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Encontro AUTOIMAGEM DE CRIANÇAS E A

Revista de Psicologia
CONTRIBUIÇÃO DA ARTETERAPIA
Vol. 14, Nº. 21, Ano 2011

RESUMO

Patrícia dos Prazeres Alves Ao trabalhar sob o tema Autoimagem com crianças que possuíam
Faculdade Anhanguera de dificuldade na aprendizagem escolar, foi possível destacar as
Taboão da Serra potencialidades e revelar a beleza individual de cada individuo.
pati.fts@hotmail.com
Valorizando assim o que há de mais peculiar nas crianças, sem seguir
estereótipos e padrões estabelecidos pela mídia. Por meio da utilização
da linguagem não verbal como: artes plásticas, mandalas, argila,
autorretratos, danças circulares sagradas à luz da Psicologia Analítica,
teve como resultado a melhoria nas condições da autoestima. Ao final
do ano letivo, a turma apresentava mudanças em seu comportamento e
no rendimento escolar. Demonstravam serem crianças mais felizes,
seguras, nas realizações das atividades escolares e também na relação
com o outro. Já a criança que era o caso mais preocupante da turma,
que apesar das várias estratégias pedagógicas o seu rendimento escolar
não apresentava evoluções. Encontrava-se a um passo de fazer parte do
fracasso escolar que assola a educação brasileira. No entanto, depois
das sessões arteterapêuticas a criança passou a descobrir suas
potencialidades e habilidades que até então encontravam-se ocultas em
seu interior.

Palavras-Chave: autoimagem; beleza; criança; arteterapia; Psicologia


Analítica

ABSTRACT

Working under the theme Self Concept with children who had learning
difficulties at school, it was possible to highlight the potential and
reveal the individual beauty of each individual. Thus valuing what is
most peculiar in children without following established standards and
stereotypes in the media. By using non-verbal language such as: fine
arts, mandalas, clay, self-portraits, sacred circle dances in the light of
analytical psychology, has resulted in improvement in the conditions of
self-esteem. At the end of the school year, the group showed changes in
their behavior and school performance. Showed children being happier,
safer, achievements in school activities and also in relation to the other.
Have the child who was the most disturbing case of the class that,
despite the various teaching strategies academic performance showed
no changes. He was on the verge of being part of school failure that
plagues Brazilian education. However, after the sessions art therapy the
child began to discover their potential and skills that previously were
Anhanguera Educacional Ltda.
hidden inside.
Correspondência/Contato
Alameda Maria Tereza, 4266
Valinhos, São Paulo
Keywords: self image; beauty; child; art therapy; analytical psychology.
CEP 13.278-181
rc.ipade@aesapar.com
Coordenação
Instituto de Pesquisas Aplicadas e
Desenvolvimento Educacional - IPADE
Artigo Original
Recebido em: 11/01/2011
Avaliado em: 29/05/2011
Publicação: 1 de junho de 2012 91
92 Autoimagem de crianças e a contribuição da arteterapia

1. INTRODUÇÃO

Atualmente é imposta uma idéia falsa sobre a verdadeira beleza. A cada época mais cedo
as crianças se sentem obrigadas a seguirem os padrões da moda que são impostos por
meio da mídia e publicidade. E assim não só as crianças, mas as pessoas de modo geral,
procuram a felicidade superficial e a sua aceitação no convívio social.

Este artigo pretende divulgar o trabalho realizado com atividades


arteterapêuticas a luz da Psicologia Analítica, em uma escola da rede Municipal de Embu,
com crianças do 3º ano do ensino fundamental, que possuíam déficit na aprendizagem.

Com objetivo de fortalecer e resgatar a autoestima das crianças ao desenvolver a


ideia sobre a verdadeira beleza, de um jeito amplo, harmonioso e sem estereótipos, por
meio das artes plásticas e de atividades que envolvem o “Eu”, estimulando mudanças em
suas atitudes para que se tornem crianças e futuro adultos mais confiantes.

E assim colaborar de uma forma completa as necessidades que cada indivíduo


possui com a sua autoimagem.

Além de mostrar o quanto que a Arteterapia pode cooperar para uma


intervenção mais significativa no processo de execução das atividades feitas em escola
pública.

2. CARL GUSTAV JUNG E A PSICOLOGIA ANALÍTICA

Psicologia Analítica é o nome dado a linha de pensamento teórica do Médico e Psiquiatra


Carl Gustav Jung, nascido na Suíça em 26 de julho de 1875, era de uma família
extremamente conservadora e religiosa, uma vez que seu pai e parentes eram pastores
luteranos.

E este histórico familiar influenciou profundamente a vida de Jung, frente a


questões religiosas, espirituais, que contribuíram significativamente para a construção de
sua teoria.

Teve uma breve parceria com Freud, que por sua vez possuiu uma grande
admiração das opiniões sistematizadas de Jung. Contudo este trabalho em conjunto durou
pouco, uma vez que Jung começou a divergir de alguns conceitos da psicanálise,
principalmente sobre a libido. Sobre essa divergência os autores Fadman e Frager (1986,
p.43) ressaltam:
A despeito de sua íntima amizade, os homens discordavam em pontos fundamentais.
Jung nunca foi capaz de aceitar a insistência de Freud de que as causas da repressão

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eram sempre traumas sexuais. Este último, por sua vez, ficava sempre apreensivo com o
interesse de Jung pelos fenômenos mitológicos, espirituais e ocultos.

Para que Jung pudesse fundamentar seus conceitos principais, foi influenciado
por alguns antecedentes intelectuais como Schopenhauer, Nietzsche e Kant, a mitologia,
algumas religiões e tradições orientais, que também contribuíram para a base da formação
da Psicologia Analítica.

Na literatura Fausto, de Goethe, ajudou na compreensão do autoconhecimento e


do poder do mal na vida de cada indivíduo.

Já nas tradições orientais, na qual era rejeitada por muitos e considerada sem
significação cientifica, foi estudada profundamente por Jung e usada na compreensão do
processo de integração da personalidade. Na qual a mandala simboliza fortemente este
processo.

Serão mencionados alguns dos conceitos principais da Psicologia Analítica,


essenciais na aplicação das atividades arteterapeuticas.

As atitudes – Introversão e Extroversão – A introversão concentra-se no mundo


interior centralizando os próprios sentimentos e pensamentos.

Os extrovertidos são mais focados no mundo externo e tendem mais facilidade


na compreensão do que acontece em sua volta.

Em seus estudos é ressaltado que ninguém é somente introversão ou extroversão


e nem os dois ao mesmo tempo. De acordo com a situação que é vivenciada a pessoa se
apropria com umas destas atitudes.

As funções: Pensamento, Sentimento, Sensação, Intuição – O Pensamento e a


Sentimento na visão de Jung eram maneiras de elaborar e tomar decisões.

Na Sensação e Intuição juntas são formas de assimilar informações concretas de


fatos atuais ou objetivos futuros.

A ação das quatro funções resulta em uma percepção de mundo mais


equilibrado.

š Inconsciente Coletivo – é uma espécie de herança psicológica e biológica


que age no comportamento e experiência humana coletiva e não
individual.
š Arquétipo – Localizada dentro do inconsciente coletivo, que servem para
organizar o material psicológico. São imagens primitivas relacionadas a
temas mitológicos, contos, lendas de culturas e épocas distintas.
š Símbolos – Representa a situação psíquica atual de um determinado
indivíduo, que podem ser individuais encontrados em sonho e fantasias e
os coletivos, muitas vezes religiosos.

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š Sonhos – É a ponte entre o processo consciente e inconsciente.

Assim sendo, a Psicologia Analítica visa não buscar a causa, mas sim a finalidade
da desordem psíquica.

Valoriza a razão, porém mais do que isso, busca na intuição e emoção o objetivo
do desequilíbrio na qual o individuo se encontra. Para Whitmont (1969, p.17):
[...] a preocupação de Jung... era mostrar que a intuição, a emoção e capacidade de
perceber e de criar por meio de símbolos são modo básicos de funcionamento humano,
assim como a percepção através dos órgãos do sentido e através do pensamento.

Seguindo a abordagem simbólica da Psicologia Analítica, é que foram


desenvolvidas as atividades de arteterapia que serão citadas neste artigo.

3. ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE A ARTETERAPIA

Desde tempos remotos, a civilização humana expressa seus sentimentos por meio da arte
(desenhos, pinturas, danças, canções), e esta capacidade criadora artística que o ser
humano tem de expressar ou transmitir tais sentimentos ou sensações, faz da Arteterapia
uma comunhão na utilização de tais recursos artísticos no tratamento de transtornos
mentais.
[...] a Arteterapia aplicada aos diferentes contextos...promove a melhoria da qualidade
de vida ao relacionar significadamente o mundo interno e o externo, propiciando o
reconhecimento e desenvolvimento de potenciais, a aprendizagem significativa e o
crescimento psíquico.

Prosseguindo, Arteterapia é a utilização de linguagens artísticas, especialmente


das artes visuais, com as demais linguagens como música, teatro e dança, para
tratamentos terapêuticos, que visa por meio da linguagem não verbal, a manifestação e
expressão do que se passa interiormente em cada individuo, ou seja, os medos, sonhos,
ideais, frustrações, realizações.

Para Arcuri (2006, p.27), “A arte é, portanto uma linguagem capaz de criar um
canal de comunicação com a psique, é capaz de compreendê-la na sutileza dos seus
nuances.”

Dessa forma a Arteterapia é um elemento facilitador e transformador para a


entrada do universo simbólico, ajudando no desenvolvimento pleno do ser.

Além disso, é também um recurso para que se possa trabalhar o corpo, mas não
como estamos acostumados a ver, ou seja, trabalhar apenas o exterior com academias,
cosmético ou cirurgias plásticas, e sim criar uma ligação com alma.

Segundo Arcuri (2006) é necessário ter um cuidado e atenção muito especial para
cada área de nosso corpo, com amor e afetividade. Pois se não tivermos esse cuidado,

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podemos transferir para o corpo todas as experiências dolorosas psíquicas. E assim ter
como fator doenças que na maioria das vezes são conseqüências de algo que nos está
afetando interiormente.

De acordo com a Psicologia Analítica a doença orgânica pode ter um significado


e esse significado pode ser simbólico, já que quem adoece é a alma e o corpo apenas
decodifica o que acontece interiormente.

Pode-se dizer que um dos maiores objetivos da arteterapia seria este trabalho de
prevenção da alma e do corpo, dessa forma a vida será encarada ativamente e enfrentada
diretamente. Ao invés de manifestarmos a nossa desordem psíquica por meio de doenças
com significados simbólicos.

4. PERSONA E A BELEZA

De acordo com Whitmont (1969, p. 140):


O termo latino PERSONA refere-se à máscara do ator da antiguidade, que era usada nas
peças ritualísticas solenes. Jung usa o termo para caracterizar as expressões do impulso
arquétipo para uma adaptação à realidade exterior e a coletiva.

A Persona é um meio facilitador de se apresentar e ser aceito pelos outros, ou


seja, é a máscara que colocamos para desenvolvermos a relação entre pessoas, vida em
grupo, convivência, comunicação.

Como vimos a Persona é de extrema importância, para que cada indivíduo tenha
uma vida social harmoniosa. Porém é necessário que haja o equilíbrio com o ego, caso
contrário a pessoa perde a sua real identidade e a todo o momento de acordo com
Whitmont, (1969, p.140), “[...] o padrão de personalidade se baseia na imitação
estereotipada ou numa atuação meramente zelosa em relação ao papel atribuído
coletivamente à pessoa na vida.”

Nas ultimas décadas o que percebemos é exatamente a ausência de equilíbrio. As


pessoas procuram cada vez mais se esconder atrás de máscaras e assim mostram para a
sociedade aquilo que ela quer e não o que realmente é. Dessa forma oculta sua verdadeira
personalidade e caráter.

Bombardeadas por meios de comunicações, que inclui indistintamente diferentes


veículos, tais como jornal, rádio, TV, outdoor, cinema, entre outros, pessoas são
incentivadas a seguirem padrões impostos por estes meios.

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E a beleza se enquadra neste quesito. Para entendermos melhor, será dada uma
breve explicação sobre a origem do significado de beleza, que para Maldonato (1998, p.
183-188):
Na origem de todos os motivos estéticos está a simetria. Se quiser trazer para as coisas
idéia, senso, harmonia, é preciso primeiro dar-lhes forma, simetria, equilibrar forma
simétrica, equilibrar as partes do todo ordená-las proporcionalmente em torno de um
centro.

Percebemos que a beleza tem origem na antiguidade grega e relação com a área
da matemática. No entanto é importante a ressalva de duas características essenciais na
citação acima que são a harmonia e equilíbrio, ou seja, para ser belo é não e
necessariamente buscar o exagero, é o conjunto de características sejam elas externas e
internas que irá mostrar a beleza de cada individuo.

Uma vez que para se ter uma beleza sadia é necessária trabalhar primeiramente a
alma, ou seja, necessitamos ficar bonitos de dentro para fora.

5. A DECISÃO DE TRABALHAR COM AUTOIMAGEM

As sessões de Arteterapia foram aplicadas em uma escola da rede Municipal da Estância


Turística de Embu.

Logo no início foi feita uma sondagem, para conhecer melhor a turma, porém o
maior objetivo era envolver nas sessões, os alunos com déficit de aprendizagem.

Foram selecionadas, cerca de dez crianças que não estavam alfabetizadas.


Segundo a sondagem e em conversas com os responsáveis, estas crianças vinham com um
histórico familiar bem desestruturado, a maioria das crianças morava apenas com a mãe,
outras os pais não tinham uma vida conjugal boa.

Ao concluir a sondagem foi percebido que havia uma ausência de afetividade na


vida daquelas crianças. Então logo surgiu a idéia de fazer as atividades com este assunto e
abarcar a autoimagem de cada um, pois também foi notada uma baixa auto-estima das
crianças.

6. AS SESSÕES DE ARTETERAPIA APLICAS DAS NO ESTÁGIO CURRÍCULAR

As atividades arteterapêuticas foram aplicadas no estágio curricular, do curso de Lato


Sensu em Arteterapia da Faculdade Anhanguera de Taboão da Serra.

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Logo depois da sondagem, foi iniciado o primeiro encontro, como era o nosso
primeiro contato, iniciamos com os combinados e uma breve apresentação do que mais
gostavam em sim mesmos.

Todas as sessões eram iniciadas e encerradas com uma dança circular sagrada ou
uma técnica expressiva corporal, já que com a mente relaxada é mais fácil acessar o
inconsciente e expressar o que se passa por lá, através da linguagem não verbal.

Num primeiro momento as crianças estranharam muito, principalmente os


meninos, que cumpriam o que era proposto, no entanto havia certa resistência.

Apesar das dificuldades nos primeiros encontros, todos realizavam as propostas


dos encontros. Todos tinham um caderno com folha lisa, no qual era chamado de
“Caderno de Artes”.

Será destacado o trabalho desenvolvido no estágio de um menino de 9 anos do 3º


ano do ensino fundamental.

Conforme as atividades diagnósticas era o caso mais preocupante da turma, em


nível de aprendizagem de leitura e escrita encontrava-se no silábico sem valor, visto que
escrevia apenas o seu primeiro nome, não reconhecia todas as letras do alfabeto, nem a
sequência numérica, além de ser muito tímido e retraído.

Diariamente eram utilizadas várias intervenções pedagógicas por parte da escola,


mas sem sucesso, percebia que o fracasso escolar que esta criança caminhava,
ultrapassava as barreiras da arte de ensinar.

Em entrevista realizada com a família da criança, constatou que a relação


conjugal do casal era de constantes brigas e separações, onde a criança presenciava tudo
passivamente.

A mãe apresentou consciência de que tudo isso abalava direta ou indiretamente o


processo de aprendizagem de seu filho.

Também houve distanciamento na relação entre pai e filho, uma vez que o
menino tinha imensa admiração pelo pai.

Essa situação ocasionou na criança, conflitos afetivos e emocionais que são bem
claros no seu processo de aprendizagem escolar.

Na primeira sessão a criança demonstrou certa timidez, principalmente nas


danças circulares sagradas. Mas a partir da terceira sessão, percebeu-se que a criança já
estava mais motivada em fazer as danças circulares sagradas, porém na roda de conversa
permanecia sempre quieto.

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6.1. Primeiro encontro – Mandala

Mandala1 é uma palavra que era utilizada na Índia antiga e tem o significado de círculo.
Jung2 estudou minuciosamente a mandala e a utilizou em sua prática clínica.

Para Fadman e Frager (1986, p. 47), a mandala simboliza o processo de


individuação e equilíbrio.

Representa de acordo com a Psicologia Analítica, uma maneira de centrarmos a


vida e encontrarmos um sentido de ordem para ela.

No primeiro encontro não foi utilizado o Caderno de Artes e sim uma folha de
sulfite apenas com um círculo no meio.

Foram espalhadas pela sala fotos, jornais, revistas com várias imagens, onde a
criança teria que escolher recortar e colar dentro do círculo (mandala) tudo que lhe
lembrava beleza.

A.V.T. recortou imagens diversas, como algumas jóias, uma bola de futebol e
algumas modelos. Ao perguntar por que ele recortou tais imagens, sua resposta foi que
tudo aquilo era bonito, principalmente a bola, já que ele adorava jogar futebol com seu
pai.

Colocamos os trabalhos no chão da sala, ao olhar com atenção notei o quanto que
as crianças receberam influência da mídia.

As imagens eram realmente explicitas da beleza superficial que recebemos todos


os dias, dentre as imagens estavam fotos de modelos magras, loiras (na maioria das
vezes), tinham também muitas jóias, belas casas, tudo o que exprimia luxuria se poderia
observar nas mandalas.

Abrimos uma roda de conversa sobre o que era beleza nos dias de hoje e o que
eles achavam disso.

Foi uma longa conversa, em que os alunos disseram que beleza era exatamente o
que se via nos trabalhos.

Logo depois chamei o menino instiguei sobre o gostar de jogar futebol e ele falou
que são poucas as vezes que ele vai jogar com seu pai, pois o pai não gosta de levá-lo,
porém quando vão os dois juntos a criança afirma que fica muito feliz.

1 É a palavra sânscrita para círculo ou para um esquema ou diagrama circular usado com frequência em meditações e outras
práticas espirituais (FADIMAN; FRAGER, 1986, p. 47).
2 Jung desenvolveu uma teoria de psicologia complexa... que abrange uma série...extensa de comportamento e pensamento

humano...que inclui investigações acerca de religiões orientais, Alquimia, Parapsicologia e Mitologia. (FADIMAN; FRAGER,
1986, p. 43).

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As sessões de arteterapia foram realizadas com toda a turma do 3º ano, no


entanto o maior objetivo era resgatar a autoestima das crianças com dificuldade na
aprendizagem desta turma, principalmente o menino que era o caso mais preocupante da
sala.

Visto que a sua maior dificuldade em aprender era resultado de um emocional


desorganizado, abalado, por conta das constantes brigas familiares e da relação afetiva
entre pai e filho.

6.2. Segundo encontro – Dança circular sagrada e a escrita do nome com raspas
de giz de cera

Em círculo e em pé, todos deram as mãos e iniciamos com uma dança circular sagrada
chamada Lição de Namoro de Antonio Nóbrega. É uma canção que possui um ritmo
alegre, parecido com marcha de carnaval e sua letra inspira uma alegria interior. Nanni
(1995) apud Almeida (2005, p. 110):
Além do trabalho com relação à elasticidade, à força muscular, aos ritmos variados e
alternados, o trabalho com as danças possibilita, por meio da comunicação não verbal, a
observação da criatividade no tocante à expressão e interpretação dos movimentos
faciais e gestuais, associando, combinando os movimentos e seus significados.

A dança circular sagrada auxilia no desenvolvimento psicomotor da criança, na


conscientização do corpo, na comunhão entre corpo e alma, a confiança de si mesmo com
a sua autoimagem e a dos outro e na estruturação de seu mundo psíquico (ALMEIDA,
2005).

Além de valorizar as diversas culturas que existem ao redor do mundo, pois a


cada encontro era trabalhada uma dança diferente e de variadas etnias, grega, indígena,
judaica e brasileira.

E assim quebrar com a aversão a outros credos e religiões, além de ampliar o


repertório musical das crianças.

Apesar do passos tímidos e rígidos o menino., dava-se para perceber o seu


sorriso singelo.

Esta dança tinha como objetivo deixar as crianças mais descontraídas e confiantes
para realizar a atividade subsequente.

Para iniciar o nosso Caderno de Artes, foi oferecida a seguinte atividade: Na


primeira folha do caderno eles teriam que escrever o seu primeiro nome do jeito que mais
gostavam e de uma forma diferente. Escreveram com lápis de grafite e posteriormente
cada criança tinha que pegar uma cor de giz de cera que estava no centro da sala no chão.

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Com uma tesoura sem ponta tinham que raspar o giz de cera até ficar em farelos
e colar em cima da escrita do nome.

Foi notado uma grande habilidade e gosto pelo processo criador do menino.

Depois desta atividade o menino, passou a desenvolver a escrita completa de seu


nome.

6.3. Terceiro encontro – Corpo humano no papel kraft

O título dado para esta atividade foi “Sou o que sou”.

Arrumamos a sala de um jeito que o meio ficasse com espaço para desenvolver a
atividade. A dança circular foi à indígena, em roda e com as mãos dadas, ao ritmo da
canção, todos juntos batiam com o pé direito bem forte pra frente (como os índios fazem
ao dançar), o som que os pés faziam parecia com batidas do coração.

Fizemos uma roda de conversa sobre o título da atividade. Formação de duplas


para desenvolver a atividade, cada dupla recebeu um pedaço de papel kraft do seu
tamanho,

Deitaram em cima do papel e o outro integrante da dupla desenhou o contorno


do corpo e suas roupas, detalhes particulares como óculos, brincos etc.

A dupla que se encontrava o menino conseguiu concluir a atividade


satisfatoriamente sempre com detalhes que lembrava o futebol (boné e luva de goleiro),
todos diziam que o desenho dos dois ficou bem semelhante com eles.

6.4. Quarto Encontro – Moldura no espelho

Para Bernado (2008, p.41) a construção da autoimagem é:


A partir de como e vista pelas pessoas que cuidam dela e com as quais vai entrando em
contato ao longo de sua vida, a criança vai construindo uma imagem de si mesma, que
pode ser positiva ou negativa.

Desenvolver esta atividade tem como o objetivo fazer com que a criança tenha o
prazer de se olhar, encontrar suas características individuais e descobrir o mais de belo em
si.

Para que houvesse uma sensibilização foi tocada uma canção gregoriana, cada
criança sentou de frente ao outro, conforme as orientações que eram pedidas e ao toque
da música, faziam toques suaves com as mãos do colega da frente.

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Com um espelho simbólico, feito de papel laminado prateado, cada criança tinha
que fazer uma moldura em volta no espelho. Foram espalhados pela sala vários tipos de
materiais como: sementes, algodão, miçangas, lantejoula, folhas secas, papel picado,
pedras, pedaço de tecidos e fitas de cetim.

Cada um pegou o material que quisesse, e desenvolveram a atividade. A.V.T.


desenvolveu a atividade utilizando apenas sementes: feijão, milho, arroz e cravo.

Era nítido que A.V.T, ainda tinha o pensamento exclusivamente em sua família,
ao utilizar apenas utilizar alimentos que originam da terra.

6.5. Quinto Encontro – Escultura em argila

Era o momento mais esperado pelas crianças, pois as mesmas em todo o encontro,
perguntavam quando iríamos mexer com argila.

Ao mexer com o barro/argila (mineral que vem da terra), seria uma das
possibilidades de A.V.T, ter mais flexibilidade em relação a sua origem e família. E dessa
forma organizar a sua própria identidade.

Seguindo a metodologia de Chiesa (2004) a oficina com o barro, cada criança


recebeu um pedaço de argila, foi pedido para que beliscassem, amassassem e batessem o
barro, para que se familiarizassem com o material.

Logo depois fizeram uma bola com a argila e massagearam o rosto, pescoço,
braço, pernas e pés.

Com os olhos fechados, cada criança fez uma escultura do corpo humano, ao
secar a argila depois de alguns dias, as crianças com guache pintaram a escultura e
levaram para casa.

A escultura de A.V.T, tinha harmonia de cores, ( vermelho, verde, azul e laranja),


segundo a própria criança, utilizou estas cores, chamadas de complementares, pois a
professora tinha ensinado em sala de aula.

7. O QUE GOSTO MAIS EM MIM

Para Bernado (2008, p. 42):


A capacidade de amor próprio está ligada a como nos vemos, e à medida que nos
aprofundamos no autoconhecimento podemos deixar de ser refém de como os outros
nos vêem, ou seja, da nossa expectativa de que tenham uma imagem positiva a nosso
respeito, passando a expandir para o mundo, com mais liberdade e coragem, aspectos de
nosso mundo interno. Só a partir daí é que podemos nos sentir realmente amados,
quando a nossa autoexpressão nos revela ao outro...

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102 Autoimagem de crianças e a contribuição da arteterapia

A proposta desta atividade era de cada um valorizar o que mais gosta em si,
desenvolver o amor próprio e abrir-se para os outros.

Primeiramente foi colocado um espelho na sala, onde cada um tinha que se olhar
detalhadamente.

No caderno de artes cada criança tinha que desenhar a parte de seu corpo que
mais gostava. Os desenhos foram variados, desenharam a mão, outros o braço, pé, boca,
cabelo, rosto, algumas se projetaram ao desenharem loira e branca (sendo sua real cor
parda e cabelos escuros).O interessante da atividade foi o desenho de uma menina que
desenhou sua mão com anéis, unhas grandes pintadas de vermelho. E ao observar o seu
tipo físico percebe-se que é mais desenvolvida (fisicamente) que as outras, aparentando
estar na puberdade.

O menino desenhou sua mão com uma luva de goleiro, e pintou de preto metade
da mão, segundo ele era para saber qual era a luva e os dedos da mão.

8. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Desenvolver sessões arteterapêuticas com crianças sob o tema “Beleza e Autoimagem, foi
uma realização pessoal”.

Principalmente nos tempos atuais, enquanto que cada vez mais cedo as pessoas
tentam seguir padrões impostos pela sociedade, muitas vezes modificando seu próprio
corpo com parafernálias que o mundo moderno oferece.

O objetivo era atingir esta problemática a médio e longo prazo, porém os


resultados foram imediatos.

Ao término do processo arteterapêutico foi possível perceber a mudança nas


atitudes e aprendizagem de cada criança.

No final do ano letivo, o nível de aprendizagem dos alunos modificou bastante,


todos foram alfabetizados.

O menino conseguia escrever o seu nome completo com autonomia, estava


iniciando a escrever pequenos textos, que antes não conseguia, já em matemática passou a
realizar operações simples de matemática e dominava a sequência numérica de acordo
com o planejamento do ano letivo.

As crianças começaram a se arrumar mais e demonstraram mais confiança em


relação a si e ao outro.

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A Arteterapia é um trabalho profundo que busca no mundo interno de cada


individuo desvendar os enigmas psíquicos.

Foi uma comunhão surpreendente trabalhar com o tema da Beleza e


Autoimagem à luz da Psicologia Analítica e sessões arteterapêticas, uma vez que os
resultados são mais significativos, principalmente para o paciente, que passa a entender a
sua história de vida.

REFERÊNCIAS
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vida e religiosidade segundo uma abordagem Junguiana. 2005. 311f. Tese. (Doutorado em Ciências
Médicas) - Universidade Estadual de Campinas, Campinas.
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Vetor, 2006a.
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Paulo: Vetor, 2006b.
______. Arteterapia de corpo e alma. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2004.
BERNADO, Patrícia Pinna. A prática da arteterapia: Correlações entre temas e recursos. São Paulo:
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CIORNAI, Selma (Org.). Percursos em arteterapia: Arteterapia e educação, arteterapia e saúde.
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CHIESA, Regina Fiorezzi. O diálogo com o barro: O encontro com o criativo. São Paulo: Casa do
Psicólogo, 2004.
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WHITMONT, Edward C. A busca do símbolo: Conceitos básicos da Psicologia Analítica. São
Paulo: Cultrix, 1969.

Patrícia dos Prazeres Alves


Pedagoga na rede municipal de Embu das Artes.
Especialista em Arteterapia e Psicopedagogia
Institucional.

Encontro: Revista de Psicologia š Vol. 14, Nº. 21, Ano 2011 š p. 91-103

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