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MITOLOGIA GREGA E A PSICANÁLISE

Thalles Azevedo Ladeira – Módulo XII

Muitos são os mitos gregos que temos a nossa disposição hoje em dia e muitos deles
podem nos trazer importantes ensinamentos dentro do campo da psicanálise. Freud, assim
como outros grandes teóricos clássicos da psicanálise, como Jung, eram extremamente
atentos a esses mitos e o que eles podiam trazer de ensinamentos a nós, enquanto
humanidade.
A este respeito, pode-se dizer que Freud reorientou a interpretação de mitos, ao
considerar que um mito pode vir a explicar de forma didática muitos arquétipos que são
balizadores das nossas decisões e que podem vir a exlicar muitos dos nossos padrões de
comportamento.
Bons exemplos de mitos apropriados por Freud para explicar conceitos
psicanalítocos são: a figura de Eros e Tânatos para explicar a pulsão de vida e a pulsão de
morte; a história de Édipo para explicar o complexo de Édipo e o mito de Psique para
explicar a psiquê humana. E é sobre esse último mito citado que eu irei discorrer com mais
detalhes nas linhas abaixo.
Na mitologia grega, Psique era uma princesa que, de tão bela, fazia ciúmes até
mesmo a deusa grega Afrodite, que por sua vez, deu instruções ao filho Eros para punir
Psique. Ao longo desse contexto, o pai de Psique, verificando que ela era a única de suas
três filhas que ainda não havia se casado, resolveu consultar o oráculo e em função de
instruções recebidas, decidiu preparar Psique para uma cerimônia nupcional da qual
ninguém sabia quem seria o noivo. Para que se cumprisse o que havia sido declarado pelos
oráculos, Psique foi abandonada em uma montanha, onde um monstro, que seria seu futuro
marido iria busca-la. Enquanto Psique estava atormentada sem saber o que esperar, apareceu
Zéfiro, servo de Eros, para transportar Psique para um palácio muito bonito. Foi nesse
palácio que Psique e Eros se encontraram. No mesmo instante, Eros se apaixonou
fortemente por ela e ela também por ele. Antes de desaparecer na manhã seguinte, Eros faz
um pedido para Psiquê, de que ela nunca tente ver o seu rosto.
Com o passar do tempo, Psique foi se apaixonando cada vez mais por Eros, no
entanto, não poder ver o seu rosto a deixava muito incomodada. Ao comentar sobre essa
situação com suas invejosas irmãs, elas a instigaram a ver de uma vez o rosto de Eros. Então,
curiosa, Psique decidiu seguir o conselho de suas irmãs. Desse modo, enquanto Eros estava
dormindo, Psique acendeu uma vela e conseguiu ver o belíssimo rosto de Eros.
Aproximando-se para o ver melhor, deixou cair uma gota de cera no ombro do deus. Eros
então acordou furioso e reprimiu fortemente Psique pela sua curiosidade e pela quebra da
promessa que ela havia feito. Desse modo, Eros se retirou do palácio sem dizer para onde
iria e Psique acabou voltando para a antiga montanha na qual estava antes de conhecer Eros,
onde, muito triste, tentou até suicidar-se, atirando-se em um rio. Felizmente, as águas
levaram-na de volta às margens em segurança. A partir de então, Psique passou a
perambular pelo mundo à procura de Eros, e, perseguida pela ira de Afrodite, foi sujeita a
muitos perigos, que não irei detalhar aqui nesse momento, mas o fato é que ela conseguiu
vencer todos os perigos devido a uma misteriosa proteção.
Finalmente, Eros, impressionado pelo arrependimento de Psique e pela fidelidade
do seu amor, implorou a Zeus que deixasse Psique juntar-se a ele. Zeus concedeu a
imortalidade a Psique, Afrodite esqueceu os seus ciúmes e o casamento foi celebrado, no
Olimpo, com grandes festejos.
A partir daí, Eros e Psiquê nunca mais separaram-se. O mito de Eros (o amor) e
Psiquê (a alma) retrata a união entre o amor e a alma.
O mito de Psique me chama a anteção não apenas por revelar vários aspectos do
relacionamento afetivo, mas sobretudo por revelar a própria essência da relação
psicanalítica, uma vez que a terapia deve ter o amor (Eros) como busca, e finalmente o
encontro entre o amor (Eros) e a alma (Psique).
Acredito que a vida só possui um sentido pleno quando a gente ama, portanto, o mito
de Psique aborda um dos assuntos mais importantes e delicados dentro da psicanálise, que
é a busca que o homem faz para encontrar o amor, e aí, podemos entender amor em suas
diversas dimensões, como o amor próprio, o amor dos pais, o amor de um cônjuge etc.
Os embates heróicos que Psique enfrentou ( e não foram poucos) para conseguir
reencontrar Eros, deixam claro para nós, em uma contextualização do mito para a realidade
atual, de como será difícil ao longo do caminho encontrar o amor em todas as suas
dimensões, mas nos mostra também como essa busca vale a pena, e é essa busca, tão
somente, que constitui o sentido de uma vida feliz e plena.
Referência bibliográfica:
ZIMERMAN, D. E. Fundamentos psicanalíticos: Teoria, técnica e clínica.
Editora Artemed. Porto Alegre. 2007.

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