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MEMÓRIA

É a nossa memória que retém conhecimentos, informações, ideias, acontecimentos,


encontros, o que nos torna únicos e constitui o nosso património e identidade pessoal.
Essencial à nossa sobrevivência, é a memória que nos permite, sempre que
precisamos, atualizar a informação necessária para dar resposta aos desafios do meio.
Aprendemos então a lidar com o meio e é a memória que atualiza, sempre que
precisamos, os comportamentos aprendidos adaptados á situação.
Nas últimas décadas a memória tem sido alvo de investigações aprofundadas pela
psicologia cognitiva e pelas neurociências, o que permitiu conhecer não só a
complexidade dos processos inerentes à memória, como mostrar que está na base de
todos os processos cognitivos. Aliás, sem memória não há cognição.
Processos da memória
Cabe ao cérebro selecionar o que é relevante para assegurar a própria sobrevivência
do individuo e da espécie. Se registássemos e recordássemos todos os estímulos,
seriamos incapazes de responder adequadamente ao que efetivamente é importante.
O que o cérebro determina como importante, ou não, ocorre no processo percetivo
propriamente dito e no processamento da informação:
1. Codificar a informação sensorial;
2. Armazenar a informação;
3. Recuperar e utilizar a informação no processo de interpretação e ação sobre o
meio.
Podemos então definir memória como:

Memória: conjunto de processos e estruturas que codificam,


armazenam e recuperam informações sensoriais, experiências. A
memória é a capacidade do cérebro armazenar, reter e recordar a
informação.

Analisemos mais detalhadamente cada um destes estádios na formação e recuperação


da memória:

1. Codificação: é a 1ª operação da memória que prepara as


informações sensoriais para serem armazenadas no cérebro.
Consiste na tradução de dados num código que pode ser
acústico, visual ou semântico.
A codificação reporta-se também à aprendizagem deliberada, isto é, a aprendizagem
de algo que exige esforço e que temos como objetivo declarado memorizar. Neste
caso, atenção que dedicamos às informações a memorizar implica uma codificação
mais profunda.

1. Armazenamento: cada um dos elementos que constituem a


memória está registado em várias áreas cerebrais, registado em
diferentes códigos, contribuindo cada um deles para formar uma
recordação.

Quando uma experiência é codificada e armazenada, ocorrem modificações no


cérebro de que resultam traços mnésicos designados por engramas. Cada informação,
cada engrama, produz modificações nas redes neuronais que, mantendo-se, permitem
que se recorde o que se memorizou, sempre que necessário. Para que uma informação
se mantenha de modo permanente e estável é necessário tempo. O processo de
fixação é complexo, estando o material armazenado sujeito a modificações continuas.

1. Recuperação: nesta etapa, recupera-se a informação, lembramo-


nos, recordamo-nos, evocamos uma informação.

Existem dois tipos de recordações, aquelas que nos vêm automaticamente à memória
(Quantos anos tens?) e aquelas que requerem algum esforço (Quais os processos de
mundialização?).
É nos casos de maior esforço que nós iremos tentar associar a pergunta a alguma coisa
para que a recordação seja mais fácil e a isto chamamos de reconhecimento e de
seguida após associarmos as coisas iremos tentar lembrarmo-nos exatamente aquilo
que estas significam, o que é a evocação.
Tipos de memória:
Memória sensorial
Com uma, constitui a primeira etapa no estabelecimento de um registo duradouro das
nossas experiências.
Permite conservar as características físicas de um estímulo (visual, auditivo, olfativo,
tátil ou gustativo) captado pelos órgãos sensoriais durante algumas frações de
segundo.
Por exemplo, a Memória Sensorial visual (icónica) contribui para a nossa perceção do
movimento e a Memória Sensorial auditiva (ecoica) é indispensável para que
percebamos palavras e frases.
Para que a informação não se desvaneça e possa ser transferida para a MCP, é
necessário o envolvimento da atenção.
A atenção corresponde, de forma simples, à capacidade de focar um evento ou
situação. Distinguimos:
Atenção seletiva: Ocorre quando nos concentrarmos em alguns estímulos e
ignorarmos outros. Permite-nos fazer tarefas simples, como ler um livro ou conversar
com um amigo.
Atenção dividida: Ocorre quando focamos os nossos sentidos em mais do que um
estímulo ou quando intercalamos a nossa atenção com outra tarefa. Por exemplo,
quando usamos o telemóvel enquanto conduzimos.
Memória a curto prazo

Memória a curto prazo: memória que retém a informação durante um período


limitado de tempo, podendo ser esquecida ou passar para a memória a longo prazo.
Na memória a curto prazo, distinguem-se duas componentes, a memória imediata e a
memória de trabalho.

Na memória imediata o material fica retido durante uma fração de tempo – cerca de
30 segundos. Na memória de trabalho o tempo pode-se alongar se repetirmos
mentalmente a informação.
Neste tipo de memória integram-se outros registos em que a informação se pode
manter durantes horas (por exemplo, teres que trazer um teste assinado no dia
seguinte). Qualquer informação que tenha estado na memória a curto prazo e que se
tenha perdido estará perdida para sempre, só se mantendo se transitar para a
memória a longo prazo.

Memória a longo prazo


A memória a longo prazo é um tipo de memória que é alimentada pelos materiais da
memória a longo prazo que são codificados em símbolos. A memória a longo prazo
retém os materiais durante horas, meses ou toda a vida.
Na memória a longo prazo há diferentes modalidades de armazenamento da
informação para diferentes registos: visual, auditivo, táctil e ainda da linguagem do
movimento, e visto que as memórias com origens diferentes são armazenadas em
áreas diferentes do cérebro, a perda de uma área não tem repercussões nas outras.
Distinguem-se, geralmente, dois tipos de memória a longo prazo que dependem de
estruturas cerebrais diferentes: a memória não declarativa e a memória declarativa.
1) Memória não declarativa: memória automática, que mantém as
informações subjacentes á questão “Como?” (como andar de
bicicleta? Como lavas os dentes? Como apertar as sapatilhas?
Como conduzir um carro?)

Quando desenvolvemos estes comportamentos, não temos consciência de que são


capacidades que dependem da memória. O exercício, o hábito, as repetições do
conjunto das práticas tornam essa atividade automática. Muitos dos nossos
comportamentos são essenciais á vida do dia a dia, dispensando a nossa atenção. Para
executarmos estas atividades não é requerida a localização no tempo, nem
reconhecimento, a não ser que nos perguntem por exemplo para explicarmos por
palavras como se atam as sapatilhas. A maior parte destes comportamentos envolvem
a atividade motora. A memória não declarativa é também designada por memória
implícita ou se registo.

1) Memória declarativa: implica a consciência do passado, do


tempo, reportando-se a acontecimentos, factos, pessoas.
(Também designada de memória explicita ou com registo).
Distinguem-se, neste tipo de memória, dois subsistemas:
a. Memória episódica que envolve as recordações. Daí
aparecer associada ao termo “autobiografia”, porque se
reporta a lembranças da tua vida pessoal. É então uma
memória pessoal que manifesta uma relação íntima entre
quem recorda o que se recorda.
b. Memória semântica refere-se ao conhecimento geral sobre
o mundo. Neste tipo de memória não há localização no
tempo, não estando ligada a nenhum conhecimento ou
ação específicos, nem referenciado e nenhum facto
específico do passado.

Esquecer para recordar

Esquecimento: incapacidade de recordar, de recuperar dados,


informações, experiências que foram memorizadas. Esta incapacidade
pode ser provisória ou definitiva.
Geralmente, associa-se ao termo esquecimento um valor negativo, sendo, muitas
vezes, considerado uma falha, uma patologia da memória. Contudo, o esquecimento é
essencial, é uma própria condição da memória: é porque esquecemos que
continuamos a reter informações adquiridas e experiências vividas. Seria impossível
conservar todos os materiais que armazenamos, tendo o esquecimento a função de
selecionar para podermos adquirir novos conteúdos. O esquecimento tem, assim, uma
função seletiva e adaptativa: afasta a informação que não é útil e necessária.
Aliás, convêm recordar o que já dissemos: a memória não reproduz os dados tal como
foram armazenados. A memória, como processo ativo que é, tem um caráter seletivo
na medida em que toda a informação é guardada, e um caráter adaptativo – a
informação é transformada.
Geralmente, quando falamos de esquecimento, referimo-nos á memória a longo
prazo. Na memória a curto prazo, os materiais retidos por breve período de tempo,
como já vimos, ou se apagam para reter novos dados ou para passar para a memória a
longo prazo.
Esquecimento regressivo
O esquecimento regressivo ocorre quando surgem dificuldades em reter novos
materiais e em recordar conhecimentos, factos e nomes aprendidos recentemente.
Este tipo de esquecimento é especialmente sentido por pessoas de certa idade e pode
ser devido á degenerescência dos tecidos cerebrais.

Esquecimento motivado
Freud apresentou uma conceção de esquecimento que decorre da sua teoria sobre o
psiquismo humano: nós esqueceríamos o que, inconscientemente, nos convém
esquecer. Assim os conteúdos traumatizantes, penosos, as recordações angustiantes
seriam esquecidos para evitar a angústia e a ansiedade, assegurando assim o equilíbrio
psicológico. Este processo designa-se por recalcamento. Segundo Freud seria através
do recalcamento que os conteúdos do inconsciente seriam impedidos de aceder ao
ego, á consciência. Este processo é um mecanismo de defesa através do qual
pensamentos, desejos, sentimentos e recordações dolorosas são afastadas da
consciência como o objetivo de reduzir a tesão provocada por conflitos internos. Os
conteúdos recalcados, “esquecidos”, não poderiam ser recuperados através de um ato
de vontade. Segundo Freud, só através do método psicanalítico se poderia aceder ás
recordações recalcadas, parte delas com origem na infância (amnésia infantil).
Interferência das aprendizagens
As investigações mais recentes tendem a explicar o esquecimento fundamentalmente
através do processo de interferência: as novas memórias interferem com a
recuperação das memórias mais antigas. Atualmente pensa-se que, mais do que
desaparecer, o que acontece ao material que não conseguimos recordar é ter sofrido
modificações, geralmente por efeito de transferências de aprendizagens e experiências
posteriores. Muitas vezes, pensa-se que se esqueceu determinado conteúdo quando, o
que se passa, é que sofreu tantas transformações que não o reconhecemos.

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