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EROS E PSIQUÊ
AMOR, ALMA E INDIVIDUAÇÃO NO
DESENVOLVIMENTO DO FEMININO
São Paulo
2021
Psicologia Analítica: Abordagem Junguiana
EROS E PSIQUÊ
AMOR, ALMA E INDIVIDUAÇÃO NO
DESENVOLVIMENTO DO FEMININO
São Paulo
2021
Psicologia Analítica: Abordagem Junguiana
São Paulo
2021
Psicologia Analítica: Abordagem Junguiana
Eros e Psiquê
Conta a lenda que dormia
uma Princesa encantada
a quem só despertaria
um Infante, que viria
de além do muro da estrada.
Ele tinha que, tentado,
vencer o mal e o bem,
antes que, já libertado,
deixasse o caminho errado
por o que à Princesa vem.
A Princesa Adormecida,
se espera, dormindo espera.
Sonha em morte a sua vida,
e orna-lhe a fronte esquecida,
verde, uma grinalda de hera.
Longe o Infante, esforçado,
sem saber que intuito tem,
rompe o caminho fadado.
Ele dela é ignorado.
Ela para ele é ninguém.
Mas cada um cumpre o Destino –
ela dormindo encantada,
ele buscando-a sem tino
pelo processo divino
que faz existir a estrada.
E, se bem que seja obscuro
tudo pela estrada fora,
e falso, ele vem seguro,
e, vencendo estrada e muro,
chega onde em sono ela mora.
E, inda tonto do que houvera,
à cabeça, em maresia,
ergue a mão, e encontra hera,
e vê que ele mesmo era
a Princesa que dormia.
Fernando Pessoa
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Psicologia Analítica: Abordagem Junguiana
Sumário
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Psicologia Analítica: Abordagem Junguiana
Resumo
Este presente trabalho trata do mito Eros e Psiquê e sua correlação com
a Psicologia Analítica de Carl Gustav Jung. É focado na importância do processo
de individuação, através do qual, o indivíduo se depara com o inconsciente
coletivo, arquétipos, anima/animus, complexos, buscando tornar consciente
suas sombras, a fim de integrar os opostos existentes dentro de si e na sua
relação com o outro. O objetivo é mostrar como o mito, de forma simbólica, está
relacionado com a vida real de muitas pessoas e como ele pode auxiliar no
processo terapêutico realizado dentro da prática clínica. Assim, a história do mito
é contada de maneira detalhada e alguns conceitos de C. G. Jung são
abordados, a fim de que, a relação entre os dois possa se dar de maneira clara.
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Introdução
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Eros e Psiquê
Em uma cidade morava um rei, uma rainha e suas três filhas. Todas muito
belas, porém, a mais nova, Psiquê, era possuidora de uma beleza digna dos
deuses, sendo comparada pelos povos com a própria Afrodite encarnada.
Pessoas de todas as partes do mundo vinham admirá-la e adorá-la, porém ao
contrário de suas duas irmãs mais velhas, Psiquê não conseguia se casar, pois
todos os homens a olhavam como uma divindade e não como possível esposa.
A jovem, mesmo sem ter consciência, atraiu para si a ira de Afrodite. Os homens
deixaram de prestar cultos a Afrodite e seus templos foram abandonados,
cerimônias negligenciadas, altares permaneceram vazios e sacrifícios foram
adiados. Psiquê recebia honras e oferendas como se fosse a própria deusa
Afrodite em carne e osso.
Imensamente ofendida por ter seu nome profanado por uma mortal,
Afrodite, a deusa da beleza, quis usar a beleza de Psiquê para castigá-la, e
imediatamente chamou o filho, o menino alado Eros (o terror dos homens e dos
deuses, indisciplinado, que com suas armas deixavam todos a sua mercê, a
serviço da paixão) e contou-lhe o ocorrido. E em nome de seu amor de mãe,
pediu a ele que lhe vingasse. Deu a ele a missão de encontrar Psiquê e fazê-la
apaixonar-se pelo homem mais horrendo, a fim de retirar-lhe a dignidade e que
a levasse ao sofrimento.
Psiquê sentia-se refém da própria beleza.
Enquanto isso, o rei infeliz, não entendia por que a filha não conseguia se
casar. Temeroso com a possibilidade de ter sido amaldiçoada pelos deuses,
resolveu procurar o famoso oráculo Apolíneo em Mileto, suplicando sua ajuda,
para que os deuses o auxiliassem a arrumar um casamento. Em resposta, os
deuses vieram informar de que sua filha deveria ser levada a um alto e íngreme
rochedo, onde seria abandonada, para um casamento de morte com um
monstro.
Para diminuir o sofrimento de seus pais, Psiquê resiliente, aceita seu
destino. As pessoas da cidade comoveram-se com a situação e decidiram
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acompanhar a jovem até o penhasco. Sozinha, com muito medo, foi transportada
pelo vento brando de Zéfiro, que a levou para um lindo jardim, cansada, dormiu.
Ao despertar, caminhou pelo jardim e pôde contemplar a grandiosidade
de um palácio e a beleza do lugar no qual se encontrava. Percebeu estar em um
local construído por divindades. Seguiu até o palácio, vencendo o medo,
adentrou. Foi acolhida por vozes que passaram a servi-la. Informaram a ela que
aquilo tudo a partir daquele momento lhe pertencia.
Psiquê desfrutou de um banho e pôde dormir. À noite recebeu a visita
daquele que ordenou a Zéfiro que a trouxesse ao tal paraíso. A princípio, ficou
temerosa por sua virgindade, mas entregou-se aos braços do seu misterioso
benfeitor, e foi desposada por ele. Aquilo que lhe parecia estranho, virou um
hábito e Psiquê entregou-se ao deleite.
Em uma noite, seu esposo, o qual só conhecia a voz e o tato, lhe disse
que ela estaria ameaçada por um triste destino. Que suas irmãs iriam se
aproximar, através do penhasco, perturbadas por sua morte.
Pediu para que não lhes desse ouvidos. Ela concordou, porém continuava
sofrendo com a solidão. Seu esposo ao chegar e vê-la marcada pelas lágrimas,
alertou-a do risco que ela correria ao ver suas irmãs. Mesmo assim, Psiquê
continuou a insistir, convencendo Eros a permitir a visita das irmãs no palácio,
advertindo que, mesmo que as irmãs insistissem que ela deveria ver seu rosto,
ela não o faria, porque se o fizesse, ela o perderia para sempre. Psiquê
completamente apaixonada, afirma que prefere morrer do que perder seu amor.
Suas irmãs sempre iam ao rochedo chorar pela morte de Psiquê. Um dia,
o vento Zéfiro levou-as até o encontro de Psiquê. Feliz pelo reencontro, a jovem
contou-lhes que estava casada, morando naquele palácio e tinha tudo quanto
desejasse. As irmãs, curiosas e invejando a vida de sua irmã caçula, queriam
saber quem era o marido. Em poucas palavras, Psiquê falou que se tratava de
um jovem caçador. Como não podia dar mais detalhes, Psiquê abreviou a
conversa dando-lhes algumas joias e pediu que Zéfiro as levasse de volta.
Isso despertou a inveja das irmãs, indignadas com a sorte, riqueza e
felicidade comparada aos casamentos delas. Não contaram para ninguém o
ocorrido e bolaram um plano para castigar e se vingar da irmã orgulhosa.
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Eros fala a Psiquê que ela está grávida e que seu filho será um deus, isso
só não aconteceria se ela se rendesse aos pensamentos das irmãs. Psiquê
solicitou ao seu amado, que mais uma vez, a permitisse ver as irmãs, alegando
que isso seria motivo de grande felicidade, cedendo assim o pedido da
apaixonada esposa.
Novamente as irmãs se lançaram do rochedo ao precipício, sendo
acolhidas por Zéfiro. Psiquê, contou-lhes que estava grávida e da felicidade de
ser mãe, e ao ser questionada novamente pelas irmãs sobre o marido, o
descreveu de outra forma, levantando suspeitas nas irmãs que desconfiaram
que ela mentia e que seu marido poderia ser um deus.
As irmãs voltaram para a casa dos pais, indignadas com a sorte de Psiquê
e o azar dos seus infelizes casamentos. No dia seguinte, seguiram ao encontro
de Psiquê novamente, falaram da sua preocupação com ela, lembraram das
palavras do oráculo de Apolo, sobre o monstro, e a alertaram que ela poderia
estar dormindo com uma serpente por que quando ela tiver engordado, a
serpente iria devorar a ela e ao bebê. As irmãs conspiradoras ofereceram ajuda
para que ela se libertasse de tal perigo, matando o marido.
Transtornada, Psiquê perde a consciência, esquece das palavras de Eros
e acaba por confessar às irmãs que não conhecia o rosto do marido e que ele a
ameaçava de grande desgraça se ela vier a conhecer sua face.
As irmãs montaram um plano para Psiquê se livrar do tão temeroso
marido. Psiquê transtornada, esquecendo-se de todas as promessas que fizera
ao marido, resolveu colocar o plano de suas irmãs em prática. Ela ama o marido,
mas odeia a ideia do monstro. Depois de uma noite de prazer e amor, enquanto
o marido repousava, Psiquê foi procurar um candeeiro e apanhou um punhal.
Assim que a luz revelou o rosto de Eros, ficou tão surpresa frente tal imagem
que, se não tivesse escorregado de suas mãos, teria enterrado o punhal no
próprio peito.
Quis olhar com a luz, toda a beleza de teu esposo, o rosto jovial, os
cabelos dourados e cacheados, as plumas brancas de suas asas repousadas
sobre as costas e todo seu corpo liso e macio e brilhante. Observou as armas do
marido: a aljava e as flechas colocadas ao pé da cama. Então tirou uma flecha
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Afrodite voltou e viu o trabalho concluído ficou furiosa, pensou que sua nora teria
sido auxiliada por seu filho Eros, que estava isolado, recuperando-se de seu
machucado.
No dia seguinte, Afrodite deu a ela a segunda tarefa. Ela deveria ir até o
bosque, próximo às quedas de águas das montanhas onde as ovelhas ferozes
com dorso coberto por lã de ouro vagavam, para que lhe trouxesse um pouco
desta lã. Psiquê acata a ordem e parte, não para cumprir a missão, mas para se
jogar de lá e acabar com seu sofrimento. Foi impedida de se jogar por um caniço
que explicou como enfrentar as ovelhas ferozes. Disse a ela que esperasse o sol
se pôr para que as ovelhas se acalmassem, e que entrasse no bosque para
sacudir as árvores, porque ali os flocos de lã ficavam presos. Psiquê cumpre
essa tarefa, mas Afrodite não se comove e a desafia novamente.
Na tentativa de descobrir se Psiquê era realmente corajosa e esperta,
Afrodite lhe passa outra tarefa. A manda para o rochedo escorregadio da
montanha mais alta, onde rolam as águas mais escuras, que alimentam o rio
Cócito e Estige. Pede para que vá até o topo e traga um pouco da água da fonte
mais alta, em uma jarra de cristal. Psiquê segue seu caminho, ainda pensando
em acabar com sua vida. Chegando no rochedo, percebe a dificuldade da tarefa.
O local era muito estreito, de difícil acesso e um deslize a levaria ao abismo,
além de ser guardado por duas cobras venenosas. Paralisada de medo, sem
ação diante de enorme desafio, Psiquê recebe a ajuda da águia de Zeus, em
retribuição a um favor consentido por Eros. A ave pegou a jarra das mãos de
Psiquê, foi até o ponto mais alto e apanhou a água. Feliz com o feito, Psiquê
retorna até Afrodite e lhe entrega a jarra com a água, cumprindo a tarefa.
Temendo que Psiquê fosse uma feiticeira e com muita raiva a Deusa passou
uma tarefa ainda mais difícil.
Deu a ela uma caixa, para que descesse ao inferno no Palácio de Orco e
pedisse a Perséfone um pouco de sua beleza imortal, que desse apenas para
um dia. E teria de entregar a tarefa até o final do dia.
Psiquê compreendeu que a deusa ao mandá-la para o Inferno, estava
querendo realmente a sua morte. Para abreviar seu sofrimento, subiu até a torre
para se jogar, pois seria o caminho mais curto para chegar ao mundo de Hades.
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Mas a torre a advertiu e disse que não poderia voltar ao mundo dos vivos se
fosse por este caminho. Então, lhe ensinou como acessar o Tártaro e que lá
encontraria a entrada do Inferno, no Tênaro. Recebeu todas as instruções
necessárias para ajudá-la a transpor os obstáculos e armadilhas para conseguir
entrar e sair do mundo dos mortos. Deu a ela o dom da clarividência, as
informações e o caminho que a levasse a Perséfone. A advertiu que em hipótese
alguma deveria abrir a caixa. Psiquê seguiu suas orientações e conseguiu
chegar até Perséfone, que entregou a caixa cheia e fechada. Fazendo o caminho
de volta, vencendo todos os perigos e obstáculos, atravessando finalmente o rio,
onde estava em segurança, Psiquê decidiu abrir a caixa para pegar um pouco
da beleza imortal a fim de conquistar Eros de volta. Porém, na caixa continha o
sono profundo, colocando Psiquê prostrada e imóvel no meio do caminho.
Eros, que havia se recuperado, com saudades de sua amada, fugiu do
palácio de sua mãe e foi procurar Psiquê. Encontrou-a adormecida, pegou-a em
seus braços, recolheu o sono, colocou-o na pequena caixa novamente e fechou.
Com uma de suas flechas tocou levemente Psiquê para que despertasse.
Entregou-lhe a caixa fechada e pediu para que a amada terminasse de cumprir
a missão dada por Afrodite e que as demais coisas para alcançar a felicidade
deles, ele faria.
Eros voou até o céu para pedir ajuda a Zeus, seu pai que concordou
ajudá-lo desde que ele passasse a respeitá-lo (o que nunca tinha feito antes) e
pediu em troca que toda vez que uma menina mortal se destacar por sua beleza,
Eros deveria lhe prestar um favor.
Assim, todos os deuses foram convocados e se fizeram presentes. Do alto
do seu trono, Zeus anunciou que ali estava um jovem que ele mesmo havia
educado e que precisava refrear suas desagradáveis paixões. Que havia
escolhido uma donzela mortal, roubou-lhe a virgindade e que assim deveria ficar
ao seu lado por toda eternidade. Depois, ordenou a Afrodite que não
perturbasse, disse para não temer esse casamento entre uma mortal e um deus.
Imediatamente ordenou a Mercúrio que sequestrasse Psiquê, oferecendo a ela
uma taça de ambrosia, tornando-a imortal.
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Eros
De acordo com a mitologia grega, Eros é o deus do amor.
Segundo Junito de Souza Brandão no livro Mitologia Grega Vol II, a nível
cosmogônico, Eros é compreendido como o princípio Cósmico juntamente com
o Caos. Do ponto de vista psicológico, no mito grego, existem duas formas de
procriação:
Caos por cissiparidade (divisão) e Eros por união amorosa. Eros significa
“o desejo incoercível dos sentidos” (Brandão, 2019, p. 293). Eros e Caos são
irmãos, quando alguma coisa deixou de ser o Caos, ela virou o Cosmo, que é o
arranjo das coisas e o que une é o amor. Eros é o amor, ele busca o contato e
faz unir as coisas, é o desejar. Ele não é nem bom nem ruim, nem acima nem
abaixo, ao mesmo tempo que ele tutela e guia, ele desencaminha e brinca. Ele
tem aspecto benéfico e maléfico, ajuda e desvia, constrói e destrói. É um
paradoxo, um anjo e um demônio. No mito Eros e Psiquê, ele é filho de Afrodite
com Zeus. Eros é o deus do amor, no mito tem o caráter masculino, por isso
anda sempre com uma flecha na mão para penetrar, símbolo fálico. Segundo a
imaginação grega, um jovem, loirinho, com asas e que nunca envelhece. Eros é
o amor da paixão, dos encantos, dos desejos. Eros está à serviço da alma. Por
não seguir regras, os outros deuses temem o seu perfil e a forma que usa seu
dom. Traiu a mãe/amante Afrodite por se apaixonar por Psiquê, uma humana.
Vive sob o aspecto arquetípico da Grande Mãe. Eros só deixa de ser filho da
mãe para se tornar amante de Psiquê quando, curado de suas feridas,
reconhece que seu amor não vive sem a alma e parte em busca da Psiquê.
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Psiquê
Psiquê é a alma. Do ponto de vista da mitologia grega, a alma também é
um princípio cósmico. É o princípio que anima o corpo.
Psiquê, a personagem principal deste mito era uma princesa. Por sua
beleza era idolatrada como semideusa e despertou ciúme em Afrodite, a deusa
do amor e da beleza. Irada, Afrodite roga uma maldição através do amor e
contava com a ajuda do filho Eros para castigar Psiquê. Não esperava, contudo,
que seu filho se apaixonasse pela jovem mortal. Uma virgem, infeliz e
problemática, indecisa, frágil, depressiva e que, em muitos momentos, aparece
pensando em suicídio. Foi conduzida para seu destino aceitando o que lhe foi
imposto, o castigo por sua beleza. Eros conduz Psiquê nos prazeres da carne,
no escuro ela aceita sua sorte. Vivendo a riqueza e o prazer, mesmo assim era
infeliz e solitária.
As irmãs trazem o lado sombrio, através da inveja colocam Psique em
contato com o que poderia destruir o que parecia perfeito. Psiquê deixa-se levar
pelo medo e curiosidade, movida a sair do escuro. Ao reconhecer Eros, o amor,
se apaixona. E ele ao perceber que foi traído, parte deixando Psiquê grávida.
Através do sofrimento, Psique começa a tomar as rédeas de sua vida e se inicia
um processo de individuação, do qual ela é protagonista através da busca de
reaver o amor perdido. O amor faz com que a alma trabalhe em prol do
desenvolvimento das virtudes necessárias para a elaboração das quatro tarefas
dadas por Afrodite. Inicialmente pareciam impossíveis de cumprir, mas ouve as
vozes e recebe as instruções de como executá-las. Conseguindo se desenvolver
e entregá-las. Porém, ao final da mais difícil de todas as tarefas, Psiquê é
sucumbida pela curiosidade e necessidade de ser a mais bela, e abre a caixa de
Perséfone e cai em um sono profundo. É salva pelo seu amor Eros, que a perdoa.
Psique através de seu sofrimento, reconhece todos os sentimentos
vividos, desconfiança, inveja, ciúme, traição, medo, coragem, amor e perdão. Sai
de uma condição de ser conduzida pela vida e se vê como condutora do seu
próprio destino. Reconhece em si a força do feminino. Psiquê morre para a bela
princesa que vivia no escuro e nasce para mulher que vive no amor do saber.
Da união da Alma com o Amor, nasce Volúpia, o prazer erótico.
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Afrodite
Afrodite é a deusa da beleza e do amor. Da beleza que tem o brilho de
todas as coisas, atraente, irresistível, a que provoca o amor dos outros. Ela é a
beleza que causa o amor. No mito, ela representa o arquétipo da Grande Mãe
tanto para os aspectos positivos quanto os negativos, criador e destruidor. Vive
uma relação de amor incestuosa com o filho Eros. Por que Eros é o deus do
amor que penetra e Afrodite é a deusa do amor que provoca atração.
Afrodite tem que lidar com o fato de não ser a mais bela, de ter encontrado
uma mulher com uma beleza diferente da dela, mas que disputa a sua atenção.
Sente ciúme e esse sentimento a coloca em movimento de destruição de Psiquê.
Porém, sua traição maior é ter seu filho amado Eros, apaixonado por Psiquê e
não cumprindo sua vingança. Decide pessoalmente fazer sofrer os dois por
amor, dando a Psiquê, as quatro tarefas, um caminho de sofrimento e dor, para
que pudesse vê-la cada vez mais rebaixada. Não esperava que o filho fosse
perdoar Psiquê e enfrentá-la, levando ao pai Júpiter a causa, para que
intercedesse a seu favor. Sendo assim, nada mais resta a Afrodite do que aceitar
a situação e ter Psiquê como esposa de Eros.
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Para Jung (2013), o arquétipo da Grande Mãe é visto como um dos mais
primordiais na relação humana, pois, mesmo com indivíduos “desenvolvidos”,
tende-se a imitar a relação primeira. Para ele, a relação entre mãe e filho é uma
das mais profundas na psique de um indivíduo.
Neumann (1995) aponta o arquétipo da Grande Mãe como uma das fases
no desenvolvimento progressivo do ego, no qual o estágio da uroboros maternal
se caracteriza pela relação entre a criança pequena e a mãe que alimenta. Esse
estágio enfatiza a natureza carente e indefesa da criança e o lado protetor da
mãe, necessário ao desenvolvimento da consciência que a partir dessa simbiose
se distinguirá.
O símbolo do uroboros pode ser traduzido como um dos primeiros estados
na evolução da consciência, em que o ego ainda não apareceu como um
complexo consciente, não havendo assim tensão entre o ego e o inconsciente,
já que um permanece contido no outro. Neumann (1995, p. 202) designa como
urobórico o que é “dominado pelo símbolo da serpente circular, característica da
total indiferenciação”, assim como pleromático porque “a semente do ego ainda
habita a plenitude do Deus não formado e, como consciência não nascida, dorme
no ovo primordial”.
Quando o ego está sob o domínio da grande mãe, ou seja, do
inconsciente, ele é possuído tanto pela mãe devoradora quanto pela mãe
doadora e bondosa. Esse estágio é regido pela imagem da deusa mãe com a
criança divina, enfatizando a natureza carente e indefesa da criança e o lado
protetor da mãe. Neumann (1995), salienta que nesse período, a consciência
infantil que experimenta os vínculos e a dependência de sua matriz, vai se
tornando, aos poucos um sistema independente, emergindo, portanto, um “ego
reflexivo que sabe de si mesmo como centro da consciência” (NEUMANN, 1995,
p. 52), reconhecendo-se e discriminando-se como um ego individual e distinto.
Jung (2013) contribui explicando que quando um sujeito não estiver em
um estado primitivo de consciência, ao crescer, ele vai automaticamente se
desligando da mãe e instituindo maior consciência sobre si. “O surgimento da
consciência e, consequentemente, o de uma vontade relativamente livre implica
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Jung (2013) diz que nos dias de hoje, todos sabem que as pessoas “têm
complexos”, mas o que eles não sabem é que os complexos podem “nos ter”.
Para ele, toda constelação de complexos provoca um estado perturbado de
consciência, de não liberdade, de pensamentos obsessivos e atitudes
compulsivas. A constelação de um complexo significa que uma situação exterior
provoca um processo psíquico de aglutinação e atualização de determinados
conteúdos. É um processo automático que ninguém pode impedir por vontade
própria.
Jacobi (2016) diz que, segundo Jung, enquanto os complexos
permanecerem inconscientes, podem se enriquecer com associações, tomando
um alcance cada vez maior, aumentando assim, a dificuldade de serem
assimilados pelo indivíduo. Eles perdem seu traço compulsivo e incontrolável,
apenas quando se tornam conscientes. Desta forma, os comportamentos do
indivíduo podem ser corrigidos e reformulados, redistribuindo, assim, a energia
psíquica.
Segundo Jung (2013), só é possível cessar o domínio de algum complexo,
através do conhecimento de seus conteúdos reprimidos e inconscientes. A
constatação intelectual apenas, não é suficiente, é necessário sentir e não
somente saber da sua existência. “A emoção é a chave para a porta de saída”.
Para o autor, não é possível compreender algum fenômeno tão somente pelo
intelecto, pois ele possui tanto um sentido, como também um valor. Este valor
está fundamentado na intensidade das tonalidades sentimentais que o
acompanham. A assimilação de um complexo é muito importante, pois é através
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dela, que o indivíduo faz uma redistribuição de sua energia, o que permite um
melhor equilíbrio psíquico.
Por último, mas não menos importante, a Alquimia.
De acordo com Jung (2012), o opus alquímico não estava apenas
relacionado aos experimentos químicos, mas também aos processos psíquicos.
Ele considerava que os processos alquímicos, observados através do contexto
simbólico e não do contexto científico, poderiam ser apontados como peças
fundamentais do estudo do inconsciente e por meio desse estudo, realizar uma
associação com o processo de transformação da personalidade humana.
Para Jung (2012, p. 362), o opus alquímico e o processo de individuação
são fenômenos idênticos, que acontecem da mesma forma, pois ele
compreendeu que o aspecto central das concepções alquímicas estava
diretamente ligado a junção dos opostos, assim como, no processo de
individuação. Jung diz: “o opus alquímico descreve o processo de individuação,
mas de forma projetada porque é inconsciente”.
Ainda segundo Jung (2012), o nome que é dado a esse símbolo central
da alquimia, é “coniunctio” (união). Através dessa união, os alquimistas
buscavam atingir a meta da obra, a produção do ouro ou de algo equivalente. A
coniunctio nem sempre representa uma junção imediata e direta, pois necessita
de certo meio, ou se acha em tal meio. É a união de duas matérias opostas,
purificadas, que se transformam em uma terceira matéria, mas, para que isso
ocorra, é necessário passar por operações alquímicas. Assim como, para tornar-
se si mesmo, o indivíduo precisa passar pelo processo de individuação.
No segundo volume de A vida Simbólica encontra-se uma descrição, na
qual Jung estabelece os paralelos entre o processo de individuação e o opus
alquímico:
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Conclusão
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Referências Bibliográficas
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