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Processos Cognitivos II – 2º Teste

Memória – (Aula 1)
A memória é uma área de investigação antiga com enorme produção científica que é
comum a outras áreas da ciência e do senso comum, é um conceito presente no nosso
quotidiano. Ainda há muito para saber e investigar sobre a memória, uma vez que muitas
questões estão em aberto. As novas tecnologias têm dado contributos importantes no intuito
de perceber como a memória funciona, nomeadamente as neurociências. Trata-se de um
processo cognitivo central na Psicologia e fundamental na vida do ser humano. As experiências
negativas têm maior impacto, a psicologia tem um papel central neste aspeto ao facilitar e
ajudar a pessoa a tornar estas memórias mais adaptativas. A memória é o que dá sentido de
identidade, tudo é memória e, por isso, ela é essencial à nossa vida. A memória pode ainda ser
usada noutros contextos da psicologia, não só na clinica, mas também na forense,
nomeadamente nas testemunhas oculares (risco das falsas memórias), os testes de ADN
vieram complementar os testemunhos oculares. Tanto a memória como a aprendizagem estão
associadas, importante estudar a memória perceber como ela funciona no intuito de
desenvolver ferramentas no âmbito educacional.
Para que serve a memória?
A memória permite fazer uma ligação entre passado, presente e futuro. É comum
fazermos recordações do nosso passado, mas ao mesmo tempo recordar, memorizar prepara-
nos para o nosso futuro, sabemos, por exemplo, que temos uma reunião a determinada hora
porque memorizamos. “Tudo na vida é memória, salvo o pequeno momento do presente”.
Seria difícil conceber um ser humano (ou qualquer animal) que não possuísse esta
capacidade. Sem memória, não haveria nenhuma possibilidade de construir ou afinar
competências, nenhuma recordação de nomes ou de reconhecimento de rostos, nenhuma
referência aos dias, horas e até segundos passados.
A memória dá-nos sentido de identidade, confere-nos personalidade. Sem memória
não teríamos a noção de eu, não desenvolvíamos. “A personalidade humana nem sequer se
poderá conceber independentemente da memória…a memória torna possível a unidade e
identidade do Eu.”
A memória permite-nos ainda tomar decisões baseadas na nossa experiencia, assim
como, lembrar pessoas e dar-nos a capacidade de saber como fazer as coisas.
Posto isto, podemos definir memória como “o meio através do qual armazenamos e
recuperamos informações das nossas experiências passadas para utilizar no presente”. O

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processo pelo qual adquirimos e registamos a informação, com o intuito de utilização posterior.
Nesta retenção e recuperação da informação, há uma estreita relação com a aprendizagem.
Existem várias propostas de como a memória está organizada. Consideremos duas abordagens:

 Focada nas estruturas: Forma como o sistema da memória está organizado, a sua
composição. Sendo que as estruturas são memória sensorial, memória a curto prazo e
memória a longo prazo.
 Focada nos processos: atividades/processos que ocorrem dentro de uma única
estrutura, no sistema de memória, onde destacamos 3 fases de processamento –
codificação, armazenamento, recuperação.

Memória: Fases do processamento

1. Codificação: fase que decorre durante a apresentação da informação. Trata-se da


forma como a informação entra na memória, visual, auditiva, cinestésica (…). É o
processo correspondente à transformação dos dados sensoriais em representação
mental, de forma a posteriormente conferir um significado. Aquisição é o processo
pelo qual adquirimos o conhecimento, habilidades motoras, ou seja, tudo o que pode
enriquecer o repertório comportamental e as competências de um sujeito ao longo da
sua experiência.
2. Armazenamento: É o processo da formação do traço mnésico, processo de registo,
como estamos a registar a informação e como ela é mantida, sendo que a forma de
consolidar a informação é através da prática. Quando, por exemplo, lemos um texto,
para o memorizar a tendência é fazer supressão enquanto lemos (forma de manter a
informação).
3. Recuperação: A terceira fase deste processo diz respeito ao acesso à informação
armazenada proveniente dos processos anteriores. Processo através do qual recupero
a informação. A recuperação tem subjacente dois tipos de tarefa: a Evocação e o
Reconhecimento.

Memória: Tarefas de avaliação – relacionados com a fase de processamento recuperação


Memória explicita
Evocação: Trata-se de um tipo de tarefa para avaliar a memória explicita. A memória
explicita consiste em recordar de forma consciente. A evocação implica reproduzir da nossa
memória itens de uma lista, texto, acontecimento, etc. Existem três tipos de tarefa associados à
evocação.

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1. Evocação Serial – implica ser apresentado um grupo de palavras e memorizá-las na
ordem precisa. Recordar itens ou informação na ordem precisa que nos foi
apresentada.
2. Evocação Livre – consiste em recordar itens ou informação que nos foi
previamente apresentada, mas de forma aleatória, sem uma ordem precisa.
3. Evocação a partir de pistas – perante a apresentação de pares de palavras, após
ser retirada uma delas, a tarefa consiste em recordar a palavra que foi retirada.

Importa salientar que esta tarefa está associada à memoria explicita, recordar de forma
consciente. Aquando da evocação o significado que atribuo à informação é importante para
reproduzir memória, para recordar. As memórias explicitas são controláveis, ou seja, podemos
escolher usar ou não a informação contida na memória.
Reconhecimento: Outra tarefa que envolve memória explicita é o reconhecimento, que
consiste em selecionar ou identificar se um item ou informação foi apresentado anteriormente.
Exemplo: escolha múltipla e V/F.

Memória implícita
Efeito de Priming (ativação): Outra conceptualização da memória é a memória implícita,
informação da nossa memória da qual não estamos conscientes de que a estamos a recuperar.
O conceito de priming é uma tarefa que envolve memória implícita e diz respeito a quando o
acesso à informação é mais rápido devido à sua apresentação prévia. A tarefa consiste na
apresentação de um estímulo ou informação degradada e o objetivo é completar a informação
em falta. Temos facilidade em aceder à informação e completá-la, porque a mesma já nos foi
apresentada previamente num dado momento. Podemos também recorrer a estímulos
associados à informação prévia de forma a cumprir a tarefa.
O priming ocorre quando o reconhecimento de determinados estímulos é afetado pela
apresentação anterior do mesmo estímulo. A maior parte do priming é positiva. A
apresentação prévia de estímulos facilita o reconhecimento posterior (…).

Memória Síntese
As fases do processamento da informação na memória, codificação, armazenamento e
recuperação, são interdependentes “Só o que foi armazenado poderá ser recuperado, e (...) a
forma como é recuperado depende da forma como foi armazenado”.
Reter ou armazenar a informação não é garantia de recordação, não significa que a seguir me
vou recordar.

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O fenómeno da ponta da língua, por exemplo, explica que apesar das deferentes fases
do processamento da memória serem interdependentes não implica que recordar a informação
seja certo. O processamento nas suas três fases estão interligados, contudo nem sempre consigo
recuperar, recordar a informação processada. A informação está disponível, mas não está
acessível.

Memória: Abordagem focada nas estruturas – (Aula 2)


Modelo dos Múltiplos Armazenadores de Memória ou Modelo Modal
Segundo o modelo dos múltiplos armazenadores de memória distinguem-se três tipos
diferentes de armazenadores, que diferem entre si quanto à duração temporal da informação e
a capacidade de armazenamento desta última. Este modelo sublinha o papel das estruturas e
dos processos, sendo que dentro das diferentes estruturas, distinguimos:

 Memória sensorial (MS): Recolhe a informação para ser processada, sustentando-a por
pequenos períodos de tempo, tem uma capacidade de armazenamento limitada e é
constituída por um armazenamento sensorial específico para cada modalidade
sensorial (Visão, audição, olfato, tato, paladar). A duração temporal da informação é
muito curta e específica a cada modalidade (memória icónica – visual; memória ecóica
– auditiva). A armazenagem icónica é um registo sensorial visual distinto que guarda
informações por períodos de tempo muito curtos. Seu nome vem do facto de que as
informações são armazenadas na forma de ícones, que são imagens visuais
 Memória a curto prazo (MCP): Na estrutura da MCP a informação é armazenada
quando prestamos atenção no momento presente. Trata-se, por isso, de um
processamento consciente. Nesta estrutura a duração temporal da informação é muito
curta e a capacidade de armazenamento é limitada, conseguimos armazenar na MCP
cerca de 7 itens de informação. O armazenamento da informação é frágil e suscetível
às distrações. No entanto, o agrupamento ou emparelhamento permite aumentar a
capacidade de armazenamento da MCP (exemplo: CIAFBIIBMTWA - CIA FBI IBM TWA,
combinação em unidades maiores e/ou com significado facilita o armazenamento).
 Memória a longo prazo (MLP): Através da recapitulação ou repetição é possível
sustentar a informação da MCP, permitindo a passagem desta e o eventual
armazenamento da informação na MLP. A capacidade 0de armazenamento desta
estrutura é ilimitada e a duração temporal da informação poderá, também, ser
ilimitada.

Memória de Trabalho ou Memória Operatória

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A memória de trabalho ou operatória é uma perspetiva alternativa ao conceito de MCP.
Este modelo surge no intuito de transmitir que o processamento da memória é mais complexo
do que o ilustrado no Modelo Modal/ Múltiplos armazenadores de memória. Abandona o
conceito de MCP substituindo-o por memória de trabalho ou operatória, não deixando de
contemplar as outras estruturas: MS e MLP. A substituição do nome serve para demonstrar um
processamento da informação mais dinâmico, mais complexo, com foco no armazenamento da
informação e sobre como o sistema é utilizado durante atividades cognitivas complexas como o
pensamento e raciocínio.
Neste modelo não deixamos de ter a ideia de processamento transitório entre
memória operatória e MLP. No entanto, o modelo conceptualiza esta memória de trabalho
como mediadora entre a MS e a MLP: o armazenamento da informação transitório, seguido do
processamento e manipulação da informação e, por fim, integração e ou atualização da
informação na MLP.
A memória de trabalho é, desta forma, a capacidade de manter a informação na mente
e trabalhar com ela, de lembrar as instruções, criar um plano de ação e prestar atenção.
A memória de trabalho é constituída por 5 componentes:

1. Executivo central – Como o próprio nome indica este componente é central no


processamento da informação. É responsável por receber a informação da MS, está
envolvido em qualquer tarefa cognitiva controlada, como solucionar problemas,
planeamento e tomada de decisão. Responsável também por recuperar informação da
MLP, distribuindo e coordenando a atividade dos outros subsistemas. Recebe a
informação de cada um deles e integra e/ou atualiza essa mesma informação na MLP.
O executivo central como está relacionado com atividades cognitivas mais exigentes
está sujeito a uma sobrecarga de tarefas, explicando os limites da memória operatória.
2. Loop fonológico – Armazena a informação verbal para compreensão verbal e ensaio
subvocal/discurso interno. Constituído, desta forma, por dois componentes, o
armazenamento fonológico, responsável por armazenar a informação na memória e o
ensaio subvocal, por sua vez, responsável por reter a informação praticando-a não
verbalmente (a informação é ensaiada para evitar que desapareça do armazenamento
fonológico). No entanto, o ensaio subvocal é inibido por supressão articulatória, não
permitindo armazenar novas informações.
3. Sistema visuo-espacial – este sistema codifica a informação espacial e visual,
registando-a numa imagem mental. Evidencias apoiam a presença de dois mecanismos
responsáveis pelo registo da informação visual e espacial.

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4. Buffer Episódico – este componente integra as informações na memória de trabalho,
na MLP, no sistema visuo-espacial e no loop fonológico. Permite a resolução de
problemas, reavalia experiências anteriores com conhecimentos mais recentes.
Trabalha em articulação com o executivo central. Necessidade de mais investigação
sobre este conceito.
5. Outros sistemas subsidiários – mais evidências científicas são necessárias de forma a
definir a função destes sistemas, mas estarão implicados no auxílio de outras tarefas
cognitivas menos exigentes.

Processos de esquecimento na memória de trabalho/operatória – (Aula 3)

A informação da MO pode muitas vezes ser esquecida, existem duas propostas que
tentam explicar porque esquecemos a informação: A teoria da interferência e a teoria da
decadência.

A teoria da interferência: a interferência diz respeito a quando nós temos dois tipos de
informação diferentes que estão a competir pela nossa atenção levando ao esquecimento. A
teoria da interferência refere-se então ao esquecimento que ocorre quando a recordação de
certas palavras interfere na recordação de outras. Esta teoria é testada através de um conjunto
de participantes aos quais lhes foi pedido para decorarem uma lista de letras, só consoantes.
Com o término da apresentação desta lista foi pedido aos participantes para evocarem as letras
tal e qual na ordem em que elas apareciam (tarefa de evocação do tipo serial – pela ordem
exata). Os participantes, no final de lhes ser apresentado a lista de consoantes, antes de
nomearem as letras na ordem precisa, tiveram uma tarefa extra de contar de 3 para 1. Esta
tarefa foi medida em vários intervalos de tempo, quando foi pedido aos participantes para
evocarem a lista após 3 segundos a percentagem de letras recordadas mantinha-se nos 80%,
no entanto, ao final de 6 segundos, já desce para 60%, quando chega aos 18segundos a
percentagem é menos de 20% de respostas corretas. Esta experiência sugere que há uma
interferência entre os conteúdos que aprendemos agora (3,2,1 – o mais recente) e aquele que
foi apresentado, ainda que num curto espaço de tempo, mas anteriormente. Temos dois tipos
de informação a competir e ambos interferem na recordação das letras. A teoria da
interferência refere-se ao esquecimento que ocorre quando a recordação de certas palavras
interfere na recordação de outras palavras (números em conflito com as letras tendo em conta
a experiência).

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Existem dois tipos de interferência:

Interferência retroativa ou inibição retroativa: ocorre quando os conteúdos adquiridos


recentemente ou a informação recebida recentemente impede a recordação de conteúdos
previamente aprendidos (experiência relatada anteriormente).

Interferência proativa ou inibição proativa: ocorre quando os conteúdos apreendidos no


passado impedem a aprendizagem de novos conteúdos (exemplo aprendi inglês desde os 6
anos, com 12 anos introduzo a aprendizagem do francês, a aprendizagem prévia da língua
inglesa interfere na aprendizagem da língua francesa, dificultando-a em certa medida).

Teoria da Decadência: a teoria da interferência propõe a existência de dois tipos de


informação a competir, por sua vez a teoria da decadência considera que a passagem do tempo
é que leva ao esquecimento da informação. À luz desta teoria a informação não vai ser
esquecida se algo for realizado no sentido de impedir o esquecimento, algo significativo.
Esta teoria é difícil de ser testada, normalmente as pessoas quando estão a fazer este
tipo de tarefa, para percebermos o que pode levar ao esquecimento ou não, dificilmente eu
consigo controlar as variáveis parasitas, impedir o ensaio de conteúdos é complexo, controlar
com a máxima certeza que a pessoa não vai ensaiar para não esquecer é difícil.
Contudo, avanços na investigação demonstraram que, através de algumas tarefas
baseadas no paradigma de Sternberg, pode-se acautelar a passagem do tempo e avaliar ou
testar o esquecimento à medida que o tempo vai passando. A experiência consiste em
apresentar os estímulos e seguidamente evocar estes estímulos o 3, 9 e 7. A seguir
apareceriam séries de números e o participante tinha de assinalar quando e se o 3, 9 e 7
surgiam nas combinações. À medida que o tempo foi passando observou-se uma diminuição
na percentagem das respostas corretas. O facto de não ter havido uma tarefa distrativa, foi só
a passagem do tempo, de facto as pessoas começaram a recordar cada vez menos,
corroborando esta teoria da decadência. No entanto, o que esta experiência não controla é se
os participantes ensaiaram (por “discurso interno” 3,9,7) os números para não esquecer. Isto
demonstra em certa medida que a decadência tem um impacto relativamente inferior à
interferência na memória de trabalho.

Outro método que foi usado para percebermos o esquecimento foi a curva da posição
serial que demonstra que quando nos é pedido para memorizar uma lista de palavras
recordamos mais facilmente as primeiras e as últimas e esquecemos as palavras do meio. Este
método explica o efeito de Primazia e efeito de Recência.

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A primazia diz respeito à melhor memória para palavras do início da lista: São as
palavras a que se dá mais atenção, onde exercemos repetição. Durante a apresentação da lista
elas passam para a MLP. Para aumentar o efeito de primazia, podemos apresentar a lista de
palavras de forma mais lenta para que haja mais tempo de exposição ao estímulo.
A recência é a melhor memória para palavras do final da lista, as palavras são
recuperadas a partir da memória de trabalho/operatória. Para diminuir o efeito de recência,
pedir para a pessoa evocar as palavras 30seg após terminada a exposição à lista de palavras, ou
seja, introduzir uma tarefa distrativa, a pessoa, neste caso, terá mais dificuldade em recordar as
últimas palavras da lista. (DUVIDA: questionar a professora se a curva da posição serial explica
a teoria da decadência ou se é um modelo explicativo à parte).

Abordagem focada no processamento ou processos


Na abordagem focada no processamento a memória é conceptualizada por um único
sistema no qual operam diferentes processos.

Modelo dos níveis de processamento


Sugere a presença de diferentes etapas de processamento, uma hierarquia. À luz desta
perspetiva a forma como vou processar é essencial para o armazenamento da informação, bem
como, a etapa em que a informação é armazenada depende da etapa em que a informação foi
codificada.
Quanto mais profundo o nível de processamento, maior a probabilidade de
recuperarmos a informação. Os diferentes níveis de processamento ou etapas de
processamento distinguem-se em 3 níveis /etapas: Físico, fonológico e semântico. Por ordem
crescente o nível mais superficial de processamento de informação é o físico; o nível
intermédio é o fonológico (mesmo assim o processamento da informação ainda é superficial) e
o nível mais profundo é o nível semântico (extrair o significado das palavras).
Este modelo foi testado ou apoiado através da apresentação de uma palavra durante
um determinado tempo e seguidamente foram colocadas questões sobre essa palavra (ver
tabela do ppt aula nº 13: 3 palavra são apresentadas e depois retiradas e colocadas questões
sobre as mesmas: palavra CADEIRA – Está escrita em maiúscula? Processamento físico,
superficial; palavra poema – Rima com fonema? Processamento fonológico, análise superficial;
palavra orquídea – é uma planta? Processamento semântico, análise profunda, a atribuição de
significado é essencial). Quanto maior o nível de processamento encorajado pela questão, a
forma como nós testamos as coisas, maior a probabilidade de recuperação da informação e,

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por isso, é que esta teoria ou esta proposta sugere, o conceito de profundidade, quanto mais
profundo for o nível de processamento melhor será a recuperação da informação.
Contudo, este modelo tem limitações e foram apresentadas algumas críticas, uma vez
que alguns resultados são contraditórios. Estratégias que utilizaram rimas (fonológico, nível
superficial) levaram a uma melhor retenção e recuperação do que a utilização de estratégias
semânticas (nível mais profundo), o que contraria a teoria que afirma que quanto mais
profundo o nível de processamento maior será a probabilidade de recuperar a informação, que
só recuperamos a informação no nível semântico.
Uma outra questão que põe este modelo em causa diz respeito à definição circular:
parece que andamos em loop nesta proposta, os níveis que são definidos como mais
profundos, são aqueles onde a informação é retida melhor, ou seja, à medida que os níveis vão
ficando mais profundos a informação é armazenada e recuperada melhor, mas acaba por ser a
mesma coisa, parece que estamos em loop, não nos permite avançar mais e por isso surgem
estes resultados. A informação é vista como sendo melhor retida porque o nível é mais
profundo, ou seja, parece que estamos a dizer a mesma coisa…(não percebi nadinhaaaa
questionar próxima aula?!)
Numa revisão feita ao modelo dos níveis de processamento foi dado ênfase às
diferentes formas de elaboração da informação que não estão contempladas no modelo e a
forma como a informação é recuperada. Esta revisão faz-nos entrar a seguir nos processos de
memória. Processos através dos quais consigo codificar, armazenar e recuperar (próxima aula)

Sistemas de memória a longo prazo
A memória a longo prazo contém uma variedade incalculável de diferentes tipos de
informação e é consensual a existência de vários subsistemas na memória a longo prazo, o que
exige uma revisão do modelo inicial de que a memória a longo prazo era uma única estrutura.
Esses subsistemas são especializados em determinados tipos específicos de informação, por
exemplo somos capazes de nos lembrar que a capital de França é Paris. Surgem evidências que
apoiam a probabilidade de existência de vários subsistemas e estas advêm de pacientes com
lesões cerebrais e amnésia.
Á luz deste modelo, parecem existir dentro da memória a longo prazo, parecem existir
vários subsistemas, cada um responsável para tipos específicos de informação.
A partir deste modelo podemos dividir a MLP em Memória Declarativa que envolve a
recordação consciente de factos e eventos, ou seja, refere-se a factos e conhecimentos. A
memória declarativa é uma das formas de memória a longo prazo que envolvem declarar,
“saber que” e, portanto, isto implica uma recordação consciente. E memória não declarativa,

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não envolve recordação consciente, por isso esta relacionada com a memória implícita, e por
esse mesmo motivo influencia o comportamento.
Estudos anteriores junto de pacientes amnésicos contribuíram para a distinção entre
memória declarativa e não declarativa. O paciente Henry Molaison (paciente HM), possuía uma
aprendizagem razoável em tarefas de cópia espelhada, no entanto, tinha uma recordação
pobre de eventos pessoais antes do inicio da amnésia, ou seja, memória declarativa pobre e
memória não declarativa razoavelmente intacta.
A memória declarativa divide- se em: memória episódica e memória semântica. A
memória episódica é responsável pelo armazenamento e recuperação de acontecimentos ou
episódios específicos, que ocorreram numa localização espacial e temporal especifica. É
diferente da memória autobiográfica, tem um significado pessoal. A memória episódica
armazena eventos ou episódios vivenciados pessoalmente. De acordo com Tulving, usamos a
memória episódica quando aprendemos listas de palavras ou quando precisamos de nos
lembrar de algo que nos aconteceu em determinado momento ou em determinado contexto. A
memória semântica é responsável pelo armazenamento e recuperação de informação relativa
à nossa bagagem de conhecimentos sobre o mundo, é, portanto, um conteúdo conceptual. A
memória semântica armazena o conhecimento geral do mundo. É a nossa memória para factos
que não são exclusivamente nossos e que não são lembrados em nenhum contexto temporal
particular.
Memória episódica vs Memória semântica
Distinção entre dois sistemas?
A investigação é centrada na capacidade de indivíduos com amnésia (lesões no
hipocampo) adquirem memórias episódicas e semânticas após o inicio da amnésia. Os
pacientes que experienciam amnésia tem uma dificuldade em adquirir memórias episódicas e
semânticas após o inicio da amnésia, ou seja, revelam memória episódica gravemente
prejudicada e problemas menos severos na memória semântica.
No entanto, é possível ocorrer o inverso, memória semântica gravemente prejudicada e
problemas menos severos na memória episódica e esta condição é denominada por demência
semântica em que envolve uma lesão no lobo temporal anterior, onde há uma perda
generalizada de informações sobre os significados de palavras e conceitos, no entanto a
memória episódica está relativamente intacta.
A dissociação dupla é o fenómeno que integra os dois tipos de perda de memória
(semântica e episódica). O paciente apresenta lesões e tem um quadro inverso (amnésia passa
a demência semântica), isto permite apoiar que temos diferentes sistemas que atuam ao
mesmo tempo.

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Evidencias tem sugerido que as memorias episódicas e semânticas podem estar
relacionadas, daqui surge a noção de processo de semantização que é o processo pelo qual
memórias episódicas se transformam em memórias semânticas com o passar do tempo. As
memórias episódicas transformam-se em memórias semânticas, porque o significado pessoal
atribuído a esta memória deixou de estar presente.
Sistemas de memória a longo prazo
A memória não declarativa envolve a memória implícita e dentro desta temos vários
tipos de memória nomeadamente o priming de repetição e a memória procedimental.
O priming é um efeito que surge em experiencia e envolve memória não consciente,
então o priming de repetição é o efeito que surge após a apresentação de forma repetida a um
estímulo, e este divide-se em: priming percetual e priming concetual. O priming percetual
consiste na apresentação repetida de um estimulo que facilita o processamento das suas
características percetuais (visuais), ou seja, tem um foco mais dirigido para aquilo que são as
características visuais. O priming concetual consiste na apresentação repetida de um estimulo
que facilita o processamento do seu significado.
Memória procedimental ou conhecimento procedimental diz respeito ao “saber como”,
ou seja, saber como andar de bicicleta, como escrever, como tocar um instrumento etc. Neste
sentido, a memória procedimental envolve a atuação de diferentes processos cognitivos e
envolve também, a aprendizagem de competências.
Priming vs Memória Procedimental
Estudos anteriores tem demonstrado que pacientes com amnésia apresentam estes
sistemas intactos e apoiam a distinção entre estes dois sistemas. Estes estudos permitiu
perceber que áreas do cérebro estão envolvidas nos diferentes tipos de aprendizagem e
provavelmente em diferentes tipos de memória. O priming envolve inúmeras áreas cerebrais
tais como: lobo occipital (percetual) e córtex temporal lateral (concetual). A memória
procedimental envolve o corpo estriado. No entanto existem limitações, a existência de
diferentes tarefas que avaliam o priming torna difícil perceber objetivamente quais as áreas
envolvidas e ao mesmo tempo, podem surgir resultados de neuroimagem contraditórios.
Amnésia
A amnésia é a perda severa de memória explicita. Um dos tipos de amnésia é a
anterógrada que consiste na incapacidade de recordar eventos/informações posteriores a
algum trauma ou lesão. Algumas lesões do córtex temporal (especificamente, do hipocampo e
áreas subcorticais próximas) originam uma perturbação da memória designada por amnésia
anterógrada. Muitas vezes, os pacientes não têm dificuldade em recordar o que aprenderam
antes da lesão; a partir daí, porém, não conseguem aprender nada de novo.

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Outro tipo de amnésia é a retrógrada, que consiste na incapacidade de recordar
eventos/informações anteriores a algum trauma/lesão. Um défice oposto ocorre na amnésia
retrógrada em que o paciente sofre a perda da memória de um período relativo à época
anterior à lesão cerebral.

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