Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
net/publication/282251065
Entivações provisórias
CITATION READS
1 2,682
1 author:
Jorge de Brito
University of Lisbon
1,435 PUBLICATIONS 15,959 CITATIONS
SEE PROFILE
Some of the authors of this publication are also working on these related projects:
High performance recycled aggregates concrete for the precast industry View project
All content following this page was uploaded by Jorge de Brito on 28 September 2015.
ENTIVAÇÕES PROVISÓRIAS
Jorge de Brito
Outubro de 2002
ÍNDICE
1. Introdução 1
2. Soluções de entivação 3
2.1. Considerações gerais 3
2.2. Condicionantes à execução de escavações e taludes 3
2.3. Legislação aplicável 5
2.4. Exigências funcionais 6
2.5. Comportamento estrutural 7
2.6. Equipamento utilizado na escavação 8
2.6.1. Equipamento manual 8
2.6.2. Equipamento industrial 9
2.7. Tipos de entivação 9
3. Entivações tradicionais 11
3.1. Execução de valas 13
3.1.1. Processo construtivo 14
3.1.2. Drenagem 16
3.1.3. Conhecimento do terreno e condicionantes 17
3.1.4. Valas em terreno coerente 20
3.1.5. Valas em terreno pouco coerente 23
3.1.6. Escavação por degraus ou telescópica 26
3.1.7. Escavação entivada com betão 27
3.2. Escavação a céu aberto para construção de caves 29
4. Entivações tradicionais melhoradas 31
4.1. Entivação com módulos de escoramento 31
4.2. Estacas de calha 34
5. Entivações não-tradicionais 35
5.1. Sistemas por projecção de argamassas / betões 35
5.2. Sistemas para obras em rios e lagos 36
5.2.1. Mangas de borracha 37
5.2.2. Tela impermeável 37
6. Conclusões finais 39
7. Bibliografia 41
Instituto Superior Técnico Cadeira de Construção de Edifícios
Entivações provisórias por Jorge de Brito
ENTIVAÇÕES PROVISÓRIAS
1. INTRODUÇÃO
Embora se pudesse designar, à primeira vista, estas soluções como tradicionais, não se tomou
essa opção já que às soluções tradicionais (das quais as mais clássicas são exclusivamente em
madeira) se adicionaram algumas outras em que as técnicas construtivas e/ou os materiais são
distintamente não tradicionais.
Este documento pretende servir de apoio aos alunos do Mestrado Avançado em Construção e
Reabilitação do Instituto Superior Técnico na Cadeira de Construção de Edifícios. Foca parte
do capítulo dessa mesma cadeira dedicado às contenções periféricas, neste caso não
integradas em qualquer estrutura definitiva.
1
Instituto Superior Técnico Cadeira de Construção de Edifícios
Entivações provisórias por Jorge de Brito
A elaboração deste documento não resultou de investigação específica sobre o tema efectuada
pelo seu Autor mas sim de alguma pesquisa bibliográfica e de monografias escritas realizadas
por alunos do Instituto Superior Técnico, tanto no Mestrado em Construção como na
Licenciatura em Engenharia Civil. Assim, muita da informação nele contida poderá também
ser encontrada nos seguintes documentos, que não serão citados ao longo do texto:
2
Instituto Superior Técnico Cadeira de Construção de Edifícios
Entivações provisórias por Jorge de Brito
2. SOLUÇÕES DE ENTIVAÇÃO
Uma entivação é uma contenção provisória que suporta os impulsos do terreno durante a
escavação, impedindo o desmoronamento do mesmo. Pode ser realizada em madeira, aço ou
betão.
A execução de trabalhos no subsolo que abrangem um âmbito tão vasto como a instalação de
infra-estruturas, algumas fundações, contenção de taludes e execução de trincheiras e túneis
exige o recurso a soluções de contenção que, não sendo integradas com carácter definitivo na
obra a executar, são imprescindíveis quer por motivos de exequibilidade e facilidade de
execução da obra em si, quer por motivos de segurança dos seus executantes. De facto, são
frequentes os acidentes de relativa gravidade que ocorrem nas obras de contenção. Isso
acontece, ou por má resolução dos problemas que aparecem aquando da execução da
contenção, ou por inadequação da estrutura de entivação ao terreno contido e/ou à
profundidade da escavação, ou ainda por falta da própria estrutura de contenção.
A prática de utilização destes meios estende-se bastante para além do meio da construção
civil, abrangendo as áreas da arqueologia, indústria mineira, aterros sanitários, etc.. Sendo a
sua utilidade normalmente apenas temporária, poucos desenvolvimentos houve na sua prática
à excepção das tentativas de acelerar o seu tempo de execução e de tornar reutilizável o
material nelas empregue.
3
Instituto Superior Técnico Cadeira de Construção de Edifícios
Entivações provisórias por Jorge de Brito
simples descuido e ignorância, outras pela tentativa de poupar nos custos de execução da
obra.
Será fulcral para determinar o processo a adoptar na entivação a informação sobre a coesão do
terreno e o nível freático. De igual forma, é determinante prever o tempo de serviço da
entivação, pois ainda que provisória, os trabalhos a realizar podem ter prazos de realização
previstos que oscilarão desde meros dias, para a reparação ou colocação de uma conduta (Fig.
1, à esquerda), até vários meses, para a execução de alguma estrutura no subsolo (Fig. 1, à
direita), sendo que os prazos alargados passarão com toda a probabilidade para além da
estação seca colocando as águas provenientes das chuvas novas solicitações à entivação
adoptada, que em tempo útil deverão ter sido tidas em conta.
Fig. 1 - Entivação de curta duração (vala para instalação de conduta, à esquerda) e de média
duração (galeria para nascença das abóbadas do túnel do metropolitano, à direita [4])
Outro factor de condicionamento das entivações poderão ser os obstáculos que, ou à margem
das valas ou mesmo dentro da escavação, terão de ser mantidos na sua posição e em serviço
4
Instituto Superior Técnico Cadeira de Construção de Edifícios
Entivações provisórias por Jorge de Brito
durante o período da obra (Fig. 2), sendo as cargas e impulsos nesta zona da entivação
condicionadas pelo peso e fundação destes mesmos objectos. Estes obstáculos deverão ser
objecto em si de um processo de entivação que garanta a sua integridade até ao final dos
trabalhos e assegure a segurança dos trabalhadores durante esse mesmo período. De igual
modo se deverá proceder em escavações perto de edifícios com fundações pouco profundas,
onde seja previsível a redução do bolbo de pressão das suas fundações por remoção do terreno
adjacente às mesmas. Note-se que nestes últimos casos existem processos de entivação, tanto
provisórios como definitivos, que provavelmente serão uma alternativa mais segura tanto do
ponto de vista construtivo como para protecção dos próprios objectos construídos e de mais
fácil execução recorrendo por vezes a menor mão-de-obra como são o caso dos muros de
Berlim ou o recurso a microestacas para fundar edificações contíguas a níveis inferiores ao da
escavação.
Fig. 2 - À esquerda, caixa de electricidade na via pública e, à direita [4], monumento aos
combatentes da guerra de 1914-18
5
Instituto Superior Técnico Cadeira de Construção de Edifícios
Entivações provisórias por Jorge de Brito
O elevado número de acidentes originados por falta ou deficiente entivação levou à criação de
um conjunto de normas denominadas por “Normas de Projectos de Escavação e Contenção
Periférica”. Estas normas visam apoiar a elaboração do Projecto de Escavação e Contenção
Periférica. O novo regime referente ao licenciamento de obras particulares (Decreto-Lei
250/94 de 15 Outubro) estabelece a obrigatoriedade de entrega nas Câmaras Municipais deste
projecto. As normas encontram-se divididas em quatro capítulos:
1. Introdução;
2. Documentação de ordem legal / administrativa;
3. Memória descritiva e justificativa - dimensionamento;
4. Peças desenhadas.
Estas normas ainda não se encontram na sua fase definitiva, apesar de a Câmara Municipal de
Lisboa recomendar o seu cumprimento. Usualmente, respeitam-se os seguintes pressupostos:
Para garantir a segurança das estruturas de entivação, estas devem ser inspeccionadas
exaustivamente com frequência.
6
Instituto Superior Técnico Cadeira de Construção de Edifícios
Entivações provisórias por Jorge de Brito
Fluidificação do fundo
da escavação
Outros
EXIGÊNCIAS DE Exigências de
DURABILIDADE resistência durante o
período da escavação
Exigências de
resistência aos produtos
químicos do terreno
EXIGÊNCIAS DE
ECONOMIA
7
Instituto Superior Técnico Cadeira de Construção de Edifícios
Entivações provisórias por Jorge de Brito
interacção solo-estrutura;
pressão hidrostática;
acção climática;
cargas e sobrecargas;
reacção de tirantes ou escoramentos, caso existam;
acção sísmica.
Este tipo de equipamento (Fig. 3, à esquerda), apesar de menos utilizado hoje em dia,
continua a ser necessário para a limpeza do funda da vala ou escavar no sopé de painéis, etc..
8
Instituto Superior Técnico Cadeira de Construção de Edifícios
Entivações provisórias por Jorge de Brito
Procurando tirar partido das capacidades das máquinas, existem diversos modelos de
máquinas de escavação (Fig. 3, ao centro), aos quais podem ser adaptados martelos
hidráulicos, garfos para elevação de materiais, etc., tornando este tipo de máquina muito
versátil e possibilitando a sua utilização na maioria das operações de entivações por painéis
modulares. A possibilidade de se utilizar apenas um tipo de máquina representa uma maior
economia de recursos.
Para além deste tipo de máquinas, foram desenvolvidos para as entivações acessórios de
cravação hidráulicos ou pneumáticos que possibilitam, sobretudo na cravação de pranchas
(Fig. 3, à direita), um muito maior rendimento na execução de cortinas. Existem para
trabalhos específicos máquinas especializadas, como os assentadores de tubos ou os abre-
valas de tapete contínuo que, em casos onde se preveja a possibilidade da sua aplicação
extensiva, podem diminuir substancialmente os tempos de execução.
As entivações podem distinguir-se pelo seu método construtivo ou pela função que
9
Instituto Superior Técnico Cadeira de Construção de Edifícios
Entivações provisórias por Jorge de Brito
10
Instituto Superior Técnico Cadeira de Construção de Edifícios
Entivações provisórias por Jorge de Brito
3. ENTIVAÇÕES TRADICIONAIS
Utilizadas nas intervenções mais simples, onde é necessária uma solução expedita, não se
pretendendo atingir profundidades muito elevadas, as entivações tradicionais eram
originalmente constituídas exclusivamente por elementos de madeira, recorrendo-se
posteriormente a elementos metálicos (sobretudo no escoramento) e ao betão.
Em função do tipo de rotura previsível para o terreno, assim deverão as pranchas ser cravadas
abaixo do nível da soleira da escavação para evitar um potencial deslizamento circular.
Alguma da tecnologia utilizada nas entivações tradicionais é semelhante, em termos de
princípio de funcionamento, à empregue actualmente nas entivações por estacas-prancha
metálicas, tendo este método tradicional sido praticamente substituído por esta última solução
visto existirem actualmente métodos de cravação (hidráulicos ou por percussão) que
aumentam significativamente o rendimento do trabalho com estacas-prancha, além de existir
uma maior garantia de estanqueidade e de reutilização dos elementos de entivação na
utilização de pranchas metálicas do que aquela que poderá ser atribuída aos painéis de
madeira. As estacas-prancha tendem no entanto a ser cravadas até um estrato impermeável
para se formar uma ensecadeira caso que nem sempre é pretendido com as entivações de
madeira, estando estas bastante mais limitadas no seu comprimento.
11
Instituto Superior Técnico Cadeira de Construção de Edifícios
Entivações provisórias por Jorge de Brito
Plinto
Berma
Tábua
Escora
Montante
Cunha
Escora
Longarina
Prancha Calço
Suporte
Cunha
Pendural
Fig. 5 - Esquema geral de vala entivada com tábuas na vertical ( entivação fechada)
Quando a entivação é feita de forma em que os elementos em contacto com o terreno sejam
dispostos na horizontal (Fig. 4), estes são normalmente designados por tábuas e apresentam
uma espessura de 20 a 50 mm. Neste caso, os elementos de reforço dispostos na vertical
imediatamente em contacto com as tábuas designam-se por montantes, sendo denominados
escoras os elementos horizontais que ligam painéis de paredes opostas.
12
Instituto Superior Técnico Cadeira de Construção de Edifícios
Entivações provisórias por Jorge de Brito
As escavações entivadas deverão ser adaptadas ao terreno em que se irão executar, sendo por
isso necessário mobilizar tantos mais meios e reforçar tanto mais a entivação quanto menos
13
Instituto Superior Técnico Cadeira de Construção de Edifícios
Entivações provisórias por Jorge de Brito
coesivo for o terreno e quanto mais alto for o nível freático. Em função do terreno, optar-se-á
por uma entivação “aberta” (Fig. 7, à esquerda e ao centro) ou “fechada” (Fig. 7, à direita)
[5]: a primeira, em que as pranchas ou tábuas de solho estão espaçadas umas das outras
tirando partido do efeito de arco para absorção dos impulsos e deixando partes da parede da
escavação por recobrir; a segunda, com tábuas ou pranchas contíguas umas às outras
formando um painel de calafetagem se existir um nível freático elevado relativamente à
soleira da escavação (entivação fechada).
Fig. 7 - Entivação aberta com tábuas na vertical (à esquerda), entivação aberta com tábuas na
horizontal (ao centro) [3] e entivação fechada com tábuas na vertical (à direita) [3]
A execução das valas entivadas inicia-se com a limpeza do terreno superficial. Deve ser
14
Instituto Superior Técnico Cadeira de Construção de Edifícios
Entivações provisórias por Jorge de Brito
deixada em torno da boca da vala uma zona de berma de, pelo menos, 0.40 m para circulação
do pessoal. Prossegue-se com a escavação da vala até ao limite que o terreno permitir, 0.80 a
1.20 m no máximo e colocam-se as tábuas, cada uma delas com um quadro nos extremos, não
excedendo as consolas a dimensão de 0.25 m.
As escoras são colocadas entre os montantes dos quadros e apertadas com cunhas. Havendo
necessidade, prossegue-se a escavação abaixo da zona entivada, repetindo-se o processo. As
tábuas devem ser encastradas no terreno abaixo do nível da soleira entre 12 e 30 cm e a
soleira devidamente compactada para execução dos trabalhos.
Para além do processo construtivo, há que garantir no interior da vala espaço suficiente para a
laboração (como se verá mais adiante, em função do tipo de terreno e do espaço existente para
efectuar os trabalhos, pode optar-se por um tipo de solução construtiva). Para tal, é usual
adoptarem-se as seguintes medidas empíricas:
De seguida, enumeram-se algumas tipologias que poderão ser adoptadas para a execução de
valas (Fig. 8) [5]:
talude natural - pode ser adoptado quando exista espaço suficiente à superfície para
formar a pendente adequada; existe sempre o perigo de deslizamentos pontuais e
arrastamento de terras devido à água da chuva;
talude entivado - é normalmente adoptado para escavações rápidas com alguma
profundidade; o terreno deve apresentar boa coesão, uma vez que é normalmente
executado em vala aberta; utiliza-se também em escavações de rocha onde exista perigo
de desmoronamentos pontuais;
15
Instituto Superior Técnico Cadeira de Construção de Edifícios
Entivações provisórias por Jorge de Brito
vala entivada e talude - utiliza-se para evitar escoramentos cuidados e em grande altura
quando existe espaço à superfície; o aumento de coesão do terreno em profundidade pode
também justificar a adopção desta técnica;
vala entivada - processo utilizado com diversas variantes a determinar em função do
terreno; é a forma mais comum de execução de valas, sobretudo em zonas urbanas onde o
tráfego automóvel e o limite de superfície a ocupar determinam a necessidade de
entivação mesmo em solos coerentes.
Banqueta
Terreno em Entivação
talude natural
Fig. 8 [5] - Da esquerda para a direita: talude natural, talude entivado, vala entivada e talude e
vala entivada
3.1.2. Drenagem
Caso exista água no interior da escavação, esta deverá ser drenada por bombagem para uma
zona onde não interfira com os trabalhos ou para o colector de águas pluviais. Será escavado
um poço colector na soleira da vala que acumulará a água do interior da vala para a sua
bombagem posterior.
A drenagem poderá recorrer também à tecnologia de agulhas filtrantes (Fig. 9) visto esta
evitar o arrasto de material de menor dimensão. Nestes casos, a opção de fazer a drenagem
pelo exterior da escavação conseguindo rebaixar o nível freático para uma cota inferior à
16
Instituto Superior Técnico Cadeira de Construção de Edifícios
Entivações provisórias por Jorge de Brito
soleira da escavação é sempre mais segura do que a drenagem pelo interior da escavação,
além de não interferir com a execução da obra.
Uma eventual descompressão do terreno terá efeitos negativos tanto a nível das construções
envolventes como da própria entivação que depende dos impulsos do terreno para o seu
funcionamento.
17
Instituto Superior Técnico Cadeira de Construção de Edifícios
Entivações provisórias por Jorge de Brito
abertura de um poço de observação no local, para, por si só, contribuir para uma concepção
genérica das características do terreno.
A escavação de valas ou entivações de pouca profundidade raramente passa por este tipo de
caracterização do terreno, sendo no entanto aconselhável adoptar, dos ensaios referidos, os
mais elementares para obstar a perturbações maiores no decurso dos trabalhos. De forma
genérica, poder-se-á ter uma ideia da coesão dos terrenos a partir de dados empíricos que se
encontram difundidos em tabelas. Como se ilustra no Quadro 3, é possível ter uma ideia
18
Instituto Superior Técnico Cadeira de Construção de Edifícios
Entivações provisórias por Jorge de Brito
global de um tipo de entivação provável para um determinado tipo de solo a partir do ângulo
que forma com a horizontal quando disposto em talude natural. No entanto, não serão de
negligenciar, para o caso das entivações, os factores do peso específico do terreno, índice de
compressão e ângulo de atrito interno para os quais se poderão adoptar valores conservativos
na ausência de dados mais precisos sobre o local. Desta forma, pela deposição da terra
durante a escavação é possível ir aferindo o tipo de terreno que se apresenta verificando a
inclinação do talude que é possível formar.
Assim se depreende que a contenção será tanto mais necessária e mais fechada consoante os
terrenos regridam em coesão das rochas para as areias secas, salvaguardando no entanto que
as argilas e siltes perdem a sua coesão em presença de água pelo que, sempre que seja
19
Instituto Superior Técnico Cadeira de Construção de Edifícios
Entivações provisórias por Jorge de Brito
provável água acima do limite de saturação do terreno, será aconselhável a sua entivação
sobretudo quando os trabalhos durem mais do que alguns dias e sempre que o risco abranja,
para além de danos materiais, a integridade física dos trabalhadores.
Impulsos
do terreno
Entiva-
ção
Vala
Fig. 10 - Vala aberta escorada com montantes e escoras (metálicos, à esquerda, e de madeira,
ao centro); à direita, esquema de descarga do terreno nas zonas entivadas
Inicia-se a limpeza do terreno procedendo à escavação sem entivar até cerca de 0.80 a 1.20 m
de profundidade (Fig. 11). Colocam-se as tábuas ou pranchas na horizontal (em alternativa,
20
Instituto Superior Técnico Cadeira de Construção de Edifícios
Entivações provisórias por Jorge de Brito
podem ser montados no estaleiro painéis de pranchas adjacentes, ligadas por duas vigas
colocadas no sentido perpendicular - Fig. 12) não devendo as pranchas exceder os 2.00 m de
comprimento. O limite superior das tábuas ou do painel deve formar um rodapé de 0.15 m
para evitar que caiam objectos ou material solto do lado exterior para o interior da vala. Nas
extremidades destas, colocam-se os montantes (barrotes de secção de 22 x 8 cm) apertados
com escoras ( 20 cm) por intermédio de cunhas. Estas escoras podem ser de madeira (Fig.
13) ou metálicas (Fig. 14, à esquerda), inclinadas se a vala for larga (Fig. 14, à direita), pré-
esforçadas com macacos hidráulicos (Fig. 15, à esquerda) ou não, ou substituídas por sistemas
rudimentares de ancoragens provisórias (Fig. 15, à direita). A escavação, se tiver maior
profundidade, será continuada pelo mesmo processo depois de entivado o primeiro nível
(Figs. 11 e 16).
21
Instituto Superior Técnico Cadeira de Construção de Edifícios
Entivações provisórias por Jorge de Brito
Fig. 13 [3] - Sequência em corte da execução de uma entivação em bom terreno (o alçado
corresponde à Fig. 7, ao centro)
22
Instituto Superior Técnico Cadeira de Construção de Edifícios
Entivações provisórias por Jorge de Brito
são cravadas pranchas de madeira na vertical antes de se proceder à escavação (Fig. 17, à
esquerda); a dimensão das pranchas deve ser superior à altura de escavação pretendida,
visto que existe a necessidade de se garantir um apoio na face inferior das pranchas
(ficha);
antes de se iniciar a escavação, deve ser colocada uma viga de coroamento a ligar as
pranchas (Fig. 17, à direita); estas devem ser escoradas ou ancoradas (Fig. 17, à direita)
sobre a superfície do terreno;
inicia-se a escavação; realça-se que esta nunca deve ultrapassar o nível definido como
necessário para o encastramento das pranchas no solo (Fig. 18, à esquerda); à medida que
se vai escavando, pode proceder-se a novos níveis de escoramento, devendo ser colocados
elementos horizontais para distribuir as cargas pelas várias pranchas da entivação.
23
Instituto Superior Técnico Cadeira de Construção de Edifícios
Entivações provisórias por Jorge de Brito
Superfície de contacto
Longarina
Escora
Longarina
Escora
Longarina
Escora
Fig. 18 - À esquerda, escavação até ao sopé e, à direita, contacto entre as escoras e as longarinas [5]
24
Instituto Superior Técnico Cadeira de Construção de Edifícios
Entivações provisórias por Jorge de Brito
Em seguida, são colocadas as pranchas na vertical. Estas são constituídas por tábuas de solho
de 25 mm até, excepcionalmente, 65 mm. As pranchas são escavadas no seu sopé, uma a uma
até atingirem a sua posição definitiva no interior da escavação. Esta escavação é feita por
troços de 0.15 a 0.20 m. A cravação das pranchas inicia-se do eixo das longarinas para os
extremos. A escavação é feita de forma a alargar ligeiramente a vala à medida que se progride
em profundidade para permitir a cravação do segundo quadro e do segundo nível de tábuas
sem diminuir a secção da vala (Fig. 20, à esquerda e ao centro).
Acima do sopé das tábuas, é colocado o segundo quadro que se aperta contra estas por meio
de calços e cunhas. O segundo quadro é fixo ao primeiro através de suportes, barrotes, que
trabalhem à compressão e por meio de pendurais, podendo estes ser elementos metálicos, para
que apresentem um bom comportamento à tracção. Os calços e cunhas formarão uma camada
dupla com espessura e largura correspondentes às pranchas de entivação. Introduzem-se de
seguida as pranchas sob pressão uma a uma entre as cunhas e as pranchas do primeiro nível e
procede-se à sua cravação e escavação de forma semelhante às tábuas do primeiro nível (Fig.
19, à esquerda). De forma idêntica se procederá nos níveis subsequentes (Fig. 19, à direita),
25
Instituto Superior Técnico Cadeira de Construção de Edifícios
Entivações provisórias por Jorge de Brito
podendo a escavação do último nível de pranchas ser feita com menor inclinação e a cravação
do quadro junto à soleira da vala contra as pranchas ser feita apenas com cunhas (Fig. 20, à
direita).
Fig. 20 [3] - Vala aberta com pranchas na vertical: à esquerda e centro, cravação das pranchas
de entivação; à direita, colocação do último quadro
26
Instituto Superior Técnico Cadeira de Construção de Edifícios
Entivações provisórias por Jorge de Brito
27
Instituto Superior Técnico Cadeira de Construção de Edifícios
Entivações provisórias por Jorge de Brito
contra as paredes de escavação possibilita que não haja vazios e juntas por onde o terreno
possa expandir-se.
Este tipo de entivação (Fig. 23), também designado por “tipo chinês”, é possível apenas em
terrenos não fluentes em que a escavação se mantenha aberta sem aluimentos durante cada
nível de betonagem o tempo suficiente para que se complete o processo (colocação da
armadura, cofragem e betonagem dos módulos). Este método apresenta algumas semelhanças
aos muros de Munique, não existindo no entanto a necessidade de ancoragens, uma vez que as
valas equilibram os impulsos do terreno de uma parede para a outra mantendo-se, as escoras
sempre comprimidas.
Fig. 23 [3] - Vala com escoramento faseado com elementos laterais em betão
Procede-se à escavação até ao primeiro nível de betonagem que poderá variar, consoante o
terreno, mau e bom respectivamente, de 0.30 a 3.00 m de altura. De seguida, é colocada a
armadura e a cofragem com o escoramento necessário. Os primeiros módulos são betonados
contra o terreno, um em cada parede de escavação. Logo após o betão ter ganho presa e
adquirido resistência suficiente, deve-se efectuar o escoramento entre módulos, comprimindo-
28
Instituto Superior Técnico Cadeira de Construção de Edifícios
Entivações provisórias por Jorge de Brito
os com o auxílio de cunhas, calços, macacos ou parafusos. As escoras são ligadas por
suportes verticais de madeira ou metálicos. O fundo pode encher-se de areia até à altura
necessária ao empalme da armadura no nível de betonagem seguinte.
As valas podem ainda ser utilizadas para a execução de elementos definitivos da estrutura
(Fig. 24) mantendo o terreno envolvente caso haja a possibilidade do levantamento do fundo
da escavação ou caso haja grande pressão hidrostática. Nestes casos, manter-se-á a área de
escavação por desaterrar até o peso da estrutura atingir o equilíbrio necessário ao fundo da
escavação.
29
Instituto Superior Técnico Cadeira de Construção de Edifícios
Entivações provisórias por Jorge de Brito
Nos casos em que haja que proceder à escavação e desaterro para a execução de caves em
edifícios, existe a possibilidade, desde que ponderados os riscos face a técnicas que oferecem
maiores garantias de evitar a descompressão do terreno como as paredes de Berlim, de
Munique ou moldadas, de recorrer a sistemas de entivação tradicional. Estas situações limitar-
se-ão a caves de pouca profundidade (Fig. 25, à esquerda) e em zonas onde, quer por presença
de edifícios contíguos, quer por proximidade de zonas de trânsito automóvel que induzem
vibrações significativas no terreno, a segurança dos trabalhos e da envolvente não seja
comprometida.
A escavação executa-se por socalcos (Fig. 25, à direita) deixando-se no fundo da escavação
banquetas para o escoramento das paredes da escavação ou iniciando os trabalhos de
fundação para que estas sirvam de apoio às escoras desde que as fundações ofereçam, por
peso próprio, na área de distribuição de cargas e encastramento no terreno, a resistência
necessária ao apoio das escoras das paredes da escavação (Fig. 25, à direita). A escavação
executa-se seguidamente por níveis cofrados tanto no tardoz como no interior da parede a
betonar sendo deixadas bitolas no interior das cofragens constituídas por tarugos de madeira
ou barrotes devendo, à semelhança das valas entivadas por betonagem, ser garantido o
comprimento de empalme nos varões da armadura das paredes.
30
Instituto Superior Técnico Cadeira de Construção de Edifícios
Entivações provisórias por Jorge de Brito
31
Instituto Superior Técnico Cadeira de Construção de Edifícios
Entivações provisórias por Jorge de Brito
A relativa leveza destes painéis, face aos meios que são necessários para operar este tipo de
equipamento (ex.: retro-escavadora), torna a sua utilização em obra bastante simples, sendo
reduzido o número de trabalhadores necessários à sua instalação (algumas vezes, o próprio
manobrador da escavadora é suficiente para a instalação de um painel ou caixa, não sendo
geralmente necessário utilizar mais do que dois trabalhadores em cada operação). Este tipo de
painéis vem equipado com escoras metálicas, a maioria delas de funcionamento hidráulico.
Outras vantagens deste tipo de equipamento incluem a possibilidade de regular a altura do
trabalho dentro da vala e a possibilidade de ser reutilizado muitas vezes, aumentando a sua
vida útil e tornando-o económico a longo prazo.
Para a execução de entivações com este tipo de equipamento, é necessário que o terreno tenha
alguma capacidade de autosustentação temporária que permita manter a vala aberta até à
introdução dos painéis no interior da escavação, sendo ainda possível, se bem que menos
rentável, ir retirando terreno sob o painel e escorar acompanhando o avanço da escavação.
Neste tipo de processo construtivo semi-industrializado, recorrer-se-á a outro tipo de
entivação e de equipamento se as características do terreno se afastarem demasiado das
indicadas para rentabilizar o processo construtivo.
32
Instituto Superior Técnico Cadeira de Construção de Edifícios
Entivações provisórias por Jorge de Brito
Os painéis são colocados no interior da vala, utilizando-se normalmente o braço de uma retro-
escavadora como equipamento de elevação, e acciona-se o mecanismo de escoramento
hidráulico comprimindo os dois painéis laterais simultaneamente contra o terreno. Após
remoção dos painéis, deve proceder-se ao aterro imediato, com material adequado ao tipo de
obra em execução, e compactação posterior que evite a descompressão do terreno adjacente
após a obra e um abaixamento do nível da zona aterrada.
33
Instituto Superior Técnico Cadeira de Construção de Edifícios
Entivações provisórias por Jorge de Brito
34
Instituto Superior Técnico Cadeira de Construção de Edifícios
Entivações provisórias por Jorge de Brito
Este tipo de entivação é constituído por um sistema de estacas de secção transversal especial
que permite o encaixe e deslizamento de painéis de lamelado de madeira ou metálicos entre
os seus banzos, à semelhança dos muros de Berlim, possuindo ainda um sistema de calha
onde são acopláveis escoras de travamento posicionáveis a diversas alturas (Fig. 29).
Os trabalhos iniciam-se com a cravação das estacas que são prontamente travadas com um
primeiro nível de escoras, sendo introduzidos os painéis e outros níveis de escoras à medida
que se rebaixam as escoras do primeiro nível e a escavação progride em profundidade.
Este sistema serve também como gabarito a estacas-prancha metálicas mediante a colocação
de elementos horizontais junto ao banzo exterior e interior das estacas unindo cada estaca à
vizinha. Podem assim criar-se sistemas mistos de estacas-prancha e painéis existindo também
estacas de canto que permitem formar entivações fechadas para a formação de ensecadeiras
ou até serem utilizadas como cofragem se bem que esta última utilização possa comprometer
35
Instituto Superior Técnico Cadeira de Construção de Edifícios
Entivações provisórias por Jorge de Brito
36
Instituto Superior Técnico Cadeira de Construção de Edifícios
Entivações provisórias por Jorge de Brito
5. ENTIVAÇÕES NÃO-TRADICIONAIS
Existem, para além dos sistemas de entivação tradicional ou tradicional melhorada, outros que
têm vindo a ser desenvolvidos para a solução de entivações de carácter provisório. Muitas das
soluções tiveram como objectivo solucionar problemas de carácter específico de determinadas
actividades podendo, no entanto, em determinados casos ser adaptadas aos trabalhos de
construção civil como é o caso de produtos de entivação desenvolvidos para a indústria
mineira ou para obras hidráulicas.
Para além desta solução, foram desenvolvidas para a indústria mineira argamassas sintéticas à
base de poliuretano (Fig. 30, à esquerda) que, a uma cura mais rápida, aliam uma maior
capacidade resistente tanto à tracção como à compressão, conseguindo-se assim o mesmo
grau de segurança com menor espessura de material.
37
Instituto Superior Técnico Cadeira de Construção de Edifícios
Entivações provisórias por Jorge de Brito
tóxicos. São geralmente aplicadas simples podendo ser complementadas por um escoramento,
como as cambotas nos túneis das minas. Ainda que não difundidas na construção civil, a sua
aplicação poderia ser adoptada para estabilizações de emergência ou temporárias de taludes,
dependendo no entanto a sua maior difusão da sua competitividade económica face às
argamassas de projecção tradicionais.
Outro tipo de aplicação que se tem vindo a adoptar na instalação de infra-estruturas em meios
urbanos é a furação dirigida por meios mecânicos ou por jacto de água (Fig. 30, à direita).
Este processo, para além de diminuir os riscos para os operários, não necessita de grande
espaço à superfície (apenas o poço de ataque e zonas de emendas e inflexões), pelo que tem
vindo a ser adoptado para instalações em meios urbanos.
Existem no entanto alguns processos que, tirando partido do próprio peso da água, recorrem a
telas ou mangas de borracha para excluir a água da zona de trabalho.
38
Instituto Superior Técnico Cadeira de Construção de Edifícios
Entivações provisórias por Jorge de Brito
Este processo recorre a mangas de borracha (Fig. 31) que se preenchem com água por
bombagem após a sua colocação na posição de serviço. O diafragma interior garante que a
manga não rola sobre si própria por acção dos impulsos das correntes uma vez que seria
necessário elevar toda a massa de água existente num dos compartimentos da manga por cima
da água contida no outro compartimento (Fig. 32). Este processo é adequado a lagos com
pouca profundidade e rio e ribeiras de corrente fraca. A sua capacidade de serviço é calculada
para cargas estáticas sendo os equivalentes para profundidade e velocidade de corrente
fornecidos pelo fabricante.
PRESSÃO
ATRITO
Este sistema consiste na montagem de cavaletes sobre o leito do rio ou lago (Fig. 34)
formando uma cortina de exclusão sobre a qual é aplicada uma tela impermeável em PVC
(Fig. 33). O próprio peso da água mantém a tela na sua posição. A água é bombeada para o
exterior da zona de obra depois de terminada a cortina.
39
Instituto Superior Técnico Cadeira de Construção de Edifícios
Entivações provisórias por Jorge de Brito
ÁREA DE TRABALHO
DESOBSTRUÍDA
LEITO
IMPERMEÁVEL
FOLHA
CARGA SELANTE
TERRENO NATURAL
Ambos estes métodos têm a vantagem de serem de execução rápida e flexível, não recorrendo
a equipamento pesado (em particular o método das mangas de borracha). No entanto, o facto
de não atingirem nenhum estrato impermeável obriga a controlar o nível de água no interior
da obra através de bombagem uma vez que esta tenderá a atravessar a soleira da escavação
por pressão hidrostática. Será por isso necessário prever alguma redundância no sistema de
bombagem e garantir o fornecimento ininterrupto de energia a estes sistemas para protecção
da obra, trabalhadores e equipamento aí instalados.
40
Instituto Superior Técnico Cadeira de Construção de Edifícios
Entivações provisórias por Jorge de Brito
6. CONCLUSÕES FINAIS
Fig. 35 [8] - Túnel entivado com um sistema de tábuas de madeira e perfis metálicos tubulares
41
Instituto Superior Técnico Cadeira de Construção de Edifícios
Entivações provisórias por Jorge de Brito
42
Instituto Superior Técnico Cadeira de Construção de Edifícios
Entivações provisórias por Jorge de Brito
7. BIBLIOGRAFIA
de introdução a este documento, assim como um número não especificado de sites da Internet
e catálogos comerciais.
[1] Paulo, Pedro; Brito, Jorge de, “Cortinas de Estacas-Prancha”, IST, Lisboa, 2001.
[2] Brito, Jorge de, “Paredes Tipo Berlim”, IST, Lisboa, 2001.
[3] Coelho, Silvério, “Tecnologia de Fundações”, Edições E.P.G.E., Lisboa, 1996.
[4] Brazão Farinha, J. S., “Obras de Construção do Metropolitano de Lisboa. Caderno n.º 5
- 1955-1993”, Lisboa.
[5] Baud, Gérard, “La Construcción de Edificios”.
[6] Della Nina, Eduardo, “Construção de Redes Urbanas de Esgotos”.
[7] Brito, Jorge de, “Pregagens”, IST, Lisboa, 2001.
[8] Coppel, T.; Coulon, J., “Échafaudages Tubulaires”.
43