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Revista de Psicologia
CONTRIBUIÇÃO DA ARTETERAPIA
Vol. 14, Nº. 21, Ano 2011
RESUMO
Patrícia dos Prazeres Alves Ao trabalhar sob o tema Autoimagem com crianças que possuíam
Faculdade Anhanguera de dificuldade na aprendizagem escolar, foi possível destacar as
Taboão da Serra potencialidades e revelar a beleza individual de cada individuo.
pati.fts@hotmail.com
Valorizando assim o que há de mais peculiar nas crianças, sem seguir
estereótipos e padrões estabelecidos pela mídia. Por meio da utilização
da linguagem não verbal como: artes plásticas, mandalas, argila,
autorretratos, danças circulares sagradas à luz da Psicologia Analítica,
teve como resultado a melhoria nas condições da autoestima. Ao final
do ano letivo, a turma apresentava mudanças em seu comportamento e
no rendimento escolar. Demonstravam serem crianças mais felizes,
seguras, nas realizações das atividades escolares e também na relação
com o outro. Já a criança que era o caso mais preocupante da turma,
que apesar das várias estratégias pedagógicas o seu rendimento escolar
não apresentava evoluções. Encontrava-se a um passo de fazer parte do
fracasso escolar que assola a educação brasileira. No entanto, depois
das sessões arteterapêuticas a criança passou a descobrir suas
potencialidades e habilidades que até então encontravam-se ocultas em
seu interior.
ABSTRACT
Working under the theme Self Concept with children who had learning
difficulties at school, it was possible to highlight the potential and
reveal the individual beauty of each individual. Thus valuing what is
most peculiar in children without following established standards and
stereotypes in the media. By using non-verbal language such as: fine
arts, mandalas, clay, self-portraits, sacred circle dances in the light of
analytical psychology, has resulted in improvement in the conditions of
self-esteem. At the end of the school year, the group showed changes in
their behavior and school performance. Showed children being happier,
safer, achievements in school activities and also in relation to the other.
Have the child who was the most disturbing case of the class that,
despite the various teaching strategies academic performance showed
no changes. He was on the verge of being part of school failure that
plagues Brazilian education. However, after the sessions art therapy the
child began to discover their potential and skills that previously were
Anhanguera Educacional Ltda.
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Correspondência/Contato
Alameda Maria Tereza, 4266
Valinhos, São Paulo
Keywords: self image; beauty; child; art therapy; analytical psychology.
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Coordenação
Instituto de Pesquisas Aplicadas e
Desenvolvimento Educacional - IPADE
Artigo Original
Recebido em: 11/01/2011
Avaliado em: 29/05/2011
Publicação: 1 de junho de 2012 91
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1. INTRODUÇÃO
Atualmente é imposta uma idéia falsa sobre a verdadeira beleza. A cada época mais cedo
as crianças se sentem obrigadas a seguirem os padrões da moda que são impostos por
meio da mídia e publicidade. E assim não só as crianças, mas as pessoas de modo geral,
procuram a felicidade superficial e a sua aceitação no convívio social.
Teve uma breve parceria com Freud, que por sua vez possuiu uma grande
admiração das opiniões sistematizadas de Jung. Contudo este trabalho em conjunto durou
pouco, uma vez que Jung começou a divergir de alguns conceitos da psicanálise,
principalmente sobre a libido. Sobre essa divergência os autores Fadman e Frager (1986,
p.43) ressaltam:
A despeito de sua íntima amizade, os homens discordavam em pontos fundamentais.
Jung nunca foi capaz de aceitar a insistência de Freud de que as causas da repressão
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eram sempre traumas sexuais. Este último, por sua vez, ficava sempre apreensivo com o
interesse de Jung pelos fenômenos mitológicos, espirituais e ocultos.
Para que Jung pudesse fundamentar seus conceitos principais, foi influenciado
por alguns antecedentes intelectuais como Schopenhauer, Nietzsche e Kant, a mitologia,
algumas religiões e tradições orientais, que também contribuíram para a base da formação
da Psicologia Analítica.
Já nas tradições orientais, na qual era rejeitada por muitos e considerada sem
significação cientifica, foi estudada profundamente por Jung e usada na compreensão do
processo de integração da personalidade. Na qual a mandala simboliza fortemente este
processo.
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Assim sendo, a Psicologia Analítica visa não buscar a causa, mas sim a finalidade
da desordem psíquica.
Valoriza a razão, porém mais do que isso, busca na intuição e emoção o objetivo
do desequilíbrio na qual o individuo se encontra. Para Whitmont (1969, p.17):
[...] a preocupação de Jung... era mostrar que a intuição, a emoção e capacidade de
perceber e de criar por meio de símbolos são modo básicos de funcionamento humano,
assim como a percepção através dos órgãos do sentido e através do pensamento.
Desde tempos remotos, a civilização humana expressa seus sentimentos por meio da arte
(desenhos, pinturas, danças, canções), e esta capacidade criadora artística que o ser
humano tem de expressar ou transmitir tais sentimentos ou sensações, faz da Arteterapia
uma comunhão na utilização de tais recursos artísticos no tratamento de transtornos
mentais.
[...] a Arteterapia aplicada aos diferentes contextos...promove a melhoria da qualidade
de vida ao relacionar significadamente o mundo interno e o externo, propiciando o
reconhecimento e desenvolvimento de potenciais, a aprendizagem significativa e o
crescimento psíquico.
Para Arcuri (2006, p.27), “A arte é, portanto uma linguagem capaz de criar um
canal de comunicação com a psique, é capaz de compreendê-la na sutileza dos seus
nuances.”
Além disso, é também um recurso para que se possa trabalhar o corpo, mas não
como estamos acostumados a ver, ou seja, trabalhar apenas o exterior com academias,
cosmético ou cirurgias plásticas, e sim criar uma ligação com alma.
Segundo Arcuri (2006) é necessário ter um cuidado e atenção muito especial para
cada área de nosso corpo, com amor e afetividade. Pois se não tivermos esse cuidado,
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podemos transferir para o corpo todas as experiências dolorosas psíquicas. E assim ter
como fator doenças que na maioria das vezes são conseqüências de algo que nos está
afetando interiormente.
Pode-se dizer que um dos maiores objetivos da arteterapia seria este trabalho de
prevenção da alma e do corpo, dessa forma a vida será encarada ativamente e enfrentada
diretamente. Ao invés de manifestarmos a nossa desordem psíquica por meio de doenças
com significados simbólicos.
4. PERSONA E A BELEZA
Como vimos a Persona é de extrema importância, para que cada indivíduo tenha
uma vida social harmoniosa. Porém é necessário que haja o equilíbrio com o ego, caso
contrário a pessoa perde a sua real identidade e a todo o momento de acordo com
Whitmont, (1969, p.140), “[...] o padrão de personalidade se baseia na imitação
estereotipada ou numa atuação meramente zelosa em relação ao papel atribuído
coletivamente à pessoa na vida.”
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E a beleza se enquadra neste quesito. Para entendermos melhor, será dada uma
breve explicação sobre a origem do significado de beleza, que para Maldonato (1998, p.
183-188):
Na origem de todos os motivos estéticos está a simetria. Se quiser trazer para as coisas
idéia, senso, harmonia, é preciso primeiro dar-lhes forma, simetria, equilibrar forma
simétrica, equilibrar as partes do todo ordená-las proporcionalmente em torno de um
centro.
Percebemos que a beleza tem origem na antiguidade grega e relação com a área
da matemática. No entanto é importante a ressalva de duas características essenciais na
citação acima que são a harmonia e equilíbrio, ou seja, para ser belo é não e
necessariamente buscar o exagero, é o conjunto de características sejam elas externas e
internas que irá mostrar a beleza de cada individuo.
Uma vez que para se ter uma beleza sadia é necessária trabalhar primeiramente a
alma, ou seja, necessitamos ficar bonitos de dentro para fora.
Logo no início foi feita uma sondagem, para conhecer melhor a turma, porém o
maior objetivo era envolver nas sessões, os alunos com déficit de aprendizagem.
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Logo depois da sondagem, foi iniciado o primeiro encontro, como era o nosso
primeiro contato, iniciamos com os combinados e uma breve apresentação do que mais
gostavam em sim mesmos.
Todas as sessões eram iniciadas e encerradas com uma dança circular sagrada ou
uma técnica expressiva corporal, já que com a mente relaxada é mais fácil acessar o
inconsciente e expressar o que se passa por lá, através da linguagem não verbal.
Também houve distanciamento na relação entre pai e filho, uma vez que o
menino tinha imensa admiração pelo pai.
Essa situação ocasionou na criança, conflitos afetivos e emocionais que são bem
claros no seu processo de aprendizagem escolar.
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Mandala1 é uma palavra que era utilizada na Índia antiga e tem o significado de círculo.
Jung2 estudou minuciosamente a mandala e a utilizou em sua prática clínica.
No primeiro encontro não foi utilizado o Caderno de Artes e sim uma folha de
sulfite apenas com um círculo no meio.
Foram espalhadas pela sala fotos, jornais, revistas com várias imagens, onde a
criança teria que escolher recortar e colar dentro do círculo (mandala) tudo que lhe
lembrava beleza.
A.V.T. recortou imagens diversas, como algumas jóias, uma bola de futebol e
algumas modelos. Ao perguntar por que ele recortou tais imagens, sua resposta foi que
tudo aquilo era bonito, principalmente a bola, já que ele adorava jogar futebol com seu
pai.
Colocamos os trabalhos no chão da sala, ao olhar com atenção notei o quanto que
as crianças receberam influência da mídia.
Abrimos uma roda de conversa sobre o que era beleza nos dias de hoje e o que
eles achavam disso.
Foi uma longa conversa, em que os alunos disseram que beleza era exatamente o
que se via nos trabalhos.
Logo depois chamei o menino instiguei sobre o gostar de jogar futebol e ele falou
que são poucas as vezes que ele vai jogar com seu pai, pois o pai não gosta de levá-lo,
porém quando vão os dois juntos a criança afirma que fica muito feliz.
1 É a palavra sânscrita para círculo ou para um esquema ou diagrama circular usado com frequência em meditações e outras
práticas espirituais (FADIMAN; FRAGER, 1986, p. 47).
2 Jung desenvolveu uma teoria de psicologia complexa... que abrange uma série...extensa de comportamento e pensamento
humano...que inclui investigações acerca de religiões orientais, Alquimia, Parapsicologia e Mitologia. (FADIMAN; FRAGER,
1986, p. 43).
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6.2. Segundo encontro – Dança circular sagrada e a escrita do nome com raspas
de giz de cera
Em círculo e em pé, todos deram as mãos e iniciamos com uma dança circular sagrada
chamada Lição de Namoro de Antonio Nóbrega. É uma canção que possui um ritmo
alegre, parecido com marcha de carnaval e sua letra inspira uma alegria interior. Nanni
(1995) apud Almeida (2005, p. 110):
Além do trabalho com relação à elasticidade, à força muscular, aos ritmos variados e
alternados, o trabalho com as danças possibilita, por meio da comunicação não verbal, a
observação da criatividade no tocante à expressão e interpretação dos movimentos
faciais e gestuais, associando, combinando os movimentos e seus significados.
Esta dança tinha como objetivo deixar as crianças mais descontraídas e confiantes
para realizar a atividade subsequente.
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Com uma tesoura sem ponta tinham que raspar o giz de cera até ficar em farelos
e colar em cima da escrita do nome.
Foi notado uma grande habilidade e gosto pelo processo criador do menino.
Arrumamos a sala de um jeito que o meio ficasse com espaço para desenvolver a
atividade. A dança circular foi à indígena, em roda e com as mãos dadas, ao ritmo da
canção, todos juntos batiam com o pé direito bem forte pra frente (como os índios fazem
ao dançar), o som que os pés faziam parecia com batidas do coração.
Desenvolver esta atividade tem como o objetivo fazer com que a criança tenha o
prazer de se olhar, encontrar suas características individuais e descobrir o mais de belo em
si.
Para que houvesse uma sensibilização foi tocada uma canção gregoriana, cada
criança sentou de frente ao outro, conforme as orientações que eram pedidas e ao toque
da música, faziam toques suaves com as mãos do colega da frente.
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Com um espelho simbólico, feito de papel laminado prateado, cada criança tinha
que fazer uma moldura em volta no espelho. Foram espalhados pela sala vários tipos de
materiais como: sementes, algodão, miçangas, lantejoula, folhas secas, papel picado,
pedras, pedaço de tecidos e fitas de cetim.
Era nítido que A.V.T, ainda tinha o pensamento exclusivamente em sua família,
ao utilizar apenas utilizar alimentos que originam da terra.
Era o momento mais esperado pelas crianças, pois as mesmas em todo o encontro,
perguntavam quando iríamos mexer com argila.
Ao mexer com o barro/argila (mineral que vem da terra), seria uma das
possibilidades de A.V.T, ter mais flexibilidade em relação a sua origem e família. E dessa
forma organizar a sua própria identidade.
Logo depois fizeram uma bola com a argila e massagearam o rosto, pescoço,
braço, pernas e pés.
Com os olhos fechados, cada criança fez uma escultura do corpo humano, ao
secar a argila depois de alguns dias, as crianças com guache pintaram a escultura e
levaram para casa.
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A proposta desta atividade era de cada um valorizar o que mais gosta em si,
desenvolver o amor próprio e abrir-se para os outros.
Primeiramente foi colocado um espelho na sala, onde cada um tinha que se olhar
detalhadamente.
No caderno de artes cada criança tinha que desenhar a parte de seu corpo que
mais gostava. Os desenhos foram variados, desenharam a mão, outros o braço, pé, boca,
cabelo, rosto, algumas se projetaram ao desenharem loira e branca (sendo sua real cor
parda e cabelos escuros).O interessante da atividade foi o desenho de uma menina que
desenhou sua mão com anéis, unhas grandes pintadas de vermelho. E ao observar o seu
tipo físico percebe-se que é mais desenvolvida (fisicamente) que as outras, aparentando
estar na puberdade.
O menino desenhou sua mão com uma luva de goleiro, e pintou de preto metade
da mão, segundo ele era para saber qual era a luva e os dedos da mão.
8. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Desenvolver sessões arteterapêuticas com crianças sob o tema “Beleza e Autoimagem, foi
uma realização pessoal”.
Principalmente nos tempos atuais, enquanto que cada vez mais cedo as pessoas
tentam seguir padrões impostos pela sociedade, muitas vezes modificando seu próprio
corpo com parafernálias que o mundo moderno oferece.
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