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Resumos de Psicologia B – Processos mentais

Cognição

Processos mentais
Processos cognitivos Processos emotivos Processos conativos
Saber Sentir Fazer
“O quê”? “Como?” “Porquê?”

Da adaptação do ser humano ao mundo depende a sua apreensão, o seu registo e a capacidade de
o entender de modo a nele se poder mover, dele usufruir, etc. Os processos cognitivos estão
envolvidos nessa tarefa, sem os quais a realidade nos seria estranha e a nossa relação com ela estaria
comprometida.

A cognição é o conjunto dos mecanismos envolvidos na aquisição da informação, do seu tratamento,


da sua conservação e o que deles resulta. É, portanto, processo e produto: ato de conhecer e
conhecimento efetivo. São três os processos cognitivos:

ü Perceção
ü Aprendizagem
ü Memória

Através da perceção, interpretamos e organizamos dados sensoriais. Com ela, acedemos a um


mundo não necessariamente caótico, como é aquele que nos chega nos dados dos sentidos, mas
inteligível ou com sentido.

A memória efetua o registo de tudo o que é percecionado e não se limita a conservar um mundo já
percebido que resulte da conclusão do trabalho percetivo, sendo também fundamental na
construção subjetiva da ideia que temos do mundo. Até para percecionarmos uma palavra, temos
de, mesmo que por frações de segundo, memorizar cada uma das suas letras e recordar os sons que
lhe estão associados.

De tudo isto fica-nos a aprendizagem. Aprender a ler, por exemplo, implica a perceção e a memória:
através da visão, somos capazes de percecionar as letras que formam as palavras e as palavras que
formam frases, e a memória ajuda-nos a atribuir-lhes significado.

Isto significa que os processos cognitivos estão interligados.

Perceção

Se pararmos um momento para darmos atenção ao que se passa à nossa volta num ambiente que
já nos é familiar, apercebemo-nos de coisas que até aí nos passaram despercebidas. Por exemplo,
que a sala de aula tem rodapés de madeira. Olhámos para isto, porque os nossos olhos por aí
passaram, mas não nos apercebemos disso. Sem sentidos, nada disto seria possível.
Se é pelos sentidos que o nosso contacto com o mundo começa, ele não termina aí. É este o ponto
a partir do qual se distinguem sensação e perceção. Por outras palavras, a sensação e apenas o
começo.

*Sensação: A sensação é o processo através do qual um estímulo físico (visual, sonoro, olfativo, etc.)
desencadeia num recetor sensorial (olhos, ouvidos, nariz, etc.) uma determinada impressão,
posteriormente transmitida ao cérebro.

Os nossos sentidos são sensíveis a estímulos físicos, como luz, som, cheiro, etc.. sendo a sensação,
portanto, uma reação dos órgãos dos sentidos ao meio, uma resposta sensorial a um estímulo.

Quão sensíveis são, no entanto, os nossos sentidos?

A esta pergunta tem procurado responder uma área da Psicologia, a que se dá o nome de Psicofísica.
Nela procura-se entender, por exemplo, a intensidade ou a energia necessária que um estímulo tem
de ter para gerar uma reação sensorial. A esse mínimo de energia necessária dá-se o nome de limiar
absoluto.

Os raios violetas e os infravermelhos, ou a radiação eletromagnética que está presente nas redes
Wi-Fi ou de telemóvel, constituem exemplos de energia a que somos insensíveis, isto é, que se situa
abaixo do nosso limiar absoluto.

Vejamos alguns limiares absolutos típicos:

ü Visão: Chama de uma vela, numa noite escura, vista a 50 km.


ü Audição: Tiquetaque de um relógio, num ambiente silencioso, a 6 metros.
ü Paladar: Uma colher de chá de açúcar diluída em 9 litros de água.
ü Olfato: Gota de perfume difundida em todo o volume de uma casa com três divisões.
ü Tato: Asa de abelha, caindo sobre a face, da distância de 1 centímetro.

O limiar diferencial é, por outro lado, a diferença mínima de energia que é necessária à distinção
entre dois estímulos similares. Abaixo do limiar absoluto, não há deteção de sinal, ou seja, não há
sensação. Abaixo do limiar diferencial, não há distinção de estímulos, isto é, não é detetada qualquer
diferença entre os mesmos: por exemplo. na intensidade da luz, do som, do cheiro, entre outros.

Limiar
Absoluto Diferencial
Intensidade mínima que um estímulo tem de Diferença mínima detetável entre dois
ter para desencadear uma resposta sensorial. estímulos similares.

Outra noção importante no estudo da sensação é a de adaptação sensorial. Imaginemos, por


exemplo, que entramos numa sala de cinema, quando o filme já começou a ser projetado. Com a
sala escurecida, temos dificuldade em ver o caminho e chegar ao nosso lugar. Vimos do exterior,
onde existe muita luz, mas, entretanto, os nossos olhos adaptam-se e acabamos por nos sentar. O
inverso - a saída da sala de cinema - também exige adaptação. Sentimos inicialmente demasiada luz,
mas depois habituamo-nos à nova realidade.
A adaptação sensorial é este ajustamento da capacidade sensorial após exposição prolongada a um
estímulo. Trata-se de uma capacidade fundamental, já que nos permite estar em alerta permanente
face a novos estímulos, mesmo que os anteriores mantenham a mesma força ou intensidade.

Sensação

A verdade é que não nos limitamos a ver imagens, a ouvir sons, ou a captar cheiros. Cheiramos um
perfume ou o odor de queijo, ouvimos uma buzina ou uma melga à noite na cama, vemos um
arranha-céus ou uma bicicleta a cair. Isto é, percebemos alguma coisa no que vemos, ouvimos ou
cheiramos.

Através da sensação, recebemos a informação sensorial do meio e, por intermédio da perceção,


interpretamos essa informação, conferimos-lhe um sentido, identificamo-la. Por outras palavras, a
perceção vem depois da sensação.

1. Sensação
2. Perceção

*Perceção: A perceção é um processo cognitivo de organização e interpretação da informação


sensorial. É uma atividade cognitiva de processamento dos dados dos sentidos, de construção de
significado, de identificação do que é uma dada sensação.

Imaginemo-nos a ouvir quatro sons iguais, com o último mais longo, e intercalados por três
momentos de silêncio com igual duração. É isto o que a sensação nos dá. Mas a perceção identificará
aí alguma coisa: o início da Marcha Nupcial de Mendelssohn.

Sentir e percecionar são, portanto, processos distintos. São estes os elementos do processo
percetivo:

1. Estímulo físico
2. Tradução do estímulo em impulso nervoso
3. Perceção como resposta à mensagem

Constância percetiva e perceção de profundidade

A perceção que temos do mundo é uma construção, uma representação mental. Nunca é uma cópia
ou um espelho da realidade exatamente como ela é. O processo percetivo não se assemelha ao
mecanismo de uma máquina fotográfica, que se limita a registar passivamente o mundo exterior.
Se assim fosse, o que vemos aparecer-nos-ia como bidimensional, já que a nossa retina regista
imagens sem profundidade, a duas e não a três dimensões, e, no entanto, percecionamos o mundo
físico como tridimensional.

O mesmo acontece com os objetos em movimento. Percecionamos um objeto como sendo o


mesmo, apesar de a nossa retina o registar como tendo diferentes tamanhos quando se encontra a
distâncias maiores ou menores.
A nossa mente entende o mundo como algo tridimensional, estável e com significado, apesar do
aspeto caótico dos dados dos sentidos. Para esse entendimento contribuem a constância percetiva
e a perceção de profundidade.

*Constância percetiva: A constância percetiva é a tendência para representar os objetos do mesmo


modo, como estáveis, apesar de chegarem até nós a partir de ângulos ou perspetivas diferentes. É
entender como constante o que aparece como instável ou em permanente variabilidade.

A constância percetiva é um mecanismo que nos impede de cairmos em erros elementares: por
exemplo, concluirmos que alguém, quando se afasta de nós, está a diminuir fisicamente de
tamanho, ou que à noite, sem luz, as coisas perdem efetivamente a sua cor. Através da constância
percetiva, o cérebro corrige o que os sentidos nos fazem chegar.

Nas perceções visuais, vamos analisar três formas de constância percetiva:

ü Constância de tamanho: um objeto, a diferentes distâncias, forma na retina imagens


distintas. Quanto mais longe está de nós, mais pequeno aparece no nosso olhar. Mas não é
assim que o percebemos. Sabemos que há um tamanho físico real, que é constante, esteja
ele distante ou próximo de nós. É isto a constância de tamanho, que nos faz ver, estando nós
em terra, um avião de passageiros a grande altitude ou um navio cargueiro em alto-mar
sempre como gigantes dos transportes.

ü Constância de forma: a imagem de um objeto, sob diferentes ângulos ou incidência de luz,


aparece projetada na retina com formas distintas. No entanto, percecionamos uma roda
sempre como redonda, mesmo quando não a olhamos exatamente de frente, e daí a
sensação não ser a de um círculo perfeito. O mesmo acontece com uma porta retangular,
que, mesmo que esteja entreaberta aos nossos olhos, é sempre vista como retangular.

ü Constância de cor e brilho: a sensação de um objeto muda constantemente, tendo maior ou


menor brilho e até parecendo ter uma cor diferente, mas percecionamo-lo como igual. A
luminosidade altera a sensação, mas rara e dificilmente muda uma perceção.

Encontramos ainda outros exemplos de constância percetiva em fotografias das mesmas pessoas
em diferentes idades. Aí, apesar de serem visíveis as mudanças de fisionomia, reconhecemos uma
única identidade.

O mesmo acontece em obras de arte que recriam outras, como versões de canções conhecidas
reinterpretadas por outras bandas musicais ou pinturas que se fazem à imagem e semelhança de
outras que as antecedem.

Apesar da mudança contínua de sensações, a correção levada a cabo pela perceção permite-nos
encontrar alguma regularidade no mundo, ajudando-nos na adaptação ao que nos rodeia e até a
evitar erros que se poderiam revelar graves se os enganos dos sentidos não fossem contrariados. A
constância percetiva, ou o reconhecimento do igual no diferente, depende muito das nossas
experiências anteriores, das memórias que armazenámos e recuperamos quando delas precisamos,
das aprendizagens que efetuámos e também da nossa capacidade de inferir, ou seja, de tirar
conclusões com segurança a partir de dados que já dominamos.
Além da constância percetiva, também a perceção de profundidade nos ajuda a interpretar a
tridimensionalidade que caracteriza o mundo, apesar de os nossos olhos mo só registarem imagens
a duas dimensões.

*Perceção de profundidade: A perceção da profundidade é a capacidade de ver o mundo a três


dimensões, percebendo as distâncias entre diferentes elementos.

Para que seja possível essa perceção, recorremos a dois tipos de indicadores de profundidade:
binoculares, em que os nossos dois olhos estão simultaneamente implicados, e monoculares,
baseados no funcionamento autónomo de cada olho. Os primeiros indicadores estão relacionados
com mecanismos fisiológicos; os segundos são indícios ambientais.

Dois tipos de indicadores binoculares são a convergência e a disparidade retiana.

A convergência refere-se ao movimento dos nossos olhos quando se retraem à medida que um
objeto se aproxima de nós. As duas linhas de visão convergem quando um objeto se aproxima a uma
distância inferior a 15 metros e divergem à medida que se afasta. Estes indícios ajudam-nos a
perceber a distância a que algo está de nós, ao disporem os objetos na profundidade do espaço
tridimensional.

A disparidade retiniana refere-se ao facto de as imagens que cada um dos nossos olhos vê serem
ligeiramente diferentes entre si, sendo a diferença tanto maior quanto mais próximo estiver o
objeto visto. O nosso cérebro calcula a distância a que algo está de nós através do quão díspares são
as duas imagens recebidas pelas nossas retinas. Sendo muito distintas, o objeto está muito próximo;
sendo pouco distintas, está mais distante. Por exemplo, se colocarmos um lápis muito próximo da
nossa cara e taparmos um olho de cada vez, cada um dos olhos dar-nos-á uma imagem um pouco
diferente. Se o afastarmos, e fizermos a mesma experiência, as imagens tenderão a igualar-se. Cada
par de sensações, conjugado no nosso cérebro, dá origem à perceção da profundidade.

Os olhos dão-nos duas visões do mundo a duas dimensões e com essa informação o cérebro dá-nos
um mundo a três dimensões.

Vejamos agora, no quadro abaixo, alguns indicadores monoculares - que não depen- dem da visão
binocular:

ü Grandeza relativa: Para dar a impressão de distância, varia-se a grandeza do que queremos
representar. Uma pessoa parecerá mais próxima se, numa imagem, aparecer com dimensão
superior à de um objeto que sabemos ser fisicamente maior - um camião, por exemplo. De
forma semelhante, à mesma distância, uma pessoa mais alta que outra parecerá mais
próxima. A distância é, deste modo, calculada em termos relativos: na relação de tamanho
ou distância entre uns e outros objetos na mesma imagem a duas dimensões.

ü Interposição: Quando dois objetos estão na mesma linha de visão, mas um oculta
parcialmente o outro, o que está por trás depreende-se estar mais distante. Assim, a
interposição de um objeto sobre outro permite-nos perceber qual a distância a que cada um
deles está de nós.
ü Perspetiva linear: A convergência de linhas no horizonte, por exemplo, em linhas de
ferrocarris ou num rio, permite-nos perceber que há uma distância crescente relativamente
ao observador. O ponto em que as linhas se cruzam ou convergem é o mais distante que o
nosso olhar delas alcança, e aquele em que estão mais afastadas, é o que nos é mais próximo.

ü Luz e sombra: Através da aplicação de sombras, uma figura plana, como um círculo, adquire
profundidade. Assim sendo, torna-se uma figura espacial: uma esfera. A distribuição de luz e
sombra permite percecionar três dimensões numa sensação ocular bidimensional.

ü Paralaxe do movimento: Para um observador parado, a velocidade com que um objeto passa
diante de si permite-lhe perceber a sua distância. Por exemplo, um avião a descolar parecerá
mais próximo do que outro que se desloca a grande altitude aparentemente mais lento. Para
um observador em movimento, o que parece seguir a mesma direção que a sua está mais
distante, relativamente ao que segue uma direção oposta, que está mais próximo. Por
exemplo, quando viajamos de comboio, os postes junto à linha ficam para trás,
contrariamente às montanhas à distância, que parecem acompanhar-nos.

ü Gradientes: O vetor gradiente também nos permite percecionar distância e profundidade.


Por exemplo, o aumento da densidade de um padrão num tabuleiro de xadrez permite-nos
perceber que a parte mais densa é aquela que nos é mais distante. A parte mais próxima será
menos densa.

A Teoria da Gestalt

O esforço de compreensão do que é a perceção e de quais as leis que a determinam levou ao


aparecimento da teoria gestaltista. Criada por Max Wertheimer, Wolfgang Köhler e Kurt Koffka,
antes da Segunda Guerra Mundial, esta teoria retira a sua designação do termo alemão "Gestalt",
que significa forma ou padrão. A Psicologia da Gestalt tem como princípio fundamental a ideia de
que o todo não é simplesmente a soma das suas partes.

O movimento destas imagens é uma ilusão que só existe como construção mental, já que a película
em si não tem o filme como algo autossuficiente. Trata-se, pois, de vários milhares de pequenos
"quadros" (chamados fotogramas) que, ao passarem sequencialmente pela máquina de projeção a
grande velocidade, dão origem à imagem em movimento, ao filme propriamente dito. Assim, o todo
(o filme) não é simplesmente a soma das suas partes (os seus muitos fotogramas) numa fita enrolada
numa bobina. Vejamos alguns dos princípios da Gestalt que ordenam a nossa mente.

A lei da figura-fundo

Tal como o texto indica, tendemos a destacar a figura, como uma coisa com forma, do fundo, como
um vazio informe. Por outras palavras, a nossa atenção centra-se num determinado elemento da
imagem, e exclui outros. A figura e o fundo nunca são percecionados ao mesmo tempo, mas
alternadamente.

Esta alternância fica facilmente demonstrada em ilustrações que invocam reversibilidade na


perceção. Na imagem ao lado, ou vemos um vaso branco, que é a figura (com forma) sobre um
fundo negro (informe), ou percecionamos dois perfis humanos (com forma) que se destacam de um
fundo branco (informe). Em qualquer dos casos, há sempre um fundo que se "afasta" e uma figura
que se "aproxima".

O destaque figura-fundo não é exclusivo da visão. A nossa perceção faz também, por exemplo,
sobressair a melodia de uma canção do ruído de fundo.

As leis do agrupamento percetivo

Além da lei figura-fundo, existem outras uniformidades percetivas que também obedecem a
regularidades discriminadas pela Teoria da Gestalt.

ü Princípio da semelhança: Este princípio estabelece que, quanto maior é a semelhança entre
elementos, maior é a probabilidade de serem percecionados como parte de um grupo
comum. Assim, na imagem que vemos ao lado, apesar de cada quadrado estar tão próximo
de um círculo como de outro quadrado, tendemos a percecionar os quadrados como
agrupados uns aos outros, em colunas verticais, e o mesmo acontece com os círculos. As
pessoas veem nesta imagem colunas verticais, feitas de círculos ou de quadrados, e não filas
horizontais, compostas de círculos e quadrados; ou seja: o que é comum é agrupado.

ü Princípio da proximidade: Este princípio afirma que objetos próximos uns dos outros tendem
a ser percebidos como um todo. Assim, na imagem que vemos ao lado, tanto os oito pontos
como as oito linhas tendem a ser organizados em grupos de dois. É praticamente impossivel
ver, por exemplo, a segunda e a terceira linha como membros de um mesmo par percetivo,
mas a primeira e a segunda, e depois a terceira e a quarta, e daí em diante, já são
percecionadas como um todo, isto é, enquanto pares percetivos resultantes da sua
proximidade.

ü Princípio da continuidade: Este princípio declara que os elementos que fazem parte de uma
sequência contínua tendem a ser percecionados em conjunto, já que existe a tendência para
preferir formas harmoniosas ou contínuas a formas descontínuas. Assim, na imagem que
vemos ao lado, tendemos a percecionar uma linha laranja que é curva (1), em vez de duas
linhas, cada uma com uma parte reta e uma parte curva (2) e (3).

ü Princípio do fechamento: A lei do fechamento, ou clausura, estabelece que figuras


incompletas tendem a ser vistas como completas, isto é, que há a propensão a preencher
lacunas ou espaços em branco quando os objetos estão agrupados, de modo a que o conjunto
possa ser percecionado como um todo. Assim, na imagem que vemos ao lado, o nosso
cérebro procura formas familiares, encontrando nesta um quadrado, um triângulo e um
círculo. Por outras palavras, o nosso cérebro une os espaços em branco.

ü Princípio da pregnância: Também chamado de princípio da simetria ou da simplicidade,


afirma que tendemos a organizar os estímulos percetivos ou objetos na sua forma mais
simples possível. Assim, na imagem ao lado, vemos cinco círculos, em vez de outras formas,
bastante mais complexas.
Ilusões percetivas e a influencia da cultura

Apesar de existirem vários mecanismos corretivos que se aplicam às sensações, ainda s assim a
perceção é falível. Na realidade, percebemos incorretamente determinados estímulos, e a
investigação tem revelado que muitas ilusões resultam, entre outros fatores, da má aplicação do
conhecimento que já temos de objetos tridimensionais a imagens planas - ou bidimensionais.
Vejamos algumas das ilusões mais conhecidas.

ü A ilusão de Muller-Lyer: Apesar de as duas linhas serem do mesmo tamanho, a linha em que
as setas apontam para dentro é percecionada como sendo maior do que aquela com as setas
a apontar para fora. A nossa mente ilude-nos quando nos dá a indicação de que estamos
diante de linhas de diferentes tamanhos.

ü A ilusão de Poggendorff: Apesar de as linhas diagonais (preta e vermelha) se encontrarem,


fica a impressão de que não o farão devido à interposição de uma estrutura intermediária: o
volume cinzento.

ü A ilusão de Ponzo: Apesar de as linhas horizontais azuis terem exatamente o mesmo


comprimento, a de baixo parece mais curta do que a do topo. Isto acontece porque a linha
de cima tem na retina o mesmo tamanho que a linha de baixo, mas, como está sobre uma
perspetiva linear (que já estudámos), sendo aí interpretada como estando mais longe, o
cérebro vê-a como sendo maior.

Cultura e perceção

Existem várias explicações para as ilusões de ótica, mas a investigação mostra que há um fator
cultural capaz de determinar ou não a sua eficácia, ou seja, a sua capacidade de iludir.

A ilusão de Ponzo, por exemplo, depende de o observador ter familiaridade com a perspetiva linear,
e esta pressupõe habituação a ambientes com linhas de ferro, estradas com marcação rodoviária,
prédios ou, simplesmente, casas com formas quadradas ou retangulares. Alguém que tenha crescido
num ambiente sem linhas direitas, com caminhos retorcidos, casas redondas, etc., dificilmente é
enganado com esta ilusão.

O mesmo parece acontecer com a ilusão de Müller-Lyer. Esta ilusão assemelha-se ao canto interior
(A) de um edifício, que está mais distante de nós do que um canto exterior (B) também de um
edifício, que parece estar perto de nós. Ora, quem tivesse crescido numa casa com forma circular, e
esse fosse o tipo de edificado com que habitualmente contactasse - como acontece em muitas
aldeias africanas - não seria iludido com facilidade com as formas das setas que apontam ou para o
exterior ou para o interior. Os zulus da Africa do Sul incluem-se neste grupo, contrariamente aos
povos urbanos sul-africanos que, estando habituados, por exemplo, a ver prédios altos ou
autoestradas, são mais facilmente lubriados por esta ilusão.

O Diapasão do Diabo, representado na imagem, também é diferentemente percecionado por


pessoas de diferentes culturas. Alguém proveniente da cultura ocidental tem muita dificuldade em
reproduzir no papel esta ilustração. Pelo contrário, um membro de uma tribo africana, pouco
familiarizado com a cultura ocidental, experimenta poucos problemas na sua reprodução. A explicar
aquela dificuldade parece estar a noção de que esta é uma figura "impossível", de que não é realista
presumir a sua existência a três dimensões, noção essa que não é partilhada universalmente - pelos
membros da tribo africana, por exemplo.

A noção de profundidade já estudada também dá origem a diferentes interpretações desta


ilustração de caça abaixo representada. Um ocidental, socorrendo-se do seu hábito de percecionar
diferenças de tamanho através, por exemplo, do mecanismo da grandeza relativa (ver atrás), afirma
que o elefante está mais distante, e, portanto, o caçador tenta caçar o antílope. Inversamente, um
membro de uma tribo africana isolada, não tão familiarizado com este mecanismo de perceção de
profundidade, presume que o caçador está a tentar caçar o elefante.

Estes exemplos mostram-nos que o fenómeno da perceção não é independente da cultura de quem
perceciona, pondo em causa explicações que vejam na fisiologia humana o único fator de
diferenciação na perceção.

Memória

A memória é uma das mais importantes faculdades humanas. Dela depende a definição de cada um
de nós, da nossa identidade pessoal, já que, ligando o passado ao presente, é possível encontrar
um sentido de continuidade: no que fomos, no que somos e autorizando uma especulação
minimamente sustentada sobre o que seremos. Falar de memória é, portanto, remeter para o ser
humano na sua relação com o tempo.

As nossas experiências pessoais, sejam elas de sucesso ou de fracasso - um namoro bem ou


malsucedido, a beleza de uma paisagem que vimos ou um acidente de bicicleta por falta de travões,
etc – informam a nossa ação no presente, fazendo também da memória algo essencial à nossa
sobrevivência diária.

Isso significa também que aprendemos com os erros e explica porque muitas vezes se diz que o ser
humano é um "animal de hábitos": evitamos o que nos prejudicou e repetimos o que nos beneficiou.
A memória está, portanto, ligada à aprendizagem.

É graças a ela que falamos e que, quando conversamos, nos entendemos porque partilhamos as
mesmas representações mentais linguísticas - todos sabemos o que representa palavra "Cão",
mesmo que tal animal não esteja diante de nós quando sobre ele conversamos. De forma implícita
ou explícita, sabemos de memória o que as palavras significam e, por isso, comunicamos, isto é,
tornamos algo comum.

*Memória: A memória é a capacidade de fazermos um registo do passado e de o evocarmos


posteriormente. É um processo através do qual se codifica, armazena e recupera informação.

Quando a informação sensorial chega ao nosso cérebro, dá-se início à codificação, isto é, à tradução
desses dados num código que pode ser acústico, visual ou semântico. Assim, considerada a
informação "O vencedor do Óscar de Melhor Filme em 2020 é Parasitas.", para a memorizar
podemos codificá-la como, respetivamente, uma certa configuração sonora, uma determinada
sequência de letras, um significado (o que este filme representou para nós), ou até uma conjugação
de tudo isto. A codificação tanto pode acontecer de forma automática como consciente e voluntária.
Por vezes, dado o volume da informação a memorizar, é preciso dar-lhe um código para mais
facilmente a registar e depois recordar. Uma mnemónica é um bom exemplo disso. Para uma
criança memorizar o número de dias de cada mês, ela aprende que, com o auxílio dos seus punhos
fechados, ao começar a contar pela extremidade de uma das mãos, os meses com 31 dias coincidem
com os dedos e os que têm 30 com os nós entre os dedos (fevereiro tem 28 ou 29 dias, mas,
coerentemente, fica associado a um nó, já que os de 31 dias calham somente nos dedos).

Depois, segue-se o armazenamento. Para poder ser recordada, a informação memorizada e,


portanto, já codificada, tem de deixar um registo - um traço mnésico ou engrama - no nosso sistema
mental. Esta fica armazenada e é aí conservada para uma futura recuperação. Onde as nossas
memórias ficam guardadas tem sido uma das questões mais complexas a que a ciência procura dar
resposta, mas sabe-se já que não há uma localização única. Experiências feitas com pacientes
submetidos a cirurgias cerebrais - com o córtex exposto, mas mantidos conscientes - permitiram
constatar que a ativação de uma mesma memória ocorre com a estimulação de diferentes pontos
do cérebro.

Por último, a recuperação. É o momento que, na linguagem do dia a dia corresponde ao "Recordo-
me que..." ou "Lembro-me agora...". Trata-se de recordar ou de reconhecer uma informação
previamente guardada, de a voltar a trazer à consciência e de a descodificar - daí que o sucesso
desta terceira etapa dependa muito do modo como se codifica a informação na primeira.

Há dois métodos muito comuns para se recuperar a informação codificada e armazenada: a


recordação e o reconhecimento. Na recordação pede-se ao sujeito para, ele próprio, reproduzir
uma resposta já aprendida a uma dada questão. No reconhecimento dá-se-lhe, por exemplo, um
conjunto de alternativas e este terá de identificar entre elas a verdadeira (por exemplo, nos testes).

Deste modo:

1. Codificação
2. Armazenamento
3. Recuperação

Tipos de memória

De acordo com uma das teorias mais consensuais na Psicologia, existem três tipos de sistemas de
armazenamento de memória: a memória sensorial, a memória a curto prazo e a memória a longo
prazo. O critério a que obedece essa distinção é conjuntamente o da função e o da duração de cada
um dos tipos de memória.

Memória sensorial

Não se dando muita atenção


Memória sensorial
às memórias, elas perdem-se
Informação Vista (visão)
em cerca de alguns segundos.
(estímulos sensoriais) Som (auditiva)
Está basicamente “colada ao
Outras memórias
estímulo”.
A memória sensorial é um registo momentâneo, de frações de segundo, de estímulos dos sentidos:
a imagem de um degrau debaixo dos nossos pés enquanto caminhamos, o som na fechadura da
porta de entrada de casa, o toque no botão do volume do comando de televisão, etc. A memória
sensorial é o primeiro armazém da informação que chega aos nossos órgãos recetores: ouvidos,
nariz, pele, etc.

Sem ela não perceberíamos, por exemplo, o movimento no cinema, já que, ele é o resultado da
passagem diante dos nossos olhos de vinte e quatro imagens por segundo; sem a memória
instantânea da imagem anterior, não percecionaríamos movimento na passagem para a imagem
posterior. Aplica-se o mesmo, por exemplo, à compreensão de uma palavra ou de uma frase, já que
as letras que compõem cada um desses conjuntos são sequenciais e não todas ditas em simultâneo.

Existem vários tipos de memorias sensoriais, cada um correspondente a um dos sentidos. Um deles
é a memória icónica, que regista informação obtida através da visão. Outro é a memória ecoica,
que retém informação proveniente dos ouvidos.

Sem a "porta de entrada" na mente humana que é a memória sensorial, nada percecionaríamos.
Mas, se nada acontecer de modo a manter o registo do aprendido, a informação pode perder-se
para sempre. Assim, de que depende a sua manutenção? Sobretudo da atenção.

Se nos focarmos num determinado estímulo em detrimento de outros, a barreira que separa a
memória sensorial da memória a curto prazo é ultrapassada. Daí que muitas vezes fiquemos
surpreendidos ao nos apercebermos de coisas que já vimos ou ouvimos muitas vezes, mas que não
tínhamos efetivamente observado ou escutado, por não termos prestado a devida atenção.

Memória a curto prazo

A memória a curto prazo - à qual também se pode dar o nome de memória de trabalho – é um
armazém no qual a informação é guardada apenas enquanto é útil. Deixando de o ser, é esquecida
(não completamente, já que alguma informação passa para a memória a longo prazo). É como uma
página de uma agenda: vamos avançando de registo em registo, ou de tarefa em tarefa, até ao final
do dia. Depois disso, a informação é preterida, porque já não é necessária para o dia seguinte. Uma
vez que ela resulta da atenção, é também este o patamar em que a informação tem, pela primeira
vez, significado.

Para que a informação se mantenha, a codificação ou recodificação é essencial. Uma das teorias
mais influentes quanto ao que conseguimos guardar na memória a curto prazo é de George Miller.

As suas experiências em Harvard permitiram-lhe estabelecer, em 1956, que sete itens (+2/-2) é o
"número mágico": 7, do que podemos conservar. Neste exemplo, conseguimos dizer "de cor" a
seguinte?

HBOTVISICNETFLIXRTPCNNRTPPLAY

À primeira vista, parece difícil ou até mesmo impossível memorizá-la, já que o número de
componentes é muito maior - são vinte e nove. A solução passa então por recodificar, reduzindo
uma vez mais vez a informação ao "número mágico". Assim, temos sete itens facilmente
reconhecíveis e, portanto, memorizáveis:
HBO TVI SIC NETFLIX RTP CNN RTP PLAY

Deste modo, pode aumentar-se a capacidade de armazenamento da memória de trabalho e, com


esta operação, é possível chegar ainda mais longe.

Sabemos, no entanto, que nem todas as nossas memórias de curto prazo se apagam. Podemos não
conseguir hoje repetir a façanha de obter 18 ou 19 valores num determinado teste de avaliação
sumativa que fizemos há anos, porque o que decorámos para o fazer, entretanto, já esquecemos.
Mas alguma coisa ficou e continua connosco. Concluída a tarefa, essas memórias que ficaram, e que
eram de trabalho, sofreram uma espécie de metamorfose. Passaram para a memória a longo prazo.
Então, de que depende essa passagem?

Sabe-se que a repetição pode ajudar, até porque mantém ativa a informação fixada na memória a
curto prazo, mas pode não chegar para haver uma efetiva memorização. De facto antes de um teste
estudamos muitas vezes a matéria, repetindo-a, e depois de concluído, com ele desvanece-se muita
dessa informação. É preciso então uma espécie de repetição qualificada, a que se dá o nome de
recapitulação elaborada. O essencial ligar a nova memória a memórias anteriores, a estruturas
preexistentes, a uma imagem que conhecemos bem e onde a conseguimos reconhecer.

Memória a longo prazo

A memória a longo prazo é o último armazém da memória. Desconhece-se qual é a sua capacidade,
mas sabe-se ser de uma vastidão imensa, até porque a informação é registada em redes semânticas
- ou de significado - em que as várias ideias se associam para formar um único conceito. O sistema
imensamente complexo que é o da memória a longo prazo subdivide-se noutros subsistemas. Entre
eles, o que se refere a uma distinção inicial entre a memória declarativa e a memória não
declarativa.

Esquecimento

Esquecer para memorizar

Imaginemo-nos a sair de um teste em que, por inúmeras vezes, tentámos recordar uma resposta
que tínhamos memorizado durante o estudo. Infelizmente, e apesar de precisarmos dela,
esquecemo-nos. Exatamente como quando, durante uma conversa, temos "na ponta da língua" uma
memória de que já tantas vezes falámos, mas simplesmente não conseguimos agora recuperar. O
esquecimento é, neste tipo de contextos, uma experiência infeliz e é quase sempre assim que o
percecionamos.

*Esquecimento: O esquecimento é a incapacidade de recordar, de reconstruir ou de recuperar uma


informação memorizada.

Se passarmos além da visão de que o esquecimento é algo negativo, percebemos que ele é
estruturalmente uma condição da memória. O esquecimento permite ao ser humano continuar a
memorizar, dado que evita o registo cumulativo de tudo o que percecionamos, que é muito.

Lembremo-nos, por exemplo, de tudo o que a nossa memória sensorial regista e logo aí percebemos
a imensidão de toda a informação que entra na nossa mente. A nossa adaptação à realidade requer,
de facto, que esqueçamos, sob pena de nos transformarmos em indivíduos socialmente inadaptados
e profissionalmente ineptos.

Por que razões nos esquecemos?


Perda de indícios Efeito de interferências Esquecimento motivado

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