Desde os primórdios, a Filosofia, busca do saber, é entendida
como um discurso racional que surgiu para se contrapor ao modelo mítico desenvolvido na Grécia Antiga e que serviu como base de sua educação. A palavra mito é grega e significa contar, narrar algo para alguém que reconhece o proferidor do discurso como autoridade sobre aquilo que foi dito. Foi somente a partir de determinadas condições (navegações, uso e invenção do calendário e da moeda, a criação da democracia que preconizava o uso da palavra, bem como a publicidade das leis etc.) que o modelo mítico foi sendo questionado e substituído por uma forma de pensar que exigia outros critérios para a confecção de argumentos. Surge a Filosofia como busca de um conhecimento racional, sistemático e com validade universal. É uma narrativa fantástica sobre a origem de alguma coisa, ele é ausente de ciência, ou seja, um mito não depende de comprovações de hipóteses, mas depende da confiança entre quem conta e quem o ouve. O mito é, portanto, incontestável e inquestionável. A CAIXA DE PANDORA Tudo começa quando Zeus, o deus de todos os deuses, resolveu arquitetar um plano para se voltar contra a ousadia de Prometeu – que entregara aos homens a capacidade de controlar o fogo. Para tanto, Zeus decide criar uma mulher repleta de dotes oferecidos pelos deuses e a oferece a Epimeteu, irmão de Prometeu. Ao aceitar Pandora, Epimeteu também ganhou uma caixa onde estavam contidos vários males físicos e espirituais que poderiam acometer o mundo. Desconhecedor do conteúdo, ele foi somente alertado de que aquela caixa não poderia ser aberta em nenhuma hipótese. Com isso, o artefato era mantido em segurança, no fundo de sua morada, cercado por duas gralhas barulhentas. Aproveitando de sua beleza, Pandora convenceu o marido a se livrar das gralhas que lhe causavam espanto. Após atender ao pedido da esposa, Epimeteu manteve relações com ela e caiu em um sono profundo. Nesse instante, não suportando a própria curiosidade, Pandora abriu a caixa proibida para espiar o seu conteúdo. Naquele momento, ela acabou libertando várias doenças e sentimentos que atormentariam a existência do Homem no mundo. Zeus assim concluía o seu plano de vingança contra Prometeu. Logo percebendo o erro que cometera, Pandora se apressou em fechar a caixa. Com isso, ela conseguiu preservar o único dom positivo que fora depositado naquele recipiente: a esperança. Dessa forma, o mito da Caixa de Pandora explica como o Homem é capaz de manter-se perseverante mesmo quando as situações se mostram bastante adversas. Além disso, esse mesmo mito explora a construção da identidade feminina como sendo marcada pela sensualidade e o poder de dissimulação. O MITO DE NARCISO O MITO DE ÉDIPO O mito conta a história de Laio, rei de Tebas, que teria sido avisado por um Oráculo sobre seu futuro maldito: ele seria assassinado por seu próprio filho que se casaria com sua mulher, ou seja, a mãe deste. Para evitar que isso se concretizasse, Laio decide abandonar a criança num lugar distante, colocando-lhes pregos nos pés, para que morresse. Um pastor encontra a criança e lhe dá o nome de Edipodos (pés-furados). Essa criança, mais tarde é adotada pelo rei de Corinto. Ao consultar o oráculo, Édipo recebe a mesma mensagem que seu pai Laio recebera anos antes, mas, acreditando que se tratava dos pais adotivos, Édipo foge de Corinto. Em sua fuga, Édipo se depara com um bando de negociantes e seu líder e acaba por matá-los todos em uma briga, sem saber que esse líder era Laio, seu pai. Ao chegar a Tebas, Édipo decifra o enigma da Esfinge e livra a cidade de suas ameaças, assim recebe o trono de rei e a mão da rainha Jocasta, agora viúva. Os dois se casam e têm quatro filhos. Anos depois, quando uma peste chega à cidade, Édipo e Jocasta consultam o oráculo para tentar resolver essa questão e acabam por descobrir que são mãe e filho. Jocasta suicida-se e Édipo fura os próprios olhos como punição por não ter reconhecido a própria mãe. A formulação do complexo de Édipo vem da mitologia grega e tem sofrido inúmeros desdobramentos ao longo da construção da teoria psicanalítica. Para construir o conceito de Complexo de Édipo, Freud utilizou-se da mitologia grega, mais especificamente do teatro, escrito por Sófocles chamado “Édipo Rei”. NARCISISTAS NA SOCIEDADE ATUAL Estamos vivendo em uma sociedade repleta de narcisistas, por conta do estímulo à exaltação do Eu nas redes sociais? Traços como exigência pela própria perfeição e do outro, arrogância e aniquilação do ego alheio são algumas das características dos narcisistas. O principal objetivo do narcisista é seu próprio bem-estar
A pessoa narcisista caracteriza-se por tirar proveito das
relações interpessoais, ou seja, aproveita-se dos outros para seus próprios propósitos, independentemente do que a outra pessoa possa sentir. Transtorno de personalidade narcisista é um dos vários tipos de transtornos de personalidade. Trata-se de uma condição mental em que as pessoas têm um senso inflado de sua própria importância, uma profunda necessidade de atenção e admiração excessivas, relacionamentos conturbados e falta de empatia pelos outros Mito são narrativas utilizadas pelos povos antigos para explicar fatos da realidade e fenômenos da natureza, as origens do mundo e do homem, que não eram compreendidos por eles.
Os mitos se utilizam de muita simbologia, personagens sobrenaturais, deuses e
heróis. Todos estes componentes são misturados a fatos reais, características humanas e pessoas que realmente existiram.
Fixa narrativa no passado. Narra origem através de genealogias e rivalidades ou
alianças entre forças divinas sobrenaturais e personalizadas (Urano, Ponto e Gaia). Não se importa com contradições ,com o fabuloso ou incompreensível, a autoridade é posta na confiança religiosa no narrador . Há uma história e um fundo moral nelas e que devemos analisar cuidadosamente. Nos mitos a figura da divindade é altamente exaltada Mito, do grego mýthos, é uma narrativa tradicional cujo objetivo é explicar a origem e existência das coisas. Esse foi o recurso utilizado durante anos para explicar tudo o que existe no Universo. Desta forma, foram criados mitos para explicar a origem dos homens, dos sentimentos, dos fenômenos naturais, entre outros. O mito era considerado uma história sagrada, narrada pelo rapsodo - que supostamente era a pessoa escolhida pelos deuses para transmitir oralmente as narrativas. O fato de o narrador advir de uma escolha divina atribuía ao mito o caráter de incontestabilidade, pois os deuses eram inquestionáveis. Importa referir que, além de explicar as origens, a mitologia - o conjunto dessas histórias fantásticas - desempenhavam um papel moral. O mito possui três funções principais:
1. Explicar – o presente é explicado por alguma ação que aconteceu
no passado, cujos efeitos não foram apagados pelo tempo, como por exemplo, umaconstelaçãoexiste porque, há muitos anos, crianças fugitivas e famintas morreram na floresta, mas uma deusa levou-as para o céu e transformou-as em estrelas.
2. Organizar – o mito organiza as relações sociais, de modo a
legitimar e determinar um sistema complexo de permissões e proibições. O mito de Édipo existe em várias sociedades e tem a função de garantir a proibição do incesto, por exemplo. O “castigo” destinado a quem não obedece às regras funciona como “intimidação” e garante a manutenção do mito. 3- Compensar – o mito conta algo que aconteceu e não é mais possível de acontecer, mas que serve tanto para compensar os humanos por alguma perda, como para garantir-lhes que esse erro foi corrigido no presente, oferecendo uma visão estabilizada da Natureza e do meio que a cerca (Chauí, p. 162). DIFERENÇAS ENTRE MITO E FILOSOFIA
1º) MITO: fixa a narrativa no passado;
FILOSOFIA: se preocupa em explicar como e porque, no
passado, no presente e no futuro; 2º) MITO: narra a origem através de genealogias e rivalidades ou alianças entre forças divinas sobrenaturais e personalizadas (Urano, Ponto e Gaia);
FILOSOFIA: explica a produção natural das coisas por
elementos e causas naturais e impessoais (céu, mar e terra). 3º) MITO: não se importa com contradições, com o fabuloso e o incompreensível; a autoridade é posta na confiança religiosa no narrador; FILOSOFIA: não admite contradições, fabulação e coisas incompreensíveis; exige explicação coerente, lógica e racional; autoridade: vem da razão, que é a mesma em todos os seres humanos, e não da pessoa do filósofo. O MITO HOJE
As manifestações míticas hoje são formas de encarnações dos
desejos inconscientes humanos. São criados mitos para responder a esses desejos, os quais a razão não pode preencher adequadamente. Também, pode-se encontrar manifestações que são heranças do passado mítico da humanidade. EXEMPLOS DE MANIFESTAÇÕES MÍTICAS:
1ª) Aquelas que são inventadas pelos desejos inconscientes que
existem em todos. Ex: a vontade inconsciente de que o bem vença o mal. 2ª) Aquelas que são encarnações do nosso desejo de segurança. Ex: os heróis nas histórias em quadrinhos são gerados pela nossa vontade de proteção ideal e imaginária. 3ª) Aquelas personagens que são encarnações de tudo aquilo que gostaríamos de ser. Os meios de comunicação mexem com esse imaginário das pessoas, apresentando artistas e esportistas como sendo fortes, saudáveis, com uma profissão de sucesso, ricos. 4ª) Aquelas que foram herdadas por nós pelos primitivos, como é o caso dos rituais de passagem: festas de formatura, de ano novo, os bailes de 15 anos (apresentam, em quase tudo, semelhanças com os rituais primitivos de passagem). Conclusão: Portanto, enquanto o mito relata a existência das coisas pela explicação fantástica, a filosofia se questiona sobre o que são e como tem origem às coisas que existem. REFLITA: E hoje, após tanto tempo do nascimento da filosofia, nos “livramos” das explicações mitológicas? Ou , você lembra-se de algum caso em que, por não saber explicar, relatou ou acreditou em alguma história “suspeita” de ser mitológica? Situação problema: Mito X Filosofia, são as duas faces da moeda do pensamento humano que muitas vezes acabam em contradição. Sabemos que mesmo com o surgimento da filosofia e, posteriormente, o avanço das ciências, os mitos nunca deixaram de existir completamente. Isso ocorre por conta do ser humano ser definido por construções de identidades, identidades construídas por meio das emoções e dos sentimentos, ou seja, por meio do mito ou, identidades construídas por meio de processos de racionalização, ou seja, por meio da Filosofia. Tendo isso em vista, vamos tentar responder a seguinte pergunta: A Filosofia é necessária na atualidade por conta da vigência do mito na sociedade contemporânea?