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PATRÍCIA PINNA BERNARDo

APRÁTICA DAARTETERAPIA
Correlações entre temas e recursos

Volame I
Temas centrais em Arteterapia

4 Edição

SãoPaulo -2013

Arterapinna

Editorial
O Patrícia Pinna Bernardo

Revisão: Patrícia Pinna Bernardo (autora)

Diagramação: Dálet - Diagramações Ltda-Me

Capa: Cícero J. Silva

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Bernardo, Patrícia Pinna


A prática da arteterapia : correlações entre temas e
recursos:
temas centrais em Arteterapia / Patrícia Pinna Bernardo. - 4. ed.
São Paulo: Arterapinna Editorial, 2013. - (A prática da arteterapia :
correlações entre temas e recursos; v. 1)

Bibliografia.
ISBN 978-85-908994-7-1

1. Arteterapia 2. Recursos Artísticos 3. Psicologia Junguiana I. Título.


II.Série.

13-11206 CDD-615.85156

Indices para catálogo sistemático:

1. Arteterapia 615.85156

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 11
A CONSTRUÇÃO DO VÍNCULO E O DIAGNÓSTICO 19

AUTO-IMAGEM E AUTO-ESTIMA: DESENVOLVENDO


O AMOR PRÓPRIO 41
PERSONA E SOMBRA: DIALOGANDO COM OS
NOSSOS PERSONAGENS INTERNOS S1

AFETIVIDADE E ALTERIDADE: "EU SOU UM OUTR0


vOCÉ E VoCÊ É UM oUTRO DE MIM" 67
QUALIDADE DE VIDA E ECOLOGIA PROFUNDA:
DIVERSIDADE, COOPERAÇÃO, INCLUS E
CIDADANIA 78
AS 4 FUNÇÓES DA CONSCIÊNCIA E O EQUILÍBRIO
PSfQUICO 95

CRIATIVIDADE, MORTE E TRANSFORMAÇO:


OS CICLOS EXISTENCIAIS 115

O CAMINHO: MOVIMENTO E FLEXIBILIDADE 133

OMITO PESSOAL:SEMENTE DE QUE EU SOU? 144

A ELABORAÇAO DE PROJETOS EM ARTETERAPIA 147

REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS I57


INTRODUÇÃO

PENDO EM VISTA que as diferentes vivências e recur-

T sos utilizados em Arteterapia têm características es-


pecificas, e que a sua utilização deve estar em sintonia com
o tema e questões que se pretenda trabalhar, adequando-
-se ainda à população, idade e contexto, para atender às
necessidades específicas do(s) cliente(s), é de extrema im-
portância que o arteterapeuta fundamente a sua práticae
propostas no conhecimento teórico e na vivência pessoala
de cada utilizado em seu trabalho e suas
respeito recurso

indicações. A elaboração de um projeto de atendimento


a pessoas ou grupos deve levar em conta essas questões,
alinhando, através desse conhecimento, forma e conteúdo,

objetivos terapêuticos e métodos empregados, definição


de temase estratégias
Diante da necessidade da fundamentação a respei-
to das contribuições da utilização de recursos expressivos

para a qualidade de vida, a aprendizagem signiticativa e

o desenvolvimento global da personalidade, e das carac


relevancia
teristicas específicas de cada recurso e de sua
no trabalho com diferentes questões que se apresentam
minhas
ao do processo arteterapêutico, empreendi
longo
doutorado e pós-doutorado.
pesquisas de mestrado,
PATRÍCIA PINNA BERNARDO

pesquisei
mestrado em Psicologia clínica
No a questão da criatividade
idade (que é uma questão
(PUC-SP, 1994),
(PLIl.

Arteterapia) e sua rela


Arte
trabalho e m
central no com o
transformação
ao
inerente ao crescimen psí-
processo de
enfocando as
diferentes fases desse
processo e sua
quico,
Oficinas de Criatividade. Na
aplicaçãoprática em Lou-
torado em Psicologia
da aprendizagem e do desenvolblvi-
mento humano (IPUSP, 2001), explicitei os pressuposte
da Psicologia junguianai
teóricos (dentro da abordagenm a)
que fundamentam a atuação do arteterapeuta no contexta
pedagógico, preventivo e terapeutico, além de pesquisar
as características específicas das diferentes linguagens e
materiais expressivos, desvelando suas indicações tera-
pêuticas ao relacioná-los com as 4 funções da consciência
(Pensamento, Sentimento, Intuição, Sensação) e com for-
ças arquetípicas que estão na base de nossa constituição
psíquica, e de trazer as contribuições das mithohermenêu-
tica (interpretação simbólica de contos e mitos) para essa
atuação e compreensão. No Pós-doutorado (FEUSP, 2006
Arteterapia e Mitologia Criativa: orquestrando limiares -funau-
mentos, alcance e aplicações dos diferentes recursos arteterapeu
tICOS, mostrei como a perspectiva mitológica nos ajuad a
compreender o sentido que as atividades artísticas podem
terquando colocadas a serviço do o, for-
auto-conhecimen
necendo à alma uma linguagem sintônica como seu modo
de
exprimir-se, contribuindo
dessa forma para O proces
P
so de
individuação (de nos tornarmos mais inte ex

pressando na nossa
remédio que somos maneira de ser e esta
mundo
**

para o Universo.

para nós mesmose


12 para
A PRÁTICA DA ARTRTERAPIA

de criação, a
Para tanto, tracei paralelos entre os mitos
diferentes fases
criação da consciência e sua ampliação nas
e a
e etapas de nosso desenvolvimento, Alquimia
entre a

elaboração simbólica de nossos conteúdos internos,


con-

de
cebendoo trabalho arteterapêutico como um trabalho
ancestrais e indí-
alquimia interior, e entre as mitologias
em nossas vidas, fazendo
genas e a dimensão do sagrado
e suas
alusão a diversos recursos vivenciais e expressivos
indicações, elucidando e exemplificando as possibilida-
des de sua aplicação nos campos terapêutico, pedagógico0,
diversas faixas etárias:
preventivo e organizacional, e com
crianças, adolescentes, adultos e idosos.
Aliando essas pesquisas à minha atuação profissional
na supervisão de trabalhos e
condução e/ou orientação e

projetos em Arteterapia nas áreas clínica, escolar, organiza-


cional, hospitalar e institucional com as es
diversas faixas
bem como à
tárias (crianças, adolescentes, adultos e idosos),
de especialização,
orientação e co-orientação em pesquisas
mestradoe doutorado, coletei dados a respeito dos resulta-
dos obtidos a partir da utilização de diferentes recursose

diversos campos e com diferentes


vivências expressivas em

populações, comprovando a sua eficácia e pertinência.


Através da circulação da ossa energia psíquica
entre a consciência e a dimensão inconsciente, que Jung
(1984) denominou de função transcendente, mediada pela

utilização de recursos expressivos diversos, podemos res-


tabelecer um canal de comunicação com os elos ancestrais

base da nossa existência e que fornecem à


que estäo na

necessárias para a sua


nossa consciência as condições
13
PATRÍCIA PINNA BERNARDO

ampliaç o, atualizando os nossos potenciais e nos enri-

quecendo como ser.


O homem atual vem gradativamente perdendoo
contato com a sua vida interior, o que pode ser resgata-
do através do desbravamento de suas "florestas internas",
percorrendo-se a via simbólica. Podemos assim estabele-
cer um relacionamento significativo com as forças arquetí-
picas que nos constituem como ser, convidando-as a par-
ticipar da nossa vida, o que a engrandece e renova. Dessa
forma passamos a participar conscientemente como prota-
gonistas de nossa mitologia pessoal, extraindo sabedoria
de nossas experiências.
O primeiro passo no processo arteterapêutico, em
qualquer contexto em que ele se desenrole, consiste na cria-
ção de um espaço acolhedor e respeitoso,
em os que partici-
pantes se sintam seguros e confortáveis, facilitando a cons-
trução do vínculoe viabilizando a vivência do processo de
transformação interior que o trabalho com criatividade de-
sencadeia. Existem recursos que são especialmente indica-
dos para esse momento do
process0, tais como aconfecção
de mandalas, bem como outros
recursos como a
pintura em
ovos e confecção de um ninho para eles, a
criação de um
jardim, (BERNARDO, 1999, 2006 a, 2006 c). Cada um
etc.
desses recursos tem uma
da
fundamentação teórica extraida
compreensão dos aspectos simbólicos ativados por sua
utilização, em que forma e conteúdo se
gindo para o objetivo terapêutico que sesintonizam, conver-
tem em mente. A
criação de mandalas, por
exemplo, éuma técnica utilizada
por povos ancestrais em seus
rituias de cura e por monges
14
A PRÁTICA DA ARTETERAPIA

tibetanos como forma de conexão com o sagrado. Foi am-


plamente estudada por Jung (2000), que percebeu na ativi
dade de confecção de mandalas um caminho de conexão
com a totalidade psíquica, facilitando
maior integra-
uma

ção de aspectos conscientes e inconscientes. Fincher (1994)


coloca que a forma circular atua como um círculo de prote-
ção, análogo ao ventre materno e ao vaso alquímico, dando
continência e harmonizando aspectos conflitantes de nosso
mundo interno.
No início de qualquer processo em Arteterapia é fun
damental se conhecer a história de vida, bem como fazer
um diagnóstico da pessoa ou do grupo com quem estamos
trabalhando, para que percebamos as suas necessidades
de desenvolvimentoe para que a(s) pessoa(s) se inclua(m)
de forma mais ampla no contexto do trabalho. Um dos re-
cursos que pode ser utilizado para tanto é a confecção de
um panô no qual a pessoa expresse os desenhos formados
pela linha da sua vida desde o seu início, incluindo ainda
os sonhos que vislumbra para o seu futuro. O tema da linha
da vida já aparece na Mitologia grega através das Moiras,
tecel s do destino, bem como em outras
que são as nosso

hindu, por exemplo. Ter nas mãos as


mitologias como a

linhas do próprio destino, que é o que essa atividade pro-


circunstâncias
põe, tira a pessoa da condição de vítima das
colocando-a na posição de
que permeiam a sua história,
co-autora de seus enredos existenciais. Outra técnica que

ajuda tanto na construção do vínculo terapêutico quanto


nessa fase diagnóstica é a confecção de uma caixa em que
a pessoa expresse o seu mundo (BERNARDO, 2006 c).

15
PATRICIA PINNA BERNARDO

Ao longo de nossa caminhada pela vida


s pedras, ou seja, nos encontra-
deparaamos
dificuld. com
entraves que demandam uma maior atenção de n e
te. Essas dificuldades estão calcadas e
podem se par-
em bloqueios de nossa energia psíquica e/ou refletir
de formas de lidar com a realidade, denotando cristalizac
mentos que jánão correspondem às
nossas
comporta
atuais de desenvolvimento. Uma visão necessidadeses
ve um estreitamento de
enrijecida promo-
horizontes, levando à
de padrões e a uma
estagnação
de nossa repetição
Nesse caso,
energia psíquica
a atividade de pintura em
pedras, por exem-
plo, pode promover a retomada da
No processo de plasticidade psíquica.
dido é que olhemos
auto-conhecimento,
que nos é pe- o

para dentro. Paul Klee já dizia


arte torna visível o que a
invisível. Quando fechamos os olhos
olhamos para dentro, a e

o escuro.
Da
primeira coisa que enxergamos é
mesma forma,
tos sombrios de nossa
nos defrontamos com aspec
desprezamos, quando personalidade, quais geralmente
os

com
nos
dispomos a nos olhar de frente
honestidade. O trabalho de
Criação de confecção de máscaras e
personagens pode ser muito útil e é
te
indicado nesses
momentos, especialmen
"outros" que nos por facilitar o
diálogo com 0S
habitam, nos tornando um um pouc
Tesponsáveis por nossos poucomais
Olhar para
dentro comportamentos atituaes e
gem refletida no também é olhar para aa própria ma-
deter-se diante daespelho de nossa alma, comoprop Narciso ao
da da sua imagem no lago. O
sua Narci
criança é me, eé
a
lago. O,primeiro espel
começa a nessa
desenvolver interação
a amorosa
sua
16
auto-imagem. AA COconfecção
em.
«
A PRÁTICA DA ARTETERAPIA

moldura em um espelho é um recurso facilitador da trans


formação da auto-imagem e do desenvolvimento do amor
próprio, quando é proposto à pessoa que se olhe através
do espelho e traga para a moldura dele o que enxerga em
seu interior, trazendo para a sua consciência uma imagem
condizente com toda a sua riqueza interior, agregando à
maneira como se vê e como se mostra ao mundo aspectos
de sua alma (BERNARDO, 2004, 2006 a, 2006 c).
O trabalho com recursos expressivos associados aos
4 elementos da natureza (terra, água, fogo, ar) pode ser
empreendido para se trabalhar com aspectos psíquicos re-
lacionados às 4 funções da consciência descritas por Jung
(1976), promovendo a equilibração psíquica, além de po-
der-se trabalhar com questões associadas a alguma função
específica, escolhendo-se o recursos mais adequado para
tal (BERNARDO, 2004, 2006 a, 2006 c).
Todos os recursos arteterapêticos podem nos auxi-
leva interior de nós
liar nessa jornada heróica que nos ao

mesmos, de onde extraímos recursos para o pleno desen-


volvimento de nossos potenciais e talentos, nos religan-

do a um amplo para a nossa existência, mas


sentido mais
latentes que o
cada um deles traz consigo possibilidades
trabalhar determina-
tornam especialmente indicado para
das questões internas e temas significativos para o nos
especificidade de cada
so crescimento. Conhecendo-se a

material e técnica em sua correlação com forças psíquicas,


pode-se propor e/ou criar recursos que
nos permitam atin
contribui para
gir objetivos terapêuticos específicos, que
o

uma atuação ética e criteriosa do arteterapeuta.

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