem riscos de fissuração e é seguro para o pessoal.

Em contrapartida, o sistema apresenta algumas desvantagens [1]:

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Fig. 33 - Corte de laje , à esquerda, e de muro, à direita, ambos de betão armado com recurso
a serra de disco diamantado

Fig. 34 - Remoção com uma grua de lanço de escada, à esquerda, e de troço de laje, à direita,
ambas de betão armado após corte com serra de disco diamantado

 exige alguma experiência na utilização do equipamento;


 espessura de corte pode ser limitada pelo raio do disco;
 processo de instalação moroso, sobretudo para a versão não compacta, que pode ser
bastante pesada, exigindo uma superfície de suporte robusta;

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 necessidade de evacuar líquido refrigerante;


 custo relativamente elevado, tanto do equipamento quer sobretudo dos consumíveis;
 o equipamento produz algum ruído e poeiras (não obstante a água de refrigeração).

2.5.1.2. Serra com fio

Esta técnica tem algumas semelhanças com a anterior sendo adequada, grosso modo, para o
mesmo tipo de trabalhos, exigindo no entanto acesso às duas superfícies opostas da peça a
cortar (Fig. 35). O equipamento consiste num grupo electro-hidráulico que transmite
movimento às rodas motrizes, que por sua vez impelem o cabo helicoidal diamantado (com
anéis - “perlinas”) de aço que, por abrasão no betão, realiza o corte (Fig. 36, à esquerda). Para
arrefecer o cabo e arrastar os detritos provenientes do corte, é feita passar água na superfície
de corte.

Como vantagens deste método, referem-se as seguintes [1]:

 corta com facilidade betão armado;


 grande rendimento de corte, ainda que claramente reduzido pela existência de muitas
armaduras;
 elevada versatilidade de adaptação ao uso e a ambientes de trabalho;
 equipamento silencioso e que não provoca vibrações nem poeira (graças à água de
arrefecimento);
 superfície de corte lisa, sem necessidade de trabalhos adicionais, e sem afectar o betão
adjacente;
 rigor e precisão de corte;
 permite cortes em todas as direcções numa amplitude de 360º (horizontal / vertical /
oblíqua / parabólica);
 não tem risco de fissuração e é seguro para o pessoal, que é reduzido praticamente ao
operador e se mantém longe da zona a cortar;
 preço competitivo para áreas significativas de corte (para grandes áreas, é o sistema mais
económico).

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Fig. 35 - Esquema de corte com serra de fio diamantado: vertical (à esquerda em perfil) e
horizontal (à direita em planta)

Fig. 36 - À esquerda, elemento de betão fortemente armado cortado com recurso a serra de fio
diamantado e, à direita, aberturas circulares de diversas dimensões susceptíveis de ser
executadas com uma mesma caroteadora

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Apresenta no entanto os seguintes inconvenientes [1]:

 exige alguma experiência na utilização do equipamento;


 requer equipamento auxiliar de corte para efectuar os furos para passagem do cabo;
 o processo de instalação é moroso;
 custo elevado dos consumíveis;
 é necessário evacuar o líquido refrigerante.

2.5.1.3. Carotagem

As caroteadoras são aparelhos inicialmente vocacionados para a recolha de amostras para


ensaio posterior, a seguir utilizados para praticar aberturas em elementos de betão para
passagem de tubagens e, posteriormente, adaptados para trabalhos de demolição parcial de
superfícies relativamente grandes. A sua grande versatilidade (Fig. 36, à direita) e a dos
respectivos sistemas de suporte permite que sejam utilizadas em superfícies horizontais (tanto
superiores, Fig. 37, à esquerda, como inferiores), em superfícies verticais (Fig. 37, à direita) e
até mesmo em superfícies curvas.

A caroteadora não é mais do que um motor eléctrico que impele um movimento de rotação a
um cilindro metálico oco com uma coroa diamantada na sua extremidade exterior, o qual
corta tarolos de betão necessitando, no entanto, de ser refrigerado com água durante todo o
processo. A execução de um conjunto de furos tangentes permite delimitar um bloco de betão
que é posteriormente removido. Daí que a eficiência deste método aumente com a relação
área a demolir / perímetro da área a demolir.

As vantagens e desvantagens deste sistema têm algumas parecenças com as dos dois sistemas
anteriores. Assim sendo, de entre as primeiras realçam-se:

 não tem riscos de fissuração;


 manipulação simples;
 equipamento silencioso não causando vibrações;
 grande precisão de corte;

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 secção de corte lisa;


 permite obter secções circunscritas para concentração de tensões.

De entre as desvantagens desta técnica, avultam as seguintes:

 furação limitada pelo comprimento e diâmetro da broca;


 sistema de baixo rendimento / preço elevado;
 processo moroso;
 necessidade de evacuar o líquido refrigerante.

2.5.2. Corte com carborundo

Englobam-se neste sub-capítulo todas as situações em que o equipamento utilizado recorre a


grãos de carborundo (nome técnico para o carboneto de silício) fixos a um ligante de
baquelite, sendo o conjunto rigidificado por uma ou várias camadas de nylon. As aplicações
são as mesmas que no corte diamantado com a excepção dos elementos de betão armado.
Sendo menos caros que as ferramentas diamantadas, têm, para além da limitação referida, o
facto de propiciarem um corte mais lento e obrigarem a uma substituição muito rápida por
desgaste intenso.

2.5.3. Jacto de água (hidrodemolição)

Encontrando-se em 1982 ainda em fase de desenvolvimento, a hidrodemolição é já hoje uma


técnica muito utilizada, sobretudo em trabalhos de remoção da camada superficial deteriorada
do betão em grandes superfícies (Fig. 38, à esquerda). Nessa perspectiva, ou seja, numa
situação em que o único betão que se pretende remover é aquele que já apresenta alguma
deterioração das suas características mecânicas (deixando o betão rugoso e pronto a receber
uma nova camada de revestimento) e em que se pretende manter as armaduras (mas
limpando-as de substâncias desagregáveis como as provenientes da corrosão), a utilização de
um jacto de água a alta pressão é um processo de rendimento excepcional. Ainda que possa
ser feita manualmente, o muito melhor rendimento e a ausência de perigo propiciados pela

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automatização (Fig. 38, à direita) fazem com que seja essa a tendência actual, não obstante o
elevado investimento inicial.

Fig. 37 - À esquerda, execução de carotagens sequenciais em laje para realizar o contorno de


uma abertura e, à direita, sistema múltiplo de coroas diamantadas utilizado no corte de parede
de betão armado

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Fig. 38 - À esquerda, superfície sujeita a hidrodemolição e, à direita, equipamento totalmente


automatizado de hidrodemolição utilizado na reabilitação das docas da Lisnave em Setúbal
O método consiste em vencer com a pressão do jacto de água a resistência da argamassa de
betão à tracção, que é assim desagregada e arrastada, deixando soltos os inertes de maiores
dimensões que caiem ou são também arrastados. A energia necessária é fornecida por ar
comprimido, o qual impulsiona a água através de uma bomba de alta pressão. Para além desta,
existem ainda sistemas de controlo e de locomoção, um aspirador para recolha dos detritos e,
se for caso disso, um dispositivo de abastecimento de material abrasivo

As vantagens da hidrodemolição são as seguintes [1]:

 ausência (quase total) de ruído (com um redutor de ruído), poeiras e vibrações;


 corte relativamente preciso em qualquer direcção;
 o betão adjacente ao corte é pouco afectado;
 não existe risco de incêndio.

Quanto às desvantagens, podem ser enunciadas as seguintes [1]:

 equipamento caro (se se recorre a areia, o custo dos consumíveis passa a ser importante);
 corte de peças armadas muito difícil;
 lentidão e necessidade de evacuar a água e detritos;
 o pessoal (versão não automatizada) deve estar protegido contra a projecção de detritos;
 fendas grandes nos elementos a demolir potenciam perdas importantes de rendimento;
 necessidade de produzir in-situ uma grande pressão.

3.5.4. Jacto de água e areia

Não obstante existam registos da utilização de jacto de areia com ar comprimido e sem água
[1], o alto carácter poluente dessa solução faz com que não seja promissora. Em alternativa, a
junção de areia quartzosa de granulometria de 0.5 a 1.5 mm permite aumentar significativa-
mente o poder abrasivo da hidrodemolição (outros aspectos afectam também o rendimento
desta técnica: diâmetro, orientação e distância da agulheta ao elemento a cortar e velocidade

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do jacto), pelo que se pode tornar interessante mesmo para betão simples. Uma vez que
permite cortar as armaduras de aço, a sua utilização não é recomendável se se pretender
preservar as mesmas, como acontece em certos trabalhos de reabilitação. Pode-se então dizer
que esta técnica é a alternativa à hidrodemolição na demolição de peças de betão armado
(ainda que sem taxas de armadura muito elevadas), mantendo de um modo geral as suas
vantagens e inconvenientes, sendo naturalmente mais cara.

2.6. PROCESSOS ELÉCTRICOS

As técnicas descritas de seguida têm em comum estar um processo eléctrico na origem da


demolição da peça. Todas elas são pouco correntes, na maioria dos casos encontravam-se em
1982 ainda numa fase de desenvolvimento (sendo plausível que entretanto tenham sido
abandonadas) e não contemplam a hipótese da demolição global. Pelo menos uma, a que
recorre a microondas, é ainda utilizada na remoção de betão superficial.

2.6.1. Aquecimento das armaduras (indução de calor)

As armaduras no interior do betão são ligadas por soldadura a um circuito de baixa tensão.
Por passagem da corrente, comportam-se como resistências eléctricas e são levadas ao rubro
por efeito de Joule. Pelo contrário, o betão permanece praticamente à temperatura ambiente.
Esta diferença faz com que se perca a aderência entre os varões e o betão por fissuração deste.
A alteração interna do betão, por desidratação do cimento e expansão diferencial entre os
inertes, dá também a sua contribuição para o processo.

A técnica apresentava, no entanto, em 1982, alguns inconvenientes [1]:

 só era aplicável a varões de diâmetro até 10 mm;


 são inúmeros e muito limitativos os riscos de curto-circuito;
 exige uma grande potência eléctrica pelo que se torna antieconómico.

2.6.2. Electrofractura

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O betão é submetido a uma corrente de alta frequência (Fig. 39, à esquerda). Torna-se
condutor, aquece no seguimento de perdas dieléctricas no seu interior e fragiliza por
dilatação. Quando este processo de instabilização se completa, o betão é demolido mais
facilmente do que o normal, com recurso a ferramentas mecânicas.

Os eléctrodos são fixos a uma tenaz montada a uma braçadeira ligada a macacos hidráulicos
(Figura 39, à direita). A corrente de alta tensão é enviada durante 2 a 3 minutos enquanto que
a peça é fortemente apertada. A conjugação das duas acções é suficiente para o
desmantelamento do elemento.

Não obstante se trate de um método rápido e silencioso, susceptível mesmo de ser utilizado
para a demolição total de uma pequena estrutura, e de o seu rendimento em termos
energéticos ser elevado, tem também alguns inconvenientes [1]:

 risco de perturbação das redes de televisão e de outras telecomunicações;


 necessidade de furar a peça para fixar os eléctrodos;
 material de manuseamento incómodo;
 necessidade de uma potência eléctrica muito elevada;
 risco de electrocussão durante a demolição por condução através das armaduras.

2.6.3. Aquecimento induzido de um material ferromagnético

Utiliza-se a pressão de expansão produzida pelo aquecimento de um material ferromagnético


com uma corrente de alta frequência induzida por uma fonte exterior através de uma bobina
de indução. O material ferromagnético é comprimido dentro de um furo previamente
efectuado no betão (Fig. 40, à esquerda). A profundidade a atingir é função do débito do
gerador de alta frequência, do diâmetro da bobina de indução, da dimensão da peça a demolir
e de outros factores.

Esta técnica não provoca ruídos nem vibrações mas potencia o risco de interferências com as
redes de televisão ou de outras telecomunicações.

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Fig. 39 [1] - À esquerda, esquema de instalação no método da electrofractura: 1 - eléctrodo;


2 - gerador de alta frequência. À direita, esquema do corte de uma coluna de betão por
electrofractura

Fig. 40 [1] - À esquerda, esquema do sistema de aquecimento induzido de um material


ferromagnético: 1 - gerador de alta frequência; 2 - bobina de alta frequência; 3 - bloco de betão
a demolir; 4 - material ferromagnético; 5 - linhas de forças magnéticas. À direita, aparelho para
a aplicação de microondas (em cima, esquema do protótipo e, em baixo, gerador de potência)

2.6.4. Arco voltaico

O betão é cortado graças à temperatura elevada produzida por uma descarga de arco voltaico
realizado entre dois eléctrodos de grafite, atingindo temperaturas entre 4 000 e 8 000 ºC.

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Apesar de ser eficaz no corte de superfícies irregulares e de praticamente não produzir ruído,
vibrações ou poeiras, o método apresenta algumas desvantagens [8]:

 apresenta uma relação rapidez / custo muito baixa;


 danifica o betão que não se pretende demolir;
 conduz à produção de fumos e existe perigo de electrocussão;
 o equipamento não está disponível comercialmente.

2.6.5. Microondas

As microondas são ondas electromagnéticas de hiper-frequências (Fig. 40, à direita). Ao ser


exposto a estas ondas e de acordo com o princípio do campo electrónico, o betão aquece até
altíssimas temperaturas, ao mesmo tempo que as águas de capilaridade e de cristalização no
seu interior se volatilizam e provocam microfissuras. O betão superficial solta-se por
esfoliação (Fig. 41) expondo a camada seguinte ao mesmo processo (cerca de 5 minutos por
metro quadrado até a uma profundidade de 20 cm [1]). Este método parece estar vocacionado
para retirar a camada superficial deteriorada em maciços de betão simples.

A técnica apresenta vantagens, tais como a sua grande rapidez, a ausência de ruído, fumos,
vibrações, projecção de detritos e interferência com as redes de telecomunicações, mas
também alguns inconvenientes no estágio de desenvolvimento em que se encontrava em 1982
[1]:

 equipamento muito oneroso;


 necessidade de cortar posteriormente as armaduras com outro processo;
 potencialmente perigoso para o pessoal, pessoal esse que tem de ser altamente
qualificado.

2.7. PROCESSOS QUÍMICOS

Nestas técnicas, procura-se tirar partido das reacções químicas a que os componentes do betão
poderão estar sujeitos quando em contacto com determinadas substâncias, reacções que

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deterioram esse mesmo betão. No entanto, a sua competitividade não é grande, sobretudo em
face da lentidão de processos, pelo que pouco mais são do que projectos de investigação.

2.7.1. Ataque químico

Uma vez que o betão é um meio alcalino, pode facilmente ser deteriorado pelos ácidos. No
entanto, de acordo com [1] (1982), não existia qualquer produto químico suficientemente
eficaz sob este ponto de vista para vencer a baixa permeabilidade das argamassas de betão e a
fraca capacidade de dispersão da solução ácida na matriz de argamassa.

Vapor de
Água água detrito
microondas

Aquecimento da água Esfoliação da superfície de betão

Fig. 41 - Demolição do betão com recurso a microondas

Fig. 42 [1] - Representação esquemática do processo electro-químico de demolição: 1 - solução


salina; 2 - placa metálica (cátodo); 3 - armaduras (ânodo); 4 - transformador; 5 - rectificador

2.7.2. Ataque electro-químico

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Nesta técnica, banha-se a superfície do betão com uma solução salina corrosiva (cloreto de
sódio ou de potássio) e aplica-se às armaduras uma corrente eléctrica contínua (Fig. 42),
acelerando assim o processo de corrosão daquelas, em que funcionam como ânodo. Ao fim de
cerca de 3 horas, os produtos da corrosão, bastante mais volumosos do que o aço de que
originaram, provocam o descasque do betão de recobrimento por tracção do mesmo.

Como vantagens deste método, podem-se citar [1]:

 é silencioso e completamente isento de vibrações;


 consome pouca energia.

Em contrapartida, tem os seguintes inconvenientes [1]:

 é necessário cortar as armaduras através de outros meios;


 é um procedimento lento;
 existe o risco de a corrente se propagar através das armaduras a toda a estrutura e alguém
ser electrocutado.

2.8. SELECÇÃO DOS MÉTODOS A ADOPTAR

A selecção do método de demolição a adoptar em face de cada caso específico é uma das
chaves do sucesso neste tipo de operação. Sem se pretender ser exaustivo, é preciso ter em
conta os seguintes factores: tipo de estrutura e restantes materiais não estruturais, localização
do edifício (meio urbano ou rural), distância e tipo de ocupação dos edifícios vizinhos, altura
do edifício a demolir, tipo de terreno, prazo de execução, regulamentos municipais,
localização das redes de infraestruturas, limitação de custos, equipamento disponível, etc..

A extrema variedade de métodos disponíveis, porventura um dos aspectos mais relevantes e


surpreendentes deste documento, torna a escolha mais difícil e confusa. Não é possível sequer
comparar determinados métodos entre si, por não corresponderem minimamente a acções
similares na estrutura. Por outro lado, existe um conjunto alargado de técnicas que têm um

55
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Técnicas de demolição de edifícios correntes por Jorge de Brito

carácter semi-experimental e/ou não estão disponíveis em Portugal.

Uma vez que não é o objectivo fundamental deste sub-capítulo abordar este tema, não foi
levada a cabo uma investigação minimamente fundamentada que permita apresentar aqui
regras ou orientações sobre como seleccionar o método de demolição para cada caso
particular. No entanto, teve-se acesso a três estudos académicos que comparam um número
muito limitado de técnicas, no primeiro caso segundo o prisma do tipo de construção, no
segundo, em função de uma caracterização técnico-económica e, no terceiro, em função do
seu desempenho pseudo-quantitativo. Posteriormente, teve-se acesso a um quarto estudo ,
bastante mais completo, em que as técnicas foram comparadas através da análise da sua
adequabilidade. A título informativo, apresenta-se de seguida esses mesmos estudos.

2.8.1. Em função do tipo de construção

No Quadro 2, são analisadas as técnicas de demolição manual (envolve o desmantelar


progressivo do edifício na ordem inversa da sua construção; o trabalho é realizado
essencialmente com ferramentas manuais, além de equipamento mecânico para erguer os
elementos principais à medida que estes são soltos e para os deitar no chão quando ficam
livres; quando o material desmontado é pequeno (por exemplo, tijolos), este poderá ser
simplesmente atirado para uma pilha situada por baixo, desde que não seja suposto ser
recuperado para utilização; numa área mais pequena dever-se-á utilizar uma calha ou tubo
para descarga dos escombros ou um vagão suspenso), braço de demolição (processo mecânico
que utiliza uma viga de aço ou madeira presa a uma escavadora mecânica; tal como o método
manual, segue a ordem inversa da construção mas, neste caso, derrubam-se secções da
estrutura em vez de desmantelar a mesma; a máquina deverá ser operada do exterior do
edifício de modo a que os escombros caiam para dentro), colapso deliberado (esta técnica
reduz o edifício a um monte de escombros através da remoção de uma série de membros
estruturais chave; é rápida e consequentemente barata, razoavelmente segura quando realizada
por mãos experientes, mas produz muito barulho, vibração e poeira; a remoção dos membros
chave poderá ser efectuada puxando-os para fora com um cabo de aço, rebentando-os com
uma carga explosiva ou estilhaçando-os com um explosivo de gás ou de hidráulico), bola de

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Técnicas de demolição de edifícios correntes por Jorge de Brito

demolição (bola de grande massa) e demolição por outros meios mecânicos, excluindo a
tracção com cabos. A indicação de um método particular não exclui o uso de outros métodos.

Quadro 2 - Análise comparativa de alguns métodos de demolição de estruturas

2.8.2. Em função de uma caracterização técnico-económica

No Quadro 3 é feita uma caracterização qualitativa técnico-económica de algumas das


técnicas inovadoras descritas neste documento para demolição de estruturas de betão.

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Técnicas de demolição de edifícios correntes por Jorge de Brito

Quadro 3 - Análise comparativa de algumas técnicas de demolição do betão

SISTEMA A B C D E

Velocidade de corte III II _ _ I

Largura do corte I II _ _ _

Rugosidade da secção cortada III I IIII II IIIII

Custo do corte I / II III I / II IIII IIIII

A - Serra de fio diamantado


B - Serra de disco diamantado
C - Quebrador de betão tipo “Darda”
D - Broca caroteadora
E - Pinças para trituração

Neste quadro, à medida que se vai da classificação I para a IIII, a característica referida na
linha respectiva torna-se mais acentuada. Assim, verifica-se que as pinças não serão em geral
competitivas no corte do betão, o mesmo se passando com a broca caroteadora. Os restantes
equipamentos são muito promissores, sendo que, no cômputo geral, as serras de fio ou disco
diamantados poderão vir a ganhar uma grande preponderância no mercado futuro das
demolições localizadas.

2.8.3. Em função do seu desempenho pseudo-quantitativo

No âmbito de uma tese de mestrado em Engenharia de Estruturas [3], propôs-se um critério


pseudo-quantitativo para classificar o desempenho de um conjunto relativamente alargado de
técnicas de demolição.

Cada técnica é avaliada em relação às seguintes características (os valores entre parêntesis
correspondem ao peso arbitrado de acordo com a sensibilidade do autor para a importância de
cada uma dessas características, sendo que o somatório desses pesos é igual à unidade; os
pesos poderão variar consoante as condições específicas do local): ruído (0.07), vibrações

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(0.09), calor (0.07), fogo (0.10), água (0.04), poeiras (0.06), fumo (0.07), projecções (0.10),
medidas de protecção (0.07), riscos para o trabalhador (0.12), velocidade de execução (0.10) e
custos (0.11). A avaliação consiste na atribuição de um número inteiro: 5 (muito
desfavorável), 4 (desfavorável), 3 (pouco desfavorável), 2 (pouco favorável), 1 (favorável) e 0
(muito favorável). O somatório dos produtos dos pesos pelas avaliações de cada característica
fornece um valor quantitativo decimal que é o desempenho da técnica para o local em
questão. Quanto menor for o valor, melhor o desempenho da técnica. A título de curiosidade,
apresenta-se de seguida os Quadros 4 e 5 com os resultados deste estudo.

Quadro 4 [3] - Avaliação do desempenho de algumas técnicas de demolição

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Quadro 5 [3] - Avaliação do desempenho de algumas técnicas de demolição (continuação)

Verifica-se, de acordo com o autor do estudo, que os métodos com melhor desempenho são a
expansão a plasma e o corte a laser e os de pior desempenho a lança térmica e uma sua
variante, o fuel-óleo, resultados algo surpreendentes e polémicos.

2.8.4. Em função da análise da sua adequabilidade

Neste estudo comparativo de um conjunto relativamente alargado de técnicas de demolição,


elaborado no âmbito de um simpósio internacional da RILEM, foram analisados
essencialmente os seguintes parâmetros, não necessariamente independentes entre si [7]:

 tipo de estrutura - de betão, de aço, mista ou de alvenaria;


 tipo dos elementos estruturais susceptíveis de ser demolidos;
 localização da construção - zona muito ou pouco urbanizada;
 escala da demolição - parcial ou total;
 uso da construção - normal ou especial;
 aplicabilidade em centros urbanos;

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Técnicas de demolição de edifícios correntes por Jorge de Brito

 desempenho (velocidade, custo e repetibilidade);


 grau de segurança no trabalho (ambiental e dos operários e transeuntes);
 níveis de ruído, vibração e pó permitidos;
 duração dos trabalhos de demolição;
 operações prévias e posteriores (necessidade de trabalho prévio e tamanho dos materiais
demolidos - reciclabilidade);
 tamanho da construção - pequena ou grande;
 orçamento disponível.

Nos quadros 6 e 7, apresenta-se de forma resumida os resultados desta análise comparativa.

2.8.5. Algumas conclusões

Apesar do que foi referido acima, poder-se-ão retirar algumas conclusões da prática corrente
no que se refere à selecção do método de demolição (do tipo global) a adoptar. Assim, em
construções antigas (anteriores ao betão armado), que constituem em Portugal ainda uma
parte significativa do total de edifícios demolidos, a técnica mais adequada é a com recurso a
equipamento mecânico (desde ferramentas manuais a, sempre que possível, equipamento
pesado com lanças articuladas, passando pelos martelos), elemento a elemento e com grande
incidência de mão-de-obra. Isto explica-se pela relativa pequena resistência mecânica das
construções, pela grande variedade de materiais nela contidos e pela possibilidade de
reaproveitar esses mesmos materiais. Em construções relativamente baixas e se houver
bastante espaço livra à volta, as opções da tracção de cabos e da bola de grande massa são
também possíveis, ainda que esta última praticamente não seja utilizada em Portugal. Em
construções térreas e no rés-do-chão de edifícios multi-pisos, o recurso à pá de arrasto é
possível, se a estrutura for pouco resistente, embora a giratória equipada com balde seja mais
manobrável e segura e permita maior alcance e altura.

Quadro 6 [7] - Análise comparativa de algumas técnicas de demolição


Operações Campos de aplicação

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Frequência de
resistentes (2)
Vigas, pilares
Tamanho dos

utilização (3)
Método de Princípio Maquinaria

Em centros
demolidos.

Demolição

Demolição
construção

Fundações

parcial (2)
materiais
Trabalho
demolição de funcio- acessória

total (2)

urbanos
Tipo de

paredes
prévio

Lajes,
namento

(1)

(2)

(2)
Martelo Corte do materi- Compressor de N Pequeno B.A., A A A A _ Elevada C
manual al por ar ou bomba B., A.
impacto hidráu.
Martelo de repetido Máquina de N Pequeno B.A., A A A A A Elevada C
grande porte rodas ou B., A.
lagartas
Bola de Impacto Máquina de la- N Grande B.A., A A NA NA A Baixa R(Japão)
grande massa repetido da bola gartas B., A. C(EC)
Martelo Corte do materi- Máquina de N Médio B.A., A A _ A A Elevada C
hidráulico al por impacto rodas ou B., A.
repetido lagartas
Macaco Êmbolos de aço Bomba de pres- S Grande B., A. AR AR A A AR Elevada SE
hidráulico que fracturam o são e máquina
material por de lagartas
pressão
hidráulica
Nibbler Aplicação de Escavadora hi- N Médio B.A., AR A NA A NA Elevada R
momento e dráulica de B. NA NA
fractura do lagartas
material por
flexão
Trituradora de Fractura por Máquina de la- N Pequeno B.A., A A _ A A Elevada C
maxilas pressão gartas B., A.
hidráulica nas
maxilas
Alicate de Esmagamento e Máquina de la- N Pequeno B.A., A A _ A A Elevada C
maxilas corte gartas B., A.
Pá de arrasto Por empuxe ou Máquina de la- N Pequeno B., A. A A NA NA A Média C
tracção gartas
Derrube Derrube da es- S Grande B.A., A NA NA A NA Média C
trutura B., A. A
Serra com Corte por abra- Máquina com N Grande B.A., A A _ A AR Elevada SE
disco são com disco movimento de B., A.
diamantado diamantado rotação
Serra com fio Corte por abra- Máquina com N Grande B.A., A AR A A AR Elevada SE
diamantado são com fio dia- movimento de B., A.
mantado rotação
Lança térmica Fusão por aque- Tanque de oxi- S Grande B.A., A A _ A _ Elevada SE
cimento génio e lança de B., A.
metal
Jacto de Fusão por Tanque de que- N Grande B.A., A A AR A AR Zonas SE
chamas chama rosene e de oxi- B., A. pouco
génio ruído
Aquecimento Descasque do Transformador e S Grande B.A. A A AR A NA Elevada SE
eléctrico dos betão por amplificador de
varões de aço aquecimento frequência
dos varões de
aço
Raio laser Laser de Célula óptica N Médio B.A., A A A A NA Baixa SE
dióxido de S
carbono
Arco voltaico Fusão do betão Máquina de sol- N Pequeno B.A. A A A A NA Baixa SE
por arco dar e dois elé-
voltaico ctrodos
Maçarico Corte por calor Mangueira N Médio B.A., A A A A NA Elevada SE
S
Microondas Aquecimento do Magnetron e N Pequeno B.A., A A A A NA Em desen- Em desen-
betão com guia de ondas B., A. volviment volviment
microondas o o
Notas:
(1) B.A. - Betão armado (2) A - Aplicável (3) C - Comum
B. - Betão simples NA - Não aplicável SE - Situações especiais
A. - Alvenaria AR - Aplicável c/ restrições R - Raro

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Quadro 7 [7] - Análise comparativa de algumas técnicas de demolição (continuação)


Características (4) Segurança Desempenho (4)
(4)

Risco para o
Método de

Rapidez de
Projecção

Protecção
ambiental

execução
Vibração

operário
demolição
Observações
Ruído

Custo
Fumo
Martelo 4 1 Pó
Pó 3 0 3 5 5 2 Protecção das vias respiratórias,
manual olhos, ouvidos e mãos. Necessidade
de plataforma de trabalho.
Martelo de 5 4 Pó 4 1 4 3 3 3 Painéis de isolamento ao ruído e ao
grande porte pó devem ser providenciados se tal
se justifique. Necessidade de uma
superfície de trabalho rígida.
Bola de 4 5 Pó 5 4 5 5 1 1 Proibida a entrada na área da estru-
grande massa tura a demolir. Não permitir que a
máquina tombe.
Martelo 3 4 Pó 3 3 4 4 2 4 Precaução na queda de materiais.
hidráulico
Macaco 2 0 Pó 2 0 2 1 4 4 Ruído e pó gerados apenas no
hidráulico tempo de perfuração
Nibbler 2 1 Pó 2 1 1 2 3 4 Necessidade de plataforma de traba-
lho rígida.
Trituradora de 2 2 Pó 3 2 4 3 2 4 Precaução na queda de materiais.
maxilas
Alicate de 2 2 Pó 3 2 4 3 2 4 Precaução na queda de materiais.
maxilas
Pá de arrasto 4 4 Pó 4 3 4 3 2 4 Necessidade de uma superfície de
trabalho rígida.
Derrube 4 5 Pó 5 5 5 4 1 2 Necessidade de protecção na direc-
ção oposta à do derrube.
Necessidade de protecção dos
serviços subterrâneos.
Serra com 4 1 _ 0 3 3 5 5 Necessidade de uma grua para sus-
disco tentar os materiais cortados.
diamantado Necessidade de uma superfície de
trabalho rígida.
Serra com fio 4 2 _ 0 3 3 5 5 Necessidade de uma grua para sus-
diamantado tentar os materiais cortados. Neces-
sidade de uma superfície de
trabalho rígida. Necessidade de
protecção no caso de a serra
resvalar.
Lança térmica 1 0 Fumo 4 Fogo 4 2 3 5 5 Necessidade de sistema de
prevenção de fumo e fogo.
Jacto de 5 0 Fumo 3 Fogo 5 4 4 4 4 Necessidade de sistema de
chamas prevenção de fumo e fogo. Não é
aplicável em centros urbanos devido
ao elevado nível de ruído.
Aquecimento 2 1 _ Calor 3 2 2 5 5 Ruído e pó gerados aquando da ex-
eléctrico dos posição dos varões de aço ou da re-
varões de aço moção de material. Fora deste
período de tempo não há ruído nem
vibração.
Raio laser 1 1 Fumo 1 _ 2 3 3 5 A temperatura do feixe ronda os 10
000ºC. Aplicável à maior parte de
materiais metálicos e não metálicos.
Arco voltaico 1 1 Fumo 3 Calor 3 2 3 4 5 Eficaz para o corte de superfícies ir-
regulares.
Maçarico 1 1 Fumo 4 Calor 4 4 5 4 5 Elevado risco para o operário.
Microondas 3 0 _ Calor 1 4 4 4 5 Necessidade de sistema de anti-
fuga. Prevenção de interferência
com TV e outras facilidades de
comunicação.
Nota:

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(4) Em ordem crescente, varia de favorável a menos favorável para o item em questão.

Em construções com estrutura de betão armado, mais resistentes que as anteriores, a melhor
técnica continua a ser a com recurso a equipamento mecânico, ainda que mais potente que
para o caso anterior. Em face da envergadura das lanças telescópicas disponíveis e da maior
ou menor capacidade de colocar alguns equipamentos (do tipo bobcat) no topo da estrutura, a
demolição dos pisos superiores poderá ter de ser elemento a elemento com equipamento
manual. Em edifícios altos e se houver muito espaço à volta, o recurso ao uso controlado de
explosivos torna-se bastante interessante. Só em edifícios muito pequenos e com fraca
estrutura se tornam competitivas técnicas como a pá de arrasto ou a bola de grande massa. Em
demolições localizadas e muito constrangidas pela envolvente, o recurso ao corte diamantado,
à hidrodemolição e aos processos térmicos é inevitável, não obstante os elevados custos
envolvidos. As restantes técnicas não têm grande tradição de aplicação, nem mesmo fora de
Portugal, não são competitivas e apenas permitem trabalhos muito localizados.

Um outro aspecto que tenderá a assumir cada vez maior importância, não só na selecção do
método de demolição a adoptar em particular mas em todo o processo construtivo em geral, é
a questão da reciclagem dos materiais da construção (Fig. 43). De facto, por razões
ambientais (proliferação dos depósitos de entulho) e económicas (encarecimento progressivo
dos inertes naturais cada vez mais raros), torna-se fundamental planear todas as operações no
sentido de reaproveitar não só os inertes do betão mas também outros materiais já trabalhados
(cantarias, madeiras exóticas, elementos decorativos, etc.). A maior fonte destes produtos é a
indústria da demolição ainda que em Portugal, como já anteriormente referido, a demolição
de estruturas de betão não tenha ainda a importância relativa que já assumiu noutros países.

Por todas estas razões, há cada vez mais pressão para que se recorra à chamada demolição
selectiva, com a máxima selecção e separação dos materiais durante a própria demolição. As
consequências práticas desta questão são duas: uma garantia de que a demolição elemento a
elemento será sempre necessária, ainda que mais lenta e, nalguns casos, mais onerosa; os
métodos de demolição de carácter mais global, rápido e (aparentemente) eficiente, tais como
o uso controlado de explosivos, a bola de grande massa, a pá de arrasto e a tracção de cabos,
perderão importância e terão sempre de ser complementares a outros do tipo anteriormente

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referido. Esta necessidade de combinar várias técnicas na mesma operação de demolição é já


hoje uma realidade, conforme se tornará evidente no capítulo 4 deste documento.

Fig. 43 - Central de reciclagem de inertes de betão armado

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3. TRABALHOS PRELIMINARES E POSTERIORES À DEMOLIÇÃO

Tal como os restantes trabalhos na área da construção, as demolições devem ser precedidas de
um planeamento e preparação adequados e encerradas com um conjunto de tarefas e recolha
de ensinamentos antes da recepção. A especificidade das demolições resulta
fundamentalmente do facto de se tratar porventura da fase do processo construtivo associada a
maiores perigos, tanto para os operários como para os transeuntes. Daí que os trabalhos
preliminares e posteriores às demolições sejam objecto aqui de uma descrição específica.

3.1. ESCOLHA DO EMPREITEIRO

A escolha da empresa responsável pela demolição deve ser feita através de um concurso, cujo
processo é preparado pelo Dono da obra, por uma entidade individual ou colectiva indicada
por este ou pela empresa encarregue da construção do novo edifício. Isto não impede que, em
muitas situações, o acerto se faça por ajuste directo. Tal como nos concursos para construção,
do processo de concurso devem constar uma carta convite, o programa de concurso, o caderno
de encargos e os projectos do edifício existente (sempre que esteja disponível) e do novo.

As propostas, a elaborar pelos concorrentes, deverão conter os elementos normalmente


apresentados num concurso para construção, devendo descrever o método e equipamento de
demolição, os prazos previstos, a mão-de-obra utilizada, as medidas de segurança /
sinalização a adoptar, identificação dos vazadouros, provisórios e definitivos, do entulho e
eventual reciclagem, tudo isto consubstanciado no plano de demolição. A apreciação das
propostas, a escolha do concorrente vencedor, a verificação da sua idoneidade técnico /
financeira / fiscal e a assinatura do contrato encerram esta fase do processo. Deve ser
designado um técnico responsável pelos trabalhos de demolição.

A título meramente indicativo, reproduz-se seguidamente um plano de demolição de carácter


muito simples.

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Memória Descritiva e Justificativa

O presente plano refere-se à demolição do prédio de Rés-do-chão e 3 andares, situado na Avenida Visconde
Valmor, n.º __, na freguesia de Nossa Senhora de Fátima, em Lisboa, propriedade da firma ____.
O prédio é confinante com a empena lateral esquerda do prédio n.º __, de 3º andar, de construção antiga, que
será demolido simultaneamente com este prédio é confinante com a empena lateral direita do prédio n.º __, de 2º
andar, também de construção antiga.
Os prédios a demolir de construção antiga, são da mesma época, dos anos 30, são constituídos por paredes
exteriores em alvenaria de pedra e paredes interiores em alvenaria de tijolo, com pavimentos em madeira e a
cobertura em telha, com estrutura em madeira.
Esta demolição, que se efectua simultaneamente com o n.º __, como se referiu anteriormente, diz respeito à
construção de um edifício de escritórios, cujo projecto de construção constitui o Processo N.º ____/0B/90, já
deferido.

Descrição dos Trabalhos

Os trabalhos serão executados dando comprimento ao estabelecido regulamentarmente, nomeadamente o


Decreto-Lei N.º 1820 de 11/07/1958 e em obediência a normas em vigor para trabalhos desta natureza.
Assim, adopta-se a seguinte metodologia de trabalhos:
1- Os trabalhos só devem ser iniciados depois de se ter verificado o corte da electricidade, água e gás, bem
como o desvio das linhas telefónicas;
2- Em primeiro lugar, serão retirados os elementos frágeis, envidraçados, janelas, portas, sanitários, etc.,
seguindo-se o desmonte da cobertura, apeamento da chaminé, cantarias e balaustres do frontão, sem
derrube;
3- A demolição deve realizar-se de cima para baixo, gradual e sequentemente, andar por andar, sem acumular
os produtos da demolição sobre os pavimentos, mas sim procedendo à sua remoção para o exterior através
de condutas, localizadas no logradouro e caixa de escada;
4- Nas paredes da fachada principal, será colocada rede de protecção em toda a superfície e instaladas
plataformas ao nível do 1º andar para protecção dos operários e do público;
5- Logo que a demolição atinja o nível do pavimento do 2º andar, deverá efectuar-se o escoramento
transversal, utilizando vigas metálicas tubulares, com elementos compostos electrossoldados, localizadas
segundo o desenho em anexo. Este escoramento será efectuado por firmas especializadas em instalações
deste tipo de estrutura;
6- O escoramento referido na alínea anterior, repete-se logo que a demolição atinja o nível do pavimento do 1º
andar;
7- O aperto das vigas tubulares, será realizado de forma a não transmitir às paredes das empenas dos edifícios
contíguos tensões pontuais, mas sim distribuídas, aplicando-se painéis apropriados para a degradação de
cargas;
8- Para a carga dos produtos de demolição poderão ser utilizados pás carregadores ligeiras, de rastos
metálicos, de preferência de pneus, cujas vibrações produzidas não provoquem danos nos prédios
contíguos, fazendo perigar a sua estabilidade;
9- As empenas dos prédios confinantes, após a demolição deverão ser rebocadas com argamassa, afim de
evitar infiltrações de águas no período de tempo que decorre até à construção;
10- O escoramento só será retirado, na fase de construção, para que se garanta as condições de segurança dos
prédios adjacentes.

Se, no decurso dos trabalhos, forem detectadas situações que possam concorrer para alterar a estabilidade dos
prédios contíguos, para além das disposições de segurança previstas, serão estudados e adoptados sistemas de
reforço complementar que as circunstâncias o aconselhem e de acordo com a Ex.ma Fiscalização Camarária.
Julga-se assim, assegurar, que os trabalhos de demolição se irão executar em boas condições de segurança, pelo
que, se solicita a aprovação do presente plano de demolição.

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3.2. AVALIAÇÃO DA SITUAÇÃO ESTRUTURAL

Tratando-se, como foi referido, de uma operação de risco acrescido, deverá ser feita uma
vistoria às construções e outras infraestruturas (por exemplo, jardins) vizinhas. Estas devem
ser visitadas, recolhidas fotos (e vídeo), colados alvos para controlo topográfico e selos
(testemunhos) para controlo de fendilhação. Sobretudo tratando-se de edifícios de alvenaria
tradicional, o estado das paredes, das divisões, das lajes e, principalmente, das fachadas, deve
ser inspeccionado. Sempre que necessário, serão feitos escoramentos (prumos em madeira ou
metálicos com molduras a servir de travessas). As situações de ruína eminente devem ser
identificadas imediatamente e tomadas as medidas necessárias para as colmatar ou mesmo
consumar antes do início dos trabalhos. A existência de materiais potencialmente explosivos,
inflamáveis ou tóxicos em depósitos, caves, canalizações ou poços próximos deve ser
registada.

Deve ser preparado um relatório pormenorizado destas vistorias, documentado por registos
escritos e fotográficos, que permitirão a comparação com o estado das construções após a
conclusão dos trabalhos de demolição. Recorda-se que o empreiteiro encarregue da demolição
será responsabilizado por quaisquer estragos imputáveis a essa mesma operação, pelo que
estas vistorias e relatório são do seu máximo interesse. Refira-se ainda que os prejuízos
poderão não ter apenas uma índole estrutural, mas serem resultantes das vibrações, pó e ruído
gerados em pessoas e bens.

O edifício a ser demolido deve ser objecto de uma vistoria particularmente minuciosa para
avaliar a sua estabilidade e resistência estruturais. Para além dos aspectos registados
relativamente às construções vizinhas, devem ser alvo de atenção todas as situações
potencialmente perigosas no decorrer dos trabalhos: estruturas ou cargas em balanço,
elementos frágeis, ligações a ameaçar ruína, zonas degradadas, etc..

Sempre que possível, a vistoria deve ser precedida do estudo dos projectos de arquitectura,
estabilidade e instalações especiais e das telas finais, assim como de quaisquer alterações
documentadas entretanto efectuadas no edifício. Para tal, poderá ser necessário recorrer aos
arquivos camarários. Caso contrário, esse reconhecimento será feito através de sondagens,

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medições e por comparação com as construções vizinhas (da mesma época e natureza).
Merecem particular atenção as redes de serviço, nomeadamente as de gás e electricidade.

3.3. LICENÇAS A OBTER

Para além da licença da obra, necessária em qualquer construção, é necessário obter autoriza-
ção para a demolição, o que obriga à apresentação de um plano de segurança e ocupação da
via pública com tapumes, plataformas de descarga, passadiços de circulação, andaimes, redes,
gruas e sinalização, plano esse susceptível de ser alterado por imposições camarárias. É neces-
sária também autorização para corte dos serviços relativos ao edifício a demolir e para desvio
dos serviços das construções vizinhas afectados pela demolição. Se o edifício se situar numa
área protegida ou classificada, o empreiteiro é obrigado a dar algumas garantias adicionais,
que poderão, em última análise, condicionar / alterar o método de trabalho proposto.

Determinados métodos de demolição tais como a bola de grande massa, a tracção de cabos e a
implosão envolvem riscos não desprezáveis para os transeuntes e podem obrigar à selagem da
área circundante da demolição. Resulta daí a necessidade de obter licenças especiais, mais
difíceis e limitadas no tempo. No caso da implosão, a obrigatoriedade de envolver a polícia e
os bombeiros torna o processo burocrático ainda mais pesado e a coordenação de operações
mais importante.

3.4. CORTE DE SERVIÇOS

Por razões de segurança, torna-se necessário assegurar o corte dos seguintes serviços relativos
ao edifício a demolir:

 corte da rede de electricidade (EDP); desligar no passeio o ramal;


 corte da rede de gás (GDL); desligar no ramal;
 corte da rede de água (EPAL); menos importante mas também conveniente;
 corte da rede de telefones (TLP).

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3.5. MONTAGEM DE EQUIPAMENTO

No capítulo 5, será tratada em detalhe toda a problemática associada à segurança durante as


operações de demolição. Agora refere-se apenas que, antes de se iniciar essas mesmas opera-
ções, toda a envolvente do edifício a demolir tem de estar preparada para não constituir perigo
para os operários e os transeuntes. Para tal, monta-se o tapume (geralmente no passeio da via
pública) para impedir o acesso ao interior da obra a pessoal não autorizado (Fig. 45, à esquerda).
É afixada nesse tapume toda a sinalização regulamentar (Fig. 44, à esquerda). São montados
os andaimes, as palas e plataformas de protecção sobre o local de passagem dos transeuntes
(Fig. 45, à esquerda) e colocadas redes a envolver toda esta estrutura provisória (Fig. 44, à
direita). É montado o estaleiro de forma idêntica à praticada habitualmente, havendo o cuidado
de assegurar o fornecimento de potência eléctrica, água com pressão e combustíveis.

Caso haja gruas-torre no exterior do edifício, elas deverão também ser montadas nesta fase.
Outro equipamento de elevação / remoção de cargas, tal como gruas automóveis telescópicas,
guindastes e empilhadeiras deve ser previsto.

3.6. ESTRUTURA DE CONTENÇÃO DE FACHADA

Se se pretender manter a fachada original de alvenaria tradicional (por exemplo, por


imposição da Câmara), a estrutura de contenção da mesma (Fig. 44, à esquerda), constituída
por perfis metálicos simples ou por treliças metálicas, que deverá ser objecto de um projecto,
servirá de suporte aos andaimes. Os vãos (portas e janelas) são preenchidos com tijolo
maciçado e rebocados por projecção pelo interior (Fig. 44, à direita), para aumentar a
resistência da parede e diminuir o efeito das vibrações. Para garantir maior rigidez à parede,
são colocadas longitudinalmente do lado do tardoz da mesma umas vigas metálicas que se
ligam à estrutura de contenção através de pequenos troços que atravessam os vãos de tijolo.
As ligações são feitas por soldadura ou com chapas metálicas de confinamento.

Nessas situações, é preciso prever uma abertura na fachada para acesso das máquinas ao
interior do edifício. Normalmente, isso é feito retirando um nembo no piso térreo (edifícios
em alvenaria tradicional), após se ter embebida uma (ou duas) viga(s) metálica(s) para vencer

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o vão total. Esta abertura pode ser feita no início da demolição ou só no fim (se a demolição
do interior não justificar a presença de máquinas).

Fig. 44 - À esquerda, placas de sinalização na obra e, à direita, andaime com redes de protecção

Fig. 45 - À esquerda, estrutura de suporte para contenção de fachada e plataforma de protecção


sobre o passadiço de passagem e peões e, à direita, vista posterior de uma fachada com os
vãos preenchidos com tijolo

Ainda que oferecendo menos garantias, é também possível conter a fachada original através
de cabos de cintagem ligados ou não a construções vizinhas.

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Esta operação de contenção da fachada é, nalguns casos e para acelerar o processo,


simultânea ou mesmo posterior à remoção do telhado e da laje de esteira. Por outro lado, a
operação de escoramento das construções vizinhas, descrita em detalhe no capítulo 5, poderá
ser iniciada ainda antes da demolição propriamente dita, se os edifícios confinantes tiverem
altura superior ao que vai ser demolido e se se considerar que dessa forma há um acréscimo
de segurança ou de facilidade de trabalho.

3.7. REMOÇÃO DE PRODUTOS SOBRANTES

Ao longo do processo de demolição vão sendo gerados produtos sobrantes, geralmente


designados por entulho. A estes produtos são retirados os que têm valor comercial per si (Fig.
46, à esquerda), ou seja, com pouca ou nenhuma necessidade de tratamento posterior, e os que
têm valor arquitectónico / histórico / cultural. Estão neste caso as cantarias (parapeitos,
lintéis, varandas, estatuetas, gárgulas e mísulas ou cachorros - Fig. 46, à direita), algumas
madeiras exóticas ou raras, determinada louça sanitária e azulejos, etc..

Fig. 46 - À esquerda, vigas e soalho de piso amontoados para serem levados para
reaproveitamento e, à direita, cantarias retiradas para o mesmo efeito

O que sobra é uma amálgama de produtos e materiais sem valor comercial, normalmente
levados para vazadouro. Refira-se que, não obstante seja de toda a conveniência que estes
materiais sejam removidos logo após o seu desmonte, é vulgar a sua acumulação no interior
do edifício demolido ou em espaços circundantes até ao fim da operação (Fig. 45, à direita).

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Numa perspectiva, já adoptada em diversos países da União Europeia, de que a construção


deve ser sustentada, devia ser feita uma triagem destes materiais no próprio local, sendo
depois encaminhados para os locais correctos: centrais de reciclagem de inertes (o betão) para
posterior utilização como material de base ou sub-base em aterros rodoviários, siderurgias (os
elementos metálicos), locais de queima (madeiras não aproveitáveis) e aterros (só os materiais
estritamente não recicláveis e não poluentes). Infelizmente, esta perspectiva não se aplica
ainda em Portugal.

3.8. TRABALHOS POSTERIORES

Após a demolição, é necessário verificar o estado dos edifícios vizinhos (nova vistoria) e
confrontá-lo com o relatório de inspecção feito antes da demolição, para apurar os estragos
provocados pela reparação, cuja operação deve ser custeada pela empresa de demolições. A
estrutura de contenção da fachada original só é retirada quando a nova construção, ligada a
essa mesma fachada, lhe conferir segurança suficiente. Por vezes, duplica-se a fachada,
criando-se uma fachada interior em betão armado ligada à original pelas vigas de
contraventamento.

3.9. DEMOLIÇÕES POR IMPLOSÃO

As demolições por implosão são, em vários aspectos, muito distintas de todas as outras. Por
um lado e apesar de estatisticamente serem das mais seguras, potenciam ainda maiores riscos
do que todas as outras. Daí que sejam adoptadas em relação a estas demolições medidas de
segurança de carácter especial, que se reflectem também nos trabalhos preliminares e
posteriores. O Quadro 8 reflecte essa mesma realidade através da descrição dos
acontecimentos antes e depois da explosão. Realça-se o facto de este dia ter sido precedido
por um período relativamente prolongado de preparação que, para além do planeamento e
colocação dos explosivos, incluiu outras tarefas tais como: determinação da zona de
influência / exclusão, definição dos domínios de actividade dos participantes, estudos de
tráfego durante o encerramento total, planeamento das operações com o pessoal, a polícia, os
bombeiros e os serviços de emergência hospitalar, campanha de informação de todas os
moradores afectados, etc..

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Quadro 8 [2] - Sequência típica dos acontecimentos no dia da demolição por implosão
Hora Actividade Entidade interventora
06.00 Chegada do pessoal ao local, início do levantamento de Empreiteiro
barricadas na zona de exclusão e proibição de acesso ao
local
06.30 (Reunião dos controladores de segurança), briefing sobre Empreiteiro
as preocupações do empreiteiro
07.00 Reunião da comissão de controlo e segurança Comissão de controlo
07.05 Briefing com a polícia Polícia
07.30 Colocação da polícia e controladores de segurança em Empreiteiro e Polícia
torno da zona de exclusão
07.30 Briefing com as equipas de evacuação das habitações Empreiteiro e Polícia
08.00 Contactos iniciais com as pessoas a evacuar Empreiteiro e Polícia
08.00 Selagem da zona de exclusão e encerramento das ruas Empreiteiro e Polícia
08.45 Verificação das comunicações Empreiteiro
09.00 Início da evacuação das residências Empreiteiro
09.30 Verificação das comunicações Empreiteiro
10.00 Verificação dos trabalhos de evacuação Empreiteiro
10.00 Vigilância das habitações circundantes Empreiteiro
10.15 Verificação das comunicações Empreiteiro
10.30 Fim da evacuação Empreiteiro
11.00 Zona liberta de todo o pessoal não essencial Empreiteiro
11.00 Reunião da comissão de controlo e segurança Comissão de controlo
11.00 Colocação e saída do local do pessoal dos aparelhos de Empreiteiro
monitorização
11.30 Zona liberta de todo o pessoal excepto o dos explosivos Empreiteiro
11.45 Verificação das comunicações Empreiteiro
11.50 Estabelecimento de uma zona de exclusão aérea com Empreiteiro e Polícia
cerca de 2000 metros de raio
11.55 Sinal de alarme seguido de verificação rádio com os Empreiteiro
controladores
11.59.30 Sinal de alarme e contagem decrescente Empreiteiro
12.00 Detonação Empreiteiro
12.05 Inspecção ao local pelos técnicos dos explosivos e Empreiteiro
engenheiros
12.15 Notificação de local seguro se os explosivos tiverem Empreiteiro
todos detonado
12.15 Início da remoção de escombros Empreiteiro
12.15 Início das operações de limpeza das estradas Empreiteiro
12.15 Inspecção das habitações adjacentes Empreiteiro
12.15 Remoção do equipamento de monitorização Empreiteiro
12.45 Entrada na zona de exclusão dos residentes Empreiteiro e Polícia
(exclusivamente)
13.15 Sinal de limpeza e fim de perigo da zona de exclusão Empreiteiro
13.30 Desmontagem das barricadas da zona de exclusão Empreiteiro e Polícia

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4. PROCESSOS E SEQUÊNCIA DE DEMOLIÇÃO

4.1. PROCESSOS DE DEMOLIÇÃO

O capítulo 2 serviu para descrever sucintamente as diversas técnicas de demolição, com base
sobretudo no princípio de funcionamento das mesmas e no equipamento utilizado. No
entanto, torna-se necessário descrever uma classificação de outro tipo, válida sobretudo para
os métodos de demolição global, e que tem a ver com o processo adoptado e o controlo que se
pode ter em relação à forma como a estrutura colapsa. Assim, ter-se-ão os métodos de
demolição elemento a elemento (com controlo praticamente total), os com controlo reduzido
e, finalmente, os sem controlo (ou de controlo muito reduzido).

4.1.1. Demolição elemento a elemento

Por definição, praticamente todos às técnicas referidas no capítulo 2 de âmbito estritamente


localizado são-no elemento a elemento e permitem um controlo quase total, do ponto de vista
macro-estrutural. Estão nesta situação tanto as técnicas que permitem uma demolição muito
precisa, como os processos térmicos, os eléctricos, os químicos e os de corte diamantado ou
com carborundo, como as técnicas que localmente não garantem grande precisão, como os
que recorrem a ferramentas manuais ou a martelos, os de micro-explosão e de expansão, os de
jacto de água e os por rebentamento interior ou esmagamento exterior. De todos elas, as que
são mais importantes no âmbito deste capítulo são as utilizadas naquilo que vulgarmente se
designa por demolição manual e os que permitem o desmantelamento da estrutura.

4.1.1.1. Demolição manual

Este processo recorre fundamentalmente a ferramentas manuais, a pequenos macacos


pneumáticos, hidráulicos ou eléctricos e, esporadicamente, a técnicas por rebentamento
interior ou por esmagamento exterior. Para remoção dos materiais e apoio nalgumas tarefas,
recorre-se ainda a gruas e outros meios de apoio mecânico.

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Este processo é o ideal para edifícios antigos (Fig. 47, à esquerda), nomeadamente os
anteriores ao betão armado, mas também tem aplicação em edifícios modernos numa
perspectiva de maximização da reciclagem / reaproveitamento dos materiais de construção
(construção sustentada). Nesse sentido e também para resolver problemas de falta de acesso
e/ou espaço livre, todas os restantes processos de demolição recorrem localmente a este.
Trata-se de um processo com grande incidência de mão-de-obra, lento e de baixa
rentabilidade e, consequentemente, caro.

Os elementos resistentes são demolidos em geral por ordem inversa ao seguido na construção:
- dos pisos superiores para os inferiores;
- retirando as cargas das lajes de forma simétrica;
- retirando as cargas que solicitam cada elemento resistente antes de o demolir;
- contraventando e / ou anulando as componentes horizontais em arcos e abóbadas;
- escorando, caso seja necessário, os elementos em consola;
- demolindo as estruturas hiperstáticas na sequência que implique menores flechas,
rotações e deslocamentos;
- mantendo ou introduzindo os escoramentos necessários.

4.1.1.2. Demolição por desmantelamento

Este processo, particularmente adequado para trabalhos de remodelação e em geral em


estruturas de betão armado, recorre fundamentalmente a meios de corte para desmembrar a
estrutura em elementos suficientemente pequenos e leves para serem içados na própria obra
através de uma grua e serem levados para vazadouro e/ou reciclagem (Fig. 47, à direita). As
técnicas mais indicadas são as de corte diamantado ou com carborundo, os processos térmicos
e ainda o recurso a pequenos martelos. Sobretudo se não forem utilizados martelos, este
processo apresenta como principais vantagens os baixos níveis de pó, ruído e vibração (o que
o torna imbatível em determinadas circunstâncias), mas pode ser ainda substancialmente mais
caro que o anterior. Em termos de sequência de demolição, este processo não difere
substancialmente do anterior, que será objecto de uma descrição pormenorizada mais adiante
neste capítulo, ainda que o planeamento deva ser mais cuidado.

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Fig. 47 - À esquerda, demolição manual de uma moradia de alvenaria no centro da Parede e, à


direita, viga desmantelada içada para transporte a vazadouro

Fig. 48 - Giratória com lança telescópica munida de tesoura (à esquerda) ou de power


grapples (à direita)

Para maximizar a eficiência, deve-se minimizar as superfícies cortadas (dentro da capacidade


dos meios de transporte no interior e no exterior do estaleiro), evitando cortes em peças muito
espessas, muito armadas ou pouco acessíveis.

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4.1.2. Demolição com controlo reduzido

Nestes processos, geralmente de demolição global ou de complemento a outros que o são, o


controlo em relação à forma como a estrutura irá colapsar e até mesmo em relação à parte da
estrutura que, em cada fase, o irá fazer, é reduzido. Não quer isto necessariamente dizer que
as técnicas sejam perigosas, mas sim que envolvem um risco do ponto de vista macro-
estrutural que não existe na demolição elemento a elemento.

Se no mesmo edifício se recorrer simultaneamente a uma demolição elemento a elemento e a


uma demolição por colapso (pá de arrasto, bola de grande massa ou explosivos), é necessário
garantir que:
- é perfeitamente clara dentro do edifício a divisão entre um tipo de demolição e o
outro;
- a demolição por colapso é realizado após a demolição elemento a elemento;
- a demolição elemento a elemento deve deixar em equilíbrio estável os elementos
resistentes da zona a demolir por colapso.

De forma muito sucinta, referem-se de seguida as técnicas de demolição incluídas neste


grupo, que têm em comum entre si o inconveniente de produzirem muito pó, ruído e
vibrações.

4.1.2.1. Demolição por empuxe

Este processo consiste em empurrar lateral e horizontalmente estruturas de pequena


envergadura e resistência, fazendo-as ruir. Tratando-se de um processo rápido e económico,
está muito limitado em termos de domínio de aplicação a estruturas térreas ou ao rés-do-chão
de edifícios de mais de um piso, geralmente de alvenaria tradicional, e exige alguma distância
de segurança. Na demolição por empuxe (normalmente com pá de arrasto), há que seguir
determinadas regras:
- a altura do edifício ou parte de edifício a demolir com esta técnica não deve exceder
2/3 da altura máxima alcançada pela máquina utilizada;
- a máquina deverá sempre evoluir sobre solo consistente;

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- o impulso deverá ser dada no quarto superior dos elementos verticais e sempre acima
do respectivo centro de gravidade;
- sempre que existam planos inclinados como águas de coberturas que possam deslizar
sobre a máquina, estes devem ser demolidos previamente por outros métodos.

4.1.2.2. Demolição por impacto e tracção

Este processo está associado à utilização de maquinaria pesada do tipo retro-escavadoras e


giratórias (Fig. 48), com acessórios na ponte de lanças telescópicas, sobretudo o balde, a
tesoura, o alicate, a trituradora e os martelos. É um método extremamente popular em
Portugal no desmonte rápido (prescinde de andaimes) e eficaz de estruturas de alvenaria
tradicional. Para além do controlo reduzido que permite, torna-se menos eficiente em
estruturas de betão armado, exige espaço livre, envolve alguns riscos para o pessoal da obra e
os transeuntes e, do ponto de vista ambiental, é pouco defensável.

4.1.2.3. Derrube por tracção de cabos

Este processo, já sucintamente descrito no capítulo 2, permite derrubar partes importantes da


estrutura por tracção de cabos de aço solidamente presos fora do perímetro da obra. É
utilizado em Portugal, como complemento a outros processos, na demolição de estruturas de
alvenaria tradicional (Fig. 49). Se for possível, deverão ser retiradas todas as madeiras, tubos,
vigas e lintéis antes da operação de derrubamento por tracção do cabo, uma vez que podem
ser recuperados e actuam como estabilizadores de todo o edifício e assim sendo oferecem
resistência à própria demolição. Se por alguma razão, a máquina de tracção ou o cabo forem
inadequados para efectuar o colapso completo, então deverão ser utilizados ou um martelo
hidráulico ou uma bola de grande massa, uma vez que a estabilidade estrutural da estrutura
pode ter diminuído. Para além das desvantagens referidas no capítulo 2 e dos incómodos que
provoca, este processo tem associado um risco significativo, o que obriga à saída de todos os
operários da zona a demolir durante toda a operação.

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Fig. 49 - Nembo de alvenaria a ser puxado com retro-escavadora

Fig. 50 - À esquerda, implosão de edifício (preparada durante 9 semanas, executada em 15


segundos, e com 4 semanas para remoção do entulho) e, à direita, triagem do entulho para
posterior reaproveitamento ou reciclagem

4.1.2.4. Demolição por explosão

Este processo, cujo expoente máximo e mais mediático é a implosão (Fig. 50, à esquerda),
pode ser considerado como de controlo reduzido (e não nulo) porque, não obstante provocar
uma demolição global e repentina do edifício, é geralmente feito com um grau de
profissionalismo e competência que o transforma estatisticamente num dos processos mais
seguros de demolição. Tem sido utilizado muito pouco em Portugal por só haver uma

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empresa licenciada para o efeito e por alguma desconfiança natural das autoridades em
relação às novidades importadas. Não é tão rápido quanto à partida possa parecer (a
demolição propriamente dita demora apenas alguns segundos), porque envolve um período de
preparação, licenciamento e coordenação de operações significativo. No entanto, em algumas
circunstâncias permite ganhar muito tempo (e dinheiro) em relação à demolição elemento a
elemento. O seu principal problema no futuro poderá ter a ver com a obrigatoriedade de
reciclagem dos materiais, pelo que é provável que sirva apenas para demolir a estrutura
(toscos) após todo o equipamento e revestimentos terem sido retirados e triados (Fig. 50, à
direita), entrando depois em obra equipamento para trituração do betão e extracção das
armaduras.

4.1.3. Demolição sem controlo

Estes processos correspondem a técnicas em as medidas de segurança têm de ser carácter


excepcional e que só podem ser aplicadas em edifícios com uma área de protecção
significativa.

4.1.3.1. Demolição por impacto

O equipamento associado a este processo de demolição é sobretudo a bola de grande massa


(Fig. 51, à esquerda), sem qualquer tradição em Portugal, exactamente devido aos perigos
envolvidos, e a cair em desuso no estrangeiro. Tem todos os inconvenientes dos processos
com grau de controlo reduzido e sem algumas das suas vantagens, já que envolve alguma
demolição manual, exige pós-tratamento dos detritos e não é particularmente rápido,
sobretudo em estruturas de betão armado.

4.1.3.2. Colapso deliberado

Englobam-se neste tipo de processo as técnicas de derrube e afundamento referidas no


capítulo 2. Sendo a segunda praticamente uma mera curiosidade, a primeira consiste na
remoção de certos elementos estruturais importantes, em geral com o auxílio de cabos,
causando o colapso de todo ou de parte do edifício (Fig. 51, à direita). A técnica exige um

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cálculo estrutural realizado por um engenheiro experiente, por forma a evitar colapsos
extemporâneos que ponham em causa a integridade física do pessoal, o que não impede que o
colapso se possa dar de forma diferente da pretendida. O facto de o colapso não se chegar a
verificar coloca depois problemas gravíssimos.

4.2. SEQUÊNCIA DE DEMOLIÇÃO ELEMENTO A ELEMENTO

A demolição elemento a elemento obedece a uma determinada sequência aproximada de


operações, que tem como principais objectivos garantir que não haja colapsos imprevistos,
salvaguardar a segurança dos trabalhadores e o valor patrimonial dos materiais, maximizar o
rendimento e aproveitar os elementos com valor comercial:

1) retirar o equipamento industrial ou electromecânico (inclui elevadores, bombas de


água, sistemas de aquecimento central, aparelhos de ar condicionado, antenas de TV,
etc.) e todos os restantes elementos “estranhos” à estrutura (vidros, portas e janelas,
louças sanitárias, caleiras, algerozes e tubos de queda das águas pluviais, etc.);
2) demolição de corpos salientes em cobertura (chaminés todos os adornos metálicos ou
não das chaminés e clarabóias existentes);
3) demolição do material de revestimento na cobertura;
4) demolição da estrutura de cobertura (madres, varas e ripas);
5) demolição dos tabiques de alvenaria de apoio da cobertura;
6) demolição do material de enchimento para formação da pendente em coberturas;
7) demolição de cabos, tirantes e escoras em coberturas;
8) demolição da laje de esteira (por vezes e por facilitar a remoção, parte da tarefa 1) só
agora é efectuada); inicia-se a demolição do último piso habitado;
9) escoramento de consolas, arcos, abóbadas, assim como de todos os elementos que
ameacem colapsar ou estejam degradados;
10) demolição de revestimentos em paredes, pisos, tectos e escadas, incluindo tectos falsos
e elementos de carpintaria e serralharia;
11) demolição de tabiques e/ou paredes divisórias;
12) demolição da laje do piso e das abóbadas (se existirem);

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Fig. 51 - À esquerda, demolição com recurso a bola de grande massa e , à direita, colapso da
torre de uma moradia nos Estados Unidos por colapso deliberado

Fig. 52 - Duas infracções às regras da boa prática: à esquerda, acumulação de entulho em piso
a demolir e, à direita, elevador não removida antes do início dos trabalhos de demolição

13) demolição de vigas (quando existam);

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14) demolição dos elementos de suporte vertical (paredes resistentes em estruturas


tradicionais, pilares e núcleos em estruturas de betão armado);
15) demolição do último troço de escada;
16) repetição dos pontos 9) a 15) para os restantes pisos;
17) demolição de muros de suporte de terras;
18) demolição de fundações.

No sentido de ilustrar o processo de demolição elemento a elemento tal como é praticado em


Portugal, apresenta-se de seguida a descrição de uma demolição de estrutura de alvenaria
tradicional (demolição manual) e das particularidades em relação a esta última da demolição
de estruturas de betão armado (demolição por desmantelamento). Nestes relatos serão também
descritas as operações de demolição de determinados elementos particulares assim como os
cuidados a tomar.

4.2.1. Demolição de edifícios de alvenaria tradicional

A grande generalidade dos edifícios que têm vindo até aqui a ser demolidos em Lisboa e
noutros centros urbanos em Portugal são anteriores ao betão armado. Tipicamente, a sua
estrutura é constituída da seguinte forma: paredes exteriores (e, por vezes também, as caixas
de escadas e das chaminés) em alvenaria tradicional de pedra argamassada com fraco teor em
ligante; tabiques interiores portantes em materiais à base de madeira ou alvenaria de tijolo,
geralmente maciço; lajes em soalho de madeira assente sobre vigas também de madeira;
coberturas em asnas de madeira ou metálicas.

Neste tipo de edifícios e também em face da exiguidade do espaço nos centros urbanos e das
limitações ao nível do ruído, das vibrações e das poeiras, a demolição tradicional mantém
uma grande preponderância. Neste método, a maior parte do trabalho é feito manualmente, à
custa de trabalho braçal com ferramentas ligeiras ou semi-ligeiras, tais como a marreta, os
martelos, o escopo, a pá, o balde, a serra, o alicate, o pé-de-cabra e outros. Adicionalmente,
usam-se cadernais e cordas para baixar ou subir materiais, assim como calhas metálicas ou
plásticas.

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Sempre que possível, recorre-se cada vez mais a equipamento mecânico pesado alimentado a
diesel, hidraulicamente ou pneumaticamente: pás carregadoras, pá de arrasto, giratória, retro-
escavadora, etc.. Com um peso intermédio, utilizam-se cada vez mais os martelos
pneumáticos ou hidráulicos, manobrados manualmente e ligados a um compressor, ou
manobrados por um dos equipamentos citados atrás citados.

Realizados os trabalhos preparatórios referidos no capítulo 3, e ainda antes da demolição


propriamente dita, são abertos buracos entre as lajes de madeira para que os entulhos possam
ser canalizados para o piso térreo (Fig. 45, à direita). Os entulhos nunca se devem acumular
nos pisos (Fig. 52, à esquerda) ou junto a paredes, para evitar roturas locais e acidentes
pessoais. É feita uma pré-selecção entre madeiras seleccionáveis (casquinha ou pico espano) e
não aproveitáveis (só para lenha). São ainda retiradas as portas e janelas interiores, tendo o
cuidado de se garantir que as portas e janelas exteriores, sobretudo aquelas perto dos locais de
canalização dos entulhos, estão vedadas de forma a não permitir que algum entulho possa sair
para a rua (Fig. 53, à esquerda).

Retirado o equipamento industrial ou electromecânico (Fig. 52, à direita) assim como todos os
corpos “estranhos” à estrutura, inicia-se a demolição pela cobertura, geralmente em telhado e
prossegue-se de cima para baixo, pela ordem inversa da construção. Uma regra de ouro é a
seguinte: antes de se demolir qualquer elemento estrutural, é necessário garantir que todas as
cargas que nele descarregam são retiradas ou lhes é garantido um novo apoio. Por outras
palavras, retiram-se sempre os elementos suportados antes do suportante. Outras
recomendações encontram-se listadas em 4.1.1.1..

Ao demolir a cobertura, devem ser retirados primeiro todos os corpos salientes da mesma
(chaminés, adornos metálicos e clarabóias), a seguir o revestimento (telhas), manualmente, e
só no fim (Fig. 54, à esquerda) as ripas, varas e madres, por esta ordem. No fim, são
demolidas as asnas e a laje de esteira. É conveniente deixar algumas vigas para estabilizar a
parte de cima das paredes até à demolição destas (Fig. 54, à direita).

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Fig. 53 - À esquerda, porta exterior vedada pelo interior para evitar saída de entulho e, à
direita, empena de edifício vizinho argamassada

Fig. 54 - À esquerda, aspecto da estrutura da cobertura completamente destelhada e sem ripas


e, à direita, derrocada imprevista da laje por falta de escoramento adequado

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Fig. 55 - À esquerda, nembo puxado com retro-escavadora e espaço de segurança para


garantir a segurança de pessoal e transeuntes e, à direita, colapso do mesmo com formação de
poeira
Nessa altura, deve-se verificar se as empenas são ou não únicas, meeiras ou dos edifícios con-
finantes (como por vezes acontece!). Nos dois últimos casos, não podem ser demolidas,
mesmo que isso signifique uma perda de área útil para os proprietários do futuro edifício,
porque as pedras das paredes meeiras atravessam a totalidade das mesmas. À medida que é
feita a demolição, remata-se todos os orifícios nas empenas vizinhas com argamassa de
cimento e areia (reboco), para evitar infiltrações ou possíveis fissuras nos prédios adjacentes
(Fig. 53, à direita).

Retirado o telhado e a laje de esteira, passa-se ao último piso. Põe-se por vezes a hipótese de
recuperar os tijolos maciços de alguns tabiques, tarefa que é feita manualmente e com o
auxílio de andaimes independentes. Os nembos (maciços entre vãos em obras de alvenaria)
são desligados um a um de forma a serem puxados com cordas ou cabos de aço, através de um
cadernal fixo a um local mais resistente ou, se possível em termos de espaço livre, com uma
máquina (Fig. 55).

Logo após o nembo ser puxado, os entulhos que eventualmente fiquem no piso devem ser
retirados para não haver sobrecarga na laje, o que poderia fazer arrear a mesma. Este processo
de retirada dos entulhos é feito através de carros de mão (Fig. 52, à esquerda) e pás.

Nestes edifícios de alvenaria e tabiques (divisões feitas com costaneiras e ripas, forradas com
gesso), a respectiva demolição (feita por tracção de cordas e a força braçal) provoca bastante
pó. Daí que haja alguma vantagem em ter na obra água corrente para minimizar esse mesmo
pó.

Retiradas as paredes, verifica-se o estado em que ficaram as pedras das varandas e tenta-se
removê-las para o interior do edifício com a ajuda de alavancas e picaretas. É frequente estas
pedras serem aproveitáveis (Fig. 46, à direita), fazendo com que tenham de ser entregues no
depósito de material da Câmara Municipal. Retiradas as varandas, passa-se às mísulas ou

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cachorros, também geralmente em pedra. Como são mais largas e altas no interior das
paredes, não existe normalmente o perigo de caírem para fora do edifício.

Começa-se então a retirar o soalho que, muitas das vezes nestas construções, é de madeira
com valor comercial residual, pelo que é aproveitado (Fig. 46, à esquerda). Segue-se a
remoção das vigas de madeira de apoio do soalho. Ambos estes materiais podem ser baixados
com equipamento mecânico ou com cadernal e à custa de esforço braçal.

Todo este processo, descrito para o piso mais elevado, é repetido nos restantes pisos, de cima
para baixo, até se atingir o piso térreo. O último elemento a ser retirado em cada piso são
sempre as escadas e respectivos corrimãos (Fig. 56, à esquerda). É importante não esquecer
que, quando se baixa um piso, terá de se baixar também os andaimes para não ficarem com
muita altura não contraventada às fachadas. É possível o recurso à pá de arrasto no piso térreo
e do balde um pouco mais acima e função do alcance da lança articulada. Por vezes, para
aumentar esse mesmo alcance e de uma forma menos correcta, tira-se partido do entulhe
depositado (Fig. 56, à direita).

A haver muros de suporte de terras, é preciso verificar a sua consistência e nomeadamente se


não é necessário o seu contraventamento que, com o edifício construído, seria eventualmente
assegurado pelo seu próprio peso e pela existência das lajes. Poderá ser necessário deixar
gigantes ou contrafortes, quer na direcção longitudinal (perpendicular às fachadas) quer na
transversal (perpendicular às empenas dos edifícios vizinhos). Estes contrafortes poderão ser
constituídos pelas paredes de fachada, nas quais é necessário fechar os vãos das janelas e
portas com tijolo maciçado (preenchido com argamassa) e rebocado (Fig. 57, à esquerda).
Quando se justificar por os gigantes não estarem suficientemente consolidados, poderá ser
necessário recorrer a betão projectado sobre uma malhasol previamente fixa às paredes, o que
os tornará mais sólidos. A mesma solução poderá ser adoptada em muros de suporte
degradados.

As sapatas enterradas, tanto no interior como na periferia do edifício, assim como os muros de
suporte, só são demolidos simultaneamente com a execução da escavação para a execução do
novo edifício.

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Depois de tudo estar demolido, recorre-se à escavadora para carregar os entulhos nos camiões
para serem levados a vazadouro. Geralmente, as madeiras, pedras e grades recuperáveis vão
sendo acumuladas nas traseiras do edifício. No entanto, na falta de espaço, poderão, após
terem sido agrupadas, ter de ser carregadas para estaleiro ou vazadouro várias vezes no
decurso da demolição. A última operação é a limpeza do passeio e a remoção dos últimos
andaimes e do tapume.

Fig. 56 - À esquerda, a escada e respectivo corrimão como últimos elementos a ser demolidos
e, à direita, utilização do entulhe para aumentar o alcance da giratória

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Fig. 57 - À esquerda, parte da fachada a funcionar como gigante na contenção da empena do


edifício vizinho e, à direita, colocação de um compressor para alimentar martelos
pneumáticos
Nas situações em que se pretende manter a fachada procede-se como referido em 3.6.. Os
trabalhos posteriores à demolição foram referidos em 3.8..

4.2.2. Demolição de edifícios de betão armado ou pré-esforçado

A demolição de edifícios de estrutura de betão apresenta em Portugal, onde ainda não é muito
corrente, muitos aspectos comuns com a demolição de edifícios de alvenaria tradicional, até
mesmo em termos de equipamento utilizado. Há necessariamente uma maior ênfase no
trabalho realizado com recurso a equipamento pesado e sobretudo nas técnicas de corte que
permitem mais facilmente o desmantelamento dos elementos estruturais de maior dimensão e
peso (Fig. 57, à direita).

Quando existem elementos pré-fabricados pesados, estes deverão ser desligados da restante
estrutura através das ligações, geralmente de aço. Quando estas se encontram cobertas com
betão, é necessário removê-lo antecipadamente. A estabilidade da estrutura pode ser obtida

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através das juntas, em cujo caso não há problema no desmonte, mas também pode advir dos
painéis de enchimento, em cujo caso é necessário contraventá-la.

As peças pré-esforçadas devem ser objecto de um cuidado maior na sua demolição, embora a
situação só se torne crítica se o pré-esforço for não aderente, situação pouco corrente na
concepção das estruturas (só recentemente se começou a utilizar em Portugal pré-esforço não
aderente, sobretudo em lajes de grande vão, e essas estruturas não serão previsivelmente
demolidas durante bastantes anos). O perigo que vem desta solução estrutural resulta do facto
de, ao ser cortado um tendão em qualquer local da sua trajectória, ele perder a tensão em toda
a sua extensão. Peças deste tipo devem ser alvo de um estudo estrutural antes da demolição
que demonstre que, mesmo sem pré-esforço, resistem ao seu peso próprio, e em qualquer dos
casos ser escoradas em toda a sua extensão durante toda a operação.

Segue-se uma lista de recomendações relativas à demolição de alguns elementos estruturais


de betão.

4.2.2.1. Lajes

 Só deverão ser demolidas após terem sido retirados todos os elementos que sobre elas
repousam, incluindo parapeitos e platibandas;
 Os elementos em balanço devem ser previamente escorados, assim como todos os painéis
em que tenham sido detectadas flechas excessivas;
 As lajes em balanço deverão ser as primeiras a ser demolidas cortando-as em secções
exteriores ao elemento resistente no qual apoiam;
 O estado das lajes junto a instalações sanitárias, canalizações e chaminés deverá ser
observado previamente com algum cuidado;
 No caso de lajes de vigotas pré-esforçadas, as abobadilhas (e outros elementos de aligeira-
mento) devem ser retirados / demolidos de ambos os lados de cada vigota sem a danificar,
sendo a vigota suspensa previamente com cabos junto a cada um dos apoios; se a vigota
tem continuidade para o vão seguinte, este deve ser escorado na sua zona central sendo
depois cortada numa secção junto ao apoio do lado do vão a demolir primeiro (Fig. 58);

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 No caso de lajes vigadas tradicionais armadas numa só direcção, serão executados cortes a
todo o vão da laje na direcção da armadura principal, por forma a obter troços de laje de
peso compatível com a capacidade da grua, sendo cada troço suspenso previamente junto a
cada um dos apoios, executam-se a seguir demolições localizadas do betão, deixando à
vista as armaduras que serão posteriormente cortadas, perpendicularmente à armadura
principal e junto aos apoios para libertar o troço central de laje; quando a laje tem
continuidade para o vão seguinte, este deve ser escorado na sua zona central sendo
posteriormente a laje cortada numa secção junto ao apoio do lado do vão a demolir
primeiro (Fig. 59);
 Se as lajes vigadas tradicionais forem armadas em cruz, serão executados cortes por forma
a obter troços de laje de peso compatível com a capacidade da grua; esses troços não
deverão incluir as bandas maciças entre pilares nem os capitéis dos pilares no caso de lajes
fungiformes; os cortes deverão ser executados começando pelo centro do painel e
evoluindo em espiral, sendo previamente escorado o centro dos troços adjacentes ao troço
de laje a demolir; para libertar cada troço de laje, proceder-se-á, tal como para o caso
anterior, a uma demolição localizada do betão deixando apenas as armaduras a ligar o
troço a demolir ao restante da laje; nas lajes fungiformes, à demolição da zona aligeirada do
painel segue-se a das bandas maciças entre pilares e só depois a dos capitéis dos pilares.

Fig. 58 - Demolição de uma laje de vigotas pré-esforçadas

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Fig. 59 - Demolição de uma laje vigada tradicional armada numa só direcção

1ª fase: contraventamento e demolição total na 2ª fase: corte das armaduras e derrube lento do pilar
base do pilar pilar
Fig. 60 - Demolição de um pilar de betão
4.2.2.2. Vigas

 Só deverão ser demolidas após terem sido retirados todos os elementos que sobre elas
repousam, incluindo lajes, pilares, parapeitos e platibandas, ficando consequentemente
livres de todas as cargas à excepção do peso próprio;
 Será suspensa previamente (através de cabos) a parte da viga que se vai elevar, cortando
ou desmontando seguidamente os seus extremos;
 Não deverão ser deixadas sem escoramento vigas ou parte destas em balanço.

4.2.2.3. Pilares e paredes

 Só deverão ser demolidos após terem sido retirados todos os elementos que sobre elas
repousam, incluindo lajes, vigas e capitéis, ficando consequentemente livres de todas as
cargas à excepção do peso próprio;

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 Antes de se iniciar a demolição, o topo do pilar deve ser atirantado através de cabos no
plano de derrube e em ambos os sentidos, garantida a estabilidade do pilar durante todo o
processo, o betão é demolido localmente junto à base do pilar de maneira a formar uma
espécie de rótula; finalmente, as armaduras deixadas à vista são cortadas de um dos lados
fazendo-se o pilar rodar lentamente para o lado oposto ancorado nos cabos (Fig. 60);
 No caso de paredes resistentes, o processo é semelhante ao utilizado para pilares, ainda
que a demolição deva ser feita por troços de largura não superior a 1.00 m; para tal são
realizados cortes verticais a toda a altura do troço de parede, sendo posteriormente o troço
escolhido tombado na direcção da menor dimensão da parede (Fig. 61);
 Os troços de pilar ou parede demolidos nunca devem ser deixados tombar com violência
sobre lajes.

Fig. 61 - Demolição de uma parede de betão

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5. SEGURANÇA DURANTE A DEMOLIÇÃO

Tratando-se as demolições de uma operação considerada de alto risco, seria natural que
fossem tratadas ao nível da segurança de uma forma particularmente cuidada. De facto e só
para citar o caso do Reino Unido, existe um regulamento específico para as demolições, a BS
6187 [5]. Infelizmente, em Portugal o mesmo não se passa, pelo que apenas o Regulamento
de Segurança no Trabalho de Construção Civil (RSTCC) de Agosto de 1958 (Decreto-Lei n.º
41821 [4]) alude ao assunto.

5.1. REGULAMENTAÇÃO NACIONAL

Reproduz-se de seguida o Título IV - Demolições, do RSTCC, em que, através da


apresentação a negrito, se dá ênfase aos aspectos mais relevantes desse mesmo documento.
Simultaneamente, procurou-se ilustrar com imagens, tanto situações de infracção como de
cumprimento do articulado exposto.

TÍTULO IV

Demolições

CAPÍTULO I

Disposições gerais

Art. 47° A demolição de qualquer edificação será dirigida por técnico responsável, legalmente idóneo, que
responderá pela aplicação das medidas previstas neste título ou exigidas pela natureza especial dos trabalhos
para protecção e segurança das pessoas e bens dos trabalhadores e do público.

CAPÍTULO II

Providências preliminares

Art. 48° Não poderá ter início qualquer trabalho de demolição sem que previamente o técnico responsável se
tenha assegurado de que a água, gás e electricidade fornecidos ao edifício se encontram cortados.
§ único. Se para o andamento dos trabalhos forem necessárias água ou energia, o respectivo fornecimento
será feito em local e de forma a evitar quaisquer inconvenientes.
Art. 49° Os elementos frágeis, como envidraçados, fasquiados e estuques, serão retirados dos edifícios
antes de começada a demolição (Fig. 62, à esquerda).
§ único. Os operários empregados na remoção de estuques e tabiques utilizarão máscaras destinadas a
defendê-los das poeiras, a menos que estas sejam eliminadas por meio de água ou qualquer outro processo
adequado.

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CAPÍTULO III

Outras providências

Art. 50° A demolição deve conduzir-se gradualmente, de cima para baixo, de andar para andar e dos
elementos suportados para os elementos suportantes.
§ único. Não pode ser removido qualquer elemento suportante antes de o serem os elementos
suportados que lhe correspondam, salvo se forem tomadas as devidas precauções para evitar os perigos que
daí possam advir.
Art. 51° As paredes, chaminés e quaisquer outros elementos a demolir devem ser apeados por partes e nas
condições exigidas na secção II do capítulo IV deste título.
§ 1° Não é permitido lançar ou deixar cair materiais directamente sobre os pavimentos, nem a sua
acumulação nos mesmos (Fig. 52, à esquerda).
§ 2° Os produtos de demolição serão imediatamente retirados para fora do edifício.
Art. 52° As escadas e balaustradas serão mantidas nos seus lugares durante o maior período de tempo
possível (Fig. 56, à esquerda).
Art. 53° Os elementos a demolir, particularmente paredes e chaminés, não podem ser abandonados em
posição que torne possível o seu derrubamento por acções eventuais, nomeadamente a do vento ou a do
choque de vigas.
Art. 54° Além das precauções previstas expressamente neste regulamento, haverá cuidados “especiais” no
manejo de coberturas de chapas metálicas, no apeamento de cornijas e na demolição de paredes com vigas
embebidas.

CAPÍTULO IV

Equipamento, instalações auxiliares e sua utilização

SECÇÃO I

Equipamento do pessoal

Art. 55° Todo o pessoal empregado em trabalhos de demolição usará calçado adequado.
§ 1° Os trabalhadores expostos ao perigo da queda de objectos ou materiais usarão capacetes duros (Fig. 49,
à esquerda, e 62, à direita).
§ 2° Os trabalhadores empregados na remoção de materiais com arestas cortantes devem usar luvas
resistentes (Fig. 47, à esquerda).

SECÇÃO II

Remoção e descida de materiais

Art. 56° Os produtos de demolição, sobretudo quando constituídos por grandes quantidades ou por volumes
pesados, serão arreados por meio de cordas, cabos, roldanas, guinchos ou outros processos apropriados para
zonas vedadas à permanência ou circulação do pessoal.
§ único. Na execução das descidas, adoptar-se-á um sistema adequado de sinalização e serão empregados, se
necessário, cabos de cauda.
Art. 57° A utilização de um derrick na remoção de estruturas metálicas será precedida da verificação de que
o pavimento onde vai ser instalado oferece a necessária resistência e estabilidade.
Nos casos em que isso seja aconselhável, poderão transmitir-se as cargas às vigas do pavimento por meio de
pranchas suficientemente resistentes.
Art. 58° A remoção de materiais como tijolos e detritos pesados será feita por meio de caleiras metálicas ou
de madeira que obedeçam aos seguintes requisitos:
a) Serem vedadas, para impedir a fuga dos materiais;
b) Não terem troços rectos maiores do que a altura correspondente a dois andares do edifício, para evitar
que o material atinja, na descida, velocidades perigosas;
c) Terem na base um dispositivo de retenção eficiente para deter a corrente de materiais;
d) Terem barreiras amovíveis junto da extremidade de descarga e um dístico com sinal de perigo.

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Art. 59° Não é permitido o estacionamento de pessoas ou viaturas junto das extremidades de descarga das
caleiras, excepto durante as operações de descarga.
Art. 60° Na descarga das caleiras, os operários usarão ferramentas apropriadas, sendo-lhes proibido efectuá-
las com as mãos.

SECÇÃO III

Andaimes

Art. 61° Sempre que se torne necessário ou vantajoso, serão montados andaimes para a demolição.
§ 1° Os andaimes serão construídos completamente desligados da zona em demolição, e de modo a
poderem resistir, dentro de limites razoáveis, a pressões resultantes de desmoronamentos acidentais.
§ 2° São proibidos os andaimes no exterior das paredes sobre consolas, salvo se forem destinados à remoção
de materiais leves que não ponham em perigo a estabilidade daquelas.
§ 3° Não é permitido que os operários trabalhem em cima dos elementos a demolir (Fig. 47, à
esquerda), a não ser que os serviços de inspecção reconheçam a impossibilidade de o fazerem de outra forma.

SECÇÃO IV

Plataformas

Art. 62° Na demolição de paredes exteriores, em edifícios de muitos andares, serão instaladas plataformas
de descarga para evitar que sejam atingidos pela queda de materiais os operários que trabalham nos
andares inferiores e o público.
§ 1° As plataformas serão executadas com pranchas bastante resistentes, e o seu bordo exterior deverá estar
pelo menos, 0,15 m mais alto do que o bordo interior.
§ 2° O bordo exterior da plataforma será guarnecido de rede de arame galvanizado, com dimensões que
ofereçam toda a segurança.

SECÇÃO V

Protecção de aberturas

Art. 63° Todas as aberturas dos pavimentos do andar em demolição serão convenientemente tapadas para
protecção do pessoal que trabalha nos andares inferiores, excepto se tiverem de ser utilizadas na passagem de
materiais ou utensílios.
Não sendo possível mantê-las tapadas, as aberturas deverão ser resguardadas com corrimãos e guarda-
cabeças (Fig. 63, à esquerda).

CAPÍTULO V

Protecção do público

SECÇÃO I

Sinalização

Art. 64° Durante o período de demolição, especialmente de edifícios situados em vias públicas, haverá um
sistema permanente de sinalização destinado a prevenir o público da contingência de perigo (Fig. 63. à
direita).

SECÇÃO II

Obras auxiliares

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Art. 65° Junto de vias públicas, será vedado o passeio que confinar com o edifício a demolir.
§ 1° Sempre que seja necessário, construir-se-ão plataformas, vedações com corrimão ou cobertos que
garantam ao público passagem convenientemente protegida (Fig. 45, à esquerda, e 63, à direita).
§ 2° Os cobertos sobre passeios devem poder resistir a uma carga de 700 kg/m2; no caso de servirem de
depósito de produtos de demolição, este índice de resistência deverá ser elevado pelo menos ao dobro.

Fig. 62 - Infracções ao RSTCC: à esquerda, art. 49º e, à direita, artigo 55º, §2

Fig. 63 - Infracções ao RSTCC: à esquerda, art. 63º e, à direita, artigos 64º e 65º, §1

5.2. MEDIDAS GERAIS DE SEGURANÇA

Quer porque se trata de um documento já muito desactualizado quer porque é omisso em


muitos aspectos particularmente relevantes em termos de segurança das demolições (por
exemplo, o contraventamento das construções vizinhas e a contenção de fachadas), o RSTCC
precisa de ser complementado com um conjunto de regras específicas. Procurar-se-á de

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seguida enunciar algumas dessas regras, procurando evitar repetir as já anteriormente contidas
no articulado do RSTCC.

5.2.1. Aspectos relacionados com o pessoal

 O pessoal deverá ser responsável pelas suas próprias acções e exigir, para o desenrolar das
operações, condições seguras e a existência dos sistemas de segurança em bom estado de
conservação;
 Deve haver formação e treino do pessoal em aspectos de segurança, comprovando-se que
as instruções são compreendidas e cumpridas por todos;
 Importa assegurar que as instruções fornecidas foram dadas com clareza e precisão antes
de se iniciar a actividade;
 Deve ser comunicada qualquer avaria, anomalia / prática perigosa ao superior hierárquico.

5.2.2. Vestuário de trabalho e equipamento de protecção e segurança

 Utilização de óculos de protecção , máscaras e filtros em caso de existir risco de projecção


de partículas ou poeiras nocivas;
 Emprego de auscultadores ou tampões auriculares em locais onde o nível de ruído seja
superior aos permitidos pela regulamentação existente;
 Utilização de botas de segurança com palmilha e biqueira de aço;
 Emprego de cintos de segurança para trabalhos a realizar em alturas superiores a 3,00 m;
 Uso de roupa de trabalho seleccionada em função da actividade a desenvolver.

5.2.3. Equipamento e materiais de demolição

 Qualquer tipo de equipamento deve ser o mais adequado para o trabalho e deve ser
regularmente inspeccionado e mantido em boas condições de funcionamento;
 Sempre que do funcionamento do equipamento resultem faíscas ou calor, devem ser
afastados quaisquer materiais combustíveis;
 Materiais explosivos devem ser armazenados em locais isolados, convenientemente
sinalizados, munidos de extintores e não expostos à radiação solar ou outras fontes de calor.

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5.2.4. Equipamentos de protecção colectiva

 Deve-se dispor de sinalização em local bem visível e adequada aos perigos envolvidos em
cada uma das operações (Fig. 64);
 A área das operações deve ser restringida aos trabalhadores e protegida com tapumes para
evitar o acesso a pessoas estranhas aos trabalhos;
 Os bordos das zonas seccionadas devem estar sinalizados de uma forma segura e bem
visível com cordões de balizamento fluorescente;
 Em lugares estratégicos devem-se colocar extintores, cuja dimensão e agente activo sejam
adequados ao tipo de incêndio previsível;
 Sinalização adequada de toda a cabelagem dos equipamentos (tubagem de instalação
hidráulica, mangueiras de ar comprimido, de água e cabos eléctricos).

5.3. MEDIDAS DE SEGURANÇA ESPECÍFICAS DE DETERMINADAS TÉCNICAS

Sem se procurar ser exaustivo, referir-se-ão de seguida algumas regras de segurança relativas
a determinadas técnicas específicas de demolição.

5.3.1. Corte de betão

 Assegurar a limpeza prévia antes de iniciar os trabalhos, de materiais ou escombros das


superfícies onde se vai efectuar o corte;
 Colocar o equipamento de corte numa superfície estável e regular;
 Verificar previamente o estado do betão a cortar, a correcta colocação do cabo e o seu
estado de conservação;
 Manter o painel de controlo a uma certa distância da máquina e sempre do mesmo lado;
 Verificar que a união dos cabos (fio diamantado) é perfeitamente solidária, antes de os
submeter a tensão;
 Comprovar que o equipamento dispõe em bom estado de funcionamento dos dispositivos
de segurança para a paragem da máquina em caso de rotura do cabo;

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 Garantir que não se encontra nenhum operário na área de influência do corte de ambos os
lados da serra;
 Utilização de uma sirene para avisar que o equipamento se encontra em funcionamento;
 Bombear a água para local apropriado;
 Evitar deixar ferramentas na proximidade do local dos trabalhos;
 Utilizar acessos seguros para aceder ao evoluir dos trabalhos.

5.3.2. Implosão

 Assegurar a criação de uma zona de exclusão, antes, durante e após a implosão, cujos
limites são função de um conjunto de parâmetros: mecanismo de colapso, tipo e forma da
estrutura, materiais utilizados na estrutura, pré-enfraquecimento realizado, tipo, peso e
localização dos explosivos, experiência anterior, topografia circundante, posição das
estruturas vizinhas, vibrações do solo, ruído e nuvem de pó.

5.4. ESCORAMENTO DAS CONSTRUÇÕES VIZINHAS

As construções vizinhas são com frequência em alvenaria tradicional apresentando alguma


precariedade ao nível estrutural. Como é conhecido, os edifícios deste tipo constituídos em
quarteirões apresentam um estado de tensão que não é independente do confinamento que a
sua envolvente imediata confere. Assim, ao se demolir um determinado edifício, altera-se o
campo de tensões dos imediatamente vizinhos, podendo-se causar derrocadas localizadas ou
mesmo globais (esta é uma das razões mais frequentes de acidentes durante a construção). Daí
que seja necessário prever um sistema de escoramento desses mesmos edifícios, tentando na
medida do possível manter as condições de apoio que o edifício demolido garantia. Um
aspecto muito importante é tentar evitar que as cargas no contacto entre o sistema de
escoramento e os edifícios existentes sejam pontuais, para o que se poderão interpor solhos de
madeira ou perfis metálicos.
Este sistema deve ser objecto de um projecto e devem ser previstas eventuais zonas de
fraqueza nos edifícios vizinhos, causadas pela destruição parcial de paredes meeiras. Os
sistemas de escoramento, geralmente metálicos, podem ser constituídos por treliças ou por
perfis simples (Fig. 65).

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Fig. 64 [9] - Sinalização susceptível de ser utilizada em estaleiros de demolições

Fig. 65 - Sistemas de escoramento de edifícios vizinhos, constituídos por treliças metálicas (à


esquerda) ou por perfis metálicos tubulares (à direita)

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6. BIBLIOGRAFIA

Nota: as referências bibliográficas indicadas de seguida não incluem as referidas no capítulo


de introdução a este documento, assim como um número não especificado mas bastante
alargado de sites da Internet e catálogos comerciais.

[1] “Les Techniques de Démolition des Ouvrages en Béton - Inventaire des Procédés”,
Note d’Information Technique 144, Centre Scientifique et Technique de la
Construction, Bruxelles, 1982.
[2] Brown, Christopher. “Demolition of structures by the controlled use of explosives”,
Curso da Ordem dos Engenheiros, Coimbra, 1995.
[3] Gonçalves, Áureo Manuel - “Recomendações de segurança em demolições de edifícios
por explosões controladas”, Tese de Mestrado - Universidade de Coimbra Faculdade de
Ciências e Tecnologia, 1998.
[4] “Regulamento de Segurança no Trabalho de Construção Civil”, Decreto-Lei n.º 41 821,
Diário da República n.º 175 de 11/8/58, Lisboa, 1958.
[5] “Code Practice for Demolition”, British Standard BS 6 187: 1982, London, 1982.
[6] “Bristar - Agente de Demolição Não Explosivo”, Explosivos da Trafaria, S.A.R.L.,
Lisboa.
[7] “Demolition and Reuse of Concrete and Masonry”, Second International RILEM
Symposium, Chapman and Hall, London, 1988.
[8] Pledger, D. M., “Complete Guide to Demolition”, The Construction Press, Ltd., 1978.
[9] Alves Dias, L. e Fonseca, M. Santos, “Plano de Segurança e de Saúde na Construção”,
IDICT, 1996, Lisboa.

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