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Jorge de Brito
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Jorge de Brito
Novembro de 2002
ÍNDICE
1. Introdução 1
2. Tipologias 4
2.1. Considerações gerais 4
2.2. Factores condicionantes na escolha do tipo de muro 7
3. Processo construtivo (muros executados in-situ) 10
3.1. Considerações gerais 10
3.2. Rastreio e remoção de instalações afectadas 11
3.3. Movimentos de terra para constituição da plataforma de implantação 11
3.4. Implantação 13
3.5. Escavação para fundação 14
3.6. Betão de regularização 15
3.7. Moldes e cimbres 15
3.7.1. Cofragem das sapatas 16
3.7.2. Cofragem da laje de testa e contrafortes 16
3.7.2.1. Considerações gerais 16
3.7.2.2. Tipos de cofragem e de betonagem 18
3.7.2.3. Sistemas de amarração de painéis 20
3.7.2.4. Ancoragem das bases dos painéis 22
3.8. Armaduras 23
3.8.1. Fabrico das armaduras elementares 24
3.8.2. Montagem 25
3.9. Betonagem 31
3.10. Desmoldagem 33
3.11. Protecção das superfícies enterradas 33
3.12. Drenagem do tardoz 33
3.13. Juntas 36
3.14. Reposição de terras 38
3.15. Anomalias e sua reparação 38
4. Muros pré-fabricados 41
4.1. Muros tipo T (T-Wall) 41
4.1.1. Características da T-Wall 41
4.1.2. Processo construtivo 42
4.1.2.1. Preparação do local de implantação 43
4.1.2.2. Construção da estrutura de nivelamento 43
4.1.2.3. Elevação do 1º nível 44
4.1.2.4. Construção dos níveis seguintes e colocação do terreno
colaborante 45
4.1.2.5. Pontos singulares 46
4.2. Muros tipo Tensiter 47
4.2.1. Descrição do processo 47
4.2.2. Vantagens da sua utilização 48
4.2.3. Montagem 49
4.2.4. Drenagem das juntas 50
4.2.5. Trabalhos finais 51
4.3. Rejeição de peças pré-fabricadas 51
5. Considerações gerais sobre o dimensionamento 53
5.1. O impulso das terras 53
5.1.1. Impulsos activos e passivos 53
5.1.2. Teoria de Rankine 54
5.1.3. Teoria de Coulomb 55
5.1.4. Outras teorias e sua aplicação na prática 56
5.2. O dimensionamento 57
5.2.1. Dimensionamento de acordo com a actual regulamentação Portuguesa 58
5.2.2. Dimensionamento de acordo com a regulamentação Europeia 60
6. Bibliografia 63
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Muros de suporte de betão armado por Jorge de Brito
1. INTRODUÇÃO
Na linguagem técnica corrente, os muros de suporte objecto deste documento não são
incluídos nos chamados muros de gravidade (descritos no documento [2]), uma vez que nestes
a massa estabilizadora é a do próprio muro. No entanto, à luz do Eurocódigo 7 [3], que
classifica as estruturas de suporte de terras em muros de gravidade, cortinas e estruturas de
suporte compósito, os primeiros são definidos como aqueles em o seu próprio peso e as
massas de solo ou rocha que sobre eles repousam funcionam como massa estabilizadora, o
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Muros de suporte de betão armado por Jorge de Brito
Não obstante o facto de existirem muros de suporte (ou contenção) de terras praticamente
desde que há construções, com a esmagadora preponderância do betão armado e pré-
esforçado sobre os outros materiais estruturais, sobretudo a partir da 2ª metade do século XX,
os muros de suporte deixaram de ser de terra compactada, pedra natural, terra crua, madeira,
betão ciclópico e betão simples (ou muito fracamente armado - Fig. 2, à direita).
Este documento pretende servir de apoio aos alunos do Mestrado Avançado em Construção e
Reabilitação do Instituto Superior Técnico na Cadeira de Construção de Edifícios. Foca parte
do capítulo dessa mesma cadeira dedicado aos muros de suporte, neste caso não integrados
numa super-estrutura do tipo edifício. Faz-se esta diferenciação neste documento, uma vez
que as cortinas de contenção de betão integradas em edifícios (caves) correspondem ou a
soluções especiais (paredes tipo Munique, paredes moldadas ou cortinas de estacas) ou a
paredes construídas como todas as interiores (quando as condições envolventes do terreno de
construção permitem a execução de taludes em declive natural), e encontram-se tratadas
noutros documentos.
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Muros de suporte de betão armado por Jorge de Brito
A elaboração deste documento não resultou de investigação específica sobre o tema efectuada
pelo seu Autor mas sim de alguma pesquisa bibliográfica e de monografias escritas realizadas
por alunos do Instituto Superior Técnico, tanto no Mestrado em Construção como na
Licenciatura em Engenharia Civil. Assim, muita da informação nele contida poderá também
ser encontrada nos seguintes documentos, que não serão citados ao longo do texto:
Abel Soeiro e Sá, “Muros de Suporte em Betão Armado com Fundação Directa”,
Monografia apresentada no Mestrado em Construção, Instituto Superior Técnico, 2002,
Lisboa;
Sérgio Rodrigues, “Levantamento Fotográfico da Execução de Muros de Contenção.
Muros de Suporte Simples”, Monografia apresentada no Mestrado em Construção,
Instituto Superior Técnico, 2002, Lisboa;
Pedro Cheganças, Gonçalo Vieira, Higino Silva e Pedro Camacho, “Muros de Suporte em
Betão Armado”, Monografia apresentada na Licenciatura em Engenharia Civil, Instituto
Superior Técnico, 2001, Lisboa;
João Prates, Erasmo Fernandes, João Sousa e Miguel Correia, “Muros de Betão Armado
(Levantamento Fotográfico)”, Monografia apresentada na Licenciatura em Engenharia
Civil, Instituto Superior Técnico, 2001, Lisboa.
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2. TIPOLOGIAS
o formato geral constituído pela laje de testa e pela sapata ser em T invertido (Fig. 3, à
esquerda) ou ser em L (Fig. 3, à direita);
terem (Fig. 4, à esquerda) ou não (Fig. 3, à esquerda) contrafortes (podendo a geometria
destes variar - Fig. 5, à esquerda);
terem (Fig. 4, à direita) ou não (Fig. 4, à esquerda) viga de coroamento;
- incluírem (Fig. 6) ou não (Fig. 3, à esquerda) “dente(s)” na face inferior da sapata;
incluírem (Fig. 7) ou não (Fig. 3, à direita e Fig. 5, `a direita) “prateleira(s)” no tardoz da
laje de testa;
a laje de testa e a sapata serem de espessura constante (Fig. 4, à esquerda) ou de espessura
variável (Fig. 3, à esquerda);
a face inferior da sapata ser horizontal ou ser inclinada.
DIMENSÕES USUAIS
B 0,4 H a 0,6 H
B0 H / 12 a H / 10
H H0 H / 12 a H / 10
e 0,20 m a 0,30 m
B2 0,30 m a 0,50 m
H0
B1
Fig. 3 - À esquerda, muro de suporte em T invertido com laje de testa de espessura variável,
sem contrafortes e sem dente e, à direita, muro de suporte em L sem prateleira
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H Contrafortes
espessura: C 0
afastamento: C1
H0
B1
Fig. 4 - Muros de suporte com contrafortes e laje de espessura constante: sem (à esquerda) e
com (à direita) viga de coroamento
Fig. 5 - Muro de suporte com contrafortes de variação de secção não linear (à esquerda) e
com “sapata / prateleira” intermédia (à direita)
5
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Dente
P2
P1
SECÇÃO TRANSVERSAL
PERSPECTIVA
Fig. 7 - Muro de suporte com “prateleira” para reduzir os esforços na laje de testa
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muro em T invertido, sem contrafortes, com laje de testa de espessura variável e sapata
de espessura constante, sem dente e sem prateleira (Fig. 3, à esquerda);
muro em T invertido, com contrafortes “triangulares”, com laje de testa de espessura
constante e sapata de espessura constante, sem dente, sem prateleira e sem viga de
coroamento (Fig. 4, à esquerda).
O dono da obra pode obter poupanças importantes se permitir num concurso que os
empreiteiros escolham o mais económico de entre diversos sistemas de muros de suportes. Eis
alguns factores condicionantes para afectar essas decisões:
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local da obra;
especialidade do empreiteiro - uma solução de um certo tipo (ex.: muros com ancoragens
definitivas) pode ser a solução mais económica, mas só se houver um empreiteiro
experiente nessa mesma área;
requisitos estéticos e/ou ecológicos - alguns muros podem ser cobertos com terra
posteriormente plantada, outros podem, também de uma maneira económica, ter uma
variedade de faces arquitectónicas menos desagradáveis visualmente mas também podem
precisar de uma escavação tal que deixe uma marca inaceitável na paisagem;
tempo de vida da estrutura - o tempo mínimo de vida de um muro de suporte para uma
auto-estrada é, em geral, de 75 a 100 anos mas alguns complexos industriais podem só
durar 30 anos;
cargas a que o muro está sujeito - além do terreno, o muro poderá ter de suportar uma
estrada ou um edifício; algumas destas estruturas podem ser muito sensíveis a
assentamentos das fundações, o que pode condicionar drasticamente a concepção e
dimensionamento do muro para controlo da deformação horizontal no coroamento;
assentamento - o tipo de muro seleccionado tem de conseguir suportar o assentamento
expectável do solo;
facilidade e velocidade de construção - trabalho que exija grande especialização dos
trabalhadores é muito mais caro do que outro que não o faça; uma construção mais rápida
encurta os problemas de desvio de tráfego, o que reduz custos no controlo do mesmo;
flexibilidade para aumentar carga máxima que o muro pode suportar - se as condições se
alterarem (ex.: passou a haver um parque para camiões acima do muro de suporte
previamente construído), um muro com ancoragens pode aumentar a sua capacidade de
carga simplesmente se se aumentar o número de ancoragens;
altura do muro - alguns sistemas de muros só são económicos se se tratar de muros
baixos, com outros passa-se exactamente o contrário; o recurso a contrafortes torna-se
uma inevitabilidade em muros altos;
mão-de-obra necessária - alguns sistemas requerem mais trabalhadores que outros; por
exemplo, numa zona onde a mão-de-obra é cara, tem de se arranjar uma solução que
necessite de menos trabalhadores e vice-versa;
futuros projectos junto ao muro construído - muros com ancoragens têm a segurança
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Ainda que existam muitos aspectos comuns na construção de qualquer muro de suporte em
betão armado, as características específicas de cada muro influenciam directamente o
faseamento (Fig. 8), impedindo que, em rigor, possa equacionar-se este aspecto com total
generalidade.
Ainda assim, são comuns a todos, mas com diferentes divisões, as seguintes actividades
(válidas em rigor para muros com fundações directas, do tipo sapata; para soluções do tipo
estaca, devem ser consultados os documentos específicos relativos a esse tipo de fundações,
[5] e [6]):
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betonagem;
desmoldagem;
protecção das superfícies enterradas;
instalação do sistema de drenagem do tardoz;
instalação de juntas;
reposição de terras.
Esclarece-se que, nos muros de suporte com ancoragens, em princípio não objecto deste
documento, a operação de execução das mesmas se seguirá à desmoldagem e de acordo com o
descrito em documento dedicado exclusivamente às ancoragens [4].
Passa-se agora à descrição de cada uma das fases do processo construtivo listadas acima,
ressalvando tratarem-se, em alguns casos, de processos e aspectos comuns a muitos outros
tipos de obras em betão.
Trata-se de uma questão comum em todas as obras que impliquem escavações. Em princípio
mas nem sempre, o projecto de execução deve incluir peças desenhadas onde se indique
claramente o posicionamento de todas as instalações existentes na zona da obra e deve conter
instruções sobre a eventual necessidade de as remover e sobre o modo de o fazer. De qualquer
modo, será sempre necessário fazer sondagens no local, para, no mínimo, confirmar os dados
do projecto.
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inclinações que lhes garantam estabilidade (iguais, ou um pouco superiores à que corresponde
ao ângulo de atrito interno - Fig. 12, à esquerda).
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3.4. IMPLANTAÇÃO
No primeiro caso, pode ser suficiente a simples técnica das triangulações com medições à fita,
eventualmente associada à técnica de nivelamento com mangueira.
No terceiro caso, será necessário, obviamente, um receptor de sinais de satélites (Fig. 13, à
direita) e, complementarmente, aparelhagem topográfica e/ou medições à fita.
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A menos que se trate de um pequeno volume e/ou haja impedimentos locais, a escavação para
abertura dos caboucos para a fundação é executada com escavadoras mecânicas (Fig. 14, à
esquerda). Em geral, é necessário compactar o fundo da “caixa”, o que é habitualmente
realizado com placas vibradoras (Fig. 15, à esquerda) ou com pequenos cilindros vibradores
(Fig. 15, à direita).
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Sobre o fundo dos caboucos, deve colocar-se uma camada de betão de regularização (Fig. 14,
à direita), que proporciona uma melhor protecção relativamente à corrosão das armaduras da
face inferior daquela peça e constitui uma base apropriada para a montagem destas e dos
taipais limítrofes da betonagem. Em geral, pode utilizar-se um betão “pobre” (B15).
Os moldes, vulgarmente designados por cofragens, têm por principal função conter e resistir
aos impulsos do betão no seu estado fresco. Quanto aos cimbres ou escoramentos, são
fundamentalmente sistemas de escoras e tirantes.
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Em geral, as cofragens das sapatas, que são as mais simples de todas as de que os muros
carecem, resumem-se a taipais laterais, devidamente escorados. Na maioria das vezes, utiliza-
se madeira (tábuas de cofragem, barrotes e sarrafos - Fig. 16, à esquerda) ou aço (Fig. 16, à
direita) e a execução fica a cargo dos chamados carpinteiros de toscos. O escoramento dos
taipais faz-se contra a plataforma do fundo da caixa, se as suas dimensões o permitirem, como
se representa na Fig. 17, ou contra os taludes da escavação do cabouco e deve ser
dimensionado para resistir aos impulsos do betão fresco (que serão de pequena monta, se a
sapata tiver, como é habitual, uma espessura relativamente pequena).
Nos pequenos muros, ainda se utiliza madeira aplicada por carpinteiros de cofragens (Fig. 18
à esquerda). Em termos de sequência, é colocada inicialmente a cofragem de um dos lados,
posicionada a armadura e só depois a cofragem da face oposta (Fig. 18, à direita), ainda que
também seja possível só colocar as cofragens após a montagem da armadura (Fig. 39).
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Terreno
Plataforma natural
de implantação
Escoras
Taipal Betão de regularização
Dormentes
Nos muros de maior porte, em geral com contrafortes, é frequente a utilização de sistemas de
tipo industrial (Fig. 19), que incluem painéis de cofragem (metálicos - Fig. 20, à esquerda, em
madeira ou derivados -Fig. 20, ao centro ou mistos, que poderão ter de ser movimentados com
equipamento mecânico do tipo grua), peças de escoramento (Fig. 20, à direita), plataformas
de betonagem e de trabalho, guarda-corpos e peças de amarração, com possibilidade de
compatibilização e de abundante reaplicação (o controlo dimensional também é facilitado,
sobretudo em muros de espessura variável). É importante notar que a velocidade da
betonagem poderá ser grande e, por isso, os impulsos do betão fresco atingir valores elevados.
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Nas lajes de testa de altura mais reduzida, é usual a betonagem de cada um dos troços
(separados por juntas verticais) ser feita de uma só vez (abrangendo toda a altura). Neste caso,
as cofragens poderão ter um único nível de escoramentos e, quando se justifique, poderão ser
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Nas lajes de testa mais altas (e respectivos contrafortes, quando existem), para facilitar a
betonagem e a vibração, haverá que adoptar uma das seguintes soluções:
Fig. 21 - Cofragem de muros de testa: a toda a altura (à esquerda) e por troços (à direita)
Em qualquer dos casos, é necessário não deixar cair o betão de uma altura exagerada, o que
obriga, em geral, a “mergulhar” a mangueira de betonagem dentro da cofragem.
Excepto nos casos em que o coroamento se situa a pequena distância do terreno, é conveniente
dispor de plataformas de betonagem, montadas na cofragem de uma das faces e associadas a
guarda-corpos montados, normalmente, na cofragem da outra face. Quando a cofragem é
inteiriça e a betonagem se efectua por troços horizontais, é conveniente dispor de janelas de
betonagem. Um caso especial é o das cofragens inteiriças montadas em pórticos móveis,
sobre carris, para betonagem de muros compridos, de secção constante (Fig. 22, à direita).
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A principal função dos sistemas de amarração (Figs. 23 a 26) de painéis de faces opostas (tie
systems) é, naturalmente, a de resistir às tracções resultantes dos impulsos do betão fresco
(funcionando como tirantes entre os painéis das faces opostas). Porém, antes da betonagem,
poderão ter que funcionar quer como escoras, quer como tirantes, mantendo a posição relativa
daqueles painéis.
Mormente quando a cofragem é de madeira, o travamento dos painéis das faces opostas
também pode ser feito utilizando tábuas estreitas ou barrotes como escoras (Fig. 27, à
esquerda) e varões de aço para betão armado como tirantes (esticadores). Existem, no
mercado, peças especiais (castanhas) para fixar aqueles varões nas cofragens (Fig. 27, à
direita).
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Em alguns casos, pode pretender-se ancorar, no betão da sapata, as bases dos painéis de
cofragem. Para isso, podem utilizar-se sistemas improvisados (Fig. 28) ou sistemas com peças
especialmente concebidas para esse efeito (Figs. 29 a 31).
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3.8. ARMADURAS
O processo inicia-se pelo fabrico das armaduras elementares (corte e dobragem dos varões).
Em seguida, procede-se à montagem das mesmas e, se esta operação não for realizada in-situ,
haverá ainda a fase de colocação. Naturalmente, as preocupações principais devem ser o
escrupuloso respeito pelo projecto e pela regulamentação aplicável.
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Fig. 31 - Esquema de ancoragem com cone e varão de alta resistência perdido (em cima) e
recuperável (em baixo)
O fabrico das armaduras elementares deve ser devidamente programado, mormente no que
respeita ao corte dos varões, para evitar desperdícios e erros. É aconselhável elaborar um
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“mapa de ferros” (bar schedule) do tipo do previsto na Norma ISO 4066 - Construction
drawings - Bar scheduling [10] (Fig. 32), e cuja aplicação, prevista no CEB Application
Manual on Concrete Reinforcement Technology, de 1982 [11] se ilustra na Fig. 33.
Fig. 32 - Exemplos de pormenorizações tipo previstas na norma ISO 4066 para preparação
das armaduras
O corte e a dobragem dos varões podem ser executados com ferramentas manuais (tesouras -
Fig. 34, serras, chaves de dobrar - Fig. 35, placas de dobragem equipadas com “esperas” e
alavanca) ou máquinas (máquinas de dobragem - Fig. 36 - e máquinas de corte e dobragem).
3.8.2. Montagem
A montagem das armaduras elementares pode ser realizada numa oficina (Fig. 38), no
estaleiro ou in-situ (sobre, ou dentro, da cofragem). De qualquer modo, os varões poderão ser
fixados por ataduras, com arame de atar (Fig. 37, à esquerda), por soldaduras (Fig. 38) ou por
meio de peças especiais, incluindo molas de aço. Na gíria das obras, as ataduras executadas
com arame de atar são designadas por “pontos” (Fig. 37, à direita).
Nos casos em que as armaduras não são montadas in-situ, é indispensável incluir varões
especificamente destinados a impedir que os conjuntos se deformem durante o transporte. De
qualquer modo, será necessário incluir armaduras ou quaisquer outros dispositivos que
garantam o posicionamento relativo das armaduras e impeçam deformações antes (Fig. 39) e
durante a betonagem (e da própria cofragem - Fig. 41, à direita), que incluem os espaçadores
(Fig. 40) e as cadeiras. (Fig. 41, à esquerda).
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Fig. 33 [3] - Exemplo de aplicação da norma ISO 4066 às armaduras de um muro de testa
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varão
Ângu
lo de
dobra
gem
ve
a cha
chave
ç ão d
Rota
Fig. 35 - Chave de dobrar (à esquerda), usada para pequenos acertos in-situ mas também em
bancada (à direita)
Fig. 37 [12] - Execução de “ponto” com arame de atar (à esquerda) e agulha mecânica (à direita)
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Fig. 39 - Em alguns casos, poderá haver vantagem em escorar as armaduras enquanto não são
colocadas (e escoradas) as cofragens
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Fig. 41 [11] - Cadeiras para varões isolados (1) e camadas de armadura (2) (à esquerda) e
espaçadores para armaduras e cofragem (à direita)
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Ø ? // ?
Ø ? // ? Ø ? // ?
Suporte Ø ? // ?
em argamassa Ø ? // ?
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3.9. BETONAGEM
Habitualmente, o betão de regularização e o betão das fundações (Fig. 47, à esquerda) são
colocados sem utilização de bomba, ou seja, por descarga directa de um camião-betoneira
(Fig. 48, à esquerda) ou de um balde de betonagem (quando não se recorre a betão pronto).
Neste caso, o espalhamento é efectuado com pá e rodo e a regularização das superfícies é
obtida com régua (Fig. 49, à esquerda) ou com rodo (Fig. 49, à direita), devendo-se em
qualquer dos casos recorrer a vibradores (Fig. 47, à direita).
Na betonagem dos muros de testa e dos contrafortes, é geralmente necessário, por razões
óbvias, bombear o betão (Fig. 48, à direita - devendo a mangueira ser introduzida no interior
da peça, ao contrário do que se vê na Fig. 50, à esquerda) e vibrá-lo (Fig. 50, ao centro)
recorrendo a equipamento adequado (Fig. 50, à direita).
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Fig. 49 - Regularização do betão das sapatas com régua (à esquerda) e com rodo (à direita)
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3.10. DESMOLDAGEM
A desmoldagem das peças de betão em muros de suporte não apresenta aspectos específicos
que a distingam da desmoldagem de quaisquer outros elementos, descrita em detalhe nos
documentos [14] e [15], dedicados respectivamente às cofragens tradicionais e aos sistemas
de racionalizados de cofragens. Refere-se em particular a importância dos descofrantes para a
qualidade das superfícies descofradas e o prolongamento da vida útil das cofragens.
É prática corrente efectuar a protecção das superfícies enterradas por aplicação de “pintura”
com soluções de betume asfáltico (Fig. 51), do tipo Flintkote, que evitam (ou reduzem) a
penetração de água e de soluções ácidas. As taxas de aplicação são da ordem de 1 litro / 10 m²
e a aplicação é feita à brocha, sobre superfícies secas e isentas de poeiras.
Fig. 51 - Exemplos de aplicação de betume asfáltico para protecção das superfícies enterradas
de muros de suporte
A drenagem do tardoz dos muros de suporte torna-se necessária para evitar, ou reduzir, os
impulsos da água, ainda que a não manutenção dos respectivos dispositivos possa, a longo
prazo, torná-los inoperacionais. A concepção e o funcionamento do sistema depende das
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condições de permeabilidade e dos teores de finos quer dos materiais a utilizar no aterro de
reposição de terras no tardoz (Fig. 52), quer do maciço de terras a suportar.
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geotêxtil na face de tardoz do muro de testa (Fig. 53, à direita) que deve envolver
directamente ou com interposição de britas o geodreno (Fig. 54, ao centro). A drenagem da
superfície do tardoz também pode ser conseguida com lâminas de polietileno, associadas ou
não a mantas geotêxtil (Fig. 55, à esquerda e ao centro).
Fig. 54 - Tubo tipo geodreno (à esquerda) e manta tipo geotêxtil envolvendo-o (ao centro) e
caixa de visita no tardoz do muro (à direita)
Fig. 55 - Lâmina drenante em polietileno, associada (ao centro) ou não (à esquerda) a uma
manta geotêxtil; tubos montados na fase de colocação das armaduras (à direita)
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É conveniente ainda prever dispositivos destinados a limitar a quantidade de água que se pode
infiltrar para o extradorso da contenção. Por isso, para além dos drenos e barbacãs, e
principalmente nos terrenos inclinados, devem utilizar-se revestimentos tão impermeáveis
quanto possível no tardoz do muro, para dirigir as águas sobre a crista do muro ou por canais
ao longo dela, tipo algeroz; no lado jusante, devem colocar-se dispositivos capazes de afastar
do muro a água que tenha galgado a contenção ou a evacuada através das barbacãs (este
aspecto é especialmente importante no caso da camada de fundação ser argilosa).
3.13. JUNTAS
Em vários casos, existe necessidade de executar juntas entre diferentes troços de muros de
suporte, ou entre muros de suporte e outras estruturas adjacentes. São exemplos frequentes do
último caso as juntas entre os muros de ala ou de avenida e os pórticos laminares das
passagens inferiores mais comuns em obras rodoviárias (Fig. 56), ou entre os muros de
avenida e os encontros de algumas pontes e viadutos (Fig. 57).
Por razões estéticas e funcionais, é necessário que estas juntas impeçam a passagem das águas
pluviais que se infiltram nos aterros de tardoz. Para este efeito, a solução tradicional consiste
na colocação de perfis de neoprene, do tipo Waterstop (Fig. 58). Recentemente, tem vindo a
ser divulgada a aplicação, para o mesmo efeito, de perfis de impermeabilização à base de
bentonite de sódio natural (argila mineral de origem vulcânica, com a propriedade de
expandir em contacto com a água até 16 vezes).
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A reposição das terras é feita com solo seleccionado pelas razões apontadas anteriormente e
por camadas de pequena espessura, recorrendo-se ao mesmo equipamento de compactação
utilizado aquando da escavação para fundação. O coroamento das terras e do muro deve ser
compatibilizado aquando dos arranjos exteriores (Fig. 59, à esquerda).
Ainda que pouco comum, é por vezes dado um acabamento à face à vista do muro de testa
(por exemplo, reboco - Fig. 59, à direita).
A patologia e a reabilitação dos muros de suporte de betão armado tem, naturalmente, muitos
aspectos em comum com as dos outros elementos estruturais do mesmo material, sendo os
aspectos específicos os que se relacionam com o meio com o qual os muros estão em contacto
(o solo). Assim, podem ocorrer as seguintes anomalias:
vazios (chochos) e zonas porosas (devidos a problemas na betonagem como uma errada
granulometria, uma compactação / vibração inadequada, uma queda em altura ou a
segregação dos agregados);
fendilhação do betão (horizontal, por esforços de tracção devidos aos impulsos, sobretudo
na base e no intradorso; vertical, por esforços de tracção devidos às deformações impostas
e à ausência de juntas verticais em muros muito compridos e/ou à não previsão de
armadura de controlo de fendilhação horizontal em ambas as faces, a toda a espessura e
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4. MUROS PRÉ-FABRICADOS
Hoje em dia, cada vez mais o tempo e o preço são factores determinantes para um empreiteiro
ganhar um concurso de construção em qualquer área (com uma qualidade mínima garantida).
Os concursos para construção de muros de suporte de betão armado também não fogem a esta
tendência. Para tal, começaram a aparecer empresas especializadas na construção deste tipo
de muros em fábricas com um controlo de qualidade mais rigoroso com o objectivo de
proporcionar soluções práticas e baratas para uma obra.
Com a utilização destes tipos de soluções, obras que antes não era possível executar num
certo espaço de tempo passaram a sê-lo e com um preço em muitas situações ainda mais
competitivo que as soluções tradicionais. A estas vantagens, podem-se somar a durabilidade,
o acabamento arquitectónico e a reversibilidade da solução.
São descritas de seguida algumas das soluções deste tipo disponíveis no mercado nacional e
internacional.
Existem dois tipos de unidade para a composição dos muros em T, esquematizadas na Fig. 62,
em função da altura do muro e do comprimento das “almas”, o que naturalmente afecta o peso
próprio.
Existem três condições essenciais que devem verificar-se para o bom funcionamento do muro:
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2. A selecção do solo colaborante com a estrutura é muito rigorosa para se obter uma boa
estabilidade da mesma; esta selecção é feita respeitando a curva granulométrica definida
em projecto; o solo adoptado afecta tanto o atrito entre as unidades de betão, como a
capacidade de drenagem e assentamentos;
3. A boa compactação do solo entre as unidades do muro em T é necessária para prevenir os
assentamentos que afectam o pavimento no topo do muro.
Após a opção do tipo de muro feita em projecto, é feita a encomenda dos elementos pré-
fabricados. A descarga das unidades (Fig. 63, à esquerda) e sua colocação no solo utilizando
equipamento de elevação (Fig. 63, à direita) tem, em circunstâncias normais, a duração de
cerca de 2 horas. Se for possível, as unidades podem ser logo instaladas na estrutura de
fundação do muro. Este processo deve ser feito com extremo cuidado para protecção das
peças (não se devem empilhar mais de 2 unidades).
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Fig. 63 - Descarga (à esquerda) e posterior colocação (à direita) das unidades das T-Walls
Escava-se o local para a elevação do muro conforme o projecto (incluindo a área coberta pelo
solo colaborante - Fig. 64, à esquerda). Em condições especiais, a escavação pode ser feita de
forma incremental minimizando o impacte de área escavada. Todo o tipo de solo fora do fuso
granulométrico definido em projecto deve ser removido e substituído por solo pré-
seleccionado e devidamente compactado. A compactação do solo escolhido dentro do fuso
granulométrico deve ser feita a 95% do ensaio de Proctor standard. O local de construção
deverá estar seco, procedendo-se, caso exista, ao rebaixamento do nível freático.
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muito importante porque podem surgir assentamentos do solo ou deformações por flexão,
formando-se juntas indesejáveis.
A elevação é sempre iniciada num ponto fixo, como uma esquina. No caso de não existir um
ponto fixo, começa-se pela base mais baixa (Fig. 65, à direita). As juntas que se formam entre
as unidades do muro em T não são colmatadas por nenhum material.
São então colocadas as primeiras unidades sobre a estrutura de nivelamento, usando giz para
marcar os pontos de alinhamento das peças. Ajusta-se a elevação da alma para verificar a
posição da face frontal da peça. Após o alinhamento de todas as peças, são verificados os
níveis e altura de todas as unidades. Se o topo da unidade estiver irregular, é colocado o nível
e passada uma lixa para se obter uma superfície regular. Aquando desta operação, reavaliam-
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O material das juntas horizontais é colocado entre as unidades na face frontal, para evitar o
contacto entre as peças de betão, servindo assim como almofada e também como filtro para
prevenção da lavagem do terreno colaborante.
Os elementos de ligação entre os níveis (shear keys) são compostos pelo material das juntas,
que são colocados nos dentes das unidades onde as almas superior e inferior se encontram
(Fig. 66, à direita). Estes elementos são importantes porque:
A execução do terreno colaborante passa por colocar o solo directamente sob as almas de
modo a preencher igualmente os dois lados, evitando qualquer movimento lateral das
unidades (Fig. 67, à esquerda). Não se deve elevar mais do que um nível de unidades sem
primeiro preencher com terreno colaborante.
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Fig. 66 - À esquerda, panorama da obra, ao centro, filtros já colocados e, à direita, shear keys
A compactação do terreno colaborante (Fig. 67, à direita) deve ser executada em níveis com
30 cm. Uma má execução do terreno colaborante pode prejudicar a estabilidade do muro.
Deve-se também preencher e compactar o local de implantação do muro com o terreno
colaborante o mais cedo possível, no limite antes de se atingir os 3 m de altura de muro
construído.
A construção de esquinas será feita praticamente da mesma maneira que o resto do muro,
apenas serão colocadas num dos lados da esquina peças previamente alteradas em fábrica,
com uma alma inferior às outras peças (Fig. 68, à esquerda). A ligação entre estas unidades
mais pequenas e as outras normais será garantida por intermédio de elementos de aço
galvanizado com cerca de 12 polegadas (cerca de 30 cm).
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painel frontal com uma abertura circular (Fig. 68, à direita) e serão colocados entre as peças
em T.
Este sistema consiste numa estrutura de betão armado constituída fundamentalmente por três
elementos: um painel com contraforte, uma base e uma fundação (Fig. 69).
O sistema é constituído por painéis pré-fabricados modulados com 1.25 m de largura e alturas
variáveis múltiplas de 0.25 m. Os painéis de maior altura estão dotados de um tirante, também
pré-fabricado, que reforça a união entre painel e base (Fig. 69, ao centro).
A base do muro, que será coberta pelo aterro do tardoz, é betonada in-situ, sendo a sua
armadura também fornecida e empalmada em obra com os varões que saem do contraforte
dos painéis e das sapatas.
Utiliza-se normalmente betão B35 (C30/37) e as armaduras são de aço A500 NR. O betão é
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feito com cimento portland tipo 1, classe 42,5 ou 52,5, consoante as exigências da classe do
betão e com agregados de origem granítica de preferência.
Além de ser uma solução economicamente muito vantajosa, há uma poupança real em volume
total de betão quando comparada com uma solução betonada in-situ.
Este tipo de estrutura permite um fácil transporte (Fig. 70, à esquerda), mesmo a grandes
distâncias, pois os painéis, particularmente aligeirados, têm uma forma que os torna
resistentes ao transporte e manuseamento (Fig. 70, à direita), assim como a reduzida altura
dos contrafortes facilita a carga no camião. É um sistema de fácil utilização, mesmo em
terrenos com elevadas pendentes, para além de se conseguirem elevados ritmos de montagem
com peças que vencem, de uma só vez, a altura do muro.
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A fundação deste tipo de muro é feita de forma semelhante à da dos muros betonados in-situ,
iniciando-se com a preparação do terreno e a colocação do betão de regularização (Fig. 72, à
esquerda) e prosseguindo com a cofragem, a colocação das armaduras e a betonagem. A
diferença assenta na necessidade de prever armaduras de solidarização dos painéis e da base
com a sapata, podendo haver lugar a um reforço dessa armadura já após a betonagem da
sapata (Fig. 72, à direita).
A montagem dos painéis é executada com recurso a equipamento de elevação apropriado para
o peso dos painéis a utilizar (retroescavadoras, giratórias, auto-gruas). Os painéis podem ser
descarregados do camião horizontalmente para serem armazenados em obra ou verticalmente
para serem montados sobre a fundação (Fig. 73, à esquerda), utilizando-se para tal duas
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cunhas de madeira.
Após a colocação da armadura da base (Fig. 73, à direita), é feita a betonagem da mesma até
se atingirem as dimensões de projecto. Nestes painéis, as rótulas deverão ser seladas
previamente com argamassa sem retracção e oxidação com endurecimento rápido.
A drenagem das juntas verticais entre painéis é feita por intermédio de um perfil em PVC
concebido para o efeito, que conduz as águas para a zona inferior dos muros e evita a saída de
finos através das juntas. É necessário deixar um espaço livre sem perfil de PVC na zona
inferior do muro (Fig. 74), onde se coloca material drenante (brita, gravilha, etc.).
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Fig. 73 - Colocação dos painéis sobre a fundação (à esquerda) e aspecto do tardoz do muro
após a colocação da armadura da base e antes da betonagem desta (à direita)
O aterro de tardoz (Fig. 75, à esquerda) poderá ser executado até metade da altura dos painéis,
sensivelmente 3 a 4 dias após a betonagem das bases, dependendo das condições climatéricas
da altura. O aterro será completado (Fig. 75, à direita) quando o betão da base tiver alcançado
uma resistência mínima de 20 MPa.
As peças de betão pré-fabricado para os muros de suporte devem ser rejeitadas desde que não
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Fig. 75 - Muro pronto a receber o aterro (à esquerda) e em fase final de aterro (à direita)
O transporte e armazenagem devem ser feitos de modo a evitar fissuras, fracturas e elevadas
deformações nas peças. A armazenagem deve ser feita num local protegido e sobre uma
plataforma firme, onde se garanta toda a qualidade das unidades pré-fabricadas até à sua
definitiva colocação.
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A transição entre duas plataformas no terreno a cotas diferentes pode ser conseguida de modo
suave ou brusco. Esta última requer normalmente estruturas de suporte próprias que melhor se
adeqúem às condições criadas por tal transição. Contudo, ao criar-se tais estruturas, estar-se-á
a gerar desequilíbrios na massa de solo, requerendo portanto o cálculo de equilíbrio para um
correcto dimensionamento da estrutura em questão. Sendo assim, e de forma a se
compreender tal necessidade, optou-se por fazer uma pequena introdução, no âmbito da
mecânica dos solos, das forças em jogo e das diversas teorias analíticas subjacentes ao cálculo.
O estado de tensão num elemento de solo a uma profundidade h é caracterizado pelo facto de
nas facetas horizontais e verticais a tensão tangencial ser nula. Deste modo, as tensões v e
h , e considerando a superfície, são tensões principais. Admitindo pressões hidrostáticas, o
valor da tensão vertical é conhecido e é dado por v z em que é o peso específico
[kN/m3] e z a profundidade do elemento. A tensão horizontal em repouso, e sem se entrar em
muito detalhe, pode ser dada por:
h
K0 Para solos granulares: K 0 =1-sen (Jaky 1944)
v
Gerando-se tais tensões, o solo poderá ter movimentos que induzam um estado de tensões
passivo ou activo no maciço de solo. Deste modo, entra num regime plástico no limiar da
rotura, não sendo válida a relação do repouso e gera impulsos ou forças proporcionais a
coeficientes de impulso dependentes das características de rotura do solo e da secção de solo
que está prestes a plastificar.
1 sen'
Ka coeficiente de impulso activo (’ - ângulo de atrito interno)
1 sen'
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1 sen'
Kp coeficiente de impulso passivo
1 sen'
O cálculo das tensões horizontais depende das condições e características do solo Sendo
assim, o cálculo das diversas pressões envolvidas poderá ser feito por vários métodos, dos
quais se destacam a teoria de Coulomb (1773) e a de Rankine (1856).
Para aplicar tal teoria, há que ter em conta que o solo em causa não poderá ter coesão e
admitir que entre a estrutura de suporte e o solo não existe atrito. Para além disso, tem de se
respeitar as seguintes condições:
terrapleno horizontal;
superfície vertical de contacto solo-estrutura de suporte;
solo homogéneo, isotrópico, elástico - perfeitamente plástico e seco.
Apresentam-se na Fig. 76 esquemas associados a esta teoria, onde estão definidos os impulsos
e forças gerados.
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Como se trata de um modelo um pouco mais sofisticado, esta teoria já entra em linha de conta
com o atrito existente solo-estrutura, permitindo também a existência de inclinações do solo a
suportar. Contudo, apresenta a desvantagem da necessidade do conhecimento da superfície
(cunha) de rotura para o cálculo dos diversos impulsos, o que representa o acréscimo de
tempo de computação, já que para cada superfície é necessário efectuar o equilíbrio de forças
e momentos (Figs. 77 e 78). Esta teoria é susceptível de também ser aplicada em muros de
funcionamento um pouco mais complexo do que os em consola, como os com “prateleiras”
(Fig. 79).
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impulsos em repouso, não contar com impulsos passivos cuja mobilização implique
deformações não aceitáveis nem com atritos solo / parede que possam ser facilmente
eliminados pela presença de águas pluviais.
5.2. O DIMENSIONAMENTO
A análise de estabilidade da estrutura de suporte terá de ser encarada de uma forma global,
onde estão em jogo os aspectos associados ao comportamento mecânico do muro assim como
os associados ao solo. Esta estabilidade pode ser comprometida por, pelo menos, cinco tipos
de ruptura distintos, podendo estes ocorrer de forma independente (Fig. 80):
a) derrubamento;
b) escorregamento pela base;
c) rotura do solo de fundação;
d) escorregamento global;
e) rotura da própria estrutura.
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também como a forma mais eficaz (juntamente com a previsão de juntas verticais) de
prevenção da fendilhação vertical.
Já nos muros com contrafortes, o funcionamento das lajes de testa é bidireccional, ainda que
função da relação entre a altura total do muro e a distância entre contrafortes, pelo que haverá
necessidade de recorrer a programas ou tabelas de cálculo adequados (e a uma escolha
criteriosa das condições de fronteira consideradas) para determinação da taxa e
posicionamento das armaduras principais (que deverão ocorrer em ambas as faces). A
armadura principal dos contrafortes, se estes se encontrarem no tardoz como é corrente, é a
(semi-)vertical na face posterior, ainda que seja necessário dedicar especial atenção à
amarração (horizontal) do contraforte no muro de testa e à armadura nas faces laterais dos
contrafortes.
a) b) c)
d) e)
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À luz dos Eurocódigos, o projecto de um muro de suporte em betão armado com fundação
directa implica considerar o Eurocódigo 1 (Bases de projecto e acções em estruturas) [19], o
Eurocódigo 2 (Projecto de estruturas de betão) [7] e o Eurocódigo 7 (Projecto geotécnico) [3].
Como é sabido, o Eurocódigo 1 e o Eurocódigo 2 correspondem, respectivamente, ao RSA e
ao REBAP. O Eurocódigo 7, por outro lado, diz respeito essencialmente aos aspectos
geotécnicos e veio preencher uma lacuna do conjunto do RSA e do REBAP.
Não cabe, no presente documento, uma apresentação detalhada da aplicação de qualquer dos
Eurocódigos referidos. No entanto, vale a pena referir que o Eurocódigo 7 indica estados
limite e situações de projecto de um modo exaustivo, que se revela algo exagerado quando se
trata de muros de suporte correntes.
O artigo 8.2 do EC7 refere que deve ser elaborada uma lista dos estados limite a ter em
consideração. No mínimo, devem ser considerados os seguintes estados limites para todos os
tipos de estruturas de suporte [3]:
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Refira-se contudo que, sobretudo nos muros em consola (sem contrafortes), os estados limite
de utilização (fendilhação e deformação) poderão ser mais condicionantes que os últimos,
nomeadamente nas situações em que é preciso limitar fortemente os assentamentos das
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Por sua vez, o artigo 8.3.3. do EC7 refere que, no projecto de estruturas de suporte devem ser
considerados os seguintes aspectos [3]:
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6. BIBLIOGRAFIA
[1] Brito, Jorge de, “Muros de Gravidade Correntes”, IST, Lisboa, 1999.
[2] Brito, Jorge de, “Muros de Suporte Especiais”, IST, Lisboa, 1999.
[3] Eurocódigo 7, “Dimensionamento Geotécnico”, EN 1997, CEN, 1999.
[4] Brito, Jorge de, “Ancoragens”, IST, Lisboa, 2001.
[5] Brito, Jorge de, “Estacas Cravadas”, IST, Lisboa, 1999.
[6] Brito, Jorge de, “Estacas Moldadas no Terreno”, IST, Lisboa, 1999.
[7] Eurocódigo 2, “Dimensionamento de Estruturas de Betão. Regras Gerais e Regras para
Edifícios”, EN 1992, CEN, 1991.
[8] Eurocódigo 3, “Dimensionamento de Estruturas de Aço. Regras Gerais e Regras para
Edifícios”, EN 1992, CEN, 1998.
[9] BS 5975: 1996 - “Code of Practice for Falsework”, British Standards Institute, London,
1996.
[10] ISO 4066 - “Construction Drawings - Bar Scheduling”, International Organization for
Standardization, Geneva, 1994.
[11] “CEB Application Manual on Concrete Reinforcement Technology”, Georgi Publishing
Company, Saint Saphorin (Switzerland), 1982.
[12] Arga e Lima, João, “Betão Armado - Armaduras”, LNEC, Lisboa, 1988.
[13] Coelho, Silvério, “Tecnologia de Fundações”, Edições E.P.G.E., Lisboa, 1996.
[14] Brito, Jorge de; Paulo, Pedro, “Cofragens Tradicionais”, IST, Lisboa, 2001.
[15] Brito, Jorge de; Paulo, Pedro, “Sistemas Racionalizados de Cofragens”, IST, Lisboa,
2001.
[16] Mineiro, A., “Curso de Mecânica dos Solos e Fundações”, IST, Lisboa, 1971.
[17] REBAP, “Regulamento de Estruturas de Betão Armado e Pré-esforçado”, Decreto-Lei
nº 349-C/83, Imprensa Nacional - Casa da Moeda, Lisboa, 1984.
[18] RSA, “Regulamento de Segurança e Acções para Estruturas de Edifícios e Pontes”,
Decreto-Lei nº 235/83, Imprensa Nacional - Casa da Moeda, Lisboa, 1983.
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