Você está na página 1de 193

1

Associação Catarinense de Arteterapia

ANAIS DA

VI JORNADA DE

ARTETERAPIA E FILOSOFIA

Desafios Contemporâneos

1ª. Edição

Balneário Camboriú SC
Arte Sem Barreiras
2014

ACAT – Av. Brasil, 333 Edifício Delta, apto. 503 – Balneário Camboriu/SC
acatarteterapia.blogspot.com.br
2

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

Associação Catarinense de Arteterapia


Anais da VI Jornada de Arteterapia e Filosofia: Desafios Contemporâneos. - São
Paulo: Arte Sem Barreiras, 2014.

ISBN: 978-85-65285-03-2

1.Arteterapia 2.Teorias 3.Técnicas.

CDD 610

Autoria
Associação Catarinense de Arteterapia

Comissão Editorial dos Anais:


Profª. Drª. Maíra Bonafé Sei
Profº. Ms. Sandro Leite
Profª. Drª. Sonia M. Bufarah Tommasi

Ressalva: Os textos apresentados são de criação original dos autores, que responderão
individualmente por seus conteúdos ou por eventuais impugnações de direito por parte de
terceiros.

ACAT – Av. Brasil, 333 Edifício Delta, apto. 503 – Balneário Camboriu/SC
acatarteterapia.blogspot.com.br
3

ACAT- Associação Catarinense de Arteterapia

VI JORNADA DE ARTETERAPIA E FILOSOFIA:


Desafios contemporâneos
06/09/2014

LOCAL: FACULDADE DO LITORAL CATARINENSE -SOCIESC


R. SANTA CATARINA, 151, BAIRRO DOS ESTADOS.
BALNEÁRIO CAMBORIÚ, SC
ACATARTETERAPIA.BLOGSPOT.COM.BR

ACATSECRETARIA@GMAIL.COM

47- 99529117 ROSANA

ACAT – Av. Brasil, 333 Edifício Delta, apto. 503 – Balneário Camboriu/SC
acatarteterapia.blogspot.com.br
4

APOIOS:

ACAT – Av. Brasil, 333 Edifício Delta, apto. 503 – Balneário Camboriu/SC
acatarteterapia.blogspot.com.br
5

Oração do Terapeuta

Empresto meus ouvidos para que ouça o seu,


Aprendo a escutar meu silêncio.
Empresto meu olhar para que encontre o seu.
Aprendo que somos tudo que olhamos
... Empresto minha voz para ouvir a sua.
Aprendo como transmitir a minha.
Empresto minhas palavras que como sementes ficarão em seu inconsciente.
Aprendo a espera que em algum momento florescerão.
Empresto meu tempo que andei mais, Aprendo que seu tempo é seu tempo.
Empresto práticas e métodos.
Aprendo a fazer que não se apegue a eles.
Empresto meu silêncio para lhe escutar.
Aprendo a arte de ensinar.
Empresto minha coragem para seus medos.
Aprendo que você é a memória de minha coragem.
Empresto meu equilíbrio.
Aprendo com você o ponto para não ficar no alto e nem no baixo.
Empresto meu não julgamento.
Aprendo a plena atenção em não projetar.
Empresto minha capacidade de observar.
Aprendo a disciplinar minhas dispersões.
Empresto minha consciência.
Aprendo que você é a consciência.
Empresto minha criatividade
Aprendo que o artista é a obra, mesmo que sem sua presença.
Empresto minha motivação.
Aprendo que não conduzimos ninguém além de onde estamos
Empresto minha espiritualidade.
Aprendo que Deuses, Santos, Budas, Anjos e Você são da mesma Fonte.
Empresto o meu amor e compaixão.
Aprendo aceitar a sua gratidão.
Empresto minha alegria.
Aprendo que somos capazes de sermos felizes sozinhos.
De eu ser em nós, o sagrado e o humano.
De compartilhar a expansão de nossa consciência.
Pela comunhão com todos os seres.
E que todos os seres sejam felizes...

Fátima Bittencourt

ACAT – Av. Brasil, 333 Edifício Delta, apto. 503 – Balneário Camboriu/SC
acatarteterapia.blogspot.com.br
6

SUMÁRIO

PROGRAMAÇÃO ...................................................................................................... 09

AGRADECIMENTOS ................................................................................................. 11

APRESENTAÇÃO ...................................................................................................... 12

HISTÓRIA DA ARTETERAPIA NO ESTADO DE SANTA CATARINA E DA


ASSOCIAÇÃO CATARINENSE DE ARTETERAPIA – ACAT .................................. 14

PALESTRAS .............................................................................................................. 23

1. EXEMPLOS DE APLICAÇÃO DA ARTETERAPIA NO TRATAMENTO


MULTIDISCIPLINAR DE CRIANÇAS COM BLOQUEIO EMOCIONAL COGNITIVO
Mariel Granato .......................................................................................................... 25

2. A ARTETERAPIA NO CUIDADO INTEGRAL: A DESCOBERTA DO SENTIDO


DE VIVER DIANTE DO CÂNCER DE MAMA
Karla Simone da Silva Espindola ............................................................................ 46

3. ARTETERAPIA EM MÚLTIPLOS ESPAÇOS


Sonia M. B. Tommasi ............................................................................................... 65

4. DIÁLOGO ENTRE A ARTE CONTEMPORÂNEA E A EXPRESSÃO SOCIAL


Rikeli Ferreira Thives Hackbarth ............................................................................ 82

5. A INTERFACE ENTRE A MÚSICA E A ARTETERAPIA


Ana Léa maranhão .................................................................................................... 92

6. ELEMENTOS DA EXPRESSÃO ARTÍSTICA NA RESPIRAÇÃO HOLOTRÓPICA:


O PODER DO IMAGINÁRIO NA TERAPIA COM ESTADOS AMPLIADOS DE
CONSCIÊNCIA
Jorg Henri Saar ....................................................................................................... 103

COMUNICAÇÃO ORAL .......................................................................................... 114

1. SANDPLAY TERAPIA: IMAGENS AMORIZADORAS DE UMA CRIANÇA


VÍTIMA DE VIOLÊNCIA
Franklin Jones Vieira ............................................................................................. 116

2. AS CRIANÇAS NO DISCURSO ESCOLAR: APRENDIZAGEM E


COMPORTAMENTO
Mair Oliveira Soares .............................................................................................. 118

3. A ARTETERAPIA COMO PRÁTICA INTEGRATIVA NA MEDIDA


SOCIOEDUCATIVA DE INTERNAÇÃO
Paula de Souza Cardoso ....................................................................................... 120

ACAT – Av. Brasil, 333 Edifício Delta, apto. 503 – Balneário Camboriu/SC
acatarteterapia.blogspot.com.br
7

4. ARTETERAPIA E MUSICALIZAÇÃO COMO AÇÃO DE MELHORIA DA


QUALIDADE DE VIDA
Dâmaris Agnes Gianni ........................................................................................... 121

5. ARTETERAPIA E ORIGAMI
Márcia Regina do Nascimento .............................................................................. 122

6. ARTETERAPIA E O ATENDIMENTO DOMICILIAR


Edeltraud Fleischmann Nering ............................................................................. 123

7. ESTUDO DE CASO: COMO S. EXPRESSA SUAS EMOÇÕES NO PROCESSO


DE APRENDIZAGEM
Christiane Mesadri Córdova Diniz ........................................................................ 125

OFICINAS ............................................................................................................... 126

1. A ARTE DE CRIAR E MANIPULAR FANTOCHE COMO RECURSO NO


PROCESSO ARTETERAPÊUTICO
Ariclê do Rocio Marques Tosin ............................................................................. 128

2. A ARTE DE TECER COM FIOS DOS SONHOS


Aline Franco ........................................................................................................... 142

3. A GEOMETRIA SAGRADA E AS MANDALAS


Adriana Vitor Porto ................................................................................................ 165

PÔSTER .................................................................................................................. 174

1. ESTÁGIO DE ARTETERAPIA LINGUAGEM SONORA EM INSTITUIÇÃO


PARA TRATAMENTO DE DEPENDENTES QUÍMICOS NA CIDADE DE PONTA
GROSSA
Gilmar Alfredo Ribas ............................................................................................. 175

IV MOSTRA DE ARTETERAPIA: ARTETERAPEUTA E SUA ARTE ..................... 177

Márcia Regina do Nascimento .............................................................................. 178


Mair Soares ............................................................................................................ 181
Ariclê do Rocio Marques Tosin.............................................................................. 184

REGISTROS FOTOGRÁFICOS DA JORNADA ...................................................... 187

ACAT – Av. Brasil, 333 Edifício Delta, apto. 503 – Balneário Camboriu/SC
acatarteterapia.blogspot.com.br
8

Coordenadora do evento:
Profª. Drª. Sonia Bufarah Tommasi

Equipe de organização:
Associação Catarinense de Arteterapia.
Profª Drª. Sonia Bufarah Tommasi - Presidente da ACAT
Profª. Esp. Mariléa B. Hoffmann Loos - Vice-presidente da ACAT

Comissão Científica:
Profª. Drª. Sonia Maria BufarahTommasi
Prof. Dr. Liomar Quinto de Andrade
Profª. Drª. Maria Glória Dittrich
Prof. Dr. José Jorge de Moraes Zacharias

Comissão Organizadora:
Profª. Drª. Sonia Maria Bufarah Tommasi
Profª. Esp. Mariléa B. Hoffmann Loos
Profª. Esp. Mara Lucia Adriano Bueno
Profª. Esp. Rosana Maria Ostroski
Profª. Esp. Edeltraud Fleischmann Nering

Comissão Editorial dos Anais:


Profª. Drª. Sonia Maria Bufarah Tommasi
Prof. Ms. Sandro Leite
Profª. Drª. Maíra Bonafé Sei

ACAT – Av. Brasil, 333 Edifício Delta, apto. 503 – Balneário Camboriu/SC
acatarteterapia.blogspot.com.br
9

PROGRAMAÇÃO

ACAT- Associação Catarinense de Arteterapia


VI JORNADA DE ARTETERAPIA E FILOSOFIA:
Desafios Contemporâneos

06/09/2014

07h30 Recepção e credenciamento dos participantes


08h00 Abertura Solene
08h15 Integração: Dança Circular – Profª. Sandra Regina de Souza
08h30 MESA REDONDA: Arteterapia e os Desafios Contemporâneos.
Coordenadora de Mesa:
Profª. Ms. Cleonice Soares Sales (ITECNE, ACAT)
Palestra 1: Exemplos de Aplicação da Arteterapia no Tratamento Multidisciplinar de
Crianças com Bloqueio Emocional Cognitivo.
Profª. Esp. Mariel Granato
Palestra 2: A Arteterapia para o cuidado integral em saúde.
Profª. Ms. Karla Simone da Silva Espindola (ACAT)
Palestra 3: Arteterapia em múltiplos espaços.
Profª. Drª. Sonia M. B. Tommasi (ACAT, ASB, CENSUPEG, Anhembi
Morumbi)

10h30 Comunicação Oral


12h00 Almoço
13h30 Apresentação de Pôster
Momento de autógrafo
IV Mostra de Arteterapia: Arteterapeuta e sua Arte
Integração: Sons da Alma - Profª. Drª. Maria Glória Dittrich (FSL, UNIVALI, ACAT)

14h00 MESA REDONDA: Relações Multidisciplinar da Arteterapia

ACAT – Av. Brasil, 333 Edifício Delta, apto. 503 – Balneário Camboriu/SC
acatarteterapia.blogspot.com.br
10

Coordenadora de Mesa: Profª. Drª. Sonia M. B. Tommasi (ACAT, ASB,


CENSUPEG, Anhembi Morumbi)
Palestra 4: Diálogo entre a Arte Contemporânea e a Expressão Social.
Profª. Ms. Rikeli Ferreira Thives Hackbarth (CENSUPEG)
Palestra 5: A Interface entre a Música e a Arteterapia.
Profª. Ms. Ana Léa Maranhão (CENSUPEG)
Palestra 6: Elementos da expressão artística na Respiração Holotrópica: o poder do
imaginário na terapia com estados ampliados de consciência.
Prof. PhD. Jörg Henri Saar

Integração: Contos que encantam - Prof. Esp. Mair Soares

15h30 Oficinas de Arteterapia


Oficina 1: A arte de criar e manipular fantoche como recurso no processo
arteterapêutico.
Profª. Esp. Ariclê do Rocio Marques Tosin (ACAT, ITECNE, CENSUPEG)
Oficina 2: A arte de tecer com filtro dos sonhos.
Profª. Esp. Aline Franco (ACAT)
Oficina 3: A geometria sagrada das mandalas.
Profª. Esp. Adriana Vitor Porto (NAPE, CENSUPEG)

18h00 Encerramento da Jornada. Entrega de Certificados

ACAT – Av. Brasil, 333 Edifício Delta, apto. 503 – Balneário Camboriu/SC
acatarteterapia.blogspot.com.br
11

AGRADECIMENTOS

Agradecemos
A presença de todos/as.
A energia de cor, luz e de amor que trouxeram para compartilharmos e
formamos a nossa egrégora criativa.
A todos os presentes e ausentes que contribuíram de maneira direta e indireta
com a ACAT para a realização de mais uma Jornada de Arteterapia e Filosofia.
Ao trabalho de equipe desenvolvido por está diretoria para a realização da VI
Jornada de Arteterapia e Filosofia.
A ARTE SEM BARREIRAS que registrou a VI Jornada de Arteterapia e
Filosofia no ISBN e auxiliou na divulgação.
A VETOR editora por elaborar e confeccionar os certificados.
A SOCIESC que acolheu a ACAT e a VI Jornada de Arteterapia e Filosofia.
Ao CENSUPEG – Centro Sul-Brasileiro de Pesquisa, Extensão e Pós
Graduação, apoiar e divulgar a VI Jornada de Arteterapia e Filosofia.
A UBAAT- União das Associações de Arteterapia Brasileira, por apoiar e
divulgar a VI Jornada de Arteterapia e Filosofia.
Aos Palestrantes, que se deslocaram de seus estados e de suas cidades. Do
Paraná agradecemos a presença das Profª. Ms. Mariel Granato, a Profª. Ms.
Cleonice Soares de Sales, a Profª Esp. Aricle Tosin, a Profª Esp. Adriana Porto, a
Profª Esp. Sandra Regina da Silva, a Profª Esp. Mair Soares. De Santa Catarina
agradecemos a presença das Profª Drª Maria Glória Dittrich, Profª Ms. Karla Simone
Espindola, Profª Ms. Rikeli Ferreira Thives Hackbarth, Profª Esp. Aline Franco, Profª
Ms. Ana Léa Maranhão, e ao Prof. PhD. Jörg Henri Saar, por compartilharem
conosco seus conhecimentos teóricos e práticos.
A todos vocês que nos motivam a realizar com carinho mais uma Jornada de
Arteterapia.
Sonia Bufarah Tommasi
Presidente da ACAT

ACAT – Av. Brasil, 333 Edifício Delta, apto. 503 – Balneário Camboriu/SC
acatarteterapia.blogspot.com.br
12

APRESENTAÇÃO

Bom dia a Todos e a Todas.


Bons Ventos...
Sou Sonia Bufarah Tommasi, atual presidente da Associação Catarinense de
Arteterapia, ACAT.
É com alegria e sentimento de realização que estamos aqui inaugurando os
trabalhos da VI Jornada de Arteterapia e Filosofia: Desafios Contemporâneos.
Elaborar a programação foi um grande desafio prazeroso e rico em
possibilidades, hoje, teremos a oportunidade de conhecer o trabalho destes
maravilhosos palestrantes, e também, vivenciar momentos de experiências
profundas em nossas oficinas.
A cada ano a Jornada de Arteterapia e Filosofia, nasce de uma demanda, em
um momento específico, o que torna cada uma muito especial e transformadora.
Este ano a música se fez presente, ecoou por entre linhas e espaços, convocou o
ritmo e a harmonia e liberou suavemente a nossa sonoridade. Com certeza, cada
um de vocês, foi convocado pelo seu som interno para compor a egrégora sonora da
VI Jornada, pois nada acontece por acaso.
Com a dança circular abriremos os movimentos energéticos do universo. Com
o som do tambor vamos estabelecer a ligação com a Mãe Terra. Com a Respiração
Holotrópica ampliaremos os campos da consciência.
A Arteterapia em sua multiplicidade estimula o que temos de mais caro, a Arte
de Viver e de Conviver, com os prazeres e conflitos.
A neurologia afirma que aprender não é somente receber informações. Só
aprendemos quando construímos redes mentais. E para estabelecermos essas
conexões em rede o indivíduo deve passar pela experiência, a qual se faz carregada
de emoções e sentimentos.
As emoções e sentimentos perpassam por todo o organismo, atingindo cada
núcleo celular, sem que tenhamos consciência de suas atuações e quais resultados
serão manifestados, por isso a Arteterapia possibilita a expressão simbólica destas

ACAT – Av. Brasil, 333 Edifício Delta, apto. 503 – Balneário Camboriu/SC
acatarteterapia.blogspot.com.br
13

emoções e sentimentos, desvelando dores e conflitos incognoscíveis e, portanto,


abrindo o véu do reconhecimento.

O grande desafio hoje do Arteterapeuta está na confirmação de sua


importância social como agente de transformação.
Com certeza em breve teremos esse reconhecimento.
Declaro aberto os trabalhos de hoje!
Desejo a todos e todas uma iluminada Jornada!

Sonia Bufarah Tommasi


Presidente da ACAT

ACAT – Av. Brasil, 333 Edifício Delta, apto. 503 – Balneário Camboriu/SC
acatarteterapia.blogspot.com.br
14

HISTÓRIA DA ARTETERAPIA NO ESTADO DE SANTA CATARINA E DA


ASSOCIAÇÃO CATARINENSE DE ARTETERAPIA - ACAT

Prezados Associados e Amigos da Arteterapia.


A cada ano vamos desvelando e ao mesmo tempo compondo a nossa
história. Somos participantes ativos da h da Arteterapia história Estado de Santa
Catarina e no Brasil. Diante deste fato irrevogável, e com o intuito de registrar essa
trajetória, decidi pesquisar como a Arteterapia adentrou em nosso Estado.
Entre 2012 e 2103 a ACAT catalogou a existência de cinco (5) cursos de
Arteterapia no Estado de Santa Catarina, sendo quatro (4) de pós Lato Sensu e um
de formação. Sendo dois em Florianópolis, um Balneário Camboriú, um em São
Miguel do Oeste e um centralizado em Joinvile.
Em busca das raízes históricas da Arteterapia em Santa Catarina,
encontramos a psicóloga pernambucana Márcia Melo de Araújo, de natureza
inquieta e criativa, e com muita garra para se aprofundar nas entranhas do
conhecimento, foi para São Paulo onde encontrou cursos de Arteterapia, Psicologia
Analítica. Munida de saberes e de muito amor, escolheu Florianópolis como cidade
ideal para morar e desenvolver seu trabalho. Em 2002, no espaço Árvore da Vida,
ministrou o primeiro curso de Arteterapia. Era um curso de estrutura livre, dividido
por módulos, com carga horária de 212 horas/aula teóricas e práticas, pois ainda
não havia as exigências da UBAAT, quanto a grade curricular. A primeira turma
iniciou com 27 alunos e concluiu com 20. A segunda começou com 23 e terminou
com 18 pessoas, portanto, 38 pessoas se formaram. A experiência foi gratificante.
Mas como os ventos mudam, Márcia retornou a São Paulo, deixando no ar de
Florianópolis e de Santa Catarina as sementes da Arteterapia.
Neste mesmo ano, 2002, os ventos da Arteterapia sopram em São Miguel do
Oeste, SC, a Argentina Graciela Ormezzano, licenciada em Educação Artística e
especialista em Arteterapia, ao concluir seu doutorado na PUCRS, foi
convidada pela UNOESC para atuar no Curso de Artes Visuais onde criou e
implantou um curso de Lato Sensu em Arteterapia. O curso foi bem recebido, iniciou

ACAT – Av. Brasil, 333 Edifício Delta, apto. 503 – Balneário Camboriu/SC
acatarteterapia.blogspot.com.br
15

com vinte e sete (27) alunos/as. Ao mesmo tempo Graciela implantou em Passo
Fundo, RS, outro curso de Arteterapia. Atuou na UNOESC por um ano e meio e por
motivos familiares, mudou-se para Passo Fundo. A coordenação do curso da
UNOESC, foi para Marilei Teresinha Dal'Vesco, que desenvolvia um excelente
trabalho no hospital de São Miguel. Desde então, Marilei Teresinha Dal'Vesco, está
na coordenação, Graciela continuou a contribuir com o curso como professora da
disciplina Fundamentos da Arteterapia. Novas turmas foram abertas, em 2006 o
curso teve 29 alunos/as, a turma de 2008 foi composta por 31 alunos/as, em 2010
com 18 aluno/as, e em 2012, cresceu, a turma foi fechada com 30 alunos/as. Os
cursos de Arteterapia da UNOESC fluem e, com alegria e orgulho, Graciela afirma:
"Minha escolha deu certo, porque até hoje Marilei faz um trabalho fantástico, possui
muita liderança..."
Em 2004, os ventos sopram, novamente em Florianópolis, o estímulo vem de
uma pessoa que participava do processo arteterapêutico no Rio de Janeiro, e ao
mudar-se para Florianópolis, não quis interromper seu desenvolvimento facilitado
pela carioca, psicóloga e arteterapeuta Ana Luisa Batista. Sendo assim, a
facilitadora, Ana Luisa, deu inicio a um grupo, com 12 participantes, concluindo com
7; mas apenas 2 alunas cumpriram as exigências da formação e trabalham com
Arteterapia. E desde então os cursos de formação em Arteterapia da Incorporar-te
vem acontecendo.
E os ventos da Arteterapia sopram em Brusque, em 2003, a catarinense,
filosofia Maria Gloria Dittrich, participa da Jornada Gaúcha de Arteterapia promovida
por Gislaine Guimarães, pela Centrarte, e conhece a psicóloga paulista Sonia M.
Bufarah Tommasi, na troca de conhecimento, experiências, de sonhos e projeções
futuras, colocam nas asas do vento um novo despertar criativo. Em 2006, na
Faculdade São Luis em Brusque floresce o Lato Sensu em Arteterapia: fundamentos
filosóficos e prática, tendo Sonia M. Bufarah Tommasi como professora do curso. De
2006 a 2011, duas turmas se formaram, concluindo com 31 aluno/as formadas. Em
2012, Maria Gloria Dittrich, em parceria com a Faculdade São Luiz de Brusque, abre
o Da Vinci Centro de Belas Artes e Ecoformação em Balneário Camboriú, e neste

ACAT – Av. Brasil, 333 Edifício Delta, apto. 503 – Balneário Camboriu/SC
acatarteterapia.blogspot.com.br
16

espaço dá continuidade ao curso de Arteterapia, com a terceira turma que está em


processo de formação.
Os ventos criativos da Arteterapia circulam novamente.
O vento é diversificado em sua trajetória, às vezes é arrebatador, forte ou
bem suave, deixa novas sementes caírem, e essas germinam rapidamente, com
vivacidade e força, Joinville torna-se o terreno fértil para mais uma semente, o
Centro Sul-brasileiro de Pesquisa, Extensão e Pós-graduação – CENSUPEG, sob a
orientação da Profa. Dra. Sonia M. Bufarah Tommasi. A semente da Arteterapia em
Joinville, rapidamente germina, cresce, abre ramificações por todo o Estado de Sana
Catarina, em várias cidades surge novos cursos de Arteterapia.
Os ventos carregam em suas asas as sementes criativas da Arteterapia, e
assim esperamos que de tempos em tempos, essas sementes caiam sobre o terreno
arado do Estado de Santa Catarina, e muitos outros cursos surjam com
comprometimento ético sobre o saber, o sentir e o fazer.
As Jornadas de Arteterapia, que já estão se tornando tradição e referência no
Estado de Santa Catarina, compõem a nossa História contribuindo para o
crescimento científico da Arteterapia, ao mesmo tempo, propicia um espaço de
confraternização entre os arteterapeutas e amigos da Arteterapia.
Associação Catarinense de Arteterapia – ACAT foi fundada em 16 de junho
de 2007, pela primeira turma do Curso de Pós-Graduação em Arteterapia e Filosofia
da Faculdade São Luiz – FSL, para congregar profissionais e estudantes de
Arteterapia e representar os arteterapeutas do Estado de Santa Catarina em âmbito
nacional. Sua primeira sede foi à Rua 2870, sala 01, em Balneário Camboriú, SC.
É uma associação de direito privado, de caráter assistencial, cultural,
educativo e filantrópico, sem fins lucrativos e de âmbito nacional, com prazo de
duração indeterminado. A Associação Catarinense de Arteterapia – ACAT rege-se
pelo seu estatuto e pela legislação aplicável, é integrada por associados que
possuem graduação, pós graduação e estudantes em Arteterapia.
A ACAT visa desenvolver um trabalho de coparticipação no campo da
Arteterapia ligado ao da arte, da educação e da saúde, tendo em vista a promoção

ACAT – Av. Brasil, 333 Edifício Delta, apto. 503 – Balneário Camboriu/SC
acatarteterapia.blogspot.com.br
17

do ser humano à saúde, à educação e à cultura, para o desenvolvimento regional,


nacional e global.
A diretoria fundadora foi composta por: Presidente: Maria Glória Dittrich, Vice-
presidente: Sonia Maria Bufarah Tommasi, Diretora secretária: Edeltraud Fleichmann
Nering, Diretora financeira: Mariléa Bernadete Hoffmann Loos, Diretora de relações
públicas: Anna Elise Guiorzi Valente, Suplentes: Elaine Ghiorzi da Fonseca; Marilu
Altiva Mattos Murara; Rosana Maria Ostroski, Conselho fiscal: Áurea Mafra Silva;
Karla Simoni da Silva Espíndola; Noêmia Groh, Suplentes: Evandro Kohler; Paulo
César da Silva; Elisa Krueger.
Em 04/04/2009, a Faculdade São Luiz promoveu em Brusque a I Jornada de
Arteterapia e Filosofia, tendo como tema: Transdisciplinaridade e Ecoformação,
oportunizando um espaço de socialização de conhecimentos no campo da
Arteterapia e da Filosofia, tendo em vista o desenvolvimento do ser humano dentro
de uma formação transdisciplinar e eco formativa. A ACAT apoiou o evento.
Na Assembleia de 06 de março de 2010, foi eleita a segunda diretoria:
Presidente: Maria Glória Dittrich, Vice Presidente: Sonia Maria Bufarah Tommasi,
Diretora secretária: Edeltraud Fleichmann Nering, Diretora Financeira: Mariléa
Bernadete Hoffmann Loos, Diretora de Relações Públicas: Rosana Maria Ostroski,
Suplentes: Gabriele de Oliveira Ribas; Elsa A. de Oliveira; Mara Lúcia A. Bueno,
Conselho Fiscal: Áurea Mafra Silva; Karla Simoni da Silva Espíndola; Noêmia Groh,
Suplentes: Marilu Altiva Mattos Murara; Elisa Krueger; Marily R. M. Voltolini Em
21/04/2010, durante o Fórum de Natal, a ACAT recebeu o título de Associada da
União Brasileira das Associações de Arteterapia – UBAAT.
Em 31/07/2010 a Faculdade São Luiz promoveu em Brusque a II Jornada de
Arteterapia e Filosofia: Arte, Saúde Integral e Autossustentabilidade do Ser, tendo
como objetivo: oportunizar um espaço de socialização de conhecimentos no campo
da Arteterapia e da Filosofia, tendo em vista a questão da saúde integral para a
autossustentabilidade da vida na relação do ser humano-natureza. A ACAT apoiou o
evento.
Em 12/11/2011 a ACAT realizou, na Faculdade São Luiz, Brusque, a III
Jornada de Arteterapia e Filosofia: Diálogos e Transdisciplinariedade, cuja

ACAT – Av. Brasil, 333 Edifício Delta, apto. 503 – Balneário Camboriu/SC
acatarteterapia.blogspot.com.br
18

motivação foi promover um espaço de socialização transdisciplinar, tendo a


Arteterapia e a Filosofia como pontos centrais e provocativos para diálogos e
reflexões teóricas e práticas que contribuem em prol do desenvolvimento humano e
da saúde integral.
Neste contexto, a Associação tem interagido e trabalhado com as demais
áreas do conhecimento, defendendo o campo do saber e os direitos da Arteterapia
enquanto ferramenta reconhecidamente eficaz para a melhoria da qualidade de vida
das pessoas.
Em clima de confraternização e renovação, no dia 03 de Março de 2012,
ocorreu a VI Assembleia Geral da Associação Catarinense de Arteterapia – ACAT,
para a eleição da 3ª Gestão, que desenvolverá seus trabalhos no período de 2012
até 2014.
Acreditando em novos e bons ventos, motivados pela esperança de estarem
abrindo caminhos criativos, em prol de uma melhor qualidade de vida, facilitando o
ensino/aprendizagem, o autoconhecimento, possibilitando relações sociais mais
integradas, beneficiando assim, tanto o indivíduo quanto sociedade, estiveram
presentes associados, representantes de várias cidades e regiões de Santa
Catarina, comprovando desta forma o crescimento da Arteterapia pelo Estado.
Sonia Bufarah Tommasi apresentou uma síntese da nova gestão e empossou
a Diretoria, eleita por unanimidade, composta por: Presidente: Sonia Maria Bufarah
Tommasi - Registro ACAT-00002/0707, Vice Presidente: Mariléa Bernadete
Hoffmann Loos - Registro ACAT-00004/0707, Diretora Secretária: Gabriele de
Oliveira Ribas - Registro ACAT-00016/0707, Diretora Financeira: Rosana Maria
Ostroski - Registro ACAT-00008/0707, Diretora de Relações Públicas: Edeltraud
Fleischmann Nering - Registro ACAT-00003/0707, Suplentes: Fábia Lombardi
Martins de Souza - Registro ACAT-00040/0611, Mara Lucia Bueno - Registro ACAT-
00017/1207, Marily R. M. Voltolini - Registro ACAT-00018/0707, Conselho Fiscal:
Maria Glória Dittrich - Registro ACAT-00001/0707, Marilu Altiva Mattos Murara
Registro - ACAT-00007/0707, Karla Simone da Silva Espíndola - Registro ACAT-
00010/0707, Suplentes: Ana Paula de Oliveira Pires - Registro ACAT-00041/0611,

ACAT – Av. Brasil, 333 Edifício Delta, apto. 503 – Balneário Camboriu/SC
acatarteterapia.blogspot.com.br
19

Juliane Cristine Cervi Adami - Registro ACAT-00037/0311, Áurea Mafra Silva-


Registro ACAT-00009/0707.
Neste momento histórico da Arteterapia no país, no qual estamos tramitando
a inserção da nossa classe na Classificação Brasileira de Ocupação- CBO,
recebendo apoio do Ministério da Saúde, se faz necessário fortalecer a nossa
Associação ACAT, a qual foi fundada com muito amor e dedicação, e que neste
momento deve fazer uso da razão para crescer e tornar-se social e
profissionalmente significativa.
Lembrando um ditado popular: "uma andorinha não faz verão", temos que
tomar consciência ética da importância de nosso trabalho para com a comunidade,
para com o sujeito, e para com a Associação. Assim formaremos uma equipe
harmônica, coesa em prol do coletivo. Em termos metafóricos, se tivermos em mente
que cada profissional é um instrumento e faz parte de uma orquestra, teremos a
execução de uma bela sinfonia. Ou ainda, se cada um de nós for uma cor ou
matizes de uma cor, pintaremos um belo quadro. Poderemos estender este belo
exemplo para todas as vertentes artísticas, para ampliarmos o nível de consciência e
responsabilidades. Portanto, a força de nossa Associação se constitui em nossa
união amorosa, científica e principalmente de respeito e ética.
O significado da palavra Associação, segundo o dicionário Aurélio:

Ação ou efeito de associar. Entidade que congrega pessoas que têm interesses
comuns: associação profissional, esportiva. Ação de aproximar, de ajuntar:
associação de cores. Associação de ideias, fato psicológico que consiste em
uma imagem ou ideia evocar outra.

De acordo com esta definição, a ACAT congrega pessoas com os mesmos


interesses e que trabalham por eles, visando benefício próprio e social. Temos muito
que aprender e trabalho a fazer! Uma associação deve se aperfeiçoar e promover
uma cultura organizacional de colaboração, cooperação e de bom relacionamento
entre as pessoas, portanto:

sua tarefa, dentro do prazo e do esperado.

ACAT – Av. Brasil, 333 Edifício Delta, apto. 503 – Balneário Camboriu/SC
acatarteterapia.blogspot.com.br
20

cargos que determinam a competência e o conhecimento de cada um.

empoderamento, por meio da instrumentalização, capacitação e


responsabilidade de cada membro da equipe.

profissional e desenvolvimento pessoal.

ar, os desafios fazem parte do mundo contemporâneo.

Sob essa ótica, creio que Pierre Weil contribui com perfeição quando afirma:
Na área individual, a cooperação gera um estado físico de saúde estimulando um
funcionamento glandular harmonioso, pois gera sentimentos e emoções altamente
construtivas tais como o amor, a compaixão, a alegria e a equanimidade; as gera ou
resulta delas. No plano da mente, a cooperação estimula a dissolução que se opõe o
'eu' e o 'outro'. Na cooperação, há momentos em que se constata que só há um
espírito o qual é integrado pelos espíritos individuais em aparência separados.
Caros Associados, as mudanças somente ocorrem quando participamos
ativamente das ações transformadoras, e para isso disponibilizamos energia criativa
para a formação de uma nova egrégora. Eu e toda a diretoria da ACAT desejamos a
sua participação para fazermos a diferença.
A ACAT, no ano de 2012 recebeu novos associados, ampliou seus limites de
relacionamentos e vislumbra novas possibilidades. Estabeleceu contato com os
coordenadores dos demais cursos de Arteterapia, que existem no Estado de Santa
Catarina, fortalecendo os elos criativos, afetivos e científicos. Estamos Crescendo!
Assim como os Bons Ventos, também mudamos de direção. Neste ano de
2012, a IV Jornada de Arteterapia e Filosofia, foi acolhida carinhosamente pela
Faculdade AVANTIS, localizada em Balneário Camboriú. Agradecemos a acolhida
calorosa da diretora da Faculdade a Profª. Isabel Regina Depiné, e também da

ACAT – Av. Brasil, 333 Edifício Delta, apto. 503 – Balneário Camboriu/SC
acatarteterapia.blogspot.com.br
21

coordenadora do curso de Psicologia a Profª. Andreia Martins e aos alunos de


psicologia que vibraram ao saberem das boas novas, ou seja, da oportunidade de
participarem da nossa querida Jornada.
A cada ano a ACAT cresce, transforma-se, cria a sua própria identidade, e, ao
mesmo tempo amplia os limites da Arteterapia no Estado de Santa Catarina, atua a
nível nacional, junto a UBAAT, para o reconhecimento da profissão de
Arteterapeuta, Portanto, desempenha com comprometimento, respeito e ética, as
suas funções sociais.
Iniciamos o ano de 2013 com bons ventos, comemorando a inserção da
Arteterapia na Classificação Brasileira de Ocupação - CBO.
A Arteterapia está no código 2263: Profissionais das terapias criativas e
equoterápicas:
Títulos:
2263-05 - Musicoterapeuta
2263-10 - Arteterapeuta
2263-15 - Equoterapetua

Ao mesmo tempo que comemoramos estamos ciente das responsabilidades


profissionais e sociais que adquirimos.
Sempre em movimento, a ACAT, no mês de setembro, sedia o XIX FÓRUM
DA UBAAT- União Brasileira das Associações de Arteterapia.
Nas rajadas de ventos de 2013, a ACAT promove a V Jornada de Arteterapia
e Filosofia, prioriza os Fundamentos Teóricos e Técnicos para a Arteterapia. Desta
vez alocada na Faculdade do Litoral Catarinense- Sociesc.
Antes de finalizar 2013 o Centro Sul Brasileiro de Pesquisa, Extensão e Pós-
graduação (CENSUPEG) inseriu a Arteterapia, sob a coordenação da professora
doutora Sonia M. Bufarah Tommasi, entre seus cursos de pós-graduação, sendo um
grande ganho para a Arteterapia do Estado Sana Catarina. No ano de 2014 o
CENSUPEG abre novos cursos no Estado de Santa Catarina, nas cidades de:
Criciúma, Videira, Canoinhas, Porto União, Jaraguá do Sul e no Estado do Paraná,

ACAT – Av. Brasil, 333 Edifício Delta, apto. 503 – Balneário Camboriu/SC
acatarteterapia.blogspot.com.br
22

na cidade de Ponta Grossa. Este crescimento de cursos por todo o Estado de Santa
Catarina demonstra que a Arteterapia é a profissão do presente e do futuro.
Como o tempo não para, a ACAT ainda tem muito a crescer, para isso
contamos com apoio e participação dos nossos associados e amigos.
Até breve!

Sonia Bufarah Tommasi


Presidente da ACAT
Gestão 2012-2016

ACAT – Av. Brasil, 333 Edifício Delta, apto. 503 – Balneário Camboriu/SC
acatarteterapia.blogspot.com.br
23

PALESTRAS

ACAT – Av. Brasil, 333 Edifício Delta, apto. 503 – Balneário Camboriu/SC
acatarteterapia.blogspot.com.br
24

Palestra 1:
Exemplos de Aplicação da Arteterapia no Tratamento Multidisciplinar
de Crianças com Bloqueio Emocional Cognitivo.
Profª. Esp. Mariel Granato.

Palestra 2:
A Arteterapia para o cuidado integral em saúde.
Profª. Ms. Karla Simone Espindola (ACAT).

Palestra 3:
Arteterapia em múltiplos espaços.
Profª. Drª. Sonia M. B. Tommasi (ACAT, ASB, CENSUPEG, Anhembi Morumbi).

Palestra 4:
Diálogo entre a Arte Contemporânea e a Expressão Social.
Profª. Ms. Rikeli Ferreira Thives Hackbarth (CENSUPEG).

Palestra 5:
A Interface entre a Música e a Arteterapia.
Profª. Ms. Ana Léa Maranhão (CENSUPEG).

Palestra 6:
Elementos da expressão artística na Respiração Holotrópica: o poder do imaginário na
terapia com estados ampliados de consciência.
Prof. PhD. Jörg Henri Saar.

ACAT – Av. Brasil, 333 Edifício Delta, apto. 503 – Balneário Camboriu/SC
acatarteterapia.blogspot.com.br
25

Palestra 1:
Exemplos de Aplicação da Arteterapia no Tratamento Multidisciplinar de Crianças
com Bloqueio Emocional Cognitivo.

Profª. Esp. Mariel Granato1

Resumo:
O presente artigo apresenta dois dos principais casos indicados para inserção no
processo arteterapêutico pelos setores de Neurologia e Psicopedagogia do Centro
de Neurologia Pediátrica do Hospital de Clínicas-PR (CENEP) no ano de 2013.
Trata-se do caso de duas crianças, sendo uma menina de 12 anos e um menino de
10 anos. Em ambos os casos as crianças apresentavam características de bloqueio
emocional cognitivo. Participaram de acompanhamento multidisciplinar pela equipe
da Neurologia, Psicopedagogia e Arteterapia. Todos os acompanhamentos foram
realizados uma vez por semana em sessões com duração de 30 minutos em cada
especialidade. Com relação ao acompanhamento em Arteterapia foram aplicadas
técnicas expressivas, tais como pintura, recorte e colagem, construção com
materiais de sucata, desenho, modelagem, escrita criativa, fantoches, máscaras,
tecelagem, entre outras. As práticas arteterapêuticas auxiliaram nesta situação como
terapia complementar aos tratamentos neurológico e psicopedagógico, observando-
se no decorrer desses acompanhamentos uma melhora tanto da estrutura emocional
quanto da dificuldade cognitiva apresentadas inicialmente pelas duas crianças.

Palavras-chave: Arteterapia; multidisciplinaridade; estruturação emocional;


cognição.

Introdução:
Este artigo tem como objetivo apresentar dois casos que foram
acompanhados pela equipe multidisciplinar do CENEP – Centro de Neurologia
Pediátrica do Hospital de Clínicas de Curitiba. Esta equipe foi composta por

1
Arteterapeuta; Professora do Ensino Fundamental, Médio e Superior formada em Artes Visuais
Unespar/FAP-PR; Especialista em História da Arte Espanhola Palma de Mallorca, Espanha;
Especialista em Literatura Infantil e Juvenil PUC-PR; Especialista em Metodologia do Ensino Superior
PUC-PR; Especialista em Ensino Religioso Escolar PUC-PR; autora de Metodologia do Ensino da
História da Arte para Crianças na Oficina de Arte Abyara, Curitiba-PR; Arte Educadora; Arteterapeuta
em clínica particular e em voluntariado no Centro de Neurologia Pediátrica do Hospital de Clínicas
(CENEP), Curitiba-PR. marielgranato@lza.com.br

ACAT – Av. Brasil, 333 Edifício Delta, apto. 503 – Balneário Camboriu/SC
acatarteterapia.blogspot.com.br
26

profissionais da área de Psicopedagogia, Arteterapia e Neurologia em sessões


semanais no período de 2013 e 2014.
Com o objetivo de se promover a melhora do desenvolvimento cognitivo e o
equilíbrio emocional das crianças citadas nestes casos, a Arteterapia em suas
variadas técnicas atuou como terapia complementar aos demais acompanhamentos
sendo que em sua prática foram utilizados recursos expressivos variados, diferentes
tipos de materiais de suporte e técnicas artísticas, além de atividades de expressão
corporal, musical e cênica. A Arte auxilia na medida em que não se restringe a uma
comunicação formal, mas expande-se a infinitas e variadas linguagens.

Referencial Teórico:
A Arteterapia em suas possibilidades de composição promove sentimentos e
fantasias através de suas variadas práticas expressivas, possibilitando ao cliente
oportunidade para desenvolver sua auto expressão e, por meio dela, vir a se
perceber melhor. Segundo Angela Philippini (2009, p. 18):

A amplificação simbólica em Arteterapia tem como conceito: conjunto de estratégias


expressivas que facilitam a compreensão do significado de um símbolo, permitindo sua
aproximação aos processos secundários de elaboração (consciência), contribuindo para
a expansão da estruturação emocional.

O Universo da Arte fundamentado na materialização de imagens mentais,


formadas pelas ideias ou ideais, encontra na fusão de materiais plásticos, nas
performances corporais e na música, o continente para a concretização das
necessidades individuais. Ao possibilitar o estabelecimento da união entre sensação
de falta sentida pelo indivíduo com o encontro de seus recursos pessoais, vitalizam-
se suas disposições ocultas, direcionando-as para sua superação pessoal.
É neste Universo de encontro e criação mental e emocional que se manifesta
a Arteterapia. De acordo com Maria Cristina Urrutigaray (2011, p. 47), “a experiência
de fazer ARTE possibilita ao indivíduo que cria a aproximação necessária com o
estado interior de imaginar ou a ativação do imaginário”.
Fundamentada em Psicologia e Artes em geral, conforme Olivier (2011, p.
12), a prática da Arteterapia requer muito estudo e prática, além de sensibilidade do

ACAT – Av. Brasil, 333 Edifício Delta, apto. 503 – Balneário Camboriu/SC
acatarteterapia.blogspot.com.br
27

arteterapeuta, denominação dada ao profissional que atua em Arteterapia que ainda


tem como funções analisar com profundidade as produções e os meios dessas
produções dos clientes, excluindo-se a arte propriamente dita.
A Arteterapia analisa o processo de criação e não a criação em si. Em muitos
casos, exige a presença de outros profissionais em uma equipe e requer espaço
apropriado. Pode tratar distúrbios variados desde que bem aplicada e diferenciada
da simples Arte como Terapia – modalidade de terapia que não se importa com o
processo percorrido nas produções do cliente, mas sim com a própria produção,
sem exigência de nenhuma intervenção de outros profissionais (OLIVIER, 2011, p.
43).
A experiência do trabalho com Arteterapia proporciona a possibilidade de
reconstrução e de interação de uma personalidade. Contribuindo como
procedimento prático e apoiado em um referencial teórico de suporte, permite a
aquisição da autonomia, como objetivo ou meta para a melhora da vida humana. Ao
ser possível integrar, pela atuação consciente, o resultado do criado com a temática
emocional oculta na representação apresentada, o sujeito adquire a condição de
transcender as suas vivências imediatas, experimentando novos sentimentos e
disponibilizando-se para novas oportunidades.
A Arteterapia, sob a ótica junguiana, parte do princípio de que a vida psíquica
tem uma tendência inata à organização. Há dentro de nós um movimento para que
sejamos nós mesmos, para que obtenhamos o máximo possível de nossa força vital,
para que vivamos a nossa inteireza, e que o processo terapêutico por meio da arte
poderá dinamizar esta tendência (DINIZ, 2010, p. 13).
Sendo assim, alguns autores pesquisados apresentam a Arteterapia como
uma abordagem terapêutica considerada Terapia Complementar, isto é, um
instrumento facilitador visando o equilíbrio, tratando dos vários distúrbios, tanto no
corpo físico, equilibrando o seu funcionamento saudável, como no campo psíquico,
emocional e social.
Quanto aos tratamentos multidisciplinares, são de grande valia na proposta
de auxílio aos pacientes em suas diversas situações de saúde. Com o

ACAT – Av. Brasil, 333 Edifício Delta, apto. 503 – Balneário Camboriu/SC
acatarteterapia.blogspot.com.br
28

desenvolvimento das demais profissões da área da saúde, o atendimento de um


paciente deixou de ser exclusividade do médico.
Sobre cognição pode-se definir como ato ou processo da aquisição do
conhecimento que se dá através da percepção, da atenção, memória, raciocínio,
juízo, imaginação, pensamento e linguagem.
A palavra Cognitione tem origem nos escritos de Platão e Aristóteles. É o
conjunto dos processos mentais usados no pensamento, na classificação, no
reconhecimento e na compreensão para o julgamento através do raciocínio para
o aprendizado de determinados sistemas e soluções de problemas.
De uma maneira mais simples, pode-se dizer que cognição é a forma como
o cérebro percebe, aprende, recorda e pensa sobre toda informação captada através
dos cinco sentidos.
Mas a cognição é mais do que simplesmente a aquisição de conhecimento e,
consequentemente, a nossa melhor adaptação ao meio – é também um mecanismo
de conversão do que é captado para o nosso modo de ser interno. Ela é um
processo pelo qual o ser humano interage com os seus semelhantes e com o meio
em que vive, sem perder a sua identidade existencial. Ela começa com a captação
dos sentidos e logo em seguida ocorre a percepção. É, portanto, um processo de
conhecimento, que tem como material a informação do meio em que vivemos e o
que já está registrado na nossa memória.
Segundo a fonoaudióloga Isabel Medeiros (2011, p. 30), “a cognição está
relacionada ao conhecimento e aprendizagem. Possui como pilares a linguagem,
memória, atenção e função executiva”.
O desenvolvimento cognitivo da criança acontece por meio da relação com
pessoas, objetos e ambientes. Para tanto, são necessárias situações que favoreçam
a construção do conhecimento através das percepções sensoriais e do ato motor.
A aprendizagem da criança depende:

 Das condições do seu nascimento e de seu estado de saúde;


 Da presença de um ambiente afetivo, emocional, social e educacional
saudável;

ACAT – Av. Brasil, 333 Edifício Delta, apto. 503 – Balneário Camboriu/SC
acatarteterapia.blogspot.com.br
29

 De estímulos ambientais adequados e variados;


 Da capacidade de estabelecer relações e interagir com o mundo ao redor.

Portanto, as crianças adquirem representações mentais do mundo através da


cultura e da linguagem. Situações de afeto e estímulos variados enriquecem os
momentos de aprendizagem e produzem prazer, realização e desenvolvimento
saudável.
Vygotsky (1996, p. 87) afirma em sua abordagem unificadora entre as
dimensões cognitiva e afetiva do funcionamento psicológico que:

A forma de pensar, que junto com o sistema de conceito nos foi imposta pelo meio que
nos rodeia, inclui também nossos sentimentos. Não sentimos simplesmente: o
sentimento é percebido por nós sob a forma de ciúme, cólera, ultraje, ofensa. Se
dizemos que desprezamos alguém, o fato de nomear os sentimentos faz com que estes
variem, já que mantêm certa relação com nossos pensamentos.

Dentre os problemas que justificam o baixo rendimento escolar encontra-se


o Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), o qual é considerado,
atualmente, um dos transtornos psíquicos infantis mais estudados.
A sintomatologia principal é a desatenção, hiperatividade e impulsividade da
criança. Estudos indicam que a prevalência do Déficit de Atenção e
Hiperatividad está entre 3% e 5% em crianças em idade escolar e costuma ser mais
comum em meninos do que em meninas. Em adolescentes de 12 a 14 anos, pode
ser encontrada numa prevalência de 5,8%.
A característica essencial do TDAH é um padrão persistente de desatenção,
hiperatividade e alguns sintomas hiperativo-impulsivos que causam prejuízo no
funcionamento familiar, social, acadêmico ou ocupacional do paciente. A desatenção
pode tanto se manifestar em situações escolares quanto sociais. As crianças com
este transtorno podem não prestar muita atenção a detalhes e podem cometer erros
grosseiros por falta de cuidado nos trabalhos escolares ou em outras tarefas.
Outro quadro relacionado à dificuldade no processamento da informação é
a dislexia. A dislexia é um distúrbio específico da linguagem caracterizado pela
dificuldade em decodificar (compreender) palavras. Segundo a definição elaborada

ACAT – Av. Brasil, 333 Edifício Delta, apto. 503 – Balneário Camboriu/SC
acatarteterapia.blogspot.com.br
30

pela Associação Brasileira de Dislexia, trata-se de uma insuficiência do processo


fonoaudiólogo e inclui-se frequentemente entre os problemas de leitura e aquisição
da capacidade de escrever e soletrar. Resumidamente pode-se entender
a Dislexia como uma alteração de leitura.
Apesar de a criança disléxica ter dificuldade em decodificar certas letras, não
o faz devido a algum problema de déficit cognitivo, como ocorre na Deficiência
Mental, mas sim de uma alteração cognitiva. Normalmente esses pacientes
apresentam um QI perfeitamente compatível com a idade.

Estudos de casos
Caso 1
Menina denominada de “V”, de 12 anos, residente na cidade de Canoinhas-
SC, a qual já vinha recebendo acompanhamento neurológico e psicopedagógico no
CENEP há dois anos.
Em seu laudo de início de atendimento neurológico registravam-se as
características de somatização com dores nas pernas, onifagia e ansiedade
generalizada, com prescrição do uso do medicamento sertralina 60 mg uma vez ao
dia.
Em seu laudo de atendimento psicopedagógico constava que “V” cursava o
sexto ano do Ensino Fundamental II e apresentava disgrafia, déficit de atenção e
baixo rendimento escolar. Percebeu-se influência de fatores de ordem emocional
influenciando no seu processo de aprendizagem.
Ao iniciar o acompanhamento arteterapêutico, foram observadas as situações
de sobrepeso, autoestima comprometida, desânimo com relação à aprendizagem
gerando baixo rendimento escolar. A situação emocional de “V” encontrava-se
abalada em função da morte de sua irmã mais velha de 17anos, ocorrida há um ano,
em razão de distrofia genética. Após este fato, “V” começou a sentir medo quanto a
acidentes com familiares, aumentou sua sensação de apetite, mordia roupas e
móveis. “V” tinha ainda dois outros irmãos mais velhos de 19 e 29 anos.

ACAT – Av. Brasil, 333 Edifício Delta, apto. 503 – Balneário Camboriu/SC
acatarteterapia.blogspot.com.br
31

Técnicas utilizadas e sequência de intervenções:


Considerando a situação, iniciou-se o processo arteterapêutico no mês de
março do ano de 2013, o qual teve como duração nove meses, encerrando este
acompanhamento no mês de dezembro do mesmo ano.
Visando sua estrutura emocional e a elevação de sua autoestima, realizaram-
se práticas artísticas que propiciaram sua autopercepção.
Na primeira sessão, “V” apresentou-se muito falante, centralizando para si a
atenção das demais crianças que participavam de seu grupo de sessões. Foi
proposto que realizasse uma composição em mandala circular com o tema: “Eu e
minha Família”. “V” escolheu técnica mista utilizando desenho, recorte e colagem,
retratou a si própria com aparência destacada dentre as imagens, destacando
também a figura do pai, da mãe, dos irmãos, de um carro novo e de uma casa em
tamanho grande. Na sessão seguinte, realizou seu crachá de identificação composto
pela escrita de seu nome e de uma ilustração utilizando desenho ou recorte e
colagem correspondente àquilo que mais apreciava no momento. “V” então elaborou
seu crachá demonstrando ansiedade com pressa de terminá-lo, além de comentar
intermitentemente sobre assuntos diversificados e sobre suas dúvidas quanto ao
que lhe agradava ou desagradava. Percebeu-se que havia interesse em retratar
imagens representando dinheiro e usufruto de todos os benefícios propiciados por
ele em seu cotidiano.
Na sequência de sessões, foi explorado o tema “Minhas Preferências”. Nesta
proposta utilizou-se caixa de papelão para montagem da “caixa mágica dos
desejos”, com objetivo de se recortar imagens representando suas preferências e
guardá-las no interior da sua caixa dos desejos. Dentre os recortes estavam
imagens de guloseimas, lugares turísticos com praias e animais domésticos. Na
próxima sessão, “V” vivenciou atividade em grupo com improviso de história em
forma de texto coletivo ilustrado. Em continuidade, foram realizadas atividades de
mandalas em folha A4, em prato de papelão e construção livre com palitos. “V”
marcou em cada palito as palavras: animais, sabedoria, maravilhas, paz, pais,
beleza, Jesus, Deus, felicidade, amor, família, união e harmonia. A partir da sexta

ACAT – Av. Brasil, 333 Edifício Delta, apto. 503 – Balneário Camboriu/SC
acatarteterapia.blogspot.com.br
32

sessão, percebeu-se uma desaceleração quanto à sua ansiedade, tornando-se mais


silenciosa e envolvida em seu fazer expressivo.
Neste período de dois meses de acompanhamento arteterapêutico, já se
podia perceber uma leve mudança de comportamento menos ansioso e um maior
cuidado com sua aparência. Deixou de enfatizar demasiadamente o desejo de
possuir coisas. Na continuidade das propostas, trabalhou-se o tema “Eu e meus
Superpoderes” quando confeccionou e pintou uma máscara em papel-cartão com
intensidade de cor nos olhos e na boca. Ao finalizar a máscara, escreveu no seu
lado interno os desejos: “Ajudar ao próximo e Viajar de helicóptero”. Durante estes
dois meses de sessões, “V” comentou sem detalhes por duas vezes, que tinha uma
irmã a qual havia falecido por causa de uma doença nos ossos.
Seguindo o plano de se trabalhar a autoestima e estruturação emocional,
abordou-se o tema “Minha Vida”. Neste tema foram realizadas atividades de
preenchimento no decorrer das três sessões seguintes com materiais de colagem
com pedras e areia colorida em disco de vinil e CD, mandalas de papelão, pintura
em moldes vazados criando histórias com as figuras dos moldes. Neste momento,
“V” já completava cinco meses de sessões arteterapêuticas, vindo a demonstrar um
maior interesse aos estudos e sinalizando melhoras nas questões de disgrafia e
déficit de atenção.
Na proposta com o tema “Eu me Completo”, desenvolvida em duas sessões
seguidas, fez seu contorno em papel kraft, iniciando o preenchimento pelos olhos,
nariz e a boca, pintada de vermelho intenso. Desaprovou a cor da boca e desenhou-
se num minivestido com a imagem de uma guitarra como estampa. Na finalização
desta atividade, “V” recortou e colou uma gargantilha no pescoço, realçou a pintura
dos olhos e colocou uma “tornozeleira” como acessório. Disse que não mudaria
nada em seu desenho, apenas a boca, achando que havia ficado muito exagerada.
Nas próximas três sessões, focou mais especificamente a estrutura emocional, com
modelagem e plastilina, quebra-cabeças e jogo da memória. Durante estas sessões,
“V” comentou que havia melhorado sua criatividade, sentia que estava mais
concentrada e que “abriu novas portas” desde o começo da Arteterapia até aquele
momento.

ACAT – Av. Brasil, 333 Edifício Delta, apto. 503 – Balneário Camboriu/SC
acatarteterapia.blogspot.com.br
33

Já se completava então, seis meses de acompanhamento efetivo. Com a


proximidade do Natal, “V” compôs em argila uma família de bonecos de neve,
representando uma família de pai, mãe e filha. Na sessão seguinte desenhou com
giz de cera em papel camurça azul, representando uma ponte marrom sobre um rio
azul e sobre esta, seis pássaros voando. Em função dessa composição, foi
elaborado um pequeno estudo sobre seus símbolos. De acordo com Nicole Bèdard
(1998) e utilizando o Dicionário de Símbolos Chevalier (1990) de onde foram
pesquisadas as informações, tivemos o seguinte resultado de simbologia: a cor azul
do papel camurça escolhido e a pintura azul do rio representavam a paz, harmonia,
tranquilidade, desejo de caminhar respeitando seu próprio ritmo; o marrom
representando o elemento terra, com estabilidade, estrutura e planificação; os
elementos pássaros, simbolizando leveza, liberação e, por fim, a água
representando vida, força, pureza, sucessão de desejos e sentimentos. Era visível
neste momento a modificação quanto ao seu quadro de superação da ansiedade e
aumento da autoestima, uma vez que “V” também estava realizando dieta
monitorada por nutricionista e havia emagrecido em torno de 12 quilos. Começou a
frequentar as sessões com unhas mais compridas e em certas vezes pintadas, não
apresentando mais os sintomas de onifagia. Também estava mais cuidadosa na
vestimenta e muito mais risonha.
Nas próximas oito últimas sessões, trabalharam-se técnicas com desenho
livre e pintura com lápis cera, lápis de cor aquarelável e modelagem com material
plástico conhecido como “amoeba”. Constantemente tranquila e centrada nas
atividades de produção, “V” também apresentava melhoras na coordenação motora
e na organização das etapas de construção com materiais de sucata. Com a
proximidade das comemorações natalinas, foi proposto que ela compusesse bolas
de isopor decoradas com lantejoulas. Segundo “V”, a mesma achou divertido fazer e
comentou ao final da sessão: “Agora está engraçada, porque está colorida e mais
elegante!”. Na próxima sessão, realizou o contorno de seus pés, numa referência de
que são os pés que nos permitem caminhar nas trilhas que nós mesmos
escolhemos. Então, “V” elaborou o contorno de seus pés representados em paralelo
numa folha A3 colorida de alaranjado. Desenhou num dos pés uma figura feminina

ACAT – Av. Brasil, 333 Edifício Delta, apto. 503 – Balneário Camboriu/SC
acatarteterapia.blogspot.com.br
34

com boca vermelha e adornos no pescoço, além de olhos bem trabalhados com
pintura. No outro pé, desenhou marcas sinuosas nas cores verde e preta.
Na última sessão arteterapêutica do ano a proposta de atividade foi baseada
no tema “Desejos para 2014”. “V” então desenhou uma nave espacial com muitos
recortes de figuras de pessoas retiradas de revistas, carros, um navio e várias
mulheres vestidas de sambistas de escolas de samba. Completou a sessão
comentando que gostaria de muita alegria e diversão, além de poder viajar no ano
de 2014.
Em sua última sessão no acompanhamento psicopedagógico, foi proposto
que “V” comentasse escrevendo sobre sua experiência em seus acompanhamentos.
Assim, “V” escreveu um pequeno texto onde relata a importância destes
acompanhamentos em seu momento de vida, agradecendo às profissionais que a
atenderam e finalizou a atividade ilustrando com desenho as duas etapas de sua
vida, antes e depois da Arteterapia. Na primeira etapa antes do processo
arteterapêutico, ilustrou uma árvore seca com folhas caindo ao chão, linhas
representando o vento e a própria “V” em pé ao lado de um banco de jardim, com
expressão de tristeza no rosto. Não coloriu este desenho e escreveu a frase “Sem
Arteterapia, só no mundo”. No outro desenho, representando a etapa onde já
participava do acompanhamento arteterapêutico, “V” retratou o mesmo desenho,
agora totalmente colorido. A árvore estava copada e repleta de frutos, sem folhas
secas caindo ao chão, e sim os frutos da árvore. Sem representação do vento,
contendo pássaros voando e a ela mesma ao lado do mesmo banco, colocado sobre
ele um aparelho de som e “V” com expressão de alegria com a escrita da frase:
“Com a Arteterapia”. Esta representação espontânea foi extremamente significativa
como mostra de sua melhora quanto ao seu equilíbrio emocional e de como sua
experiência vivenciada no processo arteterapêutico foi marcante positivamente em
sua vida.

Caso 2:
O presente caso é de um menino com idade de 10 anos, neste artigo
denominado de “E”, residente na cidade de Colombo, região metropolitana de

ACAT – Av. Brasil, 333 Edifício Delta, apto. 503 – Balneário Camboriu/SC
acatarteterapia.blogspot.com.br
35

Curitiba. O menor em questão sofreu transplante de medula óssea no ano de 2007


com idade de 4 anos e 9 meses e teve como doador seu irmão mais velho, na
época, com 16 anos. “E” recebeu tratamento quimioterápico até 2008.
Iniciou seu tratamento no CENEP no ano de 2009. Em seu laudo inicial
apresentado pelo setor de Neurologia constou Transtorno de Déficit de Atenção e
Hiperatividade (TDAH), dislexia e hipertireoidismo, com uso do medicamento Puran
T4 na dosagem de 25mcg.
No laudo inicial da Psicopedagogia no ano de 2013, constou “E” com
características de comportamento agitado, distraído, com falta de concentração,
dificuldade na coordenação motora, lentidão na escrita, além de desmotivação,
resistência para aprender e baixa produtividade escolar. Não reconhecia o alfabeto,
tinha dificuldade de memorização de sílabas e não lia. Na matemática, “E”
conseguia elaborar contagem dos números até 40. No ano de 2013, “E” cursava o
segundo ano do ensino fundamental, reprovado nesta série por três vezes
consecutivas.
No diagnóstico inicial de Arteterapia foram constatados timidez acentuada,
dificuldade na expressividade, dificuldade na coordenação motora, sem
comunicação com os integrantes do seu grupo de atividade arteterapêutica. “E” era
uma criança introspectiva sem reações quando perguntado sobre algo ou situação
que lhe dizia respeito. “E” não demonstrava interesse ou envolvimento com qualquer
atividade proposta.

Técnicas utilizadas e sequência de intervenções:


Considerando a situação, iniciou-se o processo arteterapêutico no mês de
março do ano de 2013, o qual teve duração de oito meses não consecutivos,
ausentando-se das sessões por razões que variaram em função de controle de
exames, férias e tratamento de pneumonia. O acompanhamento arteterapêutico
encerrou-se no mês de junho de 2014.
Visando sua estrutura emocional e a elevação de sua autoestima, realizaram-
se práticas artísticas que propiciaram sua autopercepção e sociabilização.

ACAT – Av. Brasil, 333 Edifício Delta, apto. 503 – Balneário Camboriu/SC
acatarteterapia.blogspot.com.br
36

Na primeira sessão arteterapêutica, “E” demonstrou ser extremamente tímido,


com dificuldade ou desmotivação para falar. Foi proposta a técnica de recorte e
colagem e/ou desenho para que elaborasse seu crachá de identificação constando
seu nome e uma ilustração representando algo que lhe agradasse. Escreveu seu
nome e preferiu recorte e colagem com figura de uma bola e um sorvete fatiado.
Apresentou muita dificuldade em recortar e em nenhum momento tentou desenhar
algo. Seu único comentário quando perguntado sobre seu trabalho foi que gostava
de jogar bola e comer pizza. Apresentou-se satisfeito quando convidado a retornar
para a próxima sessão. Na segunda sessão, foi trabalhado o tema “Eu e minha
Família”, utilizando-se somente recorte e colagem para que se compusesse uma
mandala circular em folha de papel sulfite A4. “E” apresentou-se muito quieto, sem
comentários, procurando por longo tempo figuras que representassem seus pais e a
ele mesmo. Realizou a colagem na parte central do círculo com imagens referentes
à proposta. Juntamente com estas figuras “E” também colou a figura de um chef de
cozinha e um cachorro.
Na próxima sessão o tema proposto “Eu e minhas Preferências” foi oferecido
como material estruturante a massinha de plastilina. Representou apena imagens de
alimentos como pizza, pepino e feijão. Na sequência, com o tema “Composição da
Caixa Mágica”, “E” precisou recortar e colar figuras que representassem seus
desejos. Novamente recortou imagens de alimentos variados.
Quando realizou a atividade livre com palitos, na quinta sessão, “E”
demonstrou mais interesse em compor com os palitos utilizando o chão para sua
construção onde representou uma grande estrada. Então, pela primeira vez
comentou espontaneamente que a sua construção representava uma “firma de
construção de madeiras”. Houve o primeiro intervalo de ausência das sessões
durante o mês de maio, em função de uma série de exames de acompanhamento
quanto à cirurgia do transplante de medula óssea e hipertireoidismo.
“E” retorna participando da sessão no mês de junho com o tema “Eu sou um
Super-herói”, com técnica de desenho em sulfite A3. Pela primeira vez, “E” esboçou
um sorriso ao ouvir a proposta temática. Desenhou-se com os braços abertos na cor
verde na parte inferior da folha. No lado esquerdo deste desenho, desenhou outro

ACAT – Av. Brasil, 333 Edifício Delta, apto. 503 – Balneário Camboriu/SC
acatarteterapia.blogspot.com.br
37

personagem em vermelho, disse que era seu irmão mais velho, marcou com um
círculo preenchido de preto na região equivalente ao umbigo neste personagem
como sendo o local dos seus super poderes. Na parte de cima da folha pintou a
folha de ponta a ponta um céu na cor preta, disse novamente de forma espontânea
que representava chuva com tempestade.
Além desses personagens, ainda desenhou outro boneco em estilo palito
pintado de verde ao lado esquerdo da folha. Ao redor deste personagem havia
muitas marcas vermelhas representando sangue, porque este boneco havia sido
abatido por outro boneco ainda desenhado perto deste e pintado de vermelho. “E”
comentou que o boneco de vermelho era o “homem de ferro” que eliminou o boneco
de palito verde porque este verde “era do mal”. Ainda com a mesma temática, na
sessão seguinte, realizou-se em papel sulfite A4, numa mandala circular dividida em
quatro partes, o desenho de si mesmo novamente pintado de verde com um círculo
preto na região do umbigo. Na finalização desta atividade, “E” desenha um prédio
“pegando fogo” dizendo ter gostado disso. Nesta sessão, “E” está
surpreendentemente mais falante e interativo com o grupo.
Na sequência, com o tema “Máscara dos Super poderes”, foi proposto o
manuseio de materiais como máscara industrializada em papel machê, giz de cera,
papéis coloridos de diversas texturas aplicando técnicas de desenho, pintura, recorte
e colagem. “E” iniciou desenhando o nariz da máscara em vermelho. Então, pela
primeira vez, foi espontâneo ao colocar a máscara e imitou uma voz sendo a voz de
um personagem. Em seguida, pintou com intensidade a região da testa da máscara,
dizendo que seu poder era o de “apagar o fogo”.
Na próxima sessão, foi proposto o preenchimento com areia colorida de uma
mandala previamente desenhada. “E”, nesta atividade, preencheu parte de sua
mandala e demonstrou estar mais decidido nas escolhas das cores e em como
preencher os espaços. Algumas atividades não puderam ser finalizadas
integralmente em função do tempo da sessão.
Mais uma vez houve ausência de “E” nas sessões do mês de julho, desta vez
por motivo de férias. Na sessão de seu retorno no mês de agosto, foi apresentado o
tema “Eu e meu Mundo”. Atividade proposta em prato de papelão com desenho em

ACAT – Av. Brasil, 333 Edifício Delta, apto. 503 – Balneário Camboriu/SC
acatarteterapia.blogspot.com.br
38

lápis de cor, canetinha hidrocor e giz de cera. “E” desenhou um círculo no centro do
prato em preto. Dentro deste, se retratou numa figura muito pequena na base inferior
do círculo. Desenhou vários pontilhados saindo deste círculo e pela primeira vez
escreveu de forma espontânea as palavras bola, bicicleta e videogame ao redor do
círculo. Disse que “soltou a pipa no mundo” referindo-se aos pontilhados coloridos
da composição.
Na sequência, realizou-se a atividade do contorno do próprio corpo. Esta
atividade foi elaborada com auxílio da arteterapeuta em folha de papel kraft, usando-
se giz de cera, figuras de revista, cola líquida, tesoura e canetinha hidrocor. “E”
desenhou em seu contorno pequenos dedos nas mãos, desenhou grandes olhos
abertos com grandes cílios. A boca também foi desenhada em tamanho grande, com
representações dos dentes. O corpo foi dividido ao meio e foi preenchido com
recortes colados sobrepostos sempre representando imagens de alimentos. É
importante ressaltar que nesta sessão em especial “E” está falante e até assoviou
por diversas vezes no decorrer da atividade, além de ter estado concentrado e ter
dito que gostou muito de “fazer ele mesmo”.
Na continuidade das sessões, “E”, ainda no mês de setembro, apresentou-se
falante durante todas as sessões. Já estava bem mais concentrado e tranquilo na
elaboração das atividades, em especial quando utilizou a argila como material
proposto. Além disso, pediu para utilizar palitos de diferentes tamanhos e
espessuras para ajudar em sua modelagem em argila. Representou uma cabeça
com boca, dentes, dois olhos e vários palitos quebrados como se fossem os cabelos
da cabeça modelada. Na sessão seguinte, “E” pintou sua modelagem em argila
apresentando-se envolvido e satisfeito em estar trabalhando a atividade. Comentou
alegremente sobre a mudança de cores na água ao limpar o pincel nos intervalos de
troca de cores das tintas. No final desta sessão, a mãe de “E” comentou com a
arteterapeuta o quanto “E” gostava das sessões de Arteterapia e que sentia muita
falta das mesmas quando necessitava ausentar-se.
Continuando alegre e participativo, “E” realizou a atividade do jogo da
memória, quando conseguiu com rapidez surpreendente formar 16 pares de um total
de 20 pares do jogo na primeira etapa, num tempo aproximado de 10 minutos. Na

ACAT – Av. Brasil, 333 Edifício Delta, apto. 503 – Balneário Camboriu/SC
acatarteterapia.blogspot.com.br
39

segunda etapa, ele formou 8 pares. Este momento foi compartilhado com “E”
juntamente com outro participante do grupo, ambos com a mesma idade. Observou-
se que “E” demonstrava expectativa em juntar os pares, porém, com sua ansiedade
bem controlada. Nesta sessão, ficou evidente a sua melhora quanto aos quadros de
estrutura emocional e autoestima. Na sequência de atividades de jogos na próxima
sessão, “E” participou do jogo de quebra-cabeças, onde se apresentou lento com
certa dificuldade no encaixe das peças no decorrer da montagem.
Ausentou-se no mês de outubro por motivo de tratamento de pneumonia. Em
novembro retomou as sessões. Apresentou-se no início um pouco mais silencioso
que nas sessões anteriores. Trabalhou modelagem com material chamado de
“amoeba”. Brincou de esticar o material e observou por longo tempo a transparência
apresentada como resultado do manuseio. Brincou de fazer ruídos com o material
sendo colocado no pote da embalagem e se divertiu rindo com o som que conseguia
produzir ao fazer isso. No final desta sessão, “E” assoviou e brincou falando coisas
engraçadas para o grupo sobre a atividade. Sendo assim, já se apresentou mais
solto e comunicativo.
Na sequência de sessões trabalhou-se composição criativa com bolas de
isopor, lantejoulas e alfinetes de cabeça. Nestas sessões “E” criou mosaicos com
recorte e colagem em material E.V.A. Pareceu sempre muito interessado em todas
as atividades. Evidenciou melhora na coordenação motora no recorte e na
montagem das peças.
No mês de dezembro, em função das férias, “E” realizou apenas uma sessão,
que teve como tema “Quadro dos Desejos para 2014”. Então, recortou e colou
diversas imagens de revistas que representavam personagens da “Disney” e de
pessoas pertencendo a torcidas de futebol em gestos de vibração com seu time.
Apresentou-se determinado e concentrado em sua atividade. Demonstrou grande
avanço na melhora de sua coordenação motora, concentração e expressividade.
Conversou e trocou ideias e recortes de figuras de revistas com seus colegas de
grupo. Não se percebia mais sentimento de tristeza em sua fisionomia. Encerrou as
sessões do ano de 2013 demonstrando maior autonomia em seu fazer expressivo,

ACAT – Av. Brasil, 333 Edifício Delta, apto. 503 – Balneário Camboriu/SC
acatarteterapia.blogspot.com.br
40

melhora em sua sociabilização com o grupo, além de maior concentração no


decorrer das atividades.
“E” retorna no mês de fevereiro onde participa de duas sessões, ambas com
técnicas de recorte e colagem com materiais diversificados e de livre escolha.
Aparentou estabilidade quanto às características positivas apresentadas no final de
2013.
Ausentou-se durante o mês de março por motivos de internamento para
realização de exames gerais. Voltou no mês de abril, quando realizou atividades em
mandala com técnicas de giz de cera derretido e tear em prato de papelão com lã
colorida. Nesta atividade de tear foi narrada a história da Bela Adormecida. “E”
conseguiu assimilar bem a história e até recontou-a para o grupo. Apresentou-se
conversador, animado e bem disposto.
A partir do mês de maio percebeu-se pelos setores de Psicopedagogia e
Arteterapia, a condição do processo de alta de “E” quanto a estes atendimentos.
Assim, as sessões passaram a ser realizadas quinzenalmente em ambos
acompanhamentos.
Ainda no mês de maio foram realizadas duas sessões arteterapêuticas
envolvendo propostas artísticas de escultura em sabonete e a técnica de desenho
“amassado” em papel sulfite A4. “E” desenhou na folha sulfite, coloriu seu desenho e
depois o amassou com força. Após, abriu seu desenho amassado percebendo como
resultado o efeito tridimensional do que havia desenhado. Comentou ter gostado de
ver o resultado e que o mesmo havia ficado “legal” e que não havia “estragado o
desenho”.
Em sua sessão realizada no mês de junho foi proposto o tema “O Mundo na
Palma de minha Mão”. Foi quando “E” desenhou sua mão em tamanho gigante em
papel Canson A3 e preencheu-a com recorte e colagem de figuras representando
uma cena de velório do cantor “Chorão”. “E” não se impressionou com a figura e
falou que gostava do cantor. Em outras colagens na sua mão colou óculos escuros e
disse que “os óculos protegiam e deixavam as pessoas verem melhor as coisas” e,
por fim, uma figura de sorvete e falou que “sorvete alimentava de um jeito gostoso”.
No término desta sessão, “E” comentou que estava animado para assistir a Copa do

ACAT – Av. Brasil, 333 Edifício Delta, apto. 503 – Balneário Camboriu/SC
acatarteterapia.blogspot.com.br
41

Mundo e que agora gostava de brincar de correr porque não se cansava mais e nem
tinha mais falta de ar. Terminou a sessão sorrindo e dando um abraço em seus
colegas de grupo. Atualmente “E” está cursando o terceiro ano do Ensino
Fundamental.

Resultados obtidos ao final dos acompanhamentos realizados – Caso 1:


Como resultado obtido, de acordo com o laudo da Neurologia, “V” recebeu
alta deste acompanhamento encontrando-se emocionalmente estável até o
momento, sem características de ansiedade nem onifagia. Continuou com o uso do
medicamento Fluoxetina 20mg em uma dose diária.
Segundo o parecer final do acompanhamento da Psicopedagogia, “V”
mostrou-se aos poucos mais segura, mais centrada e menos ansiosa, podendo
mesmo liderar o grupo. Começou a fazer autocorreção da maioria das suas trocas
ortográficas. Concomitantemente a estas evoluções, a escola enviou a este setor
relatórios constando um rendimento satisfatório, assim como a mãe relatou
mudanças positivas em seu comportamento no cotidiano. Ainda segundo este laudo,
foi visível e surpreendente a interferência positiva da Arteterapia neste caso.
Como resultado do processo arteterapêutico, observou-se estabilidade do
equilíbrio emocional de “V”, desaparecendo os sintomas de onifagia, nervosismo e
ansiedade. Finalizou este acompanhamento com melhora expressiva em seu
rendimento escolar, superando em parte sua dificuldade quanto à troca de letras.
Porém, ainda necessita de aulas de apoio escolar na disciplina de Matemática em
sua escola.

Resultados obtidos ao final dos acompanhamentos realizados – caso 2:


No laudo final de Arteterapia, percebeu-se alcançados os objetivos quanto à
melhora de sua autoestima e sociabilização, além do aspecto de aprendizagem
cognitiva. “E” finalizou este acompanhamento com demonstrações de superação da
timidez excessiva apresentada inicialmente.
Como resultado final do laudo da Neurologia, “E” encontra-se equilibrado
emocionalmente, sem traços de hiperatividade, com melhora acentuada em seu

ACAT – Av. Brasil, 333 Edifício Delta, apto. 503 – Balneário Camboriu/SC
acatarteterapia.blogspot.com.br
42

quadro de Déficit de Atenção. Porém, ainda mantém características de Dislexia e


Hipertireoidismo, continuando a fazer uso do medicamento Puran T4 na dose de
25mg.
De acordo com o laudo final do acompanhamento do setor de
Psicopedagogia, verificou-se melhora nas habilidades de linguagem e matemática:
fluência leitora, compreensão, escrita e raciocínio lógico-matemático. Vale ressaltar
ainda que juntamente a este avanço de aprendizagem, houve significativa melhora
quanto à autoestima, confiança, autonomia, atenção, memória e motivação para a
aprendizagem. Entretanto, recomenda-se que “E” mantenha na escola reforço
escolar diário, evitando defasagem em relação aos novos conteúdos trabalhados.

Conclusão:
Neste estudo a Arteterapia atuou como tratamento complementar, tendo
adquirido importante função no processo de estruturação emocional das crianças do
grupo de atendimento multidisciplinar citadas neste artigo.
Quanto aos aspectos considerados fundamentais especialmente no trâmite do
acompanhamento arteterapêutico, enfatizamos a questão do bloqueio emocional
apresentado pela clientela. Havia a preocupação maior em conduzir o processo
oferecendo materiais e técnicas artísticas, as quais contribuíssem de forma mais
objetiva a retomada da estruturação emocional. Acreditou-se que por meio desta
estruturação se pudesse alcançar um desbloqueio, abrindo caminhos para o
desenvolvimento cognitivo da aprendizagem escolar.
Desta forma, considerando a cognição como ato ou processo de aquisição de
conhecimento, resultando em aprendizagem, por meio da percepção, atenção,
imaginação, pensamento e linguagem, dentre outros, podemos assim afirmar que
encontramos estes mesmos canais pertencendo às práticas arteterapêuticas
aplicadas nos casos aqui apresentados.

Referências:
BALLONE, Geraldo José. Dificuldades de aprendizagem. Disponível em:
<http://www.psiqweb.med.br>.Acesso em: 18 jun. 2005.

ACAT – Av. Brasil, 333 Edifício Delta, apto. 503 – Balneário Camboriu/SC
acatarteterapia.blogspot.com.br
43

BÈDARD, Nicole. Como interpretar os desenhos das crianças. Quebec-Canadá:


Ísis, 1998.

CHEVALIER, Jean. Dicionário de símbolos. 3. ed. Rio de Janeiro: José Olympio,


1990.

DINIZ, Ligia. Mitos e arquétipos na arteterapia: os rituais para se alcançar o


inconsciente. Rio de Janeiro: Wak, 2010.

GARDNER, Howard. O verdadeiro, o belo e o bom: os princípios básicos para uma


nova educação. Rio de Janeiro: Objetiva, 1999.

LIDEMULTIMIDIA. Tratamento multidisciplinar e suas vantagens. Disponível em:


<http://www.paranashop.com.br/colunas/colunas_n.php?op=saude&id=22730>. Acesso em: 12
set. 2012.

MEDEIROS, Isabel. Cognição e aprendizagem. Disponível em:


<http://fonoaudiologiaisabel.wordpress.com/2011/03/.../cognicao-aprendizagem>.
Acesso em: 23 mar.2013.

OLIVIER, Lou de. Psicopedagogia e arteterapia: teoria e prática na aplicação em


clínicas e escolas. 3. ed. Rio de Janeiro: Wak, 2011.

PHILIPPINI, Angela. Linguagens e materiais expressivos em arteterapia: uso,


indicações e propriedades. Rio de Janeiro: Wak, 2009.

URRUTIGARAY, Maria Cristina. Arteterapia: a transformação pessoal pelas


imagens. 5. ed. Rio de Janeiro: Wak, 2011.

VYGOTSKY, Lev Semenovitch. Teoria e método em psicologia. São Paulo:


Martins Fontes, 1996.

WIKIPÉDIA. Cognição. Disponível em: <pt.wikipedia.org/wiki/Cognição>. Acesso


em: 14 jun.2014.

ACAT – Av. Brasil, 333 Edifício Delta, apto. 503 – Balneário Camboriu/SC
acatarteterapia.blogspot.com.br
44

Anexo A
Tabela 1:
Técnicas aplicadas e mudanças comportamentais observadas – ano 2013 – Caso 1 = “V” Caso 2 =
“E”
Técnicas Casos Abril Maio Agosto Setembro Outubro Novembro Dezembro
E - Fala
espontaneamente.
Recorte/Colagem V/E
Interativo c/ o
grupo.
Desenho Giz de
V/E
Cera
Desenho Lápis
V/E
de Cor
V – Superação
da ansiedade.
Aumento da
autoestima,
Desenho em sem sintomas
V/E
Papel Camurça de onifagia.
Mais risonha.
Emagreceu em
torno de 12
quilos.
V – Diminuição da
ansiedade. Mais
Construção foco e
Palitos de V/E envolvimento.
Madeira E – Comentários
sobre sua
produção.
Construção com
Caixas de V/E
Papelão
Mandalas com E – Escrita
Desenho e V/E espontânea
Pintura na atividade.
Mandalas em
E
Tear
V – Menos
ansiedade
e maior
cuidado
Máscaras em
V/E pessoal.
Papel
Diminui o
desejo de
possuir
coisas.
Texto Coletivo
V
com Improviso
E – Determinado e
concentrado. Melhora
na coordenação
motora. Conversa e
troca ideias com o
grupo. Sem fisionomia
Quadro dos de tristeza.
V/E
Desejos V – Sem traços de
ansiedade,
autoestima
equilibrada, melhora
no rendimento
escolar. Finaliza os
acompanhamentos.
Máscara
V/E
Industrializada
Mosaico em
E
E.V.A
Moldes Vazados V/E
V – Maior
interesse nos
estudos.
Colagem com
V/E Melhora da
Areia Colorida
Disgrafia e
Déficit de
atenção.

E – Falante e
assoviando
Contorno do
V/E na sessão.
Corpo em Kraft
Envolvido no
seu fazer.
Modelagem em V/E V – Comenta

ACAT – Av. Brasil, 333 Edifício Delta, apto. 503 – Balneário Camboriu/SC
acatarteterapia.blogspot.com.br
45

Plastilina melhorar sua


criatividade
percebe estar
mais
concentrada.
E – Bastante
Modelagem em falante. Mais
V/E
Argila tranquilo e
concentrado.
V – Tranquila
e centrada.
Melhora na
Composição com
V/E coordenação
Bolas de Isopor
motora e
organização
nas práticas.
Contorno dos Pés
V/E
em Sulfite
E – Alegre,
participativo.
Jogos de Melhora na
V/E
Memória autoestima e
na estrutura
emocional.
Jogos de Quebra-
V/E
Cabeças
E – Assovia e
brinca com o
grupo. Mais
Modelagem com solto e
V/E
Amoeba comunicativo.
Evolução na
coordenação
motora.
Escultura em
E
Sabonete
Desenho
E
Amassado
Desenho com
Preenchimento E
da Mão
Fonte: A autora (2014).

Anexo B
Tabela 2:
Técnicas aplicadas e mudanças comportamentais observadas - ano 2014 – Caso2 = “E”

Técnicas Abril Maio Junho

Mandalas em Conversador, animado, bem


Tear disposto.
Percebe-se condição de alta pelos
Desenho
setores de acompanhamento.
Amassado
Sessões quinzenais.
Comenta gostar de brincar e correr
Desenho com
porque não se cansa mais nem
Preenchimento da
sente falta de ar. Finalização dos
Mão
acompanhamentos.
Fonte: A autora (2014).

ACAT – Av. Brasil, 333 Edifício Delta, apto. 503 – Balneário Camboriu/SC
acatarteterapia.blogspot.com.br
46

Palestra 2:
A Arteterapia para o cuidado integral em saúde
Profª. Ms. Karla Simone da Silva Espindola (ACAT)

Resumo:
O presente artigo apresenta um estudo de caso, o qual foi o resultado de uma
pesquisa teórico-prática intitulada, A percepção da mulher mastectomizada sobre a
arteterapia no cuidado à saúde integral, que objetivava compreender a percepção da
mulher mastectomizada sobre a Arteterapia no cuidado à saúde integral.
Desenvolvida para a conclusão do curso de Mestrado em Saúde e Gestão do
Trabalho da UNIVALI. Ocorreu na Unidade de Saúde Familiar e Comunitária da
UNIVALI, em Itajaí/SC, dentro do Projeto Mãos de Vida, o qual visa humanizar o
atendimento de pessoas portadoras do câncer de mama, desenvolvendo práticas
integrativas, dentro de uma abordagem transdisciplinar. A pesquisa foi
fundamentada na fenomenologia existencialista em Frankl, na psicologia analítica
em Jung, na teoria da auto poiése em Maturana. As participantes da pesquisa eram
integrantes do projeto Mãos de Vida e foram escolhidas pelos prontuários médicos.
O caso AN foi uma das mulheres mastectomizadas que integrou a pesquisa,
participando das dez vivências de arteterapia, estruturadas dentro da metodologia
do Protocolo ArTCISaP (Arteterapia para o Cuidado Integral à Saúde de Pessoas
com câncer de mama). Uma Tecnologia Social desenvolvida a partir dos resultados
relevantes desse processo arteterapêutico, vivenciado pelas participantes da
pesquisa. O processo arteterapêutico de AN teve como resultado a elevação da
autoestima, o desenvolvimento de sua autoafirmação, autonomia e independência, o
despertar de sua sexualidade e vaidade feminina, o retorno ao convívio social,
desde o pessoal até ao trabalho, o resgate da vida sexual com seu marido e
companheiro, a aceitação da autoimagem, a compreensão e tranquilidade para
vivenciar as fases do tratamento, a tomada de consciência e o despertar para um
novo estilo de vida mais saudável, a partir da compreensão do seu sentido de estar
vivendo.

Palavras-chave: Arteterapia; mulher; mastectomia; cuidado; saúde.

Introdução:

ACAT – Av. Brasil, 333 Edifício Delta, apto. 503 – Balneário Camboriu/SC
acatarteterapia.blogspot.com.br
47

O presente artigo apresenta um estudo de caso, o qual foi o resultado de uma


pesquisa maior, realizada para obtenção do título de mestre, no curso de Mestrado
Profissional em Saúde e Gestão do Trabalho da UNIVALI.
A pesquisa foi qualitativa, teórico-prática, dentro de uma abordagem
fenomenológica e teve como nome, a percepção da mulher mastectomizada sobre a
arteterapia no cuidado integral à saúde; objetivando compreender a percepção da
mulher mastectomizada sobre a arteterapia no cuidado à saúde integral.
As participantes foram mulheres mastectomizadas, escolhidas pelos
prontuários médicos, da Unidade de Saúde Familiar e Comunitária da UNIVALI, em
Itajaí/SC, e integrantes do projeto de extensão Mãos de Vida desenvolvido nesta
mesma unidade de saúde.
O câncer de mama, cientificamente nomeado de carcinoma de mama, é a
neoplasia mais frequente na mulher brasileira e está entre as maiores causas de
mortalidade do mundo; representando 22% de novos casos diagnosticados no
Brasil. Ocorre por meio do desenvolvimento anormal das células das mamas,
multiplicando-se repetidamente, a tal ponto de formar um tumor maligno. Se
diagnosticado e tratado oportunamente o prognóstico pode ser relativamente bom.
(INCA, 2010).
O Ministério da Saúde disponibiliza, pelo Sistema Único de Saúde – SUS,
programas com serviços de prevenção precoce, vários tipos de diagnósticos e
tratamento do câncer de mama, como por exemplo, o Programa Nacional de
Controle do Câncer de Mama.
O tratamento envolve muitas abordagens, desde a cirurgia, quimioterapia,
radioterapia, hormonioterapia, mastectomia.
A mastectomia é uma intervenção cirúrgica de remoção de um ou de ambos
os seios, parcialmente ou completamente, geralmente para tratar o câncer de mama.
Segundo Ministério da Saúde, a mastectomia deve ser indicada para os tumores
iguais ou maiores que três centímetros. (BRASIL, 2004).
Logo, a mastectomia que mutila o corpo, altera a autoimagem da mulher, e,
dependendo das vivências e relações estabelecidas, consigo mesma, com sua vida,
sua sexualidade, família, amigos, equipe de saúde e etc., definirão as suas

ACAT – Av. Brasil, 333 Edifício Delta, apto. 503 – Balneário Camboriu/SC
acatarteterapia.blogspot.com.br
48

percepções e reações diante do desafio de conviver com sua nova imagem de corpo
mutilado. Segundo Wanderley (1994), muitas dessas mulheres relatam se achar
sexualmente repulsivas, outras têm episódios de ansiedade e depressão, medo de
rejeição, sentimento de inferioridade, vergonha do próprio corpo. Por isso, a
aquisição de habilidades de enfretamento, específicas para cada contexto, é
fundamental para a saúde integral da mulher mastectomizada.
A mutilação sofrida por elas é de uma parte do corpo, a mama, que simboliza
a feminilidade e a maternidade da mulher, e, por isso, para a maioria delas é um
processo muito doloroso e complexo.

O seio tem relação com o princípio feminino [...] O seio é sobretudo símbolo de
maternidade, de suavidade, de segurança, de recursos. Ligado à fecundidade e
ao leite – o primeiro alimento – é associado às imagens de intimidade, de
oferenda, de dádiva e de refúgio (CHEVALIER; GHEERBRANT, 2007, p. 809).

Pensando no princípio da integralidade, e, consequentemente, na saúde


integral dessas mulheres mastectomizadas é de extrema importância, que se leve
em consideração, não somente o biológico, mas também, os aspectos emocionais e
espirituais desse processo.
A Arteterapia, como prática terapêutica, que se utiliza das diversas linguagens
artísticas, para o desenvolvimento do autoconhecimento, pela compreensão de si
mesmo e de suas relações, é uma grande aliada na superação desses desafios.
Pois, ela tem por base fundamental, o cuidado integral em saúde.
As vivências arteterapêuticas promovem o autoconhecimento por meio da
criação artística e da reflexão crítica dos conteúdos simbólicos inconscientes, fluidos
nas linguagens artísticas trabalhadas. Essas vivências terapêuticas possibilitam
perceber significados e sentidos expressos simbolicamente nas representações
artísticas de cada pessoa, para si e para a sua vida. Contribuindo para a elevação
da autoestima e a autoafirmação, como também, para encontrar o sentido de estar
vivendo. Segundo Dittrich; Espindola; Koefender (2013), a Arteterapia como
processo terapêutico se utiliza de várias linguagens artísticas para atingir objetivos
terapêuticos, visando à saúde integral da pessoa.

ACAT – Av. Brasil, 333 Edifício Delta, apto. 503 – Balneário Camboriu/SC
acatarteterapia.blogspot.com.br
49

A saúde integral implica em vivências de descobertas e aprendizagens nos


processos de cuidado à saúde e de educação em saúde, na qual, a pessoa busca
bem-estar biopsicoespiritual, sociocultural e ambiental.
Consequentemente, por que a arteterapia concebe o ser humano em sua
tridimensionalidade, geralmente, consegue em suas práticas, resgatar a pessoa da
sua fragmentação e unilateralidade psíquica, a qual em muitos aspectos se
considera apenas a portadora de um corpo com um cérebro que lhe comanda.
Assim, a arteterapia proporciona vivências que contemplam, por meio do
fenômeno da criatividade, aspectos profundos e muitas vezes inconscientes de seu
ser. Conectando-o às suas multidimensões, capacitando-o para vivenciar seus
desafios cotidianos, descobrindo o seu sentido de viver.

Metodologia:
A pesquisa foi qualitativa, teórico-prática, ocorreu na Unidade de Saúde
Familiar e Comunitária da UNIVALI, em Itajaí/SC, dentro do Projeto Mãos de Vida
que visa humanizar o atendimento de pessoas portadoras do câncer de mama,
desenvolvendo práticas integrativas, dentro de uma abordagem transdisciplinar.
A pesquisa prática desenvolveu-se desde uma abordagem fenomenológica
existencialista em Frankl; com a psicologia analítica em Jung, para a leitura
hermenêutica-fenomenológica dos símbolos criados no processo arteterapêutico;
bem como, com a teoria da autopoiése em Maturana, para compreender o processo
de auto-organização das mulheres participantes nas vivências com a Arteterapia.
O processo arteterapêutico desenvolveu-se por meio de 10 oficinas de
arteterapia, com duas horas de duração e uma amostra de duas mulheres
mastectomizadas, com idades entre 30 e 55 anos. Ambas frequentadoras do projeto
de extensão suprecitado. Elas foram escolhidas pelos prontuários médicos daquela
unidade de saúde.
A metodologia da pesquisa resultou numa Tecnologia Social, com um
protocolo denominado ArTCISaP – Ateterapia no Cuidado Integral à Saúde de
Pessoas com câncer de mama, possibilitando o processo arteterapêutico desse

ACAT – Av. Brasil, 333 Edifício Delta, apto. 503 – Balneário Camboriu/SC
acatarteterapia.blogspot.com.br
50

estudo de caso, dinamizado por diversas linguagens artísticas como: música, dança,
contos de fadas, dramatização, pintura.

Fundamentação teoria:
Compreendendo o caso NA:
AN tinha 41 anos de idade, natural do Rio Grande do Sul, perdeu seus pais
em acidente de moto aos 22 anos de idade, tem um irmão mais velho e três mais
novos, todos morando no Rio Grande do Sul. AN reside em Itapema com seu
segundo marido, não tem filhos. Fazia pouco mais de um ano que fora diagnosticada
com o câncer de mama triplo-negativo. Fez mastectomia na mama direita e
tratamento com quimioterapia.
Atualmente, fazia fisioterapia na clínica da Univali e estava aguardando o
resultado da perícia para decidir, se voltava ao trabalho. Antes do tratamento do
câncer, trabalhava no setor administrativo de um posto de gasolina da cidade em
que residia.
“O patinho feio” foi o primeiro conto utilizado na oficina de arteterapia para
trabalhar o tema “quem sou eu?”
AN deixou claro em suas falas a tensão e a dualidade de seus sentimentos
em decorrência da experiência da mastectomia, com relação à curiosidade das
pessoas pela falta de sua mama direita, e, o seu sentimento dúbio entre não se
importar com tal atitude das pessoas, e, em se sentir agredida diante de tal fato. “O
certo é que aquilo de que o homem realmente precisa, não é de um estado isento de
toda e qualquer tensão, senão de uma certa tensão, uma sadia dose de tensão, -
aquela doseada tensão que lhe provocam no ser exigências e solicitações de um
sentido. “ (FRANKL, 2010, p. 105).
Essa dualidade expressou-se em suas falas e na sua pintura criada nessa
oficina, demonstrando tensão na aceitação de sua nova autoimagem, ou seja, seu
corpo sem a mama direita. Ora ela dizia que se aceitava assim, ora comentava
sobre a resistência em se olhar no espelho depois da mutilação.

ACAT – Av. Brasil, 333 Edifício Delta, apto. 503 – Balneário Camboriu/SC
acatarteterapia.blogspot.com.br
51

AN percebeu e sentiu a vida também em sua dualidade, com ciclos naturais


de tristezas e de alegrias, quando comentou sobre a mensagem do conto do
“Patinho feio”.
A significação do conto o “Patinho feio” poderia levá-la a refletir sobre suas
relações na família de origem, sua infância, dentre outros assuntos. No entanto,
suas percepções e significações sobre o conto, assim como o seu trabalho pictórico,
levaram-na à reflexão sobre as consequências de sua mastectomia, a aceitação de
sua autoimagem e o sentido profundo que tal fato desencadeou em sua vida.
AN estava vivendo um momento profundo de sua existência, na qual o “viver”
e o “morrer” caminhavam lado a lado com ela em seu processo de saúde doença.
Principalmente, depois de diagnosticada com o câncer de mama e da mastectomia;
cuja mama teve que ser sacrificada em troca de sua saúde como mulher e como
totalidade que é. Atingindo profundamente todas as suas dimensões e a conectando
com a dimensão mais profunda que é a espiritual.

O espiritual não é apenas uma dimensão própria do homem; ela é a dimensão


específica dele. Embora a dimensão espiritual represente a dimensão específica
do homem, não se trata, contudo, no que diz respeito a ela, da única dimensão
dele, dado que o homem é uma unidade e um todo corporal, psíquico e
espiritual. (FRANKL, 1995, p. 66).

Dessa forma, pôde refletir profundamente sobre seu antigo estilo de vida, em
que o seu ser mais profundo, não era considerado. Trabalhava muito e tinha um
ritmo automatizado e acelerado, como uma máquina programada. Subtraia de seu
cotidiano momentos de lazer, descanso, e, portanto, a alegria e o prazer de viver. O
espírito para Dittrich (2010, p. 83): “Su estructura es un campo de energia cuántica,
que permite una organización celular que se auto-crea. En ella existe una
organización vital-cognitiva que dinamiza todos los processos emocionales y
racionales inseparablemente”.
A organização autopoiética, segundo Maturana (1997), é o processo em que
os seres vivos se autoproduzem a si próprios de modo contínuo, numa rede de
interações dinâmicas, desde a organização bio-fisiológica, psicológica, sua
dimensão espiritual até o meio em que pertence. Justamente o fenômeno da

ACAT – Av. Brasil, 333 Edifício Delta, apto. 503 – Balneário Camboriu/SC
acatarteterapia.blogspot.com.br
52

autopoiése manifestou-se na vida de AN, desencadeando mudanças profundas em


sua vida, no enfrentamento do câncer.
Dessa forma, AN passou a buscar e dar sentido à sua vida de uma nova
maneira, percebendo sua responsabilidade existencial. Preenchendo o vazio
existencial que sentia, com a luta pela sua sobrevivência, e, por maior qualidade de
vida, para uma nova vida. “Sempre e em toda parte, a pessoa está colocada diante
da decisão de transformar a sua situação de mero sofrimento numa realização
interior de valores”. (FRANKL, 2006, p. 68).
O câncer de mama que resultou na mastectomia de sua mama direita
segundo AN é resultado da vida que levava em seu lugar de origem, trabalhando
mais do que deveria e se relacionando com um marido que lhe desrespeitava como
mulher e como esposa.
Assim, o processo arteterapêutico proporcionou vivências que desencadeou
por meio do fenômeno criativo, a raiva e a tristeza que AN guardava para si,
motivada desde o seu relacionamento com o primeiro marido até sua separação
matrimonial e sua intensa e doentia dedicação ao trabalho. Vivendo uma vida
fragmentada, em que não percebia suas necessidades psicológicas, espirituais e
nem corporais; com consequências nefastas em seu organismo, manifestadas no
câncer. Doença esta significada por ela como uma possibilidade que a vida lhe
ofereceu, para que enxergasse mais além, e, com maior profundidade sua própria
vida e sua maneira de viver.
Nesse período do processo arteterapêutico AN ainda se mostrava dependente
do marido para sair de casa, algo que foi sendo refletido e trabalhado.
Contudo, já se percebeu um avanço na independência de AN, da primeira
para a segunda oficina de Arteterapia. A raiva que ela sentia, em relação a sua
dependência, demonstrava que estava intrinsecamente em movimento para a
independência e autonomia. Com efeito, no decorrer das oficinas AN adquiriu essa
força e segurança para se tornar mais independente em seu ir e vir.
A dúvida e a incerteza faziam parte de sua existência, principalmente nesse
processo de saúde-doença que ela estava vivendo. Porém, percebeu-se que as
possibilidades informes que esse processo carrega tem grande chance de se

ACAT – Av. Brasil, 333 Edifício Delta, apto. 503 – Balneário Camboriu/SC
acatarteterapia.blogspot.com.br
53

concluir para o bem, pois seus sentimentos e emoções conflitantes, nada mais eram
que o início de uma mudança criativa em sua vida, fenômeno que foi se
desenrolando no decorrer de seu processo arteterapêutico e acredita-se que
ocorrerá ao longo de sua vida.
AN na terceira oficina de arteterapia já demonstrava alguns avanços, estava
alegre, mais feminina e vaidosa e ela mesma comentava essa mudança, a qual
também se manifestava em suas pinturas. Isso significava que o processo
arteterapêutico estava atingindo também seu objetivo de fazer aflorar a criatividade,
elevar sua autoestima, sua autoafirmação como mulher.
Outro aspecto importante dessa oficina a ser citado é que AN, naquela
semana, saiu sozinha, dirigindo o seu carro para a inauguração da loja de uma
amiga, afirmando que há dias atrás não iria sozinha e se privaria de prestigiar o
evento de uma querida amiga.
Além disso, comentou durante as vivências arteterapêuticas sobre sua
energia sexual, que estava despertando novamente. Contou que durante o
tratamento do câncer de mama, ela e seu companheiro criaram um vínculo forte de
cuidado, mas a atração sexual ficou enfraquecida entre os dois.
Percebia-se nos comentários e significações sobre suas vivências no
processo arteterapêutico, que AN já desejava um sentido maior para sua vida, ou
seja, re-significá-la nesse novo momento. Inclusive voltou a fazer seus artesanatos e
sentiu vontade de vendê-los. Algo realmente muito positivo nesse processo, o qual
se mostrava evoluindo a cada oficina. Também vale dizer que, a maioria de seus
artesanatos tem o tema “boneca”, que ela simbolizava como o sentido para viver.
Símbolo este pintado na nessa oficina. “A liberdade da vontade do ser humano é,
portanto, a liberdade “de” ser impulsionado “para” ser responsável, para ter
consciência”. (FRANKL, 2004, p.40).
O processo arteterapêutico entende o ser humano como um ser biológico e
psicológico, que em sua inteireza com sua base espiritual, possui a liberdade de dar
sentido à sua vida e a si mesmo. Fazendo suas escolhas de acordo com seu nível
de consciência. Porém, somente pela consciência se torna um ser responsável, e,

ACAT – Av. Brasil, 333 Edifício Delta, apto. 503 – Balneário Camboriu/SC
acatarteterapia.blogspot.com.br
54

por meio dela, sente a necessidade e vontade de dar sentido à sua vida, àquilo que
faz e ao mundo em que vive.
As oficinas de arteterapia proporcionaram momentos de reflexões para ela.
De tal maneira que o fenômeno criativo manifestado no processo, possibilitou o
desenvolvimento de sua consciência sobre si mesma. Desde suas percepções
sobre os seus trabalhos até o seu autoconhecimento, o qual ia conquistando pouco
a pouco. Dessa forma, AN tornou-se mais autêntica, mais útil, mais feliz e mais
consciente de suas responsabilidades e de sua “missão” na vida.
Na quarta oficina de arteterapia trabalhou-se o conto de Vasalisa e AN
conversava sobre o quanto o conto esteve em seu pensamento a semana inteira;
disse que a arteterapia estava melhorando sua autoestima e sua sexualidade.
Estava se sentindo mais feminina, mais vaidosa e pensando em sua relação com o
marido, desejando-o sexualmente, algo que há muito tempo estava adormecido.
Afirmou que antes da Arteterapia se sentia num casulo e que agora se sentia uma
nova mulher e completou dizendo:

Sou uma nova mulher, despertando para a vida cheia de cores, sons, aromas,
uma borboleta colorida que está rompendo o seu casulo. Com a arteterapia
estou evoluindo meu lado feminino que estava adormecido. Cozinhando pratos
diferentes, pintei algumas paredes do apartamento para me sentir melhor em
minha casa, expus a minha porcelana e pintei meu armário de branco. Me sinto
em casa. (sic)

A autotranscendência segundo Frankl (2004) é uma característica ontológica


fundamental do ser humano que o faz dirigir-se para além de si mesmo, para algo
diferente de si mesmo, para alguém ou alguma coisa que lhe traga um sentido a
realizar. Esquecendo-se de si mesmo, lançando-se para a concretude do mundo.
Entregando-se a uma causa ou até a uma pessoa a quem ame.
O fenômeno da transcendência estava participando das condições
existenciais-espirituais de AN. Afinal, mesmo diante da ameaça da morte pela
doença que estava tratando, conseguia viver mais intensamente a sua vida, do que
antes do diagnóstico do câncer. Buscando um sentido que realizasse a sua
responsabilidade de estar vivendo.

ACAT – Av. Brasil, 333 Edifício Delta, apto. 503 – Balneário Camboriu/SC
acatarteterapia.blogspot.com.br
55

Falava do câncer como uma forma de evolução, e, quando questionada sobre


como era possível acontecer esse processo evolutivo, AN afirmou: “Mudando a
nossa vida, observando melhor as coisas a nossa volta, deixando de ser máquinas.”
(sic).
Ficou muito nítida em sua afirmação acima, que ela estava tecendo uma visão
sistêmica de sua vida. Inclusive tudo indica que o fenômeno da autopoiése que AN
estava vivendo e fazendo em sua vida, e, em seu ser, implicava perceber e superar
as fragmentações entre o seu pensar e o seu agir. Considerando nesse processo os
outros ao seu redor, sua história de vida, seus novos objetivos. Ou seja, a vida em
suas várias dimensões e relações.
Durante o processo arteterapêutico demonstrava estar mais flexível às
mudanças, como também mais fortalecida. Saindo da inércia e da passividade do
“casulo”, como por várias vezes afirmou. Cogitando até em desenvolver uma
atividade fora de casa, além das criações de seus artesanatos.
AN percebeu que precisava transformar sua vida, e, que não adiantava ficar
parada, somente reclamando do que não estava bom. A “borboleta” precisava sair do
“casulo”. “Estou feliz em ter a possibilidade de um trabalho voluntário no
observatório social de Itapema, pois estava me sentindo fortalecida para exercer
outra atividade e marquei uma reunião para a próxima semana lá com eles.” (sic)
Ela já deu seu primeiro passo de encontro a realização concreta de seus
desejos, ou seja, da passividade à ação, da inércia ao movimento, do desejo à
realização; afirmando na quinta oficina de arteterapia, que iria aceitar a proposta de
fazer um trabalho voluntário. AN estava saindo do casulo.
Na segunda oficina de arteterapia ela mostrava certa dúvida na relação dela
com o atual marido, ela estava irritada e confusa com a situação que estava vivendo.
Achava que ele estava muito inativo e passivo, em casa jogando durante o dia, sem
se importar em fazer algo mais valoroso. Vale dizer que seu marido era proprietário
de fazendas, e, por isso, não necessita cumprir horários como um trabalhador
comum. Administrando suas fazendas à distância.
Constatou-se na sexta oficina o desejo dela em resgatar o marido, não
somente considerando o cuidado e a ajuda que ele dedicou a ela, mas também

ACAT – Av. Brasil, 333 Edifício Delta, apto. 503 – Balneário Camboriu/SC
acatarteterapia.blogspot.com.br
56

reconhecendo o amor entre os dois. Afirmou grande desejo em lutar pelo amor e
pelo relacionamento com ele. Resgatando-o como homem e não somente como um
companheiro amigo e cuidador.
As vivências feitas por meio das contações das histórias, reflexões,
dramatizações, danças, pinturas, o próprio contato com as cores, sons, aromas
sensações e percepções trabalhadas no processo arteterapêutico, acompanhadas
de suas significações e compreensões, favoreceram o desenvolvimento da
consciência em dar-lhes “sentido”. Pelo processo criativo despertou-se para o
“Criador”, o “Si-mesmo”, acessando sua base espiritual profunda de “ser”, dentro de
si e por si. Tudo isso resultou na transformação de AN para uma nova mulher, mais
criativa, mais feminina, mais madura e sensual.

Cada vez mais o homem moderno é acometido de uma sensação de falta de


sentido, que geralmente vem acompanhada de uma sensação de ‘vazio interior’,
aquilo que descrevi e denominei de ‘vazio existencial’. Manifesta-se
principalmente através de tédio e indiferença. Neste sentido, o tédio representa
uma perda de interesse pelo mundo, enquanto a indiferença significa uma falta
de iniciativa para melhorar ou modificar algo no mundo. (FRANKL, 2004, p. 78).

Outro aspecto a ser destacado, é a vontade que AN readquiriu durante o


processo arteterapêutico de tornar-se ativa sexualmente com seu marido, esse
desejo foi sendo sentido ao longo das oficinas, e, veio se materializando nas suas
expressões artísticas, principalmente, em seu autorretrato. Ela se representava mais
vaidosa e feminina, na imagem da quinta oficina em que pinta seu marido e ela nus,
um de frente para o outro, abraçados (representando também o aspecto sexual da
simbologia da serpente). AN comentava:

Estou me sentindo mais feminina, mais vaidosa e pensando em minha relação


com meu marido; já estou desejando ele sexualmente, algo que há muito tempo
estava adormecido em mim. Antes da arteterapia me sentia num casulo, e agora
me sinto uma nova mulher; uma AN nova despertando para a vida, cheia de
cores, sons, aromas, uma borboleta colorida que está rompendo o seu casulo.
Com a arteterapia estou evoluindo meu lado feminino que estava adormecido
(sic)

ACAT – Av. Brasil, 333 Edifício Delta, apto. 503 – Balneário Camboriu/SC
acatarteterapia.blogspot.com.br
57

Também aqui nesta sexta oficina quando afirmou “eu devo resgatar nós dois.
Estou indo fundo no sentimento para fazer este resgate.” (sic); ela estava se
referindo ao aspecto sexual do relacionamento, pois a cumplicidade e o
companheirismo já vinham ocorrendo entre os dois.
A mastectomia é a mutilação da mama, a qual representa a feminilidade,
como também a sensualidade feminina, uma parte da mulher extremamente
valorizada sexualmente e esteticamente nas sociedades em geral. Além disso, tem o
seu poder de nutrir a vida, por meio da amamentação. Logo, é natural que o
relacionamento sexual entre o casal sofresse algumas alterações, visto que a
maioria das mulheres se sente insegura nessa situação, e, seus companheiros,
muitas vezes, sentem-se despreparados diante dessa situação.
No caso de AN ficou clara a sua insegurança quando confessou seu medo de
ser abandonada pelo marido. Segue seu comentário feito na quinta oficina
anteriormente discutida: “Grande parte das mulheres pensa que serão abandonadas
depois que descobrem o câncer de mama.” (sic)
E continuou falando sobre o assunto: “Talvez pelo pouco tempo que
estávamos juntos. E no fim foi o contrário, ele foi meu cúmplice, ele inclusive raspou
o cabelo dele quando fiz a quimio.” (sic)
No início de seu comentário sobre a insegurança de ser mastectomizada falou
de uma forma geral, reportando-se ao sentimento da maioria das mulheres; por
último assume esse sentimento de insegurança, que sentiu quando teve que fazer a
retirada de sua mama direita.
Consequentemente, a arteterapia também contribuiu para que AN se sentisse
mais segura de sua sedução feminina, mesmo depois da retirada de uma das
mamas. Ela mostrava-se pronta para reconquistar e seduzir seu marido
sexualmente. Era uma nova mulher renascendo para a vida.
A arteterapia por proporcionar a escuta e a expressão criativa-simbólica, a
reflexão, significação e ressignificação desses processos subjetivos das mulheres
que são diagnosticadas com o câncer de mama, é uma grande aliada da medicina
no que diz respeito a um trabalho transdisciplinar no cuidado integral.

ACAT – Av. Brasil, 333 Edifício Delta, apto. 503 – Balneário Camboriu/SC
acatarteterapia.blogspot.com.br
58

Na sétima oficina AN pintou uma imagem em que ela estava dançando alegre
com um lenço. A alegria era expressa por seu largo sorriso e pela própria dança. AN
no começo do processo arteterapêutico comentou que ficou um pouco tímida em
movimentar o corpo, mas, aos poucos, no decorrer das várias oficinas de
arteterapia, foi se soltando, adquirindo mais flexibilidade em seus movimentos,
dentro de suas possibilidades corporais do momento.
A dança também auxiliou na evolução de sua autoestima feminina, no início
do processo seu corpo era mais rígido.

Esta expressão criativa, pelo movimento físico, esta linguagem não verbal é uma
metáfora, uma representação da dinâmica intra-psíquica da personalidade. [...].
Esta terapia proporciona ao indivíduo contato com níveis mais profundos do seu
próprio ser ao possibilitar a conscientização pelo movimento. (ANDRADE, 2000,
p.145).

Aos poucos AN foi adquirindo a consciência do próprio corpo, agora com o


seu lado esquerdo desproporcional ao lado direito, já que o lado direito sofreu a
mastectomia. Aprender a conviver e dar equilíbrio a esse novo corpo era essencial.
Depois ao longo das oficinas foi adquirindo maior segurança em seus
movimentos, ao ponto de realmente dançar com energia o ritmo das músicas
oferecidas. Conseguindo fazer a conexão entre o corpo biológico e suas outras
dimensões (psico-espirituais), dando um sentido aos movimentos propostos e
criando movimentos com significados mais profundos. Dentre eles o contato íntimo
com a energia feminina sexual. Fazendo com que despertasse para sua sexualidade
de uma forma mais segura, aceitando, controlando e conseguindo se utilizar desse
seu “novo corpo feminino”. Expressando sua beleza e sensualidade.
Segundo Andrade (2000), a dança é uma das formas de expressão mais
primitiva em que agregava o ser humano à sua comunidade e a si próprio, dentro
dessa integralidade ele se divertia, curava, rezava, trabalhava, comunicava e etc. É
visível no caso de AN a evolução desse processo da expressão da corporeidade, e,
a relação com o seu despertar feminino, por meio das linguagens artísticas
oferecidas durante as oficinas: desde a dramatização, a pintura, a dança, como
também outras formas de expressão.

ACAT – Av. Brasil, 333 Edifício Delta, apto. 503 – Balneário Camboriu/SC
acatarteterapia.blogspot.com.br
59

Os contos de fadas foram sendo trabalhados no decorrer das oficinas com a


dramatização e suas respectivas interpretações, compreendendo as suas
mensagens. Esse processo veio confirmando a eficácia dessa linguagem artística,
no autoconhecimento dessas mulheres, mais especificamente de AN.
Ela conseguiu vivencia os contos, relacionando-os com sua história de vida e
refletindo as possibilidades e as necessidades de mudanças. Permitindo o
aprofundamento de sentimentos e ideias, trazendo mais sentido e vontade em
concretizar esses “sentidos refletidos” durante as vivências. “Os papéis, através da
inversão do processo do jogo, sair do modo estático para o confronto e, nesse
processo, podem ser compreendidos em profundidade, dinamizados e renovados”.
(ROESE, 2007, p. 80).
No processo arteterapêutico o bibliodrama2 com os contos de fadas tornou
consciente o processo para AN, permitindo conhecer o seu lugar e o lugar do outro
na história da vida real, e, recriar novas situações e papeis com sentidos e
significados profundos na realidade em que vive. Além disso, os contos de fadas
possuem uma estrutura fácil de ser interpretada, pois seus enredos remontam
situações do cotidiano comum de qualquer ser humano. Suscitando tristeza, alegria,
desejos e etc., que desencadeiam compreensões e significados úteis para a
resolução de problemas, como também para a transformação de quem os vivenciou,
no caso AN.

As histórias conferem movimento à nossa vida interior, e isso tem importância


especial nos casos em que a vida interior está assustada, presa ou encurralada.
As histórias lubrificam as engrenagens, fazem correr a adrenalina, mostram-nos
a saída e, apesar das dificuldades, abrem para nós portas amplas em paredes
anteriormente fechadas, aberturas que nos levam à terra dos sonhos, que
conduzem ao amor e ao aprendizado, que nos devolvem à nossa verdadeira
vida [...]. (ESTÉS, 1994, p. 36).

Na oitava oficina AN pintou uma borboleta sobrevoando uma flor. A borboleta,


de certa forma, era a meta de AN nesse período, porque depois do diagnóstico do

2
É um processo de interpretação de textos sagrados ou literários, orais ou da vida cotidiana,
relacionais ou existenciais, privilegiando o grupo e/ou indivíduo como lugar de interpretação e
vivência desses textos; trabalhando corpo, alma, espírito, a criatividade e toda corporeidade.
(ROESE, 2007)

ACAT – Av. Brasil, 333 Edifício Delta, apto. 503 – Balneário Camboriu/SC
acatarteterapia.blogspot.com.br
60

câncer de mama e ainda no início do processo arteterapêutico, ela afirmava que


estava “saindo do casulo”. Na metade desse processo ela comentou que estava
eclodindo. Segue abaixo a sua fala a esse respeito:

A Arteterapia está melhorando minha autoestima e minha sexualidade. Estou me


sentindo mais feminina, mais vaidosa e pensando em minha relação com meu
marido; já estou desejando ele sexualmente, algo que há muito tempo estava
adormecido em mim. Antes da Arteterapia me sentia num casulo, e agora me
sinto uma nova mulher; uma AN nova despertando para a vida, cheia de
cores, sons, aromas, uma borboleta colorida que está rompendo o seu
casulo. Com a arteterapia estou evoluindo meu lado feminino que estava
adormecido. Cozinhando pratos diferentes, pintei algumas paredes do
apartamento para me sentir melhor em minha casa, expus a minha porcelana e
pintei meu armário de branco. Me senti em casa. (sic, grifos do autor)

Logo, percebeu-se a sua evolução no processo arteterapêutico. Ela


simbolicamente virou uma “borboleta”, pois conseguiu romper o casulo e ir à
inauguração da loja da amiga sem o marido, por exemplo. Também foi numa reunião
a fim de desenvolver uma nova atividade fora de casa. Voltou a fazer seus
artesanatos, enfim “voltando à vida”, com energia e alegria, tudo isso materializado
nessa imagem pictórica criada e nomeada por ela de “Evolução”.
AN demonstrou ter feito sua “escolha”, conforme a teoria existencialista de
Frankl (2004), pois, apesar da doença, estava organizando sua vida com coragem,
autenticidade e intuição. Respeitando seu ciclo feminino de “vida-morte-vida”, por
meio da criatividade que o processo arteterapêutico veio promovendo e
possibilitando. Afinal, as práticas e vivências com as linguagens artísticas utilizadas,
proporcionaram a integralidade de seu ser, influenciando sua base espiritual para
uma “orientação de sentido”, pelo fenômeno que aproxima o ser humano do Divino,
o fenômeno “criativo.
Na nona oficina foi trabalhado o conto O urso da meia lua e suscitou muitas
reflexões por parte de AN, reportando-a ao seu passado de convivência com o
primeiro marido. Essas reflexões sobre seu passado foram fundamentais para o
processo de autoconhecimento e ressignificação desses sentimentos e emoções,
acumuladas ao longo de sua história; que de certa forma, contribuíram para o seu
adoecimento. “A liberdade da vontade do ser humano é, portanto, a liberdade “de”

ACAT – Av. Brasil, 333 Edifício Delta, apto. 503 – Balneário Camboriu/SC
acatarteterapia.blogspot.com.br
61

ser impulsionado “para” ser responsável, para ter consciência”. (FRANKL, 2004,
p.40).
Portanto, refletir e ter consciência de si mesmo e de sua situação no mundo,
resignificando a sua própria história, o ser humano se libera de estagiar na dor, no
rancor, na raiva, na mágoa e em outros sentimentos que lhe fazem mal.
A partir dessa ressignificação ele adquiriu a ‘liberdade da vontade’, como
afirmava Frankl (1995), sendo responsável por si e por sua vida, deixando de ser
uma marionete na mão desses conteúdos inconscientes, abandonando a forma
impulsiva de reagir e agir.
Esses conteúdos inconscientes são energias psíquicas poderosas, destrutivas
quando apenas reprimidos e não conscientizados. O que Jung designou de
“sombra”. “A sombra não consiste apenas de omissões. Apresenta-se muitas vezes
como um ato impulsivo ou inadvertido.” (JUNG, 1977, p. 169).
Sendo assim, o fato de AN associar a vida dos personagens e o enredo do
conto à sua própria vida e história, revivendo-os indiretamente, permitiu a
conscientização dos mesmos, com novos significados. Porque sem a tensão intensa
do momento, conseguia perceber também novos sentidos, que se reverteram em
mais maturidade e autonomia, o que a beneficiaria em outras situações similares
que lhe desencadeiam esses mesmos sentimentos.

Eu ao saber do câncer vi que tinha que encarar e resolvi encarar com bom
humor, claro passei por sofrimentos fiquei no casulo, hoje estou bem, mas não
quero atropelar nada, me controlo. As pessoas percebem que já sou outra.
Quero ir devagar com meu relacionamento com JU (codinome de seu marido),
ele foi meu cúmplice, me deu muito carinho até agora cuidando de mim,
mas não devo nada pra ele, porque é uma troca, também faço bem pra ele.
Vamos viajar dia 29 de julho provavelmente para Argentina. Lá pra janeiro do
ano que vem vou fazer a reconstrução de minha mama e ao meu trabalho não
sei se volto depois da perícia, vai depender deles me aceitarem e de eu aceitar o
horário, ou se mudo de emprego. Já estou fazendo, ajudando a fazer algumas
impugnações naquele trabalho da ONG. (sic, grifos do autor)

Concluiu dizendo: “Jamais vou voltar a ser a “maquininha” de antes! Sou uma
nova mulher!” (sic, grifos do autor).

ACAT – Av. Brasil, 333 Edifício Delta, apto. 503 – Balneário Camboriu/SC
acatarteterapia.blogspot.com.br
62

As frases destacadas acima em negrito na fala de AN, confirmam a evolução


que ela fez em tão pouco tempo, como também, seu próprio reconhecimento nesse
processo de retorno à vida, inclusive à sua vida social.
As pessoas do seu convívio, segundo ela, já comentavam a sua mudança.
Quando ela falava da relação com o marido, se referia às trocas e não mais a
dívidas e cobranças como era no início do processo arteterapêutico. Comentou da
viagem que ela e o marido planejavam em fazer juntos, como uma segunda lua-de-
mel. Ela estava mais vaidosa, conseguindo resgatar a sua sedução de mulher,
planejando a reconstituição da sua mama mastectomizada para o início de 2014.
Também falou dos resultados de seu trabalho voluntário e afirmou que era uma nova
mulher.
Arteterapeuticamente AN saiu de seu casulo e virou uma exuberante
“borboleta” cheia de alegria e amor pela sua vida.
Na última oficina AN falou de maneira simbólica, fazendo relação com o conto
do Urso da Meia Lua trabalhado no processo arteterapêutico, sobre os resultados
que ela observara em si mesma participando das oficinas de Arteterapia: “É...
consegui fazer a escalada da montanha, hoje estou melhor que no passado”. (sic)
Além disso, ressaltou a importância da Arteterapia para o entendimento das
experiências e vivências de cada fase de sua vida, o que contribuiu para enxergar a
possibilidade de uma nova AN e de uma nova vida.

Considerações finais:
A Arteterapia para o caso AN possibilitou vivências de cuidado integral em
saúde pela criatividade e a busca de sentido em cada momento, em cada palavra,
nos movimentos e expressões corporais, nas imagens pictóricas, nas ideias,
intuições e percepções que essas vivências proporcionaram-na.
Assim, AN sentindo-se acolhida amorosamente, respeitada em seus
desabafos e reflexões, pôde entrar em contato íntimo consigo mesma e com suas
experiências de vida. Transformando-se num processo contínuo de evolução e
crescimento. Aceitando sua nova imagem mutilada. Contudo, resgatando a sua
beleza e sensualidade feminina. Tornando-se mais vaidosa, mas, primando por sua

ACAT – Av. Brasil, 333 Edifício Delta, apto. 503 – Balneário Camboriu/SC
acatarteterapia.blogspot.com.br
63

saúde. Cuidando da alimentação do corpo e da alma, visto que, começou a cozinhar


alimentos saudáveis, fazer caminhadas prazerosas a beira-mar.
Também retomou suas atividades artísticas artesanais confeccionando várias
peças de patchworks, ousando até em vendê-las. Retomou sua vida social entre
amigos e amigas, a qual havia abandonado por completo, após o diagnóstico do
câncer de mama.
Além disso, durante o processo arteterapêutico se autoafirmou novamente em
sua autonomia e independência, engajando-se em grupos de mulheres com câncer
de mama, e, em um trabalho voluntário, o qual visava fiscalizar, junto ao Ministério
Público de seu município, as licitações que envolviam órgãos públicos.
Com a elevação de sua autoestima AN resgatou sua sensualidade e o desejo
sexual pelo companheiro, os quais estavam afastados sexualmente há
aproximadamente um ano, compartilhando a vida e os cuidados com a saúde dela
como bons amigos.
AN nesse processo lançou-se em descobrir o sentido do câncer de mama em
sua vida, compreendendo a necessidade de mudança em seu estilo de vida.
Respeitando seus limites físicos, psicológicos. Vivenciando sua espiritualidade de
uma maneira profunda, buscando o sentido último de sua vida que era o
crescimento integral de si mesma.
Pelos resultados alcançados nesta pesquisa, considera-se a arteterapia uma
prática integrativa em saúde, que agrega importante valor terapêutico, sendo
também uma atividade complementar em saúde de grande valia. Podendo ser
utilizada na promoção, prevenção e educação em saúde, pois corrobora com os
princípios do SUS: integralidade, equidade e universalidade.

Referências:
ANDRADE, Liomar Quinto de. Terapias expressivas. São Paulo: Vetor, 2000.

BRASIL, Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Instituto Nacional do


Câncer. Controle de câncer de mama documento de consenso. Rio de Janeiro:
INCA, 2004.

ACAT – Av. Brasil, 333 Edifício Delta, apto. 503 – Balneário Camboriu/SC
acatarteterapia.blogspot.com.br
64

CHEVALIER, Jean e GHEERBRANT, Alain. Dicionário de símbolos: mitos,


sonhos, costumes, gestos, formas, figuras, cores, números. Tradução: Vera da
Costa e Silva, Raul de S. Borba, Angela Melim e Lúcia Melim. 21. ed. Rio de Janeiro:
José Olympio, 2007.

DITRICH, Maria Glória. La creatividad desde la teoría del cuerpo-creante. In:


TORRE, Saturnino de la; MAURA, María Antonia Pujol. Creatividad e innovación.
Enseñar e investigar con otra conciencia . Barcelona: Editorial Universitas, 2010.

DITTRICH, Maria Glória; ESPINDOLA, Karla Simone da Silva; KOEFENDER, Marli.


Um olhar transdisciplinar e ecoformativo para a educação em saúde. In: SUANNO,
Marilza; DITTRICH, Maria Glória, MAURA, Maria Antonia (Orgs). Resiliência,
criatividade e inovação. Potencialidades transdisciplinares na educação. Goiânia:
UEG/Ed. América, 2013.

ESTÉS, Clarissa Pinkola. Mulheres que correm com os lobos. Mitos e histórias
do arquétipo da mulher selvagem. Tradução: Waldéa Barcellos. Rio de Janeiro:
Rocco, 1994.

FRANKL, Vitor E. A presença ignorada de Deus. Tradução: Walter O. Schlupp e


Helga H. Reinhold. 8. ed. Petrópolis: Vozes, 2004.

______. Em busca de sentido. Um psicólogo no campo de concentração.


Tradução: Walter O. Schlupp e Carlos C. Aveline.Alípio Maia de Castro. 22 ed. São
Leopoldo: Sinodal; Petrópolis: Vozes, 2006.

_______. Logoterapia e análise existencial. Tradução: Jonas Pereira dos Santos.


São Paulo: Editorial Psy II, 1995.

______. Psicoterapia e sentido da vida. 5 ed. Tradução: Alípio Maia de Castro.


São Paulo: Quadrante, 2010.

INSTITUTO NACIONAL DO CÂNCER (INCA). Estimativa 2010: incidência de


câncer no Brasil. Disponível em <http://www.inca.gov.br/estimativa/2010/.

JUNG, C.G.; FRANZ, M-L Von. O homem e seus símbolos. Tradução: Maria Lúcia
Pinho. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1977.

MATURANA, Humberto. A ontologia da realidade. Belo Horizonte: UFMG, 1997.

ROESE, Anete. Bibliodrama a arte de interpretar textos sagrados. São Leopoldo:


Sinodal, 2007.

WANDERLEY, K. da S. Aspectos psicológicos do câncer de mama. In: Carvalho,


M. M. M. L. Introdução à Psiconcologia. Campinas: Editorial Psy, 1994, p. 95-101.

ACAT – Av. Brasil, 333 Edifício Delta, apto. 503 – Balneário Camboriu/SC
acatarteterapia.blogspot.com.br
65

Palestra 3:
Arteterapia em múltiplos espaços.

Profª. Drª. Sonia M. B. Tommasi3

Resumo:
A pesquisa sobre o tema Arteterapia em múltiplos espaços foi de campo e
explicativa, para dar início ao mapeamento dos espaços de atuação do profissional
Arteterapeuta. A arte e suas funções terapêuticas é muito conhecida no Brasil e em
outros países. No Brasil, Osório Cesar e Nise da Silveira dois psiquiatras, tornaram-
se conhecidos nacional e internacionalmente por utilizarem a arte em hospitais
psiquiátricos. Durante os últimos 30 anos, a Arteterapia ganhou espaço e se
estruturou concreta e significativamente nas áreas da saúde, educação e social,
atuante de forma expressiva em CAPS, CREAS, CRAS entre outros. Tendo objeto
de estudo o ser humano a Arteterapia têm um vasto campo de atuação. Sendo
assim, a Arteterapia, em processo de desenvolvimento aponta possibilidades às
necessidades atuais da sociedade, que vive sob a pressão estressante da vida
cotidiana, a qual dificulta a qualidade de vida e o bem estar pessoal, familiar, social e
profissional. Expandiu sua área de atuação inicial da saúde (estando atualmente
inserida da atenção básica ao atendimento especializado) para a educação e
relações sociais, e já se encontra inserida em escolas, creches, presídios, ONGS,
OSCIPS, associações e instituições de apoio, recuperação de dependentes
químicos e seus familiares. Vem desenvolvendo também trabalho em empresas. A
Arteterapia entende o ser humano de forma integral, eco-bio-psico-físico-social e
espiritual, diferenciando-se das demais profissões por ter características
multidisciplinar e interdisciplinar. Abarca conhecimento especializado sobre a esfera
psíquica, criativa e simbólica do ser humano, o que determina o saber e a absorção
dos profissionais da Arteterapia no mercado de trabalho. Requisitos que constituem
elementos essenciais para a organização e consolidação de uma categoria,
posicionando-se no âmbito da competição interprofissional e garantindo-lhe a
identidade como profissão.

Palavras-chave: Arteterapia; criatividade; profissão; arteterapeuta.

3
Psicóloga clínica e educacional. Doutora em Ciências da Religião. Mestre em Psicologia da Saúde,
Especialização em Musicoterapia e em Psicologia Analítica, Arteterapia. Escritora. Docente em
cursos de pós-graduação de Arteterapia, psicologia analítica, psicossomática, gerontologia.
Presidente fundadora da Oscip Arte Sem Barreiras. Org. da coleção Anima Mundi, Vetor ed. Autora e
Org. de livros em Arteterapia, Autora do livro: Arte Terapia e Loucura, Revisitando a Ética com
Múltiplos Olhares, Origami em Educação e Arteterapia, Ed. Paulinas. Envelhecendo com sabedoria,
ed. Paulinas. Arteterapeuta um cuidador da psique (org). Vetor. Pensando a Arteterapia com Arte
Ciência Espiritualidade. Vetor. Presidente da ACAT Membro do Conselho da UBAAT- União Brasileira
das Associações de Arteterapia. http://lattes.cnpq.br/5010212588553393 (ACAT, ASB,
CENSUPEG, Anhembi Morumbi).

ACAT – Av. Brasil, 333 Edifício Delta, apto. 503 – Balneário Camboriu/SC
acatarteterapia.blogspot.com.br
66

Introdução:
A criatividade pode vir a representar um papel fundamental nesta redefinição
das regras de existência colocada pela sociedade contemporânea. Este artigo
pretende estimular a reflexão sobre os processos criativos que podem ser
desenvolvidos dentro dos múltiplos espaços, sejam eles: sociais, educacionais,
institucionais, empresariais, da saúde e outros, não apenas para crianças, mas
dando continuidade no período da adolescência, juventude, adulto e velhice. Ao
mesmo tempo fortalecer a ideia de que a saúde psíquica depende da vazão da
energia psíquica criativa. A qual foi reprimida durante anos de nossas vidas, e por
isso sofremos consequências, tais como o estresse, pânico, mau humor, insônia e
outros.
Não se pode perder de vista que o processo criativo não é apenas uma
questão individual, mas não deixa de ser questão do individuo. E cada ser humano é
indivisível em sua personalidade e na combinação de suas potencialidades. Saber
respeitar a forma de interagir do outro com o mundo é primordial para a saúde
psíquica individual e coletiva.
A arte nasceu com o ser humano, lhe deu a consciência de sua capacidade
criadora, da possibilidade de interpretar, de imaginar e de atuar sobre o mundo.
Graças a arte o ser humano elevou-se, compreendeu-se e se religou ao Divino. Ao
criar o ser humano redireciona o seu olhar sobre o Outro (mundo). É a partir deste
novo olhar que se desenvolve o autoconhecimento. Pois ao reconhecer o Outro
toma conhecimento sobre si. O Outro dá parâmetros para o Eu, tomar consciência
de si.
Jung desvela a essência da alma humana quando afirmar que dentro do ser
humano existe a necessidade de criar. Por ser uma necessidade intrínseca, não há
diferença no ato de criar entre raças, culturas, sociedades e principalmente entre
sadios e doentes. A criatividade existe para todos e em todos.
As primeiras décadas do século XX foram marcadas por rupturas
significativas, com mudanças na política internacional que interferiram em vários
níveis nacionais, sociais, políticos e culturais. Os movimentos internacionais de

ACAT – Av. Brasil, 333 Edifício Delta, apto. 503 – Balneário Camboriu/SC
acatarteterapia.blogspot.com.br
67

vanguarda tais como expressionismo, cubismo, dadaísmo exigiam liberdade


estética. Influenciaram diretamente a arte no Brasil, culminando com o modernismo
artístico e literário. É nesse período que se estabelece conexão entre arte e
psicologia, com o sistema cultural, pedagógico e científico. O enfoque inovador de
estudos sobre ciência e arte, também direciona o seu olhar para as produções
expressivas dos doentes mentais, surgiu na Alemanha, Áustria e França, chegando
ao Brasil.
Os estudos iniciais da psiquiatria com a arte traçam paralelos entre a
expressividade dos doentes mentais com a arte infantil, com a arte dos primitivos e a
arte moderna. O foco de interesse de psiquiatras, críticos de arte, escritores, artistas,
direcionavam-se para o processo expressivo dos doentes mentais internos nos
hospícios. Buscavam esclarecimentos para tais manifestações.
As mudanças no pensar científico e artístico europeu chegaram ao Brasil. O
primeiro médico psiquiatra brasileiro a documentar a expressão artística dos doentes
mentais foi Osório Cesar (1895-1980), que dedicou 40 anos de sua vida ao
complexo Hospitalar do Juquery – SP (1923 a 1965). Seus estudos estão
fundamentados nas teorias de Freud, a psicanálise. Osório Cesar implanta ateliê de
arte no complexo hospitalar, e convida renomados artistas, entre eles Lasar Segal,
para lecionarem arte para os internos, comprovando assim a capacidade de
aprendizagem dos doentes mentais.
Em 1946, Nise da Silveira (1906-1999), médica psiquiatra brasileira,
indignada com as formas de tratamento desenvolvidas nos hospitais psiquiátricos,
como eletrochoque, lobotomia, insulinoterapia e confinamentos, inseriu no Centro
Psiquiátrico de Engenho de Dentro – RJ, ateliês de pintura, escultura, oficinas de
literatura, sala de jogos e outros. Os resultados rapidamente apareceram,
confirmando que as oficinas de arte ultrapassavam o limite do lazer e da distração.
Ao aprofundar seus estudos Silveira afirma (1992, p. 16):

Os sintomas encontraram oportunidades para se exprimir livremente; o


tumulto emocional tomou forma, despotencializando-se. Ao mesmo tempo,
ocorria fortalecimento do ego e aumentava o relacionamento social de
acordo com as possibilidades adaptativas.

ACAT – Av. Brasil, 333 Edifício Delta, apto. 503 – Balneário Camboriu/SC
acatarteterapia.blogspot.com.br
68

A pintura e a escultura foram as técnicas mais utilizadas por Silveira,


observou que estes materiais facilitavam a expressão das emoções e da
criatividade. Com os inúmeros trabalhos artísticos de seus pacientes, Nise da
Silveira fundou em 1952 o Museu de Imagens do Inconsciente, destinado à
preservação dos trabalhos produzidos nos ateliês, os quais se tornaram valiosos
documentos de referência nacional e internacional para pesquisas na área da
psiquiatria (TOMMASI, 2005).
Desde então a Arte ganhou um novo espaço de ação. Mas para se
compreender a linguagem simbólica contida nestas expressões foi necessário
recorrer às teorias psicológicas.

Arteterapia:
A Arteterapia busca o equilíbrio psicológico, o desenvolvimento da psique
saudável, favorece o contato com conteúdos internos transformadores. Trabalha a
saúde psíquica do ser humano em sua totalidade eco-bio-psico-social-espiritual;
vendo-o dentro da vida cotidiana, analisando-o, compreendendo-o em seu do dia-a-
dia, e identificando quais as possíveis causas de estresses, de psicossomatização,
de desequilíbrio emocional diário devido ao meio ambiente, aos conflitos familiares,
sociais e profissionais. Arteterapia baseia-se em um diálogo contínuo entre ego
consciente e o inconsciente. A Arteterapia busca uma visão: filosófica, psicológica e
terapêutica, onde forças arquetípicas são dinamizadas para desenvolver o equilíbrio
e a criatividade da psique.
A vida diária tornou-se normal dentro das patologias. Alguns indivíduos que
vivem tranquilos, equilibrados, com bom humor e é cordial com os seus semelhantes
desperta curiosidade, dúvidas a seu respeito ou é considerado fora de órbita. Este
sujeito não pertence a este mundo. O indivíduo sadio, equilibrado deve ter alguma
coisa para esconder. A saúde física e mental foi banida da normalidade. Aqui a
Arteterapia auxilia a retirar as couraças, estimula o autoconhecimento e rompe as
barreiras da persona, dá coragem para enfrentar as verdades internas. Arteterapia
Possibilita a resiliência. Fortalece a autoestima. Estimula o controle dos impulsos
emocionais Desvela novos horizontes. Instala pensamentos reflexivos sobre a

ACAT – Av. Brasil, 333 Edifício Delta, apto. 503 – Balneário Camboriu/SC
acatarteterapia.blogspot.com.br
69

vontade de viver. E libera a coragem para conhecer os conteúdos mais profundos e


sombrios.
Estudiosos das expressões artísticas de diferentes tipos de pessoas
verificaram que o processo criativo, envolvido nas atividades artísticas terapêuticas,
é enriquecedor para a qualidade de vida, que o ato de criar amplia o
autoconhecimento e aumenta a autoestima. Ao mesmo tempo a Arteterapia oferece
alternativas de ação e reação ao cognitivo, de lidar mais adequadamente com as
emoções e sentimentos, modificando as formas de pensar sobre situações de
estresse e experiências traumáticas.
A Arteterapia utiliza, para isso, as linguagens expressivas da arte, tais como:
plástica, sonora, dramática, corporal, literária, fotografia, cinema envolvendo as
diferentes técnicas e materiais de cada uma. Por exemplo: desenho, pintura,
modelagem, construções, sonorização, musicalização, dança, drama e poesia. Além
das linguagens artísticas a Arteterapia está alicerçada sobre teorias psicológicas,
tais como: Teoria da Personalidade de Frederick S. Perls, a Gestalt- Terapia,
Psicologia Transpessoal, Abraham Maslow, a Psicologia Analítica de Carl Gustav
Jung.
Com este breve relato sobre a arte a Arteterapia e a sua prática em
psiquiatria, psicologia e processos terapêuticos pretendeu-se situar no tempo e
ressaltar a importância das técnicas artísticas como meio de expressão,
comunicação, entre a realidade interna e a realidade externa do ser humano. A
Arteterapia oferece a possibilidade de maior compreensão e confronto com os
conteúdos constelados na psique de cada pessoa, com variação dos conteúdos
simbólicos em função da história pessoal, cultural e religiosa de cada um.

Arte e criatividade:
Este subitem trata da arte e da criatividade, dois temas que geram discussões
multidisciplinares e interdisciplinares.
Para iniciar parte de desta reflexão deve-se entender o significado da palavra
criatividade. De acordo com a raiz latina da palavra creare as palavras: criar, criação,
criador, criança e criatividade significam “tirar do nada”.

ACAT – Av. Brasil, 333 Edifício Delta, apto. 503 – Balneário Camboriu/SC
acatarteterapia.blogspot.com.br
70

Na raiz grega encontra-se kreas, kreator que significa carne dando origem a
creatina e sua derivada creatinina. Estas por sua vez, designam uma substância
encontrada no suco muscular, no plasma sanguíneo e na urina, tudo conduzindo ao
ato de “tirar do nada” e dar substância a algo, neste último caso a carne. Portanto,
pode-se entender que criatividade está profundamente relacionada com o seu
criador, o ser HUMANO.
Mas como a mãe natureza é mais sábia, e sua criatividade é infinita, verifica-
se que cada ser humano tem a sua maneira ímpar de criação. A qual está
diretamente relacionada à forma de ver, ouvir, degustar, tatear, respirar, sentir,
pensar, intuir o mundo ao seu redor e o seu mundo interior. O relacionamento
extrínseco e intrínseco de cada ser humano com o mundo determina o potencial
criativo único, de cada um.
Quando se fala ou se pensa em criatividade imediatamente pensa-se em arte,
acredita-se que o artista não está ligado às convenções, dogmas e instituições da
sociedade. Segundo Jung (1985, p. 102), “O artista moderno, longe de vivenciar e
sofrer em sua criação artística a expressão da destruição de sua personalidade
encontra justamente na destrutibilidade a unidade de sua personalidade artística.” O
artista tem uma expressão criativa que é resultado direto de sua liberdade de sentir
o mundo.

A mefistofélica inversão do sentido em sem sentido, da beleza em feiura, a


semelhança dolorosa do sentido em sem sentido, da beleza em feiura, a
semelhança dolorosa do sentido com o sem sentido e a beleza provocante do
feio, exprimem um ato criativo que nunca antes chegou a tamanha extensão na
história cultural da humanidade, embora ele em principio não represente nada de
novo. (JUNG, 1985, p. 102).

Para sentir o mundo devesse aprender a ‘ver e observa’, e isto todos podem
desenvolver. Portanto, todos os seres humanos são criativos. Ver significa
conhecer, perceber pela visão, alcançar com a vista os seres, as coisas, as formas,
as cores do ambiente ao redor. Mas ver não é só isso. Ao ver se está levando junto
as vivências e experiências em relação ao que vê. Pode-se desenvolver um treino
para ver, entre o objeto visto e a pessoa existe um percurso repleto de informações,

ACAT – Av. Brasil, 333 Edifício Delta, apto. 503 – Balneário Camboriu/SC
acatarteterapia.blogspot.com.br
71

que não são observados de imediato. Mas ao tomar consciência deste percurso
torna-se impossível não ver os elementos que ali estão.
Observar é olhar, pesquisar, detalhar, estar atento para as particularidades e
ao mesmo tempo mudar de ângulo, e relacionar as várias informações formando
uma nova ideia a respeito do objeto e percurso observado.
Ver e Observar leva a tomada de consciência do Eu e do mundo. Leva a
reflexão sobre a realidade cotidiana, possibilitando ensaios de atuação e até de
transformação sobre o meio ambiente.
A questão sobre a criatividade tornou-se eixo central das pesquisas
epistemológicas, psicológicas, pedagógicas e sociológicas. E a valorização do ser
humano criativo chegou a picos nunca antes atingidos.
Na exploração deste conceito adentra-se no campo da educação e da
psicologia. As cortinas se abrem para várias áreas de conhecimento e de
orientações teóricas que permitem constatar, de imediato, a natureza dialética e
interdisciplinar do conceito de criatividade.
Quando o ser humano começou a ser criativo? Por meio da história das
religiões, arte, antropologia e geologia foram descobertos os passos da humanidade,
e na tentativa de reconstituir a história da humanidade observa-se o processo
criativo de cada época e cultura.
A partir do momento em que o ser humano começou a ter consciência de sua
existência e a pensar sobre as coisas que via e observava fora (exógeno) dentro de
si (endógeno). Ao analisar o que sentia durante ou após ver a natureza ou seu
semelhante, ele começou a reproduzir a imagem que ficou registrada em sua
memória, desta forma deu início ao desenho, muito antes da escrita.
Há cerca de 40.000 mil anos o ser humano pintou nas paredes das cavernas
e grutas, Rodésia é a mais antiga, fica na África, em Lascaux na França, os
desenhos têm 17.000 mil anos; em Altamira na Espanha os desenhos têm 14.000
mil anos, são desenhos de animais e seres humanos dançando e caçando. O motivo
que o levou a este ato criativo não se sabe. Uma das múltiplas explicações é
relacioná-lo à magia. Aceitando essa possibilidade, o papel da arte seria o de

ACAT – Av. Brasil, 333 Edifício Delta, apto. 503 – Balneário Camboriu/SC
acatarteterapia.blogspot.com.br
72

concretizar o imaginário e a crença. Todo o complexo de pinturas destas cavernas


representa a potencialidade e expressividade criativa do homem primevo.
Pode-se constatar o conhecimento técnico na escolha da caverna, dos
materiais e principalmente a habilidade e o processo criativo dos desenhos
realizados. Este indivíduo registrou em sua memória, o esquema corporal do animal
observado fora da caverna; transformou a imagem tridimensional em bidimensional
e a registrou de forma simplificada e geométrica, nas paredes da caverna. Portanto
a experiência da realidade é um produto da capacidade psíquica de formar imagens,
o mundo interior e exterior do indivíduo reúnem-se nas imagens psíquica, dando-lhe
uma sensação vital de conexão viva entre ambos os mundos.
Supondo que o homem Neolítico tivesse a intenção de deixar informações
sobre a sua vida cotidiana, registrou nas paredes das cavernas o conhecimento
sobre a música, dança, caça, pesca e meio ambiente. Foram encontradas, nestas
cavernas, várias pinturas com seres humanos tocando instrumentos, dançado em
círculos, caçando ou pescando.
A pintura rupestre foi se aprimorando, no período Neolítico os desenhos e
pinturas mostram essa preocupação de efeito visual, além de valores simbólicos
para o ser humano. É bem visível a preocupação com a beleza, a escolha do
material e domínio sobre o mesmo, o desenvolvimento da capacidade psicomotora
se faz evidente no acabamento.
A habilidade de rabiscar todos os seres humanos tem, basta ter dois objetos,
um que marca e outro de suporte para ser marcado, ou seja, se temos uma vara ou
um pedaço de pau e caminhamos na areia, marcarmos a areia com imagens e
palavras, sem nos preocuparmos se somos criativos. São momentos que a mente
fica vazia, sem preocupações e sem pensamentos diretivos. São momentos de
relaxamento mental. Nestas marcas expressamos e deixamos impressas ideias,
emoções, e sentimentos.
A partir do momento em que a criança adquiriu a habilidade psicomotora, ela
consegue segurar o giz de cera ou lápis ela rabisca livremente o papel, a lousa e as
paredes. Essa liberdade de rabiscar perdura no adulto de forma inconsciente, por
ex. quando está ao telefone rabisca aleatoriamente o papel a sua frente. Por alguns

ACAT – Av. Brasil, 333 Edifício Delta, apto. 503 – Balneário Camboriu/SC
acatarteterapia.blogspot.com.br
73

momentos se transforma no pintor Paul Jackson Pollock (1912-1956). Se o conceito


de criatividade é criar algo novo e inédito, os rabiscos produzidos tanto pela criança
quanto pelo adulto são inéditos e não reproduzíveis.
As combinações das cores entre si, com as linhas, texturas, luminosidades,
espaços e volumes apresentam resultados plásticos diversos e diferentes que
conduzem ao pensamento visual, ampliando e redimensionando a forma de ver,
observar, sentir, pensar e de se comunicar com o mundo.
Para liberar o potencial criativo, neste caso estamos falando de desenho e
pintura, basta não se preocupar com o certo e errado, feio e bonito, e sim deixar fluir
os rabiscos e manchas de tintas.
Vamos seguir a música de Vinicius de Moraes e Toquinho, Aquarela e veja
como é fácil ser criativo...
Se um pinguinho de tinta cai num pedacinho azul do papel,
num instante imagino uma linda gaivota a voar no céu. Ou seja, o borrão de tinta
libera a imagem da gaivota, que um dia foi observada voando no céu, e que foi
interiorizada, registrada no cérebro.

Arte, criatividade e saúde psíquica:


A medicina contemporânea já identificou nas linguagens da arte uma
excelente auxiliar para prevenir, manter e alguns casos até recuperar a saúde
biológica e psicológica. Alguns médicos, com este pensar inovador, indicam aulas de
pintura, dança, a participação em um coral. O que causa um pouco de frustração
nos pacientes, porém, instala reflexão sobre a vida criativa e sedentária atual.
A questão da saúde na atualidade não pode mais desvincular o indivíduo do
todo social. Cada vez mais, este deve e tem de ser pensado como um ser eco-bio-
psico-social e espiritual que sofre pressões do meio em que vive desde o momento
que nasce, mas é dotado de capacidade criativa para influenciá-lo e alterá-lo
política, social, emocional e economicamente.
A criatividade pode vir a representar um papel fundamental nesta redefinição
das regras de existência colocada pela sociedade contemporânea. Este artigo
pretende estimular a reflexão sobre os processos criativos que podem ser

ACAT – Av. Brasil, 333 Edifício Delta, apto. 503 – Balneário Camboriu/SC
acatarteterapia.blogspot.com.br
74

desenvolvidos dentro dos espaços educacionais, institucionais, empresariais e


outros, não apenas para crianças, mas dando continuidade no período da
adolescência, juventude, adulto e velhice. Ao mesmo tempo fortalecer a ideia de que
a saúde psíquica depende da vazão da energia psíquica criativa. A qual foi reprimida
durante anos, e por isso se sofre consequências, tais como o estresse, pânico, mau
humor, insônia e outros.
A energia psíquica criativa pode e deve ser favorecida durante o processo
educacional dos indivíduos. O educador deve prestar atenção no processo de
criação e não apenas no produto final. Entender como o educando chegou aquele
resultado seja uma expressão artística, uma redação ou uma elaboração cognitiva
racional. Ao obter conhecimento sobre a Arteterapia, o educador não se transforma
em terapeuta na sala de aula, mas um forte aliado do arteterapeuta.
Cada ser humano é único. Em uma sala de aula o educador fala para 30 ou
mais pessoas diferentes. A compreensão de sua fala não é igual para todos,
portando o conteúdo será assimilado de 30 formas diferentes. É bem interessante
como essa informação parece lógica e repetitiva, da mesma forma que o
comportamento educacional continua repetitivo.
Por que as coisas não mudam?
Simplesmente porque a energia psíquica criativa educacional e do educador
estão reprimidas e estagnadas. Toda água parada apodrece. O mesmo acontece
com a energia criativa, não tendo como se expressar procura uma saída, sinaliza por
meio do mau humor, estresse e quando não é ouvida, cria doenças mais graves. Por
isso o médico recomenda a prática de uma expressão artística.
De acordo com pesquisas recentes da neurociência, presume-se existir uma
assimetria funcional no cérebro humano. Os dois hemisférios cerebrais
desempenhariam funções especificas na percepção; as funções se
complementariam, mas também se inibiriam a fim de garantir a especificidade da
resposta adequada em dados momentos. Enquanto no hemisfério direito se
articulariam as imagens sensoriais da realidade, de modo direto e imediato, no
hemisfério esquerdo se articulariam os processos de conceituação e de abstração
do pensamento e da linguagem simbólica. Ainda as diferentes funções parecem

ACAT – Av. Brasil, 333 Edifício Delta, apto. 503 – Balneário Camboriu/SC
acatarteterapia.blogspot.com.br
75

vincular-se a determinados estudos afetivos. Assim, no hemisfério direito, da fixação


das imagens, reputado como sendo o mais arcaico, o teor afetivo seria mais
depressivo e melancólico, ao passo que as funções do hemisfério esquerdo, mais
intelectual, seriam acompanhados por um estado de espírito sereno e otimista, até
eufórico (Correio da UNESCO, Ano 4, no. 3, março de 1976).
Estudos da neurociência e da neuropsicologia confirmam que a arte e a
arteterapia (considerando as artes plásticas, musical, cênica, literária), são ideais
para desbloquear as emoções, manter a atenção e concentração, devido à
constante mistura de estímulos antigos e novos com a liberdade de expressão.
Também estimula a experiência estética e a capacidade motora e perceptiva ao
mesmo tempo em que auxilia a transferir habilidade para outras áreas do cérebro.
Segundo Broudy (apud Barbosa, 2001, 34), a expressão artística auxilia a
“Mostrar que a experiência estética é básica à vida e à mente educada, e que
apenas a escola pode proporcionar a entrada dessas habilidades nesse domínio,
assim como em outros”. A experiência estética é básica porque é uma forma
primitiva de experiência, da qual dependem toda a cognição, o discernimento e as
ações. Ainda segundo o autor, “É o poder fundamental e nítido da construção da
imagem pela imaginação. Ela propicia a matéria-prima de conceitos e ideais
capazes de criar um mundo de possibilidades” (p. 35).
Inspirada nos trabalhos de Nise da Silveira e de Osório Cesar implantamos
um ateliê arteterapêutico, no Hospital Psiquiátrico do Juquery em São Paulo, Brasil,
que acolheu em sua totalidade 40 pacientes, moradores do hospital a mais de dez
anos, medicados diariamente, com circulação restrita as pequenas áreas do
hospital, portanto, sem estímulos externos, e também sem atividades diárias, tendo
como rotina o caminhar pelos pequenos corredores cinzas e sujos, ou deitar no
chão.
Nestas oficinas foram oferecidos materiais simples tais como giz de cera,
lápis de cor, tintas, pincéis, papéis, telas entre outros. Durante as oficinas percebeu-
se que a sanidade mental revelava-se no ato da criação artística.

O processo arte-terapêutico permite ao sujeito expressar suas fantasias e, ao


mesmo tempo, liberar conteúdos reprimidos do inconsciente [...] a expressão

ACAT – Av. Brasil, 333 Edifício Delta, apto. 503 – Balneário Camboriu/SC
acatarteterapia.blogspot.com.br
76

artística permite entrar em contato com temas que relatam as tendências da


personalidade que ainda não foram reconhecidas ou admitidas;
despotencializando as energias psíquicas formadoras de complexos (TOMMASI,
2005, p. 296).

Pessoas com condições de vida sub-humanas, com ausência de estímulos


externos, com precário contato com a vida cotidiana ao receber uma caixa de giz de
cera, pincéis, papéis ou telas desenharam e pintaram com extraordinária leveza e
criatividade. Estas pessoas revelaram senso estético, beleza e estilo em suas
produções. Muitos, sem ter consciência, voltavam a lembranças da infância e
cantavam cantigas de roda. Outros desenvolviam conosco, diálogos como se
fossemos sua mãe, e revelavam o medo de que ela poderia sair na rua e ser
abusada. Também dentro deste pequeno fragmento de sanidade ficou preservada a
ligação com Deus.
Por meio da expressão artística verificaram-se momentos de sanidade
preservados, os quais mantêm o indivíduo vivo dentro da psicopatologia. Navegando
entre o real, irreal do passado o qual se mistura com o real e irreal do presente, mas
que mantém o processo criativo ativo. Não se pode perder de vista que o processo
criativo não é apenas uma questão individual, mas não deixa de ser questão do
individuo. E cada ser humano é indivisível em sua personalidade e na combinação
de suas potencialidades. Saber respeitar a forma de interagir do outro com o mundo
é primordial para a saúde psíquica individual e coletiva. A arte nasceu com o ser
humano, lhe deu a consciência de sua capacidade criadora, da possibilidade de
interpretar, de imaginar e de atuar sobre o mundo.
Graças à arte o ser humano elevou-se, compreendeu-se e se religou ao
Divino.

Organização profissional, acadêmica, profissional e literária:


Desde 2000 a Arteterapia vem se desenvolvendo no Brasil, muitos cursos de
pós-graduação surgiram no mercado. O campo de atuação para o profissional
arteterapeuta ampliou-se, podendo atuar em órgãos públicos e privados, nas áreas
da saúde, educação, institucional e organizacional, com o objetivo de melhorar a
qualidade vida e cuidar da saúde psíquica.

ACAT – Av. Brasil, 333 Edifício Delta, apto. 503 – Balneário Camboriu/SC
acatarteterapia.blogspot.com.br
77

Com objetivos: de divulgar o trabalho do profissional do Arteterapeuta, de


esclarecer seus limites e possibilidades de atuação, de participar das políticas
públicas da saúde e da educação várias associações foram formadas, atualmente
são 12 associações atuando nos Estados brasileiros. Para assegurar a qualidade da
formação e prática dos profissionais arteterapeutas, e da docência da Arteterapia,
estas associações estaduais, fundaram em 2006, a União Brasileira das
Associações de Arteterapia – UBAAT, www.ubaat.org.br.

A UBAAT tem por objetivos específicos:


 Unificar e definir parâmetros curriculares mínimos e comuns para cursos de
Arteterapia no Brasil;
 Estabelecer critérios para a qualificação de docentes e supervisores
em cursos de Arteterapia no Brasil;
 Estabelecer critérios nacionais para o reconhecimento e
credenciamento de arteterapeutas e cursos de Arteterapia;
 Lutar pelo reconhecimento legal da Arteterapia, assegurando a qualidade e
confiabilidade dos serviços prestados pelos arteterapeutas a quem a
conceder credenciamento;
 Estabelecer vínculos e parcerias com associações congêneres em outros
países;

Tem também por finalidade mais ampla e geral:


 Defender em âmbito nacional a identidade e interesses dos arteterapeutas
que a integram;
 Propiciar o intercâmbio sobre a teoria e prática da Arteterapia entre
os diferentes Estados brasileiros;
 Auxiliar a organização de eventos de Arteterapia em nível regional, nacional e
internacional;
 Organizar e difundir um banco de dados de publicações sobre Arteterapia no
Brasil, assim como informações sobre o campo a todos os interessados;

ACAT – Av. Brasil, 333 Edifício Delta, apto. 503 – Balneário Camboriu/SC
acatarteterapia.blogspot.com.br
78

 Colaborar e fomentar o intercâmbio de projetos, publicações e pesquisas com


entidades congêneres representativas da Arteterapia em outros países.

Portanto, a Arteterapia no Brasil, vem ampliando seu espaço de atuação no


mercado profissional, e ao mesmo tempo, conquistando o respeito entre os demais
profissionais.
O trabalho intenso das Associações Estaduais de Arteterapia, em reunir
material sobre publicações científicas, literárias e online, e catalogar os cursos
existentes de graduação, pós lato sensu e formação, bem como o número de
estudantes e de formados em seus Estados, atingiu seu objetivo.
A profissão de Arteterapeuta foi reconhecida pela Classificação Brasileira de
Ocupação - CBO em 01 de Janeiro de 2013, e classificada na família 2263-10,
Profissionais das terapias criativas e equoterápicas. Tendo como descrição Sumária:
Realizam atendimento terapêutico em pacientes, clientes e praticantes utilizando
programas, métodos e técnicas especificas de Arteterapia. Atuam na orientação de
pacientes, clientes, praticantes, familiares e cuidadores. Desenvolvem programas de
prevenção, promoção de saúde e qualidade de vida. Exercem atividades técnico-
cientificas através da realização de pesquisas, trabalhos específicos, organização e
participação em eventos científicos.
Tornou-se significativo o número de profissionais que buscam mestrados e
doutorados para aprofundarem seus conhecimentos, consolidando a atividade
acadêmica em Arteterapia, dedicando-se exclusivamente aos trabalhos relativos ao
ensino, extensão e à pesquisa. Para a atualização do conhecimento, as Associações
Estaduais promovem eventos científicos, que ocorrem em âmbito estadual, nacional
e internacional, que seguem as normas acadêmicas e geram Anais com registro no
ISBN.
O conhecimento desenvolvido em pesquisas e atuações profissionais
possibilitam publicações de revistas online e editadas graficamente, livros publicados
por editoras renomadas e reconhecidas no mercado editorial. Demonstrando
seriedade profissional na aquisição e na produção de conhecimento.

ACAT – Av. Brasil, 333 Edifício Delta, apto. 503 – Balneário Camboriu/SC
acatarteterapia.blogspot.com.br
79

O Arteterapeuta no Brasil construiu e desenvolveu teorias e técnicas de


acordo com o espaço multicultural brasileiro, para melhor atender as necessidades
da sociedade. E esse conhecimento vem sendo praticado em locais como: asilos,
orfanatos, prisões, ambulatórios, hospitais, clínicas, sanatórios, ONGS, OSCIPS,
instituições particulares, estaduais, municipais e federais entre outros sempre em
prol da qualidade de vida e da saúde psíquica.
Portanto, a Arteterapia enquanto profissão tem identidade bem definida,
possui seus próprios métodos e técnicas, que a inclui como profissão no contexto
social e mercadológico brasileiro, o que torna imperativo a regulamentação da
profissão.
O trabalho das Associações de Arteterapia e da UBAAT não terminaram com
esta conquista. Neste momento trabalham no Projeto de Lei para regulamentação da
profissão.

O Arteterapeuta:
As pessoas que procuram os cursos de Arteterapia, geralmente o fazem
devido a um desejo profundo de auxiliar o próximo, ou de compreender o sentido da
vida. Este desejo parece um chamado divino. Ao analisá-los com um pouco mais de
atenção, transpondo a persona social, encontra-se o Cuidador e o Curador que
existe dentro de cada um.
O arquétipo do Cuidador/Curador é tão forte e numinoso que transcende a
própria pessoa, ela tem algo especial, inexplicável em palavras, mas explicável no
intuir, sentir criar e fazer, suas sensações são aguçadas e a atenção está
diretamente focada no outro que está a sua frente. São pessoas meigas dóceis, às
vezes um pouco perdidas na área da razão, porém completamente inteiras nas
áreas das emoções e sentimentos.
Os estudantes dos cursos de Arteterapia possuem formações acadêmicas
diversas, com objetivos diferentes, em sua maioria, sem conhecimento prévio do que
seja Arteterapia e suas aplicações, porém, com uma forte sensibilidade humanitária.
A pesquisa aponta a necessidade de se fortalecer os referenciais teóricos, durante o
curso, para se obter uma prática mais consciente, ética e responsável, por parte

ACAT – Av. Brasil, 333 Edifício Delta, apto. 503 – Balneário Camboriu/SC
acatarteterapia.blogspot.com.br
80

destes futuros especialistas. Conscientizar os coordenadores e professores de


cursos de especialização em Arteterapia que eles carregam a tocha do
conhecimento teórico e técnico da sabedoria, do equilíbrio e da harmonia, e que
seus saberes serão transferidos para seus alunos e que este colocará em prática o
conhecimento aprendido.
O arteterapeuta, por meio, das técnicas de relaxamento, trabalha a
consciência corporal, expurga as tensões musculares e as dores, equilibra as
necessidades físicas e biológicas. Com as técnicas expressivas, instaura reflexões,
desvela valores sociais, morais, afetivos e espirituais, tornando-os presentes na vida
diária, estabelece caminhos para o religare, e descobre que faz parte da criação
divina. A alma volta a fazer parte do ser. Corpo e alma se reencontram, porém, uma
nova luz os ilumina. Novos desejos e necessidades surgem, a inteligência amplia-se,
as percepções sobre tudo e todos se modifica e o ser percebe que o prisma tem
vários lados, e que cada lado oferece caminhos, soluções bem diferentes, única.
O Arteterapeuta compreende o indivíduo, o outro em seus dilemas e
angustias, é um guia, que oferece contenção, direção e saber. O Arteterapeuta é o
profissional que atua na promoção, prevenção, proteção da saúde psíquica e na
qualidade de vida. Por meio das teorias e técnicas expressivas possibilita a
comunicação, expressão, criação, e integração de conteúdos internos. Estimulando
a expressão do verbal e o não verbal no processo criativo.
A ação do Arteterapeuta é de suma importância nos tratamentos de
pacientes/ clientes, individual ou em grupo, de todas as idades, cujas habilidades
físicas e mentais e/ou emocionais e/ou educacionais e/ou sociais e/ou inter-
relacionais encontram-se debilitadas e/ou em conflitos. Sua formação propicia
habilidades e competências para que o profissional atue em equipes
multidisciplinares, cooperando com os demais profissionais de forma preventiva e na
promoção da saúde. Buscando avaliar e planejar qual procedimento arteterapêutico
deva seguir. Sua postura ética é regida pelo código de ética profissional da
Arteterapia.

ACAT – Av. Brasil, 333 Edifício Delta, apto. 503 – Balneário Camboriu/SC
acatarteterapia.blogspot.com.br
81

Referências:
ALLESSANDRINI, Cristina Dias. Pesquisas em Arteterapia no Brasil. In: Jornada
Brasileria de Arteterapia: “Arteterapia, Musicoterapia e desenvolvimento
humano, 1, 2009, Goiânia. Anais. Goiânia: FEN/UFG/ABCA, 2009. p.462-490.
Cap.4B. (ISBN: 978-85-61789-01-5).

JUNG, Carl. G. A prática da psicoterapia. Petrópolis: Vozes, 2002.

LUPI, Carlos. Apresentação. IN: Classificação Brasileira de Ocupações. Brasília,


3. ed, v.1, 2010.

MENEZES, Ebenezer Takuno de; SANTOS, Thais Helena dos. Dicionário


Interativo da Educação Brasileira - EducaBrasil. São Paulo: Midiamix Editora,
2002, http://www.educabrasil.com.br/eb/dic/dicionario.asp?id=94, visitado em
12/8/2010.

REÍSÍN A. Arteterapia: semânticas e morfologias. São Paulo: Vetor, 2006.

SEI, Maíra Bonafé. A formação em Arteterapia no Brasil: contextualização e


desafios. In: Textos do III Fórum Paulista de Arteterapia. - São Paulo: Associação
de Arteterapia do Estado de São Paulo, 2010. 163p. ISBN 978-85-63203-02-1

SILVEIRA, N. O mundo das imagens. São Paulo: Ática, 1992.

TOMMASI, Sonia. M. Bufarah. Arte- terapia e loucura. São Paulo,2005.

______. Arteterapia: processos para a saúde integral e para a autossutentabilidade


do ser. In: II Jornada de Arteterapia e Filosofia, Santa Catarina, Brusque, p.53,
2010.

______. Leitura simbólica em Arteterapia. In: Lurdi Blauth e Raquel M. R. Wosiack.


Terapias Expressivas ou Arteterapia: vivências através da arte. Rio Grande do
Sul, Novo Hamburgo. Feevale. 2006.

______. (org.). Revisitando a Ética com múltiplos olhares. São Paulo. Vetor.
2006.

______. (org.). Arteterapeuta: um cuidador da psique. São Paulo: Vetor, 2011.

ACAT – Av. Brasil, 333 Edifício Delta, apto. 503 – Balneário Camboriu/SC
acatarteterapia.blogspot.com.br
82

Palestra 4:
Diálogo entre a Arte Contemporânea e a Expressão Social.

Profª. Ms. Rikeli Ferreira Thives Hackbarth (CENSUPEG).

Libertar as pessoas é o objetivo da arte, portanto a


arte para mim é a ciência da liberdade (Joseph
Beuys).

Resumo:
Esse estudo tem por objetivo refletir sobre as relações entre a Arte Contemporânea
e a Expressão Social, dentro do tema Desafios Contemporâneos da VI Jornada de
Arteterapia e Filosofia. Nesse artigo podemos compreender que a Arte
Contemporânea da outro sentido para a criação Artística, deixando de ser
contemplativa e passando a ser experiências interativas entre o artista e o outro.
Também se destacam os lugares que a Arte Contemporânea ocupa em relação à
cultura na atualidade. Para nossas interlocuções convidamos os seguintes autores:
Anita Prado Koneski, Lucyane de Morais, Beatriz Scigliano Carneiro entre outros que
estarão referenciados. O grande desafio desse diálogo é compreender os caminhos
da Arte Contemporânea e onde eles se cruzam com a Expressão Social.

Palavras-chave: reflexões; Arte Contemporânea; expressões sociais.

Introdução:
A criação artística surgiu como uma necessidade do ser humano, se lembrar
dos registros pré-históricos, porém com o avanço e as descobertas do ser humano,
as artes também foram se transformando. Aqui não estamos mensurando pontos
positivos ou negativos de cada época, mas sim refletindo para compreendermos a
relação da Arte na contemporaneidade.

As obras de arte são criadas a partir do diálogo e da vivência do artista com o contexto
social, político, econômico, filosófico, em que está inserido. Sendo assim, características
que se fazem presentes no mundo contemporâneo refletem na arte, seja na postura do
artista, no conceito da arte e/ou nas características apresentadas nas diferentes
linguagens artísticas. (KUNZLER, 2005, p. 2)

ACAT – Av. Brasil, 333 Edifício Delta, apto. 503 – Balneário Camboriu/SC
acatarteterapia.blogspot.com.br
83

A necessidade de expressão e de comunicação nos faz ser humano, ser


semiótico, ser de linguagem. “A linguagem é a interação que existe entre os
homens, os quais estabelecem relações entre si no convívio em sociedade. Através
da linguagem, representamos a realidade em que vivemos, nossos planos para o
futuro, nossas ideias e nossos pensamentos” (THIVES, 2010, p. 30).
A Arte Contemporânea é uma das linguagens em que o ser humano está
interagindo e colocando os seus pensamentos, é nesse meio que “entendendo que
arte, independente de um sentido de funcionalidade que a ela se tem atribuído,
significa a tentativa de criação no plano simbólico, considerada em diferentes
contextos sociais, de novas formas de articulação da realidade (MORAIS, 2011, p.
122).
A Arte Contemporânea traz a vida para a Arte através de outros olhos, “a arte
sempre foi uma atividade socialmente reconhecida e faz parte do dia a dia dos
grupos sociais, mesmo quando não há uma institucionalização separada de outras
atividades” (CARNEIRO, 2008, p. 10). Na arte contemporânea surge um novo
ambiente que acolhe a diversidade de práticas artísticas que não são mais
centralizadas em espaços sacralizados de arte assim dão ao sujeito um espaço de
interação.

A arte aparece então pelo modo enigmático de sua presença, que não nos afeta pela
doce contemplação, mas pelo que apresenta como problema. Em tempos de destroços,
incertezas e pluralidades (...) estar diante da obra, portanto é estar diante de uma
inquietação. (KONESKI, 2012, p. 26).

Assim conseguimos perceber quando a Arte Contemporânea cruza seu


caminho com a expressão social, na continuidade desse estudo vamos legitimar
essas relações, dialogando com nossos autores convidados.

Arte contemporânea:
Refletir sobre a Arte Contemporânea nos dias atuais é levar em consideração
o que diz Koneski (2012, p. 27) “Depois da grande quebra do paradigma estético
tradicional, realizado por Duchamp, com sua roda de bicicleta sobre um banquinho

ACAT – Av. Brasil, 333 Edifício Delta, apto. 503 – Balneário Camboriu/SC
acatarteterapia.blogspot.com.br
84

de cozinha, e sendo essa destruição ampliada consideravelmente na década de


sessenta, não podemos mais realizar nenhum ‘dito’ seguro sobre a expressão da
arte”.
O que discutimos aqui são as mudanças nos conceitos de arte. A produção
artística, não é mais aquela agradável aos olhos e pronta para ser pendurada na
parede da sala. Temos saudades, porém já sabemos que essa época saudosa
reproduzia um ideal de beleza e em um suporte determinado. Mas e agora? A arte
não mais nos traz um alento contemplativo, pois o que nós vemos choca e causa
desconforto.

Tendo em vista os diversos aspectos contraditórios implícitos nas relações sociais do


mundo contemporâneo, estabelecidos como entraves para o entendimento do significado
da arte enquanto conteúdo de conhecimento subjetivo, uma análise crítica referente ao
pensamento estético, visto como um processo contínuo de imbricação do pensamento
filosófico com diversas áreas das ciências que abarcam o conhecimento humano
delimita-se a pertinência da relação entre ética e experiência estética no mundo atual,
baseado na discussão sobre a dimensão da arte e dos processos artísticos no âmbito
das relações sociais mais amplas, entendendo que arte, independente de um sentido de
funcionalidade que a ela se tem atribuído, significa a tentativa de criação no plano
simbólico, considerada em diferentes contextos sociais, de novas formas de articulação
da realidade. (MORAIS, 2011, p. 122).

Nessa considerada nova forma de articulação da realidade, podemos


encontrar os caminhos da Arte Contemporânea com a Expressão Social, pois ao
simbolizar, significar sua realidade num processo de criação artística, teremos uma
produção, que ao ser legitimada pelos sistemas de arte, poderá ser uma obra de
arte ou não. Mas temos a certeza que como arteterapia esse processo já se
estabeleceu. Se o sujeito será artista ou não, aqui não será nosso foco de estudo.
Mas sim a relação que ele estabeleceu entre a sua criação e sua expressão social.
Conforme Viana e Batistela (2008, p. 10) “O discurso é um modo de
legitimação artística, e quem detém os discursos são autoridades em Arte. Esse
discurso é proferido pelo crítico, historiador da Arte, curador e conservador de
museu e galeria, e pelo marchand. São eles que conferem o estatuto de Arte a um
objeto”.

ACAT – Av. Brasil, 333 Edifício Delta, apto. 503 – Balneário Camboriu/SC
acatarteterapia.blogspot.com.br
85

“Existem em nossa cultura forças que determinam a atribuição do estatuto de


Arte a um objeto. Para decidir, possuímos instrumentos específicos, e os principais
são: o discurso (sujeitos e instituições), os lugares de exposição e o tombamento de
patrimônio histórico-cultural” (VIANA e BATISTELA, 2008, p. 15).
Para compreendermos melhor esse processo, podemos referenciar Arthur
Bispo do Rosário (1911 – 1989), que viveu meio século internado na Colônia Juliano
Moreira e desenvolveu um trabalho transitando entre a realidade e o delírio. Ele
usava materiais dispensados no hospital e produziu por volta de mil trabalhos com
objetos. O trabalho desenvolvido por ele teve orientação da Doutora Nise da Silveira,
foi um trabalho terapêutico que foi legitimado e hoje é conhecido no mundo todo
como Arte contemporânea Brasileira. Seus trabalhos foram expostos nas mais
importantes Bienais (Veneza e São Paulo) (GARCEZ e OLIVEIRA, 2004).
Aqui em Santa Catarina temos a Arte de Eli Heil4 com toda a expressividade
social, segundo a própria artista, “A arte para mim é a expulsão dos seres contidos,
doloridos, em grandes quantidades, num parto colorido”. Seu trabalho de tão
expressivo não foi nem classificado pela Bienal de São Paulo, ficou como Arte
Incomum (Art Brut).

[...] o modo como se dá o conhecer na arte mostra-nos uma racionalidade não objetiva,
que nasce no mundo da vida, onde mundo e artista interpretam-se aflorando num
pensamento, feito não de palavras, e numa linguagem muda, todo o segredo do enfeixe
homem-mundo. (MERLEAUPONTY, 2006, p. 60).

Articulando nossas reflexões podemos perceber que nem toda produção


artística contemporânea está baseada na Expressão Social, até porque não
podemos ainda compreender em detalhes o processo de legitimação da Arte
contemporânea. Mas ao analisarmos a expressão social que acontece através da
Arte (Arteterapia), podemos encontrar aí possibilidades de produções a serem
legitimadas, muitas delas serão legitimadas pelo discurso dos sujeitos que sentem e
identificam-se com aquela obra, posteriormente chegando aos sistemas da arte.

4 (http://www.eliheil.org.br/por/artista/, 2014)

ACAT – Av. Brasil, 333 Edifício Delta, apto. 503 – Balneário Camboriu/SC
acatarteterapia.blogspot.com.br
86

Um mérito dos artistas modernos foi terem se empenhado na reconstrução dos sentidos
de arte e de humanidade, pautados por essa nova condição, terminando por redefinir
inteiramente os conceitos de arte e de artista. Cézanne, Gauguin, Van Gogh e Toulouse
Lautrec estiveram mais próximos de artistas como Pollock, Oiticica e Warhol, do que de
muitos de seus companheiros de século, como Ingres, Courbet e Delacroix. O que
diferenciava ambos os grupos era o fato de o segundo grupo ter exercido sua arte
sempre dentro da tradição, enquanto o primeiro a desenvolveu com base em outros
parâmetros, sem o respaldo de um modelo estético que viabilizasse suas obras.
(BUENO, 2010, p. 28).

Assim percebemos como dialogam a Arte Contemporânea com a Expressão


Social, para ampliarmos nossas interlocuções vamos aprofundar um pouco os
conceitos de Expressão Social.

Expressão social:
Agora é o momento de refletirmos sobre as questões sociais contemporâneas
“A contemporaneidade, com seu progresso tecnológico e com o crescimento da
consciência dos direitos humanos, não conseguiu evitar a tendência de
marginalização de multidões de excluídos” (BAZANELLA, 2009, p. 64).

Doenças Sociais:
Se analisarmos as raízes dessas doenças como: estresse, obesidade,
bullying, anorexia, estética, beleza física ou outras que aqui não foram citadas,
encontraremos a sociedade do controle e dos sérios, que conforme Bazanella
(2008), não quer a espontaneidade do sorriso, da vida. Tudo ao redor privilegia a
seriedade, incluindo as escolas que buscam nessa seriedade a verdade. A
insegurança vira sinônimo de medo, de vontade de controlar. Nesse caos
desaprendemos a sorrir, trocamos o sorriso sincero por uma postura de sério. “A
busca de harmonia e perfeição tem estado presente na história do mundo e ainda é
uma marca da sociedade ocidental contemporânea” (MARTINS et al, 2004, p. 970).

Torna-se possível refletir que a doença, na realidade, é uma nova norma, ou seja, uma
nova ordem vital. O estado patológico ou anormal não significa uma ausência de norma,
mas uma norma diferente. Porém o normal patológico e o normal fisiológico não são
iguais, constituindo-se em normas diferentes. A doença é uma norma de vida inferior por
ser incapaz de se transformar em outra norma. Ser sadio significa não somente ser

ACAT – Av. Brasil, 333 Edifício Delta, apto. 503 – Balneário Camboriu/SC
acatarteterapia.blogspot.com.br
87

normal em uma dada situação, como também ser normativo nesta e em outras
situações, ou seja, ser adaptável.

Conforme Martins, AJ et al (2004), as doenças são construções sociais e


artefatos culturais, além de processos biológicos. Para os autores o alicerce da
doença é o que chamamos de norma, o que é ser normal. Os termos ainda hoje
classificados pela Organização Mundial da Saúde trazem citações como: síndromes,
desordens, anomalias são designações de disfunção, que remetem também à noção
de normal. As definições são deficiências, incapacidades e desvantagens. O termo
desordem mantém a ideia de ordem, de organização. A palavra anomalia sugere
que algum desvio aconteceu. O conceito de incapacidade define a ausência de
capacidade. Ou seja, o normal, traz em suas representações a ausência de
diferença.

É comum os estudiosos da sociedade contemporânea valorizarem a liberdade do


indivíduo moderno, em contraposição à posição mais restrita que cabia aos indivíduos
nas sociedades anteriores, por mais que a sociedade moderna tenha ampliado as
formas possíveis de se viver, é completamente utópico pensar uma estrutura social que
não imponha restrições à liberdade individual. Uma vez inserido numa determinada rede
social, o indivíduo terá, de uma forma ou outra, que escolher um modo de
funcionamento, dentro da estrutura social vigente. Até mesmo a liberdade de escolha
entre as possíveis funções sociais que vá exercer depende de certas condições que
restringem sua liberdade individual. O indivíduo depende amplamente do lugar onde
nasceu, da família em que foi criado, da escolaridade que lhe foi possível obter. A
liberdade individual é, portanto, sempre limitada (MENDLOWICZ, 2009, p. 45).

O Corpo e a Moda:
O ser humano vive em busca de sua identidade, mesmo com a pressão social
ele tenta se afirmar através do seu corpo e por meio da moda. “Em qualquer
situação, os indivíduos se esforçarão para afirmar sua identidade pessoal com o uso
de maquiagem, acessórios, penteados e cortes de cabelo” (JONES, 2008, p. 27).
O uso das roupas se deu primeiramente por necessidade fisiológica, para
não sentir frio, mas com o desenvolvimento intelectual do ser humano, as roupas
passaram a definir classes sociais, estilos de vida, filiações religiosas e também para
diferenciar e reconhecer profissões.

ACAT – Av. Brasil, 333 Edifício Delta, apto. 503 – Balneário Camboriu/SC
acatarteterapia.blogspot.com.br
88

Para as roupas podemos classificar o seu uso de acordo com as


necessidades da sociedade e assim compreender como uma expressão social.
Primeiramente veio a necessidade da utilidade, depois a decência, a indecência, a
ornamentação, a diferenciação simbólica, a filiação social e o auto-aprimoramento
psicológico.
A utilidade das roupas podemos exemplificar com as necessidades para os
trabalhadores. O homem do campo precisa se refrescar, o pescador ficar seco e o
bombeiro se proteger das chamas (JONES, 2008).
O termo decência vem com a necessidade de cobrir a nudez. Já para reforçar
os atrativos sexuais surge a roupa indecente, com todo o seu apelo sexual.
A ornamentação vem através dos adornos que procuram enriquecer nossos
atrativos físicos, afirmar nossa criatividade e individualidade ou sinalizar nossa
associação ou posição dentro de um grupo ou cultura. A deformação e a
reformulação do corpo por meio de roupas modeladoras e outras, tem alterado as
silhuetas da moda ao longo de eras.

A fragmentação do sujeito, imposta pela ciência, legitimada pela multidisciplinaridade


segundo a qual o corpo é entendido, pode transformar o sujeito em uma “colcha de
retalhos”, dificultando a compreensão e confundindo-o em relação a “que caminho
seguir”, na construção de uma vida com qualidade e dignidade. A sociedade
contemporânea acompanha essa fragmentação, com a perda da noção do todo, em
vários setores da sociedade: na prática da medicina, no paternalismo da relação médico-
paciente, na categorização do homem em áreas, tecidos e doenças; na pesquisa clínica,
com a hiper especialização da ciência; na saúde pública, com a procura obsessiva pelas
clínicas de especialidade antes da atenção básica, provocando excesso de gastos com
exames desnecessários; na preocupação que se dá à aparência do corpo ou aos
aspectos particulares de cada parte. O homem pode estar preso a condicionamentos e
condicionantes sociais que o levam à adoção de hábito de costumes, muitas vezes para
satisfazer a necessidade de pertencimento, inclusão e aceitação, relativas à própria
questão da sobrevivência em sociedade. Ele pode estar imerso em uma trama social,
que o conduz a um tratamento de si, pelo referente corpo, cada vez mais coletivamente
comprometido com valores pouco saudáveis (MARQUES, 2012, p. 418).

Para Jones (2008) a filiação social é a denominação para a qual as pessoas


se vestem de modo igual para pertencerem a um mesmo grupo. Aquelas que não se
“encaixam” ou se moldam aos estilos são consideradas divergentes ou inconfiáveis
e podem até ser excluídas.

ACAT – Av. Brasil, 333 Edifício Delta, apto. 503 – Balneário Camboriu/SC
acatarteterapia.blogspot.com.br
89

O que antes era chamado de diferenciação simbólica, hoje na sociedade


contemporânea, já não cabe mais, pois as etiquetas e grifes, os materiais caros e
jóias, já podem ser encontrados nas diferentes camadas das classes sociais. Como
isso não diferencia mais, o seu humano inventa e cria cada dia uma nova forma de
se modificar.

Na busca pelo modelo corporal ideal do homem contemporâneo, o homem vulnerabiliza-


se e torna-se refém da padronização da oferta cosmetológica, que “deve” refletir /
produzir corpos de deuses e heróis, na busca de uma espécie de “corpo original”. Na
tentativa de se aproximar dos “deuses”, de encontrar a unidade homem / divino, corpo /
alma, o homem se esvazia dos referenciais / valores simbólicos / divinos e se aproxima
da perda da própria identidade e, como consequência dessa crise, adoece. Pode estar aí
o paradoxo que caracteriza um dos dilemas éticos da sociedade contemporânea: o
homem busca consolo para suas angústias nos modelos estéticos “de deuses”, mas
possui um corpo domesticável e vulnerável. O homem, afastado de seus referenciais
divinos, pode estar condenado a crônicas enfermidades físicas e metafísicas
(MARQUES, 2012, p. 418).

Todas essas necessidades do ser humano são as expressões sociais que


encontramos nas diferentes formas e linguagens que o homem usa para se
expressar e se comunicar com seu meio. Como ser de linguagem, ser semiótico o
ser humano, nunca estará estagnado, estará sempre em busca de uma novidade, de
uma maneira de se expressar diferente do que vem sendo feito. Se essa busca for
consciente e lhe traga o bem, melhor seria. Mas aqui estamos para refletir e não
valorar as escolhas feitas por cada um de nós, os seres humanos. Ao que podemos
compreender é que a Arte é o espaço em que o ser humano se sente livre, ainda
mais agora na contemporaneidade, livre de cânones, regras e estereótipos.

Considerações finais:
Pensar sobre a Arte Contemporânea, nos remete ao abandono das práticas
artísticas convencionais. A Arte hoje está despida de preconceitos e de regras, ou
pelo menos deveria estar. Esbarramos nos entraves dos sistemas da arte, quando
necessitamos legitimar alguma produção artística.
Mas quando se trata de expressão social, podemos perceber que o homem
nunca esteve tão livre para criar como está nos dias atuais, porém a falta de tempo e

ACAT – Av. Brasil, 333 Edifício Delta, apto. 503 – Balneário Camboriu/SC
acatarteterapia.blogspot.com.br
90

as doenças sociais o estão consumindo que ele não percebe e não usufrui de suas
possibilidades artísticas.
O que sempre foi uma necessidade do ser humano, a criação artística, hoje
está se tornando recurso para cura de enfermidades. E sempre em busca da velha e
boa liberdade, tão sonhada por cada ser humano.
O grande desafio desse diálogo foi perceber onde os caminhos entre a arte
contemporânea e a expressão social se cruzam. Percebemos que o maior desafio
foi separar a arte contemporânea da expressão social. A arte contemporânea é uma
linguagem da expressão social, como a moda e outras linguagens.
Podemos refletir que esse foi um ensaio sobre essa discussão, pois a arte
contemporânea está aí mostrando e expressando as angustias sociais, as doenças
sociais e as necessidades dos seres humanos.
A arte contemporânea ainda causa estranheza, desconforto, medo, angústias,
tristezas, caos (...), pois é reflexo dessa sociedade contemporânea. A sociedade é o
contexto em que a arte está inserida, e a arte não é a reprodução da natureza, mas
sim uma interpretação, um olhar, enfim uma expressão social do que vivemos.
Se não gostamos do que estamos vendo pelas criações da arte
contemporânea, podemos refletir sobre a nossa contribuição para esse reflexo da
sociedade.
Cada um colhe o que planta?

Referências:
BATISTELA, Kellyn ; VIANA, Abel da Silveira. Caderno de Estudos – História da
Arte. Indaial – SC: Editora Asselvi, 2008.

BAZANELLA, André. Caderno de Estudos – Antropologia Social e Cultural.


Indaial – SC: Editora Grupo UNIASSELVI, 2009.

BUENO, Maria Lúcia. Do moderno ao contemporâneo: uma perspectiva sociológica


da modernidade nas Artes Plásticas. Revista de Ciências Sociais, Universidade
Federal do Ceará, p. 27-47, 2010.

ACAT – Av. Brasil, 333 Edifício Delta, apto. 503 – Balneário Camboriu/SC
acatarteterapia.blogspot.com.br
91

CARNEIRO, Beatriz Scigliano. Arte Contemporânea e ciências sociais: notas para


reviravoltas. Ponto-e-vírgula, 3: 8-18, 2008.

GARCEZ, Lucília; OLIVEIRA, Jô. Explicando a Arte Brasileira. Rio de Janeiro:


Ediouro, 2004.

JONES, Sue Jenkyn. Fashion Design: manual do estilista. São Paulo: Cosac Naify,
2008.

KONESKI, Anita Prado. Reflexões sobre a arte hoje. Revista Hall CEART,
Universidade do Estado de Santa Catarina – UDESC, Florianópolis – SC: agosto de
2012.

KUNZLER, Nelcí Andreatta. A arte visual no mundo contemporâneo. (Dissertação


de mestrado), PUC/RS, 2005.

MARQUES, CLÓVIS PAES. A crise do corpo na sociedade contemporânea: uma


reflexão à luz da filosofia e da bioética. Revista - Centro Universitário São Camilo -
2012; 6(4):416-421.

MARTINS, AJ et al. Em contato com as doenças genéticas: a tradição da norma e


da razão 969. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 20(4):968-975, ju l- ago, 2004.

MENDLOWICZ, Eliane. A sociedade contemporânea e a depressão. Disponível


em: http://www.uva.br/trivium/edicao1/artigos-tematicos/4-a-sociedade
contemporanea-e-a-depressao.pdf. Acesso em agosto de 2014. REVISTA TRIVIUM
- ANO I - EDIÇÃO I - 2º Semestre de 2009

MERLEAU-PONTY, Maurice. Fenomenologia da percepção. São Paulo: Martins


Fontes, 2006.

MORAIS, Lucyane. Conexões entre ética e estética: escritos sobre arte, cultura e
sociedade. Ensaios Filosóficos, v. IV, outubro, 2011.

THIVES, Rikeli Ferreira, Mosaico de Nós: Sentidos de Arte na Interação em sala de


aula. 2010.114f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Programa de Pós-
Graduação em Educação, Centro de Ciências da Educação, Universidade Regional
de Blumenau, Blumenau – SC, 2010.

ACAT – Av. Brasil, 333 Edifício Delta, apto. 503 – Balneário Camboriu/SC
acatarteterapia.blogspot.com.br
92

Palestra 5:
A Interface entre a Música e a Arteterapia.

Profª. Ms. Ana Léa Maranhão (CENSUPEG).

Música mobiliza... às vezes invade e agride, outras acolhe e agrada.


Terminamos, inevitavelmente, por demarcar territórios permeados de
subjetividades, nos quais forças agenciam acontecimentos a cada vez que
a música nos apresenta (MARANHÃO, 2007, p. 21).

Resumo:
Este artigo reflete sobre os possíveis usos da música, dos seus elementos e sons
em um processo terapêutico com a Arteterapia, interação entre arte e ciência, e
como a música pode influenciar a expressão artística, criando uma ambiência
favorável para o surgimento de conteúdos a serem trabalhados terapeuticamente
numa visão integradora.

Palavras-chave: música; Arteterapia; Musicoterapia; arte; ciência.

Quando pensamos o uso das artes - auditivas, visuais, táteis ou de


movimento, na área da saúde, nos aproximamos de duas ilimitadas e intensas
áreas: arte e ciência, que sendo pensadas em interação e bem conduzidas num
processo terapêutico, criarão enlaces e desenlaces dos mais lindos,
transformadores, produtivos e doadores de cura e vida.
Coelho (2001) explana sobre a característica multidisciplinar e a complexidade
quando se abarca essas áreas, pois criam signos que se dão num espaço/tempo
entre a arte e a ciência.

ACAT – Av. Brasil, 333 Edifício Delta, apto. 503 – Balneário Camboriu/SC
acatarteterapia.blogspot.com.br
93

Estando na ciência, terá que criar um espaço que vai além da visão científica
fazendo um engate com a arte para criar novas sensações, estando na arte, terá
que se apoiar na ciência para explicar o que, como e porque essa sensação foi
criada. Assim, ora escapando para a criação, ora nomeando a criação, o
musicoterapeuta é um nômade que transita entre esses dois mundos (COELHO,
2001, p. 31).

Através do processo terapêutico, que se dá tanto na Musicoterapia quanto na


Arteterapia pelo engate arte e ciência, podemos gerar novas possibilidades e
potencialidades até então desconhecidas pelo paciente, numa forma de acesso
singular aos conteúdos inconscientes, criando um jogo de transformações, premissa
básica para um processo terapêutico bem-sucedido. “A pintura e a música nos falam
da essência do mundo com uma só diferença fundamental: a música nos dá
sensação no tempo, e a pintura, no espaço (como as outras artes plásticas)”
(LEINIG, 2008, p. 104).
Estímulos captados através da visão, audição, tato, olfato, gustação,
acontecimentos de dor, prazer, variações de temperaturas, emoções, sentimentos,
etc., são gravados juntos em nossa memória e estão associados. Qualquer um deles
quando acionados, mobilizam contato com um dos estímulos gravados, e os que
estão associados a este primeiro também irão reagir. Uma audição musical pode
trazer à tona lembranças de pessoas, locais, fatos, emoções, cheiros, gostos, dor ou
prazer e esses acontecimentos podem ser passados para uma forma de expressão
artística visual.
Nessa linha de pensamento, podemos começar a pensar se uma audição
musical antes ou durante uma expressão artística gráfica poderia afetar ou induzir
essa obra.

As conexões neurológicas entre esses dois órgãos sensoriais: audição e visão


são muito grandes e mantém um intercâmbio acentuado de conhecimentos,
tanto que, quando solicitamos da memória uma informação ligada a parte
auditiva, automaticamente, estamos requisitando junto informações da parte
visual. Isso ocorre porque tudo que guardamos na memória, guardamos
associado (STRALIOTTO, 2001, p. 113).

Importante pontuar que nesses processos sensoriais (de estímulos captados


do mundo externo ou enviados pelo nosso próprio corpo) e perceptivos, fisiológicos

ACAT – Av. Brasil, 333 Edifício Delta, apto. 503 – Balneário Camboriu/SC
acatarteterapia.blogspot.com.br
94

e neurológicos, as associações de informações, os intercâmbios de conhecimento,


os jogos de acesso entre as memórias, já são diferenciados entre cada um dos
seres humanos desde a captação pelas células sensoriais, no processamento
perceptivo, no armazenamento nas memórias e, principalmente, quando acionados
um tempo depois do acontecimento, solicitando uma expressão qualquer sobre a
‘lembrança’ registrada, verbal ou não.

Existem alguns ‘padrões’ de captação dos estímulos do mundo externo, dos


enviados pelo nosso corpo e pelas nossas próprias motivações internas, assim
como nossas expressões e reações frente a estes estímulos, afinal, temos um
desenvolvimento equivalente em termos de fases da vida e de aprendizado
humano. Mas, nascemos com diferenças genéticas, assim como sofremos
influências culturais e familiares, do meio ambiente no qual somos criados, das
teias tecidas pela nossa história de vida, além dos momentos e fases que
passamos em nossas vidas (MARANHÃO, 2008, p. 18).

Sabemos que não existem dois seres humanos iguais, que pensem, sintam,
escutem e se expressem de maneira idêntica, e temos que lidar com essa verdade
enquanto terapeutas e seres humanos, pois essa realidade afeta diretamente nosso
trabalho. Cada indivíduo irá reagir verbalmente e expressivamente de forma única,
diante de uma mesma audição musical.

Tão inconcebível é, portanto, o uso da ‘farmacopéia musical’, difundida em


vários livros sobre musicoterapia à nossa disposição. Para ‘tal’ doença,
desconforto físico ou psicológico, ou estado de humor, acompanha uma lista de
compositores, obras ou estilos musicais que seriam úteis e poderíamos obter ‘a
cura’. Desconsideram totalmente o ser humano único com o qual estamos
atuando terapeuticamente e a forma, também única, como vivencia seus
desequilíbrios, equilíbrios e transformações (MARANHÃO, 2008, p. 23).

Não existem determinados tipos de músicas que possam fazer com que os
indivíduos livremente expressem graficamente conteúdos idênticos, pois as músicas
acionam conteúdos internos armazenados de forma única com associações
diferenciadas. Pode, e vai haver, conforme a música apresentada, semelhança nos
temas, mas as motivações e a forma como são expressados são únicas, e esse
processo se completa na fala do próprio indivíduo com relação a sua obra.

ACAT – Av. Brasil, 333 Edifício Delta, apto. 503 – Balneário Camboriu/SC
acatarteterapia.blogspot.com.br
95

Com a ajuda da música podemos criar um clima favorável que facilite o


surgimento das emoções, um conjunto de sons e palavras faz surgir no
consciente da pessoa, imagens, sensações de certas cenas vividas por ela, no
passado. Estímulos esses captados pelos cinco órgãos dos sentidos e
memorizados com a carga emocional própria de cada estímulo, agora com a
ajuda da música compõe o quadro emocional solicitado (STRALIOTTO, 2001, p.
88).

Identidade sonoro-musical:
Visando embasar nossas escolhas de repertórios para as audições musicais
nos processos terapêuticos, podemos pensar em uma das teorias da Musicoterapia,
sobre a Identidade Sonoro-Musical dos indivíduos - ISo.
Conforme BENENZON (1988) e MARANHÃO (1999), cada indivíduo tem sua
Identidade Sonoro-Musical, que é formada de modo diferenciado em cada um.
Nessa formação estão englobados os sons universais de todo ser humano
(batimentos cardíacos, respiração, grito e choro, sons da natureza, etc.), a carga
cultural que ele carrega, o grupo onde vive, as oscilações do cotidiano e o modo
como sente os diferentes estímulos desde a gestação, provenientes de suas
influências sonoras.
Os sons são, portanto, percebidos desde a vida intrauterina, os batimentos
cardíacos da mãe, o barulho de água (líquido amniótico), os ruídos viscerais e as
vozes (principalmente da mãe) vão, desde essa época, formando a Identidade
Sonoro-Musical do indivíduo, somando-se posteriormente tudo que ele irá ouvir em
sua vida, sendo sua vontade, ou não.

Assim, ISo é definido por Benenzon: “ISo quer dizer igual, e resume a noção da
existência de um som, ou um conjunto de sons, ou fenômenos sonoros internos
que nos caracteriza. É um fenômeno de som e movimento interno que resume
nossos arquétipos sonoros, nossas vivências sonoras gestacionais intrauterinas
e nossas vivências sonoras de nascimento e infantis até nossos dias
(MARANHÃO, 1999, p. 26).

O ISo é dinâmico e está em constante movimento, conforme Benenzon (1988)


que distingue os ISos:

ACAT – Av. Brasil, 333 Edifício Delta, apto. 503 – Balneário Camboriu/SC
acatarteterapia.blogspot.com.br
96

 Universal - Independente da cultura em que o indivíduo está inserido, de sua


personalidade, de seu nível sócio econômico e de sua história, o ISo
Universal caracteriza todos os seres humanos. Sons como o batimento
cardíaco, inspiração, expiração, a voz materna, o fluxo sanguíneo, a água,
sons da natureza, são significativos para todos os seres humanos;
 Gestáltico - É a totalidade sonora que o indivíduo percebe, é único o modo
como ele a percebe e é o que o caracteriza e representa todo o conjunto de
vivências sonoras de indivíduo;
 Complementar - Esse ISo se altera com as pequenas mudanças de nosso
dia-a-dia e caracteriza o momento sonoro do indivíduo;
 Cultural - Está ligado à cultura da qual o indivíduo faz parte, é a identidade
própria de uma comunidade de homogeneidade cultural relativa. Por isso,
num tratamento musicoterápico, damos importância aos dados sobre a família
de origem do paciente;
 Grupal - Inclui o aspecto social; é a identidade sonora de um grupo de
pessoas e está ligado ao conceito de identidade étnica. Englobam as
variações religiosas, regionais, de linguagem, etc. de uma cultura.

Além da forma única como cada indivíduo capta os sons, o ISo está carregado
da cultura na qual ele está inserido, mas se altera conforma o humor e
acontecimentos diários e isso nos ajuda a utilizar um estímulo sonoro-musical
compatível com seu ISo, o que certamente facilita a abertura de canais de
comunicação favoráveis ao processo terapêutico.

Para uns a letra é a mais importante e decisiva, pois tem a vantagem de trazer
sua codificação própria e específica, que facilita a identificação do sentimento
proposto pela música; para outros, o ritmo é o mais importante, pois envolve a
pessoa, mesmo sem um conteúdo emocional muito forte (STRALIOTTO, 2001,
p. 88).

Outro importante ponto a ser observado, é que variam consideravelmente as


preferências e direcionamentos, mesmo inconscientes, na escuta. Alguns indivíduos
são capazes de dizer praticamente todo o conteúdo da letra de uma música após

ACAT – Av. Brasil, 333 Edifício Delta, apto. 503 – Balneário Camboriu/SC
acatarteterapia.blogspot.com.br
97

uma única audição, enquanto outro mal sabe as palavras de um refrão que se repete
várias vezes na música, assim como é próprio de cada um a escolha por um ritmo
ou melodia numa música.

Cada um de nós reaciona à música de forma que nos é particular... Segundo


Ingenieros (1952), as excitações musicais (como qualquer excitação sensorial)
determinam o aumento das atividades fisiológicas gerais do organismo; a
influência da música é um fato experimental demonstrado. Para a música, como
qualquer gênero de excitação, é preciso ter presente a constituição mental do
indivíduo, produto das predisposições hereditárias e das aquisições educativas
(LEINIG, 2008, p. 233).

Os dados acima descritos nos revelam a multiplicidade das escutas de cada


ser humano, com suas diversidades culturais e subjetividades. “Em relação a uma
mesma pessoa, em situações diversas, uma mesma música pode assumir sentidos
bem diversos, suscitar sentimentos contraditórios, propor questões e reflexões e
provocar reações, associações e sensações” (BARCELLOS e SANTOS, 1996, p.
127).
A música e os sons podem abrir canais de comunicação com o indivíduo, o
que nos faz crer que ela atua como facilitadora da expressão humana, dos
movimentos, gestos, sentimentos, sensações e emoções, da livre expressão
corporal e relaxamento, deixando uma ambiência propícia para as mais variadas
formas de expressões artísticas.

A descarga que provém de uma emoção se constitui num ato primário, e a


resposta dos centros atingidos pelo estímulo sonoro é quase automática. Essa
descarga não é um ato estético e para que o seja, é preciso que o estímulo se
mediatize e que as respostas se organizem em formas artísticas (LEINIG, 2008,
p. 353).

A Música:
A música atinge diferenciadamente áreas de nossa psique que dificilmente são
atingidas por outras fontes de estímulos, como uma mensagem a ser usada
terapeuticamente e manifesta sensibilidade, emoção, timbres diversos e ritmos,
melodias e harmonias, numa espécie de linguagem emocional, levando-nos a
reagir numa grande e variável escala, em áreas e percepções somente
experienciadas através dela (MARANHÃO, 1999, p. 10).

ACAT – Av. Brasil, 333 Edifício Delta, apto. 503 – Balneário Camboriu/SC
acatarteterapia.blogspot.com.br
98

Muitas vezes a música é decomposta para ser utilizada terapeuticamente e


apenas um ou alguns de seus elementos ou características são enfocados e
aproveitados para pensarmos a escolha do repertório, de acordo com os objetivos
propostos. As músicas podem ser analisadas segundo alguns aspectos como: as
qualidades do som (altura, duração, intensidade e timbre) e os elementos
fundamentais da música (ritmo, melodia e harmonia).
Quanto às qualidades do som, a altura fornece o elemento melódico agudo ou
grave, a duração é o tempo de percepção do som, a intensidade determina se um
som é fraco ou forte e o timbre é a identidade sonora de um som.
Quanto aos elementos, “o ritmo está na essência de todas as coisas”
(WEBER, 2004, p. 63), nos elétrons em torno do núcleo, nos corpos celestes, ciclos
lunares e das estações, variações das marés, etc. No homem, no pulso, nos
batimentos cardíacos, nas necessidades básicas, gestação e nascimento,
crescimento e desenvolvimento, ciclo menstrual nas mulheres, no ritmo circadiano,
tensão e relaxamento, etc.
Tradicionalmente na música, o ritmo está associado ao andamento, que

provoca uma resposta fisiológica que tem relação direta com a percepção
auditiva desse ritmo, e quando o ritmo se apresenta sem melodia nem harmonia,
a resposta se elabora através do movimento como máximo expoente. Em muitos
indivíduos, a resposta surge espontaneamente e se sincroniza com os pulsos
rítmicos (MARANHÃO, 1999, p. 15).

A melodia é o conjunto de relações que caracterizam a sucessão de sons de


alturas diferentes, musicalidade, sonoridade, que encerram um certo sentido
musical. A altura, ou seja, a variação de sons graves e agudos, é que fornece o
elemento melódico e a “música” só se inicia quando esses sons estão arrumados
numa determinada sequência. A altura dos sons e o seu ritmo dão sentido à melodia
e produzem efeito nas emoções humanas.

A melodia é a sucessão de sons tocados um após o outro. A melodia gera


diferentes modos musicais que exprimem diferentes estados de humor estando
diretamente relacionados à linguagem emocional. É por meio da melodia que
são expressas a gama de sensações e estados emocionais evocadas pela
música (WEBER, 2004, p. 59).

ACAT – Av. Brasil, 333 Edifício Delta, apto. 503 – Balneário Camboriu/SC
acatarteterapia.blogspot.com.br
99

A melodia pode aparecer na voz cantada ou através de instrumentos musicais


melódicos de corda (violão, piano, etc.), sopro (flauta, gaita, etc.), eletrônicos
(teclado, p.ex.) ou percussão (xilofone, metalofone, tambores afinados, etc.).

Efeitos bio-psíquicos:
A música, como atividade vibratória organizada, afeta o corpo de duas
maneiras: objetivamente, como efeito do som sobre as células e os órgãos; e
subjetivamente, agindo sobre as emoções, que, por sua vez, influenciam numerosos
processos corporais. Temos aí um modelo de retroalimentação, onde o organismo
influi nas emoções e as emoções influem no organismo.
O som, o ritmo e o movimento são capazes de agir sobre o físico e o psíquico,
com efeitos registrados através de pesquisas realizadas em várias regiões do
mundo, facilitadas pelos avanços tecnológicos.

Os efeitos fisiológicos dos elementos sonoro-rítmicos-musicais podem ocorrer


como reações sensoriais, hormonais e fisiomotoras, e como efeitos psíquicos
podem surgir descargas emocionais em graus variáveis, dependendo do
indivíduo, levando-os a se expressarem perante os sons e músicas
apresentados ou executados, que podem alterar seu comportamento e modos
de interação com o mundo que os cerca (MARANHÃO, 1999, p. 19).

A música pode afetar: capacidade e ritmo respiratório, cardiovascular:


pulsação e pressão sanguínea, funções endócrinas, percepção sensorial, energia e
tônus muscular, funções neurovegetativas, condutibilidade elétrica do organismo,
funções cognitivas (atenção e concentração), habilidades sócio-comunicativas,
expressão corporal e emocional, percepção da dor, ansiedade, percepção do humor,
atitudes, percepção da distração, relaxamento, satisfação com o sono, desamparo,
comportamentos não estressantes, prazer, etc. A fantasia, as associações ou a
expressão encontradas na música, provém do que já existe no indivíduo, e como
Hanslick e Dauriac, “a música não cria, mas sim intensifica, como um ressoador, o
que já existe em cada um de nós”’ (LEINIG, 2008, p. 351).

ACAT – Av. Brasil, 333 Edifício Delta, apto. 503 – Balneário Camboriu/SC
acatarteterapia.blogspot.com.br
100

Audição musical:
Terapeuticamente, podemos utilizar a música e os sons de forma interativa,
com terapeuta e paciente interagindo musicalmente, ou receptiva, na qual a audição
musical se encontra e é o alvo de nossas reflexões.

Nas experiências musicais receptivas, o cliente ouve música e responde à


experiência de forma silenciosa, verbalmente ou através de outra modalidade...
A experiência de ouvir pode enfocar os aspectos físicos, emocionais,
intelectuais, estéticos ou espirituais da música e as respostas do cliente são
moduladas de acordo com o objetivo terapêutico da experiência (BRUSCIA,
2000, p. 129).

Dentre os objetivos terapêuticos, Bruscia (2000) cita: promover a


receptividade, estimular ou relaxar, desenvolver habilidades áudio-motoras, evocar
estados e experiência afetiva, explorar ideias e pensamentos, facilitar a memória, as
reminiscências e as regressões, evocar fantasias e a imaginação, estabelecer
conexão entre o ouvinte e o grupo comunitário ou sócio-cultural, estimular
experiências espirituais.

Nas formas receptivas de musicoterapia, quando os clientes ouvem música, eles


recebem o som através de seus corpos, apreendem o som através de sua
psique, se ouvem através do som, ouvem os universos dos outros através do
som, revivem suas experiências através do som, com o som, pensam com o som
e se aproximam do divino com o som (BRUSCIA, 2000, p. 45).

O uso da música pode ser pensado também, dependendo da forma como a


apresentamos, fundo ou foco, ou seja, a música em primeiro plano ou não. Quando
‘foco’, pedimos a atenção do indivíduo para a música, normalmente em silêncio para
a escuta, e como música de ‘fundo’, simplesmente a música é executada no
ambiente, normalmente num volume mais baixo, praticamente sem a atenção dos
indivíduos voltada para ela.

Bruscia (2000, p. 117) chama esse tipo de estímulo de extramusical, pelos


aspectos não-musicais da experiência musical. “A pessoa pode colocar a música em
primeiro plano e modelar o comportamento de acordo com a música, ou ao

ACAT – Av. Brasil, 333 Edifício Delta, apto. 503 – Balneário Camboriu/SC
acatarteterapia.blogspot.com.br
101

contrário, centrar-se no comportamento extramusical e colocar a música no segundo


plano da experiência”.
A música também é muito usada em práticas de relaxamento, em conjunto ou
não com outras técnicas específicas para relaxamento, e ele pode ser feito no início
ou no final de um atendimento,

o relaxamento no início da sessão, com a finalidade não só de preparar e dispor


o corpo para o trabalho terapêutico, que terá seguimento logo após, como
também, desenvolver maior percepção e concentração no paciente. As músicas
para relaxamento devem ser selecionadas cuidadosamente para que possam
induzir o corpo a se soltar, a se distender e despertar, ao mesmo tempo, uma
sensação de bem-estar e renovação de energias físicas e psíquicas (LEINIG,
2008, p. 424).

É sempre muito importante considerar ou não o uso da música no processo


terapêutico. Dependendo do estado fisiológico e psicológico do indivíduo no
momento ou dos objetivos terapêuticos, pode ser conveniente deixá-lo com seus
próprios sons, músicas e conteúdos internos, sem focar sua atenção para um som
externo.

Do ponto de vista psicológico o silêncio é muito importante, pois interrompe a


sequência de estímulos vindos do ambiente, em direção ao cérebro. Acalma a
mente que passa a trabalhar no seu próprio ritmo, com seus próprios ritmos
internos, isto é, organizando seus próprios pensamentos e liberando somente as
emoções que deseja a nível consciente, sem sofrer constantemente a
estimulação externa que obriga a ter reações emocionais de acordo com o meio
ambiente. Podemos no silêncio fazer uma autoanálise do conteúdo psíquico, pôr
em ordem nossos pensamentos e fazer com que os ritmos orgânicos trabalhem
livremente sem interferência, fluindo em seu estado normal e sendo liberados de
maneira fisiológica dentro da capacidade biológica de cada um (STRALIOTTO,
2001, p. 98).

A música está facilmente ao alcance das pessoas para ser objeto de escutas
e expressividades e, poder ser ou não utilizada, cabe aos profissionais da arte e
ciência pesquisar, se atualizar, compor objetivos e efetuar escolhas para que um
processo terapêutico agregue valor e enriqueça as práticas.

ACAT – Av. Brasil, 333 Edifício Delta, apto. 503 – Balneário Camboriu/SC
acatarteterapia.blogspot.com.br
102

Escutamos a música na relação e não no som, assim como as horas não


estão no relógio, mas na relação do observador com o objeto observado.
Música se apresentando como fonte de onde emergem formas, cores,
intensidades, temporalidades, movimentos, gestos, nuanças, repetições,
diferenças. Música que se apresenta de modo rizomático, plena de
multiplicidades, se atualizando nos acontecimentos sonoros (MARANHÃO,
2008, p. 80).

Referências:
BARANOW, Ana Léa. Musicoterapia: uma visão geral. Rio de Janeiro: Enelivros,
1999.

BENENZON, R. O. Teoria da Musicoterapia. São Paulo: Summus, 1988.

BRUSCIA, K. Definindo Musicoterapia. Rio de Janeiro: Enelivros, 2000.

COELHO, Lilian. A Formação do Musicoterapeuta: Criando uma Escuta que Liga


Arte e Ciência. Anais do I Fórum Catarinense de Musicoterapia, p. 23-34.
Florianópolis: Acamt, 2001.

LEINIG, C.E. A Música e a Ciência se Encontram. Curitiba: Juruá, 2008.

MARANHÃO, Ana Léa. Acontecimentos Sonoros em Musicoterapia. São Paulo:


Apontamentos, 2007.

MARANHÃO, Ana Léa. A Visão Integral de Ser Humano como Base na Formação
do Musicoterapeuta. Anais do I Encontro Sul-Brasileiro de Musicoterapia, p. 17-
26. Curitiba: AMT-PR, 2008.

STRALIOTTO, J. Cérebro & Música. Blumenau: Odorizzi, 2001.

WEBER, A. Música e Acupuntura. São Paulo: Rocca, 2004.

ACAT – Av. Brasil, 333 Edifício Delta, apto. 503 – Balneário Camboriu/SC
acatarteterapia.blogspot.com.br
103

Palestra 6:
Elementos da expressão artística na Respiração Holotrópica: o poder do imaginário
na terapia com estados ampliados de consciência.

Prof. PhD. Jörg Henri Saar5

Resumo:
Entre muitas técnicas de ampliação da consciência, a Respiração Holotrópica (RHT),
desenvolvida por Stanislav e Cristina Grof, é considerada a ferramenta mais potente
dentro da Psicologia Transpessoal. Esta técnica neoxamânica agrega
hiperventilação, música evocativa, trabalho corporal, confecção de mandalas e
partilha. Assim, os grupos terapêuticos utilizam diferentes elementos da arteterapia
para potencializar o efeito curador do acesso ao imaginário individual e coletivo.

Palavras-chave: Arteterapia; estados ampliados de consciência; respiração


holotrópica.

Introdução:
Fazemos parte de um universo de dimensões muito além da nossa
imaginação. Quando ficamos limitados à realidade gerada pelos nossos cinco
sentidos, esta vastidão do espaço muitas vezes provoca em nós uma sensação de
insignificância.
Novos insights vindos da linha de frente da ciência, notadamente da física
quântica, mostram que o universo todo é construído a partir de campos vibracionais.
Estes campos sempre foram acessíveis para os seres humanos através de técnicas
de ampliação da consciência, ultrapassando o “confinamento” das informações vindo
dos nossos sentidos corporais. Quando mergulhamos nos campos mais sutis,
percebemos que fazemos parte de um Todo maior e que estamos conectados
profundamente a este Todo. As técnicas de ampliação da consciência permitem a

5
Doutor em Biologia, PhD em Biotecnologia, pós-graduado em Psicologia Transpessoal com
formação em Terapias com Estados Ampliados da Consciência. O autor baseou este artigo no seu
trabalho de conclusão de Curso de Formação em Terapias com Estados Ampliados de Consciência
(TEAC) da Unipaz-Sul em Porto Alegre, sob supervisão dos Professores Mauro Luiz Pozatti e João
Lauda (SAAR, J. H., 2012).

ACAT – Av. Brasil, 333 Edifício Delta, apto. 503 – Balneário Camboriu/SC
acatarteterapia.blogspot.com.br
104

nossa reconexão com a Fonte de todas as coisas. E quando estamos em contato


com esta fonte primordial, conseguimos acessar conteúdos e informações ocultos
nosso inconsciente e iniciar o nosso processo muito pessoal de cura.
Uma das técnicas mais potente que permite o acesso a estes campos sutis é
a Respiração Holotrópica, a qual une técnicas de respiração em combinação com
expressões artísticas dos respiradores em vários momentos. Segue uma breve
explanação dos elementos que compõem a terapia da RHT, com foco nos elementos
atribuíveis às Arteterapias.

Arteterapia: ferramenta integrada da Respiração Holotrópica:


O uso de recursos artísticos com finalidades terapêuticas começa a ser
incentivado no início do século XIX, pelo médico alemão Johann Christian Reil,
quando este desenvolve um protocolo terapêutico, com finalidade de cura
psiquiátrica onde incluiu o uso de desenhos, sons e textos para estabelecimento de
uma comunicação com conteúdos internos. O recurso da arte aplicado à
psicopatologia originou-se quando Carl Gustav Jung incluiu o trabalho artístico como
elemento integrador da personalidade. No caso da prática arteterapêutica pautada
na Psicologia Analítica, aponta-se que, para Jung, a arte tem finalidade criativa, e a
energia psíquica consegue transformar-se em imagens e, através dos símbolos,
colocar seus conteúdos mais internos e profundos.

Arte é a expressão mais pura que há para a demonstração do inconsciente de


cada um. É a liberdade de expressão, é sensibilidade, criatividade, é vida (JUNG,
1920)6

Nos anos setenta, Christina Grof, PhD em psicoterapia, usa a expressão


artística de seus clientes no seu trabalho terapêutico. Com a sua grande
sensibilidade e experiência em mitologia (ela estudou com o mitólogo Joseph
Campbell e o poeta Muriel Ruckeyser) ela integra elementos artísticos como a
música e o desenho de mandalas no seu trabalho.

6
http://pt.wikipedia.org/wiki/"http://pt.wikipedia.org/wiki/Dança_circular_sagrada" Arte_terapia – acesso:
06/2014

ACAT – Av. Brasil, 333 Edifício Delta, apto. 503 – Balneário Camboriu/SC
acatarteterapia.blogspot.com.br
105

O seu marido, o Psicólogo Stanislav Grof, leva a concentrar as suas


atividades profissionais na exploração dos potenciais terapêuticos e evolutivos de
Estados Ampliados da Consciência provocados pela aplicação da droga psicoativa
LSD. Com persistência e detalhismo científico, Grof mapeia os conteúdos das
vivências de mais de 20.000 clientes e constrói um mapeamento até então inédito de
conteúdos e fenômenos ocorrendo nestes estados ampliados da consciência.
O casal se dá conta que mandalas desenhadas por pacientes sujeitos ao LSD
apresentam conteúdos arquetípicos similares às mandalas desenhadas por
pacientes de Christina. Esta observação, em conjunto com pesquisas do casal sobre
técnicas antigas de ampliação de consciência usadas por tribos de culturas
diferentes, leva-os a desenvolver a técnica da Respiração Holotrópica, a qual não
depende do uso de substâncias químicas psicotrópicas (GROF e GROF, 2010).

Respiração Holotrópica – conceitos básicos:


A Respiração Holotrópica (RHT) integra técnicas simples – respiração
acelerada, música evocativa, trabalho corporal, desenho de mandala e partilha –
realizadas em um ambiente seguro e supervisionado por facilitadores com ampla
experiência prática. Através da técnica, o respirador pode acessar estados incomuns
de consciência que incluem memórias biográficas, desde o nascimento até o
presente dia, traumas vividos no período de gestação (perinatal), acesso a campos
arquetípicos (vivenciando, por exemplo, cenas de uma batalha medieval) ou até
conexões de dimensão cósmica e espiritual, onde o respirador experimenta os
“vultos da totalidade” (GROF e GROF, 2010).
Em geral, a Respiração Holotrópica é praticada em grupos de 5 a 15 pessoas
acompanhadas por cuidadores e facilitadores treinados.
A palavra “holotrópico” é composta das raízes gregas holos (todo) e trepein
(“movendo-se em direção a”), significando “mover-se em direção a totalidade”. Como
noção complementar temos os estados de consciência orientados para o “denso”, a
matéria (hilotrópico, orientado para a matéria) que correspondem ao que podemos
chamar dos estados comuns de consciência onde percebemos a realidade com a
ajuda dos nossos cinco sentidos, processando as informações para orientarmos as

ACAT – Av. Brasil, 333 Edifício Delta, apto. 503 – Balneário Camboriu/SC
acatarteterapia.blogspot.com.br
106

nossas ações de atividades diárias (POZATTI, 2007). Conforme definição dos


próprios autores:

Respiração Holotrópica é uma técnica poderosa de auto-exploração e cura que


integra insights da pesquisa moderna da consciência, antropologia, psicologia
profunda e transpessoal, práticas espirituais asiáticas e tradições místicas ao
redor do mundo (GROF e GROF, 2010, 20).

O processo, no qual o respirador fica de olhos vendados e deitado num


colchão, leva-o a estados incomuns de consciência através da respiração acelerada
(hiperventilação) e a experiência de músicas evocativas. Estes estados evocam um
processo interno natural de cura da psique do indivíduo (nos povos indígenas
chamado de “curador interno”). Uma vez iniciado, o processo torna-se único para
cada participante e para o tempo e local específico no momento da experiência.
Embora existam temas recorrentes e comuns entre os respiradores, nenhuma
experiência de respiração é igual a qualquer outra.
Baseado no livro dos Grof, “Respiração Holotrópica” (GROF e GROF, 2010),
serão abordados em seguida os componentes mais importantes da RHT, os quais
incluem além da técnica de respiração, uma série de elementos das Arteterapias.
Destacam-se:

 O uso de técnicas de respiração;


 A aplicação da música e da dança como ferramentas terapêuticas;
 O desenho de mandalas para fixação dos conteúdos acessados nas sessões.

Poder de cura da respiração:


A conexão entre a respiração e a espiritualidade fica evidente quando
consideramos a importância que o sopro e a respiração tiveram na cosmologia e
mitologia das sociedades antigas. Todas elas reconheceram a respiração como o elo
entre o mundo material, o corpo físico, a psique e o espírito. Prana na literatura
antiga indiana, chi na língua chinesa e a palavra correspondente japonesa, Ki –
todas significam além do sopro físico da respiração também a conexão com o
sagrado, a essência cósmica ou a energia vital. Nas artes marciais e práticas

ACAT – Av. Brasil, 333 Edifício Delta, apto. 503 – Balneário Camboriu/SC
acatarteterapia.blogspot.com.br
107

espirituais japonesas, a respiração apresenta um elemento fundamental.


O conhecimento de técnicas respiratórias é muito antigo e práticas de
hiperventilação ou paradas respiratórias para atingir estados alterados de
consciência têm sido aplicadas há séculos nas mais diversas tradições no mundo
inteiro. Exemplos de uso de técnicas de respiração forçada ou retenção da
respiração encontram-se nas práticas meditativas da Kundalini Yoga, na Siddha
Yoga, na tradição tibetana Vajrayana, na prática sufi, na meditação budista e taoista.
Enquanto o vínculo entre o “sopro”, o corpo e o espírito fica bem evidente nas
culturas orientais, na ciência e medicina ocidental a respiração perdeu seu sentido
sagrado. Como é de praxe na cultura materialista, manifestações físicas e/ou
psicológicas acompanhadas por alguma prática de respiração são expressas como
patologias. Reações psicossomáticas induzidas por forte respiração, como por
exemplo a tetania muscular nos dedos da mão, tornam-se uma condição patológica
ao invés de uma potente manifestação de um processo de cura. Felizmente estamos
presenciando no decorrer dos últimos anos a aplicação por terapeutas ocidentais
(principalmente no setor da terapia holística e parapsicologia) de diversas técnicas
respiratórias baseadas em terapias orientais, como por exemplo a Terapia do
Renascimento.
Na Respiração Holotrópica, toda a atenção do respirador está focada na
manutenção de um ritmo de respiração mais acelerado e profundo, juntando a
inspiração e a expiração em um ciclo contínuo ininterrupto. Trata-se de substituir
temporariamente o processo involuntário e geralmente inconsciente da respiração
em um processo voluntário e controlado. No jargão do grupo do TEAC, a respiração
fornece a “gasolina” para a nossa viagem nas dimensões incomuns. A
recomendação aos respiradores em caso de desenvolver algum tipo de contração
muscular no processo da hiperventilação é de continuar respirando profundamente,
concentrando-se e mentalmente direcionando o fluxo de ar para o local de tensão
muscular ou de dor. Na maioria dos casos, o bloqueio energético provocado pela
hiperventilação se dissolverá depois de um tempo. No decorrer da vivência, que
pode estender-se por várias horas, a respiração é mantida na maior parte do tempo,
adaptando-se de maneira sutil ao ritmo e à energia da música que acompanha o

ACAT – Av. Brasil, 333 Edifício Delta, apto. 503 – Balneário Camboriu/SC
acatarteterapia.blogspot.com.br
108

respirador durante todo o período da respiração.


Importante frisar que Grof confirma as observações de Wilhelm Reich “de que
as resistências e defesas psicológicas estão associadas à respiração restrita”.
Sendo assim, o acesso aos conteúdos mais profundos do nosso inconsciente
dependem da determinação de cada respirador de manter a hiperventilação durante
períodos extensos. É comum, no entanto, observar que uma pessoa com pouca
motivação ou com medo de enfrentar conteúdos impactantes não inicia o processo
da hiperventilação ou para com a respiração acentuada logo no início da vivência.

Potencial terapêutico da música:


O fato de a música mudar o estado de consciência fica claro quando
imaginamos o que sentimos e experienciamos no decorrer e logo após o término de
um show do nosso grupo ou artista predileto que assistimos ao vivo. Quem se
entrega nesta experiência certamente entra em transe – o que nada mais é do que
um estado de ampliação da consciência.
Toques de tambores, chocalhos e cantos monótonos são usados há séculos
na prática xamânica, em meditações e em ritos ao redor do mundo para induzir a um
estado de transe. Do ponto de vista científico, determinados ritmos de batida
modificam a atividade elétrica do nosso cérebro. A maioria das combinações de
música, percussão, vozes humanas e movimentos corporais levam à indução de
algum tipo de transe ativando o “curador interno”. Exemplos disso são rituais de cura
dos navajos, realizados por cantores treinados ou a cura por rituais da umbanda
Brasileira. Outro exemplo é a emanação de vogais utilizado pelas tribos Guarani
para o alinhamento dos chakras, aumentando o bem-estar do praticante, que se
sente em harmonia consigo e com a natureza (dentro e fora). A entonação do “OM”
na meditação hindu também modifica a frequência das ondas cerebrais, preparando
o meditador para o acesso às fases mais profundas da meditação. Chama a atenção
que as vogais cantadas são experienciadas como vibração em determinados locais
do próprio corpo. O uso de instrumentos simples pode influenciar de maneira sutil a
frequência de todos os ouvintes de um determinado grupo de pessoas. O batimento
do tambor xamânico, de maneira pausada e constante, tem um efeito quase que

ACAT – Av. Brasil, 333 Edifício Delta, apto. 503 – Balneário Camboriu/SC
acatarteterapia.blogspot.com.br
109

hipnótico sobre o ser humano, diminuindo a frequência das ondas cerebrais até ele
entrar em estado meditativo.
A música usada nos estados holotrópicos da consciência é cuidadosamente
selecionada e segue um perfil dinâmico no desenrolar da vivência. As músicas
selecionadas abrangem uma ampla variedade de estilos e gêneros e são coletadas
de várias regiões culturais. O som da música é alto, podendo ser percebido
ressoando no corpo, permitindo ao respirador um contato visceral com este veículo
de sua viagem interna. Enquanto a música convida a pessoa a embarcar no seu
ritmo e na sua essência, a atenção do respirador não deve ser desviada para
processos mentais e reflexivos. Por essa razão devem ser evitadas músicas
cantadas em línguas de fácil entendimento que podem interromper o processo
introspectivo profundo do respirador.
O ambiente protegido e isolado da sessão garante que os respiradores
entreguem-se totalmente à experiência, expressando livremente as suas sensações
ou conteúdos imaginários através da emissão de sons, cantos, gritos e/ou
movimentos do corpo que podem chegar a danças em posição deitada, sentada ou
até em pé.
A trilha sonora segue, via de regra, um padrão de fases diferenciadas no
conteúdo (essência) e no ritmo (intensidade) das músicas. Inicialmente usam-se
intensidades maiores com músicas evocando cenários de grande agitação.
Gradualmente, a intensidade da trilha diminui e a essência das músicas torna-se
mais contemplativa e introspectiva, deixando ao respirador o tempo de integrar as
suas experiências num ambiente harmônico e de paz interna. É responsabilidade do
“DJ cósmico” perceber a dinâmica do grupo e adaptar a trilha sonora para criar
oportunidades para todos os participantes completarem a sua experiência.

Trabalho corporal de liberação:


Manifestações físicas dos participantes são muito comuns nas sessões de
Respiração Holotrópica e incluem tremores, espasmos, tosse, engasgo, vômito,
choros e outros tantos. Embora parte destas reações possam ser induzidas pela
hiperventilação, estas manifestações possuem uma complexa estrutura

ACAT – Av. Brasil, 333 Edifício Delta, apto. 503 – Balneário Camboriu/SC
acatarteterapia.blogspot.com.br
110

psicossomática e tem um significado específico para cada respirador. Na maioria dos


casos, representam bloqueios energéticos cujo desbloqueio pode induzir uma
sensação de profunda liberação (catarse) no respirador. Diversas técnicas
terapêuticas, como por exemplo o trabalho neoreichiano e a prática da Gestalt, usam
a liberação destes bloqueios em forma de catarse para o tratamento de neuroses
emocionais traumáticos (GROF e GROF, 2010).
Uma manifestação específica, caracterizada pela formação de tensões
musculares profundas muitas vezes resultando em contrações musculares
incontroláveis (tetania). Nestes casos, o respirador vai consumindo grande
quantidade de energia por períodos prolongados para “dissolver” a tensão e liberar o
fluxo energético no corpo.
Em ambos os casos, a liberação da tensão ocorre na maioria dos casos sem
intervenção externa. Apenas em casos excepcionais, onde a manifestação física não
se resolve pela respiração, o facilitador oferece ao respirador um trabalho corporal
para encerrar a sessão terapêutica da melhor forma possível. Este trabalho corporal
objetiva a intensificação da sensação por meio de massagens ou pressão pontual na
região da manifestação. O respirador é incentivado a expressar livremente as suas
sensações, isto é, sem escolha consciente da forma que são expressas. Neste
momento surgem comportamentos e reações físicas muitas vezes inesperadas e
devem ser acolhidos com a maior flexibilidade possível por parte dos facilitadores.
Contatos físicos com os participantes devem ser evitados ao máximo. Para
que a vivência do respirador possa desenrolar-se de maneira individual, as pessoas
de apoio e os facilitadores precisam respeitar o campo de energia gerado ao redor
dos participantes. Falar em voz alta ou tocar acidentalmente a pessoa pode
prejudicar o processo de acesso aos níveis ampliados de consciência.
Manifestações físicas dos participantes, como choro, gritos, falas, etc., muitas vezes
são mal interpretadas pelo apoio, o qual, com a melhor intenção tenta “ajudar” o
respirador, interrompendo o seu processo. Por essa razão, os apoiadores precisam
ficar muito atentos em evitar ações próprias induzidas por projeções pessoais e não
pelo reconhecimento de uma situação que precisa de algum tipo de intervenção no
interesse do respirador.

ACAT – Av. Brasil, 333 Edifício Delta, apto. 503 – Balneário Camboriu/SC
acatarteterapia.blogspot.com.br
111

Desenhar mandalas e partilhas:


Sem dúvida o elemento da terapia de Respiração Holotrópica que mais se
aproxima à Arteterapia é a prática do participante desenhar mandalas logo após o
final da sessão. Os participantes são levados para uma sala onde estão à sua
disposição materiais de desenho e papel branco no qual foi traçado com lápis fino o
contorno de um círculo. O participante foi previamente informado a colocar no papel
a essência da experiência que acabou de vivenciar. Ainda em estado ampliado de
consciência, esta atividade muitas vezes traz à tona conteúdos do inconsciente que
foram trabalhados na vivência.
Frequentemente, o participante terá novos insights, dias ou até meses, depois
da vivência quando olha novamente para a mandala que desenhou. Não cabe aos
facilitadores ou colegas interpretar as mandalas produzidas, pois cada desenho tem
um vínculo exclusivo com o seu “criador”. Mandalas não representam
necessariamente conteúdos da sessão específica, mas podem antecipar ocorrências
futuras, isto é, tornar-se-ão mais claras num momento posterior de sua criação. Este
fenômeno está de acordo com a ideia de C.G. Jung que os produtos da psique
possuem um aspecto não apenas retroativo, mas também prospectivo e preditivo
(GROF e GROF, 2010). Por essa razão recomenda-se ao respirador guardar as
mandalas produzidas por ele no decorrer das sessões de Respiração Holotrópica.
A partilha em grupo das mandalas no final da sessão de RHT torna-se um
momento de recapitulação do contato pessoal de cada participante com o
“imaginário”, não raramente levando a uma experiência de catarse no ato da
verbalização dos conteúdos desenhados.

Efeito terapêutico da Dança Circular Sagrada e da Meditação:


O trabalho intensivo com a técnica da Respiração Holotrópica cria um intenso
campo energético no local das vivências o qual mantem o grupo por períodos
estendidas em estado ampliado de consciência, proporcionando insights não apenas
nas sessões vivenciadas, mas também nos intervalos. Portanto, práticas de
meditação (introspectiva) e de danças circulares ajudam a equilibrar a energia
gerada no ambiente, além de aumentar a “cola” no grupo, isto é, a confiança uns nos

ACAT – Av. Brasil, 333 Edifício Delta, apto. 503 – Balneário Camboriu/SC
acatarteterapia.blogspot.com.br
112

outros que é o elemento imprescindível para criar a abertura necessária nos


momentos de partilha das próprias experiências.
Objetivo principal da Dança Circular Sagrada é o sentimento de união de
grupo. No curso realizado pelo autor, ela foi aplicada tanto para expressar a alegria
em momentos de diversão, quanto como ferramenta de introspecção antes de uma
sessão de respiração. A “dança dos povos” auxilia a pessoa a tomar consciência de
seu corpo físico, acalmar seu emocional, trabalhar sua concentração e memória. O
círculo nasce quando os participantes entram em contato com a parte de seu ser
que está intimamente conectada com algo transcendental.7
Na outra “ponta do bastão”, as práticas de meditação como parte integrais da
terapia da RHT, permitem aos participantes a integração dos conteúdos da sessão
num momento de busca de conexão com as energias sutis presentes no local do
evento. Como descrito pelo psicólogo e Mestre em Neurociências Leonardo
Mascaro, a meditação leva o praticante num estado de frequência das ondas
cerebrais mais lenta (ondas Theta de 4 a 8 Hz), característico para a fase de sono
REM, associada ao sonhar. Citando este autor:

Os sonhos e insights [meditativos] são mensagens de nossas profundezas


emocionais. (...) e é através do [estado de atividade] Theta que produzimos
nossa conexão espiritual mais intensa, bem como onde despertamos nosso
potencial de cura (MASCARO, 2008).

Conclusão:
Este curto apanhado da técnica de terapia de ampliação da consciência
através da respiração holotrópica teve como objetivo esclarecer o caráter sistêmico
das terapias transpessoais.
Práticas apoiadas na Arteterapia são elementos importantes do conjunto da
RHT. Destacamos, neste contexto a expressão artística no desenho de mandalas,
que ajuda a acessar conteúdos escondidos no inconsciente pessoal e coletivo,
contribuindo para o sucesso do processo terapêutico. Danças Circulares geram o

7
http://pt.wikipedia.org/wiki/Dança_circular_sagradacircular_sagrada – acesso: 07/2014

ACAT – Av. Brasil, 333 Edifício Delta, apto. 503 – Balneário Camboriu/SC
acatarteterapia.blogspot.com.br
113

campo de coesão do grupo no processo terapêutico, criando um ambiente de


confiança e abertura nos momentos de partilha. Por fim, o tipo e a sequência da
música durante a sessão de respiração é fundamental para guiar o participante na
sua viajem curadora no mundo imaginário.

Referências:
GROF, S. Psicologia do Futuro. Niterói: Heresis, 2000.

GROF, S. e GROF, C. Respiração Holotrópica: uma nova abordagem da


autoexploração e terapia. Rio de Janeiro: Capivara, 2010.

MASCARO, L. A Arquitetura do Eu: Psicoterapia, Meditação e Exercícios para o


Cérebro. Rio de Janeiro: Elsevier, 2008.

POZATTI, M. L. Buscando a Inteireza do Ser. Porto Alegre: Gênese, 2007.

SAAR , J. H. Respiração Holotrópica: uma Jornada Pessoal na Busca de Auto-


Conhecimento. Trabalho de Conclusão de Curso de Pós-graduação em Psicologia
Transpessoal, UNIPAZ-Sul, Porto Alegre, 2012.

ACAT – Av. Brasil, 333 Edifício Delta, apto. 503 – Balneário Camboriu/SC
acatarteterapia.blogspot.com.br
114

COMUNICAÇÃO ORAL

ACAT – Av. Brasil, 333 Edifício Delta, apto. 503 – Balneário Camboriu/SC
acatarteterapia.blogspot.com.br
115

Sandplay terapia:
Imagens amorizadoras de uma criança vítima de violência.
Franklin Jones Vieira.

As crianças no discurso escolar: aprendizagem e comportamento.


Mair Oliveira Soares.

A Arteterapia como prática integrativa na medida socioeducativa de internação.


Paula de Souza Cardoso.

Arteterapia e musicalização como ação de melhoria da qualidade de vida.


Dâmaris Agnes Gianni.

Arteterapia e Origami.
Márcia Regina do Nascimento.

Arteterapia e o atendimento domiciliar.


Edeltraud Fleischmann Nering.

Estudo de caso:
Como S. expressa suas emoções no processo de aprendizagem.
Christiane Mesadri Córdova Diniz.

ACAT – Av. Brasil, 333 Edifício Delta, apto. 503 – Balneário Camboriu/SC
acatarteterapia.blogspot.com.br
116

Sandplay terapia:
Imagens amorizadoras de uma criança vítima de violência

Franklin Jones Vieira8

Resumo:
Sob a ótica da psicologia junguiana, esta exposição tem como objetivo relatar a
experiência clínica de uma criança vítima de abuso sexual, outrora categorizada
como violência doméstica. A criança, chamada pelo codinome fictício de Ágata, do
sexo feminino, cuja idade 8 anos, fora violentada por dois adolescentes, filhos do
próprio padrasto. Seguiram-se plenamente as normas previstas pela Resolução
196/1996 e Resolução 19/07 que preconiza os parâmetros Éticos de Pesquisa com
Seres Humanos conforme aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da
Instituição UNIVILLE, cujo parecer consta no Processo nº 310.690/2013. O trabalho
prevê demonstrar uma sequência de imagens criadas pela criança em forma de
cenários na caixa de areia chamada também de Sandplay. Aconteceram 25 sessões
de psicoterapia, com duração de 60 minutos semanais. Foram utilizadas duas caixas
– uma com areia úmida e outra com areia seca – apresentando diâmetros precisos
retangulares (72 x 50 x 7,5), fundos e laterais azuis preenchidas até a metade com
areia esterilizada. A forma retangular da caixa abrange satisfatoriamente o campo
visual, e sua irregularidade fornece a inquietação frente a desigualdade dos
diâmetros levando o paciente a buscar o seu próprio centro (Self) na areia. O
Sandplay, também chamado como Jogo de areia, foi uma técnica aprimorada pela
analista junguiana Dora Kalff em 1956. É um jogo sem regras e o paciente tem a
liberdade de externar o seu mundo interior através de diversas miniaturas dispostas
sobre uma prateleira (WEINRIB, 1993). Neste caso, utilizou-se o “kit trauma” que
consiste na escolha de miniaturas mais focais para o trabalho com pessoas
violentadas. No caso em estudo, após a primeira entrevista clínica, foram
selecionadas miniaturas com animais selvagens e domésticos, figuras de monstros,
seres mágicos e sombrios. As imagens atuam como uma influência associativa no
sistema psíquico introduzindo a criança num diálogo com o ícone. Ela projeta seus
conteúdos subjetivamente, por vezes sem verbalização e a imagem lhe devolve o
significado de forma “mágica” e objetiva (JUNG, 1975-1961). A interpretação
simbólica das imagens projetadas no Sandplay é semelhante à técnica utilizada por
Jung na interpretação dos sonhos. A psique cria uma sequência de imagens até
atingir o nível sensorial da sensação inconsciente, realizando indiretamente a
transmutação imagética. O abuso sexual apresenta uma face secreta, íntima e
comprometedora, pois suscita a vergonha ao ser descoberta e a culpa da vítima
frente ao sentimento de prazer que experimenta ao ser tocada ou seduzida. A psique
tenta preencher as áreas de desamor pela compensação de outro símbolo que
inconscientemente regula as sensações que a desproporção traumática ocasiona
(GREG, 2004). A culpa, a vergonha e a rejeição agiam silenciosamente como
sombras, comprometendo o amor-próprio de Ágata e consequentemente a sua
relação com o mundo. Porém, com a emersão/projeção do complexo materno, dos

8
NAPE/Curitiba, Psicólogo – CRP 12/12785, psico.franklin@gmail.com

ACAT – Av. Brasil, 333 Edifício Delta, apto. 503 – Balneário Camboriu/SC
acatarteterapia.blogspot.com.br
117

arquétipos anima e animus e do arquétipo do órfão, ela pode visualizar,


compreender, manipular por meio das miniaturas e ressignificar a sensação sombria
e solitária que agia inconscientemente sobre si. Passou a não ter medo dos
monstros que invadiam seu quarto, sessou a enurese noturna, melhorou o
relacionamento com os meninos da escola e a ansiedade de obter aceitação para
ser amada, encontrando a expressão compreensiva do que necessitava. A técnica
do Jogo de areia, juntamente com outros instrumentos clínicos, forneceu/facilitou à
criança o domínio de transformar o que surgia dela mesma.

Palavras-chave: Amorização; Arteterapia; psicoterapia infantil; violência doméstica.

ACAT – Av. Brasil, 333 Edifício Delta, apto. 503 – Balneário Camboriu/SC
acatarteterapia.blogspot.com.br
118

As crianças no discurso escolar: aprendizagem e comportamento

Mair Oliveira Soares9

Resumo:
A agressividade atribuída às crianças é um tema que ganha proporção nos dias
atuais no discurso escolar. Este tem acreditado nas soluções químicas como a
terapia mais viável, pois teria a função de auxiliar a criança a controlar sua reação
impulsiva diante dos acontecimentos que lhes parecem desafiadores. A família
denominada desestruturada pelo discurso escolar explica os comportamentos
recriminados. Num universo onde a escola, família e demais seguimentos não
conseguem se entender, a criança se torna refém de si mesma. Cada vez mais se
valendo de atos considerados fora dos padrões normais para se fazer ouvir. Esse
tipo de comportamento é considerado muitas vezes como um desvio de conduta,
mas a que se deter o olhar quando esse tipo de manifestação começa a se tornar
uma rotina, desta forma prejudicando o desenvolvimento e a socialização desta
criança com o meio onde está inserida. Donald Winnicott (1945-1978) aponta que o
instinto agressivo é próprio do ser humano, necessário para a sua sobrevivência. No
entanto, algumas crianças nos dias de hoje vem apresentando anormalidades em
seus comportamentos, conhecido por alguns pesquisadores como corpos agitados.
O que se presencia corriqueiramente é um armazenamento de encaminhamentos e
laudos. Acaso seria dada à criança em formação escolar a chance de escolha de ser
medicada ou não? Se a interpretação da aprendizagem e do comportamento dos
alunos na escola for pensada por outro viés, teria essa criança uma chance de
encaminhamento das dificuldades que não se resumisse a uma receita médica?
Percebe-se que o discurso da escola para tentar explicar a realidade é o da
associação direta entre agressividade e famílias desestruturadas e, a solução é pela
via do encaminhamento a especialistas que muitas vezes acabam apenas por optar
pela medicação, sendo que esta muitas vezes é negligenciada pelos pais.
Arteterapia no ambiente escolar um recurso terapêutico para crianças com TDAH. É
conhecido que alguns recursos contribuem no auxílio das práticas pedagógicas de
crianças com dificuldades comportamentais, o que é nomeado de desvio de conduta
e agressividade vivenciado corriqueiramente nos espaços escolares. Alguns
profissionais vêm utilizando técnicas como a contação de histórias, a pintura,
trabalhos manuais, musicalização, com o intuito de fazer com que a criança possa
se sentir inserida num ambiente propício a sua formação integral, como indivíduo
que tem vez e voz na sociedade. A Arteterapia é um processo terapêutico que utiliza
os recursos expressivos para revelar os conteúdos simbólicos inconscientes e
conscientes e assim compreender o indivíduo em sua totalidade. A Arteterapia
integra no contexto psicoterapêutico técnicas artísticas, originando uma relação
terapêutica diferente entre o sujeito (criador), o objeto da arte (criação) e o
terapeuta. O recurso arteterapêutico estimula a imaginação, libera a manifestação
do simbolismo e das metáforas enriquecendo o processo de autoconhecimento e

9
Formada em Letras Português e Inglês, Especialização em Circuitos de Teoria Literária e
Arteterapia. Leciona no Ensino Religioso em escola integral, Agente de leitura e contadora de
histórias. mair_soares@yahoo.com.br

ACAT – Av. Brasil, 333 Edifício Delta, apto. 503 – Balneário Camboriu/SC
acatarteterapia.blogspot.com.br
119

desenvolvimento cognitivo, afetivo-emocional e criativo (TOMMASI e MINUZZO,


2010). Portanto, agressividade é um fenômeno social que tem provocado
preocupações e por isso, deve ser discutida não apenas pela via da solução
medicamentosa, mas também pela escola, pela família, pelo sistema judiciário e
outros segmentos que se preocupam com a formação mais humana do indivíduo e
sua integração na sociedade. O objetivo desta pesquisa foi pensar a criança na
escola e como são compreendidos seus comportamentos e dificuldades de
aprendizagem com a agitação dos corpos que apresentam. A instituição escola não
encontra um caminho pedagógico, se perde no entendimento que faz da família,
enquanto a denomina desestruturada, entende que cabe apenas a esta se
organizar, para possibilitar a aprendizagem da criança. Desta forma as situações de
conflito, agressividade e falta de limites de seus filhos passam a serem os únicos
motivos dos comportamentos que atrapalham a aprendizagem.

Palavras-chave: agressividade; Arteterapia; crianças; família.

ACAT – Av. Brasil, 333 Edifício Delta, apto. 503 – Balneário Camboriu/SC
acatarteterapia.blogspot.com.br
120

A Arteterapia como prática integrativa na medida socioeducativa de


internação.

Paula de Souza Cardoso10

Resumo:
O presente artigo trata sobre uma ação Arteterapêutica com adolescentes e jovens
que se encontravam em cumprimento de medida socioeducativa de internação, com
fim de garantir a aplicação de Política e Práticas Integrativas e Complementares
como prevenção a saúde de indivíduos institucionalizados. A perspectiva de que o
modo operante que os adolescentes desta época e local se apresentavam, quanto a
comportamento e expressões de pensamento, sugeriu um propicio encontro destes
com a proposta da Arteterapia. Desse mesmo modo, pensou-se na possibilidade de
que o processo de subjetivação e individualização, que a Arteterapia busca
promover em sua atuação, pudesse trazer benefícios ao processo socioeducativo.
Uma perspectiva de intervenção em grupo foi implementada, as obras e vivências
produzidas pelos socioeducandos foram analisadas segundo a Arteterapia, e a partir
destas foram ponderadas as contribuições que a Arteterapia poderia propiciar. Essa
experiência, também, teve como objetivo elencar as dificuldades contextuais,
afetivas, e metodológicas encontradas no processo da pesquisa e identificar como a
Arteterapia pode contribuir no processo de formação desses indivíduos.

Palavras-chave: Arteterapia; medida socioeducativa; internação; prática integrativa.

10Psicóloga. Universidade Estadual de Maringá, 2009. Pós- graduada em Arteterapia. Instituto Fênix
de Ensino e Pesquisa, 2012. Pós- graduada em Saúde Pública. Instituto Fênix de Ensino e Pesquisa,
2013. paulacardoso.arteterapia@gmail.com

ACAT – Av. Brasil, 333 Edifício Delta, apto. 503 – Balneário Camboriu/SC
acatarteterapia.blogspot.com.br
121

Arteterapia e musicalização como ação de melhoria da qualidade de vida.

Dâmaris Agnes Gianni11

Resumo:
Há no mundo todo uma busca pela inclusão social que é um processo pelo qual a
sociedade se adapta para poder incluir, em seus sistemas gerais o portador de
necessidades especiais que por sua vez, se prepara para assumir seu papel na
sociedade. Este trabalho visou observar os efeitos da Arteterapia aliados à
musicalização, na melhoria de qualidade de vida de crianças e adolescentes que
participam do Programa Sesi Oficinas Culturais no município de Caxias do Sul/RS,
relatando sua evolução antes e depois das sessões arteterapêuticas. Essas crianças
e adolescentes também são frequentadoras de um CAPS do município e apresentam
sofrimento psíquico severo e/ou persistente. O processo foi registrado em pareceres
descritivos realizados através da observação da monitora que acompanhava a turma
e dos responsáveis. Cada sessão ocorria semanalmente e tiveram duração de uma
hora. Participaram das atividades sete alunos com sofrimento psíquico, sendo cinco
do sexo masculino e duas do sexo feminino, com a faixa etária entre 11 e 16 anos. A
metodologia utilizada foi à qualitativa, constituindo- se em um estudo de caso.
Percebeu-se que as atividades arteterapêuticas, aliada a musicalização despertaram
neste grupo o potencial criativo, sua comunicação, a compreensão e
consequentemente a qualidade de vida, verificados pela alegria e cooperação que os
mesmos demonstraram, bem como no seu processo educacional artístico. Os
resultados confirmam que a Arteterapia aliada a musicalização podem ser um
elemento promotor de qualidade de vida para pessoas com necessidades especiais.

Palavras-chave: Arteterapia; musicalização; inclusão social; qualidade de vida.

11
Graduada em Arteterapia, pós-graduanda em Música: Ensino e Expressão e integrante da ASBAT.
É cantora, professora de musicalização e técnica vocal. Atualmente trabalha no Serviço Social da
Indústria de Caxias do Sul, como artetepeuta, professora de musicalização para crianças e PCDs e
professora de técnica vocal. É integrante dos grupos de estudos de Música e do Lazer Inclusivo do
Sistema Fiergs. Já trabalhou como arteterapêuta em escolas, clinicas de adictos e projetos
sociais.damis_ag@yahoo.com.br

ACAT – Av. Brasil, 333 Edifício Delta, apto. 503 – Balneário Camboriu/SC
acatarteterapia.blogspot.com.br
122

Arteterapia e Origami

12
Márcia Regina do Nascimento

Resumo:
A Arteterapia utiliza vários recursos artísticos como meio para atingir seus objetivos.
Nesta pesquisa buscou-se compreender a arte do Origami como uma prática
terapêutica, um facilitador da aprendizagem, uma proposta de lazer ou hobby,
possível de ser praticada por qualquer faixa etária, condição intelectual e financeira.
Em seu campo criativo, existem inúmeras possibilidades oferecidas pelo o Origami,
dentre elas a possibilita de criar suas próprias dobraduras ou de usar o Origami
como recurso ou apoio a outras formas de expressão, como por exemplo, contar
histórias. Assim, acredita-se que a arte de dobrar papéis possa vir a ser um recurso
terapêutico capaz de ajudar no processo arteterapêutico. O Origami oferece vários
recursos como a diminuição do estresse e da ansiedade. Chega-se então à questão
norteadora da pesquisa: a arte do Origami vem sendo usada como recurso
arteterapêutico? Como o Origami pode ajudar na Arteterapia? Como a arte do
Origami tem contribuído e pode contribuir com a Arteterapia? A pesquisa tem como
objetivo geral investigar como o Origami vem sendo usado como terapia e qual sua
relação com a Arteterapia. Dentre os objetivos específicos desta pesquisa optou-se
por investigar como e onde se iniciou a arte do Origami, demonstrar quais os
benefícios do Origami, a contribuição da arte do Origami para a Arteterapia, bem
como o que pensam alguns teóricos sobre essa arte e quais as características
terapêuticas das dobraduras de papel. Acredita-se na relevância de pesquisar esse
tema por constatar que a arte do Origami contribui na melhora dos pacientes com
doenças físicas e mentais e na prevenção de muitas doenças, como Alzheirmer,
bem como ajudar no desenvolvimento cognitivo, motor e emocional do ser humano,
pois o Origami ajuda na memória, na motricidade, ajuda a ter paciência entre tantas
outras contribuições. A metodologia empregada nesta pesquisa foi a bibliográfica,
buscando-se o referencial teórico em obras de autores como Carlos Genova, Bruno
Ferraz, Dario de Sá, Graça Proença, Maíra Bonafé Sei, Sonia Bufarah Tommasi,
Luiza Minuzzo, Maria Helena Aschenbach, dentre outros. Conclui-se que a arte de
dobrar papel é um forte estimulo a realização de novas conexões neuronais, para
auxiliar na diminuição do estresse, como facilitador de aprendizagem nas mais
diversas dificuldades, tanto físicas quanto emocionais, ou simplesmente como
diversão, tornando-se um auxílio tanto para a aprendizagem como para a terapia.

12 Formada em Pedagogia pelo Instituto Superior de Educação Nossa Senhora de Sion – Curitiba -
PR. Especialista em Arteterapia pela Faculdade Itecne de Cascavel. Acadêmica do Curso de pós-
graduação em Direito Educacional pela Faculdade Itecne de Cascavel – Curitiba - PR.Atuando na
Educação Infantil da rede publica na prefeitura municipal de Curitiba, em oficinas de Origami para
grupos, escolas, professores, crianças e em lar de idosos. Autora de blogs voltados à arte do
Origami, artes em geral e tecnologias educacionais.

ACAT – Av. Brasil, 333 Edifício Delta, apto. 503 – Balneário Camboriu/SC
acatarteterapia.blogspot.com.br
123

Palavras- chave: Arteterapia; origami; aprendizagem; diversão.

ACAT – Av. Brasil, 333 Edifício Delta, apto. 503 – Balneário Camboriu/SC
acatarteterapia.blogspot.com.br
124

Arteterapia e o atendimento domiciliar

Edeltraud Fleischmann Nering13

Resumo:
O tema escolhido refere-se à Arteterapia e o atendimento domiciliar, tendo como
objetivos: a contribuição da Arteterapia para melhorar a qualidade de vida de
pacientes com restrições físicas, impossibilitados de se descolarem de para um
espaço específico para atendimento. Introduzir a Arteterapia no contexto domiciliar.
O desenvolvimento do processo teve início com a solicitação da filha para que fosse
feito o atendimento à mãe idosa que apresenta um quadro delicado de saúde, tendo
dificuldades para deslocar-se para outros espaços. A mãe: uma senhora de 85 anos,
residindo com a filha, genro e uma neta (com transtorno opositivo desafiador, que foi
posteriormente internada em uma clínica para tratamento). Uma breve descrição da
filha sobre o comprometimento da saúde da mãe, aqui denominada de V.: conforme
exames médicos, ela apresenta uma mancha escura no pulmão que ocasiona
repentinas faltas de ar. Há uma cardiopatia grave (coração está com dilatação) sem
perspectiva de melhora. Toma vários medicamentos para manter esses órgãos em
relativo funcionamento e para manter a pressão arterial em equilíbrio. Com falta de
circulação, suas pernas estão com feridas abertas, e há ainda retenção de líquido, o
que causa o aumento do abdômen e desconforto geral. Após aceitação da paciente,
iniciaram-se os atendimentos de V. desenvolvido por intermédio de Oficinas de
Arteterapia com duração de 1 hora e 30 minutos, a cada quinze dias, tendo como
espaço a sala de jantar ou o dormitório, quando não se encontrava em condições de
deslocar-se até a sala. A paciente de estatura pequena, curvada, apresentava
aparência visivelmente cansada, embora esbanjasse um sorriso quando
cumprimentada. Suas mãos são atrofiadas em função de artrite reumatóide, tendo
dificuldade em segurar determinados objetos, o que não a impede de fazer o almoço
diariamente.Pés inchados, sem condições de calçar sapatos.Relatou falta de ar,
que lhe acarreta cansaço e e um “aperto” no peito, deixando-a com medo de
sufocar. Não sabia até então, sobre a gravidade da sua cardiopatia, apenas
salientava que seu coração está dilatado. É Professora aposentada, separada do já
falecido marido. Tem duas filhas, ambas casadas.Estudou num colégio Interno, de
regimo rígido. Como seus pais não tinham condições de pagar o Colégio, ela
trabalhava em troca de hospedagem, comida e estudos. Não era valorizada, ouvia
frases como: “seu trabalho não vale o sal da comida”. “Quando se formar, antes de
sair, terá que limpar tudo por aqui”. Após formada, iniciou a lecionar. De família
humilde teve uma Infância carente de afeto, com dificuldades financeiras. Casou-se

13
Artista Visual, Especialista em Arteterapia, Especialista em Aconselhamento e Psicologia Pastoral.
Professora do Curso de Pós-graduação Lato- Sensu de Arteterapia do CENSUPEG – Brasil.
Desenvolve um trabalho junto às mulheres da Igreja de Confissão Luterana no Brasil (IECLB),
ministrando Seminários de Lideranças e Oficinas Arteterapêutica. Palestrante e coordenadora de
Oficinas para grupos em geral. Atua no SPAço Aroma e Cor, na Clínica Active Performance em Rio
Negrinho – SC. Membro do Conselho Diretor da ACAT - Associação de Arteterapia do Estado de
Santa Catarina desde 2007. (ACAT). traudi10@gmail.com

ACAT – Av. Brasil, 333 Edifício Delta, apto. 503 – Balneário Camboriu/SC
acatarteterapia.blogspot.com.br
125

cedo e o relacionamento durou por um bom período. Cuidava das filhas e trabalhava
40h/a numa Escola Pública. Pois fim ao casamento, após descobrir que o marido a
traía com a namorada do melhor amigo. A filha mais nova decidiu ficar com o pai e a
mais velha seguiu com ela. Tem medo de morrer agonizando igual sua irmã. Seu
sono é truncado, como se sempre tivesse que ficar atenta ao que está acontecendo.
Sente falta das pessoas virem visita-la, embora tenha dias que sente-se indisposta.
Ficou feliz com o inicio dos encontros, pois sentiu-se acolhida e cuidada. Neste
contexto, as Oficinas foram preparadas partindo-se de um tema apropriado para
cada fase e desenvolvido de acordo com as possibilidades físicas de V. Como
caminho facilitador do diálogo-reflexivo, utilizou-se o Método Socrático e a
Hermenêutica como ferramenta para esclarecer, interpretar ou anunciar conceitos
relativos às falas e expressões artísticas. Lançou-se mão de músicas poesias e
pequenas histórias para facilitar o desenvolvimento arteterapêutico. Foram oito
encontros quinzenais. Destacaram-se as Oficinas: “Retalhos do tempo”: Colagem
com tecido. “Como estou”, trabalhando com a massa de modelar e linguagem
escrita. “Advento e Natal”, Confeccionando Bolas de Natal decorativas. “Traços de
Poesia”: Utilizando-se giz de cera para criar traços enquanto ouvia uma poesia, e no
encontro seguinte, desenhando uma flor e colando sobre o desenho fios coloridos.
“Encontrando um caminho”: Pintura de desenhos de mandalas. Os encontros foram
de grande apoio para a recuperação do bem estar e autoestima da paciente. Como
resultado, V. tornou-se mais amável consigo mesma, já que no inicio dizia que “era
um zero à esquerda”. Suas emoções reprimidas na infância e adolescência foram
expressas criativamente. Nem as mãos atrofiadas foram empecilho para sua
expressão plástica. Mesmo acamada, como aconteceu na Oficina “Impressões
digitais”, ela não deixou de cria algo. Neste dia a arteterapeuta ofereceu-lhe uma
prancheta para fixar o papel e foi lhe alcançando as tintas por ela escolhidas. Coloriu
e sorriu, agradecendo pelo fato de poder criar algo mesmo estando debilitada. Os
encontros tiveram que cessar, uma vez que teve piora no quadro geral. Está usando
oxigênio 24h por dia. Cansa-se rapidamente e sua mobilidade está gravemente
comprometida. Ficou evidente a importância dos atendimentos arteterapêuticos
serem realizados em domicilio, propiciando o cuidado paliativo, resgatando a
autoestima da pessoa que em cada encontro deixou-se cativar pela linguagem
expressiva, reconhecendo que aquele espaço de 1 hora e trinta minutos lhe
configurava a vida em sua essência. Entende-se como oportuno, continuar
buscando espaços domiciliares para a inserção da Arteterapia.

Palavras-chave: Arteterapia; domiciliar; qualidade de vida.

ACAT – Av. Brasil, 333 Edifício Delta, apto. 503 – Balneário Camboriu/SC
acatarteterapia.blogspot.com.br
126

Estudo de caso:
Como S. expressa suas emoções no processo de aprendizagem.

Christiane Mesadri Córdova Diniz14

Resumo:
O presente artigo é um estudo de caso, denominado nesta pesquisa de S., que tem
como tema as emoções percebidas no processo de aprendizagem da criança.
Objetiva compreender as emoções percebidas no processo de aprendizagem
através da Arteterapia. A pergunta da pesquisa implica em, entender como S.
expressa suas emoções no processo de aprendizagem, através da Arteterapia. A
pesquisa é qualitativa de abordagem fenomenológica, fundamentada na psicologia
analítica, na teoria de autopoiese e na auto-organização em Maturana e Assmann. A
prática da Arteterapia ocorreu ao longo de 15 sessões com uma criança do sexo
masculino, que ocorreu num consultório de psicologia, no município de Itajaí. A
criança tem dez anos de idade, é estudante de uma escola especial, e apresenta
dificuldades de aprendizagem. Essas vivências arteterapêuticas contribuíram para o
processo de ensino-aprendizagem do caso, estimulando sua criatividade,
espontaneidade, que de forma suave, simples e lúdica, trouxe à baila, sentimentos,
emoções, reflexões críticas e questionamentos. Demonstrou também a elevação da
autoestima e autonomia, auxiliando-o na aprendizagem e em seu processo
educacional.

Palavras-chave: Arteterapia; emoções; aprendizagem.

14
Psicóloga (formação 2002), com especialização em Gestalt Terapia para Crianças e Adolescentes
(2007), Formação Método Fiorini (2003), Arteterapeuta (2014), Outros cursos: Terapia com as mãos,
Mãos sem fronteiras (2001), Reiki (2006), Deeksha (2011).

ACAT – Av. Brasil, 333 Edifício Delta, apto. 503 – Balneário Camboriu/SC
acatarteterapia.blogspot.com.br
127

OFICINAS

ACAT – Av. Brasil, 333 Edifício Delta, apto. 503 – Balneário Camboriu/SC
acatarteterapia.blogspot.com.br
128

A arte de criar e manipular fantoche como recurso no processo arteterapêutico.


Profª. Esp. Ariclê do Rocio Marques Tosin (ACAT, CENSUPEG, ITECNE).

A arte de tecer com filtro dos sonhos.


Profª. Esp. Aline Franco (ACAT).

A geometria sagrada e as mandalas


Profª. Esp. Adriana Vitor Porto (NAPE, CENSUPEG).

ACAT – Av. Brasil, 333 Edifício Delta, apto. 503 – Balneário Camboriu/SC
acatarteterapia.blogspot.com.br
129

A arte de criar e manipular fantoche como recurso no processo arteterapêutico

Ariclê do Rocio Marques Tosin15

Resumo:
O artigo apresenta uma pesquisa bibliográfica sobre a arte de construir fantoche,
como recurso no processo arteterapêutico. Mostra que a arte, a imaginação e a
criatividade estão presentes na vida humana, levando o indivíduo a experienciar
emoções profundas, promovendo mudanças benéficas em si mesmo e em relação
ao outro. Observa-se que personagens, contos e histórias unem-se, cabe ao
arteterapeuta buscar recursos expressivos na arte, que permitam ao participante
exteriorizar a carga emocional interior por meio da linguagem verbal e gestual,
revelando símbolos num processo de autoconhecimento, harmonização e autocura.
As linguagens artísticas e suas diferenças técnicas auxiliam na liberação de tensões,
medos e angustias, amenizando o sofrimento psíquico. Este estudo fundamenta-se
nos pressupostos teóricos de Jung, Silveira, Bettelheim, Amaral entre outros.

Palavras-chave: arte; Arteterapia; contos; criatividade; fantoches.

Introdução:
O artigo tem como objeto de estudo a arte de criar e manipular fantoche como
recurso no processo arteterapêutico. Parte do princípio que a arte, a criatividade, a
ciência e a espiritualidade estão presentes na vida do ser humano no decorrer de
toda a sua história, caminhando lado a lado, uma sustentando a outra, levando o
indivíduo a experienciar emoções profundas, promovendo transformações em si
mesmo e em relação ao outro. Sempre criei fantoches e como arteterapeuta
começaram a surgir algumas indagações a respeito do processo criativo da
construção dos bonecos e sua aplicação na Arteterapia. Quais as possibilidades de
levar o indivíduo que se encontra em sofrimento a construir o fantoche? Como
utilizar o fantoche como recurso arteterapêutico? Será que o fantoche encanta e
fascina todas as faixas etárias?

15Arte-Educadora, Arteterapeuta e Artista Plástica. Docente da Pós-Graduação Censupeg, Itecne


Curitiba/PR e Instituto Rhema Educação. E-mail: aricletosin@bol.com.br
www.facebook.com/oficinadearte

ACAT – Av. Brasil, 333 Edifício Delta, apto. 503 – Balneário Camboriu/SC
acatarteterapia.blogspot.com.br
130

Assim, surgiu o desejo de realizar uma pesquisa bibliográfica procurando


dialogar com os pensamentos de Jung, Silveira, Bettelheim, Amaral entre outros,
para ver se há possibilidade de incluir no trabalho arteterapêutico a arte de construir
e manipular fantoche associado aos contos de fadas e as histórias. Espera-se que o
participante construa e manipule o fantoche, crie um personagem com
personalidade própria, que esse recurso favoreça a exteriorização da carga
emocional como tensões, medos e angustias. Que os contos de fadas e o fantoche
por serem recursos expressivos possam ser utilizados na Arteterapia e que
promovam o bem estar e a melhora da autoestima, levando o participante ao
autoconhecimento e a harmonização.

Fantoche:
Boneco, segundo Amaral (1991, p. 69), “é o termo usado para designar um
objeto que, representando a figura humana ou animal, é dramaticamente animado
diante do público”. O boneco pode ser antropomórfico como zoomórfico, refere-se
sempre ao ser humano, pois o boneco é visto como reflexo humano.
A palavra boneco está associada à expressividade e a técnica de
manipulação como: marionete, fantoche ou boneco de luva, marote, boneco de
sombra entre outros. O fantoche por meio das mãos do manipulador passa a ter
personalidade própria, fascina ao contar suas histórias, prende a atenção dos
espectadores pela magia e encantamento do seu movimento expressivo e criativo.
Conforme o pensamento de Amaral (1991), o ator representa um papel, o boneco é
o personagem o tempo inteiro, ambos se unem pela energia do ator, transmitida pelo
movimento e pela imagem e assim acontece o teatro de bonecos. Porém, o teatro de
formas animadas é um gênero no qual se fundem o teatro de bonecos, de máscaras
e de objetos, utilizando ao mesmo tempo a magia da imagem, do movimento e da
intuição. Como instrumento de forma animada é um gênero onde se manifestam as
ligações entre o mundo material e o sobrenatural, usando a matéria como um
condutor de ideias, estabelece uma comunicação com o transcendental, há na
matéria uma força invisível. Assim, compreende-se o poder do bastão do Xamã, da
vara de condão, dos objetos sagrados entre outros, de onde emana a fonte de

ACAT – Av. Brasil, 333 Edifício Delta, apto. 503 – Balneário Camboriu/SC
acatarteterapia.blogspot.com.br
131

energia, que liga a matéria ao espírito. O teatro de formas animadas apresenta uma
nova dramaturgia que resulta em vibrações espirituais no interior do espectador
(Amaral, 1991). Arte ambígua, entre animado e inanimado, espírito e matéria. O
teatro de formas animadas, geralmente não verbal, se aproxima do pensamento de
Jung em relação à teoria da livre associação, na qual, qualquer forma irregular e
acidental vai direto ao inconsciente, sendo um teatro de imagens simbólicas, é o
meio ideal para a apresentação da mitologia e de personagens míticos (monstros,
bruxas, fadas e princesas) que despertam no inconsciente situações do inconsciente
individual ou coletivo. Amaral conclui, o teatro de formas animadas responde a uma
necessidade muito atual de trazer de volta os símbolos, ausentes da vida do homem
moderno, veicula o invisível, trata do indizível-invisível. É magia que surge da
imitação e da repetição, energias que se desprendem do movimento do fazer crer,
sem ser, sendo. É um teatro de alquimistas, místicos e poetas.

O fantoche e a história:
Pesquisadores defendem que a arte do fantoche, a confecção e a
manipulação de bonecos faziam parte da cultura dos povos antigos. No Egito, em
2000 A.C, há evidências da utilização de bonecos de madeira articulados, operados
com barbante e estátuas confeccionadas em argila e marfim usadas em peças
teatrais e cultos religiosos. Xenofonte, filósofo grego, 422 A.C, é considerado o
autor dos registros mais antigos sobre os bonecos. O fantoche era considerado uma
imagem sagrada, tinha o poder de sustentar as pessoas espiritualmente e quem o
manipulasse era transformado em profeta possuidor de poderes mágicos. Somente
os iniciados nos conhecimentos sacros poderiam manipular o fantoche, essas
pessoas eram consideradas personas intermediárias entre os povos primitivos e
seus deuses. Na Grécia Antiga, os fantoches eram grandes bonecos colocados no
interior dos templos, gradativamente, as estátuas passaram a ser semelhantes ao
homem e estavam presentes nos cultos religiosos. No Antigo Oriente, em países
como Indonésia, China, Java e Índia o fantoche fazia parte da cultura, sendo
introduzido na Europa pelos mercadores. Na Idade Média, o teatro de fantoches era
utilizado como recurso para a evangelização, porém se assemelhava aos antigos

ACAT – Av. Brasil, 333 Edifício Delta, apto. 503 – Balneário Camboriu/SC
acatarteterapia.blogspot.com.br
132

ritos animistas, nesse período essa foi uma das razões que a Igreja passa a vedar
as encenações dentro dos templos. Assim, surgem os teatros itinerantes. No período
do Renascimento, a igreja resgata os bonecos tanto para utilizar em cerimônias
religiosas e pátios residenciais. No século XVI, época dos grandes descobrimentos,
os colonizadores trazem à América os fantoches e o teatro de bonecos, porém em
alguns locais os nativos já manipulavam bonecos articulados. Conforme o
pensamento de Piaget (apud REISIN, 2006, p.18), o uso do fantoche é uma prática
lúdica, promove o desenvolvimento intelectual. No Brasil as primeiras
representações com bonecos aparecem em Pernambuco, essa tradição permanece
até hoje. No século XVIII, no Brasil Colônia, os primeiros bonecos são de luva de
origem portuguesa, espanhola e depois germânica. No tempo dos Vice-Reis, no Rio
de Janeiro surgem as apresentações de teatro de marionetes e em Pernambuco
acontecem as apresentações do Mamulengo. E assim, sucessivamente, o boneco
de luva ou fantoche conquista as regiões brasileiras como: Minas Gerais, São Paulo
e Rio de Janeiro chama-se Briguela ou João Minhoca; na Bahia, Mané Gostoso; em
Pernambuco, Mamulengo; no Rio Grande do Norte e Paraíba, João Redondo.
Geralmente, as apresentações eram baseadas em histórias bíblicas, textos
religiosos, lendas e heróis. Nos séculos XVIII e XIX, na Europa surgem as histórias
da literatura e os autores passam a escrever peças para o teatro de fantoches.
Países como a Inglaterra e os Estados Unidos, baseados em livros apresentam
teatros de marionetes itinerantes. Jim Henson, o titereiro americano, criou os
Muppets para ensinar e entreter crianças, no programa de televisão Vila Sésamo,
devido à popularidade, criou outros programas de televisão e filmes. Os fantoches,
sua prática e seu caráter ambulante, passaram por transformações no decorrer de
sua história, atendendo as necessidades de cada época, em constante
metamorfose. Os fantoches sempre estiveram ligados à magia do teatro de bonecos.
Hoje, educadores, psicoterapeutas e arteterapeutas utilizam o fantoche como
recurso no processo de aprendizagem, terapêutico e arteterapêutico, pelo
encantamento, ludicidade e diversão, envolvendo todas as faixas etárias. Reisin
complementa, nos fantoches e nas máscaras há uma dimensão de construção
plástica que pode vir na atuação, facilitando o processo de dar vida ao inanimado,

ACAT – Av. Brasil, 333 Edifício Delta, apto. 503 – Balneário Camboriu/SC
acatarteterapia.blogspot.com.br
133

revelando diferentes papéis, embora pareçam simples objetos, mexem


consequentemente com emoções e sentimentos (REISIN, 2006, p.18). Segundo
Galvão (1996), “Só confeccionar o boneco não é criá-lo, pois a criação só se dá por
completo, quando o boneco recebe vida, através da manipulação e expressão
verbal”.

Tipos de fantoches:
Marionetes ou títeres é o boneco movido a fios ou cordas, manipulado por
cima; fantoche de dedo ou pedaço de pano ou de plástico ou mesmo um pouco de
tinta pode transformar um dedo em um personagem; fantoche de mão (corpo oco)
ou boneco de luva manipulado pelo bonequeiro ou titereiro, luva-mamulengo; marote
é também um boneco de luva que o bonequeiro veste e com sua mão articula a
boca do boneco; boneco ou fantoche de sombra refere-se a uma figura de forma
chapada, articulável ou não, visível com projeção de luz atrás da figura, projeta sua
sombra; boneco de vara cujos movimentos são controlados por vara ou varetas ou
fantoche com palitos de madeira (move os braços) ou fantoche com movimentação
dupla (mão e varetas); boneco–máscara ou máscara corporal, quando o ator se
veste com o personagem-boneco; Fantoche de sombra robótica, manipulação com
tecnologia moderna; boneco habitável é vestido pelo manipulador; boneco acionado
com a associação do gatilho, uso de coletes, vara e manetes.

O fantoche e os contos de fadas:


Conforme o pensamento de Bettelheim, o ser humano para se tornar
consciente de sua existência deverá encontrar um significado para a própria vida,
isso constitui maturidade psicológica adquirida durante a existência nele. Contribuir
significativamente faz com que o indivíduo se sinta satisfeito consigo mesmo e com
o que está fazendo, assim torna-se necessário desenvolver seus recursos mais
íntimos, de modo que suas emoções, imaginação e intelecto se ajudem e se
enriqueçam mutuamente. O ser humano é este ser que se faz imagem, que se faz
das imagens e que faz as imagens. É, portanto, um ser imaginativo, expressivo,

ACAT – Av. Brasil, 333 Edifício Delta, apto. 503 – Balneário Camboriu/SC
acatarteterapia.blogspot.com.br
134

criativo e simbólico por natureza. Os símbolos dinamizam os grandes conjuntos do


imaginário: arquétipos, mitos e estruturas (TOMMASI, 2011 p. 42).
As histórias podem ser classificadas em contos de fadas, lendas, mitos,
fábulas, contos populares, repletos de mensagens simbólicas e acessíveis a
qualquer idade, transcendendo raça, cultura ou crença. A história para realmente
prender a atenção (...) deve entreter e despertar a curiosidade. Contudo, para
enriquecer a vida, deve estimular a imaginação: ajudar a desenvolver o intelecto e a
tornar claras as emoções; estar em harmonia com as ansiedades (...), ao mesmo
tempo sugerir soluções para os problemas que perturbam (...), promovendo a
confiança em si mesmo e no futuro (BETTELHEIM, 2007, p. 11). Os contos
apresentam a metáfora, que geralmente, depois do “era uma vez” a história não diz
haver crianças, ou era uma vez uma princesa, uma fada, uma bruxa, ou seja, era
uma vez um símbolo, uma metáfora, essa dupla capacidade de apresentar dramas,
conflitos e medos primordiais. A metáfora é feita de símbolos indiretos, fala tudo com
tranquilidade, protegendo o ser humano em sua viagem de projeção (trama e
personagens) nos processos de identificação. Os contos de fadas tratam de
problemas universais e das polaridades: vida e morte, o bem e o mal, o herói e o
vilão, a luz e a escuridão; as bruxas e os monstros projetam os próprios temores e
as fadas e heróis projetam as capacidades e possibilidades de vencer as
dificuldades da vida. O mal é tão onipresente quanto o bem, as propensões para
ambos estão presentes em todo indivíduo e transmitem importantes mensagens à
mente consciente, pré-consciente e inconsciente, promovem o sentimento da
individualidade e de autoestima e um sentido de obrigação moral. O inconsciente é
um determinante do comportamento do ser humano.
Contar histórias é terapêutico e contribui para a vida emocional de todas as
faixas etárias. É uma das possibilidades de levar o indivíduo à reflexão sobre os
problemas mais íntimos dos seres humanos e desenvolver mecanismos para as
soluções corretas nas dificuldades e ideias para colocar em ordem a casa interior.
Os contos de fada permitem a educação moral e significativa. Schiller escreveu: “Há
um significado mais profundo nos contos de fadas que me contaram na infância do
que na verdade que a vida ensina” (Apud BETTELHEIM, 2007).

ACAT – Av. Brasil, 333 Edifício Delta, apto. 503 – Balneário Camboriu/SC
acatarteterapia.blogspot.com.br
135

Durante o decorrer da história os contos de fadas ao serem recontados,


tornaram-se refinados e transmissores de significados, passaram a falar
simultaneamente a todos os níveis da personalidade humana, comunicando tanto a
mente da criança como a do adulto. Segundo Bettelheim, “hoje, ainda mais do que
no passado, a criança necessita da segurança oferecida pela imagem do homem
isolado, que, não obstante, é capaz de alcançar relações significativas e
compensadoras com o mundo ao seu redor” (2007, p. 20). Os contos de fadas por
meio da imaginação revelam o processo sadio do desenvolvimento humano,
resgatam temas religiosos e a herança cultural. A sensibilidade e o encantamento
pela qualidade literária fazem do conto de fadas uma obra de arte com significado
diferente para cada indivíduo, permitindo retornar ao mesmo conto para ampliar
antigos significados ou substituí-los por novos. Bettelheim conclui: “Só se pode
apreciar o verdadeiro significado e o verdadeiro impacto de um conto de fadas e
experimentar seu encantamento por intermédio da história em sua forma original”
(2007, p. 29).

O fantoche e a arteterapia:
A Arteterapia conecta vários campos do conhecimento, utiliza a arte e a
criatividade em prol da saúde física, psíquica e espiritual. Nas oficinas
arteterapêuticas individuais ou em grupo, utilizando como recurso a linguagem
expressiva da criação e manipulação da fada fantoche, levam as participantes a
desenvolverem a afetividade através do olhar, da escuta, da percepção, dos
sentimentos compartilhados, revelando grande aprendizado sobre si mesmo e o
outro. O uso das mãos é de grande importância para o desenvolvimento das
percepções cerebrais, porque estimula e realiza novas conexões entre neurônios
traçando novos caminhos. Aprende-se muito com o tato e sua coordenação com a
visão e outros sentidos, desenvolve a sensibilidade, imaginação, criatividade,
melhora a memória entre outras. As participantes da oficina de criação e
manipulação da fada fantoche vivenciam todo o processo criativo a partir da
sensorialidade do material até os momentos que envolvem rodas de conversa em

ACAT – Av. Brasil, 333 Edifício Delta, apto. 503 – Balneário Camboriu/SC
acatarteterapia.blogspot.com.br
136

que são compartilhadas emoções, sentimentos e conflitos, onde o ato de imaginar,


construir e narrar é um jogo criativo e lúdico.
O conhecimento dessa técnica expressiva, sustentado pelas teorias filosóficas
e psicológicas da Arteterapia são fundamentais ao autoconhecimento, pois ao
trabalhar com a imaginação, trabalha-se com o criativo, exteriorizando os conteúdos
internos por meio de símbolos que estão adormecidos na psique, integrando formas
de criar, construir e reconstruir o conhecimento sobre si mesmo. Como recurso
arteterapêutico oportuniza a criação e a manipulação da fada fantoche, contação de
história e jogos dramáticos, facilitando a expressividade, com o objetivo de criar
mecanismos que permitam à participante do trabalho arteterapêutico sair do espaço
conflitante, perceber suas potencialidades, despertar sentimentos adormecidos,
buscar o autoconhecimento, promovendo afetividade, harmonia, saúde: física,
mental e espiritual; inserir-se no meio sociocultural. Enquanto processo
arteterapêutico possibilita a criação e manipulação da fada fantoche com o objetivo
de levar a mulher a redescobrir sua essência original, sua sensibilidade, olhar para si
mesmo e resgatar a sua feminilidade, se permitir ser mulher por meio da delicadeza,
da capacidade de ouvir, de ser materna, acolher as pessoas com carinho, essas
características estão diretamente ligadas ao autoconhecimento, à autoestima e à
sexualidade. Dessa forma, a mulher poderá aprimorar seu poder de sedução,
feminilidade e conquista.
Conforme Jung, os problemas morais, difíceis e confusos não são
invariavelmente provocados pelo aparecimento da sombra. Muitas vezes emerge
outra “figura interior”. Se o sonhador for um homem irá descobrir a personificação
feminina do seu inconsciente; e caso seja mulher, será uma personificação
masculina. Jung chamou às formas masculinas e femininas respectivamente, animus
e anima (Jung, 1964, p. 177). Anima é a personificação de todas as tendências
psicológicas femininas na psique do homem, os humores e sentimentos instáveis, a
sensibilidade, a criatividade, a capacidade de amar.
O trabalho arteterapêutico promove o resgate do feminino durante o processo
de criação através da escolha dos materiais e das cores, da sensorialidade das
texturas e dos aromas. Cortar, costurar e colar são atividades psíquicas femininas

ACAT – Av. Brasil, 333 Edifício Delta, apto. 503 – Balneário Camboriu/SC
acatarteterapia.blogspot.com.br
137

ligadas ao arquétipo Anima, a mulher tem por natureza própria esse arquétipo, faz
parte do desenvolvimento feminino, o lado sensível criando, gradativamente, ao
manusear os materiais e criar, surge possibilidades que levam a reflexão, a quebra
de padrões, crenças, tabus, a transformação e a reconstrução de si mesmo. Os
sentimentos positivos fortalecem a racionalidade, porém a esperança no futuro dará
a sustentação nas adversidades.
Os contos trabalham com metáforas e diferentes arquétipos do conhecimento
humano, o arquétipo da mulher está inserido em todos os contos, suscitando
memórias. A Arteterapia trabalha com a criação do fantoche e do personagem como
recurso arteterapêutico, essa transformação de boneco à personagem possibilita
dialogar com o próprio universo íntimo, favorecendo a sua elaboração e integração.
O fantoche e os contos levam à reflexão sobre diferentes situações da vida,
recriando e reconfigurando, trazendo de volta a autoestima, favorecendo o
autoconhecimento.
Segundo Pain e Jarreau (1996), a função do arteterapeuta é acompanhar o
processo do paciente, é compartilhar da sua aventura, ajudá-lo a superar os
obstáculos encontrados, do ponto de vista subjetivo e objetivo. Para isso, é
indispensável disciplina e seguir certos critérios como a observação e a escuta dos
sujeitos antes e durante a atividade criativa, e decidir a oportunidade e o conteúdo
das intervenções. Berg comenta “o arteterapeuta não pode ser incoerente, se é um
facilitador de saúde, cultura e criatividade, então tem que estar eticamente vinculado
ao direito de igualdade e da liberdade de expressão” (2002, p. 209). A Arteterapia
ajuda a superação de problemas diversos, como alternativa de tratamento a curto,
médio ou longo prazo, dependendo da individualidade de cada um, numa troca
constante de saberes, descobertas e vivências com as expressões artísticas, onde o
arteterapeuta é um olhar, uma escuta, uma ressonância afetiva e uma percepção
(PAIN e JARREAU, 1996, p.21). O arteterapeuta, facilitador do processo elabora um
projeto específico, que leva o participante a expressar-se através da arte, buscando
"aberturas" que serão benéficas ao participante e ao próprio arteterapeuta. A
Arteterapia pode ser praticada no âmbito escolar, empresarial, hospitalar e como
simples tratamento direcionado apenas para um sujeito sem vínculos com nenhuma

ACAT – Av. Brasil, 333 Edifício Delta, apto. 503 – Balneário Camboriu/SC
acatarteterapia.blogspot.com.br
138

instituição, somente trabalhar o ser humano e o "dever ser" (REISIN, 2006, p.18). O
tratamento arteterapêutico leva o participante a melhorar a autoestima, a
desenvolver a imaginação, a criatividade, a fantasia, a sensibilidade, a comunicação
e o fazer artístico.

Oficina de fantoche e material:


A oficina de fantoche pode ser realizada em sala ambiente especial para a
arteterapia ou ao ar livre, individualmente ou em grupos. O arteterapeuta precisa
criar um ambiente propício no qual a pessoa possa manifestar seu caos sem se
sentir “desmancha”, deve manter uma posição neutra e não intrusiva, respeitando o
direito do cliente revelar situações dolorosas ao seu próprio ritmo pessoal. O grupo
de Arteterapia, com o tempo, passa a ser um “vaso de cura”, um grupo de apoio. Na
oficina os participantes sentam-se em círculo, relaxam escutando música, o material
é colocado no centro do círculo; observam os materiais, as cores e as texturas,
selecionam individualmente os materiais que vão utilizar. Essa oficina explora a
sensorialidade através da diversidade e textura dos materiais como: papelão, tecidos
de algodão, feltro, arraiolo, retalhos coloridos diversos, tule, rendas, fitas, soutache,
lãs coloridas, algodão cru, fibra, fios, agulha, tesoura, arame, aromas, folhas secas,
musgos, sementes, contas, argila, massa biscuit, papel machê, cola, tinta à base de
água, pincéis e glitter. Os participantes criam suas fadas fantoches, nomeiam as
personagens e participam de jogos dramáticos.

Considerações finais:
O presente estudo permite observar que a arte, a criatividade, o fantoche e os
contos, fazem parte do existir do homem em toda sua trajetória. O ser humano tem
dentro de si o poder de acessar suas próprias potencialidades criativas na
construção do fantoche durante a oficina arteterapêutica. O participante conta a
própria história, numa linguagem verbal ou não verbal, expressa seus conflitos e
alegrias por intermédio do personagem, sendo assim, o autorretrato de si mesmo.
Gradativamente, podem ser inseridas nas sessões arteterapêuticas os contos com
fantoche, tendo um significado diferente para cada participante, porém pelo fascínio

ACAT – Av. Brasil, 333 Edifício Delta, apto. 503 – Balneário Camboriu/SC
acatarteterapia.blogspot.com.br
139

que exercem, permitem emergir os mitos, envolvendo heróis, lutas, tristezas e


alegrias. É um caminho de conhecimento da realidade humana. O indivíduo ao
manipular o fantoche expressa, comunica e exterioriza sensações e sentimentos,
permitindo possibilidades de fluição, transformação, construção e criação. A
Arteterapia é um processo terapêutico em que utiliza a arte, a fantasia, a criatividade
e a expressividade, promove a abertura ao novo, permite ao indivíduo criar
mecanismos internos em busca da cura ou amenizar o sofrimento e se transformar,
facilitando a conexão dos mundos interno e externo, por meio de sua simbologia. A
Arteterapia cuida da essência do ser humano em seu lado afetivo, emocional e
cognitivo, facilitando o desenvolvimento da observação, percepção, memória,
comunicação, sensibilidade, imaginação entre outros. Com esse artigo pretende-se
mostrar a importância da Arteterapia em utilizar a arte e o processo criativo para o
desenvolvimento integral do indivíduo. Como recurso arteterapêutico oportunizar a
criação e a manipulação da fada fantoche, contação de história e jogos dramáticos,
facilitando a expressividade, com o objetivo de criar mecanismos que permitam a
participante do trabalho arteterapêutico sair do espaço conflitante, perceber suas
potencialidades, despertar sentimentos adormecidos, buscar o autoconhecimento,
promovendo afetividade, harmonia, saúde: física, mental e espiritual; inserir-se no
meio sociocultural. Enquanto processo arteterapêutico possibilitar a criação da fada
fantoche para resgatar o feminino da mulher, presente no arquétipo Anima que
representa a personificação psicológica feminina na psique do homem. O processo
arteterapêutico acontece em várias etapas desde a sensorialidade dos materiais,
busca de texturas e novas cores, a criação da personagem, cortando, colando,
costurando ponto a ponto, trabalhando com fios, resgata o lado sensível feminino
criador. A Arteterapia oportuniza através da criação novas construções e assim, abre
novas possibilidades para a participante reconstruir-se internamente e reconstruir a
própria vida. As participantes e suas fadas fantoches durante a roda de conversa
relataram como foi a experiência em criar e manipular um boneco como: as dores do
corpo sumiram, a realização de um sonho, a alegria em criar uma fada, lembranças
do tempo de infância, sentir-se leve e feliz entre outros. Todas participaram da
oficina, muitas desconheciam a técnica da construção de fantoche, outras gostaram

ACAT – Av. Brasil, 333 Edifício Delta, apto. 503 – Balneário Camboriu/SC
acatarteterapia.blogspot.com.br
140

tanto da atividade que fariam mais fantoches. Na oficina foram vivenciados


momentos de grande emoção, compartilhadas lágrimas e sorrisos. Os contos e o
fantoche são bálsamos que iluminam a alma!

Referências:
ALESSANDRINI C.D. Oficina Criativa em Psicopedagogia. São Paulo: Casa do
Psicólogo. 1997.

AMARAL, Ana Maria. Teatro de Formas Animadas: máscaras, bonecos, objetos.


São Paulo: Edusp, 1991.

ARCURI, I. G. (org.). Arteterapia: um novo campo do conhecimento. São Paulo:


Vector, 2006.

________ Arteterapia de corpo e alma. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2004.

BERG, R. Criatividade: A Ordem e a Desordem na Organização Criativa.


Coleção Imagens da Transformação. Rio de Janeiro: Pomar, Vol. 10, 2003.

BETTELHEIM, B. A Psicanálise dos Contos de Fadas. 21. ed. São Paulo: Paz e
Terra, 2007.

CHEVALIER, J. e GHEERBRANT, A . Dicionário de Símbolos. Rio de Janeiro:


José Olympio, 1982.

EDMUNDO, L . O Rio de Janeiro no Tempo dos Vice-Reis (1763-1808).

GALVÃO, M. N. C. Possibilidades Educativas do Teatro de Bonecos nas


escolas públicas de João Pessoa. Dissertação do Curso de Mestrado em
Educação, Centro de Educação, UFPb, João Pessoa, 1996.
GUTFREIND, C. Contos e Desenvolvimento Psíquico. Revista Viver Mente &
Cérebro.

JUNG, C.G. O Homem e seus Símbolos. Rio de Janeiro: Ed. Nova Fronteira, 1964.

_______ Memórias, Sonhos e Reflexões. Rio de Janeiro: Ed. Nova Fronteira,


1961.

OSTROWER, F. Criatividade e Processos de Criação. Petrópolis: Vozes, 1998.

PAÏN, S. e JARREAU, G. Teoria e Técnica da Arte-Terapia. Porto Alegre: Artes


Médicas, 1996.

PROENÇA, G. História da Arte. São Paulo: Ática, 1999.

ACAT – Av. Brasil, 333 Edifício Delta, apto. 503 – Balneário Camboriu/SC
acatarteterapia.blogspot.com.br
141

RABELLO, N. Tecendo a vida... Por meio da arteterapia e dos contos. Revista


Transdiciplinar. Vol. 3, Nº 3, Rio de Janeiro: Janeiro, Ano 2, 2014.

REISIN, A. S. Arteterapia Semânticos e Morfologias. São Paulo: Vetor, 2006.


nº 142, de novembro de 2004.

SILVEIRA, N. Jung, Vida e Obra. Rio de Janeiro, Ed. Paz e Terra S.A., 7ª ed., 1981.

TOMMASI, S.M.B. Pensando a Arteterapia com Arte, Ciência e Espiritualidade.


São Paulo. Vetor, 2012.

URRUTIGARAY, M. C. Arteterapia: A transformação pessoal pelas imagens. 3. ed.


Rio de Janeiro: Wak, 2006.

WIKIPÉDIA ENCICLOPÉDIA LIVRE. Arteterapia. São Paulo, 2009. Disponível em:


Pt.wikipedia.org/wiki/Arte_terapia-30k, Acesso em: 18 de junho de 2014.

Sites:
http://www.academia.org.br/imortais/frame10.htm. Acesso em: 30 de junho de 2014.
http://pointdaarte.webnode.com.br/news /a-historia-do-teatro-de-bonecos/ Acesso
em: 30 de junho de 2014.
http://escola.britannica.com.br/article/482304/fantoche/. Acesso em: 30 de junho de
2014.

ACAT – Av. Brasil, 333 Edifício Delta, apto. 503 – Balneário Camboriu/SC
acatarteterapia.blogspot.com.br
A arte de tecer com filtro dos sonhos.

Aline Franco.

Resumo:
A presente pesquisa é teórico-prática, com estudo de caso, dentro de uma
visão fenomenológica, com embasamento teórico na psicologia analítica.
Portanto tratasse sobre o processo arteterapêutico, que motiva o estudante
seguir suas vivências escolares, com equilibrio, autoconhecimento,
dignidade,amor e respeito consigo e com o outro. O artigo é resultante de um
estudo de caso. Tendo como problema: Como a Arteterapia, por meio da
expressão criativa, contribui para o desenvolvimento do autoconhecimento do
aluno no ambiente escolar? O objetivo geral foi, compreender as teorias e
técnicas em Arteterapia, a expressão criativa com o individuo no ambiente
escolar. Tendo como resultados relacionamento social e educacional mais
adequado e harmonioso.

Palavras-chave: expressão criativa; processo arteterapêutico; ambiente


escolar.

Introdução:

Nestes últimos anos ocorreu um crescente interesse sobre Arteterapia,


profissionais de diversos campos direcionaram seu olhar para esta nova
profissão, que possibilita a transdisciplinariedade, por ter uma base
multidisciplinar, sendo assim, motivou a abertura de novos cursos de pós-
graduação nesta área. Estes cursos exigem uma pesquisa de campo e a
elaboração de um artigo científico. Portanto, a Arteterapia também estimula a
pesquisa e provoca novas reflexões cientificas nas áreas do saber. Pretende-
se com este artigo demonstrar a prática da Arteterapia em ambiente escolar,
não como meio de terapia no sentido lato da palavra, mas como processo de
desenvolvimento psicológico, intelectual, social e afetivo. Estimular novas
práticas focando o processo criativo do ser humano em formação.

O artigo é o relato da prática desenvolvida no Centro Educacional


Construindo o Saber, no município de Balneário Camboriú em SC, com uma
143

estudante de 13 anos, que frequentava o nono ano, ensino fundamental. Com


o objetivo de compreender as teorias e técnicas em Arteterapia e a expressão
criativa, com o indivíduo no sistema educacional.

Durante as práticas das oficinas organizadas, foi utilizado, para obter


melhor compreensão, o método Maiêutico Socrático. A Maiêutica foi elaborada
por Sócrates no século IV A.C. A partir desta linha filosófica ele procura dentro
do Homem a verdade. Mediante as questões simples, inseridas dentro de um
contexto determinado, a Maiêutica dá à luz ideias simples para se chegar as
mais complexas. Por intermédio da maiêutica, ele mergulha no conhecimento,
ainda superficial na etapa anterior, sem atingir, porém um saber absoluto.
Assim a organização metodológica do conteúdo, em conformidade com os
objetivos propostos e a problemática da pesquisa seguirá os seguintes
procedimentos metodológicos dentro de uma hermenêutica fenomenológica.
Para Merleau-Ponty (1999, p. 1) "fenomenologia é o estudo das essências, e
todos os problemas" o filosofo preocupa-se em definir essência, e pontua como
exemplo a "essência da percepção, essência da consciência". Portanto "a
fenomenologia é também uma filosofia que repõe as essências na existência, e
não pensa que se possa compreender o homem e o mundo de outra maneira
senão a partir de sua facticidade” (Idem).

Aqui, hermenêutica quer dizer: uma postura, uma maneira de entender e


expressar a percepção sobre os dados da investigação teórica de forma
qualitativa. As raízes hermenêuticas da compreensão humana nascem do
corpo-criante, do pesquisador em busca de respostas para os seus
questionamentos. O nascedouro de uma hermenêutica é o ser humano
pesquisador, que vive os processos dos fatos, dos acontecimentos de oriundos
de suas reflexões (indução-dedução) construídas na sua existência. O ser
humano (no caso da ciência, o pesquisador) é o locus onde a vida acontece e
se expressa em pensamento sistematizado – o conhecimento.

O ambiente escolar tira o sujeito de sua realidade social e familiar


criando um espaço novo com característica que estimula a competitividade,

ACAT – Av. Brasil, 333 Edifício Delta, apto. 503 – Balneário Camboriu/SC
acatarteterapia.blogspot.com.br
144

comparações físicas, financeiro e estado social. Desenvolvendo


comportamentos agressivos como: bulling, exclusão, humilhação, que provoca
medo, angústia, sentimento de inferioridade, de incapacidade chegando a
alguns casos suicídio. Este comportamento social no ambiente escolar
compromete e dificulta o aprendizado, por mexer com emoções e sentimentos
desenvolvendo a dor na e da alma, tornando-se um ser invisível para a
sociedade e para si mesmo.

Há dores da alma, quando a alma dói por si mesma, no processo de


elaboração de seus conteúdos, e procura desenvolver seu aprimoramento
interior. Há dores na alma dor advindas de situações externas que,
despontam, frustram, entristecem, deprime e que podem levar à loucura ou
à revelação (ZACHARIAS apud TOMMASI, 2011, p. 267).

Os estudantes no ambiente escolar demonstram suas emoções,


destacando forte sua personalidade e trazendo consigo suas vivências sociais
externas. A alteração das emoções gera relações e comportamentos
conturbados, refletindo no aprendizado e em todo espaço que ali esta. Portanto
esse tema tem o problema: Como a Arteterapia, por meio da expressão
criativa, contribui para o desenvolvimento do autoconhecimento do aluno no
ambiente escolar?

Para tanto esse espaço educacional que permite a criatividade, inclusão,


aceitação, acesso, relacionamento interpessoal, acaba sendo um espaço
opressivo e castrador. A pedagogia tradicional acaba transformando
estudantes, em um ser passivo na aquisição de conhecimento, de
interdependência, criação e equilíbrio.

Quando o educador tem a visão de um educando participativo, o processo


ensino-aprendizagem torna-se dinâmico e criativo, tanto para o educador
quanto para o educando. Ou seja, o conteúdo pode ser o mesmo, mas a
dinâmica de ensino e aprendizagem é nova para ambos, isso porque cada
educando contribui de uma forma única e criativa (TOMMASI e MINUZZO,
2010, p. 19).

ACAT – Av. Brasil, 333 Edifício Delta, apto. 503 – Balneário Camboriu/SC
acatarteterapia.blogspot.com.br
145

O ambiente escolar como um espaço propício aos trabalhos de


arteterapia fortalece o que Freire confirma “a educação deve ser desinibidora e
não restritiva. É necessário darmos oportunidade para que os educandos
sejam eles mesmos” (2011, p. 41). A Arteterapia traz para a consciência os
objetivos de vida estimulando o autoconhecimento.

A Arteterapia propõe um desvelar de experiência humana, criando novos


sentidos e redimensionamento à aprendizagem diante a vida. [...] é pensar
em um espaço/tempo de vida em que nosso potencial criador pode
expressar trazendo alegria e felicidade em nossas atitudes e em nossas
relações (ALESSANDRINI apud TOMMASI, 2012, p. 193).

A Arteterapia busca uma visão filosófica, psicológica e terapêutica, onde


forças arquetípicas são dinamizadas para desenvolver o equilíbrio e a
criatividade da pessoa. Ao fazermos uso destes conceitos teóricos embasamos
o conhecimento sobre as expressões produzidas no processo arteterapêutico.
Portanto o artigo mostrará a importância da arte como terapia, no contexto
educacional.

A Arteterapia vai desbloquear o embotamento emocional desenvolvendo


a resiliência para alcançar o empoderamento do si mesmo mediante ao
processo arteterapêutico no ambiente escolar, por meio das artes (música,
artes plásticas, dança e outras), desenvolve uma nova perspectiva de vida.
Segundo Bello (1998, p. 63):

O sistema educacional deveria estar interessado em expandir o


autoconhecimento e o potencial criativo em seus estudantes e atuar como
uma ponte, incorporando o aprendizado emocional ao sistema, do primeiro
grau até a educação adulta. Precisamos ajudar as pessoas a serem mais
espontâneas e autênticas, ajudá-las a definir seus pensamentos
limitadores, suas subpersonalidades, aprender como reconhecer e
comunicar seus medos, verdadeiros sentimentos e os desejos de seus
corações.

ACAT – Av. Brasil, 333 Edifício Delta, apto. 503 – Balneário Camboriu/SC
acatarteterapia.blogspot.com.br
146

Devemos encorajar e tocar os estudantes com amor, para aprenderem a


encontrar um lugar no grupo, onde possam ser aceitos e reconhecidos com
dignidade. Temos apenas que conduzir sabiamente as energias psíquicas, ou
seja, aceitá-las para depois transformá-las e evoluir cada vez mais em nossa
essência humana.

Mediante a expressão criativa que a arteterapia evoca naturalmente,


podemos ampliar e melhorar a dinâmica do ambiente escolar. Estimular no
educando a espontaneidade das emoções com intuito de focar o amor próprio,
autoestima e respeito ao próximo na sua pura essência.

Portanto, em contato com os materiais e recursos, durante o processo


proporcionam e fortalecem o educando a emergir da sombra e buscar a luz.
Segundo, Tommasi, “o recurso arteterapêutico estimula a imaginação, libera a
manifestação do simbolismo e das metáforas enriquecendo o processo de
autoconhecimento e desenvolvimento cognitivo, afetivo-emocional e criativo.”
(2010, p. 47).

Para Phillippini e Diniz (2012, p. 168), “A Arteterapia, como processo


terapêutico com amplas e diversificadas formas de atuação, contribui para que
esse momento da vida seja vivenciado de forma recompensadora”.

Conceitos, definições e teorias:

Para se compreender o significado de Arteterapia buscaram-se


definições e autores. A Arteterapia foi definida pela UBAAT (União Brasileira de
Associações de Arteterapia):

A Arteterapia, que é o uso da arte como base de um processo terapêutico,


propicia resultados em um breve espaço de tempo. Visa estimular o
crescimento interior, abrir novos horizontes e ampliar a consciência do
indivíduo sobre si e sobre sua existência. Utiliza a expressão simbólica, de
forma espontânea, sem preocupar-se com a estética, através de
modalidades expressivas como: pintura; modelagem; colagem; desenho;

ACAT – Av. Brasil, 333 Edifício Delta, apto. 503 – Balneário Camboriu/SC
acatarteterapia.blogspot.com.br
147

tecelagem; expressão corporal; sons; músicas; criação de personagens,


dentre outras, mas utiliza fundamentalmente as artes plásticas e é isso que
a identifica como uma disciplina diferenciada. Enquanto a Arte Educação
ensina arte, a arteterapia possui a finalidade de propiciar mudanças
psíquicas, assim como a expansão da consciência, a reconciliação de
conflitos emocionais, o autoconhecimento e o desenvolvimento pessoal. A
arteterapia tem também o objetivo de facilitar a resolução de conflitos
interiores e o desenvolvimento da personalidade. Por ser bastante
transformadora, pode ser praticado por crianças, adolescentes, adultos,
idosos, por pessoas com necessidades especiais, enfermas ou saudáveis.
Hoje, é exercida em ateliês e instituições com atendimentos individuais ou
em grupos.

Segundo Pain (2009, p. 73), “a arteterapia é terapêutica enquanto abre a


sensibilidade e compreensão à recepção de sentidos ao novo, ao imprevisto”.
E, segundo Andrade (2000, p. 72), “as técnicas de arteterapia são baseadas no
conhecimento que todo indivíduo, quer tenha ou não, treino em arte, tem uma
capacidade latente para projetar seus conflitos interiores em formas visuais”.

O arteterapeuta é um dos cuidadores da psique, portanto para Diniz


(2011, p. 48), “o cuidador é um facilitador para que o outro dê conta da
possibilidade de comunhão e participação no “mistério do Todo”, conhecedor
da razão do coração – o espírito da delicadeza”.

Todas as relações que o homem trava com e na sua realidade, fazem


dessas relações algo consequente. Na verdade não se esgota na mera
passividade. Criando e recriando, integrando-se nas condições de seu
contexto, respondendo aos desafios, auto-objetivando-se, discernindo, o
homem vai se lançando no domínio que lhe é exclusivo, o da história e da
cultura (FREIRE, 2011, p. 86).

Analisando a situação social do sistema educacional, as novas


dinâmicas familiares, percebesse que os valores sociais, morais e afetivos
também são transmitidos no ambiente escolar, no qual o educando passa a
maior parte de sua vida. Segundo Ostroski e Tommasi (2011, p. 223), “quando
o assunto é comprometimento, os pais muitas vezes não têm tempo de dar

ACAT – Av. Brasil, 333 Edifício Delta, apto. 503 – Balneário Camboriu/SC
acatarteterapia.blogspot.com.br
148

atenção para seus filhos, e a escola está sendo alvo dessa falta de proteção,
de zelo e de cuidado”.

É nesse espaço de transformação que nós, educadores, necessitamos nos


conscientizar de nosso verdadeiro papel: o de agentes sociais e
educadores [...] É por isto que surgem novas especificações, abrangendo
conhecimentos multidisciplinares, interdisciplinares e transdisciplinares, os
quais possibilitam ao agente educador ser um cuidador e um
transformador (OSTROSKI e TOMMASI apud TOMMASI, 2011, p. 225).

A Arteterapia no ambiente escolar, aplicada na rotina das pessoas que


ali frequentam, propicia um ritmo simbólico tranquilo com harmonia. Assim ao
fazermos uso dos conceitos teóricos, embasamos o conhecimento sobre as
expressões e símbolos produzidas no processo arteterapêutico, desenvolvido
plenamente nas sessões.

O símbolo não é seguramente nenhuma alegoria nem um mero signo, mas


sim uma imagem apropriada para designar, da melhor maneira possível à
natureza obscuramente pressentida do Espírito [...] O símbolo exprime o
mundo percebido e vivido tal como o sujeito o experimenta, não em função
de razão crítica e no nível de sua consciência, mas em função de todo seu
psiquismo, afetivo e representativo, principalmente no nível do
inconsciente (CHEVALIER e GHEERBRANT, 1982, p. xxii).

Com esse distanciamento da obra se realiza a analise simbólica afetiva,


estética e ética que leva a transformação. Segundo Pain (2009, p. 79), “o
caminho em arteterapia é desejar primeiro, executar o desejo na matéria bruta
ou na substância verbal, para depois medir a distância a percorrer entre a
realização e o que havia querido fazer, revelado somente nessa distância”.

Filtro dos sonhos:

O desenvolvimento da humanidade está marcado por contatos e


conflitos entre modos diferentes de organizar a vida social, de se apropriar dos

ACAT – Av. Brasil, 333 Edifício Delta, apto. 503 – Balneário Camboriu/SC
acatarteterapia.blogspot.com.br
149

recursos naturais e transformá-los, de conhecer a realidade e expressá-la. A


história registra as transformações culturais, que são movidas por tensões e
conflitos internos. A história da humanidade é composta por sua rica e
multiplicidade de formas de existência. Esse grande mosaico humano que
compõem os agrupamentos possuem características que unem e separam,
dando assim origem as diferentes culturas.

Cada realidade cultural tem sua lógica interna, a qual deveu procurar
conhecer para que façam sentido as suas práticas, costumes, concepções e as
transformações pelas quais estas passam. Para o antropólogo Lévi-Strauss, as
alianças estabelecidas nas relações interpessoais são mais importantes para a
estrutura social que os laços de sangue, porque dá estrutura a cultura.

É comum que na América Latina as discussões sobre cultura se refiram


a uma história de contribuições culturais de múltiplas origens, as quais têm por
polo de integração os processos que são dominantes no mundo ocidental no
que concerne à produção econômica, à organização da sociedade, à estrutura
da família, ao direito e às ideias, concepções e modos de conhecimento.

É interessante perceber como as expressões artísticas de povos nativos


permeiam o universal cultural atual. Estes objetos fabricados de forma
artesanal carregam valores, símbolos, crenças que se comunicam de maneira
indireta e subjetivamente com o inconsciente.

O Filtro dos Sonhos é um artefato indígena nativo americano originado


na tribo dos Ojibwa (conhecido grupo étnico de índios norte-americanos, onde
as famílias Ojibwa residentes ainda hoje nas ilhas Parry, no Canadá). Durante
o movimento de revitalização cultural indígena dos anos 60 e 70, foram
adotados por nativos americanos de diversas nações. Passaram a ser vistos
como um símbolo da unidade entre as várias nações indígenas, e como um
símbolo geral da identificação com as primeiras culturas das nações.

ACAT – Av. Brasil, 333 Edifício Delta, apto. 503 – Balneário Camboriu/SC
acatarteterapia.blogspot.com.br
150

Nativo Ojibwa

Conta uma velha lenda dos nativos norte-americanos, que um velho


índio ao fazer uma Busca da Visão no topo de uma montanha, lhe apareceu
IKTOMI, a aranha, e comunicou-se em linguagem sagrada:

A Aranha pegou um aro de cipó e começou a tecer uma teia com cabelo
de cavalo e as oferendas recebidas. Enquanto tecia, o espírito da Aranha
falou sobre os ciclos da vida, do nascimento à morte e das boas e más
forças que atuam sobre nós em cada uma dessas fases. Ela dizia: “Se
você trabalhar com forças boas será guiado na direção certa e entrará em
harmonia com a natureza, do contrário, irá para uma direção que causará
dor e infortúnios.” No final a Aranha devolveu ao velho índio o aro de cipó
com uma teia no centro dizendo-lhe: No centro está à teia que representa
o ciclo da vida. Use-a para ajudar seu povo a alcançar seus objetivos,
fazendo bom uso de suas ideias, sonhos e visões. “Eles vêm de um lugar
chamado Espírito do Mundo que se ocupa do ar da noite com sonhos bons
e ruins”.

O cipó representa a estrutura da floresta, pois é necessário das grandes


árvores para subir e é, entretanto, a firmeza, a garantia de sua longevidade. O
cipó renova as energias, revitaliza os canais por onde sua energia percorre.
Esse sistema nervoso conduz certa elasticidade que vivifica a energia das
outras plantas, tornando-as mais ativas em seus princípios elementais.

Eu sou a energia que comunica a terra e o céu, o céu e a terra. Ora me


despenco do alto como uma mão estendida, ora me alço da terra em
escalada certeira. Esta foi uma mensagem captada de um elemental do

ACAT – Av. Brasil, 333 Edifício Delta, apto. 503 – Balneário Camboriu/SC
acatarteterapia.blogspot.com.br
151

cipó, a qual nos esclarece sobre a natureza da cura que está contida
nestes vegetais16.

O cipó ensina a facilidade de evoluir, iniciar novas semeaduras. Ele


aciona o fluxo das energias e conecta os canais de comunicação com outras
plantas no decorrer da evolução como planta. Do físico ao emocional, ao
mental, ao sutil e, de volta, ao plano terra.

Os elementos dos cipós relacionam-se às serpentes do reino animal e


reproduzem suas formas e movimentos no reino vegetal. Da mesma forma,
no ser humano, relacionam-se à sua serpente interna, em seus vários
níveis de manifestações. Produzem um certo desvencilhar de nós e
encontram o fio da meada, que leva a um desdobramento mais firme e à
possibilidade de alcançar uma sabedoria natural de tempo17.

Segundo demonstram algumas linhas do Xamanismo, ao dependurar na


janela ou porta, o filtro dos sonhos defende o morador, o bebe, de toda força
exterior nociva enquanto dorme, e durante o dia ajuda-o ao mesmo tempo a se
concentrar e achar o próprio centro. O centro é o retorno ao sagrado. Porém
mesmo de posse do Filtro dos Sonhos, teremos pesadelos, pois eles nos
mostram visões de diversos aprendizados que devemos nos atentar. Acredita-
se que o filtro impedirá que energias indesejadas interfiram no processo natural
e particular de sonhar. O Filtro dos Sonhos está vinculado ao movimento e às
etapas que temos na nossa vida.

O bem e o mal se encontram tão próxima no si mesmo quanto os gêmeos


monovitelinos! A realidade do mal e de sua incompatibilidade com bem
provoca uma separação violenta dos opostos conduzindo inexoravelmente
a crucificação e suspensão de tudo que é vivo. (JUNG, 1992, p.33).

O círculo (à base do filtro), que é a engrenagem do ritmo e movimento. É


onde trabalhamos o nosso corpo físico e mental representando o Círculo da

16 (http://www.floraisdaamazonia.com.br/pt/?page_id=643).
17
(http://www.floraisdaamazonia.com.br/pt/?page_id=643).

ACAT – Av. Brasil, 333 Edifício Delta, apto. 503 – Balneário Camboriu/SC
acatarteterapia.blogspot.com.br
152

Vida, a totalidade, o símbolo do Sol, do Céu e da Eternidade. No simbolismo


ancestral o círculo é o símbolo do espaço infinito, sem começo e sem fim.
Qualquer que seja a representação simbólica em qualquer era e em qualquer
cultura, um Círculo de Poder, serve como um espelho, onde podemos ver o
reflexo do Universo e o Grande Tudo, que contém a totalidade, trabalhando
para o entendimento dos mistérios da vida, do cosmos, e das leis naturais.
Conforme Chevalier e Gheerbrant (1982, p 252), “Entre os indígenas da
América do Norte, igualmente, o círculo é o símbolo do tempo diurno, o tempo
noturno e as fases da Lua são círculos por cima do mundo, e o tempo do ano é
um círculo em volta da extremidade do mundo”.

O movimento circular também tem significado moral da vivificação de todas


as forças luminosas e obscuras da natureza humana, arrastando com elas
todos os pares de opostos psicológicos, quaisquer que sejam. Isto significa
autoconhecimento através da auto incubação (o “tapas” hindu) (JUNG,
1961, p. 32).

Fiar e tecer, trabalho feminino, está associado ao ato da criação e da


espiritualidade. Nos mitos gregos encontramos as Moiras, três irmãs que
determinavam os destinos dos seres humanos e deuses. Eram responsáveis
por fiar, tecer e cortar o fio da vida. Tecer é criar novas formas, é reunir
realidades diversas, é trazer de dentro de si a sua própria teia, a sua própria
substância.

A teia caracteriza os nossos sonhos de alma. É o que nós tecemos para


as nossas vidas de acordo ao nosso Livre Arbítrio. É onde percebemos o nosso
corpo emocional. Para os índios da América do Norte, o sonho é o signo final e
decisivo da experiência. Os sonhos estão na origem das liturgias; estabelecem
a escolha dos sacerdotes e conferem a qualidade de xamã.

Os sonhos é um enigma, presente na experiência humana, tornou-se


motivo de estudo nas diversas áreas do saber, percorrendo caminhos da
mística até a ciência atual, e até hoje não se têm explicações, sobre este

ACAT – Av. Brasil, 333 Edifício Delta, apto. 503 – Balneário Camboriu/SC
acatarteterapia.blogspot.com.br
153

fenômeno. Não se podem manipular os sonhos, eles são, por assim dizer, a
voz da natureza dentro do ser humano. Eles mostram, a maneira pela qual a
natureza, por seu intermedeio, nos prepara para a morte. Segundo Jung (1961,
p. 32), “não considero o sonho não só uma fonte preciosa de informações. Mas
também como um instrumento educativo e terapêutico eficientíssimo”.

Relatos sobre sonhos estão registrados desde as primeiras civilizações,


para o Egito antigo, os sonhos têm valor premonitório; por meio de símbolos,
foi um caminho que deus encontrou para sinalizar o que vai acontecer no
futuro. Portanto para entendê-lo é necessário um sábio, ou sacerdote para
interpretá-lo. Por exemplo: José interpretou os sonhos do Faraó, antes de
ocorrer às sete pragas do Egito.

Na Mitologia Grega, os sonhos tinham um papel bastante importante,


visto serem considerados como um modo de comunicação entre o mundo
etéreo e o terreno, através do qual os deuses passavam mensagens aos
mortais. São diversos os mitos em que este aspecto da vida Grega surge,
normalmente com um herói a dormir num templo consagrado a um deus que,
mais tarde, acaba por lhe surgir em sonhos, juntamente com qualquer conselho
ou mensagem. Por isso existiam os templos de cura, onde se passava as
noites até ter um sonho sagrado, com Esculápio, ou com serpentes e cães.

Para explicar o sono, os sonhos e a morte o escritor grego Ovídio com


sua obra Metamorfose, apresenta o deus Hipnos (sono), seus filhos Morfeu (o
moldador de sonhos), e seu irmão gêmeo de Thanatos (a morte).

Para os Bantus do Kasai, da bacia da congolesa, alguns sonhos são


produzidos pelo encontro de almas, ou seja, a alma do vivo sai do corpo e se
encontra com a alma dos mortos para conversarem.

O centro (ponto) representa o Princípio Criador, de onde todas as coisas


surgiram e para onde todas as coisas retornarão, tornando-se apenas UM. Aqui
trabalhamos o Divino que há em nós. Segundo Chevalier e Gheerbrant (1982,
p 730), “o ponto simboliza o estado e limite da abstração do volume, o centro, a

ACAT – Av. Brasil, 333 Edifício Delta, apto. 503 – Balneário Camboriu/SC
acatarteterapia.blogspot.com.br
154

origem, o lar, o princípio da emanação e o termo de retorno. Ele designa o


poder criativo e o fim de todas as coisas”.

O nó tem significados diferentes nas diversas culturas, mas sua


essência remete a noção de fixação num estado determinado, de
condensação, ou de agregação, a literatura da arte religiosa confere o poder de
ligar e desligar. O nó pode amarrar a pessoa amada. Ao ser desfeito pode
desatar a linha da vida para dar continuidade. Para os chineses, o nó tem o
poder de captação ou de condensação dos estados, dos elementos. No filtro
dos sonhos os nós captam a energia e pensamentos positivos e negativos,
filtrando e limpando com o primeiro raio solar.

As penas estão ligadas à nossa relação com os elementos (Terra,


Água, Fogo e Ar) e de que forma vemos a natureza e suas representações.
Segundo Chevalier e Gheerbrant (1982, p. 724), “a função simbólica da pluma
está ligada, no xamanismo, aos rituais de ascensão celeste e, por conseguinte,
de clarividência e adivinhação”.

Filtro dos sonhos trazendo equilíbrio e harmonia:

Dentre diversas sessões que ocorreram durante as práticas


supervisionadas, as duas confecções do filtro dos sonhos, apresentaram
significações, pois é visível no contraste a transformação, mediante a criação
dos elementos. O filtro dos sonhos possui símbolos, que desenvolvido na
prática de Arteterapia, podemos direcionar para quem esta manuseando, ou
seja, o contato direto com os elementos naturais e a confecção da teia, faz com
que o ser necessite organizar diversos elementos, provocando em si um
autoconhecimento, equilíbrio e harmonia.

O símbolo exprime o mundo percebido e vivido tal como o sujeito o


experimenta, não em função de razão crítica e no nível de sua consciência,
mas em função de todo seu psiquismo, afetivo e representativo,

ACAT – Av. Brasil, 333 Edifício Delta, apto. 503 – Balneário Camboriu/SC
acatarteterapia.blogspot.com.br
155

principalmente no nível do inconsciente. (CHEVALIER e GHEERBRANT


1982, p. xxvii).

O contato direto com a confecção dos filtros dos sonhos permite ao


individuo, aguçar suas habilidades, ou seja, organização cognitiva, raciocínio
lógico matemático e coordenação motora fina. Permitindo entrar em contato
direto com a sua própria criação, não havendo regras e sim sua
espontaneidade, na escolha dos elementos e cores. Se entendermos que o
cipó é um fio condutor, que passa de um lugar para outro, e que ao ser
transformado pelas mãos humanas em círculo, torna-se um dos símbolos
primordiais da totalidade psíquica. Ao tecer a teia, a psique e o corpo unem-se
para desenvolver os movimentos precisos e repetitivos, estica-se a linha,
executa-se a laçada e se faz o nó, até finalizar toda a volta circular do cipó.
Este procedimento por não ser usual exige atenção, concentração, memória e
habilidade motora fina. O cérebro realiza novas sinapses que estabelecem
conexões neuronais, ativando as duas metades do cérebro.

O processo criativo traz satisfação e transcendência, muitas vezes por


intermédio do sentimento de tocar e de ser parte de uma experiência
universal. [...] O processo criativo é o processo de mudança, de
desenvolvimento e de evolução na organização da vida interior.
(ALESSANDRINI apud TOMMASI, 2012, p. 182).

Para confeccionar o filtro dos sonhos, o sujeito realizou uma


reorganização interna, foi buscar o ponto de equilíbrio do modelo oferecido,
com a essência da percepção contida na psique, localizou o ponto fora no
objeto e introjetou a essência deste ponto, e somente assim foi capaz de
desenvolver de maneira harmônica a técnica.

Dentro do circulo se tece uma mandala vazada, com o fio de linha com a
cor selecionada. A estrutura inicial de cipó dá a impressão de rigidez, mas
ganha aspecto de leveza ao ser trabalhado com a linha. O produto final é uma

ACAT – Av. Brasil, 333 Edifício Delta, apto. 503 – Balneário Camboriu/SC
acatarteterapia.blogspot.com.br
156

mandala vazada com penas e sementes, que ao ser dependurada tem


movimento com a circulação do ar. Portanto, torna o elemento ar visível. Ao
observar a leveza das plumas, tamanho e forma, para realizar a escolha, os
órgãos do sentido são ativados. A preferência por determinada cor, naquele
momento, é bem significativa e simbólica, revela emoções e lembranças, que
podem ser tanto positivas quanto negativas. Embora seja uma escolha
sensorial consciente, elementos inconscientes emergem e desvela conteúdos
reprimidos e adormecidos. Propiciando, o processo arteterapêutico.

Percebendo a necessidade de manter o contato com a natureza, a


pesquisadora promove esse contato direto com a mesma durante as sessões,
no momento de sensibilização e no desenvolvimento prático. Pois os materiais
para a confecção foram retirados do meio natural.

O retorno à natureza tem que ser necessariamente acompanhado de uma


reconstrução sintético do símbolo. A redução faz retroceder ao homem
natural primitivo e à mentalidade que lhe é própria (JUNG, 2012, p. 64).

“B”, uma estudante com características únicas, conforme condiz com


sua idade, frequenta a mesma escola desde o inicio de sua formação, por isso
foi possível observar mudanças de comportamentos, no último ano do ensino
fundamental, seu humor passou de alegre a melancólica. Portanto chamando
atenção dos educadores e familiares, Freire (2011, p 22) “o compromisso,
próprio da existência humana, só existe no engajamento com a realidade, de
cujas “águas” os homens verdadeiramente comprometidos ficam “molhados”,
ensopados. Somente assim o compromisso é verdadeiro”. Assim, sua mãe em
uma das reuniões de pais e professores aceitou a participação de “B” nas
sessões de Arteterapia. Dando ali início ao processo arteterapêutico com ética
e amor, devido uma percepção sensível da arte educadora durante a rotina
escolar.

ACAT – Av. Brasil, 333 Edifício Delta, apto. 503 – Balneário Camboriu/SC
acatarteterapia.blogspot.com.br
157

A professora democrática, coerente, competente, que testemunha seu


gosto de vida, sua esperança de um mundo melhor, que atesta sua
capacidade de luta, seus respeitos às diferenças, sabe cada vez mais o
valor que tem para a modificação da realidade, a maneira consiste com
que viva sua presença no mundo, a experiência na escola é apenas um
momento, mas um momento importante e precisa ser autenticamente
vivido. (FREIRE, 1996, p. 43).

O início das sessões foi com um acolhimento, onde teve a preparação


da arteterapeuta na organização do ambiente (sala de arte) utilizando meia luz,
música instrumental e aromatizador de ambiente.

Na prática da arteterapia, o uso da música e a compreensão das


preferências musicais podem ser muito úteis, pois poderão abrir portas
para maior compreensão e terapêutica dos que recorrem a seus métodos
(ZACHARIAS apud TOMMASI, 2012, p. 35).

Nas sessões após o acolhimento, “B” era encaminhada para a horta da


escola, e com os pés diretos no chão, e foi convidada a direcionar sua
imaginação ativa aos quatro elementos naturais: terra, fogo, ar e água.
Mediante respirações profundas e alongamentos corporais.

Bachelard considera os quatros elementos como os hormônicos da


imaginação. Eles acionam grupos de imagens. Ajudam a assimilação
íntima do real disperso em suas formas. Através deles efetuam-se as
grandes sínteses que dão qualidades um pouco regulares ao imaginário.
(CHEVALIER e GHEERBRANT, 1982, p. 362).

No retorno ao espaço inicial (sala de arte), com o desenvolvimento dos


processos arteterapêuticos, “B” foi orientada a emanar pensamentos positivos,
para seu suporte (cipó), focando a energia psíquica em sua espiritualidade. Em
seguida iniciava-se com a criação da teia, a partir da escolha da cor do
barbante encerrado.

ACAT – Av. Brasil, 333 Edifício Delta, apto. 503 – Balneário Camboriu/SC
acatarteterapia.blogspot.com.br
158

O princípio espiritual, a rigor, não colide com instinto, mas com a


instintividade entendida como uma superioridade injustificada da natureza
instintiva em relação ao espiritual. (JUNG, 2012, p. 72).

No primeiro processo arteterapêutico “B” escolheu a cor preta, e com


muita rapidez, sem desejo de escolher qualquer outra ali oferecida. Portanto
para Chevalier e Gheerbrant (1982, p. 743), “o preto, como cor indicativa da
melancolia, do pessimismo, da aflição, ou da infidelidade”.

Até finalizar sua teia, sua respiração ficou ofegante, não conseguindo
manusear os materiais com tranquilidade e permanecendo calada durante o
processo de confecção. Teceu sem sincronia, amarrando de uma forma
irregular no arco de cipó. Já na aplicação das penas demonstrou mais
satisfação com um sorriso no rosto, e logo escolheu as penas na cor azul, que
para Chevalier e Gheerbrant (1982, p. 107), “o azul é o caminho do infinito,
onde o real se transforma em imaginário”. Organizando em quatro elementos
com miçangas da mesma cor.

O sistema do pensamento junguiano está fundado sobre a importância


fundamental que ele reconhece no número quatro, a quaternidade
representando para ele o fundamento arquetípico da psique humana, isto
é, a totalidade dos processos psíquicos consciente e inconsciente (JACC e
JUNT apud CHEVALIER e GHEERBRANT, 1982, p. 762).

A arteterapeuta, por meio do método maiêutico socrático, deu início ao


processo de elaboração com “B” referente à sua criação no processo
arteterapêutico. Com o seguinte pedido: Nomeie os quatro elementos (penas).
E “B” responde: meu pai, minha mãe, eu e minha irmã. Visto na figura 01, em
ordem da direita pra esquerda.

Que por seguinte, a arteterapeuta pergunta: A cor que você escolheu lhe
remete a que? E B responde: as penas com o animal pavão, que encanta com
sua cor, movimento e sedução. E não percebo mais isso na relação de meus
pais. Contudo para Chevalier e Gheerbrant (1982, p. 693), “símbolo da beleza

ACAT – Av. Brasil, 333 Edifício Delta, apto. 503 – Balneário Camboriu/SC
acatarteterapia.blogspot.com.br
159

e do poder de transmutação, pois a beleza de sua plumagem”; assim


aprofundando na conversa, percebe como é uma pessoa ciumenta em sua
relação amorosa, comparando com a dos seus pais.

Algo muito presente na reação de B, enquanto o dialogo percorre nas


vivências dos pais, é de apertar suas mãos e passa-las nas pernas, com uma
frequência significativa. E antes de cada resposta, vem o dizer: “Não sei... e
sorrisos”. O falar de sua vida “B”, resiste e é sutil nas palavras durante a
maiêutica socrática, porém importante para prosseguir ao fechamento e
significação do processo arteterapêutico.

A mão exprime as ideias de atividade, ao mesmo tempo que as do poder e


de dominação [...] A mão é as vezes comparada como olho [...] As mãos
do homem estão do mesmo modo legados ao conhecimento, à visão, pois
elas têm como fim de linguagem (CHEVALIER e GHEERBRANT apud
OSTROSKI e TOMMASI, 2011, p. 231).

Assim o fechamento se deu com “B” deitando no colchonete, e com


respiração profunda e corpo relaxado, sua imaginação ativa foi criar um
encontro com sua mãe e vivenciar o perdão através de palavras uma para a
outra. Conforme acontecia “B” adormeceu, passando do tempo programado. E
ao acordar, rapidamente levanta, e agradece com um abraço e sorriso no rosto.
Dizendo: Estou em paz.

ACAT – Av. Brasil, 333 Edifício Delta, apto. 503 – Balneário Camboriu/SC
acatarteterapia.blogspot.com.br
160

Filtro dos Sonhos – Pavão

Na segunda confecção do filtro dos sonhos, ou seja, no último processo


arteterapêutico, “B” com tranquilidade nos movimentos, inicia tecendo sua teia
na cor branca, e com agilidade e paciência vai até o centro (ponto). Que
segundo Becker “Sobretudo na meditação, o ponto pode ser um símbolo de
centro da coincidência da todas as realidades, de todas as potencialidades ou
de ambas. Geralmente é representado como ponto central de um círculo”
(BECKER, 1999, p. 223).

Em seguida, aplicou cinco elementos de penas nas cores roxa e lilás,


com miçangas de detalhes. Onde dois são violetas e três lilases.

A cor roxa (ou púrpura) está ligada ao mundo místico e significa


espiritualidade, magia e mistério. O roxo transmite a sensação de tristeza e
introspecção. Estimula o contato com o lado espiritual, proporcionando a
purificação do corpo e da mente, e a libertação de medos e outras
inquietações. É a cor da transformação18.

18 http://www.significados.com.br/cor-roxa/

ACAT – Av. Brasil, 333 Edifício Delta, apto. 503 – Balneário Camboriu/SC
acatarteterapia.blogspot.com.br
161

Durante o método maiêutico socrático, “B” relaciona os cinco elementos


com sua família e namorado. Representa seus pais assim como as penas
roxas, que está entre as demais, reforçando em sua fala, [SIC] Eles estão ali,
pois nos cuidam e protegem. Conforme Chevalier e Gheerbrant (1982, p. 678),
“o papel paternal [...] ele represente a consciência diante dos impulsos
instintivos, dos desejos espontâneos, do inconsciente; é o mundo da
autoridade tradicional diante das forças novas de mudança”.

E quando se remete aos demais elementos (penas lilás), coloca em sua


fala a relação que tem com sua irmã mais nova e seu namorado.
Demonstrando carinho e afeto pelos dois, sorrindo e tendo uma expressão
facial mais meiga. E fala: [SIC] Hoje sei que tenho que ter mais paciência com
minha irmã, dando mais atenção e menos briga. [SIC] Agora com meu
namorado tenho que me comportar com mais segurança, para não ter ataques
de ciúmes, como minha mãe com meu pai.

Conforme os minutos se passavam, “B” se mantinha tranquila,


equilibrada nos seus sentidos, com uma energia positiva, e percorrendo o
espaço calmamente e transmitindo alegria através dos seus sorrisos,
principalmente ao manusear seu filtro. Dizendo diversas vezes: [SIC] Eu
consegui ir até o fim, fiz direitinho e ficou bonito mesmo. Assim a arteterapeuta
pergunta: Você acredita que as sessões de Arteterapia, que auxiliaram para
obter equilíbrio e harmonia na sua vida? E responde: [SIC] que em pouco
tempo a Arteterapia transformou meu jeito de ver as coisas, ficando mais
tranquila e equilibrada. Para Tommasi (2011, p. 141), “o processo
arteterapêutico dinamiza e coloca em movimento a história de vida do
individuo, revela seus conflitos mais íntimos e profundos, conectando-o às
experiências coletivas da humanidade”.

Assim o fechamento se deu com “B” deitando no colchonete, com


respiração profunda e corpo relaxado, foi convidada a fazer pensamentos
positivos e agradecimentos pessoais. O término foi com abraço e
agradecimento para a arteterapeuta.

ACAT – Av. Brasil, 333 Edifício Delta, apto. 503 – Balneário Camboriu/SC
acatarteterapia.blogspot.com.br
162

Considerações finais:
A Arteterapia como promotora do desenvolvimento do ser humano como
um todo possibilita a este se expressar de forma livre, facilitando a melhor
compreensão de si e uma maior interação com o outro e com o meio que o
circunda. A Arteterapia é um instrumento terapêutico não verbal que utiliza
recursos expressivos nos quais o homem, por meio de suas produções, entra
em contato com o seu mundo interior. O processo arteterapêutico, impulsiona o
estudante a seguir suas vivências escolares, com mais equilíbrio, harmonia e
respeito para si e com os outros, favorecendo a aprendizagem e as relações
que ali constrói. Ele adquire um novo modo de ver a vida que vai além do olhar
externo e passa por um olhar interno e curativo, responsável por liberar
energias estagnadas, paradas.
Portanto a partir desse artigo, podemos perceber como a Arteterapia
traz para dentro do sistema de ensino, facilidades na transmissão e aquisição
de conhecimento, dando suporte emocional para o educando. Tornando um ser
consciente e preparado para seguir com suas novas expectativas mediante o
seu processo criativo. A experiência visual é dinâmica. Perceber o mundo não
é apenas um arranjo de objetos, cores e formas, movimentos e tamanhos, é
antes de tudo, uma interação de tensões dirigidas.

Estas tensões não constituem algo que o observador acrescente, por


razões próprias, a imagens estáticas. Antes, estas tensões são inerentes a
qualquer percepção como tamanho, configuração, localização ou cor. Uma
vez que as tensões possuem magnitude e direção pode-se descrevê-las
como forças psicológicas (ARNHEIM, 1997, p. 4).

O processo de elaboração do filtro dos sonhos, mandala, segundo


Eliade (1996, p. 50), “pode ser ao mesmo tempo ou sucessivamente, o suporte
de um ritual concreto, ou de uma concentração espiritual, ou ainda de uma
técnica de fisiologia mística”.

ACAT – Av. Brasil, 333 Edifício Delta, apto. 503 – Balneário Camboriu/SC
acatarteterapia.blogspot.com.br
163

Filtro dos Sonhos – Família

Referências:

ARNHEIM, R. Arte e percepção visual. São Paulo: Pioneira, 1997.

ANDRADE, Liomar Quinto. Terapias expressivas. São Paulo: Vetor, 2000.

BELLO, Susan. Pintando sua alma: métodos para desenvolver a


personalidade criativa. Brasília: Universidade de Brasília, 1998.

CHEVALIER, Jean e GHEERBRANT, Alain. Dicionário de Símbolos. Rio de


Janeiro: José Olympio. 1982.

BECKER, Udo. Dicionário de símbolos. São Paulo: Paulus, 1999.

ELIADE, M. Imagens e símbolos. São Paulo: Martins Fontes, 1996.

JUNG C. G. Estudos Alquímicos – v. 13. Petrópolis: Vozes, 1961.

______. Psicologia e Alquimia – v. 12. Petrópolis: Vozes, 1992.

______. Psicologia da Inconsciente. Petrópolis: ed. Vozes 1961.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia. São Paulo: Paz e Terra, 1996.

______. Educação e Mudança. São Paulo: Paz e Terra, 2011.

ACAT – Av. Brasil, 333 Edifício Delta, apto. 503 – Balneário Camboriu/SC
acatarteterapia.blogspot.com.br
164

MERLEAU-PONTY, M. Fenomenologia da Percepção. São Paulo, Martins


Fontes, 1999.

PAÍN, Sara. Os fundamentos da arteterapia. Petrópolis: Vozes, 2009.

TOMMASI, Sonia. Arteterapeuta: um cuidador da psique. São Paulo: Vetor,


2011.

______. Pensando a Arteterapia com Arte, Ciência e Espiritualidade. São


Paulo: Vetor, 2012.

TOMMASI S. B. e MINUZZO L. Origami em Educação e Arteterapia. São


Paulo: Paulinas, 2010.

Referências internet:
http://www.infoescola.com/filosofia/maieutica/
www.ubaat.org, acessado 25/01/2014.
http://www.xamanismo.com.br/Poder/SubPoder1191052936It009, acessado 26/01/2014.
http://www.airuma.com.br/2011/06/simbologia-de-cada-elemento-que-
compoe.html, acessado 26/01/2014.
http://www.significados.com.br/cor-roxa/ acessado 28/01/2014.
http://www.significadodascores.com.br/significado-do-lilas.php acessado 28/01/2014.
http://www.floraisdaamazonia.com.br/pt/?page_id=643

ACAT – Av. Brasil, 333 Edifício Delta, apto. 503 – Balneário Camboriu/SC
acatarteterapia.blogspot.com.br
165

A geometria sagrada e as mandalas

Adriana Vitor Porto19

Resumo:
A busca pela origem da vida e do estabelecimento de uma unidade com o
divino existe nas mais diversas culturas e tempos da história humana. A ciência
busca explicações e evidências enquanto a religião se concentra no
estabelecimento desse contato. Antigamente, ciência, religião e magia
caminhavam juntas no estudo e culto da harmonia entre o macro e o
microcosmo, conhecida como geometria sagrada e que analisa as construções
humanas e formas da natureza, encontrando uma intrigante harmonia entre
todas elas, independentemente do tempo e lugar em que surgiram ou foram
descobertas. De acordo com os estudos de Jung e seus colaboradores, a
reprodução de mandalas pelos indivíduos é uma atividade de grande auxílio na
reestruturação psíquica, uma vez que traz à consciência imagens da Geometria
Sagrada existentes no inconsciente coletivo. A oficina “a geometria sagrada
das mandalas” traz para a VI Jornada de Arteterapia da ACAT alguns
elementos referentes ao estudo da geometria sagrada e propõe a execução de
mandalas por meio do recorte e colagem, explorando alguns potenciais
resultados dessa atividade na prática da Arteterapia.

Palavras-chave: geometria sagrada; mandalas; Arteterapia.

19
Arteterapeuta - AATESP 278/0414 e Psicóloga CRP 08/19355. Multiartista com destaque
em música, mosaicos, teatro e Dot Art. Realizou projetos de humanização e saúde mental em
hospitais públicos no Amapá. Integrou a Cia. Piracuca de Teatro Experimental. Possui
experiência clínica no atendimento psicoterapêutico (de orientação junguiana) e arteterapêutico
em consultório/ateliê próprio, bem como na docência do Ensino Superior (graduação e
especialização). E-mail: adrivporto@hotmail.com.

ACAT – Av. Brasil, 333 Edifício Delta, apto. 503 – Balneário Camboriu/SC
acatarteterapia.blogspot.com.br
166

Introdução:
A busca do sentido da existência é um continuum na história da
humanidade. Ainda que aspectos culturais determinassem mudanças nos
métodos de pesquisa e especulação, esta sempre foi uma das preocupações
centrais de todo o intelecto. Busca-se a razão, e, além dela, uma conexão
maior com o funcionamento de toda a vida no universo.
Numa inegável relação existente entre as formas e o funcionamento do
macro e o microcosmo, baseia-se uma antiga ciência denominada Geometria
Sagrada, que difere daquela disciplina que hoje conhecemos como Geometria
e que nos é ensinada nos bancos escolares. Nas religiões primitivas, os
conhecimentos da Geometria Sagrada extrapolavam os meros cálculos em
números racionais, passando por conhecimentos holísticos de todo o universo
e seu funcionamento em uma visão complexa e indistinta.

Pelo fato de as complexidades e as verdades abstratas expressas pela


forma geométrica só poderem ser explicadas como reflexos das verdades
mais íntimas da substância do mundo, elas eram consideradas como
mistérios sagrados da ordem mais elevada e eram ocultadas dos olhos
profanos. Um conhecimento especial era exigido para se desenhar tais
figuras e a sua importância mística era ignorada pelas massas sem
instrução. Os conceitos complexos eram transmitidos de um iniciado a
outro por meio de símbolos geométricos individuais, ou combinações
deles, sem que o ignorante nem ao menos suspeitasse de que estava
ocorrendo uma comunicação. Como o sistema moderno de símbolos
secretos empregado pelos ciganos, eles deveriam constituir-se em
enigmas embaraçosos ao curioso (PENNICK, 1980, p. 9).

Este fato se dava pela consciência do perigo da banalização dos


conhecimentos — então sagrados — dos mistérios do funcionamento do
universo. Havia nos ensinamentos dados aos iniciados uma longa jornada de
provações éticas e morais antes que os mesmos tivessem acesso ao saber.
A redução da geometria a uma disciplina meramente explicável por
números e proporções deu-se a partir do Século XVII, momento este em que a
Europa passava por uma necessidade da criação de uma ciência afastada dos
dogmas religiosos. Dessa forma, a ciência passou a distanciar-se de todo o

ACAT – Av. Brasil, 333 Edifício Delta, apto. 503 – Balneário Camboriu/SC
acatarteterapia.blogspot.com.br
167

conhecimento metafísico que se havia até então acumulado ao longo da


história da humanidade.
Atualmente é possível observar um movimento de retorno que promove
a saudável reaproximação entre a ciência e a metafísica. Um exemplo disso
está no fato da medicina recomeçar, ainda que timidamente, a beber na fonte
dos conhecimentos milenares do Oriente (acupuntura, reflexologia, shiatsu etc.)
e abrir espaço para os antigos conhecimentos dos raizeiros das florestas
(fitoterapia).
Passada a necessidade de um racionalismo exacerbado, que por sua
vez havia sido motivado por um período anterior de excessos cometidos pelas
doutrinas religiosas, a humanidade volta a buscar o caminho do meio, do
equilíbrio e da visão holística do universo, como todo inseparável que é. Nesse
movimento, retornamos ao estudo da Geometria Sagrada, entendendo que há
um longo caminho de observações e descobertas para que possamos alcançar
esses conhecimentos tão abrangentes.

Geometria sagrada:
Dalhke (2007) nos lembra que toda a forma se inicia em um ponto e
passa por várias formas mandálicas: células, átomos, estruturas cristais
minerais, nebulosas, o sistema solar etc. Embora nossos olhos não possam
identificar aquelas que são grandes ou pequenas demais em relação ao nosso
tamanho, ainda assim podemos sentir a presença dessas formas e, ainda que
inconscientemente, nos entendermos enquanto partes desse todo harmônico.
O autor afirma ainda que toda a atividade meditativa tem como objetivo a
vivência do centro do indivíduo, de modo que meditar significa “girar em torno
do nosso próprio centro” para o qual o mandala nos remete quando nos
concentramos na sua produção ou mesmo em uma contemplação mais detida.
Nesse mesmo sentido, Pennick (1980, p. 2-3) afirma que a geometria
está em tudo o que existe, seja na natureza ou na criação humana (que imita a
primeira), e que esta ciência começou a ser explorada pelo ser humano em um
tempo em que não havia distinção entre magia, ciência e religião, integrando o

ACAT – Av. Brasil, 333 Edifício Delta, apto. 503 – Balneário Camboriu/SC
acatarteterapia.blogspot.com.br
168

repertório de atuação dos sacerdotes e sacerdotisas, que tinham o dom de


interpretar oráculos e ler mensagens contidas no vento, nas formas da
natureza, tempestades e outras manifestações da “energia do universo”. Sob a
orientação dessas pessoas e do fruto de suas referidas interpretações também
foram construídos templos e outras edificações que resistem até os dias atuais.
Ao resultado dessa orientação, bem como às suas fontes, dá-se o nome de
geometria sagrada. Esta envolve

não só as proporções das figuras geométricas obtidas segundo a maneira


clássica, com o uso de régua e compassos, mas também as relações
harmônicas das partes de um ser humano com outro; à estrutura das
plantas e dos animais; as formas dos cristais e dos objetos naturais e tudo
aquilo que for manifestação do continuum universal. (PENNICK, 1980, p.
2-3).

Toda e qualquer forma observável possui um significado simbólico, que


ecoa no inconsciente de cada indivíduo, bem como no inconsciente coletivo.
Assim, tudo o que é pensado e materializado pelo ser humano traz uma carga
simbólica constituindo-se em “veículo para as ideias e as concepções
corporificadas em sua geometria. Através dos tempos, as geometrias
simbólicas complexas agiram como base para a arquitetura sagrada e profana,
variando a geometria de acordo com a função” (PENNICK, 1980, p. 10).

O círculo:
O círculo a ideia da continuação e do mundo contido em si mesmo, da
união do princípio e do fim, representando assim, o complemento e a
totalidade. É certamente um dos símbolos mais observados nas construções
humanas, sobretudo as primitivas e de templos.
A linha fechada em si mesma apresenta um espaço de contenção e
segurança. Em muitas culturas primitivas os sacerdotes traçam círculos no
chão para realizar seus rituais de proteção e cura.

ACAT – Av. Brasil, 333 Edifício Delta, apto. 503 – Balneário Camboriu/SC
acatarteterapia.blogspot.com.br
169

Os tibetanos utilizam-se de formas circulares para auxiliar na


meditação, uma vez que essas formas restringem seu campo de visão até o
centro — concentração (JUNG, 2008).

O quadrado:
O quadrado representa a estabilidade do mundo. É uma figura peculiar,
pois pode ser dividida em quatro partes iguais, sendo dividida em quatro partes
infinitamente. Seu centro é facilmente encontrado unindo-se suas pontas.
Observa-se nas pirâmides do Egito que o quadrado orientado para os quatro
pontos cardeais pode ser novamente dividido em diagonais, resultando em oito
triângulos. “Essas oito linhas, partindo do centro, formam os eixos que indicam
as quatro direções cardeais e os ‘quatro cantos do mundo’, ou, a divisão
óctupla do espaço” (PENNICK, 1980, p. 16).

O hexágono:
Esta figura é produzida por meio da demarcação dos seis raios de uma
circunferência, que produzem seis lados iguais. É observada em diversas
formas da natureza, como por exemplo, nos favos das abelhas, cascos de
tartarugas, algas marinhas, nas colunas basálticas da Irlanda e em teias de
muitas espécies de aranha. Ocorre inclusive na estrutura formada na difusão
de líquidos e em muitas estruturas moleculares.
A união de seus lados com o centro produz seis triângulos equiláteros
que se interpenetram representando os opostos complementares (quente/frio,
feminino/masculino, água/fogo etc.) e sendo símbolo do poder divino no
judaísmo até os dias atuais.

A rosácea:
Este símbolo está presente nas catedrais góticas e constitui-se com
base na “chave de doze”, que traz a representação dos signos zodiacais, fato
curioso, uma vez que as doutrinas católicas são avessas à utilização da
astrologia, não reconhecendo a mesma como ciência e punindo com

ACAT – Av. Brasil, 333 Edifício Delta, apto. 503 – Balneário Camboriu/SC
acatarteterapia.blogspot.com.br
170

veemência todo aquele que fosse apanhado tratando desse tema durante o
período da Inquisição na Europa e suas colônias. Como já foi dito
anteriormente, alguns dos conhecimentos da Geometria Sagrada, que antes
eram detidos pelos mestres iniciados, passaram a ser guardados pela Igreja
Católica durante o período da Idade Média, e grande parte desse legado
encontra-se ainda escondido nas áreas proibidas da Biblioteca do Vaticano. É
possível que tais construções tenham se baseado nesses preceitos, mas as
verdadeiras razões jamais foram devidamente esclarecidas. O fato é que a
visão dessas rosáceas sempre impressiona e mobiliza a emoção do
observador.
A rosácea representa a explosão que deu origem ao nascimento do
mundo, dando a ideia da luz desfeita em cores e solidificada nas bordas, e traz,
ao mesmo tempo, um retorno à criação, reunindo-a em um ponto central, como
se pode observar na Catedral de Chartres, na França (DAHLKE, 2007, p. 106).

A espiral:
A espiral pode ser encontrada em diversas estruturas vegetais e
animais, bem como em símbolos de diferentes culturas nas quais traz uma
infinidade de significados. Chevalier e Gheerbrant (1994, p. 303) informam que
essa forma “evoca a evolução de uma força ou estado”. Os mencionados
autores afirmam também que a espiral helicoidal está ligada à ideia do labirinto,
ou da

Evolução a partir do centro, ou involução, regresso ao centro. A espiral


dupla simboliza simultaneamente os dois sentidos deste movimento, o
nascimento e a morte, kalpa e pralaya, ou a morte iniciática e o
renascimento num ser transformado. Indica a ação em sentido inverso da
mesma força em torno dos dois pólos, nas duas metades do Ovo do
Mundo.

Esta forma traz ainda a ideia do movimento constante, da dinâmica ou


movimento cíclico da vida; do equilíbrio e desequilíbrio; e da “ordem do ser no
centro da mudança” (CHEVALIER & GHEERBRANT, 1994, p. 303).

ACAT – Av. Brasil, 333 Edifício Delta, apto. 503 – Balneário Camboriu/SC
acatarteterapia.blogspot.com.br
171

De acordo com Tahan (1972, p. 60-64), a espiral representa a curva da


vida e “apresenta uma propriedade notável: cresce, conservando-se
semelhante a si própria, e exprime desse modo, o crescimento harmonioso.”

As mandalas:
Ao longo de seus estudos, Jung observou que os desenhos de seus
pacientes continham certos padrões geométricos e símbolos que
correspondiam a mitos e símbolos já ocorridos nos desenhos de civilizações
primitivas e de populações geográfica e temporalmente distantes deles.
Entendeu tais desenhos como manifestações do inconsciente coletivo, uma
espécie de “memória anímica da espécie humana”.
De acordo com Jung & Wilhelm (2007, p.38), o processo de
desenvolvimento psicológico se exprime por meio de imagens simbólicas, e
quando as “fantasias originadoras” destas são desenhadas, geralmente surgem
símbolos pertencentes ao tipo do mandala. A mandala, por sua vez, significa
círculo mágico, que parte de um centro representativo do eu.
O símbolo mandálico é meio de expressão e de atuação, uma vez que
atua sobre o próprio autor. Este busca traçar uma área de proteção ao redor do
centro, que consiste no temenos ou área sagrada, onde encontra-se os
elementos da personalidade mais íntima, evitando o vazamento destes, o que
seria insuportável à sua consciência e, consequentemente, consistiria em grave
ameaça à sua saúde psíquica. Dessa forma, os rituais e “práticas mágicas”
consistem em uma “espécie de encantamento da própria personalidade, isto é,
um refluxo da atenção apoiada e mediada por um grafismo” e não são meras
projeções de acontecimentos anímicos (JUNG e WILHELM, 2007, p. 40-41).
O temenos, termo amplamente utilizado por Jung em seus escritos,
consistia no cálice alquímico, onde os antigos alquimistas realizavam as
transformações dos elementos. Este estava sempre em um lugar seguro e livre
de qualquer influência externa que pudesse alterar os procedimentos ali
realizados, como um local sagrado e preservado de interferências nocivas.

ACAT – Av. Brasil, 333 Edifício Delta, apto. 503 – Balneário Camboriu/SC
acatarteterapia.blogspot.com.br
172

A mandala representa um círculo de proteção psíquica no qual


elementos simbólicos podem ser seguramente expressados, auxiliando o
sujeito na reestruturação de seu ego ferido. Dentro desse círculo mágico
podem ser expressados os conteúdos inconscientes de forma segura por meio
de símbolos, ainda que desconhecidos pela consciência do autor. Ainda que
não se faça qualquer tentativa de interpretação daquilo que se produziu na
mandala, sua execução em si já traz o caráter reestruturador e terapêutico.
De acordo com Jung (2008, p.381), as mandalas levam ao
“estabelecimento da ordem interior” e tendem a surgir após a ocorrência de
“estados caóticos, desordenados, conflitivos ligados ao medo”, expressando a
ideia de “refúgio seguro, da reconciliação interior e da totalidade”.

Considerações finais:
O trabalho com elementos da Geometria Sagrada por meio da
confecção de mandalas na Arteterapia proporciona um rico contato do
indivíduo com o mundo arquetípico, auxiliando-o efetivamente em seu processo
de desenvolvimento psíquico, bem como na solução de conflitos, uma vez que
o inconsciente só encontra manifestação por meio da expressão de símbolos, e
ainda que o indivíduo não saiba traduzi-los, sua manifestação exerce um efeito
reestruturante sobre a psique.
A preocupação dos povos primitivos em manter ocultos os
conhecimentos da Geometria Sagrada são válidos se analisarmos o ponto de
vista ético que os justificava. No entanto, deve-se considerar que
posteriormente, quando as religiões passaram a ser exercidas como sinônimo
de poder e dominação, esses conhecimentos ficaram em poder dos
opressores. Atualmente, uma parte desses saberes que chegou até os nossos
dias são utilizados na Publicidade, que é um evidente instrumento de
manipulação do comportamento das massas.
Assim sendo, para que as preciosas relações da Geometria Sagrada
possam voltar a agir em benefício da humanidade, é preciso que sejam divulgadas
e que cada um seja livre para fazer a escolha de melhor compreender o universo

ACAT – Av. Brasil, 333 Edifício Delta, apto. 503 – Balneário Camboriu/SC
acatarteterapia.blogspot.com.br
173

ao seu redor e libertar-se das manipulações midiáticas em busca do seu caminho


de iluminação e sua saúde psíquica, o que certamente proporcionará uma grande
contribuição para a evolução da humanidade como um todo.

Referências:
CHEVALIER, Jean; GHEERBRANT, Alain. Dicionário de símbolos: mitos,
sonhos, costumes, gestos, formas, figuras, cores e números. Lisboa: Teorema,
1994.

CHIESA, Regina Fiorezzi. Mandalas: Construindo caminhos - um processo


arteterapêutico. Rio de Janeiro: WAK, 2012.

DAHLKE, Rüdiger. Mandalas: formas que representam a harmonia do cosmos


e a energia divina. São Paulo: Pensamento, 2007.

JUNG, C. G.; WILHELM, R. O segredo da flor de ouro: um livro de vida


chinês. 12. ed. Petrópolis: Vozes, 2007.

JUNG, Carl Gustav. Os arquétipos e o inconsciente coletivo. 6. ed. Rio de


Janeiro: Vozes, 2008.

LAWLOR, Robert. Geometria sagrada: filosofia e prática. Lisboa: Del Prado,


1996.

PENNICK, Nigel. Geometria sagrada: simbolismo e intenção nas estruturas


religiosas. São Paulo: Pensamento, 1980.

PORTO, Mary. O ciclo das mandalas: uma metamorfose em sete passos. São
Paulo: Antroposófica, 2009.

TAHAN, Malba. As maravilhas da Matemática. Rio de Janeiro: Bloch, 1972.

ACAT – Av. Brasil, 333 Edifício Delta, apto. 503 – Balneário Camboriu/SC
acatarteterapia.blogspot.com.br
174

PÔSTER

ACAT – Av. Brasil, 333 Edifício Delta, apto. 503 – Balneário Camboriu/SC
acatarteterapia.blogspot.com.br
175

Estágio de Arteterapia linguagem sonora em instituição para tratamento


de dependentes químicos na cidade de Ponta Grossa

Gilmar Alfredo Ribas20

Palavras-chaves: arteterapia; linguagem sonora; dependentes químicos.

O objetivo geral deste trabalho é apresentar os resultados de estágio do curso


de especialização em Arteterapia, Oficina de Linguagem Sonora do
CENSUPEG que está sendo realizado em instituição destinada a tratamento de
dependentes químicos, na cidade de Ponta Grossa, e visa traduzir a escuta de
música de vários ritmos da linguagem sonora para a linguagem gráfica
(desenho). Procuraremos ser sensível às pessoas neste ambiente, para em
conjunto com estes, interpretar as suas imagens e conflitos do seu inconsciente
trazidas para o consciente no ambiente terapêutico, através das suas
produções artísticas e da fala, procuraremos através da Arteterapia auxiliar a
superar as dores e sofrimentos psíquicos e desenvolver a autoestima, a
criatividade e transformar valores sociais, morais e afetivos destas pessoas.
Arteterapia é uma estratégia de intervenção terapêutica que visa promover
qualidade de vida ao ser humano por meio da utilização dos recursos artísticos
advindos principalmente das artes visuais, mas com abertura para um diálogo
com outras linguagens artísticas, tais como: linguagem sonora, corporal,
escrita, utilizando técnicas de modelagem; colagem; desenho; tecelagem e
criação de personagens. Visa estimular o crescimento interior, ampliar a
consciência do indivíduo sobre si e sobre sua existência e viabiliza a
elaboração de conflitos e angústias, visto que permitem aos pacientes dar
forma às emoções tumultuosas, mobilizando forças auto curativas rumo à
consciência. A Arteterapia trabalha com materiais concretos e projeta os
conflitos sobre o material artístico, permitindo a elaboração destes conflitos. O
método aplicado é Arteterapia com audição sonoro-musical e expressão gráfica
seguido de momento para compartilhar as expressões gráficas produzidas
entre os participantes, direcionando a atenção a possíveis semelhanças e
diferenças entre eles, assim como suas impressões sobre o processo. Até o
momento nas primeiras quatro oficinas constatamos que todos participantes
gostaram da técnica de Arteterapia que foi apresentada. O local que foi
utilizado, um refeitório com mesas amplas e com sistema de som, facilitou o
desenvolvimento da atividade. Os participantes expressaram sentimentos
provocados pela música e a dinâmica de Arteterapia e de uma maneira em

20 gilmar.ribas@uol.com.br

ACAT – Av. Brasil, 333 Edifício Delta, apto. 503 – Balneário Camboriu/SC
acatarteterapia.blogspot.com.br
176

geral querem voltar a conviver com suas famílias, estudar, ter emprego, se
libertar das drogas, viajar. Um dos internos falou que está se conhecendo
melhor e constatou que a beleza da vida está nas pequenas coisas, como a
natureza, as árvores, o sol e que ele não dava valor para estas coisas e agora
ele entende como elas são importantes. Alguns lembraram de filhos e de bons
momentos junto a natureza. Também representaram as mãos e/ou olhos de
Deus, iluminando as pessoas e libertando-as das drogas. As drogas foram
representadas por um coração apunhalado. Acreditamos que estamos
ajudando as pessoas a se conhecerem melhor, a se emocionarem, a lembrar
de bons momentos com suas famílias, com uma visão otimista do futuro e
libertando-se das drogas.

ACAT – Av. Brasil, 333 Edifício Delta, apto. 503 – Balneário Camboriu/SC
acatarteterapia.blogspot.com.br
177

IV MOSTRA DE ARTETERAPIA:
ARTETERAPEUTA E SUA ARTE

ACAT – Av. Brasil, 333 Edifício Delta, apto. 503 – Balneário Camboriu/SC
acatarteterapia.blogspot.com.br
178

A lenda do tsuru

Márcia Regina do Nascimento21

Em meio ao desastre da bomba atômica sofrida pelas cidades de


Hiroshima e Nagasaki, há 68 anos, surgiu a lenda mais bela da história do
Japão: o Tsuru.
Sadako Sasaki, uma menina de dois anos de idade vivia distante do
epicentro onde a bomba fora lançada, saindo ilesa ao ataque. Porém, durante a
fuga foi contaminada pela chuva radioativa que caiu sobre Hiroshima, tornando
a menina de dois anos vítima da bomba atômica.
Ao término da guerra, Sadako voltou para Hiroshima e, aparentemente,
era uma garota saudável, até completar doze anos de idade. No ano de 1955,
Sadako sentiu-se mal, com tonturas, dias depois os sintomas tornaram a
aparecer, porém dessa vez o mal estar fez com que ela caísse ao chão sem
sentidos. A garota foi levada ao hospital e mais tarde começaram a surgir
marcas escuras em seu corpo e o diagnóstico foi de leucemia, doença que
estava matando outras crianças exposta à bomba.
No hospital, no dia 3 de agosto de 1955, Sadako recebeu a visita de
sua melhor amiga, Chizuko Hamamoto, a qual fez para ela uma dobradura, o
Tsuru. Sua amiga lhe contou a lenda que diz que quem fizer mil Tsurus tem o
direito de ter um pedido atendido pelos deuses. Desde então, todos os dias
Sadako passou a fazer seus Tsurus com o desejo de se curar e poder viver
normalmente. Sadako pediu também pela paz da humanidade visto que sua
doença fora causada pela bomba.
Sadako chegou a 646 Tsurus e não resistindo a dor veio a falecer no
dia 25 de outubro de 1955, o que fez com que seus amigos fizessem o restante

21 Formada em Pedagogia pelo Instituto Superior de Educação Nossa Senhora de Sion –


Curitiba - PR. Especialista em Arteterapia pela Faculdade Itecne de Cascavel. Acadêmica do
Curso de pós-graduação em Direito Educacional pela Faculdade Itecne de Cascavel – Curitiba
- PR. Atuando na Educação Infantil na prefeitura municipal de Curitiba, em oficinas de Origami
para grupos, escolas, professores, crianças e em lar de idosos. Autora de blogs voltados à arte
do Origami, artes em geral e tecnologias educacionais.

ACAT – Av. Brasil, 333 Edifício Delta, apto. 503 – Balneário Camboriu/SC
acatarteterapia.blogspot.com.br
179

dos Tsurus, os 354 que faltavam para completar os mil. Para homenageá-la,
seus amigos ergueram um monumento no Parque da Paz em Hiroshima, e nele
gravaram essas palavras: “Este é o nosso grito, esta é a nossa oração. Paz na
terra”.
O monumento das Crianças da Paz foi erguido em 1958 e é também
conhecido como Torre dos Tsurus. No topo do pedestal de granito, se encontra
uma menina com os braços estendidos segurando um Tsuru, dentro do
pedestal, há um espaço para os milhares de Tsurus enviados por pessoas de
todas as partes do mundo. Ao conjunto dos mil Tsurus se dá o nome de
Zenbazuru.
O Tsuru, ave migradora é também conhecido como grou, garça real ou
cegonha. “Ave nativa, considerada ave sagrada do Japão, com plumagem alva,
que tem em suas extremidades um tom avermelhado” (TOMMASI e MINUZZO,
2010, 34) ave dotada de inigualável encanto.
Símbolo da paz, boa sorte, da saúde, da prosperidade e da felicidade.
No Japão é conhecido como símbolo da imortalidade, pois essa ave consegue
viver até mil anos. Considerado na Ásia como a ave mais velha do planeta.
“Eram os pássaros companheiros dos eremitas que faziam meditação nas
montanhas, os quais acreditavam que essa ave possuía poderes sobrenaturais
para não envelhecer. A ela atribuíam a simbologia da mocidade eterna e da
felicidade” (TOMMASI e MINUZZO, 2010, 34).
A arte do Origami se inspirou nessa ave e por isso o Tsuru é
considerado o símbolo do Origami. Os japoneses acreditam que quem fizer mil
Tsurus e a cada um fizer um pedido, seu desejo será alcançado. Quando se
oferece um Tsuru de presente está se desejando a essa pessoa, paz, saúde e
prosperidade, desta forma no Japão, há o costume de se presentear as
pessoas com o Tsuru em festas como de aniversário e de casamento.

Referências:
TOMMASI, S.B; MINUZZO, L. Origami em Educação e Arteterapia. São
Paulo: Paulinas, 2010.

ACAT – Av. Brasil, 333 Edifício Delta, apto. 503 – Balneário Camboriu/SC
acatarteterapia.blogspot.com.br
180

ACAT – Av. Brasil, 333 Edifício Delta, apto. 503 – Balneário Camboriu/SC
acatarteterapia.blogspot.com.br
181

Contos que encanta


A menina e o pássaro encantado de Ruben Alves

Mair Soares

Era uma vez uma menina que tinha um pássaro como seu melhor
amigo.
Ele era um pássaro diferente de todos os demais: era encantado.
Os pássaros comuns, se a porta da gaiola ficar aberta, vão-se embora para
nunca mais voltar. Mas o pássaro da menina voava livre e vinha quando sentia
saudades… As suas penas também eram diferentes. Mudavam de cor. Eram
sempre pintadas pelas cores dos lugares estranhos e longínquos por onde
voava.
Certa vez voltou totalmente branco, cauda enorme de plumas fofas
como o algodão…
— Menina, eu venho das montanhas frias e cobertas de neve, tudo
maravilhosamente branco e puro, brilhando sob a luz da lua, nada se ouvindo a
não ser o barulho do vento que faz estalar o gelo que cobre os galhos das
árvores. Trouxe, nas minhas penas, um pouco do encanto que vi, como
presente para ti…
E, assim, ele começava a cantar as canções e as histórias daquele
mundo que a menina nunca vira. Até que ela adormecia, e sonhava que voava
nas asas do pássaro.
Outra vez voltou vermelho como o fogo, penacho dourado na cabeça.
— Venho de uma terra queimada pela seca, terra quente e sem água,
onde os grandes, os pequenos e os bichos sofrem a tristeza do sol que não se
apaga. As minhas penas ficaram como aquele sol, e eu trago as canções
tristes daqueles que gostariam de ouvir o barulho das cachoeiras e ver a
beleza dos campos verdes.

ACAT – Av. Brasil, 333 Edifício Delta, apto. 503 – Balneário Camboriu/SC
acatarteterapia.blogspot.com.br
182

E de novo começavam as histórias. A menina amava aquele pássaro e


podia ouvi-lo sem parar, dia após dia. E o pássaro amava a menina, e por isto
voltava sempre.
Mas chegava a hora da tristeza.
—Tenho de ir — dizia.
— Por favor, não vás. Fico tão triste. Terei saudades. E vou chorar…
— E a menina fazia beicinho…
— Eu também terei saudades — dizia o pássaro. — Eu também vou
chorar. Mas vou contar-te um segredo: as plantas precisam da água, nós
precisamos do ar, os peixes precisam dos rios… E o meu encanto precisa da
saudade. É aquela tristeza, na espera do regresso, que faz com que as minhas
penas fiquem bonitas. Se eu não for, não haverá saudade. Eu deixarei de ser
um pássaro encantado. E tu deixarás de me ama.
Assim, ele partiu. A menina, sozinha, chorava à noite de tristeza,
imaginando se o pássaro voltaria. E foi numa dessas noites que ela teve uma
ideia malvada: “Se eu o prender numa gaiola, ele nunca mais partirá. Será meu
para sempre. Não mais terei saudades. E ficarei feliz…”
Com estes pensamentos, comprou uma linda gaiola, de prata, própria
para um pássaro que se ama muito. E ficou à espera. Ele chegou finalmente,
maravilhoso nas suas novas cores, com histórias diferentes para contar.
Cansado da viagem, adormeceu. Foi então que a menina, cuidadosamente,
para que ele não acordasse, o prendeu na gaiola, para que ele nunca mais a
abandonasse. E adormeceu feliz.
Acordou de madrugada, com um gemido do pássaro…
— Ah! menina… O que é que fizeste? Quebrou-se o encanto. As minhas
penas ficarão feias e eu esquecer-me-ei das histórias… Sem a saudade, o
amor ir-se-á embora…
A menina não acreditou. Pensou que ele acabaria por se acostumar.
Mas não foi isto que aconteceu. O tempo ia passando, e o pássaro ficando
diferente. Caíram as plumas e o penacho. Os vermelhos, os verdes e os azuis

ACAT – Av. Brasil, 333 Edifício Delta, apto. 503 – Balneário Camboriu/SC
acatarteterapia.blogspot.com.br
183

das penas transformaram-se num cinzento triste. E veio o silêncio: deixou de


cantar.
Também a menina se entristeceu. Não, aquele não era o pássaro que
ela amava. E de noite ela chorava, pensando naquilo que havia feito ao seu
amigo…
Até que não aguentou mais.
Abriu a porta da gaiola.
— Podes ir, pássaro. Volta quando quiseres…
— Obrigado, menina. Tenho de partir. E preciso de partir para que a
saudade chegue e eu tenha vontade de voltar. Longe, na saudade, muitas
coisas boas começam a crescer dentro de nós. Sempre que ficares com
saudade, eu ficarei mais bonito. Sempre que eu ficar com saudade, tu ficarás
mais bonita. E enfeitar-te-ás, para me esperar…
E partiu. Voou que voou, para lugares distantes. A menina contava os
dias, e a cada dia que passava a saudade crescia.
— Que bom — pensava ela — o meu pássaro está a ficar encantado de
novo…
E ela ia ao guarda-roupa, escolher os vestidos, e penteava os cabelos e
colocava uma flor na jarra.
— Nunca se sabe. Pode ser que ele volte hoje…
Sem que ela se apercebesse, o mundo inteiro foi ficando encantado,
como o pássaro. Porque ele deveria estar a voar de qualquer lado e de
qualquer lado haveria de voltar. Ah!
Mundo maravilhoso, que guarda em algum lugar secreto o pássaro
encantado que se ama…
E foi assim que ela, cada noite, ia para a cama, triste de saudade, mas
feliz com o pensamento: “Quem sabe se ele voltará amanhã….”
E assim dormia e sonhava com a alegria do reencontro.

Referências:
http://contadoresdeestorias.wordpress.com/2008/01/07

ACAT – Av. Brasil, 333 Edifício Delta, apto. 503 – Balneário Camboriu/SC
acatarteterapia.blogspot.com.br
184

Arte instalação

Árvore da vida e a arteterapia

Ariclê do Rocio Marques Tosin ¹

Observando a beleza da natureza a árvore Bougainville sempre me chamou a


atenção, porque no inverno caem todas as folhas e na primavera seus galhos
ficam repletos de flores coloridas, como num grande abraço perfumado,
atraindo beija-flores e borboletas. Essa árvore é conhecida como flor-de-papel
ou primavera, adora sol, calor e luminosidade, é natural do Brasil, porém possui
identidade francesa, cujo nome científico Bougainvillea, homenagem ao militar
Louis-Antoine Bougainville, primeiro navegador francês a dar a volta ao mundo
numa expedição científica. Dialogando com a história, a árvore é considerada o
símbolo da vida, é mito universal ligado à humanidade e ao conhecimento.
Considerando o seu aspecto feminino, a árvore é conhecida como mãe
primordial pelo poder de gerar, semear vida e doar a palavra. A árvore da vida
é fonte de referência para explicar a criação do universo, como para
hierarquizar o processo evolutivo do homem e o significado da vida. A árvore
tem simbologia própria, desde seu enraizamento até o crescimento de seus
galhos, simboliza a ligação entre a terra e o céu. A árvore da vida pode ser
dividida em três colunas: a da esquerda é o pilar feminino, da severidade,
porque a força feminina é repressora, como o útero reprime a criança na
barriga da mãe; a da direita é o pilar masculino, da misericórdia, porque a força
masculina é explosiva, tendendo a ser uma força menos repressora e mais
liberal; e o pilar central é o do equilíbrio. Os sacrifícios mitológicos oferecidos à
árvore da vida eram rituais para alimentar e fortalecer o elemento feminino, a
força criadora de toda a existência. Nas mitologias greco-romanas, observa-se
a presença das representações de mulheres divinas e deusas transformadas
em árvores, como Dafne, Dione e Myrrha. A partir dessas observações em
relação à árvore Bougainville e a árvore da vida, percebi a possibilidade de
comparar e construir a árvore da Arteterapia formada por raízes, tronco e
ramificações, sendo sustentada pelas suas raízes aprofundadas na terra por
meio da filosofia, psicologia e psiquiatria, ao mesmo tempo em que no mundo
do inconsciente; o tronco e os galhos inferiores dão estrutura e solidez para
sustentar um trabalho arteterapêutico de qualidade, determinação, persistência
e amor focado no auxílio ao outro. A energia solar permite o gerar dos galhos
superiores que se lançam ao céu em constante transformação e evolução, a
árvore, nessa fase é comparada ao profissional arteterapeuta, eterno aprendiz,
aquele que semeia e busca a construção do conhecimento em Arteterapia, o
autoconhecimento, promovendo a transformação do olhar para as terapias
expressivas e novas estratégias arteterapêuticas, e as flores são os
participantes do trabalho arteterapêutico que se lançam para a arte e o
processo criativo em busca do autoconhecimento, melhorar a autoestima e

ACAT – Av. Brasil, 333 Edifício Delta, apto. 503 – Balneário Camboriu/SC
acatarteterapia.blogspot.com.br
185

encontrar o equilíbrio físico, psíquico e espiritual. A árvore da arteterapia em


sua metamorfose simboliza a vida na face da terra, com suas diversidades em
relação às crenças, a multiculturalidade, a miscigenação, levando a
transformação. Esse simbolismo é fonte de inspiração e criação da Arte
Instalação: “Árvore da Arteterapia”.

________________
¹ Arte-Educadora, Arteterapeuta e Artista Plástica. Docente Pós-Graduação: Censupeg, Itecne,
Rhema. E-mail: aricletosin@bol.com.br //www.facebook.com/oficina de arte

Referências:

Arteterapia - Relembrar é preciso... criar é continente: Caderno de


Resumos do I Fórum Paulista de Arteterapia 22. Associação de Arteterapia do
Estado de São Paulo, AAESP.

Árvore da Vida. In Infopédia Porto: Porto Editora, 2003-2014. Disponível na


www: <URL: http://www.infopedia.pt/$arvore-da-vida>

CHEVALIER, J. GHEERBRANT, A. Dicionário de símbolos: mitos, sonhos,


costumes, gestos, formas, figuras, cores, números. 21ª ed. Rio de Janeiro:
José Olympio, 2007.

JUNG, C.G. O Homem e seus Símbolos. Rio de Janeiro: Ed. Nova Fronteira,
1964.

Redeglobo.globo.com/sp/eptv/terra-da-gente/platb Acesso em 25 de agosto de


2014.

RIBAS, G. O.; ROCHA, V. M. P. Corpo: Árvore Da Vida. Anais IV Jornada de


Arteterapia e Filosofia - ACAT, 2012.

www.facebook.com/simpósiojunguiano

WIKIPÉDIA a enciclopédia livre. Bougainvillea.

ACAT – Av. Brasil, 333 Edifício Delta, apto. 503 – Balneário Camboriu/SC
acatarteterapia.blogspot.com.br
186

ACAT – Av. Brasil, 333 Edifício Delta, apto. 503 – Balneário Camboriu/SC
acatarteterapia.blogspot.com.br
187

REGISTROS FOTOGRÁFICOS DA JORNADA

ACAT – Av. Brasil, 333 Edifício Delta, apto. 503 – Balneário Camboriu/SC
acatarteterapia.blogspot.com.br
188

ACAT – Av. Brasil, 333 Edifício Delta, apto. 503 – Balneário Camboriu/SC
acatarteterapia.blogspot.com.br
189

ACAT – Av. Brasil, 333 Edifício Delta, apto. 503 – Balneário Camboriu/SC
acatarteterapia.blogspot.com.br
190

ACAT – Av. Brasil, 333 Edifício Delta, apto. 503 – Balneário Camboriu/SC
acatarteterapia.blogspot.com.br
191

ACAT – Av. Brasil, 333 Edifício Delta, apto. 503 – Balneário Camboriu/SC
acatarteterapia.blogspot.com.br
192

ACAT – Av. Brasil, 333 Edifício Delta, apto. 503 – Balneário Camboriu/SC
acatarteterapia.blogspot.com.br
193

ACAT – Av. Brasil, 333 Edifício Delta, apto. 503 – Balneário Camboriu/SC
acatarteterapia.blogspot.com.br

Você também pode gostar