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Durante muito tempo associou-se o conceito de mente á dimensão cognitiva do ser humano. Falar
em mente humana era o mesmo que falar em raciocínio, dedução, abstração, juízos e conceitos.
Passado algum tempo, compreendeu-se que o funcionamento mental não se reduz á dimensão
cognitiva, á produção racional, abstrata dos conhecimentos. Compreendeu-se que a mente humana
implicava também a emoção, os sentimentos, a afetividade e a ação.
Mente passa então a ser encarada como um sistema que integra os processos cognitivos e também
os processos emocionais e conativos. É uma manifestação total de processos dinâmicos que
interagem constantemente de forma complexa: os processos mentais implicam-se mutuamente de
forma integrada.
- Processos cognitivos: estão relacionados com o saber, com o conhecimento, reportam-se á criação,
transformação e utilização da informação do meio interno e exterior. Associam-se á questão “O
quê?”. No âmbito dos processos cognitivos, estudaremos a perceção, a memória e a aprendizagem.
Definir cognição
Segundo Marc Richelle, cognição é o conjunto de mecanismos pelos quais um organismo adquire
informação, a trata, a conserva, a explora; designa também o produto mental destes mecanismos,
quer seja encarado de um modo generalizado quer a propósito de um caso particular.
A perceção;
A aprendizagem;
A memoria
Definir perceção
A perceção é um processo cognitivo através do qual contactamos com o mundo, que se caracteriza
por exigir a presença da realidade a conhecer. Pela perceção, organizamos e interpretamos as
informações sensoriais. Por isso, a perceção começa nos órgãos recetores (sensoriais) que são
sensíveis a estímulos específicos.
A perceção é uma atividade cognitiva que não se limita ao registo da informação sensorial, implica
a atribuição de sentido, que remete para a nossa experiência. As perceções resultam de um trabalho
árduo de análise e síntese por parte do cérebro, destacando o seu caráter ativo e influenciado pelos
conhecimentos, experiências, expectativas e interesses do sujeito, é uma construção mental e uma
interpretação da realidade.
Embora a receção sensorial seja diferente para os diferentes órgãos dos sentidos, no processo
percetivo existe 3 elementos:
1- Estimulo físico;
As perceções não são cópias do mundo á nossa volta. A perceção não reproduz o mundo como um
espelho, o cérebro não regista o mundo exterior como um fotógrafo tridimensional: constrói uma
representação mental ou imagem da realidade.
Na perceção visual, que é a grande fonte de informação sobre o mundo, há todo um processo
biológico complexo em que o estímulo visual é transformado, não se projetando no nosso cérebro
como um slide num ecrã. Os estímulos luminosos, que sensibilizam a nossa retina, são codificados
em impulsos nervosos, que são transmitidos pelos nervos óticos às áreas visuais do córtex, que os
processam como uma representação.´
É no nosso cérebro que se vão estruturar e organizar as representações do mundo, é no cérebro que
se dá sentido ao que vemos e ouvimos. Por isso se diz que é no cérebro que se ouve, se vê, se sente o
frio, o calor, os cheiros, os sabores. A informação proveniente dos órgãos sensoriais é tratada pelo
cérebro. É nesta estrutura do sistema nervoso que ganha sentido e significado.
A visão que temos do mundo não é uma reprodução da realidade mas uma interpretação –
constância percetiva.
2- Constância da forma: um objeto nunca forma a mesma imagem retiniana: a luz é diferente, a
incidência e o angulo do olhar diferentes também, a distância muda constantemente. O
reconhecimento envolve sistemas elaborados em que intervêm a experiencia anterior do sujeito, as
memorias armazenadas, as aprendizagens do sujeito. Por exemplo, nós percecionamos a porta
como retangular, mas quando a abrimos ela perde essa forma.
3- Constância do brilho e da cor: mantemos constantes o brilho e a cor dos objetos, mesmo quando
as circunstâncias físicas nos dão outra informação. Percecionamos uma casa branca em plena luz
do sol e mantemos constante a cor, á noite, percecionamos o sangue sempre vermelho, a neve
sempre branca, independentemente da quantidade de luz
A nossa perceção do mundo é subjetiva, na medida em que percebemos o meio que nos rodeia em
função dos nossos conhecimentos adquiridos, necessidades, interesses, valores, expectativas e
experiências passadas. É importante perceber que não percecionamos de uma forma neutra e
objetiva, mas antes individual, parcial e subjetiva. E é devido a esta última característica que a
perceção nos permite antecipar acontecimentos e prever comportamentos, o que nos permite
prepararmo-nos para eles.
Por outro lado, a motivação e os estados emocionais de cada um têm grande influência na perceção
que o indivíduo tem da realidade numa dada situação, por exemplo, o nervosismo e o medo
implicam, regularmente, uma distorção e ampliação de factos que nos é incontrolável.
Também o interesse que os acontecimentos e assuntos nos despertam é importante para a perceção
já que os estímulos percetivos são selecionados pela nossa atenção e, por isso, tendemos a adquirir
mais conhecimentos nas áreas que mais nos fascinam.
Por fim, a subjetividade nota-se nas expectativas. Estas afetam as nossas perceções levando-nos,
frequentemente, à ilusão e consequente desilusão.
A forma como percecionamos o mundo varia com a cultura, com o contexto cultural.
Reconhecemos que o modo como um chines, um europeu, um americano ou um indiano
representam o mundo, é diferente.
A perceção de profundidade é também afetada pela cultura. A diferença de tamanhos entre objetos
é interpretada como estando a distâncias diferentes: por exemplo um lápis estando mais longe,
parece mais pequeno.
Definir memoria
A memória pode ser entendida como o registo de todas as experiências existentes na consciência,
bem como a qualidade, extensão e precisão dessas lembranças. A memória é a capacidade do
cérebro em armazenar, reter e recordar a informação.
Não podemos conceber a vida humana sem memória. É a partir das informações que o indivíduo
possui que se adapta ao meio e atribui significado às experiências vividas. Sem ela, seria impossível
a transmissão e desenvolvimento cultural. O homem seria um ser puramente biológico.
Cabe ao cérebro selecionar o que é relevante para assegurar a própria sobrevivência do individuo e
da espécie. Se registássemos e recordássemos todos os estímolos, seriamos incapazes de responder
adequadamente ao que efetivamente é importante.
O que o cérebro determina como importante, ou não, ocorre no processo percetivo propriamente
dito e no processamento da informação:
2. Armazenar a informação;
Existem dois tipos de recordações, aquelas que nos vêm automáticamente á memória (Quantos
anos tens?) e aquelas que requerem algum esforço (Quais os processos de mundialização?). É nos
casos de maior esforço que nós iremos tentar associar a pergunta a alguma coisa para que a
recordação seja mais facil e a isto chamamos de reconhecimento e de seguida após associarmos as
coisas iremos tentar lembrarmo-nos exactamento aquilo que estas significam, o que é a evocação.
A memória a longo prazo é um tipo de memória que é alimentada pelos materiais da memória a
longo prazo que são codificados em simbolos. A memória a longo prazo retém os materiais durante
horas, meses ou toda a vida.
Na memória imediata o material fica retido durante uma fração de tempo – cerca de 30 segundos.
Na memória de trabalho o tempo pode-se alongar se repetirmos mentalmente a informação. Neste
tipo de memória intregam-se outros registos em que a informação se pode manter durantes horas
(por exemplo, teres que trazer um teste assinado no dia seguinte). Qualquer informação que tenha
estado na memória a curto prazo e que se tenha perdido estará perdida para sempre, só se
mantendo se transitar para a memória a longo prazo.
Memória não declarativa: memória automática, que mantém as informações subjacentes á questão
“Como?” (como andar de bicicleta? Como lavas os dentes? Como apertar as sapatilhas? Como
conduzir um carro?)
Quando desenvolvemos estes comportamentos, não temos consciencia de que são capacidades que
dependem da memória. O exercicio, o hábito, a repetição do conjunto das práticas tornam essa
atividade automática. Muitos dos nossos comportamentos são essenciais á vida do dia a dia,
dispensando a nossa atenção. Para executarmos estas atividades não é requerida a localização no
tempo, nem reconhecimento, a não ser que nos perguntem por exemplo para explicarmos por
palavras como se atam as sapatilhas. A maior parte destes comportamentos envolvem a atividade
motora. A memória não declarativa é também designada por memória implicita ou se registo.
b. Memória semantica refere-se ao conhecimento geral sobre o mundo. Neste tipo de memória não
há localização no tempo, não estando ligada a nenhum conhecimento ou ação especificos, nem
referenciado e nenhum facto especifico do passado.
Reconhecer que a memoria é um processo ativo que reconstroi os dados que recebe
A memória é um processo ativo e dinâmico na medida em que não reproduz fielmente aquilo que
armazenou. A memória reconstrói os dados, o que implica que dê mais relevo a uns, distorça outros
ou mesmo os omita. Por outro lado, quando os acontecimentos são muito emotivos, a memória deixa
escapar pormenores que depois são substituídos/reconstruídos pelo cérebro. Quem conta um conto,
acrescenta um ponto e, assim, quanto mais se reproduz o que aconteceu, mais elaborada e complexa
vai ficando a história, chegando a um ponto em que muitos factos não passam de imaginação.
No entanto, as representações que temos são sempre tão claras como se fossem plenas reproduções
da realidade, o que faz com que este processo ativo e dinâmico nos passe completamente
despercebido. Por este motivo, o mesmo acontecimento pode ser descrito de formas bastante
diferentes por diferentes pessoas. Não mentem, apenas têm diferentes interpretações resultantes de
diferentes sentimentos, emoções e atenção.
O esquecimento está, normalmente, mais relacionado com a memória a longo prazo uma vez que,
na memória a curto prazo, o tempo de retenção da informação é demasiado curto: esta ou passa
para a memória a longo prazo ou é apagada.