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MITOLOGIA E
PRÉ-SOCRÁTICOS
Curso Online
Filosofia 360°
Prof. Dr. Mateus Salvadori
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MITOLOGIA E PRÉ-SOCRÁTICOS
1. DA MITOLOGIA À FILOSOFIA
. Tipos de mitos:
- Basicamente, existem dois �pos de mitos: 1) as narra�vas que procuram
explicar a origem do mundo são as COSMOGONIAS (cosmos = mundo ordena-
do + gonia = gerar); 2) já as histórias que narram a origem dos deuses são as
TEOGONIAS (theos = seres divinos + gonia = gerar).
- Os mitos se sustentam apenas na autoridade de quem os conta. O poeta-rap-
sodo tem autoridade inques�onável, seja porque recebeu a narra�va de uma
tradição oral respeitada, seja porque é considerado alguém escolhido pelos
deuses para receber uma revelação e passá-la aos outros. Esses devem rece-
ber a informação como verdade inques�onável.
- Desse modo, os mitos não dão espaço para ques�onamentos nem reflexão,
admitem incoerências, contradições e são muito limitados deixando vários
ques�onamentos em aberto, perpetuando a forma de ver e entender tanto o
mundo natural quanto o social.
- O conteúdo das peças é re�rado dos mitos, mas há algo de novo no trata-
mento que os autores – sobretudo Sófocles – dão ao relato das façanhas dos
heróis. A tenta�va de reflexão retrata o logos nascente. Daí em diante a filoso-
fia representará o esforço da razão em compreender o mundo e orientar a
ação.
assim fazendo esquecer que, acima de tudo, aquilo que está em causa é um
parto, no qual a parturiente, ainda que sofra e morra, transmite a sua própria
essência ao novo ser pelo qual morreu, mas no qual ela sobrevive.
. Tales (água):
- Tales de Mileto (640-546 a.C.) talvez tenha sido o primeiro filósofo. Sua im-
portância é pelo interesse que ele tem pelo todo, pela totalidade e sua busca
racional da arché.
- Talvez Tales considerou a ÁGUA como elemento unificador e como princípio
por mo�vos que podem ter sido de caráter biológico ou químico (ex.: o ele-
mento líquido está presente em todo lugar em que há vida) ou por derivar de
reminiscências mí�cas (como foi para Homero, que disse: “o autor de toda ge-
ração é o Oceano”).
- A “água” que Tales fala não é a água sensível em que nos banhamos e que se
bebe: a água sensível é apenas uma das muitas e diferentes coisas do universo
e, na medida em que é apenas uma entre muitas, não pode ser aquilo que
existe de idên�co em cada uma delas e, portanto, muito menos pode ser o
princípio unitário (a arché) de que todas derivam. A “água” apresenta-se,
assim, como metáfora que não consegue suportar o peso daquilo que ela
pretende exprimir.
- Também aqui – como foi em Tales com a água – o “ar” não é um elemento
sensível par�cular (contrapondo-se, pois, à água, à terra e às outras coisas). O
“ar” é qualquer coisa de “incorpóreo” (= invisível). Cada corpo é finito, por-
tanto, o ápeiron deve ser esse incorpóreo que é o “ar”.
- Ao relacionar o sen�do do “ar” com a “alma que nos governa”, Anaxímenes
torna explícito aquilo que de implícito exis�a na afirmação de Anaximandro de
que o ápeiron governa todas as coisas. Tal governo exige que ápeiron não seja
algo de cego e de insensível, mas sim um princípio conhecido e vivo. Assim
como a nossa alma gera a vida do nosso corpo, o ápeiron ou o ar é que gera a
vida da totalidade.
- O princípio de todas as coisas, para Tales, Anaximandro e Anaxímenes são a
água, o ápeiron e o ar. Para Anaximandro, as coisas do mundo derivam por
uma separação dos contrários e aí há a injus�ça; para Anaxímenes, elas deri-
vam por condensação ou rarefação. Anaxímenes, querendo a�ngir uma pers-
pec�va universal, ao tratar do princípio e falar do ar infinito, ele con�nua
numa perspec�va par�cular (como Tales). E a filosofia de Heráclito e Parmêni-
des deu uma boa resposta a essa pergunta: “o que é o ápeiron?” Veremos!
menos ser), é perfeito e uno. Portanto, aquilo que os sen�dos atestam (devir
e múl�plo) e que testemunham, é falso;
-- A segunda via (das opiniões falazes) é a do erro, a qual, confiando nos sen�-
dos, admite que exis�a o devir, e cai, por conseguinte, no erro de admi�r a
existência do não-ser;
-- A terceira via (da opinião plausível) procura certa medição entre as duas pri-
meiras, reconhecendo que também os opostos, como a “luz” e a “escuridão”,
devam iden�ficar-se no ser (a luz “é”, a noite “é”, e, portanto, ambas são, ou
seja coincidem no ser). Os testemunhos dos sen�dos devem ser repensados
em nível de razão. Assim, aquilo que vemos e sen�mos, as aparências, os fenô-
menos, ou seja, os opostos estão incluídos na unidade superior do ser; ambos
os opostos são ser. Assim, tudo é idên�co, sem diferenciação qualita�va e
quan�ta�va. Em suma, Parmênides salva o ser e não salva os fenômenos.
- Os argumentos da Escola Eleata eram rigorosos:
-- admitamos que o Ser não seja uno, mas múl�plo: nesse caso, cada ser é ele
mesmo e não é os outros seres; portanto, cada ser é e não é ao mesmo tempo,
o que é impensável ou absurdo. O Ser é uno e não pode ser múl�plo;
-- admitamos que o Ser não seja eterno, mas teve um começo e terá um fim:
antes dele, o que havia? Outro Ser? Não, pois o Ser é uno. O Não-Ser? Não,
pois o Não-Ser é o nada. Portanto, o Ser não pode ter �do um começo. Terá um
fim? Se �ver, o que virá depois dele? Outro Ser? Não, pois o Ser é uno. O Não-
-Ser? Não, pois o Não-Ser é o nada. Portanto, o Ser não pode acabar. Sem
começo e sem fim, o Ser é eterno;
-- admitamos que o Ser não seja imutável, mas mutável: no que o Ser muda-
ria? Noutro Ser? Não, pois o Ser é uno. No Não-Ser? Não, pois o Não-Ser é o
nada. Portanto, se o Ser mudasse, tornar-se-ia Não-Ser e desapareceria. O Ser
é imutável e o devir é uma ilusão de nossos sen�dos.
- O que Parmênides afirmava era a diferença entre pensar e perceber. Percebe-
mos a natureza na multiplicidade e na mutabilidade das coisas que se transfor-
mam umas nas outras. Mas pensamos o Ser, isto é, a identidade, a unidade, a
imutabilidade e a eternidade daquilo que é em si mesmo. Perceber é ver apa-
rências. Pensar é contemplar a realidade como idên�ca a si mesma. Pensar é
contemplar o Ser. Mul�plicidade, mudança, nascimento e perecimento são
aparências, ilusões dos sen�dos. Ao abandoná-las, a filosofia passou da cos-
mologia à ontologia.
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MITOLOGIA E PRÉ-SOCRÁTICOS
3.2 Os pluralistas
. Anaxágoras (homeomerias/sementes):
- Anaxágoras (499-428 a.C.), que foi mestre de Péricles, defendia que o princí-
pio gerador de todas as coisas não é único, que a physis era formada de várias
par�culas (SEMENTES – espermatas; HOMEOMERIAS).
- Ele também herda dos eleá�cos a convicção de que nascimento e morte não
implicam passagem do não-ser ao ser e do ser ao não-ser, mas derivam do
agregar-se e do desagregar-se das homeomerias/sementes: tudo está em
tudo, que são produzidas por uma Inteligência cósmica/universal. Com agre-
gar-se das sementes, nascem todas as coisas que existem. E em cada uma das
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. Do atomismo à sofis�ca:
- O atomismo apresenta as caracterís�cas da maior radicalidade. É inevitável
que, ao reconhecer explicitamente a verdade da experiência, o pensamento
filosófico se veja conquistado pelas determinações materiais e sensíveis da
experiência (que cons�tuem o seu aspecto mais visível) e seja levado a enten-
der o ser como matéria. Nesta perspec�va (já implícita em Empédocles e Ana-
xágoras), a solução atomista é a mais radical e coerente.
- Até porque começa a avançar um conceito que ganhará toda a sua importân-
cia no pensamento do grande Platão: que também o não-ser é (se se pretende
que o múl�plo seja). Mas, entretanto, afirmar que o não-ser existe não signifi-
ca o abandono de um traço essencial da razão, precisamente quando se tenta
conciliar a razão com a experiência? Não significa dar uma confirmação poste-
rior a esse outro modo de encarar a an�tese entre experiência e razão, a qual
considera insuperável a an�tese e a vê mesmo propor-se de novo no próprio
seio da razão e da experiência?
- É exatamente nessa maneira diferente de encarar tal an�tese que consiste a
so�s�ca.
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