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Profª. Msc. Waleska Barros
08 de maio de 2023
A memória é a capacidade de registrar,
manter e evocar as experiências e os fatos já ocorridos em
nossas vidas.
E essa capacidade de memorizar relaciona-se intimamente
com o nível de consciência, com a atenção e com o interesse
afetivo ou estado emocional e a motivação.
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Alterações patológicas quantitativa
na memória
Hipermnésias Amnésias ou hipomnésias
É a perda da memória, seja a da
Nos pacientes esse tipo de alteração nas capacidade de fixar ou a da
representações (elementos mnêmicos) que capacidade de manter e evocar
afluem rapidamente, em tropel, ganhando em antigos conteúdos mnêmicos.
número, perdendo, porém, em clareza e
precisão, ou seja, se traduz mais na aceleração
geral do ritmo psíquico que uma alteração
propriamente da memória.
Tipos de amnésias
Amnésia psicogênica ou dissociativa, há perda de
elementos mnêmicos focais, os quais têm valor
psicológico específico (simbólico, afetivo).
O indivíduo esquece, por exemplo, um evento de
sua vida (que teve um significado especial para ele),
mas consegue lembrar de tudo que ocorreu ao seu
“redor”. Tal amnésia pode ser superada por um
estado hipnótico (na hipnose, o indivíduo consegue
lembrar do que, em estado de consciência, não
recorda)
Amnésia orgânica, trata-se de
amnésia menos seletiva (em
relação ao conteúdo do
material esquecido) que a
psicogênica. Na amnésia anterógrada, o
Em geral, perde-se indivíduo não consegue mais fixar
primeiramente a capacidade elementos mnêmicos a partir do
de fixação (memórias evento que lhe causou o dano
imediatas e recentes); em cerebral.
estados avançados da doença, Por exemplo, o indivíduo não
o indivíduo começa a perder lembra do que ocorreu nas
conteúdos antigos. semanas (ou meses) depois de
um trauma cranioencefálico.
De modo geral, é comum,
Na amnésia retrógrada, o após trauma cranioencefálico,
indivíduo perde a memória a ocorrência de amnésias
para fatos ocorridos antes retroanterógradas, ou seja,
déficits de fixação para o que
do início da doença (ou ocorreu dias, semanas ou
trauma). Sua ocorrência sem meses antes e depois do
amnésia anterógrada pode evento
ser observada em quadros patógeno.
dissociativos (psicogênicos),
como a amnésia dissociativa
e a fuga dissociativa.
Alterações qualitativas da memória as
paramnésias
As alterações qualitativas O indivíduo apresenta
da memória lembrança deformada
envolvem sobretudo que não corresponde
a deformação do à sensopercepção
original.
processo de evocação de
conteúdos
mnêmicos previamente
fixados.
Tipos de alterações
Ilusões mnêmicas, existe um acréscimo de elementos falsos a
um núcleo verdadeiro de memória, por isso, a lembrança
adquire caráter fictício. Muitos pacientes informam sobre o
seu passado indicando claramente deformação de
lembranças reais: “Tive uma centena de filhos com minha
mulher” (teve de fato alguns filhos com a mulher, mas não
uma centena).
Ocorre na esquizofrenia, na paranóia, na histeria
grave, nos transtornos da personalidade (borderline,
histriônica, esquizotípica, etc).
Alucinações mnêmicas. São
verdadeiras criações imaginativas
• As ilusões e as
com a aparência de lembranças ou
reminiscências que não alucinações mnêmicas
correspondem a qualquer elemento constituem, muitas
mnêmico, a qualquer lembrança vezes, o material
verdadeira. básico para a
Podem surgir de modo formação e a
repentino, sem corresponder a
qualquer acontecimento. Ocorrem elaboração de delírios
principalmente na esquizofrenia e (delírio imaginativo ou
em outras psicoses funcionais. mnêmico).
Fabulações ou confabulações : elementos da imaginação do doente
ou mesmo lembranças isoladas completam artificialmente as lacunas
de memória, produzidas, em geral, por déficit da memória de
fixação. Além do déficit de fixação, o doente não é capaz de
reconhecer como falsas as imagens produzidas pela fantasia.
As fabulações (ou confabulações) são invenções, produtos da
imaginação do paciente, que preenchem um vazio da memória, onde
o paciente não tem intenção de mentir ou enganar o entrevistador.
São relatos, narrativas e ações involuntariamente incongruentes com
a história passada do indivíduo, com sua situação presente e futura.
Elas podem ser de três tipos:
Elas são memória ou recordações falsas, mas a falsidade repousa ou
no seu conteúdo ou no seu contexto;
A pessoa que confabula não sabe da falsidade de suas recordações;
Confabulações são recordações plausíveis, ou seja, elas se parecem
com o que poderia ter acontecido, mas que não aconteceu.
As chamadas confabulações de embaraço são produzidas e
estimuladas quando, na entrevista, se pergunta “se lembra de um
encontro que tivemos há dois anos, em uma festa, em seu bairro?
”ou “o que você fez no domingo anterior?”. A pessoa premida pela
pergunta, sem perceber suas dificuldades de memória, passa a
relatar fatos falsos relacionados às perguntas; plausíveis, mas falsos.
.
Alguns autores preferem entender as fabulações mais como um
déficit de “monitoração da realidade” que como uma alteração
específica da memória, elas ocorrem freqüentemente na síndrome
de Korsakoff, secundária ao alcoolismo crônico, associado a déficit
da tiamina (vitamina B1), traumatismo craniano, encefalite
herpética, intoxicação pelo monóxido de carbono, etc.
A síndrome de Korsakoff é caracterizada por
déficit intenso de memória de fixação (sobretudo do tipo episódica),
que geralmente vem acompanhado de fabulações e desorientação
temporoespacial.
Criptomnésias :Trata-se de um falseamento da
memória,em que as lembranças aparecem
como fatos novos ao paciente, que não as
reconhece como lembranças, vivendo-as como
uma
descoberta.
Por exemplo, um indivíduo
com demência (como do tipo Alzheimer)
conta a seus amigos uma história muito
conhecida como se fosse inteiramente nova,
história essa que, há poucos minutos, foi
relatada por um companheiro.
Ecmnésia: Trata-se da recapitulação e
da revivescência intensa, abreviada e
panorâmica, da existência, uma
recordação condensada de muitos
eventos passados, que ocorre em breve
período, ou seja, o indivíduo tem a
vivência de uma alucinação, a visão de
cenas passadas como forma de
presentificação do passado.
Esse tipo pode ocorrer em alguns pacientes com crises
epilépticas, sendo um fenômeno denominado visão
panorâmica da vida, associado às chamadas
experiências de quase-morte, é, de certa forma, um
tipo de ecmnésia, que ocorre relacionado à iminência
da morte por acidente (afogamento principalmente,
sufocamento ou intoxicação), em formas graves de
histeria e no estado de hipnose.
Quando a ecmnésia ocorre associada à proximidade da
morte, alguns indivíduos que sobreviveram relatam ter
visto um túnel e uma névoa luminosa.
A lembrança obsessiva, também denominada
idéia fixa ou representação prevalente,
manifesta-se como o surgimento espontâneo
de imagens mnêmicas ou conteúdos ideativos
do passado que, uma vez instalados na
consciência, não podem ser repelidos
voluntariamente pelo indivíduo.
A imagem mnêmica, embora reconhecida
como absurda e indesejável, reaparece de
forma constante e permanece, como um
incômodo, na consciência do paciente e
manifesta-se em indivíduos com transtornos
do espectro obsessivo-compulsivo.
Alterações de reconhecimento
As alterações do reconhecimento
dividem-se em dois grandes As agnosias são definidas
grupos: as diferentes formas como déficits do
de agnosias, de origem
essencialmente cerebral, e as reconhecimento de estímulos
alterações de reconhecimento sensoriais, objetos e
mais frequentemente associadas fenômenos, que não podem
aos transtornos mentais, sem
base orgânica definida. ser explicados por um déficit
sensorial, por distúrbios da
linguagem ou por perdas
cognitivas globais.
A agnosia aperceptiva ocorre, por
São classificadas, de exemplo, secundária à lesão
modo geral, segundo a bilateral das áreas visuais primárias.
modalidade sensorial na Nesse caso, há
qual o indivíduo perdeu déficit de processamento visual,
a capacidade de sendo prejudicado o processo de
reconhecimento. apercepção normal,
Definem-se, então, as impossibilitando o adequado
agnosias visuais, táteis e reconhecimento visual dos objetos.
auditivas e as agnosias
para percepções
complexas.
A agnosia associativa refere-
se ao déficit da formação do
percepto. Após
reconhecimento adequado, há
impossibilidade de associar-se As agnosias táteis, divididas
corretamente um sentido, um em dois subtipos: a
significado a tal objeto astereognosia, na
reconhecido sensorialmente; a qual o paciente é incapaz de
alteração ocorre, portanto, no reconhecer as formas dos
processo de acoplagem de objetos colocados em suas
determinado sentido a certa mãos, estando o
apercepção. mesmo de olhos fechados; e a
agnosia tátil propriamente As agnosias visuais são
dita, na qual, apesar de o aquelas nas quais o paciente
paciente identificar as formas não conseguemais
elementares do reconhecer, pela visão,
objeto, há incapacidade de determinados objetos;
reconhecimento global de tal enxerga-os, pode descrevê-
objeto; o paciente descreve los, mas não sabe o que
como o objeto é, mas não realmente são.
sabe exatamente que objeto é
apresentado.
A prosopagnosia era considerada
a agnosia de reconhecimento de
faces previamente conhecidas.
Depois expandiu-se o conceito
incluindo-se a incapacidade de
reconhecer membros específicos
de
determinado grupo genérico de
coisas, como certo tipo ou marca
de carro no meio de vários carros,
determinada casa entre várias
casas, uma face específica em
meio
a várias faces.
• A agnosia auditiva é a incapacidade de reconhecer sons (sem
haver déficit auditivo) não-linguísticos (agnosia auditiva
seletiva) ou linguísticos (agnosia verbal).
O paciente pode falar, ler e escrever
correta e fluentemente; entretanto, não
entende qualquer palavra falada que
ouve, apenas as reconhece como ruídos.
Há também a cegueira verbal pura, na
qual o paciente fala, escreve e entende
palavras faladas normalmente; porém,
não pode ler de forma compreensível um
texto (alexia agnóstica sem disgrafia, em
geral acompanhada de hemianopia
homônima e inabilidade em nomear
cores, apesar de percebê-las
corretamente).
A anosognosia é a incapacidade
de o doente reconhecer um déficit
ou uma doença que o acomete.
Tipicamente, o paciente não
reconhece, por exemplo, que temo
hemicorpo esquerdo parético ou
mesmo paralisado, chegando
mesmo a não identificar a
existência de um membro ou de um
hemicorpo.
A anosodiaforia é a
incapacidade de o paciente
reconhecer o estado afetivo
no qual se encontra.
Já a simultanagnosia é a
incapacidade de reconhecer
mais de um objeto ao
mesmo tempo.
A grafestesia é o
reconhecimento
da escrita pelo tato.
Escrevem-se, na mão do O comprometimento da
paciente, letras ou números grafestesia é um
com um objeto semelhante a indicativo de perturbação
uma caneta (mas sem a tinta)
do reconhecimento por
e pede-se que ele os
déficit da integração
reconheça com os olhos
fechados. sensório-motora no nível
cortical
Alguns pacientes conseguem identificar
e nomear adequadamente o hospital no
qual se encontram; entretanto, afirmam
que ele é próximo à sua residência ou,
ainda, reconhecem o hospital, mas
afirmam (incorretamente) que este se
situa em sua cidade.
Tal déficit de reconhecimento foi
denominado paramnésia reduplicativa.
Ocorre com mais frequência em
indivíduos com lesões nos lobos
frontais.
Alterações qualitativas da
memória
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Alterações de reconhecimento associado a transtornos
psiquiátricos
Essas alterações incluem os Falso desconhecimento, o
falsos desconhecimentos paciente não reconhece
produzidos por processos pessoas muito familiares
delirantes, síndromes (como a mãe, a esposa, o filho,
delirantes muito peculiares etc.) ou outra pessoa próxima.
do reconhecimento
e de falsas identificações Ao ser visitado
pelos pais, outros familiares
ou amigos, o paciente afirma
não conhecê-los, diz nunca tê-
los vistos anteriormente.
Síndrome de Capgras, o paciente afirma
que uma pessoa próxima e familiar que o
visitou dizendo ser seu pai ou sua mãe é, na
verdade, um sósia quase
idêntico, uma falsa cópia.
Aquele que afirma ser o pai é um duplo, um
impostor, uma falsificação quase perfeita
que o substituiu e quer que o paciente
acredite tratar-se do seu verdadeiro pai.
Um caso recentemente foi o de
uma jovem cega com a síndrome que
reconhecia seu marido (real) como se ele
fosse um sósia. Esse falso reconhecimento
ocorria não pela aparência física visual (pois
a paciente era completamente cega), mas
pelo tato e pelo odor.
Ela dizia que a pele e o cheiro deles
(marido e sósia) eram muito
parecidos, mas, de fato, não era o
verdadeiro marido que a visitava, era
um impostor, uma cópia quase
idêntica.
Tal caso corrobora a idéia
de que, na síndrome de Capgras, o
pontocentral não é a questão
perceptiva (visual ou de outra
modalidade) ou de memória, mas a
alteração delirante implicada no
reconhecimento de alguém
significativo
para o paciente.
Na chamada síndrome de Capgras
inversa (reverse Capgras), o
sujeito acredita que houve
transformação radical em si
mesmo, que ele próprio é um
impostor.
E esse impostor passou a habitar
seu corpo, não reconhecendo o
corpo como sendo o seu próprio
e verdadeiro.
O paciente afirma: “Este sujeito
aqui é, na verdade, um sósia, uma
cópia quase idêntica de mim
mesmo”.
A síndrome do duplo subjetivo é
Assim, essa psicopatologia
um tanto semelhante (e mesmo
conceitualmente sobreposta) à de é análoga à síndrome de
Capgras inversa. Capgras, mas apenas o
Nesse caso, o paciente acredita que sósia, nesse caso, é o
outra pessoa transformou-se próprio Eu do paciente.
fisicamente a ponto de tornar-se Para uma abordagem
idêntica a ele, vindo a ser o
ampla da questão do
seu próprio Eu, um duplo perfeito.
duplo em psicopatologia.
A síndrome de Frégoli ou falso
reconhecimento é um falso
reconhecimento delirante, em que o
indivíduo identifica falsamente uma
pessoa estranha como se fosse alguém
de seu círculo pessoal.
Na prática clínica, é frequente observar
indivíduos psicóticos que identificam o
médico, o psicólogo ou o enfermeiro
como uma pessoa de sua família ou
como um velho conhecido, a quem
atribuem o mesmo nome e com quem
conversam como se fossem seus velhos
amigos.
Por sua vez, na síndrome de
Frégoli inversa (reverse Frégoli),
há a crença delirante de que
houve (ou está havendo) uma
mudança radical da própria
aparência física, sem alteração do
self psicológico.
O corpo e a aparência física do
paciente não são mais os
mesmos, mas a sua identidade
psicológica permanece igual.
Na síndrome de
intermetamorfose, o De modo geral, os falsos
paciente relata que desconhecimentos e os falsos
certa pessoa de reconhecimentos, assim como as
seu círculo familiar, demais síndromes delirantes
geralmente percebida dessa natureza, ocorrem com mais
como perseguidor, e
frequência associados a
outra pessoa,
estranha, também esquizofrenia, depressões graves e
perseguidor, têm síndromes psico-orgânicas agudas
características físicas e ou crônicas.
psicológicas em Entretanto, podem se manifestar
comum. de forma isolada.
A paramnésia reduplicativa se descreve um grupo de
alterações delirantes do reconhecimento no qual a pessoa tem
certeza subjetiva de que lugares familiares (como sua casa ou o
hospital em que está internada), pessoas, partes do corpo ou
objetos foram duplicados (outriplicados, quadruplicados, etc.).
Em relação à duplicação de lugares, o paciente acredita, por
exemplo, que o hospital onde está internado fora duplicado e ele
foi trazido para lá (para o lugar duplicado). Sente que existem
cópias (duas ou mais) deum mesmo lugar.
É como se existissem dois mundos paralelos.
A paramnésia reduplicativa pode ocorrer associada a outros
quadros delirantes de falsos reconhecimentos.
Alterações de reconhecimento não-
delirante
• Fenômeno do já visto, do já Fenômeno do jamais
ouvido, do
já pensado, do já vivido (déjà-vu, visto (jamaisvu), o
déjà doente, apesar de já ter
entendu, déjà pensé, déjà vécu, passado por
etc.),o determinada experiência,
indivíduo tem a nítida impressão
de que o que está vendo, tem a nítida sensação de
ouvindo, pensando ou que nunca a viu, ouviu,
vivenciando no momento já foi pensou
experimentado no passado.
ou viveu.
Tais fenômenos ocorrem Podem
na fadiga e em estados ocorrer também
mais ou menos associados com
acentuados de epilepsia,
esgotamento, não sobretudo no tipo em
sendo, nesses casos, que ocorrem crises
alterações patológicas. parciais-complexas e,
eventualmente, em
psicoses tóxicas.
Essa lembrança que nos vem às vezes...
folha súbita
que tomba
abrindo na memória a flor silenciosa
de mil e uma pétalas concêntricas...
Essa lembrança...mas de onde? de quem?
Essa lembrança talvez nem seja nossa,
mas de alguém que, pensando em nós, só
possa
mandar um eco do seu pensamento
nessa mensagem pelos céus perdida...
Ai! Tão perdida
que nem se possa saber mais de quem!
Mario Quintana
Referências