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A memória Memória: é a capacidade de fazermos um registo do

passado e evoca-lo posteriormente. É um processo


A memória é uma das mais faculdades humanas através do qual se codifica, armazena e recupera-se
mais importantes, este é um conceito que se informação.
encontra intimamente ligado à nossa identidade
-Processos da memória
pessoal, uma vez que permite uma ligação do
passado ao presente, esta afirmação pode ser Vivemos num mundo em que a cada segundo, o
suportada pelo facto de que se nós perdêssemos a nosso cérebro é bombardeado com uma quantidade
memória, deixaríamos efetivamente de ser quase imensurável de informações que se traduz em
quem somos. Esta está presente na nossa perceção, estímulos. Cabe ao cérebro selecionar o que é
na aprendizagem e na nossa inteligência, estando na relevante para fixarmos e assim assegurar a
base de todos eles, a cognição é completamente sobrevivência do individuo. Se registássemos e
dependente da existência de memória uma vez que recordássemos todos os estímulos seríamos
esta é o seu pressuposto fundamental, sem incapazes de responder adequadamente ao que é
memória não existe cognição. efetivamente importante.

Falar em memória é, portanto, falar da relação do 1. CODIFICAÇÃO


ser humano com o tempo, graças a ela é que
devemos a manutenção do passado, a Consiste na primeira operação da memória, esta
estruturação do presente e a projeção para o prepara as informações sensoriais para serem
futuro. armazenadas no cérebro e pode ocorrer de forma
automática como consciente e voluntária,
estando assim associada à aprendizagem deliberada
(esforço declarado em memorizar), um bom exemplos
disso é a elaboração de mnemónicas, rimas etc.

Face à afirmação “o mar é azul”, posso codificar o


seu conteúdo de diversas formas.

 Uma imagem de sinais (letras)- código


visual
 Uma sequência de sons (código acústico)
 Tomar consciência do significado da
afirmação e o que ela representa.(código
semântico)
2. ARMAZENAMENTO

Uma das questões mais inquietantes do estudo da


memória, é saber onde é que esta se armazena e
É a nossa memória que retém o conhecimento,
se processa, porém sabe-se que não existe uma
informações, ideias, acontecimentos e encontros, e
localização única.
por isso é fundamental para sobrevivermos uma
vez que nos permite atualizar a informação Para poder ser futuramente recordada a informação
necessária para dar respostas ao desafio do meio. De memorizada, ou seja, já codificada necessita de
facto, é por possuirmos memória que não pousamos deixar um registo no nosso sistema mental, a
a mão numa chapa quente, que paramos no isso designa-se- traço mnésico ou engrama. Cada
semáforo vermelho, que falamos etc., ou seja o ser engrama produz modificações nas redes neuronais
humano através da memória evita o que o que, mantendo-se, permitem que se recorde o
prejudicou e repete o que o beneficiou (“animal de que se memorizou.
hábitos”)
Experiencias efetuadas com sujeitos submetidos a
É graças a este processo cognitivo que quando cirurgias cerebrais, com o córtex exposto, mas
estabelecemos uma comunicação somos capazes de mantidos
perceber o que os outros nos dizem e vice- conscientes,
versa, uma vez que partilhamos as mesmas permitem
representações mentais linguísticas, todos sabemos constatar que a
o que representa a palavra “gaivota” mesmo que não ativação de
esteja nenhuma gaivota à nossa frente, isto uma mesma
acontece, pois, a nossa memória guarda o que memória no
as palavras significam. nosso cérebro
ocorre com a
estimulação de diversas áreas/ pontos do mente humana, pois sem ela nós éramos seres
cérebro. completamente desprovidos de perceção. Se nada
acontecer para manter o registo da mesma, esta vai
Para que uma informação se mantenha de modo inevitavelmente perder-se, a única forma de mantê-
permanente e estável é necessário tempo. O processo la depende da atenção que prestamos a um
de fixação é complexo, estando o material determinado estímulo.
armazenado sujeito a modificações contínuas.
- Memória a curto prazo.
3. RECUPERAÇÃO
É a atenção que prestarmos a um determinado
É nesta etapa que se dá a recuperação da estímulo em detrimento de outro que formula a
informação: lembramo-nos, recordamo-nos, barreira entre memória sensorial e memória a
evocamos uma informação. curto prazo, daí que muitas vezes fiquemos
Trata-se então de recordar/ reconhecer uma surpreendidos quando nos apercebemos que a sala
informação que estava previamente guardada, de aula sempre teve as paredes rosa-claro, apesar de
trazendo-a de volta á consciência através de estramos lá todos os dias nunca tínhamos prestado a
um processo de descodificação- por isso que o devida atenção à cor das paredes.
sucesso desta terceira parte esteja intrinsecamente Esta memória também pode ser denominada de
dependente da maneira como se codifica a memória de trabalho, é um armazém em que
informação na primeira.
apenas a memória é guardada enquanto for
Existem dois métodos pelo qual se processa esta útil, podendo ser esquecida quando não precisarmos
etapa: a recordação e o reconhecimento. Na dela, ou passada para a memória a longo prazo.
recordação é requerido ao individuo que este Para que a informação se mantenha a codificação
reproduza uma resposta que já havia
e a recodificação é essencial.
aprendido a uma dada questão (questões de
recapitulação). No reconhecimento dá-se-lhe um Uma das teorias mais influentes quanto ao que
conjunto de alternativas nas quais este terá de conseguimos armazenar na memória a curto prazo
identificar a verdadeira (exemplo; escolha foi elaborada por George Miller.
múltipla e respostas de verdadeiro e falso)
As suas experiências em Harvard, permitiram
concluir que 7 (+2/-2) é o chamado “número
mágico” do que podemos conservar.
Tipos de memórias
No entanto, é possível constatar que nem todas as
Existem três tipos de armazenamento de memória: a memórias a curto prazo se apagam, sabemos que se
memória sensorial, a memória a curto prazo e a refizermos um teste de há 3 anos no qual tirámos
memória a longo prazo. um 19, não conseguiríamos repetir o mesmo feito,
mas também lembrar-nos-íamos de algo, ou seja,
-Memória sensorial.
certas informações a curto prazo sofrem uma
A memória sensorial, consiste num registo espécie de metamorfose passando a ser
momentâneo que perdura frações de segundos, de memórias a longo prazo, mas como se processa
estímulos sentidos como; o som da chave na essa passagem?
fechadura da porta, o toque no botão de volume do
comando da televisão…  Através da repetição, pode ser um auxílio,
efetivamente é uma forma de manter a
Sem ela, não seria possível, por exemplo, informação ativa, fixada na memória a curto
percebermos o movimento do cinema, pois sem a prazo, no entanto pode não ser
memória instantânea da imagem anterior, não suficiente para que haja uma efetiva
percecionaríamos o movimento para a imagem memorização.
posterior.  Recapitulação elaborada, apesar de antes
de testes tentarmos estudar de forma
Existem vários tipos de memórias sensoriais, cada
repetida, muitas vezes esse método não é
uma delas correspondente aos vários sentidos.
suficiente, é através da recapitulação
Um deles é a memória icónica, que regista elaborada que ligámos novas memórias a
informação obtida através da visão, a memória memórias anteriores, a estruturas
ecoica que retém a informação proveniente dos preexistentes a uma imagem que
ouvidos. conhecemos bem e onde a conseguimos
reconhecer.
É possível estabelecer uma analogia entre a
memória sensorial e uma “porta de entrada” na
-A memória a longo prazo
memória
Constitui o último armazém da memória. declarativa
Esta é alimentada pelos materiais da memória a
curto prazo que são codificados em símbolos, memória memória
desconhece-se a sua capacidade, porém sabe-se que é semântica episódica
muito vasta uma vez que a informação é registada
em redes semânticas- em que várias ideias se
associam para formar um único conceito.
A memória semântica, refere-se ao conhecimento
memória a geral sobre o mundo, acolhendo muito do que
longo prazo aprendemos da escola e ainda sabemos como: factos
históricos, fórmulas matemáticas, regras
gramaticais, conhecimentos em línguas estrangeiras
não etc.
declarativa
declarativa
Neste tipo de memória não existe qualquer tipo
de localização no tempo, apenas sabemos aquilo
 A memória não declarativa que aprendemos, não conseguimos evocar a situação
Também conhecida por memória procedimental e em que o aprendemos, exemplificando, é bastante
memória do saber-fazer, é, portanto, uma memória difícil localizar no tempo o momento em que
de caráter automático, como a própria aprendemos que 5x5= 25, porém se nos
nomenclatura esclarece, é uma memória que lembrarmos que quem nos ensinou a tabuada foi o
não se declara no seu exercício. Exemplos deste nosso pai, então esse dado já se encontra na
tipo de memória são aqueles que fazemos sem dimensão da memória episódica.
qualquer verbalização, de forma totalmente A memória episódica, também conhecida por
automática como andar de bicicleta, lavar os memória autobiográfica, é onde estão armazenados
dentes, apertar os atacadores etc. episódios das nossas vidas tais como, situações
Sempre que exercemos qualquer uma destas marcantes, as nossas canções preferidas, as datas de
práticas depois de aprendermos, já sabemos COMO aniversários etc. é uma memória pessoal muitas
isso se faz e por isso fazemo-lo de imediato. Quando vezes associada a emoções vividas na primeira
desenvolvemos esses comportamentos não temos pessoa, que manifesta a relação íntima entre
noção que são capacidades que dependem da quem se recorda e o que recorda.
memória, é a repetição, o hábito que lhes confere o
caráter automático.
Esquecer para memorizar.
Muitas destas práticas são essenciais no nosso dia-a-
dia, dispensando a nossa atenção, de forma a poupar Esquecimento: podemos defini-lo como a
recursos mentais e tempos, caso perdêssemos incapacidade de recordar, de reconstruir ou de
todos os dias a memória, teríamos todos os recuperar uma informação que foi anteriormente
dias de aprender a atar os atacadores, e a ler, memorizada.
e a conduzir etc.
Geralmente, associamos ao esquecimento um termo
 A memória declarativa de valor negativo, sendo muitas vezes considerado
uma patologia/falha da memória. Porém, o
Também designada por memória explicita ou esquecimento é estruturalmente uma condição da
memória com registo, implica o discurso verbal e a memória, permitindo ao ser humano continuar a
consciência do passado. Como o próprio nome memorizar, uma vez que este evita o registo
refere, é uma memória que se declara no seu amontoado de tudo o que percecionámos. Seria
exercício. É graças a este tipo de memória que praticamente impossível conservar toda a
somos capazes de estudar, de saber o nome das informação que nos circunda, e por isso, o
nossas mães e o aniversário dos nossos irmãos. esquecimento vai desempenhar função de selecionar,
Quando realizámos um teste de avaliação, para podermos adquirir novos conteúdos (função
registámos as respostas porque ao estudar seletiva e adaptativa), afastando a informação
memorizámos os seus conteúdos. que não nos é útil e necessária “libertando espaço”
para armazenar novas informações.
Sintetizando, é uma memória que não se reporta ao
saber-fazer, mas ao saber factos, pessoas e - O que nos leva então, a esquecer?
acontecimentos.  Perda de indícios
 Efeito de interferências - Esquecimento motivado.
 Esquecimento motivado.
A teoria psicanalítica elaborada por Freud defende
que nos esqueceríamos do que,
inconscientemente, nos convém esquecer.
- Efeito de interferências. Assim lembranças de conteúdos traumatizantes,
Uma das razões é o efeito por interferências, penosos, recordações angustiantes seriam
acontece quando algo que aprendemos antes ou esquecidas de modo a evitar a angústia e
depois do que agora estamos a tentar recuperar ansiedade, assegurando desta forma o
dificulta ou impede essa recuperação. equilíbrio psicológico.

Existem duas formas de interferências: inibição pró- Efetivamente, o esquecimento neste caso é sinónimo
ativa e a interferências retroativa. de recalcamento, apesar das memórias
continuarem connosco, o inconsciente impede
O que foi aprendido no que a consciência lhes aceda, de forma a
passado interfere pró- protegermo-nos evitando distúrbios psíquicos que
ativamente numa memória comprometem a nossa saúde mental.
recente. Um exemplo deste tipo
de interferência é quando nós Apenas através da
possuíamos um número de psicanálise, na
A inibição telemóvel por muitos anos e qualidade de terapia,
pró-ativa acabamos por alterá-lo; é muito nos permite aceder a
provável que quando vamos a tais memórias, pois os
dizer o número não nos conteúdos recalcados
consigamos lembrar dele pois a
não podem ser
lembrança do número antigo
recuperados através
interfere na capacidade de
recordarmo-nos do atual. da vontade do sujeito.
O que recentemente foi Apenas o psicanalista
aprendido interfere numa é que tem os meios
aprendizagem que havia sido de sondar o nosso
feita no passado, isto pode ser inconsciente e aceder
constatado quando o nosso a essas memórias,
telemóvel se avaria, e somos muitas delas com origem na infância, de caráter
A
obrigados a ir buscar o nosso problemático refletidas na vida adulta.
interferência
antigo com um software diferente,
retroativa
é provável que achamos que é
difícil utilizá-lo, porém, na altura
achávamo-lo intuitivo. Isto As ilusões da memória
acontece porque a aprendizagem
Uma investigação sobre a memória levada a cabo
de utilização do telemóvel recente
por Elisabeth Loftus, tem levado à necessidade de
interferiu com a do antigo.
se manter um determinado ceticismo perante
relatos de determinadas testemunhas. Em
- Perda de indícios muitos países, em determinados casos jurídicos, o
testemunho pode ser um fator preponderante para
Esta razão significa que por uma determinada
determinar se alguém vive ou morre, ou se fica livre
razão, as condições de recuperação são
ou preso, daí que seja tão fundamental aferir a
inapropriadas, simplesmente não temos pista validade do que as testemunhas afirmam.
nenhuma que nos leva até à memória. Vale
ressaltar que essa memória não está completamente Todos nós sabemos que a memória tem falhas, sendo
esquecida, o problema na altura de recordar muitas vezes exemplo disso o próprio esquecimento,
essa informação está relacionado com o no entanto, o problema surge quando alguém se
acesso. lembra de algo com um determinado rigor, de
algo que efetivamente não aconteceu.
Muitas vezes queremos lembrarmo-nos do nome de
uma música que afirmamos que está mesmo “na Da mesma forma que se pode esquecer aquilo se
ponta da língua”, porém não conseguimos chegar lá. viveu, nós podemo-nos lembrarmo-nos daquilo que
Ao cantarolarmos a música e ao pronunciar o refrão, não vivemos.
o nome surge-nos, ou seja, a memória estava
Existem inúmeros casos, como o de Thomas
disponível, no entanto não estava acessível,
haynesworth; que com apenas 18 anos de idade foi
bastou uma pequena pista para nos levar até ela,
anulando a perda de indícios. condenado a 74 anos de cadeia por crimes que
simplesmente não cometeu. A sua acusação teve As recordações confundem-se
como prova fundamental a identificação visual
por parte das vitimas, que afirmaram ter 100% Conseguimos recuperar
de certeza, e muitas até disseram que “ele tem corretamente uma informação
mas atribuímos-lhe uma origem
uma cara que nunca esquecerei”, na época estas
Atribuição errada, podemos lembrarmo-nos
acusações foram corroboradas pelo tipo sanguíneo,
errada com rigor de determinada
algo que não é preciso pois sabemos que grande conversa mas julga-mos
parte da população mundial pode partilhar o mesmo erradamente em que situação
tipo de sangue. Porém, com o passar do tempo, aconteceu.
identificou-se uma forma muito mais clara de Acontece quando desenvolvemos
identificar os culpados- a análise do ADN, que é falsas memórias a partir de uma
único a cada individuo, provando-se assim que história que nos foi contada,
Sugestio-
Thomas não cometeu nenhum dos crimes pelos sentir um sintoma de uma
nabilidade
quais esteve 27 anos na cadeia. doença que não se tem, mas
sobre a qual já se leu, é evocar
uma falsa memória.
Ocorre quando uma recordação é
completamente distorcida,
deixando que ela seja afetada
pela pessoa que, entretanto, nos
tornámos. Por exemplo,
Enviosamento
julgarmos que não nos
retrospetivo
enganámos num determinado
cálculo (passado), porque hoje
somos especialistas. A perceção
do passado a partir do presente
pode gerar um desvio cognitivo.

Thomas e Leon Davis (verdadeiro culpado)


Recordamos o que desejamos esquecer
Entre diversos casos, Elisabeth loftus conclui
através de diversas experiências que nem mesmo as Acontece quando estamos
nossas maiores certezas são necessariamente constantemente a relembrar
verdade. algo que desejamos esquecer,
Persistência geralmente isto acontece quando
A conclusão desta psicóloga não põe em causa a fizemos algo embaraçoso que
veracidade do testemunho de alguém, porém nos deixou profundamente
defende que não se pode inferir a culpa em alguém envergonhados.
com base na memória das pessoas, devem-se sempre
procurar outras provas que corroborem a acusação.

Os setes pecados da memória

Esquecemos
A memória fica deteriorada com o
tempo.
Sabemos que as memórias mais antigas
tendem a ser mais facilmente
transitoriedade esquecidas e que, sempre que as
recordamos, voltamos a processá-las
introduzindo nelas ligeiras alterações
(quem conta um conto acrescenta um
ponto
Nem sempre damos a devida atenção ao
que estamos a fazer, (fechar a porta de
desatenção
casa) e o cérebro acaba por não guardar
essa informação.
Ocorre muitas vezes por efeito de
interferência, sabemos bem uma coisa
bloqueio mas não conseguimos lembrarmo-nos
dela, é a chamada síndrome de “ponta
da língua”.

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