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Cognição ➙ É na mente que se dá a atividade psíquica e onde se

consta a noção de "Eu", sendo um sistema que não se


➙ O processo de tomada de decisão é entendido como limita a captar informação do exterior, mas que atribui
uma relação complexa entre diversos processos: um significado a essa mesma informação em função da
qualidade de rede neural, das experiencias anteriores do
individuo e das influencias sociais e culturais.
Processos cognitivos
➙ consistem na criação, transformação e utilização da ➙ Isto confere à mente um caráter único, subjetivo e
informação recebida do meio no sistema sensorial, onde pessoal.
é tratada e armazenada.
Cognição Emoção Motivação
➙ No exemplo dado, estes processos estão relacionados Conhecer Sentir Agir
com a pesquisa sobre os cursos ou profissões que te “O quê” “Como” “Porquê”
permitam perceber quais serão as melhores escolhas.

➙ Relacionados com o processo de conhecimento e com Sensação


o tratamento e interpretação da informação: perceção, ➙ Reação dos órgãos recetores sensoriais aos estímulos
aprendizagem e memória. do meio. Implica:

(1) a existência de um estímulo, por exemplo, visual,


Processos emocionais sonoro, tátil, olfativo ou gustativo,

➙ integram aspetos relacionados com a dimensão (2) uma impressão provocada no recetor e transmitida
afetiva e sentimental. ao sistema nervoso central e

(3) um processo psicofisiológico que dá origem à


➙ No exemplo, estes processos vão orientar as tuas
sensação.
escolhas, de acordo com o que entendes que pode
trazer-te mais realização e felicidade.
Os sentidos
➙ Estão na origem dos estímulos sensoriais que, desde
Processos motivacionais o ambiente intrauterino, nos informam sobre o mundo
exterior e o estado do nosso próprio corpo.
➙ coincidem com a energiza usada na concretização de
objetivos e resultam da articulação com a cognição e a
emoção.
O ponto de partida das sensações
➙ Se estiveres motivado, por muito que o caminho seja
exigente, vais investir mais energia nas escolhas para ➙ São os recetores sensoriais, isto é, as células
que te sentes estimulado. localizadas nos órgãos dos sentidos.

➙ São eles que permitem transformar a energia do


estímulo (luminoso, mecânico ou químico) num impulso
Cognição
elétrico, que segue, através do sistema nervoso, até ao
➙ Todas as formas de conhecimento e consciência, tais cérebro, onde é processado e interpretado.
como: perceber, memorizar, aprender, raciocinar,
➙ Cada recetor sensorial é especializado em detetar um
imaginar, resolver problemas, etc.
estímulo específico do ambiente.
➙ é o conjunto de mecanismos através dos quais cada
um de nós adquire, trata, conserva e explora informação,
produzindo conhecimento. Exemplo:

➙ os recetores sensoriais da pele são sensíveis a


estímulos táteis, como a pressão, a vibração, a textura
Mente
ou a temperatura, enquanto os dos olhos são sensíveis à
➙ Conjunto dinâmico de processos cognitivos, luz e às cores.
emocionais e conativos, onde se conjugam fenómenos
➙ Sem elas não teríamos acesso aos estímulos do meio.
conscientes e inconscientes.
➙ Existem mais para além dos cinco sentidos (visão,
audição, olfato, paladar e tato).
Limiar absoluto e limiar diferencial
➙ Se, por exemplo, te vendarem os olhos e te puserem
➙ O sistema sensorial humano é capaz de detetar
numa estrutura inclinada, mesmo sem veres, sabes que
diferenças minimas no ambiente, mas não é capaz de
estás num plano inclinado. Consegues percebê-lo graças
identificar todos os estímulos recebidos.
às sensações resultantes do funcionamento do teu
ouvido interno e da cinestesia, que te orientam no ➙ Isso ocorre quando o sinal é muito fraco ou quando
espaço e te informam sobre o estado de equilíbrio do está fora do intervalo que os sentidos são capazes de
teu corpo. perceber.

➙ Todos os sentidos são importantes para a nossa Limiar absoluto


sobrevivência e interação com o mundo, alertando-nos
para as condições e perigos do meio e para o estado do ➙ É a quantidade mínima de energia que um estímulo
nosso organismo. tem de ter para ser identificado em pelo menos
cinquenta por cento das vezes em que ocorre.

Limiar diferencial

➙ É a diferença mínima necessária entre dois estímulos


para que sejam reconhecidos como distintos um do
outro.

➙ Por exemplo:

- no sistema de construção de cores aditivas RGB, usado


nos ecrãs de equipamentos eletrónicos, pode haver mais
de 16 milhões de cores diferentes.

- Todavia, há muitas cores diferentes, em termos


absolutos, que são percecionadas como iguais, apesar
de terem uma combinação dos três canais de cor -
vermelho (R), verde (G) e azul (B)) - diferente.

➙ A visão humana, dadas as semelhanças entre as


inúmeras cores deste espectro, perceciona-as como
equivalentes.

➙ Exemplo:

- O MP3 usa uma tecnologia de compressão que elimina


parte do áudio, diminuindo o tamanho do ficheiro cerca
de 10 vezes, sem que a maior parte de nós se aperceba
das diferenças.
➙ Os recetores sensoriais estão preparados para captar
- As partes suprimidas não são audíveis pela maior parte
diferenças minimas no ambiente.
das pessoas.
➙ Mas quão sensíveis são?
- As supressões são praticamente impercetíveis,
exatamente porque exploram as limitações da audição
humana.
Psicofísica
➙ Outra importante descoberta da psicofísica refere-se
➙ A psicofisica tem-se preocupado em encontrar à:
respostas para esta questão e em perceber como a força
e a intensidade de um estímulo afetam a sensação que o Adaptação sensorial
observador experiencia.
➙É a tendência para o declínio da capacidade de
➙ Das investigações da psicofísica emergem dois resposta a estímulos imutáveis, constantes ou
conceitos fundamentais: limiar absoluto e limiar repetitivos.
diferencial.
➙ Por exemplo: • Motivações

- se pões perfume de manhã, sentes imediatamente o • contexto social e cultural


seu odor, mas, passados poucos minutos, deixas de
notar este conjunto de estímulos.

- Isso não significa que o perfume tenha perdido


completamente a sua intensidade, mas antes que te Leis da perceção
habituaste ao cheiro.
→ Estruturação ou agrupamento

→ Discriminação figura fundo


Perceção
→ Pregnância ou boa forma (Gestalt)
➙ Processo cognitivo que consiste na interpretação e
→ constância percetual
organização dos estímulos provenientes do meio
(interno ou externo) através dos órgãos sensoriais

- Estimulos sensoriais (cores, odores, texturas, sons... )

captados pelos orgãos sensoriais Estruturação/Agrupamento

- convertidos em impulsos nervosos e conduzidos as ➙ Tendência para organizar ou estruturar os diferentes


sistema nervoso central e ao cérebro elementos que vemos porque são semelhantes ou
porque estão próximos
- Interpretação destes impulsos em função de
experiências, motivações e aspetos culturais.

Discriminação figura-fundo
Sensação e perceção ➙ o nosso cerebro tende a destacar figuras a partir de
um plano de modo a conferir sentido aquilo que vê.
➙ Enquanto a sensação diz respeito ao modo como os
recetores sensoriais captam os estímulos e aos ➙ Esta capacidade é inata no ser humano, pois cegos de
mecanismos que permitem que essas informações sejam nascença a quem foi dado na idade adulta a
transmitidas ao cérebro, a perceção refere-se ao: possibilidade de começar a ver, também são capazes de
discriminar figuras num fundo neutro.
➙ processamento posterior da informação sensorial,
cujo resultado são as representações ou construções
mentais dos estímulos.
Pregnância ou boa forma (Gestalt)
➙ A perceção corresponde, assim, ao processo que nos
permite: ➙ temos tendência para percecionar as formas mais
simples e regulares , simétricas e equilibradas:
Exemplo:
➙ Assim, percecionamos um quadrado ou uma flor
- olhar para uma fotografia e, mais do que formas e mesmo quando eles verdadeiramente não estão lá
cores, reconhecer pessoas importantes das nossas vidas,
atribuir sentido e significado a um pôr do sol, a uma
composição musical ou até mesmo à nossa comida Organização percetual
favorita.
➙ forma como percebemos o que nos rodeia, envolve
um conjunto de aspetos que, desde cedo, despertaram a
Fatores do significação curiosidade dos psicólogos, em particular dos associados
ao movimento gestalt (ou Psicologia da forma).
➙ Nem todos percecionamos o mundo do mesmo
modo, pois ha fatores de significação que fazem da
perceção algo pessoal e único: Gestaltismo
• estruturas fisiológicas

• Experiências anteriores
➙ defendia que organizamos a realidade separando - quando é possível percebermos a profundidade apenas
figura e fundo e agrupando as unidades percetivas de com a visão de um olho.
modo a ganharem significado.

Por exemplo:
Indicadores monoculares de profundidade
- enquanto lês este texto distingues as letras (figura) do
papel branco onde estão impressas (fundo) e agrupa-las
(em palavras e frases) de forma a fazerem sentido para Interposição (sobreposição/oclusão)
ti.
➙ A sobreposição parcial das figuras permite-nos
➙ O mesmo acontece com uma melodia (figura) cujas perceber a sua localização face a outras e a distância que
notas se agrupam e destacam face aos ruídos ambientais mantêm relativamente ao observador.
(fundo).
Exemplo:

- O vaso com pigmento verde do canto inferior esquerdo


Obras de Escher está mais próximo do observador do que o que contém
pigmento castanho, pois esconde-o parcialmente.
➙ Mostra que aquilo que num dado momento é
percecionado como figura ou forma pode não o ser, caso
a perspetiva do observador se altere.
Paralaxe de movimento
➙ O gestaltismo estabeleceu a base dos estudos atuais
➙ Aos olhos de um observador, o movimento próprio é
sobre a perceção.
acompanhado pelo movimento das coisas do mundo em
➙ Os princípios que os psicólogos da forma redor.
identificaram mantêm-se como explicações racionais de
➙ Com velocidades e direções distintas, os objetos que
certos aspetos da perceção, ainda que não abarquem o
estão mais próximos parecem mover-se mais
fenómeno no seu todo.
rapidamente e no sentido contrário ao do observador,
➙ São frequentemente usados, por exemplo, em acontecendo o inverso com objetos mais distantes.
marketing e publicidade.

Tamanho relativo
Profundidade e à constância percetiva
➙ Quanto mais pequeno surge na retina do observador,
➙ Para além dos aspetos relacionados com a distinção mais distante parece aquilo que é observado.
entre figura e fundo e com os princípios de agrupamento
Exemplo:
das unidades percetivas, outros, nomeadamente os
relativos à perceção de profundidade e à constância - os dois jogadores que ocupam o centro da imagem
percetiva, captaram também o interesse dos estarão mais próximos do observador do que os
investigadores. restantes jogadores que surgem na fotografia.

➙ Organizarmo-nos num espaço tridimensional implica:

- sermos capazes de fazer estimativas quanto à Gradiente de textura


profundidade e à distância dos objetos.
➙ Quanto mais próximos se encontram os itens de uma
➙ Para o efeito, recorremos a: superfície uniforme, mais detalhados e separados se
apresentam ao observador.

➙ Pelo contrário, quanto mais distantes, mais


Indicadores de profundidade
sobrepostos e indiferenciados parecem.
➙ binoculares (visão binocular):

- quando os dois olhos estão simultaneamente Perspetiva linear


implicados na perceção da profundidade

➙ monoculares (visão monocular):


➙ Linhas e itens aparentemente paralelos convergem - por outro, o caráter dinâmico da perceção facilmente
para pontos de fuga à medida que se aproximam do conduz ao erro na interpretação da realidade recebida
horizonte. pelos sentidos.

➙ Quanto mais convergentes as linhas e itens ➙ O cérebro, por vezes, interpreta incorretamente a
parecerem ao observador, maior a perceção de distância informação e deixa-se enganar na forma como percebe a
e profundidade. realidade.

Sombra e luz Ilusões

➙ Através destas duas propriedades, o observador ➙ são perceções distorcidas de uma situação e são
consegue interpretar as imagens bidimensionais como produzidas por fatores físicos ou psicológicos.
se tivessem propriedades tridimensionais.
➙ Resultam, portanto, da deficiente captação e
interpretação dos estímulos.

Constância percetiva

➙ Tendência para percecionar os objetos do mesmo Experiência


modo, apesar de serem capturados de ângulos e
➙ Através do dispositivo conhecido como precipício
distâncias diferentes, mesmo que os estímulos sejam
visual, Eleanor Gibson e Richard Walk desenvolveram
alterados ha uma resistência à mudança da perceção
experiências para testar:
que é efetuada.
- a perceção da profundidade em bebés, tendo
➙ Isso sucede no nível da visão com a forma, o tamanho
descoberto que, mesmo quando incentivadas pelos
e a cor.
adultos, as crianças demonstram relutância em
➙ É o mecanismo que estabiliza o mundo que nos aventurar-se para a parte aparentemente mais profunda
rodeia, garantindo-lhe imutabilidade em termos de do dispositivo.
tamanho, forma, localização, brilho e cor.
➙ Para além da organização percetual, a interpretação
Exemplo: da informação sensorial implica também a atribuição de
sentido aos estímulos.
- Num quarto às escuras, apesar de não conseguirmos
ver corretamente as cores, sabemos que, quando se
acender a luz, a parede continuará da cor que era.
Predisposição percetiva
➙ A constância percetiva garante-nos:
➙ Mostra que os indivíduos e os grupos sociais podem
- a estabilização das sensações e a sua coerência. atribuir significados diferentes à realidade física,
reconstruindo-a, e, muitas vezes, percebendo situações
de modo diferente.
Distúrbios percetivos Exemplo:
➙ os distúrbios percetivos são falsas perceções, isto é, - O efeito dos estereótipos e dos preconceitos na
perceções ás quais o sujeito atribui significações perceção.
inadequadas, como é o caso das ilusões.

➙ Tal como a sensação, a perceção também pode ser


iludida. Influencia da cultura

➙ O facto de a perceção desempenhar um papel ativo e ➙ A cultura está presente na forma como
de completar ou contextualizar os dados recebidos nos percecionamos o meio, influenciando-a, e como nos
sentidos, potencia as ilusões percetivas. deixamos ou não enganar pelas ilusões.

➙ Se,

- por um lado, a perceção é essencial para criar Memória


coerência nas sensações recebidas
➙ Capacidade para adquirir, conservar e restituir - Captamos sensorialmente informação que deixa em
informação. nós uma marca pela sua relevância (traço menesico ).

➙ É a habilidade para adquirir e conservar informação - Esta informação é traduzida num código acústico
ou representações da experiência passada com base nos (padrão de sons), visual (sequência de letras e/ou
processos mentais de codificação, retenção e algarismos) ou semântico (pelo seu significado), de
recuperação. modo a poder ser armazenado.

➙ É um campo complexo de processos baseados em - Nós recordamos este código de forma como foi
mecanismos biológicos e psicológicos. memorizado.

A importância da Memória ➙ Armazenamento

➙ A memória permite-nos: - O código memorizado é mantido para utilização


posterior, podendo manter-se na memória por
• Conservar informações relativas ao mundo exterior diferentes períodos de tempo.
(nomes, factos, datas, ente outros).

• A adaptação ao meio e a sobrevivência (evitando


comer alimentos que sabemos serem tóxicos, por ex.) ➙ Recuperação da informação:

• Conservar a nossa identidade pessoal (quem sou, - Trata-se de nos lembrarmos da informação
como cheguei aqui). anteriormente armazenada

• Adquirir novos conhecimentos e mantê-los


Saudade

➙ é um sentimento muito valorizado, no entanto, ele só


é possível porque guardamos memórias e somos
Memória enquanto função dinâmica e criativa
capazes de evocar o nosso passado.
➙ Esta capacidade de criar registos das nossas
➙ Exemplo:
interações, que são retidos para mais tarde poderem ser
recordados, diz respeito à memória enquanto função - Queres memorizar a letra de uma canção.
dinâmica e criativa.
- Tens de começar pela codificação, isto é, tens de
➙ Estas três operações: transformar a canção em representações e códigos.

- criar, reter e recordar - são interdependentes, pelo que - Podes codificar a canção a partir das palavras usadas,
o sistema de memorização só funciona eficazmente se: da sequência de sons ou do seu significado, ou seja,
podes recorrer a um código:
- procedermos à codificação, ao armazenamento e à
recuperação da informação. - visual, acústico ou semântico.

- Para que possa ser recordada, a informação codificada


tem de deixar um registo no sistema nervoso - o traço
mnésico -, que é guardado para poder ser utilizado
posteriormente.

- A canção, uma vez codificada, é então armazenada no


cérebro.

- Quando tentares extrair o traço mnésico armazenado


de entre todos os outros, dá-se a recuperação da
informação.
Processo de memorização

➙ Aquisição e codificação
Teorias do processamento da informação

- Separam a memória em três subsistemas:


➙ Memória sensorial (ou depósito de informação ➙ Exemplo:
sensorial);
- Os campeonatos de memória em que os competidores
➙ Memória de curto termo (ou memória de trabalho); procuram associar histórias criadas por si à sequência de
cartas, a forma como direcionamos a atenção para
➙ Memória de longo termo. aquilo que pretendemos memorizar faz toda a diferença,
quer na quantidade, quer na qualidade da memorização.

➙ Estes três tipos de memória diferem entre si em ➙ A memória sensorial preserva:


vários aspetos, nomeadamente quanto à sua: - a informação em estado bruto por frações de segundo -
- natureza registos sensoriais iconicos (imagens) , ecóicos (som),
táteis, olfativo, etc...
- período de permanência da informação
➙ Se lhes prestarmos atenção, codificamo-los e são
- capacidade de armazenamento. transferidos para outros sistemas de armazenamento se
nao, sao esquecidos.

Efeito de recência

Exemplo:

- não estás a prestar muita atenção a uma aula, é


possível que consigas lembrar-te das últimas palavras
ditas pela professora (efeito de recência), contudo muito
dificilmente conseguirás estabelecer as ligações entre
essas palavras e os conteúdos que estão a ser
lecionados, pois a atenção é muito importante para
transferir a informação para a memória de longo termo.

➙ Quando estás numa aula e os teus colegas estão a


conversar na mesa ao lado da tua, tens de te abstrair da
conversa deles para conseguires concentrar-te.

➙ Dito de outra forma, tens de abstrair-te de alguns


estímulos para conseguires concentrares-te noutros.
Diferentes memórias sensoriais (MS)

➙ Constituem a primeira etapa no estabelecimento de


um registo duradouro das nossas experiências e são, por Atenção
isso, uma fase importante no processamento global da
➙ Fixação da mente num determinado objeto.
informação.
➙ Estado de consciência em que os sentidos estão
➙ Permitem:
focados em certos aspetos do ambiente e o sistema
- conservar as características físicas de um estímulo nervoso central está em estado de prontidão para
(visual, auditivo, olfativo, tátil ou gustativo) captado responder a estímulos.
pelos órgãos sensoriais durante algumas frações de
➙ Pode falar-se de atenção seletiva e de atenção
segundo.
dividida.
➙ De entre todas as memórias sensoriais, as mais
estudadas têm sido a:
Atenção seletiva
- memória sensorial visual - ou memória icónica
➙ É o que permite concentrares-te em tarefas simples,
- memória sensorial auditiva- ou memória ecoica.
como ler um livro ou conversar com um amigo.
➙ Não existe passagem para a memória de curto termo
(e, consequentemente, para a memória de longo termo),
se não houver um investimento da atenção. Atenção dividiva
➙ Por vezes, temos de focar os nossos sentidos em mais
do que um estímulo em simultâneo ou temos de focar a
nossa atenção em mais do que uma tarefa.

Exemplo:

- O uso de telemóvel durante a condução.

➙ Vários estudos com condução simulada mostram que


dividir a atenção com uma conversa ao telemóvel
duplica a probabilidade de não se prestar atenção aos
sinais de trânsito ou ter tempos de reação superiores
quando os detetamos.

MCT ➙ é mais fácil recodificar palavras quando conseguimos


atribuir-lhes um significado, porque agrupamos
➙ Graças à atenção, uma parte da informação que conjuntos de letras significativas entre si.
chega aos órgãos sensoriais é transferida para a
memória de curto termo (MCT).
Efeito de primazia e de recencia
Capacidade deste tipo de memória
➙ No caso de tentarmos memorizar uma lista de
➙ Tal como acontece com a sua duração, é limitada,
palavras maior do que o conjunto antes apresentado, há
sendo da ordem de:
uma forte tendência humana para memorizarmos as
- sete dígitos (capacidade digital) ou sete palavras primeiras palavras (efeito de primazia) e as últimas
(capacidade verbal) na sua forma auditiva palavras do conjunto (efeito de recência), sendo a
probabilidade de recordação significativamente menor
- sete elementos distintos na sua forma visual.
para as palavras do meio da lista.
➙ São estas sete unidades que te permitem recordar
➙ A maior parte da informação que a ela chega perde-
uma série de letras sem sentido aparente depois de as
se instantes depois ( a não ser que a repitamos e
agrupares em unidades menores e significativas.
reutilizemos).

➙ Este esquecimento rapido tem uma vantagem:


A memória de curto termo (MCT) possibilidade de chegada de novos itens

➙ Permite:

- não apenas a exploração da informação da memória


sensorial

- como contribui para manter presente informação que


se encontrava guardada na memória de longo termo
(MLT).

➙ Há vários fatores que contribuem para que uma


informação seja transferida para a memória de longo
termo:

➙ recapitulação na memória:
Memórias de longo termo
- quando a informação é repetida várias vezes,
mantemo-la na memória de trabalho, o que aumenta a ➙ Por norma, os cientistas dividem as memórias de
probabilidade de ser transferida para a memória de longo termo em dois tipos:
longo termo.
➙ implícitas (procedimentais)-
- incluem procedimentos e ações transcrição meticulosa e absolutamente perfeita dos
acontecimentos.
- são coisas que sabemos, mas nas quais não
pensamos de forma consciente, são hábitos e ➙ Porém, a verdade é que o trabalho do cérebro como
capacidades motoras, como andar de bicicleta ou gravador é francamente mau.
desenhar uma forma.
➙ A memória humana está muito longe de ser um
➙ explícitas (declarativas) registo fotográfico fiel e objetivo de factos e
acontecimentos.
- incluem factos e proposições
➙ Inclui esquecimentos (que aumentam
- dizem respeito às coisas que sabemos por termos
progressivamente com a idade), distorções, falsas
lembrança, como a cor dos olhos da avó ou os
atribuições e, inclusivamente, efabulações e mentiras
acontecimentos de ontem à tarde.
descaradas, mesmo que inconscientemente construídas.
- distingue-se entre memória episódica ou
autobiográfica (relativa à nossa narrativa e história ➙ Habitualmente, usamos o termo esquecimento para
pessoal) e memória semântica (associada ao conceito nos referirmos aos casos em que a memória falha.
de cultura geral). ➙ Estas falhas de memória podem ter variadíssimas
- são memórias declarativas. causas, como, por exemplo, quebras na atenção ou erros
na codificação (o que implica que não estejamos a falar
Em síntese, podemos esquematizar a estrutura verdadeiramente em esquecimento, mas em informação
hierárquica dos sistemas de memória da seguinte forma: que não chegou a ser memorizada).

➙ Estas falhas podem ainda dever-se a dificuldades em


recuperar os dados guardados na memória de longo
termo.

➙ O esquecimento é a incapacidade de recuperar um


informação aprendida

➙ Pode dar se por:

• falhas na codificação da informaçao.

• Deteriorização do traço mnesico

• Interferência de novas ou de velhas aprendizagens


(inibição retroativa ou pró-ativa).
➙ A memória a longo prazo recebe a informação
significativa que resiste ao esquecimento na memória a ➙ É fundamental, pois liberta informação
longo prazo. desnecessária, permitindo a entrado de novos dados.

➙ Possui uma capacidade virtualmente ilimitada e Perturbações da memória:


durante longos períodos de tempo (mesmo por toda a
➙ Amnésia de fixação: incapacidade de adquirir e reter
vida)
novos dodos.
➙ Diferentes memórias são armazenadas em diferentes
➙ Amnésia de evocação: incapacidade de recordar
pontos do cérebro, não havendo uma única localização .
dados já adquiridos

➙ Hipermnésia: perda da capacidade de esquecer


O esquecimento
➙ Paramnénia: reconhecimento indevido dos facto;
➙ Fotografia, gravador, espelho e disco rígido são sensação de tomar o passado pelo presente.
algumas das analogias a que normalmente recorremos
para descrever a memória. Teorias sobre as razões do esquecimento

amplamente aceites pela comunidade científica:


➙ Se repararmos, todas elas sugerem precisão
mecânica, como se a mente fosse um dispositivo de ➙ Teoria da interferência
- defende que há uma competição entre informação, recordar-nos, mas ao de cometermos erros no momento
isto é, que as novas informações se intrometem, de recuperar informação da memória de longo termo.
levando-nos a distorcer ou a esquecer as anteriores.
➙ Em resultado disso, muitas vezes é feita uma
- o mesmo modo, a informação já retida pode ter descrição muito sincera, mas equívoca ou falsa, de
influência sobre a nova informação, deturpando as eventos ocorridos.
novas memórias ou dificultando a sua integração.
➙ Por outras palavras, mentimos sem querer, porque,
➙ Teoria da degradação ao recordarmos, acabamos por, involuntariamente,
reconstruir o passado com base no que pensamos e
- postula que o fragmento original de informação vai,
sabemos e não no que recordamos.
por si só, desaparecendo gradativamente, como um risco
de tinta que se desvanece com o tempo, a menos que ➙ Por vezes, guardamos memórias distorcidas que
façamos algo para o manter intacto. tomamos como reais.
- Por outras palavras, temos tendência para esquecer ➙ Constantemente modificada ao longo da experiência,
as memórias que não são utilizadas (o que explica por a memória humana é construída e reconstruída a cada
que razão muitas vezes não consegues recordar-te de instante, sofrendo influências permanentes da
matéria que estudaste em anos anteriores, apesar de na educação, da comunicação com os outros, da
altura a dominares corretamente). interpretação pessoal dos acontecimentos e dos factos,
da leitura e dos meios de comunicação social, dos
valores e anseios, enfim, da imagem que temos de nós
próprios, dos outros e do mundo.

➙ Memória, esquecimento e imaginação caminham


lado a lado na construção das nossas lembranças
pessoais. Isso mesmo defende a psicóloga Elizabeth
Loftus que, desde a década de 1970, investiga a
falibilidade da memória humana.

➙ Quão fidedignas são as nossas memórias de crimes


ou acidentes? Quão fiáveis são os nossos testemunhos
sobre o que vimos ou ouvimos?

➙ As investigações de Elizabeth Loftus e John Palmer


começaram com um conjunto de experiências muito
Falhas de memória simples, conhecidas como:

- teste de veracidade das testemunhas oculares.


➙ Podem também ter origem em lesões no tecido
cerebral: ➙ Num primeiro momento, os participantes eram
convidados a observar curtos filmes sobre colisões
➙ Amnésia anterógrada: perturbação da memória na
rodoviárias num cruzamento onde existia um sinal de
qual, após uma lesão no tecido cerebral, o indivíduo não
cedência de passagem.
é capaz de formar novas recordações, mas não tem
dificuldade em lembrar o que aprendeu antes da lesão ➙ Depois, metade dos intervenientes recebia a sugestão
(anterógrada significa para diante). de que o sinal de trânsito era um sinal de paragem
obrigatória.
➙ Amnésia retrógrada: perturbação na qual o
indivíduo sofre uma perda de memória de um período ➙ Por fim, era solicitado aos indivíduos que
anterior à época da lesão cerebral, contudo mantém a respondessem a questões sobre o que tinham visto.
capacidade de formar novas memórias (retrógrada
significa para trás). ➙ Quando questionados sobre que sinal de trânsito se
lembravam de ter visto no cruzamento, os que haviam
sido sugestionados tendiam a afirmar que tinham visto
As memórias inventadas um sinal de paragem obrigatória, um STOP; aqueles que
não tinham recebido a falsa informação eram muito
➙ Frequentemente, os problemas da memória não mais precisos na lembrança do sinal de trânsito.
estão associados ao facto de não conseguirmos
➙ Noutra versão desta experiência, os participantes ou desajustadas, aprender a não dizer palavrões ou a
assistiram ao mesmo tipo de filmes e, em seguida, não roer as unhas, por exemplo.
responderam a perguntas sobre eventos neles ocorridos.
➙ O âmbito da aprendizagem pode ser delimitado de
➙ A experiência implicava alterar o verbo usado na forma mais precisa pelos quatro pressupostos seguintes:
questão colocada e ver até que ponto isso tinha
- A aprendizagem não se reduz a conhecimentos
influência na estimativa da velocidade a que os
factuais, isto é, todos os comportamentos - incluindo
participantes achavam que os carros circulavam no
habilidades motoras e relacionamento social -
momento do acidente.
dependem virtualmente da aprendizagem, que está
➙ Nesta experiência não se estava apenas a condicionar envolvida em toda e qualquer área do conhecimento e
a memória dos indivíduos, mas a interpretação que dela do comportamento.
faziam.
Exemplo: aprender a gatinhar ou a andar.
➙ Atenta nos resultados: - A aprendizagem não é sempre correta, ou seja, é
➙ Verificou-se que os participantes a quem tinha sido possível adquirir conhecimentos incorretos, adotar maus
feita a pergunta usando o verbo esmagar eram mais hábitos e responder inadequadamente a situações.
propensos a responder sim à pergunta Viu algum vidro Exemplos: dizer palavrões ou recorrer a tiques de
partido?, mesmo que no filme não houvesse vidros oralidade (por exemplo, tipo, pá...).
partidos.
- A aprendizagem não é necessariamente intencional e
➙ Estes resultados são consistentes com a ideia de que deliberada, aliás, parte significativa do repertório
as perguntas feitas após um evento podem dar origem à aprendido foi adquirido, subtilmente, através do
reconstrução da memória desse mesmo evento. processo de socialização.
➙ Estas e outras experiências semelhantes mostram Exemplo: pronunciar as palavras de acordo com o
que, além de ser perfeitamente possível alterar sotaque da região onde se vive.
recordações, por exemplo, em função de informação,
- A aprendizagem não é diretamente observável, mas
factos ou sugestões subsequentes, é ainda possível
apenas inferida a partir do comportamento observável.
implantar falsas memórias.
Só se pode concluir algo sobre o que foi aprendido a
➙ Não ser capaz de esquecer pode: partir do desempenho dos indivíduos numa dada
situação.
- perturbar tanto a adaptação ao meio
Exemplo: usar o elevador - uma criança pode ter
- como não ser capaz de recordar.
aprendido a usar o elevador, mas não conseguir alcançar
➙ Portanto, e considerando as limitações da memória os botões.
humana, não nos deve surpreender que o esquecimento
➙ A aprendizagem corresponde, ao processo através do
seja a condição sem a qual não poderemos continuar a
qual as nossas experiências geram mudanças
recordar.
relativamente permanentes no comportamento ou nos
➙ É preciso, constantemente, adquirir e esquecer. O processos mentais.
esquecimento é não apenas uma realidade inerente à Para que possam ser consideradas aprendizagem têm
memória, como também, e essencialmente, uma de:
necessidade.
• Ser estáveis:

- Se aquilo que tentaste aprender origina apenas uma


Aprendizagem mudança momentânea no teu comportamento, então
➙ Mudança relativamente estável e duradoura do não pode dizer-se que aprendeste.
comportamento ou das capacidades do indivíduo, - Para que possa dizer-se que houve aprendizagem, a
adquirida como resultado da observação prática, estudo mudança na forma de responder aos eventos deve ser
ou experiência, que se traduz num aumento do seu persistente.
repertório de competências e saberes.
• Afetar o comportamento ou os processos mentais. -
➙ Aprender não é apenas adquirir, é também, por A aprendizagem envolve processos emocionais,
exemplo, abandonar condutas consideradas impróprias cognitivos e motivacionais, pelo que o conteúdo
aprendido se manifesta nos comportamentos que temos ➙ Por exemplo:
e altera a forma como pensamos.
- há canções de que gostas muito porque te fazem sentir
Muito do que aprendemos implica: feliz e canções que te deixam mais triste ou melancólico,
pois relacionas as primeiras com acontecimentos
➙ a integração de uma informação nova que
positivos e as segundas com o inverso.
frequentemente diz respeito à relação entre
acontecimentos ou entre um acontecimento e um - Há insetos, répteis e/ou aracnídeos que te fazem sentir
determinado comportamento. calafrios, porque lhes associaste o potencial ameaçador
que, em muitos casos, na verdade, nem têm.
Investigadores na área da aprendizagem
-Há tarefas que fazes em casa para poderes receber a
➙ referem-se a estas relações como sendo formas de tua semanada ou para não seres repreendido.
associações, na medida em que ao aprender
estabelecemos associações ou anulamos (ou Condicionamento clássico
enfraquecemos) associações previamente existentes.
➙ Processo de aprendizagem que ocorre de forma
Podemos distinguir os processos de aprendizagem em independente da vontade do sujeito através da
dois grandes grupos: associação entre estímulos.

➙ Um estímulo neutro (que não originava qualquer


resposta) é associado a um estímulo incondicionado
(que produzia a resposta natural), dando origem a um
estímulo condicionado que tem um efeito sobre o
indivíduo.

➙ Utilizamos a associação entre estímulos para


antecipar um evento.

➙ Por exemplo:
➙ Muito do que sabemos hoje sobre a aprendizagem
resulta de investigações com animais não humanos. - quando se aproxima uma tempestade, aprendeste que
Cães, gatos, ratos e macacos, todos ajudaram a o relâmpago é seguido do trovão, por isso, mal o céu se
compreender melhor os processos que estão na base da ilumina, contas os segundos para o estrondo que se
mudança de comportamento e processos mentais. seguirá.

➙ Na verdade, ainda que pareçam muito diferentes, Condicionamento operante


alguns processos de aprendizagem não divergem assim
➙ Processo de aprendizagem em que o reforço depende
tanto como pensamos entre humanos e não humanos.
da resposta. Por outras palavras, é feita uma associação
➙ Encontramos até muitas semelhanças em dois tipos entre o comportamento e as consequências, o que leva a
de aprendizagem: comportamental e cognitiva. que o comportamento seja repetido ou evitado em
função de produzir bons ou maus resultados.
Comportamental Cognitiva
Por condicionamento Por insight
clássico
➙ utilizamos a associação entre o nosso
Por condicionamento Por observação e
operante imitação comportamento e as suas consequências, repetindo-o
ou evitando-o consoante produza bons ou maus
resultados, respetivamente.
Em que consiste a aprendizagem por condicionamento
ou comportamental? ➙ Por exemplo, se estudaste muito e tiveste uma boa
nota num teste, tenderás a fazer o mesmo para o teste
➙ O condicionamento corresponde: seguinte.
- a uma associação aprendida entre dois estímulos Mas não aprendemos apenas por condicionamento.
(condicionamento clássico) ou entre um estímulo e um
comportamento (condicionamento operante) e ➙ Por exemplo:

- é muito comum na forma como interagimos com o -Imagina que estás a tirar a carta de condução. Muito
mundo. provavelmente não entras no carro e, por tentativa e
erro, descobres onde fica a ignição para poderes pôr o • O alimento é o estímulo incondicionado (El), pois, por
veículo a funcionar. si só, desencadeia uma resposta automática, isto é, sem
necessidade de condicionamento (daí a designação
O condicionamento (clássico e operante)
incondicionado).
➙ é uma forma de aprendizagem que surge fortemente • A salivação produzida pelo alimento é a resposta
associada às teorias comportamentalistas (ou incondicionada (RI), assim chamada por se desencadear
behavioristas) e a respostas externas objetivamente diretamente em função do El, isto é, sem necessidade de
observáveis. aprendizagem prévia.
➙ Em contrapartida, os teóricos da aprendizagem por • O som da campainha ou a luz da lâmpada, antes do
observação focam-se nos aspetos mais internos e condicionamento, designa-se estímulo neutro (EN) e,
cognitivos da aprendizagem. após o condicionamento, estímulo condicionado (EC).
➙ Comecemos pelo condicionamento clássico e por • À salivação em função do som da campainha
alguns dos seus pressupostos básicos, utilizando como chamamos resposta condicionada (RC), isto é,
exemplo uma aplicação prática das experiências aprendida, adquirida.
laboratoriais de Ivan Pavlov com cães.
• O adjetivo condicionado indica que o EC provoca a RC
➙ Um dia, estando a trabalhar no laboratório, a estudar única e exclusivamente após o organismo ter passado
a salivação dos cães no sentido de compreender o seu por um processo de treino ou de aprendizagem.
papel no aparelho digestivo, Pavlov apercebeu-se que os
cães salivavam antes de lhes ser apresentado o alimento. O condicionamento clássico explica:

➙ Na verdade, os cães começavam a salivar no ➙ os processos que estão na base da aprendizagem de


momento em que um dos técnicos do laboratório uma resposta involuntária.
entrava na sala ou sempre que viam ou ouviam as tigelas ➙ Contudo, as descobertas de Pavlov não explicam
em que usualmente lhes era distribuído o alimento. comportamentos voluntários:
➙ Estas constatações levaram Pavlov a reconhecer que, - Porque é que o teu cão se senta ou dá a pata quando
ao contrário dos reflexos inatos, a salivação em função lhe pedes?
do avistamento de uma tigela não era automática e,
portanto, só poderia ter sido adquirida através da ➙ Edward Thorndike procurou explicar estes e outros
experiência. comportamentos voluntários, apresentando uma teoria
do condicionamento de acordo com a qual aprendemos
➙ O reconhecimento de que os cães poderiam associar a comportar nos de certa maneira no sentido de
tigelas e técnicos de laboratório ao alimento levou obtermos recompensas ou evitarmos punições.
Pavlov a dedicar o resto da sua vida de investigador aos
princípios básicos do reflexo condicionado. Esta forma de aprendizagem designa-se:
condicionamento operante ou aprendizagem
➙ Para compreender o que se teria passado, Pavlov instrumental.
realizou uma experiência que consistiu em apresentar ao
cão estímulos distintos (como o som de uma campainha A principal diferença entre o condicionamento clássico
ou o acender de uma lâmpada) seguidos do estímulo e o condicionamento operante é:
que parecia estar na origem da salivação (apresentação ➙ na aprendizagem instrumental, o reforço
de comida). (recompensa) depende da resposta dada.
➙ Com esta experiência, Pavlov constatou que, depois ➙ Quando o teu cão obedece à ordem de se sentar e,
de repetir a associação entre os estímulos durante algum em consequência, recebe um biscoito, para ele a regra é
tempo, os cães começavam a salivar com o som da sem sentar não há biscoito e, por isso, se quer o biscoito,
campainha ou com o acender da lâmpada. tem de escolher a resposta sentar de entre o enorme
- A teoria que Pavlov desenvolveu a partir das suas conjunto de alternativas que são as possíveis ações de
observações ficou conhecida como condicionamento um cão.
clássico.
➙ Thorndike estudou a inteligência animal.
A experiência de Pavlov passo a passo:
➙ Para realizar a sua pesquisa, construiu uma caixa-
problema: uma caixa de madeira equipada com uma
porta que podia ser aberta a partir de um mecanismo da atribuição de uma recompensa. O reforço encoraja,
situado no seu interior. pois, o comportamento.

➙ Thorndike fechava gatos famintos no interior de uma - Outras experiências suas igualmente célebres são as
caixa-problema, colocando do lado de fora um prato relativas ao reforço negativo, ou seja, à criação de uma
com comida que estes podiam ver e cheirar. associação que visa aumentar uma resposta através da
eliminação de um estímulo aversivo, por exemplo, a
O objetivo era: gaiola onde se encontra o rato produzir um som alto ou
➙ que os animais encontrassem o mecanismo que lhes eletrochoques até que este pressione a alavanca.
daria acesso ao alimento.

➙ O gato começava por tentativas de resposta de tipo


exploratório, até que, por acaso, encontrava a resposta
adequada, conseguindo libertar-se da caixa.

- Thorndike concluiu que o tempo necessário para sair


da caixa diminuía consideravelmente à medida que os
ensaios se repetiam. ➙ Apesar de diferentes, Skinner, com as suas
investigações, concluiu que o condicionamento operante
➙ Esta forma de aprendizagem (por tentativa e erro) envolve os mesmos princípios que o condicionamento
tem por base aquilo que Thorndike designou: lei do clássico:
efeito, de acordo com a qual, numa dada situação, todo
o ato que produz um estado de coisas satisfatório é
mantido ou reforçado; Aquisição
➙ inversamente, as ações cujos resultados conduzem a ➙ Corresponde ao primeiro passo da aprendizagem, no
um estado de coisas incómodo ou nulo serão âmbito do qual a resposta aumenta porque está
tendencialmente enfraquecidas ou eliminadas. associada ao reforço.
➙ A lei do efeito de Thorndike é a primeira formalização Generalização
de um princípio que está por detrás de toda a Psicologia
comportamentalista: ➙ Pela semelhança que apresenta com o estímulo
original, um outro estímulo gera a resposta condicionada
- a conexão entre o estímulo e a resposta e sua (não se valorizam as diferenças entre ambos).
relevância para o processo de aprendizagem e o
comportamento. Discriminação

➙ Thorndike antecipa o trabalho de Burrhus Skinner e a ➙ Apesar de semelhante ao estímulo original, um outro
sua teoria do condicionamento operante. estímulo não produz a resposta condicionada (valorizam-
se as diferenças entre ambos).
➙ Skinner foi um dos primeiros investigadores a
distinguir condicionamento clássico de Extinção
condicionamento operante.
➙ A resposta condicionada perde intensidade ou
➙ Estava particularmente interessado em compreender desaparece na ausência de reforço.
as situações em que agimos de modo a realizar no
➙ O que acontece quando a aprendizagem envolve
ambiente uma mudança que conduza à recompensa e
punição em vez de reforço?
que habitualmente designamos por ações voluntárias.
Apesar, à primeira vista, parecerem semelhantes, o
➙ As suas experiências mais conhecidas foram
reforço negativo e a punição (positiva ou negativa) são
realizadas com ratos, que eram colocados em gaiolas
distintos:
experimentais com uma alavanca.
Objetivo do reforço
➙ Quando o rato pressionava a alavanca, agia sobre o
meio e recebia alimento, que funcionava como reforço ➙ aumentar a frequência do comportamento
da resposta de pressão.
Objetivo da punição
➙ Este processo ficou conhecido por reforço positivo,
➙ reduzir a sua frequência.
uma vez que se produz um aumento da resposta através
- Positivo e negativo querem dizer adicionar e eliminar, Thorndike, mas aprendem também por insight lou
respetivamente, não tendo nada que ver com bom ou compreensão súbita).
mau, prazeroso ou doloroso.
Muito rudimentares a nível procedimental, os estudos
➙ Tal como o reforço, também a punição pode ser de Köhler incluíam dois tipos de situações
positiva ou negativa. Ambas visam a redução frequência experimentais:
da resposta, mas a punição positiva (também chamada
• Experiências mais simples envolvendo elementos
aversiva) envolve a apresentação de um estímulo
próximos uns dos outros: por exem-plo, uma situação
aversivo e a punição negativa envolve a eliminação de
em que o chimpanzé se encontra no interior de uma
um estimulo. Exemplificando: numa briga entre dois
jaula onde está também uma vara que foi colocada perto
irmãos, num cenário de gritaria e luta pelo comando da
das grades e próxima de uma banana que se encontra
televisão, os pais têm de decidir entre castigá-los com
pendurada no exterior da jaula e fora do seu alcance.
uma repreensão assertiva (punição positiva ou aversiva)
ou retirar-lhes o acesso à televisão durante uma semana • Experiências de maior dificuldade envolvendo
(punição negativa). elementos distantes uns dos outros: por exemplo, uma
situação onde toda a disposição dos elementos é
semelhante - o chimpanzé está dentro da jaula e existe
uma banana no seu exterior fora do seu alcance -, no
entanto, a vara foi colocada no interior da jaula, mas
longe das grades.

Insight:

➙ Forma de aprendizagem que se faz de forma súbita,


quando a resposta para um problema surge de forma
repentina e inesperada.

➙ No insight, os elementos que permitem a resolução


do problema já fazem parte da estrutura cognitiva do
sujeito, mudando a forma como são associados.

➙ A solução surge como se de um "momento de


inspiração" se tratasse.

➙ Ainda que com algumas diferenças, tanto o


condicionamento clássico como o condicionamento O comportamento do chimpanzé
operante procuraram explicar a aprendizagem com base
➙ No que respeita à resolução do problema, mostrava-
na mudança do comportamento.
se distinto nas duas situações.
➙ Mas nem todas as aprendizagens se traduzem em
➙ A interpretação que Köhler fez destas diferenças
respostas diretamente observáveis.
introduziu a ideia da reestruturação do campo percetual.
➙ Com base nesta ideia, outras teorias surgiram para
➙ Assim, quando se colocou a vara junto das grades da
abordar os aspetos cognitivos da aprendizagem. Que
jaula, mais próxima da fruta, os dois elementos foram
teorias são essas?
percebidos como parte integrante da mesma situação-
problema.

➙ Foi então fácil para o chimpanzé utilizar a vara para


puxar a fruta para junto de si.

➙ Na segunda situação, contudo, a distância existente


entre os dois elementos do problema - a banana fora da
➙ O psicólogo Wolfgang Köhler estudou a inteligência jaula e a vara colocada no interior da jaula - implicou
dos chimpanzés e a sua capacidade de resolução de uma reestruturação do campo percetual, isto é, a
problemas, mostrando que estes não se limitam a compreensão dos dois elementos como parte integrante
aprender por tentativa e erro, como propunha do mesmo problema.
➙ Para que ocorresse esta reestruturação, seria ➙ A este processo dá-se o nome de modelagem.
necessário o insight ou compreensão súbita - a
compreensão ou solução imediata do problema -, uma ➙ Neste processo de modelagem, inscreve-se o reforço
forma de aprendizagem resultante de várias tentativas vicariante: o sujeito observa um modelo cujo
que fornecem a assimilação das relações entre comportamento foi reforçado.
elementos. ➙ Por exemplo:

- uma criança observa o irmão a arrumar os brinquedos


e percebe que os adultos em seu redor elogiam e
premeiam esse comportamento.

➙ Os elogios e prémios dirigidos ao irmão (reforço


vicariante) funcionam como motivação para a imitação
do conjunto de respostas observado (arrumar os
brinquedos), na medida em que criam a expectativa de
uma recompensa.

Reforço vicariante:

➙ Forma de reforço indireta que ocorre quando alguém


➙ O papel dos processos mentais na aprendizagem foi observa um modelo que é recompensado ou punido,
valorizado por outros psicólogos, para além de Köhler. reforçando dessa forma o seu próprio comportamento.
Albert Bandura, cujo ponto de partida teórico é o
condicionamento operante, é um exemplo disso mesmo.

➙ Reforço e punição são estratégias de aprendizagem, ➙ Esta forma de reforço distingue-se do reforço direto,
mas nem toda a aprendizagem se alcança desta forma. em que o próprio sujeito recebe um prémio a seguir ao
Se os gatos estudados por Thorndike, por exemplo, comportamento desejado.
tinham de descobrir sozinhos como sair da caixa, na
➙ Independentemente de se tratar de um reforço direto
generalidade das aprendizagens humanas não é isso que
(o comportamento do agente é reforçado) ou vicariante
acontece, isto é, quando nascemos, temos à nossa
(o comportamento do modelo observado é reforçado), a
disposição um enorme conjunto de conhecimentos: não
conduta passa a fazer parte do conjunto de respostas
precisamos de redescobrir o fogo ou de reinventar a
comportamentais do sujeito.
roda, do mesmo modo que sabemos como devemos
agasalhar-nos quando refresca o tempo. O modelo proposto por Bandura

➙ Apesar de reconhecer, à semelhança de Skinner, a ➙ Apresenta o processo cognitivo como essencial para a
influência dos esquemas de reforço externo na aprendizagem, já que o ser humano pode aprender uma
aprendizagem, Bandura defendia também a extensa gama de comportamentos, bastando para tal
possibilidade de haver mudança comportamental sem observar um modelo, avaliar as consequências da sua
existência de reforço direto, através do que denominou conduta e decidir conscientemente realizar, ou não, um
reforço vicariante. comportamento semelhante ao observado.

➙ Bandura desenvolveu a teoria da aprendizagem ➙ Com um célebre estudo realizado em 1961,


social, a qual propõe que uma boa parte do envolvendo um boneco insuflável chamado
comportamento humano é adquirido por modelagem,
isto é, por observação e imitação. ➙ Bobo, Bandura iniciou uma importante discussão, que
ainda hoje se mantém, sobre a aprendizagem de
➙ Destacou quatro condições necessárias para que os comportamentos violentos. Provando que uma criança
comportamentos do modelo tenham efeito sobre nós: imita o comportamento que observa num modelo
atenção, retenção, reprodução e motivação. adulto, a experiência com o boneco Bobo mostrou o
poder dos exemplos agressivos em contexto social. A
➙ Primeiro, há que prestar atenção ao modelo, depois, experiência envolveu 72 crianças (36 rapazes e 36
guardar o que se viu ou ouviu para que se possa imitá-lo raparigas), entre os 3 e os 6 anos, divididos em três
sem erro e, por fim, é importante que exista um bom grupos, e dois modelos adultos.
motivo para que o comportamento seja integrado no
conjunto de respostas do sujeito, por exemplo, a Três grupos de crianças são testados.
expectativa de uma recompensa.
➙ Um grupo de crianças observa um adulto, satisfeito, a ➙ No dia a dia, as duas perspetivas (comportamental e
gritar e a maltratar fisicamente o boneco Bobo cognitiva) são fundamentais.
(condições agressivas).

➙ Um segundo grupo de crianças observa um adulto,


➙ Vários estudos concluem que um dos efeitos da
satisfeito, a brincar e a ignorar o boneco Bobo
exposição à violência é a normalização de atos violentos.
(condições não agressivas).
➙ De tanto convivermos com a violência, dos desenhos
➙ Um terceiro grupo não observa qualquer adulto no
animados às relações tóxicas e agressivas entre pessoas
espaço (grupo de controlo).
próximas, começamos a desvalorizá-la e a não a
➙ Na segunda etapa do estudo, todas as crianças reconhecer como tal quando estamos perante ela.
brincam na sala, onde se encontram diversos
➙ Na imagem, duas jovens filmam uma agressão, ao
brinquedos, incluindo o boneco Bobo. As crianças do
invés de impedirem a agressão, tornando-se
primeiro grupo tendem a imitar o que observaram,
cúmplices das agressoras.
agredindo o boneco e inventando, inclusivamente, novas
formas de o fazer. Estas crianças revelam também maior
agressividade para com os outros brinquedos da sala.
Inteligência
➙ As crianças que observaram o adulto ignorando o
boneco Bobo são as menos agressivas, inclusivamente se ➙ Capacidade de assimilar conhecimentos, recordar
comparadas com as do grupo de controlo. Este estudo acontecimentos e recuperar situações assados, utilizar
parece confirmar a hipótese de Bandura de que as corretamente o pensamento e a razão, aplicar
crianças aprendem a comportar-se de forma agressiva conhecimentos em situações novas, adaptar-se ao meio
mediante a observação e imitação da conduta violenta e às suas transformações, estabelecendo prioridades e
dos adultos, sobretudo em meio familiar. selecionando recursos para a concretização de objetivos
e para a resolução de problemas.
A experiência com o boneco Bobo

➙ Permite-nos perceber a importância dos modelos na


aquisição e adoção de tipos de comportamento e formas
de estar. Mais do que o diz-me com quem andas e dir-te-
ei quem és, Bandura diria, provavelmente, diz-me quem
são os teus modelos e dir-te-ei quem és.

➙ O contributo de Bandura sublinha a importância da


vida social, pelo que faz sentido recordar o que foi dito
no tema anterior sobre os neurónios espelho, cujo papel
é particularmente relevante na aprendizagem por
imitação. Teoria bifatorial da inteligência

➙ Enquanto na aprendizagem comportamental o ➙ Um dos mais persistentes enigmas na pesquisa


enfoque está apenas nos eventos observáveis, na psicológica sobre a inteligência relaciona-se com uma
aprendizagem cognitiva são feitas inferências sobre os descoberta amplamente debatida no início do século XX:
processos mentais que não são diretamente observáveis. os indivíduos parecem tender a apresentar um nível
No primeiro caso, a aprendizagem resulta da associação consistente de desempenho numa variedade de tarefas
entre estímulos e respostas; no segundo caso, a diferentes.
aprendizagem decorre do processamento da informação
(isto é, o aprendiz procura a informação mais relevante ➙ Esta descoberta conduziu à ideia de:
do estímulo). - inteligência geral
➙ Em conjunto, Köhler e Bandura chamaram a atenção - e à teoria de Charles Spearman.
para os aspetos mais cognitivos da aprendizagem,
trazendo uma abordagem complementar às propostas Spearman
de Pavlov, Thorndike e Skinner: entre o estímulo e a ➙ Foi um pioneiro no estudo da inteligência, que
resposta existe a dimensão cognitiva dos indivíduos e o acreditava que todo o comportamento inteligente tinha
seu espaço mental. por base um único fator geral, que designou por fator G.
O fator G abrangente fator geral, mas estar antes relacionada com
um conjunto de fatores independentes combinados.
➙ É a inteligência geral, comum a todas as atividades
inteligentes, uma espécie de energia mental sobre a qual ➙Defendeu uma perspetiva pluralista de inteligência: a
se estabelecem e desenvolvem os fatores S ou aptidões teoria multifatorial da inteligência.
específicas.
➙Segundo a sua proposta, não se pode reduzir a
➙ Concluiu que qualquer desempenho intelectual inteligência a uma caracteristica geral que afeta o
impõe a combinação entre dois fatores (bifatorial): desempenho global do indivíduo.

• O fator G (capacidade para discernir relações ➙Pelo contrário, cada individuo é único.
complexas):
➙A inteligência resulta, nesse sentido, não de um fator
- o qual está presente no mesmo grau num mesmo geral, mas de uma combinação de sete aptidões gerais,
indivíduo em todo o seu desempenho inteligente; que designou por aptidões mentais primárias:
• Os fatores S (por exemplo, visual, verbal e numérico) • Compreensão verbal (V): compreensão de
ideias expressas atraves de palavras.
- que são responsáveis por atividades intelectuais
especificas. • Fluência verbal (W): produção rápida de
palavras a partir de instruções apresentadas.
➙ Assim, de acordo com a proposta de spearman, se
soubermos que um individuo atinge desempenhos • Fluência numérica (N): gestão de números e
elevados numa tarefa que exija em alto grau o fator G produção rápida de operações aritméticas simples.
(determinante), poderemos predizer, com segurança,
níveis semelhantes de desempenho para outra tarefa • Espacial (S): visualização de objetos num
que também exija este fator em alto grau. espaço bidimensional ou tridimensional.

• Velocidade percetiva (P): visualização rápida


➙ O desempenho em tarefas que implicam
de pequenas diferenças ou semelhanças.
essencialmente fatores S (por exemplo, cálculo lógico)
não permite transposições e predições tão precisas. • Memória (M): evocação de estímulos
anteriormente apresentados.
➙ Spearman considerava que o fator G incluía:
• Raciocínio (R): resolução de problemas
- três componentes básicas:
lógicos.
- a apreensão das experiências (capacidade para
➙ Estas aptidões, entendidas pelo autor como fatores
codificar informação)
comuns ao desempenho de determinados grupos de
- o relacionamento de ideias (capacidade para inferir tarefas, constituíram o centro da teoria multifatorial da
ou estabelecer relações entre duas ou mais ideias) inteligência.

- a edução de correlatos (capacidade para aplicar a Teoria multifatorial da inteligência: Thurstone propôs a
relação inferida, criando novas ideias). existência de várias aptidões, diversas na sua natureza e
relativamente independentes entre si, podendo, todavia,
➙ A maior ou menor destreza do sujeito nestas três cada uma delas entrar com pesos diferentes em várias
operações justificaria as diferenças individuais na atividades.
inteligência geral.

Múltiplas inteligências.
Teoria bifatorial da inteligência: Spearman interpretava
fator G (denominador comum) como uma energia ➙ Contra as clássicas da inteligência, fatoriais e
mental essencialmente inata, ao passo que os fatores S psicométricas (preocupadas com a determinação do
dependeriam da aprendizagem e da ativação do fator G. famoso QI ou quociente de inteligência), dois psicólogos
e investigadores contemporâneos, Howard Gardner e
Robert Sternberg, propuseram a existência de múltiplas
Teoria multifatorial da inteligência inteligências.

➙Louis Thurstone contrapôs à teoria bifatorial a ➙ As suas teorias permitem:


possibilidade de a inteligencia não depender de
- uma leitura mais dinâmica da inteligência
- uma análise mais completa e aprofundada dos • A inteligência linguística, utilizada na leitura de
processos, estratégias e componentes que tornam livros, na escrita de textos e na compreensão das
possível o ato inteligente. palavras e discursos quotidianos.

• A inteligência lógico-matemática, implicada na


resolução de problemas matemáticos e em tarefas que
Teoria das inteligências múltiplas
exigem o pensamento dedutivo, predominantemente
➙ Gardner defendeu existirem múltiplas inteligências, avaliadas pela escola.
algumas das quais podem ter desempenhos • A inteligência corporal-cinestésica,
independentes de outras e serem amplamente determinante para atividades desportivas, dança e ações
diferentes. que exijam controlo e coordenação do movimento.
➙ Por outro lado, algumas dessas capacidades • A inteligência musical, ligada à execução,
inteligentes não são geralmente consideradas nem composição e apreciação de padrões musicais.
medidos pelos tradicionais testes de inteligência, apesar
de serem essenciais à vida prática. • A inteligência espacial, que envolve a deteção
de padrões e é usada na interpretação e compreensão
de mapas e na orientação de objetos e pessoas num
Independência entre as diferentes capacidades determinado espaço. Está, normalmente, associada às
cognitivas artes.

➙ Os efeitos de lesões cerebrais (em que os indivíduos • A inteligência interpessoal, presente nas
mantêm inalteradas as suas capacidades para certas relações com os outros, permitindo compreender as
tarefas, apesar de terem perdido definitivamente outras suas emoções e comportamentos.
aptidões) • A inteligência intrapessoal, implicada na
compreensão de si mesmo.
➙ a existência de indivíduos portadores da síndrome de
savant (pessoas com atrasos cognitivos profundos que • A inteligência naturalista, utilizada para
mantêm, em áreas muito específicas, comportamentos reconhecer e categorizar seres e objetos da natureza,
inteligentes acima da média), de sobredotados e de como ani-mais, plantas e rochas, por exemplo, e foi
outros indivíduos excecionalmente talentosos em áreas incluída na teoria em resultado de descobertas
específicas neurobiológicas recentes sobre o funcionamento do
córtex cerebral.
➙ conduziram Gardner à constatação da independência
entre as diferentes capacidades cognitivas. Teoria das inteligências múltiplas: apresenta-se como
uma teoria empírica, o que significa que o número de
➙ Se é verdade que cada pessoa possui, em grau
inteligências, a sua delimitação e configuração podem
distinto, cada capacidade cognitiva, a forma como cada
ser alterados em função de novas observações e
um de nós mistura ou combina os diversos tipos de
conclusões.
inteligência gera múltiplas formas de comportamento
inteligente.

➙ Gardner apresenta uma visão holística da inteligência, Teoria triárquica da inteligência


muito distante das perspetivas tradicionais.
➙ Robert Stemberg, por seu lado, defende que a
➙ Confessa que o termo "inteligência" foi inteligência humana é uma súmula de três inteligências
propositadamente escolhido para entrar em controvérsia (ou de três maneiras diferentes de se ser inteligente):
com aqueles que colocam a lógica e a linguagem numa
- Inteligência criativa ou capacidade para ir além dos
posição privilegiada, descurando, ou mesmo
dados, planear, criar e inventa ideias novas e
discriminando, outras competências.
interessantes que permitam resolver problemas novos.
➙ Gardner propôs a teoria das inteligências múltiplas e - Inteligência analítica ou capacidade para analisar,
identificou oito tipos de inteligencias. comparar e avaliar ideias, resolver problemas
➙ Embora cada uma delas esteja mais desenvolvida em conhecidos e tomar decisões.
determinadas pessoas do que em outras, todas elas - Inteligência prática ou capacidade para transformar a
assumem a mesma importância. São elas: teoria em prática, isto é, transformar as realizações
humanas abstratas em produções práticas.
➙ A teoria das inteligências múltiplas argumenta que o
ato inteligente é composto por múltiplas habilidades
Teoria triárquica da inteligência: para Sternberg, cada
cognitivas diferentes.
um de nós pode aplica a inteligência em muitos
problemas de diferente natureza, podendo ser mais ➙ Por fim, a teoria triárquica defende que a inteligência
bem-sucedido diante de problemas com uma dimensão deve compreender três aspetos correlacionados -
mais académica ou, por outro lado, com uma dimensão criatividade, capacidade analítica e aplicação prática.
mais prática.

➙ A teoria triárquica da inteligência humana procura


explicar, numa perspetiva de integração, a relação entre: O que são os processos emocionais?

• Inteligência e mundo interno do indivíduo, ou ➙ as emoções estão intimamente ligadas à motivação,


seja, os mecanismos mentais subentendidos no nos acompanham desde sempre, são parte do nosso
comportamento inteligente. repertório de sobrevivência e essenciais à comunicação,
orientando decisões e comportamentos.
• Inteligência e mundo externo do individuo, ou
seja, a utilização destes mecanismos mentais na vida Emoção
quotidiana no sentido de se ajustar ao meio. ➙ refere-se a uma resposta breve e intensa a um
• Inteligência e experiência, ou seja, o papel estímulo espe-cífico, como ter medo ou sentir alegria, é
mediador das vivências entre os mundos interno e pública e, geralmente, observável.
externo do indivíduo.
➙ O sentimento refere-se à experiência subjetiva de
emoções, é, geralmente, mais duradouro, tem uma
componente cognitiva e pode ser influenciado por
➙ A teoria de Sternberg valoriza a criatividade, crenças e valores.
considerando-a um processo que exige o equilíbrio e
aplicação dos três espetos essências da inteligência O afeto
criativa, analítica e pratica.
➙ é um estado mental subjetivo acerca de uma pessoa,
➙ A inteligência criativa é uma ponte entre as outras objeto ou situação, que pode ser positivo ou negativo,
duas inteligências. mas é mais durável e estável que as emoções.

Uma pessoa criativa necessita: ➙Sensação subjetiva imediata (positiva/negativa) que o


indivíduo experimenta em relação a uma pessoa, objeto
➙ Do equilíbrio entre as três dimensões da inteligência: ou situação e que orienta o comportamento.
- destacar-se por produzir ideias inovadoras (inteligência Emoções
criativa)
➙Padrão de reação complexo, transitório, brusco e
- saber selecionar as melhores (inteligência analítica) agudo, através do qual um individuo tenta lidar com um
- ser capaz de executá-las ou dá-las a conhecer a outros evento ou assunto pessoalmente significativo.
(inteligência prática).
➙Envolve elementos fisiológicos, cognitivos e
➙ Ao contrário dos modelos tradicionais, as perspetivas comportamentais.
de Gardner e de Sternberg pressupõem a estreita ligação
➙ E frequente distinguir-se emoções primárias
entre os diversos processos mentais.
(manifestadas e reconhecidas universalmente entre
Em resumo culturas, como o medo, por exemplo) de emoções
secundárias (dependentes de experiência social para a
➙ Diferentes teorias destacam aspetos sobre a natureza sua construção, como o orgulho, por exemplo).
da inteligência que se complementam.

➙ A teoria bifatorial sublinha a importância de um fator


geral e dos fatores específicos do ato inteligente, a teoria • As emoções são públicas (observáveis pelos outros).
multifatorial enfatiza a existência de múltiplas • As emoções geram sentimentos.
habilidades inteligentes, que podem atuar de forma
independente. • As emoções constituem o início de um processo
continuo.
• As emoções não requerem necessariamente ➙ A forma como percebemos o objeto, como o
consciência. interpretamos, ou seja, o conhecimento que dele
construímos (componente cognitiva) gera a experiência
Sentimentos
emocional.
• Os sentimentos são privados (não observáveis pelos
➙ Face ao objeto indutor de ira, o sistema nervoso é
outros).
ativado e, por exemplo:
• Os sentimentos geram emoções.
- aumentam os batimentos cardíacos
• Os sentimentos constituem o fim de um processo
- e a tensão muscular (componente neurofisiológica).
contínuo.

• Os sentimentos possuem uma relação privilegiada ➙ Em resultado deste estado interno do organismo, é
com a consciência. provável que:

- fiquemos lívidos,
➙ Experiência mental e privada dos afetos e das
emoções. Distingue-se da emoção pelo seu caráter - falemos alto
subjetivo, avaliativo e cognitivo.
- e gesticulemos energicamente (componente
comportamental).
Dimensões biológicas e sociais dos processos Resposta emocional
emocionais ➙ Quando desencadeamos uma resposta emocional,
todo o corpo é envolvido, mas existem estruturas que
➙ É possível encontrar três componentes das emoções:
assumem papéis significativos a nível neurofisiológico.
- a componente neurofisiológica, que desencadeou,
através dos sistemas nervoso e endócrino, o estado de ➙ As duas mais importantes são:
alerta (aumentando o batimento cardíaco); - a amígdala (pequena estrutura do sistema limbico)
- a componente cognitiva: que te informou das - e o córtex orbitofrontal (região do córtex pré-frontal
características que já conhecias dessa pessoa; a ligada ao sistema limbico).
componente comportamental, que te permitiu reagir
através da elevação do tom de voz. Exemplo:

➙ Nem sempre nos apercebemos imediatamente da ➙ Imagina que, no teu regresso a casa dás de caras com
relação entre estas três componentes, mas todas um leão no meio da rua.
funcionam de forma articulada e rápida.
➙ Sentirás, com toda a certeza, medo.
Todas as emoções são compostas por três componentes
➙ Normalmente, os sinais recebidos do meio seguem
desencadeadas por um estímulo interno ou externo.
dos órgãos sensoriais para o tálamo, que, por sua vez, os
• Componente neurofisiológica (ativação dos reenvia para o córtex cerebral.
sistemas nervoso e endócrino).
Sinais visuais
• Componente cognitiva (interpretação e
➙ No caso dos sinais visuais, a mensagem é
significado atribuidos aos estimulos sensoriais).
encaminhada para o córtex visual, onde é analisada e
• Componente comportamental (dimensão avaliada, processando-se uma resposta ajustada.
observável das emoções).
Informação emocional

➙ Se a informação recebida é emocional, segue então


A dimensão neurofisiológica das emoções um sinal do córtex para a amígdala que ativa os centros
respetivos.
➙ Consideremos o exemplo da ira, uma emoção
negativa e hostil vinculada a fortes reações físicas. ➙ Contudo, este itinerário é demasiado longo para a
produção de uma resposta eficaz a estímulos
A Ira
ameaçadores como aquele com que te deparas no teu
➙ A Ira, como qualquer outra emoção, é uma resposta regresso a casa.
com origem num dado objeto, isto é, tem uma causa.
Garantir a sobrevivência ➙ A descoberta de regiões do cérebro intimamente
associadas à emoção resultou, em alguns casos, de:
➙ Para garantir a sobrevivência, a biologia equipou-nos
com um atalho neural através do qual conseguimos: - investigações levadas a cabo com indivíduos que, por
acidente ou doença, perderam determinadas regiões do
- produzir uma resposta emocional mais rápida (ainda
cérebro.
que menos precisa), antes dos centros corticais serem
informados, interpretarem e definirem um plano de ➙ Foi possível perceber: mudanças profundas nas
resposta. emoções desses pacientes e concluir que estas regiões
infuenciavam diretamente as emoções e o
Como funciona este atalho neural
comportamento que delas resulta.
- que gera rapidamente uma resposta do tipo ataque-ou-
fuga em situações de ameaça?
Lesões pré-frontais
➙ Uma pequena parte do sinal é enviada direta e
velozmente pelo tálamo à amígdala, o que permite que ➙ Lesões pré-frontais, como as de Elliot, permitiram aos
esta desencadeie uma resposta. neurocientistas perceber:
Importância da amígdala - a pertinência do circuito orbitoirontal-amigdala, tanto
na tomada de decisões sensatas, cruciais para a vida
➙ A importância da amígdala na aprendizagem do
pessoal e interpessoal, como também na elaboração de
medo e na reatividade emocional imediata foi
pensamentos claros.
sublinhada pelo neurocientista Joseph LeDoux, segundo
o qual:

- o processamento pré-cognitivo realizado pela amigdala Córtex visual


é um mecanismo evolutivo que se desenvolveu ao longo
(situado no lobo occipital):
do tempo para proteger os animais (humanos e não
humanos) do perigo. ➙ recebe, interpreta e coordena a informação visual,
- Outro papel importante da amígdala é o: de decifrar o permitindo o reconhecimento do estímulo.
significado emocional das expressões faciais, sendo Tálamo
especialmente sensível a rostos que revelem medo.
(situado por cima do tronco cerebral):
Não surpreende, pois, que as lesões nesta estrutura
resultem também em acentuados défices sociais. ➙ funciona como principal centro de retransmissão e
coordenação das impressões sensoriais.
O papel de outras estruturas neurobiológicas

➙ Sem ignorar a relevância da amigdala e do sistema


limbico nas emoções, vários estudos recentes preferem Amígdala
destacar o papel que outras estruturas neurobiológicas, (sentinela emocional situada no sistema límbico):
ditas mais evoluídas, desempenham nestes processos
fundamentais. ➙ controla a reatividade emocional do medo, da ira e de
outras emoções positivas como as que envolvem o
Exemplo processamento de recompensas.
-córtex orbitofrontal.

➙ Esta região cortical é particularmente importante no Resposta do tipo ataque-ou-fuga:


planeamento e na coordenação de comportamentos
destinados a atingir objetivos. ➙ aumento dos batimentos cardíacos e da pressão
sanguínea.
➙ Está também envolvida no processamento de
estímulos emocionais, em especial os que se relacionam ➙ Preparação dos músculos para uma reação rápida.
com as interações sociais.
- O estímulo é recebido pelo tálamo, que envia a
informação sensorial para o córtex cerebral, responsável
pela interpretação das mensagens e pela definição de
Regiões do cérebro associadas à emoção um plano de resposta
- No entanto, enquanto a informação segue o seu ➙ Ao ficar vazio de emoções e sentimentos, o seu
percurso para as regiões corticais do cérebro, a amígdala intelecto tornou-se desapaixonado, computorizado,
é imediatamente informada (através de um atalho tristemente inútil.
neural) e ativa uma resposta emocional.
➙ O caso de Elliot e os de outros pacientes com lesões
- Esta via mais rápida mobiliza-te para responderes caso pré-frontais similares levaram:
a via mais lenta venha a confirmar a ameaça.
- à formulação de várias hipóteses no âmbito das
- Enquanto o teu cérebro avalia a ameaça, já a divisão neurociências-
simpática do teu sistema nervoso autónomo prepara o
teu corpo para uma reação do tipo ataque-ou-fuga. a de António Damásio e a de Richard Davidson.

- Só quando estiveres fora de perigo (afinal, o leão é uma


criança mascarada, não há razão para temê-lo), a divisão Razão, emoção e capacidade de decisão
parassimpática do sistema nevoso autónomo irá fazer
retornar o organismo ao estado de repouso. ➙ A partir de casos como o de Elliot, Damásio formulou
a hipótese de que:

- existe uma estreita relação entre as áreas pré-frontais


Caso de elliot (p.145) do cérebro e as reações com origem nas emoções.
➙ Com a cirurgia, Elliot não perdeu: Refletir sobre uma ação
- as capacidades de avaliação racional de situações, ➙ Quando refletimos sobre uma ação, experimentamos
- a inteligência uma reação emocional baseada parcialmente nas nossas
expectativas em relação ao seu resultado.
- a memória (recorda, inclusivamente, estados
emocionais e sentimentos passados), ➙ Esta reação somática involuntária é condicionada
pela: história das nossas emoções passadas.
- não adquiriu dificuldades na linguagem nem perdeu as
capacidades motoras. ➙ Na medida em que: uma determinada ação conduziu,
no passado, a experiências psicossomáticas
➙ É, contudo, incapaz de decidir de forma adequada, desagradáveis, estaremos motivados a evitá-las e, por
sobretudo quando a tomada de decisões implica matéria conseguinte, a ponderar sobre outras possíveis
pessoal e social. estratégias de atuação.
➙ Mostra-se incompetente para planear o futuro, não
considerando os resultados, as emoções e os
sentimentos das experiências passadas, fatores tão Marcadores somáticos
decisivos em qualquer escolha ponderada.
➙ Mecanismo automático que orienta e suporta
➙ É, além do mais, completamente incapaz de aprender decisões através da associação de sentimentos e
em função de erros e experiências negativas passados. emoções a determinados cenários, funcionando como
um sistema de qualificação automática de previsão de
➙ E tudo isto acontece porque o seu raciocínio, em situações adversas ou favoráveis.
consequência da lesão no circuito orbitofrontal-
amígdala, deixou de ser influenciado por sinais ➙ Os marcadores somáticos são:
provenientes dos mecanismos da emoção. - mecanismos que aumentam a precisão e a eficiência
Exemplo: dos nossos processos de decisão

➙ Decisões simples, como: - são como que um sistema de orientação da decisão e


da nossa relação social com os outros.
- marcar o dia e a hora de um encontro ou escolher
entre uma esferográfica azul ou vermelha, tornaram-se ➙ Os sinais automáticos que desencadeiam protegem-
tarefas impossíveis nos imediatamente da repetição de prejuízos anteriores
ou alertam-nos para benefícios passados.
-porque: Elliot perde-se ante os prós e os contras de
cada possibilidade e em pormenores irrelevantes.
➙ Segundo esta hipótese, Elliot e as pessoas com danos - o seu modelo simplifica excessivamente a natureza
nas áreas pré-frontais: complexa das emoções e que outros estudos revelaram
que há emoções distribuídas por ambos os hemisférios,
- perdem total ou parcialmente a capacidade de envolvendo várias regiões do cérebro.
formarem estes marcadores, o que resulta em
comportamentos de risco, dificuldade na tomada de ➙ Independentemente da controvérsia, Davidson abriu
decisões e atitudes irresponsáveis ou reprovadas uma nova linha de investigação na neurociência da
socialmente. emoção.

Damásio Diferentes processos mentais

➙ Para Damásio, o ato de decidir está suportado: ➙ Compreendemos hoje que os diferentes processos
mentais são interdependentes.
- por um lado, no raciocínio (avaliação da situação e dos
meios para se chegar ao objetivo) e, ➙ A última geração de cientistas transformou a emoção
no seu tema de investigação de eleição e mostrou,
- por outro lado, na avaliação emocional baseada nas
através de pesquisas conclusivas, que:
experiências anteriores e nas nossas preferências.
- nem a cognição é tão lógica e racional como em
➙ Estes dois elementos permitem ao indivíduo:
tempos se defendeu,
- tomar decisões rapidamente
- nem a emoção é tão ilógica e irracional como se
- e empenhar a energia necessária para empreender a julgava.
ação.
➙ Graças aos seus trabalhos, conhecemos as etapas a
➙ É também neste sentido que se afirma hoje que: que obedecem os processos emocionais e as estruturas
que neles estão envolvidas.
- existe uma estreita relação entre a emoção e a
motivação humanas, como analisaremos mais à frente. ➙ Sabemos agora que, na presença de um estímulo, o
nosso organismo inicia um processo de:
Lateralização das emoções
- interpretação, avaliação e produção de resposta
➙ Richard Davidson emocional que implica de forma especial a amígdala e o
➙ Numa série de estudos recentes, Davidson e a sua córtex orbitofrontal.
equipa descobriram uma maior ativação do córtex pré-
frontal direito na presença de emoções negativas e uma
maior ativação do córtex pré-frontal esquerdo perante Emoções primárias e emoções secundárias ou sociais
emoções positivas.
➙ Da mesma forma que os neurocientistas se
➙ Este padrão é conhecido como assimetria cerebral concentraram na investigação da componente
das emoções. neurofisiológica das emoções, os antropólogos e
psicólogos de várias áreas ocuparam-se em investigar a
➙ Pesquisas a este nível mostram também que o dimensão comunicativa destes processos, dedicando-se:
hemisfério direito está mais envolvido na compreensão
do material emocional do que o esquerdo. - ao estudo da sua componente comportamental.

➙ Davidson defende que: ➙ Ainda que não possamos pôr-nos no lugar de outra
pessoa e experienciar as suas emoções da mesma forma:
- a lateralização das emoções está de alguma forma
ligada à maior ou menor motivação, isto é, à maior ou - é nos possível inferir o que está a passar-se com os
menor confiança e esforço na busca de objetivos. outros através da análise das suas expressões faciais e
postura corporal.

Críticos de Davidson
Componente comportamental das emoções
➙ Críticos de Davidson defenderam, posteriormente,
que: ➙ A componente comportamental das emoções é muito
importante, pois:
- as expressões emocionais são comunicações não ➙ A teoria de Ekman tem por base:
verbais poderosas na interação com os outros.
- as expressões faciais
Exemplo:
- e a forma como cada uma das emoções básicas pode
A expressão: ser expressa através de músculos faciais.

➙ Os olhos são o espelho da alma. ➙ Ekman acredita que:


- Quando se olha para um rosto humano, os olhos - as expressões faciais associadas a cada emoção são
dominam a comunicação emocional, daí que revelem o distintas entre si, involuntárias, previsíveis e fáceis de ler
nosso estado de espírito, as nossas emoções. para alguém que as tenha estudado.
- Disfarçar as emoções é muito difícil, pois nunca ➙ A sua pesquisa envolve:
conseguimos ocultar completamente o nosso estado
emocional. - a decomposição das expressões faciais até aos seus
elementos musculares específicos
Neurologista
- e o desenvolvimento de programas para ajudar a
➙ O neurologista francês Guillaume Duchenne (1806- treinar pessoas a tornarem-se observadores mais
1875) foi pioneiro no estudo das expressões faciais precisos das emoções e dos sentimentos que assomam
humanas, nomeadamente do sorriso. no rosto dos outros.

➙ A chave, ao que parece, está na contração


involuntária do orbicularis oculi, o músculo orbicular do
Emoções humanas
olho, ou seja, um sorriso genuíno envolve não apenas os
músculos dos lábios e da boca, mas também os ➙ De acordo com Ekman, são seis, eventualmente sete,
músculos dos olhos. as emoções humanas básicas primárias ou universais.

➙ Para testar a hipótese de que:


Charles Darwin - o rosto reflete expressões emocionais e que essas
➙ Em 1872, Charles Darwin defendeu, em Expressão manifestações são compreensíveis para todas as
das Emoções no Homem e Animais, que: pessoas, independentemente da cultura a que
pertencem, Ekman percorreu diversas sociedades:
- as emoções são adaptativas, essenciais à sobrevivência
e programadas pelo processo de seleção natural. - Argentina, Brasil, Chile, Japão, EUA -, incluindo as
culturas remotas da Nova Guiné (não expostas à
➙ Sem ignorar a sua dimensão fisiológica, valorizou televisão e a outros meios de comunicação social),
sobretudo: apresentando imagens de diferentes expressões faciais.

- a função comunicativa e os aspetos expressivos da Ekman concluiu


emoção.
➙ Ekman concluiu - que as expressões faciais de medo,
➙ Esta obra só muito recentemente foi redescoberta e ira, nojo, espanto, tristeza e alegria são reconhecidas por
mereceu a atenção dos cientistas. pessoas pertencentes a diversas culturas em todo o
mundo.
➙ Nela, Darwin socorre-se das fotografias e dos estudos
de Duchenne.
Resultados

➙ Na senda de Duchenne e Darwin, diversos ➙ Os resultados da investigação que Ekman


investigadores contemporâneos, como Paul Ekman, têm desenvolveu em cinco culturas distintas, indicavam:
realçado o caráter inato de um conjunto de emoções
- maior homogeneidade no reconhecimento de algumas
básicas e a existência de expressões faciais universais,
expressões, como a alegria e o espanto, do que noutras,
isto é, biologicamente programadas e comuns a todos os
como a tristeza e o medo.
indivíduos.
Estes resultados levaram-no a concluir que:

Teoria de Ekman
- embora as emoções primárias ou básicas pareçam ser programadas, pelo menos em parte, ou que as emoções
expressas da mesma maneira em diferentes contextos, a primárias não possam ser influenciadas pela cultura.
verdade é que as regras de expressão (ou de exibição)
definem, em cada cultura, quem pode revelar uma
determinada emoção a quem, quando, como e com que As emoções
intensidade.
➙ As emoções têm por base dispositivos inatos e estes
➙ Ou seja, Ekman não rejeitou o papel da aprendizagem mecanismos fazem parte da história evolutiva da nossa
e da cultura nas respostas emocionais. espécie.

➙ Porém, a expressão da emoção traduz, em cada


Exemplo: ira indivíduo e em cada cultura, a interação entre:

- fatores biologicamente programados


➙ Sabemos que a sua expressão autêntica em
determinados contextos sociais, públicos ou privados, - e fatores socioculturais aprendidos.
nos pode ser prejudicial.
Podemos então concluir que:
➙ Por isso, a maioria de nós aprendeu:
➙ a experiência pessoal e a cultura não anulam a
- não só a controlar a sua intensidade, universalidade da expressão emocional, mas sobrepõem
influências que explicam muitas das diferenças de
- como também a selecionar os contextos para a sua
expressão das emoções em diferentes culturas.
expressão.

➙ Nem sempre este autocontrolo é fácil ou conseguido,


mas a verdade é que somos socialmente moldados, As culturas:
através dos processos de socialização, no sentido de o
construir. ➙ Dão forma particular a alguns aspetos da expressão
da emoção

Exemplo:
Outras reações emocionais
-a morte de alguém próximo está, em muitas culturas,
➙ Facilmente te dás conta de que existem outras associada a expressões emocionais de tristeza ou de dor,
reações emocionais para além deste conjunto restrito de mas a forma como essas emoções se manifestam e são
seis emoções básicas. avaliadas pelos outros é, claramente, cultural e pessoal.

➙ Importa, pois, acrescentar que existem outros


comportamentos que podem igualmente ser definidos
➙ Dão forma particular aquilo que poderá constituir o
como emoções.
indutor de determinada emoção
Exemplo:
Exemplo:
- o ciúme e a culpa, os quais se enquadram nas
- um lugar específico pode ser indutor de medo, tristeza
chamadas emoções secundárias e sociais.
ou alegria para alguém - em função das suas vivências e
história pessoal - e passar despercebido à maioria das
pessoas.

➙ Dão forma particular à cognição e aos


comportamentos que se seguem à emoção

Exemplo:
Papel da sociedade
- se tivermos má nota num teste, ficaremos,
➙ O papel desempenhado pela sociedade na formação
provavelmente, tristes; mas, se avaliarmos o resultado
das emoções secundárias é maior do que nas primárias.
como decorrente da nossa falta de empenho ou excesso
➙ Todavia, isto não significa que as emoções
de confiança, poderemos sentir alguma culpa e decidir,
secundárias não sejam, também elas, biologicamente
em função disso, que nos empenharemos o bastante
para o próximo teste, de modo a que não volte a repetir- - sentir empatia e ter esperança.
se o mau resultado.
➙ Os antecedentes deste novo conceito estão
presentes em dois tipos de inteligência pessoal e social
considerados no modelo das inteligências múltiplas de
Conclusão: Gardner:
➙ As emoções não são apenas biológicas e, menos - a inteligência interpessoal
ainda, exclusivamente socioculturais:
- a inteligência intrapessoal.
- são processos adaptativos e autorreguladores
complexos de natureza biocultural.
Habilidades propostas em algumas teorias sobre
inteligência emocional
O papel das emoções no comportamento humano ➙ Controlarmos, discriminarmos e entendermos as
➙ A expressão das emoções, a sua orientação e nossas emoções e as dos outros ou
controlo são, pois, uma bússola que regula a nossa ação. ➙ usarmos a informação emocional de forma
inteligente para guiar o pensamento e as ações
Papel das emoções não inatas ➙ Porém, é importante ter presente que se trata de
➙ Todas as emoções não inatas - tanto as agradáveis, mais uma forma de entender que existem outras
quanto as que implicam dor e sofrimento - têm um perspetivas de se ser inteligente e não de uma receita
papel na orientação do nosso comportamento e para o êxito ou para a felicidade.
construção da personalidade e implicam aprendizagem.
Modelo mental proposto por John D. Mayer e Peter
Salovey
➙ Basta lembrar as limitações de Elliot e Gage, para
percebermos a sua importância e o seu papel regulador ➙ Uma das mais relevantes perspetivas sobre a
do comportamento humano. inteligência emocional parte do modelo mental
proposto por John D. Mayer e Peter Salovey, que aborda
Inteligência emocional a inteligência emocional como um conjunto de
capacidades ou habilidades mentais.
➙ O interesse científico pelo estudo dos processos
emocionais, bem como o crescente interesse pelo papel ➙ Estes investigadores defendem que a emoção pode
das emoções no quotidiano intra e interpessoal, deram facilitar a resolução de problemas, oferecendo aos
origem, na década de 1990, ao conceito de inteligência recursos cognitivos soluções mais diversificadas e
emocional e ao florescimento de diversas teorias nesta criativas.
área.
➙ Segundo Mayer e Salovey, a inteligência emocional
➙ O interesse pelo tema é de tal ordem que tem dado remete-nos para um "pensador com um coração" que
origem a vários livros, artigos de investigação, espaços percebe, compreende, constrói e transforma relações
na televisão e na rádio, sítios na web, etc. sociais.
➙ A inteligência emocional é hoje um conceito ➙ O modelo que propuseram na década de 1990
comummente utilizado para designar a capacidade de integra quatro habilidades inter-relacionadas.
usarmos as emoções para promovermos o sucesso
pessoal.

➙ Abrange:
- o conjunto de competências pessoais e sociais que
explicam a variabilidade na acuidade das respostas
emocionais
- inclui a capacidade de a pessoa se motivar a si mesma
e persistir nos objetivos, a despeito das frustrações
- controlar os impulsos e adiar as recompensas
- impedir que o desânimo tolde o pensamento e tolha a
Daniel Goleman
ação
➙ Daniel Goleman parte da necessidade de conciliação Motivação
entre as dimensões racional e emocional humanas, na
➙ A generalidade das ações humanas é orientada em
medida em que considera que estas se potenciam
mutuamente, favorecendo o desenvolvimento do função de um objetivo.
indivíduo. ➙ O nosso comportamento não se limita a caminhar,
➙ Descreve a inteligência emocional como: alcançar ou fugir, mas responde a motivações que
podem assumir formas muito variadas.
- a capacidade de uma pessoa ter consciência e gerir as
suas emoções, de modo que estas sejam expressas de ➙ Caminhamos para nos dirigirmos a determinado lugar
maneira apropriada e eficaz. ou objeto, esticamo-nos para alcançar algo que
queremos ou necessitamos naquele momento e fugimos
➙ Segundo o psicólogo, o controlo das emoções é de algo que nos é aversivo.
essencial para o desenvolvimento da inteligência do
indivíduo. Exemplo:
- O alpinista Aron Ralston tornou-se mundialmente
➙ Define a inteligência emocional como:
conhecido quando, após uma queda, tomou a decisão
- a "capacidade de identificar os nossos sentimentos e os de cortar o próprio braço para sobreviver.
dos outros, de nos motivarmos e de gerir bem as
- Aron escalava as montanhas do Utah quando uma
emoções dentro de nós e nos nossos relacionamentos".
pedra resvalou, provocando a sua queda.
- é a maior responsável pelo sucesso ou insucesso dos
- No final, um dos seus braços ficou preso sob a rocha.
indivíduos e pode ser desenvolvida ao longo de toda a
Durante cinco dias, Aron tentou libertar-se de todas as
vida.
maneiras, até que, desesperado, no limite da sua
resistência física e mental, percebeu que só com uma
decisão drástica poderia salvar-se. Foi então que
Modelo sobre a inteligência emocional amputou o próprio braço.
➙ O seu modelo sobre a inteligência emocional centra- O que é um motivo?
se num conjunto de competências (pilares) que, na sua
perspetiva, se forem desenvolvidas, favorecem um ➙ A resposta é complexa, já que pode ser uma
melhor desempenho pessoal e profissional. São elas: necessidade, uma vontade, um interesse ou um desejo
que orienta o teu comportamento.
• Autoconsciência - capacidade de reconhecer as
próprias emoções e sentimentos. ➙ De forma simples, podemos falar em motivação e no
conjunto de forças (internas e externas) que mobilizam,
• Autorregulação - capacidade de lidar com as próprias dirigem ou sustentam o teu comportamento,
emoções, adequando-as a cada situação vivida. conferindo-lhe força, direção e persistência.
• Automotivação - capacidade de se motivar e de se Na base do comportamento humano estão diferentes
manter motivado. tipos de motivação. Os motivos fisiológicos, primários ou
• Empatia - capacidade de perceber a perspetiva das orgânicos, estão orientados para a autopreservação e
outras pessoas. incluem, por exemplo, a necessidade de alimento. Os
motivos pessoais, sociais ou secundários, por seu lado,
• Habilidades sociais/de relacionamento - conjunto das incluem as intenções e a tentativa de realização de
capacidades envolvidas na interação social. objetivos ou projetos.

Teste de inteligência emocional para avaliar o ➙ A ação humana pressupõe a consciência de si, dos
quociente emocional objetivos a atingir e das potencialidades da própria
➙ Diferente do quociente de inteligência (QI), que conduta.
avalia os conhecimentos de cariz inte-lectual, científico e ➙ É esta força autorreguladora que permite às pessoas
académico do indivíduo, Daniel Goleman desenvolveu o adiar gratificações (satisfação de necessidades) em favor
teste de inteligência emocional para avaliar o quociente de objetivos a longo prazo (realização de projetos).
emocional (QE), isto é, a capacidade de a pessoa
reconhecer e lidar com os seus sentimentos e emoções,
visando o seu desenvolvimento pessoal e profissional
Experiência de Walter Mischel
baseado nos cinco pilares propostos.
➙ Um dos mais célebres estudos sobre esta
problemática foi realizado pelo psicólogo Walter Mischel
que deu início a um importante projeto experimental ➙ Observando estes comportamentos, Mischel e a sua
que pretendia avaliar: equipa perceberam que as crianças que conseguiam
esperar pela segunda guloseima utilizavam estratégias
- o autocontrolo e a capacidade das crianças adiarem
de autoproibição e de autodistração (sentar-se sobre as
gratificações.
mãos, esconder o doce, olhar para o lado ou cantar uma
A experiência: canção, por exemplo), o que indicava que o
autocontrolo tinha mais que ver com estratégia e
➙ Realizadas no contexto de investigação sobre esforço consciente do que com um comportamento
personalidade e conhecidas como teste dos natural das crianças, o que reforça a importância do
marshmallows, as experiências de Mischel implicavam o papel da motivação no comportamento humano.
seguinte desafio:
➙ Em estudos posteriores, em que voltou a analisar as
- Uma criança de 4 anos é levada por um adulto para mesmas crianças, Mischel verificou que:
uma sala.
- a capacidade de adiar a gratificação é um bom preditor
- Passados alguns instantes, o adulto diz à criança que de sucesso, uma vez que as crianças que se revelaram
precisa de se ausentar por um certo tempo, a fim de capazes de esperar pela gratificação apresentavam:
resolver um pequeno problema.
- melhores resultados escolares
- Nessa altura, é proposto à criança um prémio
constituído por duas guloseimas, se conseguir aguardar - maior fluência verbal
pelo regresso do adulto.
- atenção
- Caso não consiga esperar, ganhará apenas uma
- confiança em si
guloseima, mas imediatamente.
- capacidade de planear e de antecipa
- Depois do acordo, o experimentador abandona a sala
deixando junto da criança a guloseima que esta poderá - menos probabilidade de perder o controlo sob
comer se preferir a gratificação imediata. stresse do que as crianças que revelaram menos
capacidade de resistência no teste dos marshmallows.

➙ Estudos posteriores ao realizado por Mischel


Qual a probabilidade de uma criança resistir a este
mostraram que a capacidade de adiar a gratificação
desafio?
durante o tempo de espera imposto é influenciada por
➙ Aos 4 anos, poucas crianças conseguirão resistir aos um processo de tomada de decisão racional em que o
15 ou 20 intermináveis minutos de espera. grau de fiabilidade do ambiente é tomado em
consideração.
➙ Por isso, a maioria das crianças do projeto (duas em
cada três) apoderou-se da única guloseima e algumas ➙ Por outras palavras, as crianças parecem aguentar
fizeram-no imediatamente, isto é, logo após o mais tempo se o ambiente em que a experiência é
experimentador abandonar a sala. realizada lhes parecer de confiança.

➙ Quanto às crianças que conseguiram vencer a


tentação:
A mente
- taparam os olhos para evitar o contacto visual com a
guloseima A mente como sistema de construção do mundo

- apoiaram a cabeça entre os braços ➙ Consciência e mente têm significados diferentes.


- olharam para o teto
- falaram sozinhas Consciência
- cantaram, brincaram com as mãos e com os pés ➙ Atualmente, os investigadores tendem a considerar a
consciência como a noção que a cada momento temos
- tentaram dormir
de nós próprios, do nosso pensamento e do ambiente
➙ tudo isto com o objetivo de se ajudarem na luta em que estamos.
contra o impulso.

Mente
Conclusões
➙ A mente, por sua vez, enquanto lugar da totalidade ➙ Neste sentido, inclui a imaginação, lembranças,
da atividade psíquica, cria os significados que atribuímos soluções de problemas, devaneios e muitos outros
ao mundo e à nossa própria existência. processos.

➙ A combinação harmoniosa dos diferentes processos ➙ É simbólico e não é diretamente observável.


mentais é um todo uno e único que nos permite
conhecer, sentir e agir sobre o mundo em que se
desenrola e se constrói a nossa existência. Imaginação
➙ A mente num sentido amplo, engloba todos os ➙ Aptidão do pensamento para formar e para ativar
fenómenos intelectuais e psicológicos, ou seja, a imagens mentais ou representações (imaginação
totalidade organizada dos processos psíquicos e as reprodutora ou memória imaginativa) ou construção
componentes estruturais e funcionais das quais mental de situações (imaginação criadora).
dependem. Conjunto dos conteúdos emergentes do
cérebro e da sua atividade.

➙ Somos capazes de construir a nossa história, porque: Como representamos o mundo?

- pensamos sobre as nossas vivências ➙ Fecha os olhos e pensa numa pessoa de quem gostes
especialmente.
- os cambiantes emocionais que atribuímos às nossas
experiências ➙ Consegues, provavelmente, trazer à memória de
trabalho (ou de curto termo) uma imagem que te
- e as nossas ações e as daqueles com quem nos mostra como essa pessoa é.
relaciona-mos.
➙ Essa imagem da sua aparência física é uma
representação mental que te ajuda a "ver" alguém
➙ Aliás, uma das principais atividades da mente é significativo para ti, mesmo quando essa pessoa está
pensar, isto é, construir e manipular imagens (visuais, ausente.
auditivas, táteis, olfativas ou gustativas) e representar ➙ Podes também pensar no seu nome ou nas suas
simbólica e mentalmente o mundo. principais características psicológicas, qualidades e
habilidades e continuarás a ter representações mentais.

Processos de interação e de auto-organização

➙ Isto significa que os processos de interação e de auto-


organização pelos quais passamos moldam o nosso
mundo interno e externo, uma vez que têm influência
sobre a forma como contruímos imagens mentais, quer
elas estejam associadas aos processos:
- emocionais (emoções, sentimentos e afetos) ➙ Enquanto seres humanos, temos tendência para
simplificar a complexa realidade que nos envolve.
- ou cognitivos (perceção, memória, aprendizagem,
inteligência). ➙ Por exemplo:

➙ As representações ou imagens que a nossa mente e - utilizamos a atenção seletiva para nos concentrarmos
cérebro continuamente constroem (e que são a base do em determinados estímulos e ignorarmos outros.
pensamento, da inteligência, da imaginação e da
- De forma semelhante, para pensarmos naquilo que nos
consciência) formam-se na complexa rede de neurónios
rodeia (pessoas, eventos, objetos, ideias...),
do nosso cérebro em consequência das relações que
simplificamos e formamos imagens visuais e conceitos.
cada um de nós estabelece com os ambientes físicos,
sociais e culturais envolventes. - A importância desta última forma de representação
mental é enorme, daí que normalmente as imagens
(atributos sensoriais) estejam associadas a conceitos.
Pensamento

➙ Conjunto de atividades internas na qual ideias, Conceito


imagens, representações mentais ou outros elementos
mentais são manipulados. ➙ Um conceito é, essencialmente, uma representação
mental de objetos, ideias, eventos ou pessoas similares.
➙ Por exemplo: ➙ O mesmo se passa com a forma como abordamos os
problemas com que nos vamos deparando e com as
- o conceito animal permite agrupar um inúmero soluções que para eles imaginamos.
conjunto de seres vivos não humanos que conheces.
- Por sua vez, os conceitos organizam-se em redes,
através de categorias, isto é, estabelecem relações entre Problemas
si, o que nos permite pensar mais rapidamente sobre as
coisas. ➙ Os problemas com que nos confrontamos na nossa
vida quotidiana podem ser:
- Estas redes envolvem, muitas vezes, ligações
hierárquicas. - muito estruturados (por exemplo, um quebra-cabeças)
- ou pouco estruturados (por exemplo, um dilema
moral).
➙ Vejamos, um animal corresponde a uma categoria
superior de organização mental (ou seja, é um conceito
amplo e geral), um gato equivale a uma categoria básica ➙ A natureza do problema e a informação disponível
(ou seja, é um conceito menos abrangente) e um siamês sobre ele e sobre a possível solução serão mais óbvias e
diz respeito a uma categoria inferior lou seja, é um acessíveis no primeiro caso e menos no segundo, sendo,
conceito específico, mas menos utilizado do que gato). por isso, mais fácil encontrarmos as respostas certas
para os problemas estruturados.

➙ Assim, no primeiro caso, podemos recorrer a


estratégias baseadas em algoritmos, isto é, alicerçadas
em processos de cálculo destinados a solucionar um
dado problema.

➙ No segundo caso, tenderemos a recorrer a


estratégias baseadas na heurística, ou seja, em
estratégias de invenção ou descoberta que fornecem um
modo eficiente de responder ao problema.
Simplificando:
Como resolvemos problemas?
• Estratégias baseadas em algoritmos - problemas muito
estruturados.
Conceitos e categorias • Estratégias baseadas em heurística - problemas pouco
estruturados.
➙ Os conceitos e as categorias permitem que o
pensamento seja mais rápido e organizado. O exemplo que se segue apresenta um conhecido
dilema, muito replicado no ensino de estratégias de
➙ Contudo, a velocidade do pensamento não é a única
tomada de decisão.
qualidade de um bom pensador.

➙ Outra habilidade essencial diz respeito à capacidade


de resolução de problemas. O dilema do prisioneiro

➙ Imagina dois suspeitos detidos pelas autoridades.


Após a detenção, as autoridades percebem que não têm
➙ Estamos perante um problema sempre que provas suficientes para a acusação, pelo que oferecem a
enfrentamos um obstáculo no caminho para um ambos o mesmo acordo:
objetivo, isto é, sempre que temos de encontrar a
melhor solução num conjunto de alternativas possíveis. • Se um dos suspeitos confessar o crime,
testemunhando contra o parceiro e o outro permanecer
em silêncio, o que confessou sai em liberdade, e o seu
➙ A forma como interpretamos o mundo à nossa volta parceiro é acusado e condenado a uma pena de dez
está intimamente ligada aos nossos pensamentos, ideias anos de prisão.
e experiências. • Se ambos permanecerem em silêncio, serão ambos
condenados a seis meses de prisão.
➙ Nesse sentido, a forma como estamos mais ou menos
motivados para determinadas temáticas é muitas vezes
condicionada pelo ambiente que nos rodeia.
• Se ambos traírem o parceiro, cada um será condenado Exemplos de estratégias baseadas na heurística
a cinco anos de prisão. Cada suspeito toma a sua
decisão, sem que o parceiro tenha dela conhecimento. ➙ Começar pelo resultado que se pretende atingir
(como um investigador de um crime que procura o
➙ Nenhum deles sabe que o acordo foi também culpado)
proposto ao outro, nem, por conseguinte, que decisão
aquele tomou. Ambos os suspeitos estão perante um ➙ procurar analogias (usando a experiência na
dilema: denunciar o parceiro, permanecer em silêncio e resolução de problemas semelhantes)
negar o crime ou confessá-lo, correndo o risco de o ➙ e dividir o problema em pequenas partes (definindo
outro não agir da mesma forma. objetivos intermédios que tornam o problema mais fácil
de gerir).

Psicólogo gestaltista Karl Duncker

➙ O psicólogo gestaltista Karl Duncker criou um teste


que ficou conhecido como problema da vela.
➙ No dilema apresentado, cada um dos suspeitos está
➙ Trata-se de um desafio cuja solução implica recorrer
perante uma situação que exige confiança no que o
a estratégias de inovação e descoberta baseadas na
outro vai fazer, embora nada tenha sido entre eles
heurística. Duncker aplicou-o aos seus alunos.
combinado.

➙ Sabemos que, quando colocadas perante este dilema,


muitas pessoas tomam a decisão mais segura - trair o Problema (A):
outro -, uma vez que ela aporta maior probabilidade de
se sair em liberdade, evitando, assim, o pior cenário de ➙ Temos uma mesa, uma vela, uma caixa de pionés,
todos - ser traído, condenado e encarcerado dez anos, uma carteira de fósforos e a parede.
enquanto o outro sai em liberdade.
➙ O desafio é: usando apenas estes elementos, prender
➙ Contudo, se nos detivermos no dilema sob o ponto verticalmente a vela na parede, de tal modo que,
de vista do maior benefício possível, como na teoria dos quando acesa, esta não chamusque a parede e a cera
jogos, chegamos à conclusão de que o melhor cenário é não pingue na mesa.
a cooperação entre os suspeitos, uma vez que é a Solução (B):
hipótese que garante a ambos o menor tempo de
encarceramento possível. - Esvaziar a caixa de pionés e fixá-la à parede com alguns
deles, de forma a servir de suporte para a vela.
➙ Organizar o dilema num esquema como o
apresentado facilita o recurso a estratégias baseadas em
algoritmos, uma vez que torna mais fácil a realização dos
➙ As dificuldades que a maioria das pessoas enfrenta
cálculos e, por essa via, a tomada de decisão.
face a este desafio são causadas por aquilo que Duncker
➙ Enquanto as fórmulas e os procedimentos passo a designou por fixidez funcional.
passo, que estão na base dos algoritmos, conduzem à
➙ Para chegar à solução do problema da vela, é preciso
resposta certa para o problema (se forem bem
ver a caixa, não na sua função usual de recipiente de
aplicados, claro está!), no caso das estratégias
pionés, mas como uma plataforma na qual é possível
heurísticas baseamo-nos em regras de ouro que fomos
apoiar a vela.
aprendendo com a experiência.
➙ Por vezes, não conseguimos resolver desafios, como
➙ Por exemplo:
o problema da vela, porque a estratégia que escolhemos
- quase todos nós sabemos que se um aparelho não é a mais adequada e torna-se, ela própria, um
eletrónico não está a funcionar corretamente devemos obstáculo.
desligá-lo e voltar a ligá-lo.
- Podemos, porém, facilmente perceber por este
exemplo que estas estratégias, ao contrário dos ➙ Dificuldades acrescidas podem surgir quando:
algoritmos, nem sempre nos conduzem à solução. - tentamos usar padrões mentais desajustados ao
- Afinal, o aparelho pode continuar sem funcionar depois problema (isto é, tentamos aplicar a conhecida regra em
de o voltarmos a ligar. equipa vencedora não se mexe, adotando linearmente
respostas usadas no passado)
- nos deixamos levar pela fixidez funcional (isto é, não ➙ Imaginação reprodutora e imaginação criadora
vislumbramos novas utilidades para objetos aos quais conjugam-se na nossa capacidade de planear, decidir e
estamos habituados) prever o futuro.
- temos limites autoimpostos (isto é, deixamo-nos levar ➙ O campo de possibilidades e de alternativas que se
pela ideia de que é impossível fazer determinada coisa abrem no nosso horizonte é avaliado e selecionado em
de uma maneira específica) função de significados atribuídos a experiências, ações e
situações passadas.
- ou não temos conhecimento, interesse ou motivação
para resolver o problema.

➙ As pessoas criativas tendem a apresentar um


pensamento divergente, isto é, têm a capacidade de
gerar soluções atípicas, mas apropriadas, quando
confrontadas com problemas.

➙ Este tipo de pensamento contrasta com o


pensamento convergente, que produz respostas
baseadas sobretudo na lógica e no conhecimento.

➙ Pensar fora da caixa, uma expressão que se tem


vindo a tornar familiar, assume uma relevância
particular no âmbito da resolução de problemas.

➙ Diretamente ligada à criatividade, esta expressão


traduz a capacidade de pensarmos em ideias originais
quando queremos resolver um problema de forma
inovadora.

➙ Independentemente de a resolução dos problemas


estar mais assente em estratégias divergentes ou
convergentes, na tua qualidade de ser humano, tens
uma vantagem que outros organismos vivos não têm:
- consegues produzir, na tua consciência, imagens de
situações que ainda não aconteceram, formular
cenários, prever resultados e decidir em conformidade
com as opções que te parecerem mais vantajosas, isto é,
consegues imaginar.

➙ A imaginação pode ser retrospetiva (imaginação


reprodutora) e, nesse sentido, cruza-se com a perceção
e com a capacidade evocativa da memória, ou
prospetiva (imaginação criadora), isto é, orientada para
o futuro.

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