Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
SÃO PAULO
2021
MÁRCIA VICTÓRIA ELISIO BARBOSA
SÃO PAULO
2021
Catalogação na Publicação
Serviço de Biblioteca e Documentação
Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo
Data de aprovação:
__/__/___
SÃO PAULO
2021
RESUMO
Figura 35 – Vulva…...........................................................................................40
Sumário
INTRODUÇÃO.................................................................................................... 9
3.1 Exposição......................................................................................................... 35
4.CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................. 40
REFERÊNCIAS...................................................................................................... 41
10
INTRODUÇÃO
Ao abordar a histeria citada acima, foi necessário trazer uma ressalva para a
questão de gênero, onde podemos estabelecer as diferenças entre os termos sexo e
gênero, o sexo está ligado à composição cromossômica do indivíduo e ao tipo de
aparelho reprodutor desta composição, entretanto esse significado foi muito
expandido abrangendo características comportamentais ou psíquicos consideradas
típicas entre homens e mulheres (BUTLER, 2003).
Chegamos assim à definição do gênero como a soma das características
psicossociais consideradas apropriadas a cada grupo sexual, sendo a identidade de
gênero o conjunto destas expectativas, internalizado pelo indivíduo em resposta aos
estímulos biológicos e sociais. Sendo assim os papéis atribuídos aos homens e
mulheres podem ser influenciados a esses conceitos estabelecidos pelas expectativas
do grupo e do próprio indivíduo, de uma forma “correta” de exercer o seu papel,
estando diretamente ligados a construções sociais, não somente a suas
características biológicas naturais de um corpo sexuado. (UNGER, 1979).
Esta Pesquisa/Criação Artística teve como objeto de estudo o corpo feminino e
a simbologia da bruxaria para o sagrado feminino e na performance, evidenciando o
sangue menstrual como poder transformador e poético de luta, sexualidade, gênero
e autoconhecimento, dialogando com o feminismo.
A partir desses estudos foi definido e elaborada a obra final – O Sagrado
Feminino: Útera Sagrada. Foi realizada uma performance que usou o sangue
menstrual para criar símbolos e movimento junto ao corpo da performer.
A performance une o tema do Projeto Pesquisa/Criação Artística – O Sagrado
Feminino: Útera Sagrada - aos estudos sobre performance, especialmente os textos
“O que é performance?”, de Richard Schechner e “A Arte da Performance”, de
Roselee Goldberg.
A Ação foi realizada com sangue menstrual, utilizado para desenhar símbolos
no corpo e roupas, manchas livres de sentimentos que surgiram durante a gravação
da performance e criou ações entre o sangue e o corpo da performer.
Com intuito de “improvisar” ações com o sangue, causar impacto e chocar o
espectador com a performatividade com este sangue menstrual que ainda é
considerado um tabu em nossa sociedade. Trouxe então a reflexão do corpo que traz
a discussão do eu e do outro, situação e movimento. O corpo, sua presença física ou
mediada é a medida da performance.
A união em torno da luta pelo direito de exercer sua liberdade de expressão,
manutenção de suas crenças e autonomia sobre o próprio corpo foram os principais
13
1. O SAGRADO FEMININO
O sagrado feminino é um dos principais conceitos estudados e discutidos dentro
da bruxaria, com busca na liberdade e consciência da mulher, que culturalmente, tem
sido conduzida sob a negação e, ao mesmo tempo, o medo de uma sociedade
patriarcal-falocêntrica que tem visto as mulheres como um inimigo insurgente frente à
sua posição de poder. (PINKOLA, 1999).
14
https://www.centrepompidou.fr/en/ressources/oeuvre/cRR58A9
16
Onde a artista personifica uma vulva irreprimível, que envolve dois fantoches
de mão em uma desconstrução do preconceito sexual na semiótica francesa, do
marxismo, das religiões patriarcais e tabus físicos. (ELECTRONIC ARTS INTERMIX,
1999?).
O Sagrado Feminino é uma filosofia de vida antiga que exalta a essência e a
conexão harmoniosa da mulher consigo e com a natureza. É a consciência dos ciclos
femininos (como o menstrual), da capacidade de criação e acolhimento (gestação) e
da força da mulher. Essa busca pela conexão e autoconhecimento é feita nos círculos
de mulheres, onde cultuam as Deusas e partilham experiências. Nestes grupos é
possível compreender que as mulheres são muito mais do que foram doutrinadas a
ser. (GRAY, 2017, p.19-48).
Ser sábia não chega de forma perfeita e de repente para nós, esta grande
perspicácia, capacidade de premonição, expansividade, sensualidade, a criatividade,
e coragem para o aprendizado, se moldam como uma capa sobre os ombros de uma
mulher de determinada idade, é jornada de aprendizado e descoberta com a busca
do autoconhecimento (GRAY, 2017).
Podemos observar as nuances dos arquétipos analisando os mitos e lendas,
onde inclusive existe uma configuração sem paralelo, a qual uma jovem está em
situação angustiante, e em alguns casos um príncipe aparece para “salvá-la”, mas
também podemos observar o surgimento de uma velha sábia que se materializa
como que surgindo do nada, lançando sua poeira mágica ao redor e batendo no chão
com sua bengala de abrunheiro, velha esta que traz ensinamento nas entrelinhas de
sua atuação nesta história, sendo uma outra visão da própria jovem donzela, ela é a
anciã "que sabe" e surge de repente para ajudar a mulher mais jovem (GRAY, 2017).
Quer essa idosa seja uma velha enrugada ou uma feiticeira com seus
amuletos, quer ela seja uma mutante ou uma maga sensual, quer esteja
usando trajes de ervas, vestido do brilho do pôr-do-sol, manto da meia-noite
ou uniforme completo de combate. (PINKOLA, 1999, pág.8).
18
1.1 Bruxaria
Existem três pontos de vista principais sobre o que é bruxaria: o primeiro ponto
de vista é o antropológico e demonstra que bruxaria é sinônimo de feitiçaria; o
segundo é o histórico, que através de documentos escritos coloca qualquer tipo de
bruxaria como práticas/tradições ancestrais, com uma relação harmônica com os
ciclos e estações do ano, normalmente ligados a colheita; o terceiro é o da bruxaria
moderna ou hodierna, que defende a bruxaria como uma forma de religião pagã (ou
19
Nas práticas Wiccanas, assim como na Bruxaria Natural, também são usados
os pentagramas para feitiços. O pentagrama é o símbolo da magia que está
relacionado com a adoração da natureza representado por uma estrela de cinco
pontas. Cada uma das pontas representa: água, fogo, terra, ar e o espírito (ponta da
estrela que está voltada para cima). (GORI, 2012)
Figura 7 Pentagrama
Cohn (1975) cita que todo o quadro medieval de bruxas lançando feitiços e
entrando em comunhão com o Diabo foi uma projeção paranóica de uma Igreja
21
ginofóbica. Essas mulheres tinham que atuar bem fora dos limites da ortodoxia cristã,
praticando artes de cura não muito distantes das que muitas mulheres estão
recuperando hoje e redescobrindo nas tradições xamanísticas nativas da América do
Norte e do Sul, e de outras partes. (WOOLGER, 2007, P. 317-318).
2. PERFORMANCE
1. Atuação, desempenho.
2. Espetáculo no qual o artista fala e age por conta própria.
3. Qualquer atividade artística que, inspirada nas artes cênicas, se
apresenta como evento transitório, e que pode incluir dança, música,
poesia, e até mesmo cinema, ou televisão, ou vídeo.
22
Figura 12 Vulva's Morphia (1995) Grade de fotos suspensa, 35 impressões a laser coloridas sobre papel pintadas a mão,
montada em tábua, cada uma 28 x 21,5 cm, tiras de texto, 147 x 5 cm. Quatro ventiladores elétricos pequenos instalados
nos cantos. Instalação de de parede total 152 x 244 cm
3.1 EXPOSIÇÃO
A exposição ocorreu no formato online, pelas redes sociais, sendo estas,
um Instagram exclusivo para postagem e interação na exposição virtual no Instagram
e postagem específica nos portfólios artísticos no Twitter e Carrds.
Figura 26 Flyer informativo: Carrds
Figura 35 Vulva
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Na bruxaria existem vastas possibilidades de estudo que podem agregar muito
para as artes visuais, principalmente quando entra em mérito do sagrado feminino e
suas potencialidades, temática que ainda é pouco explorada. Traz um diálogo
fortalecedor para a arte da foto performance, de conexão com o corpo feminino, e as
capacidades de movimento a serem experimentadas, de elevar-se através do divino.
A realização das pesquisas teóricas trouxe grande avanço para o processo
criativo enquanto artista mulher, abrindo caminho para aprofundar o diálogo feminista
em criações artísticas futuras. De maneira geral, os resultados obtidos nesta pesquisa
em âmbito teórico foram esperados, entretanto, vale a ressalva para as dificuldades
encontradas durante o percurso da criação da foto performance, que a princípio não
pôde ser realizada, ficando apenas no papel em formato de relatório, sendo feita
somente em meados da entrega final para a banca, e vendo que a experiência teria
sido muito mais vívida e forte, representativa se houvesse a possibilidade de realizar
a performance ao vivo.
Mesmo com as sensações de ansiedade e apreensão para concretizar a
performance, houve muito aprendizado para lidar com as emoções e possíveis
dificuldades inesperadas dentro de um projeto artístico, e plena satisfação ao
conseguir realizar a foto performance com êxito. Este trabalho é, antes de tudo, um
estudo sobre a importância de falar abertamente do corpo feminino, rompendo com as
barreiras impostas socialmente, além da forte relação que este corpo possui com a
arte e a performance.
As etapas de criação visual foram desafiadoras e essenciais para concretizar
o projeto, desde a reflexão em como aplicar uma identidade visual coerente e
irreverente, até a criação das ilustrações para compor todo o contexto expositivo no
modelo virtual, de modo que toda a construção da obra se interligou e fluiu, apesar de
algumas inseguranças neste percurso.
42
BIBLIOGRAFIA
Disponível em:
<http://otemplointeriordabruxaria.blogspot.com/2018/12/diferencasentre-bruxaria-
verde-x-wicca.html>. Acesso em: 10 de março de 2021.
ELECTRONIC ARTS INTERMIX. “Ask The Goddess”, 1991, 8:24 min. Disponível
em: <https://www.eai.org/titles/ask-the-goddess>. Acesso em 02 de março de 2021.
GORI, Tania. Bruxaria Natural: Uma Filosofia De Vida. Ed.1. Editora MADRAS,
2012.>. Acesso em: 17 de março de 2021.
MENDIETA, Ana. Sem título (cena de estupro / assassinato) 1973. Disponível em:
<https://withreferencetodeath.philippocock.net/blog/mendieta-ana-untitled-
rapemurderscene-1973/>. Acesso em: 21 de março de 2021.
MENDIETA, Ana. Sem título (cena de estupro / assassinato) 1973. Disponível em:
<https://www.cristintierney.com/exhibitions/47/works/artworks-2295-ana-
mendietauntitled-rape-scene-1973-estate-print-2001/1973/>. Acesso em: 21 de
março de 2021.
PINKOLA, Estés Clarissa. Mulheres Que Correm Com Os Lobos. 1ª Ed. Rio de
Janeiro, Rocco, 2018.>. Acesso em: 10 de março de 2021.
RUSSELL, Jeffrey B.; ALEXANDER, Brooks. História da Bruxaria. 2. ed. São Paulo:
Aleph, 2019.>. Acesso em: 20 de fevereiro de 2021.
SÁ, Alexandre. Márcia X- uma antibiografia. concinnitas | ano 2014, volume 01,
número 24, julho de 2014.> Acesso em: 30 de maio de 2021.
SAHEM, Stehi. Pentagrama. 2012. Disponível em:
<https://osquatropilares.wordpress.com/2012/07/10/pentagrama/>. Acesso em: 02
de junho de 2021.
SCHECHNER, Richard. O Que É Performance? Disponível em:
<https://www.academia.edu/5005019/ROSELEE_GOLDBERG_A_Arte_da_Perform
ance>. Acesso em: 20 de março de 2021.
WANDERLEY, Olga Da Costa Lima. “Nem Aqui Nem Lá”: Rastros Do Feminino Nas
Fotoperformances De Ana Mendieta. Universidade Federal de Pernambuco.
Disponível em:
<http://www.scielo.mec.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S21833575201700020
0009>. Acesso em: 20 de março de 2021.