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UNIDADE 1: O pensamento mitológico
Vamos partir da frase a seguir:
O homem sempre tentou dar sentido às coisas e colocar ordem no seu mundo
para que pudesse saber como agir no seu cotidiano. “O espírito do homem
não suporta a desordem porque não pode pensá-la” (ARAGON, 1996, p.
215 ).
Mas, como organizar a realidade? A humanidade seguiu por dois
caminhos diferentes:
1. Fabulação: mitos
2. Razão: filosofia
Disponível em: http://carendilima.blogspot.com.br/2009/01/filosofando.html
Na busca de explicar e ordenar o mundo estão presentes tanto o mito, que
utiliza a representação do pensamento por meio de figuras quanto a
racionalidade que se empenha em pensar por conceitos.
http://www.youtube.com/watch?v=NzGzjqb2p5c
O mito grego de Hélios conta que esse deus tinha a função de trazer luz e calor
aos homens. Percorria o céu num carro de fogo puxado por 4 cavalos brancos,
soltando fogo por suas narinas. Todas as manhãs, depois que a Aurora aparecia
de madrugada no horizonte no seu carro dourado, Hélios saia do Oriente com
seu carro e subia até o ponto mais alto do Meio-Dia. Então começava a descer
para o Ocidente e mergulhava no oceano ou descansava atrás das montanhas.
Então com o vídeo que você acabou de assistir, fica fácil entender a
função e a linguagem que caracterizam o mito, não é mesmo? Mas
vamos saber um pouco mais.
Mitos (mithos) - palavra grega que significa contar, falar alguma coisa para
os outros. Mitos são explicações descomprometidas com a racionalidade que
usam do fabuloso, da simbologia para explicar as coisas e os eventos no
mundo.
Segundo Mircea Eliade, pode-se definir mito como:
O mito é uma realidade cultural extremamente complexa, que pode ser
abordada e interpretada em perspectivas múltiplas e complementares [...] o
mito conta uma história sagrada, relata um acontecimento que teve lugar no
tempo primordial, o tempo fabuloso dos começos...O mito conta graças aos
feitos dos seres sobrenaturais, uma realidade que passou a existir, quer seja
uma realidade tetal, o Cosmos, quer apenas um fragmento, uma ilha, uma
espécie vegetal, um comportamento humano, é sempre, portanto uma
narração de uma criação descreve-se como uma coisa foi produzida, como
começou a existir... (ELIADE,M 1992).
O mito foi o primeiro passo que o homem deu para conhecer a si mesmo e o
meio em que vivia. Ele traduzia não apenas as forças da natureza como a
chuva, o dia e a noite, as secas, mas também questões de ordem humana, vida
e morte, dor, angústia, felicidade. O homem primitivo enxergava a si mesmo
(enquanto pessoa) no mundo, e assim atribuía alma às coisas do mundo.
Deuses foram criados com a dualidade pertinente aos seres humanos, ou seja,
possuíam defeitos e virtudes.
Loki era traiçoeiro, e de pouca confiança.
Disponível em: http://www.fanpop.com/spots/greek-mythology/images/687267/title/zeus-
wallpaper
Funções do mito
De acordo com Chauí, o mito tem três frentes de funções: explicar,
organizar e compensar(CHAUÍ,1995).
1. Mito com função de explicar : O mito tem por função explicar a realidade
de maneira a tranquilizar o homem em um mundo assustador.
Exemplo disso é o mito de Perséfone, que tem por característica explicar o
surgimento das estações do ano como você pode ver no vídeo a seguir.
http://www.youtube.com/watch?v=qPpQLU7ru6k&feature=related
O mito de Perséfone simboliza a divisão das estações do ano. Nos seis meses
em que Perséfone está com sua mãe, se faz na terra primavera - verão, é o
tempo de felicidade pra terra, as flores nascem à paisagem se enfeita, e
quando está com seu marido, se faz outono - inverno, a terra fica triste, gelada
e sem emoção.
2. Mito com função de organização - Determina o que pode ou não pode ser
feito nas relações entre as pessoas. Como exemplo o mito de Édipo com a
explicitação da proibição do incesto nas relações sociais,que você já aprendeu
na webaula 1.
3. Mito com função compensatória - Segundo Chauí (1995),o mito com
função compensatória narra uma situação passada, que é a negação do
presente e que serve tanto para compensar os humanos de alguma perda como
para garantir-lhes que um erro passado foi corrigido no presente, de modo a
oferecer uma visão estabilizada e regularizada da Natureza e da vida
comunitária.” (CHAUÍ, 1995).
Como exemplo, entre os mitos gregos, encontra-se o da origem do fogo, que
Prometeu roubou do Olimpo para entregar aos mortais e permitir-lhes o
desenvolvimento das técnicas. Numa das versões desse mito, narra-se que
Prometeu disse aos homens que se protegessem da cólera de Zeus realizando o
sacrifício de um boi, mas que se mostrassem mais astutos do que esse deus,
comendo as carnes e enviando-lhe as tripas e gorduras. Zeus descobriu a
artimanha e os homens seriam punidos com a perda do fogo se Prometeu não
lhes ensinasse uma nova artimanha: colocar perfumes e incenso nas partes
dedicadas ao deus.
Houve uma grande festa entre os deuses. Todos foram convidados, menos a
deusa Penúria, sempre miserável e faminta. Quando a festa acabou, Penúria
veio, comeu os restos e dormiu com o deus Poros (o astuto engenhoso). Dessa
relação sexual, nasceu Eros (ou Cupido), que, como sua mãe, está sempre
faminto, sedento e miserável, mas, como seu pai, tem mil astúcias para se
satisfazer e se fazer amado. Por isso, quando Eros fere alguém com sua flecha,
esse alguém se apaixona e logo se sente faminto e sedento de amor, inventa
astúcias para ser amado e satisfeito, ficando ora maltrapilho e semimorto, ora rico
e cheio de vida.”
Disponível em: http://people.tribe.net/71246863-4184-4906-8732-d4b755d29f94/photos/
7bfb1dc7-4b5d-4c0f-8baf-8dc96c39f6fb
2. A a guerra de Tróia. Justifica o motivo pelo qual em certas batalhas, os
troianos eram vitoriosos e, em outras, a vitória cabia aos gregos. Havia divisão
entre os deuses e na medida que Zeus se unia a um grupo de deuses ou outro,
determinava na terra quem vencia a batalha.
Disponível em: http://www.cizgidiyari.com/forum/sanatsal-tablolar/15139-gustave-moreau.html
Prometeu, com pena dos homens que passavam necessidades, resolveu furtar
uma centelha de fogo dos deuses e doa-la aos homens juntamente com a
orientação de como acendê-lo.Zeus ficou furioso com essa atitude de Prometeu
pois, o fogo deveria ser um segredo mantido entre os deuses. Por essa razão
acorrenta prometeu numa montanha e todos os dias uma águia vinha devorar-
lhe o fígado que, durante a noite se reconstituís para ser novamente devorado
pela manhã. Aos homens detrminou outra punição.
Disponível em: http://mundodaslendasgregas.blogspot.com.br/2010/08/o-ladrao-do-
fogo-sagrado.html
Ordenou a Hefesto, que criasse uma mulher perfeita, e que a levasse à
reunião dos deuses. Hefesto a conduziu pessoalmente aos deuses, e todos
ficaram admirados; cada um lhe deu um dom particular:
Atena, a deusa da sabedoria e da guerra, vestiu essa mulher ricamente e
enfeitou sua cabeça com uma guirlanda de flores, montada sobre uma coroa de
ouro. Atena lhe ensinou as artes das mulheres como a arte de tecer; Afrodite
lhe deu o encanto, que despertaria o desejo dos homens; As Cárites, deusas da
beleza, e a deusa da persuasão ornaram seu pescoço com colares de
ouro; Hermes, o mensageiro dos deuses além de lhe dar o dom da fala de
falar, ensinou-lhe a arte de seduzir os corações por meio de palavras
insinuantes.
Ela recebeu o nome de Pandora, que em grego quer dizer "todos os dons".
Zeus lhe entregou uma caixa fechada, e mandou que ela a levasse como
presente a Prometeu. Ele porém, não quis receber nem Pandora, nem a caixa,
e recomendou a seu irmão, Epimeteu, que também não aceitasse nada vindo
de Zeus. Mas Epimeteu, ficou encantado com a beleza de Pandora e casou-se
com ela.
Pandora não resistindo à curiosidade abre a caixa de lá escaparam todos os
males que afligem a humanidade: Loucura, Doença, Inveja, Paixão, Vício,
Praga, Fome e todos os outros males, que se espalharam pelo mundo e
tomaram miserável a existência dos homens a partir de então. Epimeteu tentou
fechá-la, mas só restou dentro a Esperança, e é graças a ela que os homens
conseguem diante dos sofrimentos não desistem de viver.
Hesíodo conta duas vezes o mito de Pandora; na Teogonia não lhe dá nome,
mas diz (590-93):
Dela vem a raça das mulheres e do gênero feminino:
dela vem a corrida mortal das mulheres
que trazem problemas aos homens mortais entre os quais vivem,
nunca companheiras na pobreza odiosa, mas apenas na riqueza.
Hesíodo segue lamentando que aqueles que tentam evitar o mal das mulheres
evitando o casamento não se sairão melhor (604-7):
Ele chega a velhice mortal sem ninguém para cuidar de seus anos,
e, embora, pelo menos, não sinta falta de meios de subsistência enquanto ele
vive,
ainda, quando ele está morto, seus parentes dividem suas posses entre eles.
Hesíodo admite que, ocasionalmente, um homem encontra uma mulher boa,
mas ainda assim o "mal rivaliza com o bem."
Veja o filme a seguir para ter uma nova visão do mito da caixa de pandora.
http://www.youtube.com/watch?v=dOvuTjkWSzU&feature=fvsr
A curiosidade matou o gato. Caixa de Pandora é uma expressão
utilizada para designar qualquer curiosidade que nos move mas que
é sensato não tocar.
Disponível em: http://www.prhenrique.com/wp-content/uploads/2012/08/A-culpa-%C3%A9-
sua.jpg
Você já participou de um rito?
O rito é a linguagem em ação do mito. Considera os opostos como a
possibilidade mudança de condição. De acordo com a crença mitológica, para
que algo novo seja construído é preciso que haja uma destruição da forma
anterior. A morte, por exemplo, seria uma eterna condição de renascimento.
Para ligar os humanos aos deuses, organizando o espaço e o tempo, são
criados os ritos. Lévi - Strauss diz que o ritual coloca em prática o mito, não se
tratando apenas de formalidades. O seu estudo permite melhor compreensão
da sociedade.
Quando o missionário e etnólogo Strehlow perguntava aos arunta por que
celebravam determinadas cerimônias, obtinha invariavelmente a mesma
resposta: "Porque os ancestrais assim o prescreveram".
Essa é também a justificativa invocada pelos teólogos e ritualistas hindus:
"Devemos fazer o que os deuses fizeram no princípio"; "Assim fizeram os
deuses, assim fazem os homens".
Veja o filme : Fúria de titãs que é uma grande oportunidade para entender
melhor os conceitos.
Vamos agora aprofundar nosso conhecimento sobre o que são os ritos,vamos
lá.
O rito é uma cerimônia repetitiva em que imita-se o ser sagrado que em
algum tempo realizou a ação que os humanos buscam repetir e perpetuar. Para
isso tudo é pré determinado: gestos, palavras, objetos, pessoas e emoções
adquirem o poder misterioso de promover a ligação entre os humanos e a
divindade.
O ritual é um sistema cultural de comunicação simbólica . A simbologia de um
ritual, deverá ser seguida pois a sua eficácia dependerá da repetição minuciosa
e perfeita do rito, tal como foi praticado na primeira vez, porque nela os
próprios deuses orientaram gestos e palavras dos humanos.
Nas famílias cristãs, católicos, e evangélicos existe o momento de repetir o
gesto de Cristo na última ceia. Os alimentos são consagrados e portanto fazem
parte de um mundo simbólico em que representam o próprio Cristo.
Já teve medo de algum objeto? Um patuá, um amuleto de religião que você
não conhece?
Disponível em: http://muraldecristal.blogspot.com.br/2011/11/amuletos-e-talismas.html
A religião sacraliza o espaço e o tempo, seres e objetos do mundo, que se
tornam símbolos de algum fato religioso.
Cheios de carga simbólica, os objetos são retirados de seu lugar habitual,
passando a ter novo sentido para toda a comunidade - protetor, perseguidor,
benfeitor, ameaçador. Sobre esse ser ou objeto recai a noção de tabu (palavra
polinésia que significa intocável): é um interdito, ou seja, não pode ser tocado
nem manipulado por ninguém que não esteja religiosamente autorizado para
isso. É assim, por exemplo, que certos animais se tornam sagrados ou tabus,
como a vaca na Índia, o tucano para a nação tucana, do Brasil.
http://
www.odiariocristao.com/2008/10/adorao-vaca.html
É assim, por exemplo, que certos objetos se tornam sagrados ou tabus, como
o pão e o vinho consagrados pelo padre cristão, durante o ritual da missa.
http://phyllis-
sather.com/wp-content/uploads/2008/08/bread-and-wine.bmp
A figuração do sagrado se faz por emblemas: assim, por exemplo, o emblema
da deusa Fortuna era uma roda, e uma cornucópia; o da deusa Atena, o
capacete e a espada.
http://www.hottopos.com/convenit5/08.htm
Ex.: Tipos de ritos.
Esse ritual, representa o casamento, o homem tem que passar por esse ritual
da tucandeira, tem que passar por esse ritual para se tornar guerreiro.
Vejam !!!
http://www.youtube.com/watch?v=G1rqW5ya96c
fenômeno natural' (a vida - ou a alma - abandonando o corpo ), mas também
de uma mudança de regime ao mesmo tempo ontológico e social:
o defunto deve afrontar certas provas que interessam ao seu próprio
destino post-mortem,mas deve também ser reconhecido pela comunidade dos
mortos e aceito entre eles"'.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Stonehenge
São exemplos de ritos, o casamento, o batizado , entre tantas outras cerimônias que ocorrem em
nosso dia a dia.
Sem os ritos, é como se os fatos naturais descritos não pudessem se concretizar de fato. Hoje, a
televisão, o cinema e a internet são os divulgadores de mitos. Embora sejam as histórias de sempre,
aparecem com a roupagem que essa geração se identifica. Narcisos, apaixonados por si mesmo,
Cinderelas, esperando um bom casamento, e tantos outros quanto nos mitos antigos.
http://www.revistaogrito.com/page/blog/2007/07/
Shakespeare, diz que heróis são pessoas que fizeram o que era preciso ser feito
e pagaram o preço essa escolha.
http://
www.BR&q=martin+luther+king&tbm=isch&tbs=simg:CAQSZxplCxCo1NgEGgQIFwg9DAsQsIynCB
o8CjoIARIU7ATEAZMC0wXNBfEEkgLmBJACvgEaIMmMdYg6kDV1olg_1ZIC3nNrpuLzOef
http://hid0141.blogspot.com.br/2009/02/nelson-mandela-biografia.html
http://passaportedavelocidade.blogspot.com.br/2012/02/sonic-na-formula-1.html
Morin parte da idéia de que o cinema é o atual difusor de mitologias. Ao cinema
agregamos a televisão e a internet. Se na antiguidade os mitos eram narrados
pessoalmente, hoje a distancia foi desconsiderada frente a internet.
http://www.dgcs.unam.mx/boletin/bdboletin/multimedia/WAV111119/683.jpg
Para Tavola (1985:12),
E aí pessoal,
leia agora o texto de Danilo Marcondes: A passagem do pensamento mítico
para o filosófico para saber um pouco mais sobre o assunto.
http://sociologiaromero.blogspot.com.br/2010/01/passagem-do-pensamento-
mitico-para-o.html
TE AGUARDO NO FORUM!
A MUDANÇA NO PENSAR
A passagem do pensamento mítico para o filosófico: o surgimento da
racionalidade
Com o surgimento do pensamento racional, conceitual, entre os gregos, a
conquista da autonomia da razão (lógos) diante do mito, a historia do
pensamento e do desenvolvimento alcança inúmeros setores da vida social. Um
desses setores é a experiência política, a escrita, o comércio, dentre outros.
http://fontedaarte.arteblog.com.br/image/131211386305-jpg/
Calendário - Um calendário com base nos movimentos dos astros permitiu a
compreensão do tempo, não sendo mais necessário esperar pela boa vontade
dos deuses.
Moeda - A moeda desempenha papel revolucionário, pois está vinculada ao
nascimento do pensamento racional crítico.
http://forum.mundofotografico.com.br/index.php?topic=38164.0
Vida Urbana - A pólis se faz pela autonomia da palavra, não mais a palavra
mágica dos mitos, palavras dadas pelos deuses e, sim pela palavra comum a
todos, a palavra humana, do conflito, da discussão, da argumentação. Os
comerciantes foram bem sucedidos nos negócios, destacando-se na sociedade e
passaram a patrocinar as artes, as técnicas e o conhecimento. Esse ambiente
foi determinante para o surgimento da filosofia.
Escrita - Na palavra escrita exige-se uma abstração grande para comunicar as
ideias e debatê-las.
Política - Do Grego pólis que originariamente significa “cidade organizada por
leis e instituições”. Todos os atos públicos do estado subordinados à lei que
expressa a vontade do cidadão da polis, dá a esse cidadão também a
responsabilidade pelo destino da cidade e, por conseqüência, pelo seu próprio
destino.Na convivência em liberdade espera-se conduta ética, sempre sujeita à
questionamentos.
O conhecimento de como isso se deu e quais foram as condições que
permitiram a passagem do mito à filosofia elucidam uma das questões
fundamentais para a compreensão das grandes linhas de pensamento que
dominam todas as nossas tradições culturais.
Deste modo, é de fundamental importância conhecer o contexto histórico e
político do surgimento da filosofia e o que ela significou para a cultura. Esta
passagem do pensamento mítico ao pensamento racional no contexto grego
ainda é importante pois os mesmos conflitos entre mito e razão, vividos pelos
gregos, são problemas presentes, ainda hoje, em nossa sociedade, na qual a
própria ciência depara-se com o elemento da crença mitológica ao apresentar-
se como neutra, escondendo interesses políticos ou econômicos em sua
roupagem sistemática, por exemplo.
Frente a essa nova realidade histórica, fica difícil aceitar as explicações
sobrenaturais e misteriosas.
É preciso compreender essa nova realidade. Por esses motivos, surge a filosofia
e os filósofos foram modificando as narrativas míticas e passaram a dar
explicações racionais para os fenômenos, porém, não houve uma ruptura
brusca nessa passagem do conhecimento mítico ao conhecimento racional.
Com essa nova forma de pensar a sociedade foi impactada em todos os
setores: Criaram a organização social e política que conhecemos hoje, ou seja,
as sociedades até então desconheciam a separação entre poder publico,
privado e religioso. Foram os gregos que fizeram essa separação através da
organização de leis e instituições como forma de poder e governo. Criaram a
ideia de justiça e lei, características da organização política atual.
Em relação aos conhecimentos, os gregos transformaram em ciência o que era
prática para uso na vida: as curas viraram a medicina. Criaram a ideia de que o
pensamento segue regras, normas e leis universais, ou seja, que o pensamento
pode ser racional.
http://philosophiagrega.no.comunidades.net/index.php?pagina=1162110321
A relação com outros povos trouxe estremecimento nas crenças de verdades
absolutas proclamadas pelos mitos, pois, percebeu-se que cada povo tinha o
seu próprio repertório de narrativas primordiais, sua bagagem cultural,
entendida como tradições e valores.
Não fazia mais sentido para aquela sociedade preocupada com o comércio e
aos interesses pragmáticos, as tradições míticas e religiosas propostas pela
visão mítica, que passa a perder progressivamente sua importância. Este
cenário sócio político econômico parece ser hipótese razoável para justificar a
instauração do tipo de pensamento inaugurado por Tales e pela chamada
Escola de Mileto, naquele momento e naquele contexto.
De acordo com Aristóteles, Tales de Mileto, no séc. (640-548 a.C.) teria
inaugurado o pensamento filosófico-científico, cuja ênfase esta em argumentos
racionais , já que as respostas oferecidas pelos mitos não eram mais aceitáveis.
Por esse motivo, é considerado por muitos como o “pai da filosofia”.
http://oqueeh.com.br/tales-de-mileto-biografia
Aristóteles
Diante desse conflito entre o mito e a razão os primeiros filósofos
estudaram possíveis explicações do mundo natural, a physis, de onde decorre
o termo “física”, com base em causas estritamente naturais. Acreditavam
que as respostas para às indagações humanas poderiam ser encontradas no
próprio mundo e não fora dele, em alguma realidade misteriosa e
incompreensível como rezava o mito.
Essa mudança na forma de pensar a realidade (séc. VI a.C) se dá de forma
radical com o pensamento mítico, apesar de não acontecer de forma completa
e imediata. As novas explicações conviveram com as antigas através das
supertições, crenças, objetos do nosso imaginário, tendo -se perpetuado até os
dias atuais.
Mas, o mito, com suas características de apelo ao sobrenatural vai ficando
distanciado das necessidades sociais calcadas na realidade concreta, num
momento em que o comércio toma grandes proporções e a política torna-se
intensa, cobrando pensamento racional para atender as novas demandas.
Assim, houve um contexto favorável para o nascimento do pensar filosófico.
http://filosofiametodo.blogspot.com.br/2010/09/escola-de-atenas_7019.html
OS PRIMEIROS FILÓSOFOS
Bom, já sabemos como a Filosofia nasceu, e os motivos que levaram a essa
forma de pensar. Mas quais foram os primeiros filósofos? O que
fizeram?
Tales de Mileto (cerca de 625/4-558/6 a.C.) e considerado o primeiro
filósofo,mas, infelizmente, não temos materiais escritos por ele.
http://www.dialogocomosfilosofos.com.br/category/platao/
Aristóteles escreveu sobre ele:
“A maior parte dos primeiros filósofos considerava como os únicos princípios de
todas as coisas os que são de natureza da matéria. Aquilo de que todos os
seres são constituídos, e de que primeiro são gerados e em que por fim se
dissolvem, enquanto a substância subsiste mudando-se apenas as afecções, tal
é, para eles, o elemento, tal é o princípio dos seres; e por isso julgam que nada
se gera nem se destrói, como se tal natureza subsistisse sempre… Pois deve
haver uma natureza qualquer, ou mais do que uma, donde as outras coisas se
engendram, mas continuando ela mesma. Quanto ao número e à natureza
destes princípios, nem todos dizem o mesmo. Tales, o fundador da filosofia, diz
ser água [o princípio] (é por este motivo também que ele declarou que a terra
está sobre água), levando sem dúvida a esta concepção por ver que o alimento
de todas as coisas é o úmido, e que o próprio quente dele procede e dele vive
(ora aquilo de que as coisas vem e, para todos, o seu princípio. Por tal observar
adotou esta concepção, e pelo fato de as sementes de todas as coisas terem a
natureza úmida; e a água é o princípio da natureza para as coisas úmidas
(…).”
ARISTÓTELES. Metafísica, I, 3.983 b6 .
Você já parou para pensar qual é o princípio das coisas?
Esse era o desejo de Tales: encontrar o segredo do princípio do mundo
Há alguns motivos que levaram Tales a pensar que o princípio de todas as
coisas fosse a água ou o úmido:
a) Havia uma explicação mítica de que o oceano que estava em volta do
mundo o teria criado.
b) A mudança do estado físico da água de liquido para sólido ou gasoso abriu
a curiosidade do filósofo quanto a possibilidade de que esse elemento natural
pelas suas qualidades pudesse ser o principio fundador de todas as coisas.
c) De acordo com Simplício, Tales teria observado que existe umidade nos
seres vivos que ao morrerem, secam;
d) Tales fez uma viagem pelo Egito. Lá ele notou que, após a cheia do Nilo as
plantas apareciam;
e) Fósseis de animais marinhos identificados em lugares montanhosas,
contribuíram com a sedimentação da idéia em Tales de que, um dia, tudo era
água.
LEIA OS QUADRINHOS ABAIXO SOBRE TALES DE MILETO
http://fessormauro.blogspot.com.br/2011/03/fonte-httpveele.html
Lembre-se:
Dessa forma, os pré socráticos procuraram fugir das explicações fabulosas dos
mitos e partiram do que aparecia para eles como fundamental: os elementos
da natureza. A partir de uma cosmologia: a ordem (cosmos) do mundo passa a
ser vista racionalmente , sendo que o modelo de pensamento calcado na
genealogia a partir dos deuses, foi substituído por outro fundado na razão da
ordem do mundo. Temos aí o nascimento da filosofia. Vejamos quais foram
estas noções, mencionadas por Marcondes (2005, p.24-27), aponta algumas
noções estudadas por eles que aqui apresento de forma sucinta:
1. A physis
O objeto de investigação era o mundo natural. A compreensão da realidade
natural está nela mesma e não no mundo sobrenatural
2. A causalidade
4. O cosmo
http://monada7.com.br/O_COSMOS_E_O_EU_SOU.htm
O cosmo para os pré-socráticos, vincula-se a ideia de mundo natural regido
por uma ordem, por princípios racionais inteligíveis, no qual se percebe
uma ordem hierárquica, na qual alguns princípios estão na base. A falta de
uma ordem e organização da matéria é conhecida com a expressão caos. A
noção de kosmos, para os pré-socráticos trata-se de ordem, harmonia e
mesmo beleza (considerando que a beleza resulta da harmonia das formas; daí
o termo “cosmético”).
5. O logo
O termo logos significa literalmente discurso, mas de forma diferente do
discurso do mythos. É um discurso racional, crítico, argumentativo e sujeito à
superação durante a discussão racional.
http://releitura.files.wordpress.com/2008/01/dialogo.jpg
6. O caráter crítico
Os pré socráticos partiam da ideia de que nada pode se transformar em
verdade absoluta, dogma inquestionável. Tudo estava sujeito às divergências ,
as discordâncias eram aceitáveis pois abriam a possibilidade de novos
entendimentos. Isso se as novas ideias estivessem pautadas na racionalidade
racionalmente, e postas nos debates,
submetendo-se às a análises de seus argumentos.
http://www.dignow.org/post/o-julgamento-de-s%C3%B3crates-2271901-64017.html
Como nos lembra Hadot (2004 p. 43)
“Tales de Mileto (fim do século VII-VI) possui, antes de tudo, um saber que
poderíamos qualificar de científico: prevê o eclipse do sol de 28 de maio de
585, afirma que a Terra repousa sobre a água; mas ele tem igualmente um
saber técnico: se lhe atribui o desvio do curso de um rio”.
“Parmênides (c.530 a 460 a.C.) Esse pensamento de Parmênides está exposto
num poema filosófico intitulado Sobre a Natureza, dividido em duas partes
distintas: uma que trata do caminho da verdade (alétheia) e outra que trata do
caminho da opinião (dóxa), ou seja, daquilo onde não há nenhuma certeza. De
modo simplificado, a doutrina de Parmênides sustenta o seguinte: Unidade e a
Imobilidade do Ser; o mundo sensível é uma ilusão; o Ser é uno, eterno, não-
gerado e imutável. “
FRAGMENTOS:
Veja a seguir algumas partes que foram conservadas dos textos
de Heráclito e Parmênides.
http://www.franciscorazzo.com/2012/06/
Heráclito: (544-484 a.C.) Nascido em Éfeso, na Jônia (atual Turquia) Heráclito
(540-480 a. C.) pertencia à aristocracia, sua família remontava ao fundador
da colônia de Éfeso. Primogênito, herdou privilégios reais e tinha direito ao
ofício honorário de sacerdote do rei, porém o transferiu a seu irmão. Recusou
também o convite para fazer parte da corte do rei em exercício da Pérsia,
Dario. Heráclito era defensor veemente da aristocracia e, após a
implementação da democracia em Éfeso, retirou-se para sua residência de
campo. Entretanto, foi sepultado em Éfeso, na praça do mercado, e por séculos
sua imagem pôde ser vista nas moedas da cidade.
Heráclito, é conhecido como o filósofo do movimento. Platão descrevia a visão
de mundo de Heráclito com a famosa expressão Panta rhei - Tudo flui. Para
Heráclito, todas as coisas se encontram em fluxo contínuo, nosso mundo se
encontra em contínua mudança. A única certeza é a mudança interminável.
Nada permanece o mesmo. O mundo é um perpétuo renascer e morrer,
rejuvenescer e envelhecer.
O sol é novo a cada dia. Não se pode tomar banho duas vezes no mesmo rio
pois, a pessoa já mudou e o rio também.
Da mesma forma que não é possível tocar duas vezes uma mesma substancia
mortal no mesmo estado, porque se recompõe e se reconstitui de novo
através da rapidez da mudança, ou melhor, não é de novo, nem em seguida,
mas ao mesmo tempo que surge e desaparece.
Quando acreditamos ter reconhecido uma constância, significa que fomos
enganados por nossos próprios sentidos. A permanência é só uma ilusão. Não
apenas o ambiente, mas nós mesmos vivemos em incessante processo de
mudança.
É aqui, no campo do devir, que a luta dos contrários acontece e nos
possibilita conhecer algo. Exemplificando, sabemos o que é a alegria
porque experimentamos a tristeza, e vice-versa. “As coisas frias se
reaquecem, o quente arrefece, o úmido seca e o árido umedece” (p.23)
Heráclito é o filósofo do devir. Mas não é um devir do Ser, mas no
Ser. Pois as mudanças sempre acontecem no interior mesmo do Ser. É lei
do universo, tudo nasce, se transforma e se dissolve. Contudo, não se trata de
um puro devir linear, o que seria o mesmo que negar o Ser. A vida acontece
num circulo.
Enquanto Tales de Mileto fizera da água o princípio de todas as coisas, e
Anaximandro escolhida o ar, Heráclito opta vê no fogo o elemento explicativo
dos diferentes fenômenos.
Heráclito recebeu o nome de filósofo do fogo, por que defendia a idéia de que o
agente transformador é o fogo: ele purifica e faz parte do espírito dos homens.
Esses conceitos inspiraram os primeiros cientistas que exploraram na prática a
união do material e o imaterial através do fogo: os famosos Alquimistas.
O fogo transforma-se primeiro em mar; do mar, metade torna-se terra e a
outra metade sopro ígneo [.../ O fogo, sob o efeito do Logos divino que
governa todas as coisas, transforma-se através do ar em umidade, germe de
toda a ordem do universo e a que chama mar. Deste nascem de novo a terra, o
céu e tudo o que contém. Como o mundo volta de novo atrás e é
devorado pelo fogo, explica-o claramente assim: a terra dissipa-se em mar
e a sua massa é conservada segundo a mesma medida que possuía antes de
se tornar terra. ( p.31)
A vida do fogo nasce da morte da terra, a vida do ar nasce da morte do fogo, a
vida da água nasce da morte do ar e a terra nasce da morte da água. A morte
do fogo engendra o ar e a morte do ar engendra a água. A morte da terra
faz nascer a água, a morte da terra faz nascer o ar, a morte do ar
engendra o fogo.
A única certeza permanente que temos é a mudança. Tudo esta em constante
devir, sendo até mais adequado dizer que alguma coisa está de alguma forma
pois não sabemos como será no futuro. Por isso Heráclito disse que tudo é
fogo, porque este modifica todas as coisas.
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Parmênides.
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