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Aula 7 – Memória e suas

alterações
Profª. Msc. Waleska Barros

08 de maio de 2023
 A memória é a capacidade de registrar,
manter e evocar as experiências e os fatos já ocorridos em
nossas vidas.
 E essa capacidade de memorizar relaciona-se intimamente
com o nível de consciência, com a atenção e com o interesse
afetivo ou estado emocional e a motivação.

Somos aquilo que recordamos ou que, de um modo


ou de outro, resolvemos esquecer.
(Izquierdo, 2002)
 Todos os processos relacionados com a
memória são altamente
contextualizados.
De modo geral, recordamos e
aprendemos elementos provenientes de
experiências vivenciadas em bloco,
nas quais diversas modalidades
sensoriais interagem, em contexto
emocional determinado e com
significações pessoais e sociais
específicas.
Tipos de memória
 Memória cognitiva  Memória genética
(neuropsicológica), é uma (epigenétipo), conteúdos de
atividade altamente informações biológicas
diferenciada do sistema adquiridos ao longo da história
nervoso, que permite ao filogenética da espécie,
indivíduo registrar, contidas no material genético
conservar e evocar, a qualquer (DNA, RNA, cromossomos,
momento, os dados mitocôndrias, epigenética)
aprendidos da experiência dos seres vivos.
 Memória  Memória coletiva ou cultural, se refere
imunológica, são aos conhecimentos e práticas culturais
informações (costumes, valores, habilidades artísticas
registradas e e estéticas, preconceitos, ideologias,
potencialmente estilo de vida,
recuperáveis pelo etc.) produzidos, acumulados e mantidos
sistema por um grupo social minimamente
imunológico de um estável.
ser vivo.  Importante para as sociedades humanas,
pois sem elas se perderia a identidade
básica, perdem sua identidade básica, a
possibilidade de perceber o sentido de
suas existências, a gratidão e a crítica em
relação ao passado e a esperança e
prudência em relação ao futuro.
Composição da memória cognitiva,
psicológica ou neuropsicológica
 Memória não é um
processo unitário, ela é
composta de múltiplos
elementos, podem ser
organizados e expostos de
distintas formas e exigem
redes e estruturas cerebrais
diferentes;
 Segundo, a memória não é um processo passivo e fidedigno de
fixação de elementos e de evocação exata e realista do que foi
arquivado.
 Nesse sentido, ela é muito mais um processo ativo, no qual
vários elementos do indivíduo participam da codificação e da
evocação, como elementos sensoriais, imaginativos, semânticos
e afetivos.
 A memória é frequentemente reeditada, ou seja, as informações
de eventos, cenas e acontecimentos do passado, que já foram
armazenadas, podem ser reconfiguradas com acréscimos de
elementos novos (vividos ou imaginados pelo próprio indivíduo
ou instigados por estímulos externos, conscientes ou não).
Composição da memória cognitiva, psicológica
ou neuropsicológica
 Codificação: captar, adquirir e
codificar informações.
 Armazenamento: reter as
informações de modo
fidedigno.
 Recuperação ou evocação:
também denominada de
lembranças ou recordações; é
fase em que as informações
são recuperadas para
distintos fins.
 A evocação, a capacidade de acessar os dados
fixados, seria a etapa final do processo de
memória.
 Lembrança é a capacidade de acessar
elementos no banco da memória de longo
prazo.
 Reconhecimento é a capacidade de identificar
uma informação apresentada ao sujeito com
informações já disponíveis na memória de
longo prazo.
 Esquecimento, por sua vez, é a denominação
que se dá à impossibilidade de evocar e
recordar.
 Em relação à evocação, há ainda dois aspectos distintos: a
disponibilidade e a acessibilidade da informação.
 Às vezes, tentamos lembrar o nome de uma pessoa,
sentimos que esse nome está “na ponta da língua”,
sabemos qual a primeira sílaba, se o nome é curto ou
longo, mas o nome inteiro “não vem” (“fenômeno da
ponta da língua”).
 Nesse caso, a informação ainda está disponível em
nossa memória de longo prazo, mas não está, no
momento exato que queremos lembrar, acessível para
nós.
Fatores psicológicos no processo de
memorização
 Processo de  Nível de consciência e estado geral do
organismo (o indivíduo deve estar
fixação ou desperto, não muito cansado, bem-
engramação nutrido, calmo, etc.)
mnéstica (a  Atenção global e capacidade de
manutenção de atenção concentrada
formação das sobre o conteúdo a ser fixado
unidades de (capacidade do indivíduo concentrar-
memória) se);
dependem de:
 Capacidade de compreensão do
 Sensopercepção preservada; conteúdo a ser fixado;
 Interesse e colorido emocional  Organização temporal das
relacionado ao conteúdo mnêmico a ser repetições (distribuição
fixado, assim como do empenho do harmônica e ritmada no tempo
indivíduo em aprender (vontade e auxilia na fixação de novos
afetividade); elementos);
 Canais sensoperceptivos envolvidos na  Codificação das informações
percepção, já que, quanto maior o novas em mais de uma via, para
número de canais sensoriais, mais o armazenamento mais eficaz
eficaz a fixação (p. ex.,o método de uma informação nova,
audiovisual de ensino de línguas); quanto maior for o número de
 Conhecimento anterior (elementos já canais sensoriais e
conhecidos ajudam a adquirir dimensões cognitivas distintas,
elementos novos); mais eficaz será a
fixação. Por exemplo, se a
informação for uma palavra,
deve-se buscar associar uma
imagem visual
• Conservação  Repetição (pois, de modo geral,
(retenção) dos quanto mais se repete um conteúdo,
mais facilmente este se conserva);
elementos
 Associação com outros
mnêmicos elementos(cadeia de elementos
depende de: mnêmicos).
Memória segundo o tempo de aquisição, armazenamento e
evocação

 Memória sensorial e depósito sensorial (até 1 segundo): aqui,


percepção, atenção e memória se sobrepõem.
 As memórias sensoriais são ricas (muitos conteúdos), mas
muitíssimo breves (os conteúdos se apagam rapidamente).
 Quando estímulos visuais (memória icônica) ou auditivos
(memória ecoica) são expostos ao indivíduo, ele capta (não de
modo consciente) um número relativamente grande de
informações, mas pode guardá-las apenas por um período muito
curto.
 Memória imediata ou de curtíssimo prazo (de poucos segundos
até 1 a 3 minutos), é a capacidade de reter o material (palavras,
números, imagens, etc.) imediatamente após ser percebido.
 Tem capacidade limitada e depende da concentração, da
fatigabilidade e de certo treino;
 As memórias imediata e de trabalho dependem sobretudo da
integridade das áreas pré-frontais;
 Essa memória confunde-se com a atenção e com a memória de
trabalho.
 Memória recente ou de curto
prazo (de poucos minutos até 3 a 6 horas), refere-se à
capacidade de reter a informação por curto período.
 Tipo de memória de capacidade limitada;
 Depende de estruturas cerebrais das partes mediais dos lobos
temporais
 Memória remota ou de longo prazo (de meses até muitos
anos), é a capacidade de evocação de informações e
acontecimentos ocorridos no passado, geralmente após
muito tempo do evento (pode durar por toda a vida).
 É um tipo de memória de capacidade bem mais ampla
que a imediata e a recente;
 Relaciona-se tanto ao hipocampo (no processo de
transferência de memórias recentes para remotas) como
a amplas e difusas áreas corticais, principalmente frontais,
incluindo todos os outros lobos cerebrais, sobretudo em
suas áreas corticais de associação.
 As informações a serem
guardadas na memória de
longo prazo são armazenadas
de modo organizado, em
sistemas que proporcionam
uma estrutura organizacional.
 Assim, as informações são
arquivadas e conservadas de
acordo com seu significado,
em redes semânticas nas quais
conceitos semelhantes ou
semanticamente relacionados
são armazenados de
maneira vinculada, próximos
uns dos outros.
O que é o priming?
 São dicas evocadoras de lembranças mais  Ele sugere que a
amplas, é fenômeno normal e importante do lembrança de
processo de recordação ou evocação. alguns
fragmentos da
 Os fragmentos de um conteúdo mnêmico amplo memória
são evocados e, a partir deles, todo o resto é e conjuntos
gradativa mente recuperado, por exemplo, um mnêmicos
músico toca ou ouve os primeiros dois ou três maiores seriam
acordes de uma canção aparentemente armazenados de
esquecida, e, de forma gradativa, a canção toda forma
começa a surgir para o sujeito. parcialmente
independente.
Esquecimento
 Esquecimento normal, fisiológico: ocorre por desinteresse do
indivíduo ou por desuso.
 Esquecimento por repressão: quando se trata de conteúdo
desagradável ou pouco importante para o indiví-
duo, podendo, no entanto, o sujeito, por esforço próprio, voltar a
recordar certos conteúdos reprimidos (que ficam estocados no pré-
consciente).
 Esquecimento por recalque: certos conteúdos mnêmicos, devido ao
fato de serem emocionalmente insuportáveis, são banidos da
consciência, podendo ser recuperados apenas em circunstâncias
especiais (ficam estocados no inconsciente).
Lei da regressão mnêmica ou Lei de Ribot
 Nessa lei de Théodule Ribot, 1. O sujeito perde as lembranças
quando um o indivíduo que sofre
uma lesão ou doença cerebral, e seus conteúdos na ordem e
sempre que esse processo no sentido inverso que os
patológico atinge seus mecanismos adquiriu.
mnêmicos de registro e
recordação, tende a perder os 2. Conseqüência do item
conteúdos da memória anterior, ele perde primeiro
(esquecimento) seguindo algumas elementos recentemente
regularidades: adquiridos e, depois, os
elementos mais antigos.
3. Perde primeiro elementos mais
complexos e, depois, os mais 5. Primeiramente, perde os
simples. conteúdos mais neutros;
depois, perde os
4.Perde primeiro os elementos elementos afetivos e, apenas
mais estranhos, menos no fim, os hábitos e os
habituais e, só posteriormente, comportamentos
os mais familiares. costumeiros mais
profundamente enraizados
no repertório
comportamental e mental.
Tipos de memória específica
Tipo consciência versus não-consciênte
 A memória explícita ou declarativa é adquirida de forma
plenamente consciente, sendo também a mais relevante do ponto
de vista clinico.
 A memória implícita sem consciência ou não declarativa é adquirida
de forma mais ou menos automática, o indivíduo não se dá conta de
que está aprendendo esta ou aquela habilidade (aqui estão incluídos
os aprendizados de habilidades motoras, p. ex., andar de bicicleta, e
aquisições lingüísticas, como aprender a língua materna)
 Observação:
 Memória declarativa diz respeito a fatos, eventos e conhecimentos que são
memorizados, sendo possível, inclusive, declarar verbalmente de que forma
foram memorizados. Essa memória é sempre explícita (plenamente
consciente) e diz respeito, com mais freqüência, a eventos autobiográficos e
conhecimentos gerais.
 A memória não-declarativa refere-se a hábitos e capacidades, em geral
motores, sensoriais, sensório-motores ou eventualmente lingüísticos (como
nadar, andar de bicicleta, tocar violão, soletrar), sobre os quais é difícil
declarar como são lembrados; deve-se agir, nadar um pouco, pegar o violão e
tocar uma música para demonstrar (inclusive para si mesmo) que tais coisas
são lembradas.
 Memórias, devaneios e viagem mental no tempo, é um
fenômeno chamado devaneio tem muito a ver com a
memória, tanto explícita como implícita.
 O devaneio ocorre quando soltamos a mente e
relaxadamente construímos histórias e eventos mentais,
variando ou inventando cenas e episódios, em relação
tanto ao nosso passado como ao nosso futuro.
 A capacidade de mentalmente reviver o passado e imaginar
possíveis futuros foi denominada viagem mental no tempo.
 Trata-se de um processo essencialmente construtivo.
Tipos de memória de acordo com a estrutura
cerebral
 Memória de trabalho
 A memória de trabalho
(working memory) é,  São exemplos de memória de trabalho o
na verdade, a ouvir um número telefônico, retê-lo na
combinação de mente, para, em seguida, discar, assim
habilidades de atenção como, quando ao dirigir em uma cidade
(capacidade de prestar desconhecida, perguntar sobre um
atenção e de endereço, receber a informação e a
concentração) e da sugestão do trajeto e, mentalmente,
memória imediata. executar o itinerário de forma progressiva.
 A memória de trabalho é, de
modo geral, explícita e  Tais informações (verbais ou
declarativa, e diz respeito a visuoespaciais) são mantidas
um amplo conjunto de
habilidades que permite ativas (on-line), geralmente
manter e manipular por curto período (poucos
informações novas segundos até, no máximo, 1 a
(acessando-as em face às 3 minutos), a fim
antigas).
de serem manipuladas, com
o objetivo de selecionar um
plano de ação e realizar
determinada tarefa.
Considerada a gerenciadora
da memória.
Comprometimentos
Neurológicos Psiquiátricos
 Nas demências  Nos quadros psiquiátricos
vasculares, na primários, como esquizofrenia, transtorno
de déficit de atenção/hiperatividade e
demência de transtorno obsessivo-compulsivo,
Alzheimer, na também
esclerose múltipla, se verificam alterações da memória de
traumatismo trabalho.
craniano...  No envelhecimento normal, é possível
notar dificuldades leves (até,
eventualmente, moderadas).
 Memória episódica
 Esta corresponde a eventos
 Trata-se de uma forma de
memória explícita e declarativa concretos, comumente
relacionada a eventos específicos autobiográficos, bem-circunscritos em
da experiência pessoal do determinado momento e local e se
indivíduo, ocorridos em
determinado contexto. Ex: relatar refere, assim, à recordação consciente
o que foi feito na noite anterior. de fatos reais.
 A perda da memória episódica em
geral se evidencia para eventos
autobiográficos recentes, mas, com o
evoluir da doença, pode incluir
elementos mais antigos.
 As perdas da memória  Também se
episódica ocorrem perde a memória episódica nas
principalmente nas demências demências
degenerativas, como a vasculares e em algumas formas
demência de Alzheimer, a de esclerose múltipla, mas, nessas
DCL e a demência condições, a
frontotemporal. perda geralmente se dá em forma
 Nesses de degraus (perdas mais ou menos
casos, os déficits de memória abruptas seguidas de períodos de
instalam-se estagnação que, posteriormente,
de forma lenta e progressiva. são seguidos por novas perdas
abruptas).
Memória semântica
 Esse tipo de memória se refere a  Assim, conhecimentos como a
aprendizado, conservação e
utilização de algo que pode ser cor de um leão (marrom) ou
designado como o arquivo geral de um papagaio (verde), ou
de conceitos e conhecimentos quem foi o maior jogador
factuais do de futebol do Brasil (Pelé) são
indivíduo e conhecimentos
gerais do mundo. de caráter
 Assim como a memória geral e se cristalizam por meio
episódica, a memória semântica da linguagem, ou seja,
é sempre explícita e declarativa. também são de caráter
semântico.
 A memória semântica é,
 A memória semântica diz de modo geral,
respeito ao registro e à
retenção de conteúdos em compartilhada
função do significado que têm. socialmente, reaprendida
Ela é um de forma constante,
componente da memória de
longo prazo não sendo
que inclui os conhecimentos temporalmente específica
de objetos,
fatos, operações matemáticas,
assim como
das palavras e seu uso.
Memória de procedimento
 Trata-se de um tipo de memória  Também as habilidades
automática, geralmente não- visuoespaciais
(como a capacidade de aprender
consciente. Exemplos soluções
desse tipo de memória são de labirintos e quebra-cabeças) e
habilidades habilidades automáticas
motoras e perceptuais mais ou relacionadas ao aprendizado de
línguas (regras gramaticais
menos complexas (andar de incorporadas na fala
bicicleta, digitar no computador, automaticamente, decorar
tocar um instrumento musical, a conjugação de verbos de uma
bordar, etc.) língua estrangeira, etc.)
Memória de procedimento
 A memória de procedimentos, de  A memória de
modo geral, é implícita e não- procedimentos é, portanto,
declarativa, mas, durante a aquisição
da habilidade, pode ser explícita quase sempre implícita, pois
(como quando se aprende a dirigir manifesta-se tipicamente
um carro seguindo orientações por ações motoras e
verbais) ou implícita (como quando desempenho de atividades e
se aprende sem dificuldades a
sequência de não pode ser expressa por
números em um teclado telefônico, palavras (tornando-se
sem que se perceba o que está consciente apenas
fazendo). com esforço).
 Suspeita-se da presença de alterações da memória de
procedimentos quando o paciente apresenta ou perda
de habilidades motoras ou visuoespaciais previamente
aprendidas ou grande dificuldade em aprender novas
habilidades.
 Por exemplo, o paciente pode perder a habilidade de
escrever à mão ou de digitar um teclado, de tocar um
instrumento musical, de pregar um botão ou de chutar
uma bola.
 Em consequência, um paciente com lesão no sistema de
memória de procedimentos pode nunca mais readquirir as
habilidades motoras automáticas e sem esforço que pessoas
saudáveis realizam como que sem perceber.
 Por fim, pacientes cuja memória episódica foi praticamente
devastada (quadros graves de demência de Alzheimer ou
síndrome de Wernicke-Korsakoff após encefalite) podem ter
ganhos relativos em um processo de reabilitação que lance
mão do sistema de memória de procedimentos preservada e,
assim, aprender novas habilidades, síndrome de Parkinson,
coréia de Huntington.
Alterações quantitativas da
memória

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Alterações patológicas quantitativa
na memória
Hipermnésias Amnésias ou hipomnésias
 É a perda da memória, seja a da
 Nos pacientes esse tipo de alteração nas capacidade de fixar ou a da
representações (elementos mnêmicos) que capacidade de manter e evocar
afluem rapidamente, em tropel, ganhando em antigos conteúdos mnêmicos.
número, perdendo, porém, em clareza e
precisão, ou seja, se traduz mais na aceleração
geral do ritmo psíquico que uma alteração
propriamente da memória.
Tipos de amnésias
 Amnésia psicogênica ou dissociativa, há perda de
elementos mnêmicos focais, os quais têm valor
psicológico específico (simbólico, afetivo).
 O indivíduo esquece, por exemplo, um evento de
sua vida (que teve um significado especial para ele),
mas consegue lembrar de tudo que ocorreu ao seu
“redor”. Tal amnésia pode ser superada por um
estado hipnótico (na hipnose, o indivíduo consegue
lembrar do que, em estado de consciência, não
recorda)
 Amnésia orgânica, trata-se de
amnésia menos seletiva (em
relação ao conteúdo do
material esquecido) que a
psicogênica.  Na amnésia anterógrada, o
 Em geral, perde-se indivíduo não consegue mais fixar
primeiramente a capacidade elementos mnêmicos a partir do
de fixação (memórias evento que lhe causou o dano
imediatas e recentes); em cerebral.
estados avançados da doença,  Por exemplo, o indivíduo não
o indivíduo começa a perder lembra do que ocorreu nas
conteúdos antigos. semanas (ou meses) depois de
um trauma cranioencefálico.
 De modo geral, é comum,
 Na amnésia retrógrada, o após trauma cranioencefálico,
indivíduo perde a memória a ocorrência de amnésias
para fatos ocorridos antes retroanterógradas, ou seja,
déficits de fixação para o que
do início da doença (ou ocorreu dias, semanas ou
trauma). Sua ocorrência sem meses antes e depois do
amnésia anterógrada pode evento
ser observada em quadros patógeno.
dissociativos (psicogênicos),
como a amnésia dissociativa
e a fuga dissociativa.
Alterações qualitativas da memória as
paramnésias
 As alterações qualitativas  O indivíduo apresenta
da memória lembrança deformada
envolvem sobretudo que não corresponde
a deformação do à sensopercepção
original.
processo de evocação de
conteúdos
mnêmicos previamente
fixados.
Tipos de alterações
 Ilusões mnêmicas, existe um acréscimo de elementos falsos a
um núcleo verdadeiro de memória, por isso, a lembrança
adquire caráter fictício. Muitos pacientes informam sobre o
seu passado indicando claramente deformação de
lembranças reais: “Tive uma centena de filhos com minha
mulher” (teve de fato alguns filhos com a mulher, mas não
uma centena).
 Ocorre na esquizofrenia, na paranóia, na histeria
grave, nos transtornos da personalidade (borderline,
histriônica, esquizotípica, etc).
 Alucinações mnêmicas. São
verdadeiras criações imaginativas
• As ilusões e as
com a aparência de lembranças ou
reminiscências que não alucinações mnêmicas
correspondem a qualquer elemento constituem, muitas
mnêmico, a qualquer lembrança vezes, o material
verdadeira. básico para a
 Podem surgir de modo formação e a
repentino, sem corresponder a
qualquer acontecimento. Ocorrem elaboração de delírios
principalmente na esquizofrenia e (delírio imaginativo ou
em outras psicoses funcionais. mnêmico).
 Fabulações ou confabulações : elementos da imaginação do doente
ou mesmo lembranças isoladas completam artificialmente as lacunas
de memória, produzidas, em geral, por déficit da memória de
fixação. Além do déficit de fixação, o doente não é capaz de
reconhecer como falsas as imagens produzidas pela fantasia.
 As fabulações (ou confabulações) são invenções, produtos da
imaginação do paciente, que preenchem um vazio da memória, onde
o paciente não tem intenção de mentir ou enganar o entrevistador.
São relatos, narrativas e ações involuntariamente incongruentes com
a história passada do indivíduo, com sua situação presente e futura.
Elas podem ser de três tipos:
 Elas são memória ou recordações falsas, mas a falsidade repousa ou
no seu conteúdo ou no seu contexto;
 A pessoa que confabula não sabe da falsidade de suas recordações;
 Confabulações são recordações plausíveis, ou seja, elas se parecem
com o que poderia ter acontecido, mas que não aconteceu.
 As chamadas confabulações de embaraço são produzidas e
estimuladas quando, na entrevista, se pergunta “se lembra de um
encontro que tivemos há dois anos, em uma festa, em seu bairro?
”ou “o que você fez no domingo anterior?”. A pessoa premida pela
pergunta, sem perceber suas dificuldades de memória, passa a
relatar fatos falsos relacionados às perguntas; plausíveis, mas falsos.
.
 Alguns autores preferem entender as fabulações mais como um
déficit de “monitoração da realidade” que como uma alteração
específica da memória, elas ocorrem freqüentemente na síndrome
de Korsakoff, secundária ao alcoolismo crônico, associado a déficit
da tiamina (vitamina B1), traumatismo craniano, encefalite
herpética, intoxicação pelo monóxido de carbono, etc.
 A síndrome de Korsakoff é caracterizada por
déficit intenso de memória de fixação (sobretudo do tipo episódica),
que geralmente vem acompanhado de fabulações e desorientação
temporoespacial.
 Criptomnésias :Trata-se de um falseamento da
memória,em que as lembranças aparecem
como fatos novos ao paciente, que não as
reconhece como lembranças, vivendo-as como
uma
descoberta.
 Por exemplo, um indivíduo
com demência (como do tipo Alzheimer)
conta a seus amigos uma história muito
conhecida como se fosse inteiramente nova,
história essa que, há poucos minutos, foi
relatada por um companheiro.
 Ecmnésia: Trata-se da recapitulação e
da revivescência intensa, abreviada e
panorâmica, da existência, uma
recordação condensada de muitos
eventos passados, que ocorre em breve
período, ou seja, o indivíduo tem a
vivência de uma alucinação, a visão de
cenas passadas como forma de
presentificação do passado.
 Esse tipo pode ocorrer em alguns pacientes com crises
epilépticas, sendo um fenômeno denominado visão
panorâmica da vida, associado às chamadas
experiências de quase-morte, é, de certa forma, um
tipo de ecmnésia, que ocorre relacionado à iminência
da morte por acidente (afogamento principalmente,
sufocamento ou intoxicação), em formas graves de
histeria e no estado de hipnose.
 Quando a ecmnésia ocorre associada à proximidade da
morte, alguns indivíduos que sobreviveram relatam ter
visto um túnel e uma névoa luminosa.
 A lembrança obsessiva, também denominada
idéia fixa ou representação prevalente,
manifesta-se como o surgimento espontâneo
de imagens mnêmicas ou conteúdos ideativos
do passado que, uma vez instalados na
consciência, não podem ser repelidos
voluntariamente pelo indivíduo.
 A imagem mnêmica, embora reconhecida
como absurda e indesejável, reaparece de
forma constante e permanece, como um
incômodo, na consciência do paciente e
manifesta-se em indivíduos com transtornos
do espectro obsessivo-compulsivo.
Alterações de reconhecimento
 As alterações do reconhecimento
dividem-se em dois grandes  As agnosias são definidas
grupos: as diferentes formas como déficits do
de agnosias, de origem
essencialmente cerebral, e as reconhecimento de estímulos
alterações de reconhecimento sensoriais, objetos e
mais frequentemente associadas fenômenos, que não podem
aos transtornos mentais, sem
base orgânica definida. ser explicados por um déficit
sensorial, por distúrbios da
linguagem ou por perdas
cognitivas globais.
 A agnosia aperceptiva ocorre, por
 São classificadas, de exemplo, secundária à lesão
modo geral, segundo a bilateral das áreas visuais primárias.
modalidade sensorial na  Nesse caso, há
qual o indivíduo perdeu déficit de processamento visual,
a capacidade de sendo prejudicado o processo de
reconhecimento. apercepção normal,
 Definem-se, então, as impossibilitando o adequado
agnosias visuais, táteis e reconhecimento visual dos objetos.
auditivas e as agnosias
para percepções
complexas.
 A agnosia associativa refere-
se ao déficit da formação do
percepto. Após
reconhecimento adequado, há
impossibilidade de associar-se  As agnosias táteis, divididas
corretamente um sentido, um em dois subtipos: a
significado a tal objeto astereognosia, na
reconhecido sensorialmente; a qual o paciente é incapaz de
alteração ocorre, portanto, no reconhecer as formas dos
processo de acoplagem de objetos colocados em suas
determinado sentido a certa mãos, estando o
apercepção. mesmo de olhos fechados; e a
 agnosia tátil propriamente  As agnosias visuais são
dita, na qual, apesar de o aquelas nas quais o paciente
paciente identificar as formas não conseguemais
elementares do reconhecer, pela visão,
objeto, há incapacidade de determinados objetos;
reconhecimento global de tal enxerga-os, pode descrevê-
objeto; o paciente descreve los, mas não sabe o que
como o objeto é, mas não realmente são.
sabe exatamente que objeto é
apresentado.
 A prosopagnosia era considerada
a agnosia de reconhecimento de
faces previamente conhecidas.
Depois expandiu-se o conceito
incluindo-se a incapacidade de
reconhecer membros específicos
de
determinado grupo genérico de
coisas, como certo tipo ou marca
de carro no meio de vários carros,
determinada casa entre várias
casas, uma face específica em
meio
a várias faces.
• A agnosia auditiva é a incapacidade de reconhecer sons (sem
haver déficit auditivo) não-linguísticos (agnosia auditiva
seletiva) ou linguísticos (agnosia verbal).
 O paciente pode falar, ler e escrever
correta e fluentemente; entretanto, não
entende qualquer palavra falada que
ouve, apenas as reconhece como ruídos.
 Há também a cegueira verbal pura, na
qual o paciente fala, escreve e entende
palavras faladas normalmente; porém,
não pode ler de forma compreensível um
texto (alexia agnóstica sem disgrafia, em
geral acompanhada de hemianopia
homônima e inabilidade em nomear
cores, apesar de percebê-las
corretamente).
 A anosognosia é a incapacidade
de o doente reconhecer um déficit
ou uma doença que o acomete.
 Tipicamente, o paciente não
reconhece, por exemplo, que temo
hemicorpo esquerdo parético ou
mesmo paralisado, chegando
mesmo a não identificar a
existência de um membro ou de um
hemicorpo.
 A anosodiaforia é a
incapacidade de o paciente
reconhecer o estado afetivo
no qual se encontra.
 Já a simultanagnosia é a
incapacidade de reconhecer
mais de um objeto ao
mesmo tempo.
 A grafestesia é o
reconhecimento
da escrita pelo tato.
 Escrevem-se, na mão do  O comprometimento da
paciente, letras ou números grafestesia é um
com um objeto semelhante a indicativo de perturbação
uma caneta (mas sem a tinta)
do reconhecimento por
e pede-se que ele os
déficit da integração
reconheça com os olhos
fechados. sensório-motora no nível
cortical
 Alguns pacientes conseguem identificar
e nomear adequadamente o hospital no
qual se encontram; entretanto, afirmam
que ele é próximo à sua residência ou,
ainda, reconhecem o hospital, mas
afirmam (incorretamente) que este se
situa em sua cidade.
 Tal déficit de reconhecimento foi
denominado paramnésia reduplicativa.
 Ocorre com mais frequência em
indivíduos com lesões nos lobos
frontais.
Alterações qualitativas da
memória

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Alterações de reconhecimento associado a transtornos
psiquiátricos
 Essas alterações incluem os  Falso desconhecimento, o
falsos desconhecimentos paciente não reconhece
produzidos por processos pessoas muito familiares
delirantes, síndromes (como a mãe, a esposa, o filho,
delirantes muito peculiares etc.) ou outra pessoa próxima.
do reconhecimento
e de falsas identificações  Ao ser visitado
pelos pais, outros familiares
ou amigos, o paciente afirma
não conhecê-los, diz nunca tê-
los vistos anteriormente.
 Síndrome de Capgras, o paciente afirma
que uma pessoa próxima e familiar que o
visitou dizendo ser seu pai ou sua mãe é, na
verdade, um sósia quase
idêntico, uma falsa cópia.
 Aquele que afirma ser o pai é um duplo, um
impostor, uma falsificação quase perfeita
que o substituiu e quer que o paciente
acredite tratar-se do seu verdadeiro pai.
 Um caso recentemente foi o de
uma jovem cega com a síndrome que
reconhecia seu marido (real) como se ele
fosse um sósia. Esse falso reconhecimento
ocorria não pela aparência física visual (pois
a paciente era completamente cega), mas
pelo tato e pelo odor.
 Ela dizia que a pele e o cheiro deles
(marido e sósia) eram muito
parecidos, mas, de fato, não era o
verdadeiro marido que a visitava, era
um impostor, uma cópia quase
idêntica.
 Tal caso corrobora a idéia
de que, na síndrome de Capgras, o
pontocentral não é a questão
perceptiva (visual ou de outra
modalidade) ou de memória, mas a
alteração delirante implicada no
reconhecimento de alguém
significativo
para o paciente.
 Na chamada síndrome de Capgras
inversa (reverse Capgras), o
sujeito acredita que houve
transformação radical em si
mesmo, que ele próprio é um
impostor.
 E esse impostor passou a habitar
seu corpo, não reconhecendo o
corpo como sendo o seu próprio
e verdadeiro.
 O paciente afirma: “Este sujeito
aqui é, na verdade, um sósia, uma
cópia quase idêntica de mim
mesmo”.
 A síndrome do duplo subjetivo é
Assim, essa psicopatologia
um tanto semelhante (e mesmo
conceitualmente sobreposta) à de é análoga à síndrome de
Capgras inversa. Capgras, mas apenas o
 Nesse caso, o paciente acredita que sósia, nesse caso, é o
outra pessoa transformou-se próprio Eu do paciente.
fisicamente a ponto de tornar-se Para uma abordagem
idêntica a ele, vindo a ser o
ampla da questão do
seu próprio Eu, um duplo perfeito.
duplo em psicopatologia.
 A síndrome de Frégoli ou falso
reconhecimento é um falso
reconhecimento delirante, em que o
indivíduo identifica falsamente uma
pessoa estranha como se fosse alguém
de seu círculo pessoal.
 Na prática clínica, é frequente observar
indivíduos psicóticos que identificam o
médico, o psicólogo ou o enfermeiro
como uma pessoa de sua família ou
como um velho conhecido, a quem
atribuem o mesmo nome e com quem
conversam como se fossem seus velhos
amigos.
 Por sua vez, na síndrome de
Frégoli inversa (reverse Frégoli),
há a crença delirante de que
houve (ou está havendo) uma
mudança radical da própria
aparência física, sem alteração do
self psicológico.
 O corpo e a aparência física do
paciente não são mais os
mesmos, mas a sua identidade
psicológica permanece igual.
 Na síndrome de
intermetamorfose, o  De modo geral, os falsos
paciente relata que desconhecimentos e os falsos
certa pessoa de reconhecimentos, assim como as
seu círculo familiar, demais síndromes delirantes
geralmente percebida dessa natureza, ocorrem com mais
como perseguidor, e
frequência associados a
outra pessoa,
estranha, também esquizofrenia, depressões graves e
perseguidor, têm síndromes psico-orgânicas agudas
características físicas e ou crônicas.
psicológicas em  Entretanto, podem se manifestar
comum. de forma isolada.
 A paramnésia reduplicativa se descreve um grupo de
alterações delirantes do reconhecimento no qual a pessoa tem
certeza subjetiva de que lugares familiares (como sua casa ou o
hospital em que está internada), pessoas, partes do corpo ou
objetos foram duplicados (outriplicados, quadruplicados, etc.).
 Em relação à duplicação de lugares, o paciente acredita, por
exemplo, que o hospital onde está internado fora duplicado e ele
foi trazido para lá (para o lugar duplicado). Sente que existem
cópias (duas ou mais) deum mesmo lugar.
 É como se existissem dois mundos paralelos.
 A paramnésia reduplicativa pode ocorrer associada a outros
quadros delirantes de falsos reconhecimentos.
Alterações de reconhecimento não-
delirante
• Fenômeno do já visto, do já  Fenômeno do jamais
ouvido, do
já pensado, do já vivido (déjà-vu, visto (jamaisvu), o
déjà doente, apesar de já ter
entendu, déjà pensé, déjà vécu, passado por
etc.),o determinada experiência,
indivíduo tem a nítida impressão
de que o que está vendo, tem a nítida sensação de
ouvindo, pensando ou que nunca a viu, ouviu,
vivenciando no momento já foi pensou
experimentado no passado.
ou viveu.
 Tais fenômenos ocorrem  Podem
na fadiga e em estados ocorrer também
mais ou menos associados com
acentuados de epilepsia,
esgotamento, não sobretudo no tipo em
sendo, nesses casos, que ocorrem crises
alterações patológicas. parciais-complexas e,
eventualmente, em
psicoses tóxicas.
Essa lembrança que nos vem às vezes...
folha súbita
que tomba
abrindo na memória a flor silenciosa
de mil e uma pétalas concêntricas...
Essa lembrança...mas de onde? de quem?
Essa lembrança talvez nem seja nossa,
mas de alguém que, pensando em nós, só
possa
mandar um eco do seu pensamento
nessa mensagem pelos céus perdida...
Ai! Tão perdida
que nem se possa saber mais de quem!
Mario Quintana
Referências

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