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Muros de suporte de betão armado

Technical Report · December 2002


DOI: 10.13140/RG.2.1.3993.1363

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Jorge de Brito
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INSTITUTO SUPERIOR TÉCNICO

MESTRADO AVANÇADO EM CONSTRUÇÃO E


REABILITAÇÃO

CADEIRA DE CONSTRUÇÃO DE EDIFÍCIOS

MUROS DE SUPORTE DE BETÃO ARMADO

Jorge de Brito

Novembro de 2002
ÍNDICE

1. Introdução 1
2. Tipologias 4
2.1. Considerações gerais 4
2.2. Factores condicionantes na escolha do tipo de muro 7
3. Processo construtivo (muros executados in-situ) 10
3.1. Considerações gerais 10
3.2. Rastreio e remoção de instalações afectadas 11
3.3. Movimentos de terra para constituição da plataforma de implantação 11
3.4. Implantação 13
3.5. Escavação para fundação 14
3.6. Betão de regularização 15
3.7. Moldes e cimbres 15
3.7.1. Cofragem das sapatas 16
3.7.2. Cofragem da laje de testa e contrafortes 16
3.7.2.1. Considerações gerais 16
3.7.2.2. Tipos de cofragem e de betonagem 18
3.7.2.3. Sistemas de amarração de painéis 20
3.7.2.4. Ancoragem das bases dos painéis 22
3.8. Armaduras 23
3.8.1. Fabrico das armaduras elementares 24
3.8.2. Montagem 25
3.9. Betonagem 31
3.10. Desmoldagem 33
3.11. Protecção das superfícies enterradas 33
3.12. Drenagem do tardoz 33
3.13. Juntas 36
3.14. Reposição de terras 38
3.15. Anomalias e sua reparação 38
4. Muros pré-fabricados 41
4.1. Muros tipo T (T-Wall) 41
4.1.1. Características da T-Wall 41
4.1.2. Processo construtivo 42
4.1.2.1. Preparação do local de implantação 43
4.1.2.2. Construção da estrutura de nivelamento 43
4.1.2.3. Elevação do 1º nível 44
4.1.2.4. Construção dos níveis seguintes e colocação do terreno
colaborante 45
4.1.2.5. Pontos singulares 46
4.2. Muros tipo Tensiter 47
4.2.1. Descrição do processo 47
4.2.2. Vantagens da sua utilização 48
4.2.3. Montagem 49
4.2.4. Drenagem das juntas 50
4.2.5. Trabalhos finais 51
4.3. Rejeição de peças pré-fabricadas 51
5. Considerações gerais sobre o dimensionamento 53
5.1. O impulso das terras 53
5.1.1. Impulsos activos e passivos 53
5.1.2. Teoria de Rankine 54
5.1.3. Teoria de Coulomb 55
5.1.4. Outras teorias e sua aplicação na prática 56
5.2. O dimensionamento 57
5.2.1. Dimensionamento de acordo com a actual regulamentação Portuguesa 58
5.2.2. Dimensionamento de acordo com a regulamentação Europeia 60
6. Bibliografia 63
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Muros de suporte de betão armado por Jorge de Brito

MUROS DE SUPORTE DE BETÃO ARMADO

1. INTRODUÇÃO

Na linguagem corrente, um muro de suporte é, normalmente, uma estrutura autónoma, com a


geometria aparente de um muro (ou parede), destinada a resistir a impulsos de terras (uma vez
que estas não são estáveis em talude acima de uma determinada inclinação, dependente de
várias características endógenas e exógenas, para a qual interceptariam construções ou seria
exigido um volume de escavação excessivo, em termos económicos ou ambientais). Pode esta
estrutura proteger uma estrada ou caminho-de-ferro (Fig. 1, à esquerda) ou estar integrada
num obra de arte (caso dos muros de ala ou de retorno, desenvolvendo-se paralelamente às
bermas da via superior - Fig. 1, à direita, e de avenida, desenvolvendo-se segundo a via
inferior - Fig. 2, à esquerda).

Fig. 1 - À esquerda, muro de suporte de aterros junto ao caminho-de-ferro de Sintra e, à


direita, muro de ala com contrafortes numa passagem inferior (PI) da Auto-estrada do Norte

Na linguagem técnica corrente, os muros de suporte objecto deste documento não são
incluídos nos chamados muros de gravidade (descritos no documento [2]), uma vez que nestes
a massa estabilizadora é a do próprio muro. No entanto, à luz do Eurocódigo 7 [3], que
classifica as estruturas de suporte de terras em muros de gravidade, cortinas e estruturas de
suporte compósito, os primeiros são definidos como aqueles em o seu próprio peso e as
massas de solo ou rocha que sobre eles repousam funcionam como massa estabilizadora, o

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que inclui naturalmente os muros de suporte de betão armado.

Não obstante o facto de existirem muros de suporte (ou contenção) de terras praticamente
desde que há construções, com a esmagadora preponderância do betão armado e pré-
esforçado sobre os outros materiais estruturais, sobretudo a partir da 2ª metade do século XX,
os muros de suporte deixaram de ser de terra compactada, pedra natural, terra crua, madeira,
betão ciclópico e betão simples (ou muito fracamente armado - Fig. 2, à direita).

Fig. 2 - À esquerda, muro de avenida no prolongamento do encontro de uma passagem


superior (PS) e, à direita, muro de gravidade em betão fracamente armado

Este documento pretende servir de apoio aos alunos do Mestrado Avançado em Construção e
Reabilitação do Instituto Superior Técnico na Cadeira de Construção de Edifícios. Foca parte
do capítulo dessa mesma cadeira dedicado aos muros de suporte, neste caso não integrados
numa super-estrutura do tipo edifício. Faz-se esta diferenciação neste documento, uma vez
que as cortinas de contenção de betão integradas em edifícios (caves) correspondem ou a
soluções especiais (paredes tipo Munique, paredes moldadas ou cortinas de estacas) ou a
paredes construídas como todas as interiores (quando as condições envolventes do terreno de
construção permitem a execução de taludes em declive natural), e encontram-se tratadas
noutros documentos.

O documento aborda fundamentalmente a descrição das soluções existentes e dos processos


construtivos associados aos muros de suporte de betão armado (de longe a solução mais
corrente actualmente para suporte definitivo de terras), betonados in-situ ou pré-fabricados

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(parcial ou totalmente), excluindo no entanto soluções tradicionais como os muros de suporte


de betão simples ou ciclópico ou soluções mais inovadoras como a terra armada e a contenção
com geotêxteis, por se encontrarem tratadas noutros documentos (respectivamente [1] e [2]).

A elaboração deste documento não resultou de investigação específica sobre o tema efectuada
pelo seu Autor mas sim de alguma pesquisa bibliográfica e de monografias escritas realizadas
por alunos do Instituto Superior Técnico, tanto no Mestrado em Construção como na
Licenciatura em Engenharia Civil. Assim, muita da informação nele contida poderá também
ser encontrada nos seguintes documentos, que não serão citados ao longo do texto:

 Abel Soeiro e Sá, “Muros de Suporte em Betão Armado com Fundação Directa”,
Monografia apresentada no Mestrado em Construção, Instituto Superior Técnico, 2002,
Lisboa;
 Sérgio Rodrigues, “Levantamento Fotográfico da Execução de Muros de Contenção.
Muros de Suporte Simples”, Monografia apresentada no Mestrado em Construção,
Instituto Superior Técnico, 2002, Lisboa;
 Pedro Cheganças, Gonçalo Vieira, Higino Silva e Pedro Camacho, “Muros de Suporte em
Betão Armado”, Monografia apresentada na Licenciatura em Engenharia Civil, Instituto
Superior Técnico, 2001, Lisboa;
 João Prates, Erasmo Fernandes, João Sousa e Miguel Correia, “Muros de Betão Armado
(Levantamento Fotográfico)”, Monografia apresentada na Licenciatura em Engenharia
Civil, Instituto Superior Técnico, 2001, Lisboa.

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2. TIPOLOGIAS

2.1. CONSIDERAÇÕES GERAIS

Os diversos tipos de muros de suporte em betão armado resultam da conjugação de vários


aspectos, com especial relevo para os seguintes:

 o formato geral constituído pela laje de testa e pela sapata ser em T invertido (Fig. 3, à
esquerda) ou ser em L (Fig. 3, à direita);
 terem (Fig. 4, à esquerda) ou não (Fig. 3, à esquerda) contrafortes (podendo a geometria
destes variar - Fig. 5, à esquerda);
 terem (Fig. 4, à direita) ou não (Fig. 4, à esquerda) viga de coroamento;
 - incluírem (Fig. 6) ou não (Fig. 3, à esquerda) “dente(s)” na face inferior da sapata;
 incluírem (Fig. 7) ou não (Fig. 3, à direita e Fig. 5, `a direita) “prateleira(s)” no tardoz da
laje de testa;
 a laje de testa e a sapata serem de espessura constante (Fig. 4, à esquerda) ou de espessura
variável (Fig. 3, à esquerda);
 a face inferior da sapata ser horizontal ou ser inclinada.

DIMENSÕES USUAIS
B 0,4 H a 0,6 H
B0 H / 12 a H / 10
H H0 H / 12 a H / 10
e 0,20 m a 0,30 m
B2 0,30 m a 0,50 m

H0

B1

Fig. 3 - À esquerda, muro de suporte em T invertido com laje de testa de espessura variável,
sem contrafortes e sem dente e, à direita, muro de suporte em L sem prateleira

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H Contrafortes
espessura: C 0
afastamento: C1

H0

B1

Fig. 4 - Muros de suporte com contrafortes e laje de espessura constante: sem (à esquerda) e
com (à direita) viga de coroamento

Fig. 5 - Muro de suporte com contrafortes de variação de secção não linear (à esquerda) e
com “sapata / prateleira” intermédia (à direita)

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Dente

Acréscimo de impulso passivo


devido ao dente

Acréscimo de impulso passivo Dente


devido ao dente

Fig. 6 - Muros com “dente” para incremento do impulso passivo

P2

P1
SECÇÃO TRANSVERSAL

PERSPECTIVA

Fig. 7 - Muro de suporte com “prateleira” para reduzir os esforços na laje de testa

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Os muros mais frequentes são os que apresentam as seguintes características:

 muro em T invertido, sem contrafortes, com laje de testa de espessura variável e sapata
de espessura constante, sem dente e sem prateleira (Fig. 3, à esquerda);
 muro em T invertido, com contrafortes “triangulares”, com laje de testa de espessura
constante e sapata de espessura constante, sem dente, sem prateleira e sem viga de
coroamento (Fig. 4, à esquerda).

Os restantes tipos apresentam alguns inconvenientes que os tornam menos competitivos:

 nos muros em L, o facto de a sapata se desenvolver somente no tardoz da laje de testa


dificulta a ligação das armaduras destas duas peças e reduz os momentos estabilizantes
que contrariam o derrubamento; a situação é especialmente complicada no caso dos muros
em que a laje de testa funciona em consola (Fig. 3, à direita);
 nos muros com “dentes” (Fig. 6), estes visam, obviamente, melhorar a segurança em
relação ao deslizamento, por mobilização de impulsos passivos; porém, mesmo quando a
betonagem dos “dentes” é feita contra o terreno, é necessário notar que as deformações
globais necessárias para que se mobilizem esses impulsos nem sempre são aceitáveis;
 nos muros com “prateleiras”, uma solução pouco frequente e actualmente caída em
desuso, a dificuldade é a execução da laje de testa, a compactação das terras no tardoz
terem de ser feitas em duas fases e a vulnerabilidade global do muro a uma situação de
funcionamento deficiente ou rotura da prateleira.

2.2. FACTORES CONDICIONANTES NA ESCOLHA DO TIPO DE MURO

O dono da obra pode obter poupanças importantes se permitir num concurso que os
empreiteiros escolham o mais económico de entre diversos sistemas de muros de suportes. Eis
alguns factores condicionantes para afectar essas decisões:

 disponibilidade de materiais - distância a que os componentes principais do muro (brita,


cimento, aço...) ou o revestimento interior (material drenante, drenos...) se encontram do

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local da obra;
 especialidade do empreiteiro - uma solução de um certo tipo (ex.: muros com ancoragens
definitivas) pode ser a solução mais económica, mas só se houver um empreiteiro
experiente nessa mesma área;
 requisitos estéticos e/ou ecológicos - alguns muros podem ser cobertos com terra
posteriormente plantada, outros podem, também de uma maneira económica, ter uma
variedade de faces arquitectónicas menos desagradáveis visualmente mas também podem
precisar de uma escavação tal que deixe uma marca inaceitável na paisagem;
 tempo de vida da estrutura - o tempo mínimo de vida de um muro de suporte para uma
auto-estrada é, em geral, de 75 a 100 anos mas alguns complexos industriais podem só
durar 30 anos;
 cargas a que o muro está sujeito - além do terreno, o muro poderá ter de suportar uma
estrada ou um edifício; algumas destas estruturas podem ser muito sensíveis a
assentamentos das fundações, o que pode condicionar drasticamente a concepção e
dimensionamento do muro para controlo da deformação horizontal no coroamento;
 assentamento - o tipo de muro seleccionado tem de conseguir suportar o assentamento
expectável do solo;
 facilidade e velocidade de construção - trabalho que exija grande especialização dos
trabalhadores é muito mais caro do que outro que não o faça; uma construção mais rápida
encurta os problemas de desvio de tráfego, o que reduz custos no controlo do mesmo;
 flexibilidade para aumentar carga máxima que o muro pode suportar - se as condições se
alterarem (ex.: passou a haver um parque para camiões acima do muro de suporte
previamente construído), um muro com ancoragens pode aumentar a sua capacidade de
carga simplesmente se se aumentar o número de ancoragens;
 altura do muro - alguns sistemas de muros só são económicos se se tratar de muros
baixos, com outros passa-se exactamente o contrário; o recurso a contrafortes torna-se
uma inevitabilidade em muros altos;
 mão-de-obra necessária - alguns sistemas requerem mais trabalhadores que outros; por
exemplo, numa zona onde a mão-de-obra é cara, tem de se arranjar uma solução que
necessite de menos trabalhadores e vice-versa;
 futuros projectos junto ao muro construído - muros com ancoragens têm a segurança

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garantida por elementos introduzidos no solo; ao cortar ou danificar estes mesmos


elementos, pode-se ter como resultado a queda do muro em questão.

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3. PROCESSO CONSTRUTIVO (MUROS EXECUTADOS IN-SITU)

3.1. CONSIDERAÇÕES GERAIS

Ainda que existam muitos aspectos comuns na construção de qualquer muro de suporte em
betão armado, as características específicas de cada muro influenciam directamente o
faseamento (Fig. 8), impedindo que, em rigor, possa equacionar-se este aspecto com total
generalidade.

Fig. 8 - Faseamento corrente da construção de um muro de suporte com contrafortes: da


esquerda para a direita, betonagem da sapata e do 1º troço vertical, cofragem tradicional na
parte inferior do 2º troço, betonagem da parte inferior e cofragem na parte superior e aspecto
final

Ainda assim, são comuns a todos, mas com diferentes divisões, as seguintes actividades
(válidas em rigor para muros com fundações directas, do tipo sapata; para soluções do tipo
estaca, devem ser consultados os documentos específicos relativos a esse tipo de fundações,
[5] e [6]):

 rastreio e remoção de instalações afectadas;


 movimentos de terras para constituição da plataforma de implantação;
 implantação;
 escavação para fundação, incluindo compactação do fundo;
 execução da camada de betão de regularização;
 execução e montagem de moldes e cimbres;
 fabrico e montagem de armaduras;

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 betonagem;
 desmoldagem;
 protecção das superfícies enterradas;
 instalação do sistema de drenagem do tardoz;
 instalação de juntas;
 reposição de terras.

Esclarece-se que, nos muros de suporte com ancoragens, em princípio não objecto deste
documento, a operação de execução das mesmas se seguirá à desmoldagem e de acordo com o
descrito em documento dedicado exclusivamente às ancoragens [4].

Passa-se agora à descrição de cada uma das fases do processo construtivo listadas acima,
ressalvando tratarem-se, em alguns casos, de processos e aspectos comuns a muitos outros
tipos de obras em betão.

3.2. RASTREIO E REMOÇÃO DE INSTALAÇÕES AFECTADAS

Trata-se de uma questão comum em todas as obras que impliquem escavações. Em princípio
mas nem sempre, o projecto de execução deve incluir peças desenhadas onde se indique
claramente o posicionamento de todas as instalações existentes na zona da obra e deve conter
instruções sobre a eventual necessidade de as remover e sobre o modo de o fazer. De qualquer
modo, será sempre necessário fazer sondagens no local, para, no mínimo, confirmar os dados
do projecto.

3.3. MOVIMENTOS DE TERRAS PARA CONSTITUIÇÃO DA PLATAFORMA DE IMPLANTAÇÃO

A plataforma de implantação deverá ser concebida de modo a facilitar o acesso e a circulação


do pessoal e dos equipamentos (Fig. 9). Os movimentos de terras necessários devem obedecer
a um plano específico e, a menos que se trate de um volume muito reduzido, utilizar-se-ão
equipamentos mecânicos (pás de arrasto - Fig. 10, à esquerda, escavadoras de rodas - Fig. 10,
à direita, de lagartas - Fig. 11, à esquerda ou giratórias - Fig. 11, à direita, martelos
mecânicos, etc.). Naturalmente, os taludes que seja necessário constituir deverão ter

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inclinações que lhes garantam estabilidade (iguais, ou um pouco superiores à que corresponde
ao ângulo de atrito interno - Fig. 12, à esquerda).

Fig. 9 - Plataforma de acesso do equipamento ao interior de uma escavação

Fig. 10 - Pá de arrasto (à esquerda) e escavadora de rodas (à direita)

Fig. 11 - Escavadora de lagartas (à esquerda) e giratória (à direita)

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Fig. 12 - É frequente ver-se taludes com grandes inclinações (à esquerda); terreno de


implantação de um muro após a desmatação (à direita)

3.4. IMPLANTAÇÃO

A implantação (precedida ou seguida da limpeza e desmatação do terreno - Fig. 12, à direita)


pode ser feita por:

 posicionamento em relação a “estações topográficas” ou a pontos notáveis da envolvente;


 coordenadas obtidas a partir de marcos geodésicos;
 coordenadas obtidas a partir de leituras em receptores de sinais GPS.

No primeiro caso, pode ser suficiente a simples técnica das triangulações com medições à fita,
eventualmente associada à técnica de nivelamento com mangueira.

No segundo caso, será quase sempre imprescindível a utilização de aparelhagem de topografia


(Fig. 13, à esquerda), com destaque para o teodolito, eventualmente completada com vulgares
medições à fita.

No terceiro caso, será necessário, obviamente, um receptor de sinais de satélites (Fig. 13, à
direita) e, complementarmente, aparelhagem topográfica e/ou medições à fita.

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Fig. 13 - Medições topográficas (à esquerda) e receptor de sinais GPS (à direita)

3.5. ESCAVAÇÃO PARA FUNDAÇÃO

A menos que se trate de um pequeno volume e/ou haja impedimentos locais, a escavação para
abertura dos caboucos para a fundação é executada com escavadoras mecânicas (Fig. 14, à
esquerda). Em geral, é necessário compactar o fundo da “caixa”, o que é habitualmente
realizado com placas vibradoras (Fig. 15, à esquerda) ou com pequenos cilindros vibradores
(Fig. 15, à direita).

Fig. 14 - Escavadora a realizar os trabalhos para execução da fundação (à esquerda) e camada


de betão de regularização na base da sapata (à direita)

3.6. BETÃO DE REGULARIZAÇÃO

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Sobre o fundo dos caboucos, deve colocar-se uma camada de betão de regularização (Fig. 14,
à direita), que proporciona uma melhor protecção relativamente à corrosão das armaduras da
face inferior daquela peça e constitui uma base apropriada para a montagem destas e dos
taipais limítrofes da betonagem. Em geral, pode utilizar-se um betão “pobre” (B15).

Fig. 15 - À esquerda, placas vibradoras (“saltitões”) e, à direita, cilindro vibrador

3.7. MOLDES E CIMBRES

Os moldes, vulgarmente designados por cofragens, têm por principal função conter e resistir
aos impulsos do betão no seu estado fresco. Quanto aos cimbres ou escoramentos, são
fundamentalmente sistemas de escoras e tirantes.

Em termos de regulamentação aplicável, existem breves referências no REBAP (artigos 152º


e 153º) e no Eurocódigo 2 [7] (artigo 6.3.2.), embora nenhuma referência seja feita a estes
elementos no Documento Nacional de Aplicação (DNA) respectivo, podendo também ser
utilizado no dimensionamento das peças de aço o Eurocódigo 3 [8]. A regulamentação
específica estrangeira mais conhecida é a BS 5975: 1996 (Code of Practice for Falsework)
[9].

3.7.1. Cofragem das sapatas

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Em geral, as cofragens das sapatas, que são as mais simples de todas as de que os muros
carecem, resumem-se a taipais laterais, devidamente escorados. Na maioria das vezes, utiliza-
se madeira (tábuas de cofragem, barrotes e sarrafos - Fig. 16, à esquerda) ou aço (Fig. 16, à
direita) e a execução fica a cargo dos chamados carpinteiros de toscos. O escoramento dos
taipais faz-se contra a plataforma do fundo da caixa, se as suas dimensões o permitirem, como
se representa na Fig. 17, ou contra os taludes da escavação do cabouco e deve ser
dimensionado para resistir aos impulsos do betão fresco (que serão de pequena monta, se a
sapata tiver, como é habitual, uma espessura relativamente pequena).

Fig. 16 - Cofragem da sapata do muro e respectivo escoramento: em madeira (à esquerda) e


metálica (à direita)

3.7.2. Cofragem da laje de testa e contrafortes

3.7.2.1. Considerações gerais

Nos pequenos muros, ainda se utiliza madeira aplicada por carpinteiros de cofragens (Fig. 18
à esquerda). Em termos de sequência, é colocada inicialmente a cofragem de um dos lados,
posicionada a armadura e só depois a cofragem da face oposta (Fig. 18, à direita), ainda que
também seja possível só colocar as cofragens após a montagem da armadura (Fig. 39).

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Terreno
Plataforma natural
de implantação

Escoras
Taipal Betão de regularização

Dormentes

Fig. 17 - Cofragem da sapata do muro

Fig. 18 - Exemplos de cofragem tradicional (de madeira) em muros de suporte

Nos muros de maior porte, em geral com contrafortes, é frequente a utilização de sistemas de
tipo industrial (Fig. 19), que incluem painéis de cofragem (metálicos - Fig. 20, à esquerda, em
madeira ou derivados -Fig. 20, ao centro ou mistos, que poderão ter de ser movimentados com
equipamento mecânico do tipo grua), peças de escoramento (Fig. 20, à direita), plataformas
de betonagem e de trabalho, guarda-corpos e peças de amarração, com possibilidade de
compatibilização e de abundante reaplicação (o controlo dimensional também é facilitado,
sobretudo em muros de espessura variável). É importante notar que a velocidade da
betonagem poderá ser grande e, por isso, os impulsos do betão fresco atingir valores elevados.

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Fig. 19 - Sistemas racionalizados de cofragem de muro de testa, incluindo painéis, plataforma


de trabalho, guarda-corpos, travamentos (à esquerda) e escoramentos (à direita)

Fig. 20 - Cofragem metálica (à esquerda) ou em madeira (ao centro) e prumos metálicos (à


direita)

3.7.2.2. Tipos de cofragem e de betonagem

Os tipos de cofragem e de betonagem a utilizar estão intimamente relacionados entre si e


dependem das características geométricas da peça, com especial relevo para a sua altura.

Nas lajes de testa de altura mais reduzida, é usual a betonagem de cada um dos troços
(separados por juntas verticais) ser feita de uma só vez (abrangendo toda a altura). Neste caso,
as cofragens poderão ter um único nível de escoramentos e, quando se justifique, poderão ser

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associadas a uma plataforma de betonagem.

Nas lajes de testa mais altas (e respectivos contrafortes, quando existem), para facilitar a
betonagem e a vibração, haverá que adoptar uma das seguintes soluções:

 cofragem inteiriça e betonagem contínua, em altura (Fig. 21, à esquerda);


 cofragem inteiriça e betonagem por troços horizontais (Fig. 21, à direita);
 cofragem trepante (Fig. 22, à esquerda) (correspondente a diferentes troços horizontais de
betonagem).

Fig. 21 - Cofragem de muros de testa: a toda a altura (à esquerda) e por troços (à direita)

Em qualquer dos casos, é necessário não deixar cair o betão de uma altura exagerada, o que
obriga, em geral, a “mergulhar” a mangueira de betonagem dentro da cofragem.

Excepto nos casos em que o coroamento se situa a pequena distância do terreno, é conveniente
dispor de plataformas de betonagem, montadas na cofragem de uma das faces e associadas a
guarda-corpos montados, normalmente, na cofragem da outra face. Quando a cofragem é
inteiriça e a betonagem se efectua por troços horizontais, é conveniente dispor de janelas de
betonagem. Um caso especial é o das cofragens inteiriças montadas em pórticos móveis,
sobre carris, para betonagem de muros compridos, de secção constante (Fig. 22, à direita).

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Fig. 22 - Cofragem trepante (à esquerda) e montada num pórtico deslizante (à direita)

3.7.2.3. Sistemas de amarração de painéis

A principal função dos sistemas de amarração (Figs. 23 a 26) de painéis de faces opostas (tie
systems) é, naturalmente, a de resistir às tracções resultantes dos impulsos do betão fresco
(funcionando como tirantes entre os painéis das faces opostas). Porém, antes da betonagem,
poderão ter que funcionar quer como escoras, quer como tirantes, mantendo a posição relativa
daqueles painéis.

Mormente quando a cofragem é de madeira, o travamento dos painéis das faces opostas
também pode ser feito utilizando tábuas estreitas ou barrotes como escoras (Fig. 27, à
esquerda) e varões de aço para betão armado como tirantes (esticadores). Existem, no
mercado, peças especiais (castanhas) para fixar aqueles varões nas cofragens (Fig. 27, à
direita).

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Fig. 23 - Peças de amarração de cofragens

Fig. 24 - Esquemas de desmontagem de peças de amarração de cofragens

Fig. 25 - Remoção da porca de fixação de peça de amarração de cofragens (à esquerda), cone


de selagem (ao centro) e sua remoção (à direita)

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Fig. 26 - Aplicação de cones de betão, para selagem de amarrações de cofragens

Fig. 27 - À esquerda, pormenor dos espaçadores constituídos por barrotes de madeira e, à


direita, pormenor dos esticadores e castanhas

3.7.2.4. Ancoragem das bases dos painéis

Em alguns casos, pode pretender-se ancorar, no betão da sapata, as bases dos painéis de
cofragem. Para isso, podem utilizar-se sistemas improvisados (Fig. 28) ou sistemas com peças
especialmente concebidas para esse efeito (Figs. 29 a 31).

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Fig. 28 - Escoramento da base dos painéis contra o talude de terreno

Fig. 29 - Sistema de ancoragem de cofragens no betão da sapata (à esquerda) e pormenor do


mesmo (à direita)

3.8. ARMADURAS

O processo inicia-se pelo fabrico das armaduras elementares (corte e dobragem dos varões).
Em seguida, procede-se à montagem das mesmas e, se esta operação não for realizada in-situ,
haverá ainda a fase de colocação. Naturalmente, as preocupações principais devem ser o
escrupuloso respeito pelo projecto e pela regulamentação aplicável.

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Fig. 30 - Cone de ancoragem de cofragens no betão da sapata: antes da betonagem da sapata


(à esquerda) e recuperação do cone após a mesma (à direita)

Fig. 31 - Esquema de ancoragem com cone e varão de alta resistência perdido (em cima) e
recuperável (em baixo)

3.8.1. Fabrico das armaduras elementares

O fabrico das armaduras elementares deve ser devidamente programado, mormente no que
respeita ao corte dos varões, para evitar desperdícios e erros. É aconselhável elaborar um

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“mapa de ferros” (bar schedule) do tipo do previsto na Norma ISO 4066 - Construction
drawings - Bar scheduling [10] (Fig. 32), e cuja aplicação, prevista no CEB Application
Manual on Concrete Reinforcement Technology, de 1982 [11] se ilustra na Fig. 33.

Fig. 32 - Exemplos de pormenorizações tipo previstas na norma ISO 4066 para preparação
das armaduras

O corte e a dobragem dos varões podem ser executados com ferramentas manuais (tesouras -
Fig. 34, serras, chaves de dobrar - Fig. 35, placas de dobragem equipadas com “esperas” e
alavanca) ou máquinas (máquinas de dobragem - Fig. 36 - e máquinas de corte e dobragem).

3.8.2. Montagem

A montagem das armaduras elementares pode ser realizada numa oficina (Fig. 38), no
estaleiro ou in-situ (sobre, ou dentro, da cofragem). De qualquer modo, os varões poderão ser
fixados por ataduras, com arame de atar (Fig. 37, à esquerda), por soldaduras (Fig. 38) ou por
meio de peças especiais, incluindo molas de aço. Na gíria das obras, as ataduras executadas
com arame de atar são designadas por “pontos” (Fig. 37, à direita).

Nos casos em que as armaduras não são montadas in-situ, é indispensável incluir varões
especificamente destinados a impedir que os conjuntos se deformem durante o transporte. De
qualquer modo, será necessário incluir armaduras ou quaisquer outros dispositivos que
garantam o posicionamento relativo das armaduras e impeçam deformações antes (Fig. 39) e
durante a betonagem (e da própria cofragem - Fig. 41, à direita), que incluem os espaçadores
(Fig. 40) e as cadeiras. (Fig. 41, à esquerda).

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Fig. 33 [3] - Exemplo de aplicação da norma ISO 4066 às armaduras de um muro de testa

Fig. 34 - Tesouras: manual: (à esquerda) e eléctrica (à direita)

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cavilhas cravadas na bancada

varão

Ângu
lo de
dobra
gem

ve
a cha

chave
ç ão d
Rota
Fig. 35 - Chave de dobrar (à esquerda), usada para pequenos acertos in-situ mas também em
bancada (à direita)

Fig. 36 - Máquinas de dobrar: manual (à esquerda) e eléctrica (à direita)

Fig. 37 [12] - Execução de “ponto” com arame de atar (à esquerda) e agulha mecânica (à direita)

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Fig. 38 - Montagem de armaduras numa oficina por soldadura

Fig. 39 - Em alguns casos, poderá haver vantagem em escorar as armaduras enquanto não são
colocadas (e escoradas) as cofragens

Fig. 40 - Espaçadores de camadas horizontais (à esquerda e centro) [12] e verticais (à direita)

Haverá, também, que garantir os recobrimentos, utilizando suportes ou calços adequados


(Figs. 42 e 43), também designados por espaçadores. Embora seja possível colocar os
espaçadores a posteriori, eles são geralmente montados conjuntamente com as armaduras em
estaleiro, devendo ser reverificados imediatamente antes da betonagem para confirmar se

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estão bem posicionados e atados.

Fig. 41 [11] - Cadeiras para varões isolados (1) e camadas de armadura (2) (à esquerda) e
espaçadores para armaduras e cofragem (à direita)

Fig. 42 - Espaçadores em argamassa de diferentes formas

Fig. 43 - Espaçadores metálicos (à esquerda e ao centro - 1 e 2) e em plástico (ao centro - 3 - e


à direita)

Para que não constituam locais de penetração de humidade e de iniciação de processos de


corrosão, os espaçadores e os suportes que não sejam de argamassa não deverão ficar em
contacto com as cofragens. Na Fig. 44, representa-se a utilização de um dos tipos de suportes,
ou calços, de argamassa, no posicionamento das armaduras da sapata de um muro de suporte.
As Figs. 45 e 46 mostram exemplos de armaduras de muros de suporte montadas in-situ.

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Armaduras da laje de testa

Ø ? // ?

Ø ? // ? Ø ? // ?

Suporte Ø ? // ?
em argamassa Ø ? // ?

Fig. 44 - Utilização de suportes em argamassa para posicionar as armaduras de uma sapata

Fig. 45 - Armadura da sapata de um muro já parcialmente betonada

Fig. 46 - Fases da montagem in-situ de armaduras de laje de testa

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Um aspecto particularmente relevante na concepção e montagem das armaduras é a sua


amarração, sobretudo nas zonas em que se registam elevadas tracções (como é o caso da base
da laje de testa e das ligações do contraforte à sapata e à laje de testa), em que
simultaneamente também se regista em geral algum congestionamento das armaduras.

3.9. BETONAGEM

Habitualmente, o betão de regularização e o betão das fundações (Fig. 47, à esquerda) são
colocados sem utilização de bomba, ou seja, por descarga directa de um camião-betoneira
(Fig. 48, à esquerda) ou de um balde de betonagem (quando não se recorre a betão pronto).
Neste caso, o espalhamento é efectuado com pá e rodo e a regularização das superfícies é
obtida com régua (Fig. 49, à esquerda) ou com rodo (Fig. 49, à direita), devendo-se em
qualquer dos casos recorrer a vibradores (Fig. 47, à direita).

Na betonagem dos muros de testa e dos contrafortes, é geralmente necessário, por razões
óbvias, bombear o betão (Fig. 48, à direita - devendo a mangueira ser introduzida no interior
da peça, ao contrário do que se vê na Fig. 50, à esquerda) e vibrá-lo (Fig. 50, ao centro)
recorrendo a equipamento adequado (Fig. 50, à direita).

Fig. 47 - Aspecto do betão a ser despejado no interior da sapata (à esquerda) e simultânea


vibração do mesmo (à direita)

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Fig. 48 - Camião-betoneira descarregando directamente (à esquerda) ou com recurso a uma


bomba e uma mangueira (à direita)

Fig. 49 - Regularização do betão das sapatas com régua (à esquerda) e com rodo (à direita)

Fig. 50 - Mangueira de alimentação do betão pronto (à esquerda), vibração do betão (ao


centro) e vibradores de betão (à direita)

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3.10. DESMOLDAGEM

A desmoldagem das peças de betão em muros de suporte não apresenta aspectos específicos
que a distingam da desmoldagem de quaisquer outros elementos, descrita em detalhe nos
documentos [14] e [15], dedicados respectivamente às cofragens tradicionais e aos sistemas
de racionalizados de cofragens. Refere-se em particular a importância dos descofrantes para a
qualidade das superfícies descofradas e o prolongamento da vida útil das cofragens.

3.11. PROTECÇÃO DE SUPERFÍCIES ENTERRADAS

É prática corrente efectuar a protecção das superfícies enterradas por aplicação de “pintura”
com soluções de betume asfáltico (Fig. 51), do tipo Flintkote, que evitam (ou reduzem) a
penetração de água e de soluções ácidas. As taxas de aplicação são da ordem de 1 litro / 10 m²
e a aplicação é feita à brocha, sobre superfícies secas e isentas de poeiras.

Fig. 51 - Exemplos de aplicação de betume asfáltico para protecção das superfícies enterradas
de muros de suporte

3.12. DRENAGEM DO TARDOZ

A drenagem do tardoz dos muros de suporte torna-se necessária para evitar, ou reduzir, os
impulsos da água, ainda que a não manutenção dos respectivos dispositivos possa, a longo
prazo, torná-los inoperacionais. A concepção e o funcionamento do sistema depende das

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condições de permeabilidade e dos teores de finos quer dos materiais a utilizar no aterro de
reposição de terras no tardoz (Fig. 52), quer do maciço de terras a suportar.

Fig. 52 [13] - Drenagem de muros de suporte: para aterros permeáveis (esquemas da


esquerda) e para aterros com preponderância de elementos finos (esquemas da direita)

Fig. 53 - Pormenorização do aterro de reposição (à esquerda) e mantas drenantes geotêxteis


no tardoz do muro de testa (à direita)

A dificuldade de realização de um filtro não colmatável aumenta à medida que os finos


ganham preponderância no tardoz, sendo por isso aconselhável a constituição de um aterro de
material permeável (seixo e areia - Fig. 53, à esquerda) e de um tubo do tipo geodreno (Fig.
54, à esquerda) no tardoz com capacidade suficiente para colectar as águas (para o colector
público ou eventuais caixas de visita (Fig. 54, à direita), para além de mantas drenantes de

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geotêxtil na face de tardoz do muro de testa (Fig. 53, à direita) que deve envolver
directamente ou com interposição de britas o geodreno (Fig. 54, ao centro). A drenagem da
superfície do tardoz também pode ser conseguida com lâminas de polietileno, associadas ou
não a mantas geotêxtil (Fig. 55, à esquerda e ao centro).

Fig. 54 - Tubo tipo geodreno (à esquerda) e manta tipo geotêxtil envolvendo-o (ao centro) e
caixa de visita no tardoz do muro (à direita)

Fig. 55 - Lâmina drenante em polietileno, associada (ao centro) ou não (à esquerda) a uma
manta geotêxtil; tubos montados na fase de colocação das armaduras (à direita)

Os boeiros (barbacãs) e as condutas (drenos) de evacuação devem ser convenientemente


sobredimensionados para reduzir os riscos de colmatação. Os boeiros são constituídos por
tubos de diâmetro mínimo de 0,10 m afastados de 1,5 m a 2,0 m (Fig. 55, à direita). Uma vez
que as partículas finas do terreno, veiculadas pela água de infiltração, podem, a longo prazo,
vir a obstruir os orifícios ou canalizações de evacuação, convém apetrechar os drenos de
acesso para permitir a sua limpeza periódica.

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É conveniente ainda prever dispositivos destinados a limitar a quantidade de água que se pode
infiltrar para o extradorso da contenção. Por isso, para além dos drenos e barbacãs, e
principalmente nos terrenos inclinados, devem utilizar-se revestimentos tão impermeáveis
quanto possível no tardoz do muro, para dirigir as águas sobre a crista do muro ou por canais
ao longo dela, tipo algeroz; no lado jusante, devem colocar-se dispositivos capazes de afastar
do muro a água que tenha galgado a contenção ou a evacuada através das barbacãs (este
aspecto é especialmente importante no caso da camada de fundação ser argilosa).

3.13. JUNTAS

Em vários casos, existe necessidade de executar juntas entre diferentes troços de muros de
suporte, ou entre muros de suporte e outras estruturas adjacentes. São exemplos frequentes do
último caso as juntas entre os muros de ala ou de avenida e os pórticos laminares das
passagens inferiores mais comuns em obras rodoviárias (Fig. 56), ou entre os muros de
avenida e os encontros de algumas pontes e viadutos (Fig. 57).

Fig. 56 - Juntas entre os muros de ala e o pórtico de uma PI

Por razões estéticas e funcionais, é necessário que estas juntas impeçam a passagem das águas
pluviais que se infiltram nos aterros de tardoz. Para este efeito, a solução tradicional consiste
na colocação de perfis de neoprene, do tipo Waterstop (Fig. 58). Recentemente, tem vindo a
ser divulgada a aplicação, para o mesmo efeito, de perfis de impermeabilização à base de
bentonite de sódio natural (argila mineral de origem vulcânica, com a propriedade de
expandir em contacto com a água até 16 vezes).

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Fig. 57 - Junta entre o muro de avenida e o encontro de uma PS

Fig. 58 - Juntas Waterstop

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3.14. REPOSIÇÃO DE TERRAS

A reposição das terras é feita com solo seleccionado pelas razões apontadas anteriormente e
por camadas de pequena espessura, recorrendo-se ao mesmo equipamento de compactação
utilizado aquando da escavação para fundação. O coroamento das terras e do muro deve ser
compatibilizado aquando dos arranjos exteriores (Fig. 59, à esquerda).

Ainda que pouco comum, é por vezes dado um acabamento à face à vista do muro de testa
(por exemplo, reboco - Fig. 59, à direita).

Fig. 59 - À esquerda, muro acompanhando nivelação final do terreno e, à direita, muro


rebocado

3.15. ANOMALIAS E SUA REPARAÇÃO

A patologia e a reabilitação dos muros de suporte de betão armado tem, naturalmente, muitos
aspectos em comum com as dos outros elementos estruturais do mesmo material, sendo os
aspectos específicos os que se relacionam com o meio com o qual os muros estão em contacto
(o solo). Assim, podem ocorrer as seguintes anomalias:

 vazios (chochos) e zonas porosas (devidos a problemas na betonagem como uma errada
granulometria, uma compactação / vibração inadequada, uma queda em altura ou a
segregação dos agregados);
 fendilhação do betão (horizontal, por esforços de tracção devidos aos impulsos, sobretudo
na base e no intradorso; vertical, por esforços de tracção devidos às deformações impostas
e à ausência de juntas verticais em muros muito compridos e/ou à não previsão de
armadura de controlo de fendilhação horizontal em ambas as faces, a toda a espessura e

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altura; sem direcção definida, devido a reacções expansivas associadas à existência de


sulfatos no solo ou agregados reactivos na composição do betão, visível à superfície);
 manchas (de corrosão das armaduras; eflorescências por cristalização de sais expansivos
na composição do betão ou infiltrados do solo);
 desagregação do betão (devidas a águas ácidas ou a reacções com sulfatos, ambos vindos
do solo);
 descasque do betão (devido a reacções expansivas como a corrosão das armaduras - Fig.
60 - e a reacção álcali-sílica ou a fenómenos de vandalismo ou choque de elementos
contundentes).

Fig. 60 - Descasque generalizado da face à vista de um muro de suporte

As técnicas de reparação preconizadas, naturalmente função da anomalia e das suas causas,


incluem:

 injecção de argamassas poliméricas ou epoxídicas, não retrácteis;


 alargamento das fendas e respectiva selagem;
 agrafos (Fig. 61, à esquerda);
 introdução de armadura complementar (Fig. 61, ao centro);
 perfuração e rolhamento (Fig. 61, à direita);
 impregnação de polímeros;
 remoção do betão e armaduras afectadas e sua substituição por novos materiais
(encamisamento).

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Fig. 61 - Técnicas de reparação possíveis: agrafos (à esquerda), introdução de armaduras (ao


centro) e rolhamento (à direita)

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4. MUROS PRÉ-FABRICADOS

Hoje em dia, cada vez mais o tempo e o preço são factores determinantes para um empreiteiro
ganhar um concurso de construção em qualquer área (com uma qualidade mínima garantida).
Os concursos para construção de muros de suporte de betão armado também não fogem a esta
tendência. Para tal, começaram a aparecer empresas especializadas na construção deste tipo
de muros em fábricas com um controlo de qualidade mais rigoroso com o objectivo de
proporcionar soluções práticas e baratas para uma obra.

Com a utilização destes tipos de soluções, obras que antes não era possível executar num
certo espaço de tempo passaram a sê-lo e com um preço em muitas situações ainda mais
competitivo que as soluções tradicionais. A estas vantagens, podem-se somar a durabilidade,
o acabamento arquitectónico e a reversibilidade da solução.

São descritas de seguida algumas das soluções deste tipo disponíveis no mercado nacional e
internacional.

4.1. MUROS TIPO T (T-WALL)

O princípio de funcionamento dos muros T-Wall de betão é o de colaboração entre as


unidades pré-fabricadas de betão e o solo para manter o equilíbrio da estrutura.

4.1.1. Características da T-Wall

Existem dois tipos de unidade para a composição dos muros em T, esquematizadas na Fig. 62,
em função da altura do muro e do comprimento das “almas”, o que naturalmente afecta o peso
próprio.

Existem três condições essenciais que devem verificar-se para o bom funcionamento do muro:

1. A fundação do muro em T deverá ser inspeccionada pelo engenheiro de obra, antes da


elevação deste;

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2. A selecção do solo colaborante com a estrutura é muito rigorosa para se obter uma boa
estabilidade da mesma; esta selecção é feita respeitando a curva granulométrica definida
em projecto; o solo adoptado afecta tanto o atrito entre as unidades de betão, como a
capacidade de drenagem e assentamentos;
3. A boa compactação do solo entre as unidades do muro em T é necessária para prevenir os
assentamentos que afectam o pavimento no topo do muro.

Fig. 62 - Dimensões das T-Walls

4.1.2. Processo construtivo

Após a opção do tipo de muro feita em projecto, é feita a encomenda dos elementos pré-
fabricados. A descarga das unidades (Fig. 63, à esquerda) e sua colocação no solo utilizando
equipamento de elevação (Fig. 63, à direita) tem, em circunstâncias normais, a duração de
cerca de 2 horas. Se for possível, as unidades podem ser logo instaladas na estrutura de
fundação do muro. Este processo deve ser feito com extremo cuidado para protecção das
peças (não se devem empilhar mais de 2 unidades).

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Fig. 63 - Descarga (à esquerda) e posterior colocação (à direita) das unidades das T-Walls

4.1.2.1. Preparação do local de implantação

Escava-se o local para a elevação do muro conforme o projecto (incluindo a área coberta pelo
solo colaborante - Fig. 64, à esquerda). Em condições especiais, a escavação pode ser feita de
forma incremental minimizando o impacte de área escavada. Todo o tipo de solo fora do fuso
granulométrico definido em projecto deve ser removido e substituído por solo pré-
seleccionado e devidamente compactado. A compactação do solo escolhido dentro do fuso
granulométrico deve ser feita a 95% do ensaio de Proctor standard. O local de construção
deverá estar seco, procedendo-se, caso exista, ao rebaixamento do nível freático.

4.1.2.2. Construção da estrutura de nivelamento

A estrutura de nivelamento tem normalmente 15 cm de profundidade por 30 cm de largura e a


sua construção é em tudo semelhante à de um passeio para peões (Fig. 64, à direita), onde se
deve verificar com um nível a sua horizontalidade, apontando-se para limite aceitável de
tolerância um desvio de 13 cm em altura por cada 3 m de desenvolvimento horizontal. A
estrutura serve apenas para o alinhamento construtivo do muro, podendo ser utilizado um
betão de baixa resistência. A superfície da estrutura quando acabada deve estar plana e lisa.

Após esta fase, é construído o 1º patamar da estrutura de nivelamento com um espaçamento


de 15 a 20 cm para o 2º patamar. Este desnível assegura que as unidades do 2º patamar não
irão interferir com as inferiores (Fig. 65, à esquerda). Nos locais onde a parede está a uma
cota superior e a estrutura de nivelamento tem poucas unidades de largura, podem adoptar-se
estruturas de nivelamento pré-fabricadas. Neste caso, a compactação do solo estrutural é

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muito importante porque podem surgir assentamentos do solo ou deformações por flexão,
formando-se juntas indesejáveis.

4.1.2.3. Elevação do 1º nível

A elevação é sempre iniciada num ponto fixo, como uma esquina. No caso de não existir um
ponto fixo, começa-se pela base mais baixa (Fig. 65, à direita). As juntas que se formam entre
as unidades do muro em T não são colmatadas por nenhum material.

Fig. 64 - Preparação do local de implantação (à esquerda) e construção da estrutura de


nivelamento (à direita)

Fig. 65 - Esquema de montagem do muro (à esquerda) e aspecto do 1º nível de T-Walls já


colocadas (à direita)

São então colocadas as primeiras unidades sobre a estrutura de nivelamento, usando giz para
marcar os pontos de alinhamento das peças. Ajusta-se a elevação da alma para verificar a
posição da face frontal da peça. Após o alinhamento de todas as peças, são verificados os
níveis e altura de todas as unidades. Se o topo da unidade estiver irregular, é colocado o nível
e passada uma lixa para se obter uma superfície regular. Aquando desta operação, reavaliam-

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se todos os alinhamentos no caso de se ter perturbado as posições das peças vizinhas.


Finalmente, é feita uma última verificação visual dos topos das unidades. Devem ser feitos
todos os esforços para garantir que o 1º patamar de unidades está perfeitamente nivelado e
alinhado. A partir deste ponto, constrói-se o muro por níveis horizontais (Fig. 66, à esquerda).

4.1.2.4. Construção dos níveis seguintes e colocação do terreno colaborante

Antes da colocação do terreno colaborante, é posto um filtro de 30 cm de largura com um


comprimento igual à altura das unidades em cada junta do muro, impedindo a migração do
solo colaborante através das juntas (Fig. 66, ao centro). O excedente de filtro é posto sob o
topo da peça e, durante a compactação do terreno colaborante, coloca-se para trás o filtro sob
o terreno compactado.

O material das juntas horizontais é colocado entre as unidades na face frontal, para evitar o
contacto entre as peças de betão, servindo assim como almofada e também como filtro para
prevenção da lavagem do terreno colaborante.

Os elementos de ligação entre os níveis (shear keys) são compostos pelo material das juntas,
que são colocados nos dentes das unidades onde as almas superior e inferior se encontram
(Fig. 66, à direita). Estes elementos são importantes porque:

 providenciam o alinhamento guia;


 evitam o movimento da unidade durante a compactação do terreno colaborante;
 dão uma maior resistência ao deslizamento no topo do muro.

A execução do terreno colaborante passa por colocar o solo directamente sob as almas de
modo a preencher igualmente os dois lados, evitando qualquer movimento lateral das
unidades (Fig. 67, à esquerda). Não se deve elevar mais do que um nível de unidades sem
primeiro preencher com terreno colaborante.

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Fig. 66 - À esquerda, panorama da obra, ao centro, filtros já colocados e, à direita, shear keys

A compactação do terreno colaborante (Fig. 67, à direita) deve ser executada em níveis com
30 cm. Uma má execução do terreno colaborante pode prejudicar a estabilidade do muro.
Deve-se também preencher e compactar o local de implantação do muro com o terreno
colaborante o mais cedo possível, no limite antes de se atingir os 3 m de altura de muro
construído.

Fig. 67 - Colocação (à esquerda) e compactação (à direita) do terreno colaborante

4.1.2.5. Pontos singulares

A construção de esquinas será feita praticamente da mesma maneira que o resto do muro,
apenas serão colocadas num dos lados da esquina peças previamente alteradas em fábrica,
com uma alma inferior às outras peças (Fig. 68, à esquerda). A ligação entre estas unidades
mais pequenas e as outras normais será garantida por intermédio de elementos de aço
galvanizado com cerca de 12 polegadas (cerca de 30 cm).

No caso de grandes condutas de água, gás ou esgotos atravessarem os muros de contenção,


será necessária a colocação de peças previamente alteradas em fábrica. Estas peças terão um

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painel frontal com uma abertura circular (Fig. 68, à direita) e serão colocados entre as peças
em T.

Fig. 68 - Peças especiais para esquinas (à esquerda) e atravessamento de grandes condutas (à


direita)

4.2. MUROS TIPO TENSITER

Este sistema consiste numa estrutura de betão armado constituída fundamentalmente por três
elementos: um painel com contraforte, uma base e uma fundação (Fig. 69).

4.2.1. Descrição do processo

O sistema é constituído por painéis pré-fabricados modulados com 1.25 m de largura e alturas
variáveis múltiplas de 0.25 m. Os painéis de maior altura estão dotados de um tirante, também
pré-fabricado, que reforça a união entre painel e base (Fig. 69, ao centro).

A base do muro, que será coberta pelo aterro do tardoz, é betonada in-situ, sendo a sua
armadura também fornecida e empalmada em obra com os varões que saem do contraforte
dos painéis e das sapatas.

A fundação é também betonada em obra podendo ser armada ou não, consoante as


condicionantes de cálculo, nomeadamente geotécnicas.

Utiliza-se normalmente betão B35 (C30/37) e as armaduras são de aço A500 NR. O betão é

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feito com cimento portland tipo 1, classe 42,5 ou 52,5, consoante as exigências da classe do
betão e com agregados de origem granítica de preferência.

Fig. 69 - Tipos de muro Tensiter

4.2.2. Vantagens da sua utilização

Além de ser uma solução economicamente muito vantajosa, há uma poupança real em volume
total de betão quando comparada com uma solução betonada in-situ.

Dado que os painéis, estaticamente independentes, constituem um sistema articulado e como


as bases dos mesmos apresentam secções preferenciais de rotura sem que se altere a
estabilidade da obra, o sistema suporta muito bem assentamentos diferenciais.

Este tipo de estrutura permite um fácil transporte (Fig. 70, à esquerda), mesmo a grandes
distâncias, pois os painéis, particularmente aligeirados, têm uma forma que os torna
resistentes ao transporte e manuseamento (Fig. 70, à direita), assim como a reduzida altura
dos contrafortes facilita a carga no camião. É um sistema de fácil utilização, mesmo em
terrenos com elevadas pendentes, para além de se conseguirem elevados ritmos de montagem
com peças que vencem, de uma só vez, a altura do muro.

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Fig. 70 - Transporte (à esquerda) e descarga (à direita) dos painéis

4.2.3. Montagem (Fig. 71)

Fig. 71 - Faseamento da montagem dos muros tipo Tensiter

A fundação deste tipo de muro é feita de forma semelhante à da dos muros betonados in-situ,
iniciando-se com a preparação do terreno e a colocação do betão de regularização (Fig. 72, à
esquerda) e prosseguindo com a cofragem, a colocação das armaduras e a betonagem. A
diferença assenta na necessidade de prever armaduras de solidarização dos painéis e da base
com a sapata, podendo haver lugar a um reforço dessa armadura já após a betonagem da
sapata (Fig. 72, à direita).

A montagem dos painéis é executada com recurso a equipamento de elevação apropriado para
o peso dos painéis a utilizar (retroescavadoras, giratórias, auto-gruas). Os painéis podem ser
descarregados do camião horizontalmente para serem armazenados em obra ou verticalmente
para serem montados sobre a fundação (Fig. 73, à esquerda), utilizando-se para tal duas

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cunhas de madeira.

Fig. 72 - Betão de regularização da sapata (à esquerda) e armadura de solidarização da sapata


com a base (à direita)

Antes de se colocar os elementos pré-fabricados na fundação, deverá estar já marcado o


alinhamento do muro sobre a mesma, dada a dificuldade de correcção dos alinhamentos após a
montagem. Para um perfeito posicionamento dos painéis, faz-se uso de alavancas e regulam-
se as cunhas de madeira.

Após a colocação da armadura da base (Fig. 73, à direita), é feita a betonagem da mesma até
se atingirem as dimensões de projecto. Nestes painéis, as rótulas deverão ser seladas
previamente com argamassa sem retracção e oxidação com endurecimento rápido.

4.2.4. Drenagem das juntas

A drenagem das juntas verticais entre painéis é feita por intermédio de um perfil em PVC
concebido para o efeito, que conduz as águas para a zona inferior dos muros e evita a saída de
finos através das juntas. É necessário deixar um espaço livre sem perfil de PVC na zona
inferior do muro (Fig. 74), onde se coloca material drenante (brita, gravilha, etc.).

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Fig. 73 - Colocação dos painéis sobre a fundação (à esquerda) e aspecto do tardoz do muro
após a colocação da armadura da base e antes da betonagem desta (à direita)

Fig. 74 - Esquema da drenagem das juntas

4.2.5. Trabalhos finais

O aterro de tardoz (Fig. 75, à esquerda) poderá ser executado até metade da altura dos painéis,
sensivelmente 3 a 4 dias após a betonagem das bases, dependendo das condições climatéricas
da altura. O aterro será completado (Fig. 75, à direita) quando o betão da base tiver alcançado
uma resistência mínima de 20 MPa.

4.3. REJEIÇÃO DE PEÇAS PRÉ-FABRICADAS

As peças de betão pré-fabricado para os muros de suporte devem ser rejeitadas desde que não

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cumpram os parâmetros de qualidade impostos pelos regulamentos e caderno de encargos da


obra. Como exemplo, apresentam-se algumas anomalias nas peças pré-fabricadas que são
suficientes para a sua rejeição:

Fig. 75 - Muro pronto a receber o aterro (à esquerda) e em fase final de aterro (à direita)

 defeitos que indicam uma moldagem insatisfatória;


 peças com chochos por má vibração;
 sinais da segregação do betão;
 esquinas partidas ou fissuradas;
 defeitos nas peças que possam pôr em causa a integridade estrutural da unidade;
 recobrimento insuficiente das armaduras;
 insuficiente capacidade resistente à compressão do betão;
 uma espessura em excesso de mais 5 mm do que é mencionado no caderno de encargos;
 manchas ou descoloração do betão (susceptível de negociação).

O transporte e armazenagem devem ser feitos de modo a evitar fissuras, fracturas e elevadas
deformações nas peças. A armazenagem deve ser feita num local protegido e sobre uma
plataforma firme, onde se garanta toda a qualidade das unidades pré-fabricadas até à sua
definitiva colocação.

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5. CONSIDERAÇÕES GERAIS SOBRE O DIMENSIONAMENTO

A transição entre duas plataformas no terreno a cotas diferentes pode ser conseguida de modo
suave ou brusco. Esta última requer normalmente estruturas de suporte próprias que melhor se
adeqúem às condições criadas por tal transição. Contudo, ao criar-se tais estruturas, estar-se-á
a gerar desequilíbrios na massa de solo, requerendo portanto o cálculo de equilíbrio para um
correcto dimensionamento da estrutura em questão. Sendo assim, e de forma a se
compreender tal necessidade, optou-se por fazer uma pequena introdução, no âmbito da
mecânica dos solos, das forças em jogo e das diversas teorias analíticas subjacentes ao cálculo.

5.1. O IMPULSO DAS TERRAS

O estado de tensão num elemento de solo a uma profundidade h é caracterizado pelo facto de
nas facetas horizontais e verticais a tensão tangencial ser nula. Deste modo, as tensões  v e
 h , e considerando a superfície, são tensões principais. Admitindo pressões hidrostáticas, o
valor da tensão vertical é conhecido e é dado por  v    z em que  é o peso específico
[kN/m3] e z a profundidade do elemento. A tensão horizontal em repouso, e sem se entrar em
muito detalhe, pode ser dada por:

h
 K0 Para solos granulares: K 0 =1-sen (Jaky 1944)
v

5.1.1. Impulsos activos e passivos

Gerando-se tais tensões, o solo poderá ter movimentos que induzam um estado de tensões
passivo ou activo no maciço de solo. Deste modo, entra num regime plástico no limiar da
rotura, não sendo válida a relação do repouso e gera impulsos ou forças proporcionais a
coeficientes de impulso dependentes das características de rotura do solo e da secção de solo
que está prestes a plastificar.

1  sen'
Ka  coeficiente de impulso activo (’ - ângulo de atrito interno)
1  sen'

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1  sen'
Kp  coeficiente de impulso passivo
1  sen'

O cálculo das tensões horizontais depende das condições e características do solo Sendo
assim, o cálculo das diversas pressões envolvidas poderá ser feito por vários métodos, dos
quais se destacam a teoria de Coulomb (1773) e a de Rankine (1856).

5.1.2. Teoria de Rankine

Para aplicar tal teoria, há que ter em conta que o solo em causa não poderá ter coesão e
admitir que entre a estrutura de suporte e o solo não existe atrito. Para além disso, tem de se
respeitar as seguintes condições:

 terrapleno horizontal;
 superfície vertical de contacto solo-estrutura de suporte;
 solo homogéneo, isotrópico, elástico - perfeitamente plástico e seco.

Apresentam-se na Fig. 76 esquemas associados a esta teoria, onde estão definidos os impulsos
e forças gerados.

Fig. 76 - Estabilidade global de um muro de suporte pela teoria de Rankine

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5.1.3. Teoria de Coulomb

Como se trata de um modelo um pouco mais sofisticado, esta teoria já entra em linha de conta
com o atrito existente solo-estrutura, permitindo também a existência de inclinações do solo a
suportar. Contudo, apresenta a desvantagem da necessidade do conhecimento da superfície
(cunha) de rotura para o cálculo dos diversos impulsos, o que representa o acréscimo de
tempo de computação, já que para cada superfície é necessário efectuar o equilíbrio de forças
e momentos (Figs. 77 e 78). Esta teoria é susceptível de também ser aplicada em muros de
funcionamento um pouco mais complexo do que os em consola, como os com “prateleiras”
(Fig. 79).

Fig. 77 - Estabilidade global de um muro de suporte pela teoria de Coulomb

Fig. 78 - Exemplo de aplicação da teoria de Coulomb ao dimensionamento de um muro de


suporte em consola

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Fig. 79 - Funcionamento mecânico dos muros com “prateleiras”

5.1.4. Outras teorias e sua aplicação na prática

Presentemente, a utilização de modelos matemáticos complexos e a as técnicas de cálculo por


elementos finitos permite considerar a influência dos mecanismos de deformação não linear
do solo e a evolução das tensões neutras, mas sempre através de grandes simplificações que,
na maioria das vezes, anulam qualquer pretensão de muito rigor. A este propósito, julga-se
que, para os casos correntes, se mantém actual o seguinte excerto dos apontamentos de
Mecânica dos Solos do Prof. Mineiro [16]: “Uma vez que são ainda grandes as
simplificações que se tem de adoptar para representar quer as resistências quer a reologia
dos solos, parece não ser justificável a utilização de métodos de cálculo muito complexos,
embora mais correctos do ponto de vista físico e matemático”.

Quando se utilizam os métodos simplificados correspondentes às teorias clássicas, o que


interessa é fazê-lo correctamente, ou seja, garantindo que as simplificações não funcionam
“contra a segurança”. Neste sentido, interessa mormente não confundir impulsos activos com

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impulsos em repouso, não contar com impulsos passivos cuja mobilização implique
deformações não aceitáveis nem com atritos solo / parede que possam ser facilmente
eliminados pela presença de águas pluviais.

Actualmente, é prática corrente determinar os coeficientes de impulso (pressões) das terras


em conformidade com o Art. 8.5 da NP ENV 1997-1: 1999 (Eurocódigo 7) [3].

Os impulsos activos devidos a acções sísmicas são frequentemente avaliados utilizando o


conhecido método analítico de Mononobe - Okabe ou o método gráfico de Culmann,
devidamente adaptado.

5.2. O DIMENSIONAMENTO

A análise de estabilidade da estrutura de suporte terá de ser encarada de uma forma global,
onde estão em jogo os aspectos associados ao comportamento mecânico do muro assim como
os associados ao solo. Esta estabilidade pode ser comprometida por, pelo menos, cinco tipos
de ruptura distintos, podendo estes ocorrer de forma independente (Fig. 80):

a) derrubamento;
b) escorregamento pela base;
c) rotura do solo de fundação;
d) escorregamento global;
e) rotura da própria estrutura.

O derrubamento e o escorregamento são os tipos de rotura que mais condicionam a escolha da


geometria e do tipo de muro enquanto que a rotura do muro é causada por um deficiente
dimensionamento.

Em termos de esforços principais e pormenorização das armaduras, pode-se dizer que os


muros em consola (sem contrafortes), têm um funcionamento unidireccional em que as
armaduras principais são verticais e na face de tardoz do muro. No entanto, a armadura
horizontal (em ambas as faces) não se limita a ter uma função de distribuição mas funciona

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também como a forma mais eficaz (juntamente com a previsão de juntas verticais) de
prevenção da fendilhação vertical.

Já nos muros com contrafortes, o funcionamento das lajes de testa é bidireccional, ainda que
função da relação entre a altura total do muro e a distância entre contrafortes, pelo que haverá
necessidade de recorrer a programas ou tabelas de cálculo adequados (e a uma escolha
criteriosa das condições de fronteira consideradas) para determinação da taxa e
posicionamento das armaduras principais (que deverão ocorrer em ambas as faces). A
armadura principal dos contrafortes, se estes se encontrarem no tardoz como é corrente, é a
(semi-)vertical na face posterior, ainda que seja necessário dedicar especial atenção à
amarração (horizontal) do contraforte no muro de testa e à armadura nas faces laterais dos
contrafortes.

a) b) c)

d) e)

Fig. 80 - Modos mais correntes de perda de estabilidade dos muros de suporte

5.2.1. Dimensionamento de acordo com a actual regulamentação Portuguesa

Na prática corrente, à luz do REBAP [17] e do RSA [18], o dimensionamento de um muro de


suporte em betão armado com fundação directa implica considerar os estados limite, as
combinações de acções e os critérios que se indicam no Quadro 1.

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Quadro 1 - Estados limite, combinações de acções e critérios (REBAP e RSA) - Casos


correntes
Estados limite Combinações de acções Critérios
Flexão Alínea c do Art. 8.1 do
Resistência Esforço Fundamentais RSA, em termos de
transverso esforços
Tensão de segurança
Todas as acções permanentes
(adaptação da alínea c
Rotura do e acções variáveis
do Art. 8.1 do RSA, em
terreno de desfavoráveis, consideradas
termos de tensões, ao
fundação com os seus valores
abrigo do Art. 8.4 do
Últimos característicos
RSA)
Equilíbrio Com coeficientes de
Todas as acções permanentes segurança global
Deslizamento e acções variáveis (adaptação da alínea c
desfavoráveis, consideradas do Art. 8.1 do RSA, em
com os seus valores termos de esforços, ao
característicos abrigo do Art. 8.4 do
Derrubamento RSA)
Alínea c do Art. 8.1 do
RSA, em termos de
Raras (ambientes agressivos)
largura de fendas,
Frequentes (ambientes pouco
Largura de fendas ou
ou moderadamente
“controlo indirecto”, nos
agressivos)
termos dos Art. 70.3 e
de 91 ou 105 do REBAP
Utilização Alínea c do Art. 8.1 do
Raras (muito curta duração) RSA, em termos de
deformações,
Frequentes (curta duração)
Deformação ou
Quase Permanentes (longa “controlo indirecto”, nos
duração) termos dos Art. 72.3 e
89 ou 102 do REBAP

Importa realçar o seguinte:

 frequentemente, o estado limite condicionante é o de deslizamento;


 nos casos especiais (impulsões de água, níveis freáticos elevados, fortes sobrecargas no
terrapleno, encontros de pontes e viadutos), poderá ser necessário considerar outros
estados limite.

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5.2.2. Dimensionamento de acordo com a regulamentação Europeia

À luz dos Eurocódigos, o projecto de um muro de suporte em betão armado com fundação
directa implica considerar o Eurocódigo 1 (Bases de projecto e acções em estruturas) [19], o
Eurocódigo 2 (Projecto de estruturas de betão) [7] e o Eurocódigo 7 (Projecto geotécnico) [3].
Como é sabido, o Eurocódigo 1 e o Eurocódigo 2 correspondem, respectivamente, ao RSA e
ao REBAP. O Eurocódigo 7, por outro lado, diz respeito essencialmente aos aspectos
geotécnicos e veio preencher uma lacuna do conjunto do RSA e do REBAP.

Não cabe, no presente documento, uma apresentação detalhada da aplicação de qualquer dos
Eurocódigos referidos. No entanto, vale a pena referir que o Eurocódigo 7 indica estados
limite e situações de projecto de um modo exaustivo, que se revela algo exagerado quando se
trata de muros de suporte correntes.

O artigo 8.2 do EC7 refere que deve ser elaborada uma lista dos estados limite a ter em
consideração. No mínimo, devem ser considerados os seguintes estados limites para todos os
tipos de estruturas de suporte [3]:

 perda de estabilidade global (Fig. 81);


 rotura de um elemento estrutural (muro, ancoragem, escora, etc.) ou da ligação entre
elementos estruturais (Fig. 82);
 rotura conjunta do terreno e de um elemento estrutural;
 movimentos da estrutura de suporte que possam causar o colapso ou afectar a aparência
da própria estrutura, ou de estruturas vizinhas;
 repasses de água inaceitáveis sob ou através da parede;
 transporte em quantidade excessiva de partículas do terreno sob ou através do muro;
 alteração inaceitável das condições de percolação da água no terreno.

Para as estruturas de suporte de gravidade e compósitas, devem ser considerados ainda os


seguintes estados limite [3]:

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 rotura por falta de capacidade resistente do terreno de fundação (Fig. 83);


 rotura por deslizamento pela base do muro;
 rotura por derrubamento do muro.

Fig. 81 [3] - Exemplos de modos limite de perda de estabilidade global

Fig. 82 [3] - Exemplos de modos limite de rotura estrutural de estruturas de suporte

Fig. 83 [3] - Exemplos de modos limite de rotura da fundação de muros de gravidade

Refira-se contudo que, sobretudo nos muros em consola (sem contrafortes), os estados limite
de utilização (fendilhação e deformação) poderão ser mais condicionantes que os últimos,
nomeadamente nas situações em que é preciso limitar fortemente os assentamentos das

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fundações das estruturas no tardoz do muro, eventualmente causados por deslocamentos


horizontais excessivos no coroamento deste.

Por sua vez, o artigo 8.3.3. do EC7 refere que, no projecto de estruturas de suporte devem ser
considerados os seguintes aspectos [3]:

 a variação das propriedades do terreno no tempo e no espaço;


 as variações ao longo do tempo dos níveis de água e das pressões intersticiais;
 as variações das acções e das respectivas combinações;
 a escavação, a infraescavação ou a erosão em frente da estrutura;
 a colocação de aterro no tardoz da estrutura;
 - o efeito, se for previsível, de futuras estruturas e sobrecargas;
 movimentos do terreno, devido a subsidência, acções do gelo, etc..

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6. BIBLIOGRAFIA

Nota: as referências bibliográficas indicadas de seguida não incluem as referidas no capítulo


de introdução a este documento, assim como um número não especificado de sites da Internet
e catálogos comerciais.

[1] Brito, Jorge de, “Muros de Gravidade Correntes”, IST, Lisboa, 1999.
[2] Brito, Jorge de, “Muros de Suporte Especiais”, IST, Lisboa, 1999.
[3] Eurocódigo 7, “Dimensionamento Geotécnico”, EN 1997, CEN, 1999.
[4] Brito, Jorge de, “Ancoragens”, IST, Lisboa, 2001.
[5] Brito, Jorge de, “Estacas Cravadas”, IST, Lisboa, 1999.
[6] Brito, Jorge de, “Estacas Moldadas no Terreno”, IST, Lisboa, 1999.
[7] Eurocódigo 2, “Dimensionamento de Estruturas de Betão. Regras Gerais e Regras para
Edifícios”, EN 1992, CEN, 1991.
[8] Eurocódigo 3, “Dimensionamento de Estruturas de Aço. Regras Gerais e Regras para
Edifícios”, EN 1992, CEN, 1998.
[9] BS 5975: 1996 - “Code of Practice for Falsework”, British Standards Institute, London,
1996.
[10] ISO 4066 - “Construction Drawings - Bar Scheduling”, International Organization for
Standardization, Geneva, 1994.
[11] “CEB Application Manual on Concrete Reinforcement Technology”, Georgi Publishing
Company, Saint Saphorin (Switzerland), 1982.
[12] Arga e Lima, João, “Betão Armado - Armaduras”, LNEC, Lisboa, 1988.
[13] Coelho, Silvério, “Tecnologia de Fundações”, Edições E.P.G.E., Lisboa, 1996.
[14] Brito, Jorge de; Paulo, Pedro, “Cofragens Tradicionais”, IST, Lisboa, 2001.
[15] Brito, Jorge de; Paulo, Pedro, “Sistemas Racionalizados de Cofragens”, IST, Lisboa,
2001.
[16] Mineiro, A., “Curso de Mecânica dos Solos e Fundações”, IST, Lisboa, 1971.
[17] REBAP, “Regulamento de Estruturas de Betão Armado e Pré-esforçado”, Decreto-Lei
nº 349-C/83, Imprensa Nacional - Casa da Moeda, Lisboa, 1984.
[18] RSA, “Regulamento de Segurança e Acções para Estruturas de Edifícios e Pontes”,
Decreto-Lei nº 235/83, Imprensa Nacional - Casa da Moeda, Lisboa, 1983.

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[19] Eurocódigo 1, “Acções nas Estruturas”, CEN, 2000

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