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A memória (do latim memorĭa) é a faculdade psíquica através da

qual se consegue reter e (re)lembrar o passado. A palavra


também permite referir-se à lembrança/recordação que se tem de
algo que já tenha ocorrido, e à exposição de fatos, dados ou
motivos que dizem respeito a um determinado assunto.

Por outro lado, a memória é uma dissertação escrita podendo ser


do foro científico, literário ou histórico. Também é sinônimo de
memorando, isto é, um impresso usado comercialmente para
pequenas correspondências, ou ainda um simples apontamento
destinado a lembrar qualquer coisa (uma consulta no dentista, o
pagamento da fatura da eletricidade, etc.).

No plural, dá-se o nome de memórias a um escrito narrativo em


que são compilados fatos a que o autor assistiu ou participou.
Também se pode chamar de memória a um monumento
comemorativo. Ao longo da história, foram mandados construir
monumentos e/ou edifícios em memória de alguém (pessoas que
se sacrificaram/perderam a vida em nome da pátria, por
exemplo).

Nos últimos anos, no âmbito da tecnologia, mais propriamente na


informática, a palavra memória tem sido usada para definir a
unidade (do computador, por exemplo) onde são armazenados
dados.

No que diz respeito à memória humana, esta é a função cerebral


que resulta das conexões sinápticas entre neurónios. Conforme o
alcance temporal, distingue-se a memória a curto prazo
(consequência da simples excitação da sinapse para reforçá-la
ou sensibiliza-la transitoriamente) da memória a longo prazo (um
reforço permanente da sinapse graças à activação de certos
genes e à síntese das proteínas correspondentes).

Existe ainda:

– Memória de procedimento: também conhecida como memória


não-declarativa, ela é usado no armazenamento de informações
que não podem ser expressadas verbalmente, tais como
habilidades intelectuais ou motoras, por exemplo;

– Memória declarativa: esse tipo de memória é utilizada para


armazenar e recordar acontecimentos como raciocínios, criação
de ideias, dados que os sentidos tenham recebido, entre outros;

– Memória imediata: esse tipo de memória dura poucos


segundos, já que o cérebro a descarta depois de utilizá-la. No
entanto, pode ser que, de forma inconsciente, alguns dados
possa ser armazenados.

Ao contrário da memória dos animais, que costuma agir com


base nas suas necessidades presentes, a memória humana tem
a capacidade de contemplar o passado e planificar o futuro. De
acordo com alguns científicos, o homem apenas utiliza uma
décima milésima parte (0,0001) do potencial do seu cérebro ao
longo da sua vida.
No que diz respeito a memória humana, existe ainda a memória
adquirida (quando se reconhece algo de forma prévia, como uma
música somente por sua melodia) e a memória episódica (quando
você se lembra de momentos marcantes em sua vida, como
casamento, formatura, uma viagem, entre outros).

O processo de memorização envolve o lobo temporal, tálamo,


hipotálamo, o neocórtex temporal, o hipocampo, a amígdala e o
córtex pré-frontal. Essas regiões do cérebro atuam na
organização dos acontecimentos, emoções, comportamento,
estímulos sensoriais, entre outros.

No entanto, ainda há convergências entre os especialistas quanto


a região onde o processo de memorização se desenrola. Mas a
opinião é grande quanto a região dos lobos frontais para isso. E
esse conflito de opiniões prova que a mente ainda é uma área
que precisa ser estudada bastante a fundo, e mais ainda no que
diz respeito a memória.

Existem vários tipos de doenças que podem comprometer a


memória, tais como AVC, amnésias, Alzheimer, entre outras.

O desenvolvimento de uma boa memória pode ser conquistado


através de uma boa alimentação, técnicas mentais e de
relaxamento, cuidados com o uso de medicamentos e também
através de atividades e jogos que estimulem a memória como
xadrez, por exemplo.
Tipos de Memória
Por  Ana Lucia Santana
Ouça este artigo:

A memória é basicamente a capacidade humana de inscrever, conservar, e relembrar


mentalmente vivências, conhecimentos, conceitos, sensações e pensamentos
experimentados em um tempo passado. Especialistas da Neurobiologia e da Psicologia
Cognitiva ratificam esta definição, afirmando que na verdade existem várias memórias,
pois há diversas fontes de armazenamento de dados em nossa mente, não limitadas em
uma área determinada de nosso cérebro, mas inerentes a distintas atividades mentais.

Foto: Popular Science Monthly Volume 46 [Public domain], via Wikimedia Commons

Seja como for, porém, que a memória se expresse, os especialistas são unânimes em
afirmar que ela é o fundamento do desempenho cognitivo do homem. Ela exige, para
sua melhor performance, um alto dispêndio de energia mental, e se adultera com a
passagem do tempo. Seu mecanismo age como uma espécie de colagem de fragmentos
mnemônicos e de conhecimentos, que dá vida a idéias originais.
Nossa memória tem níveis diferentes de conservação temporal dos dados adquiridos.
Alguns deles se esvaem com a passagem dos anos, outros se tornam mais difíceis de
detectar, enquanto determinadas informações ficam meio apagadas e são arduamente
reconstituídas. Essa é mais uma prova de que existem vários tipos de memórias, o que
transforma seu estudo em algo complexo, que exige um esforço transdisciplinar,
abrangendo pesquisas neurofisiológicas, bioquímicas, moleculares e emocionais.

Hoje a memória está dividida essencialmente em dois tipos, conforme sua extensão no
tempo, as atividades do cérebro envolvidas no processo, o grau de conservação, seu teor
e os mecanismos neurológicos inclusos nesta operação.

O primeiro tipo é a memória declarativa, através da qual se retém na mente a idéia de


saber que algo aconteceu; o segundo é a memória de procedimentos ou não-declarativa,
que conserva a noção de como se deu este evento. Enquanto os psicólogos e
neurologistas preferem se dedicar ao estudo da memória declarativa, os neurobiólogos
se concentram nesta última categoria.
A memória declarativa, focalizada no dom humano de expor verbalmente
acontecimentos, está submetida à prática da recordação, e é subdividida em memória
imediata – que tem duração instantânea, sendo logo em seguida extinguida -; memória
de curto prazo ou de trabalho, como prefere a Psicologia Cognitiva – leva algumas
horas para desaparecer, legando à mente alguns vestígios de sua presença, apenas o
necessário para ser lembrado e empregado utilmente pelo homem, e está conectada às
nossas emoções, sensações e costumes -; memória de longo prazo – engloba intervalos
de tempo mais amplos, meses ou anos.

A memória de procedimentos, centrada no potencial mental de guardar e reunir dados


que não podem ser expressos oralmente, é mais duradoura, fácil de ser conservada.
Estas são as categorias principais, mas outros tipos podem ser incluídos nesta
distribuição por classes, como as implícitas e explícitas, adotadas principalmente pelos
terapeutas cognitivos. Ambas se reportam ao poder de recordar idéias conservadas nas
memórias acima abordadas. Já os psicólogos percebem outros dois tipos de memórias –
a episódica, ligada à evocação de fatos específicos, inerente ao cenário espaço-temporal,
pois determina quando, onde e como ocorreram determinados eventos; e a semântica,
associada aos aspectos gerais dos eventos, capaz de guardar dados concretamente
adquiridos, como conceitos, aptidões, acontecimentos e racionalizações.

Há várias doenças que podem abalar a memória, tais como o AVC, a Doença de
Alzheimer, amnésias, entre outras. Hoje, o grande desafio científico é determinar a sede
da memória, está ela localizada no cérebro ou na mente? Especialistas convergem ao
afirmar que os processos mnemônicos se desenrolam nos lobos cerebrais, com um
destaque especial para os lobos frontais, que realizam importantes ligações com campos
essenciais do cérebro, como o hipocampo e a amídala neural. Mas ainda há muitos
conflitos de opinião e as divergências se estendem, provando que, na verdade, se
conhece muito pouco ainda sobre a nossa mente, e menos ainda sobre a memória.

Fontes
http://pt.wikipedia.org/wiki/Mem%C3%B3ria
http://www.molwick.com

AVISO LEGAL: As infor


O que é memória?
A memória é um processo que o cérebro humano usa para armazenar
e, depois, recuperar informações. Ela faz parte da cognição
humana, pois permite que as pessoas possam relembrar algum
evento que aconteceu no passado. Isso serve para auxiliar na
compreensão de comportamentos no presente.

Além disso, a memória oferece para as pessoas uma estrutura da qual


os indivíduos podem entender o futuro. Por isso, ela possui um papel
fundamental no processo de ensino e aprendizagem.

Como a memória funciona?


Para entender como é o funcionamento da memória, é necessário
saber que há três processos fundamentais que ajudam na retenção de
lembranças. Então, vamos conferir cada um deles nos próximos
tópicos:

Codificação
O primeiro processo é a codificação que se refere ao processo pelo
qual os dados são apreendidos. Ou seja, é neste momento que as
informações são coletadas e alteradas para serem armazenadas
da melhor maneira.

Armazenamento
Já nessa etapa, o armazenamento tem relação de que forma e por
quanto tempo essas informações codificadas anteriormente ficarão na
memória. Aliás, nesse processo apresenta-se a existência de dois
tipos de memória:

 de curto prazo;
 de longo prazo.
Primeiro, a informação é armazenada na memória de curto prazo e
depois, se for o caso, esse dado pode ser armazenado na de longo
prazo.

Recuperação
Por fim, a recuperação é o processo pelo qual as pessoas têm
acesso às informações guardadas. Por haver dois tipos de
memória, as informações de cada uma são recuperadas de uma forma
diferente.

As informações que estão na memória de curto prazo são


recuperadas na ordem em que estão armazenadas. Já as que ficam
na de longo prazo são resgatadas por meio de associação. Por
exemplo, você quer lembrar onde estacionou o seu carro, antes, você
irá se lembrar por qual entrada pela qual você acessou aquele local.

Tipos de memórias
A memória ainda é um mistério, por conta dos seus tipos distintos que
trabalham em regiões cerebrais. Além disso, cada um tem um
mecanismo diferente. Contudo, alguns estudiosos classificam que
há sete tipos. Vamos conferir cada um deles nos tópicos a seguir:

1. Curto prazo
De modo geral, as informações duram apenas 20 a 30 segundos. Ele
guarda os dados de forma temporária e, logo em seguida, as descarta.
Ou se for o caso, os transfere para a memória de longo prazo. Por
fim, este tipo se divide em duas memórias: imediata e de
trabalho.

2. Longo prazo
Já as memórias de longo prazo possuem mais complexidades se
comparadas com as de curto prazo. Afinal, qualquer evento que
ocorre há mais de alguns minutos pode ser guardado neste tipo de
memória.

Aliás, dependendo da frequência com que queremos recordar uma


determinada informação, a força dessa lembrança tem variações.
3. Explícita
Esse tipo de memória também é denominado como memória
declarativa. Ela é um tipo de memória de longo prazo em que a
pessoa se lembra após pensar de maneira consciente sobre o
assunto. Como o nome do cachorro de infância ou os números do
RG.

4. Episódica
As memórias episódicas estão relacionadas com a vida pessoal e os
momentos emocionantes. Por exemplo, o dia de nascimento de um
ente querido ou de casamento especial, além até mesmo o que comeu
no jantar da noite anterior.
MEMÓRIA
A memória é a forma como o cérebro adquire e armazena informações, uma das
funções mais complexas do organismo humano.

Maria Helena Varella Bruna é redatora e revisora, trabalha desde o início do Site
Drauzio Varella, ainda nos anos 1990. Escreve sobre doenças e sintomas, além de
atualizar os conteúdos do Portal conforme as constantes novidades do universo de
ciência e saúde.

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Revisado em:
A memória é a forma como o cérebro adquire e armazena
informações, uma das funções mais complexas do organismo humano.

Há duas maneiras pelas quais o cérebro adquire e armazena


informações: a memória de procedimento e a memória declarativa.
Essas duas formas divergem tanto no que diz respeito aos mecanismos
cerebrais envolvidos, como nas estruturas anatômicas.

A memória de procedimento (também chamada implícita) armazena


dados relacionados à aquisição de habilidades mediante a repetição de
uma atividade que segue sempre o mesmo padrão. Nela se incluem
todas as habilidades motoras, sensitivas e intelectuais, bem como toda
forma de condicionamento. A capacidade assim adquirida não
depende da consciência. Somos capazes de executar tarefas, por vezes
complexas, com nosso pensamento voltado para algo completamente
diferente.

Veja também: Entrevista sobre memória com o neurocientista


Ivan Izquierdo

Por outro lado, a memória declarativa (também chamada explícita)


armazena e evoca informação de fatos e de dados levados ao nosso
conhecimento através dos sentidos e de processos internos do cérebro,
como associação de dados, dedução e criação de ideias. Esse tipo de
memória é levado ao nível consciente através de proposições verbais,
imagens, sons, etc. A memória declarativa inclui a memória de fatos
vivenciados pela pessoa (memória episódica) e de informações
adquiridas pela transmissão do saber de forma escrita, visual e sonora
(memória semântica).

Analisando a memória quanto ao tempo de armazenamento das


informações, pode-se classificá-la em memória de trabalho, memória
de curto prazo e memória de longo prazo.

A memória de trabalho, que alguns acreditam ser parte da memória de


curto prazo, atua no momento em que a informação está sendo
adquirida, retém essa informação por alguns segundos e, então, a
destina para ser guardada por períodos mais longos, ou a descarta.
Quando alguém nos diz um número de telefone para ser discado, essa
informação pode ser guardada, se for um número que nos interessará
no futuro, ou ser prontamente descartada após o uso. A memória de
trabalho pode, ainda, armazenar dados por via inconsciente.

A memória de curto prazo trabalha com dados por algumas horas até
que sejam gravados de forma definitiva. Este tipo de memória é
particularmente importante nos dados de cunho declarativo. Em caso
de algum tipo de agressão ao cérebro, enquanto as informações estão
armazenadas neste estágio da memória, ocorrerá sua perda irreparável.
A memória de longo prazo é a que retém de forma definitiva a
informação, permitindo sua recuperação ou evocação. Nela estão
contidos todos os nossos dados autobiográficos e todo nosso
conhecimento. Sua capacidade é praticamente ilimitada.

Não há uma estrutura ou uma determinada porção do cérebro


reconhecidamente depositária de informações, embora se acredite que
o lobo temporal esteja envolvido com a memória dos eventos do
passado. Entretanto, são conhecidas várias estruturas cerebrais
envolvidas com a aquisição e o processo de armazenamento de dados.

 
MECANISMOS DA MEMÓRIA

Ainda não se conhece definitivamente o mecanismo, ou os


mecanismos, pelo qual o cérebro adquire, armazena e evoca as
informações. Não obstante, alguns modelos são propostos para
explicar essa função do cérebro humano.

O primeiro dos modelos propostos tem como base a atividade elétrica


cerebral. Assim, a informação seria guardada em circuitos elétricos,
ditos reverberantes. Evidência desse mecanismo é obtida pela
existência de conexões neuronais recorrentes, ou seja, por
ramificações da célula nervosa (neurônio) que voltam ao seu próprio
corpo, reestimulando-a. É possível que esse mecanismo esteja
presente na manutenção das informações nas memórias de trabalho e
de curto prazo.

O segundo modelo baseia-se na produção de substâncias químicas que


conteriam um código relacionado às informações. Esse modelo supõe
que os neurônios possam sintetizar ARN (ácido ribonucleico) e que
essa substância conteria um código da memória da mesma forma que
o ADN (ácido desoxirribonucleico) contém a codificação genética.
Embora se tenha verificado aumento da síntese de ARN em fases de
aprendizado, atualmente acredita-se que essa síntese seja responsável
mais pelo funcionamento celular do que pela criação de um código
químico, de forma a ter-se relegado a um segundo plano essa hipótese.

Outro modelo, conhecido por modelo conexionista, pressupõe a


alteração das conexões entre os neurônios. Todos os neurônios emitem
ramificações que se comunicam com as de outros neurônios, tendo
umas, caráter estimulante e outras, caráter inibitório para a célula a
que se destinam. A transmissão do impulso nervoso é feita no ponto
de encontro dessas ramificações com a célula alvo, ponto esse
denominado sinapse. A hipótese é que haveria alteração da função
sináptica criando novos circuitos neuronais e seriam esses circuitos
que codificariam as informações. Esse modelo tornou-se bastante
plausível depois que se comprovou, experimentalmente, o aumento da
resposta sináptica com a aplicação de estímulos repetitivos.

Assim, acredita-se que o substrato da memória é o aumento da função


sináptica (hipertrofia) ou a criação de novas sinapses. Esse modelo é
bastante interessante, pois, além de esclarecer como são guardadas as
informações, permite explicar, também, a atenuação das lembranças,
fenômeno conhecido por todos, e que ocorreria em virtude da
diminuição da função sináptica causada pelo desuso.

 
AMNÉSIA

A amnésia é uma entidade patológica provocada por diversas causas


em que o indivíduo perde a capacidade de reter informações novas
(amnésia anterógrada) ou de evocar as antigas (amnésia retrógrada).

As amnésias são sempre causadas por agressões ao cérebro e podem


ter caráter transitório ou permanente, sendo algumas delas destacadas
a seguir:

1. Síndrome de Korsakoff – Doença descrita como decorrência do


alcoolismo crônico pode, no entanto, ter outras causas. A amnésia é o
sintoma predominante nessa síndrome, sendo caracteristicamente do
tipo anterógrado.

2. Amnésia traumática –  Mesmo que não percam a consciência,


pessoas que sofrem um trauma de crânio de certa intensidade, muito
frequentemente, esquecem-se dos fatos que ocorreram minutos antes
do trauma (amnésia retrógrada) e também, dos fatos que ocorreram
após o trauma (amnésia anterógrada). Existe certa relação de
proporcionalidade entre a intensidade do trauma e o tempo de
amnésia.

3. Amnésia global – Esse tipo de amnésia está correlacionado com


grave e difuso comprometimento cerebral. De forma definitiva,
instala-se a amnésia tanto anterógrada quanto retrógrada, ou seja, o
indivíduo perde a capacidade de reter novas informações e de evocar
seu estoque antigo de informações. Tal situação ocorre em demências,
traumas muito graves e intoxicações por monóxido de carbono.

4. Amnésia global transitória – Nessa situação, a amnésia dura


algumas horas, não ultrapassando um dia, e a recuperação é completa.
O indivíduo tem comportamento normal, mas não retém nenhuma
informação durante o episódio, ou seja, apresenta amnésia anterógrada
completa e essa lacuna na memória da pessoa permanece depois da
recuperação. A causa desse distúrbio não está, ainda, totalmente
esclarecida, mas parece estar ligada a uma isquemia transitória que
afeta as partes internas do lobo temporal. Essa patologia tem curso
benigno, sendo excepcional um segundo episódio.

5) Amnésia pós-operatória – Há cerca de 50 anos, um neurocirurgião


americano, para poder tratar um paciente com crises convulsivas que
não respondia ao tratamento com remédios, fez uma cirurgia para
retirar, de ambos os lados, certas partes do lobo temporal (hipocampo
e porção medial). Esse paciente obteve controle das crises, mas ficou
com amnésia anterógrada muito intensa. Por isso, até hoje, existe a
dúvida de que o benefício obtido tenha compensado, se considerarmos
o déficit adquirido. Quanto à lembrança de fatos e conhecimentos
anteriores à cirurgia, esse paciente não sofreu alteração.

 
ESQUECIMENTO

Ao contrário da amnésia em que há perda de uma capacidade, o


esquecimento é uma falha na retenção ou na evocação dos dados da
memória.

Trata-se de fenômeno muito comum que, em maior ou menor grau,


ocorre com qualquer pessoa.

No entanto, é cada vez maior o número de pessoas que se sente


incomodado com o problema e que busca solução.

A principal questão, no que se refere ao esquecimento, é determinar


sua causa. Alguns postulam que ocorre uma debilitação dos traços de
memória com o passar dos anos. Outros, no entanto, acreditam que
novos conhecimentos podem interferir e prejudicar a memória.

O desuso provocaria um enfraquecimento dos circuitos da memória,


conforme o modelo conexionista, tornando cada vez mais difícil o
acesso a essas informações. Isso pode explicar parte do problema, mas
não todo ele. É fato que, com o passar da idade, as pessoas têm mais
dificuldade para lembrar fatos passados, mas essa dificuldade é mais
intensa em relação aos fatos recentes, enquanto fatos remotos
marcantes, ainda que não utilizados com frequência, podem ser
lembrados facilmente, inclusive em detalhes.

Considerando-se o processo de interferência, sabe-se que um novo


aprendizado pode interferir com um antigo que lhe guarde alguma
semelhança ou que lhe possa ser associado. Assim, a cada nova
informação haveria modificação naquelas já sedimentadas. O acúmulo
de informações, ao longo do tempo, faria com que pessoas de mais
idade tivessem maior dificuldade em relação à evocação da memória.

Nenhuma dessas causas explica totalmente a ocorrência do


esquecimento, mas não podem ser descartadas como componentes do
problema. Há, no entanto, outro aspecto importante a ser considerado.

Não é possível evocar uma informação, se ela não foi devidamente


arquivada. Para que o ser humano possa reter na memória 
determinada informação, é necessário que sua atenção esteja voltada
para isso. Sem atenção, não há qualquer possibilidade de guardar-se
um fato e, sem guardá-lo, não há como recuperá-lo depois.

O combate ao esquecimento deve levar em conta a atenção e o poder


de concentração, bem como os fatores que o facilitam ou o dificultam.
Também se deve atentar para os fenômenos do desuso e da
interferência de novos aprendizados.
Memória Olfativa: entenda porque os cheiros
trazem tantas recordações
Já se sentiu transportado no tempo por um cheiro?

Em questão de segundos, um cheiro te traz uma memória viva de um acontecimento,


despertando inclusive os mesmos sentimentos daquele momento! 

Esse é o poder da memória olfativa. 

A Memória olfativa é mais duradoura e intensa que a audição e a visão, desencadeando


rapidamente lembranças e emoções, por vezes intensas. 

Como funciona o olfato e a memória olfativa


Quando um aroma chega às nossas narinas até o teto da cavidade nasal, esse estímulo
químico é transformado em estímulo elétrico e levado até o cérebro. A parte do nosso
cérebro que processa essa informação é o sistema límbico, a mesma parte do
cérebro responsável pela memória, reações instintivas, reflexos e sentimentos.

O olfato é o único dos nossos sentidos que tem ligação direta com a parte do
cérebro que rege nossas emoções. Quando sentimos um cheiro, nosso cérebro grava
em nossa memória o sentimento que estamos sentindo naquele momento, associando-o
ao cheiro. Por exemplo, quando sinto cheiro de bolo assando, me sinto na hora
tranquila, feliz e confortável, exatamente como me sentia quando criança, sentada na
cozinha da minha avó esperando o bolo terminar de assar. 

O poder da memória olfativa para seu bem-estar


Sabendo que o cheiro é guardado em nossa mente junto com emoções, é possível
construir boas lembranças associadas a cheiros. Muitas marcas sabem disso e usam
muito bem! Desenvolvem aromas próprios e intensificam a memória do tempo que
passamos ali naquele espaço. 

Em nossas casas, podemos construir também memórias gostosas em família


associadas a aromas. Aquele cheirinho suave de capim limão pode acompanhar as
sessões de Netflix com a família toda no sofá. E, no futuro, sentir esse cheirinho de
capim limão novamente vai te fazer sentir esse sentimento confortável e cheio de amor
da família inteira ali junta.

O que é a memória gustativa


A combinação entre os estímulos químicos (paladar e olfato),
físicos (visão e audição) e misto (tato)
despertam memórias afetivas ligadas diretamente à alimentação.
Relacionando, assim, o consumo de certos alimentos às
emoções que acompanham a vida em diferentes fases. Ou seja,
o gosto que fica e acompanha uma pessoa por anos é ativado
pelo reconhecimento de estímulos por células gustativas
presentes na língua. Eles, por sua vez, identificam os diferentes
paladares e envia mensagens elétricas ao sistema nervoso
central – responsável por receber e processar informações.
De acordo com a doutora em Ciência dos Alimentos Hellen
Maluly, a memória afetiva ligada à alimentação estimula as
lembranças carregadas ao longo da vida e a todos os estímulos
já recebidos. Permitindo, assim, a escolha do que queremos ou
não sentir no momento da alimentação.

Memória muscular:
Saiba se é verdade
ou mito
Movimento

Julia Moraes
3 de janeiro, 2020

Ficar um tempo sem ir para a academia e voltar depois pode ser


difícil para alguns. No entanto, comenta-se que, graças à
memória muscular, os músculos respondem com mais facilidade
aos treinos, e a recuperação da massa magra é mais rápida.
Porém, a memória muscular realmente existe ou é um mito?
Na verdade, a memória muscular existe. Ela tem a ver com os
nervos que se comunicam com o músculo para permitir que ele
se mova na sequência apropriada para executar cada
movimentos. Ou seja, a ordem em que você ativa os músculos
fica gravada. 
Assim, quando uma pessoa está praticando alguma atividade
física, as células musculares se movimentam de uma
determinada maneira. Como por exemplo, ao nadar
competitivamente, os nervos dizem aos músculos quando devem
se mover para formar um rastreamento frontal. Portanto, mesmo
se você passar anos sem nadar, quando voltar para a piscina,
terá um condicionamento melhor do que alguém que está
aprendendo a nadar do zero. Isso graças à memória muscular.
Leia também: Como aprender a gostar de malhar
Memória muscular: O que os estudos dizem
Uma pesquisa da Universidade Johns Hopkins, nos Estados
Unidos, descobriu que quem modifica levemente a rotina de
movimentação muscular aprendia duas vezes mais rápido do que
aqueles que praticavam exatamente a mesma coisa todos os
dias. 
Os estudiosos dizem que isso é fruto de um fenômeno chamado
reconsolidação. Quando você muda ligeiramente o jeito de
praticar uma atividade ou movimento, o cérebro se lembra e
modifica as memórias existentes com o novo conhecimento,
tornando-as ainda mais fortes e auxiliando as habilidades
motoras.
Portanto, se você estiver tentando aperfeiçoar seu saque de
tênis, por exemplo, tente mudar para uma raquete menor em
algumas sessões de treino. Isso pode ajudá-lo a aprender o
movimento mais rapidamente.
Entretanto, é importante lembrar que. apesar da memória
muscular, quem não pratica atividade física há muito tempo e
deseja retornar deve procurar um médico de esporte para que os
riscos cardiovasculares sejam investigados. Assim, lesões e
outros problemas podem ser prevenidos.
MEMÓRIA
A memória é a forma como o cérebro adquire e armazena informações, uma das
funções mais complexas do organismo humano.

Maria Helena Varella Bruna é redatora e revisora, trabalha desde o início do Site
Drauzio Varella, ainda nos anos 1990. Escreve sobre doenças e sintomas, além de
atualizar os conteúdos do Portal conforme as constantes novidades do universo de
ciência e saúde.

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A memória é a forma como o cérebro adquire e armazena
informações, uma das funções mais complexas do organismo humano.

Há duas maneiras pelas quais o cérebro adquire e armazena


informações: a memória de procedimento e a memória declarativa.
Essas duas formas divergem tanto no que diz respeito aos mecanismos
cerebrais envolvidos, como nas estruturas anatômicas.

A memória de procedimento (também chamada implícita) armazena


dados relacionados à aquisição de habilidades mediante a repetição de
uma atividade que segue sempre o mesmo padrão. Nela se incluem
todas as habilidades motoras, sensitivas e intelectuais, bem como toda
forma de condicionamento. A capacidade assim adquirida não
depende da consciência. Somos capazes de executar tarefas, por vezes
complexas, com nosso pensamento voltado para algo completamente
diferente.

Veja também: Entrevista sobre memória com o neurocientista


Ivan Izquierdo

Por outro lado, a memória declarativa (também chamada explícita)


armazena e evoca informação de fatos e de dados levados ao nosso
conhecimento através dos sentidos e de processos internos do cérebro,
como associação de dados, dedução e criação de ideias. Esse tipo de
memória é levado ao nível consciente através de proposições verbais,
imagens, sons, etc. A memória declarativa inclui a memória de fatos
vivenciados pela pessoa (memória episódica) e de informações
adquiridas pela transmissão do saber de forma escrita, visual e sonora
(memória semântica).

Analisando a memória quanto ao tempo de armazenamento das


informações, pode-se classificá-la em memória de trabalho, memória
de curto prazo e memória de longo prazo.

A memória de trabalho, que alguns acreditam ser parte da memória de


curto prazo, atua no momento em que a informação está sendo
adquirida, retém essa informação por alguns segundos e, então, a
destina para ser guardada por períodos mais longos, ou a descarta.
Quando alguém nos diz um número de telefone para ser discado, essa
informação pode ser guardada, se for um número que nos interessará
no futuro, ou ser prontamente descartada após o uso. A memória de
trabalho pode, ainda, armazenar dados por via inconsciente.

A memória de curto prazo trabalha com dados por algumas horas até
que sejam gravados de forma definitiva. Este tipo de memória é
particularmente importante nos dados de cunho declarativo. Em caso
de algum tipo de agressão ao cérebro, enquanto as informações estão
armazenadas neste estágio da memória, ocorrerá sua perda irreparável.
A memória de longo prazo é a que retém de forma definitiva a
informação, permitindo sua recuperação ou evocação. Nela estão
contidos todos os nossos dados autobiográficos e todo nosso
conhecimento. Sua capacidade é praticamente ilimitada.

Não há uma estrutura ou uma determinada porção do cérebro


reconhecidamente depositária de informações, embora se acredite que
o lobo temporal esteja envolvido com a memória dos eventos do
passado. Entretanto, são conhecidas várias estruturas cerebrais
envolvidas com a aquisição e o processo de armazenamento de dados.

 
MECANISMOS DA MEMÓRIA

Ainda não se conhece definitivamente o mecanismo, ou os


mecanismos, pelo qual o cérebro adquire, armazena e evoca as
informações. Não obstante, alguns modelos são propostos para
explicar essa função do cérebro humano.

O primeiro dos modelos propostos tem como base a atividade elétrica


cerebral. Assim, a informação seria guardada em circuitos elétricos,
ditos reverberantes. Evidência desse mecanismo é obtida pela
existência de conexões neuronais recorrentes, ou seja, por
ramificações da célula nervosa (neurônio) que voltam ao seu próprio
corpo, reestimulando-a. É possível que esse mecanismo esteja
presente na manutenção das informações nas memórias de trabalho e
de curto prazo.

O segundo modelo baseia-se na produção de substâncias químicas que


conteriam um código relacionado às informações. Esse modelo supõe
que os neurônios possam sintetizar ARN (ácido ribonucleico) e que
essa substância conteria um código da memória da mesma forma que
o ADN (ácido desoxirribonucleico) contém a codificação genética.
Embora se tenha verificado aumento da síntese de ARN em fases de
aprendizado, atualmente acredita-se que essa síntese seja responsável
mais pelo funcionamento celular do que pela criação de um código
químico, de forma a ter-se relegado a um segundo plano essa hipótese.

Outro modelo, conhecido por modelo conexionista, pressupõe a


alteração das conexões entre os neurônios. Todos os neurônios emitem
ramificações que se comunicam com as de outros neurônios, tendo
umas, caráter estimulante e outras, caráter inibitório para a célula a
que se destinam. A transmissão do impulso nervoso é feita no ponto
de encontro dessas ramificações com a célula alvo, ponto esse
denominado sinapse. A hipótese é que haveria alteração da função
sináptica criando novos circuitos neuronais e seriam esses circuitos
que codificariam as informações. Esse modelo tornou-se bastante
plausível depois que se comprovou, experimentalmente, o aumento da
resposta sináptica com a aplicação de estímulos repetitivos.

Assim, acredita-se que o substrato da memória é o aumento da função


sináptica (hipertrofia) ou a criação de novas sinapses. Esse modelo é
bastante interessante, pois, além de esclarecer como são guardadas as
informações, permite explicar, também, a atenuação das lembranças,
fenômeno conhecido por todos, e que ocorreria em virtude da
diminuição da função sináptica causada pelo desuso.

 
AMNÉSIA

A amnésia é uma entidade patológica provocada por diversas causas


em que o indivíduo perde a capacidade de reter informações novas
(amnésia anterógrada) ou de evocar as antigas (amnésia retrógrada).

As amnésias são sempre causadas por agressões ao cérebro e podem


ter caráter transitório ou permanente, sendo algumas delas destacadas
a seguir:

1. Síndrome de Korsakoff – Doença descrita como decorrência do


alcoolismo crônico pode, no entanto, ter outras causas. A amnésia é o
sintoma predominante nessa síndrome, sendo caracteristicamente do
tipo anterógrado.

2. Amnésia traumática –  Mesmo que não percam a consciência,


pessoas que sofrem um trauma de crânio de certa intensidade, muito
frequentemente, esquecem-se dos fatos que ocorreram minutos antes
do trauma (amnésia retrógrada) e também, dos fatos que ocorreram
após o trauma (amnésia anterógrada). Existe certa relação de
proporcionalidade entre a intensidade do trauma e o tempo de
amnésia.

3. Amnésia global – Esse tipo de amnésia está correlacionado com


grave e difuso comprometimento cerebral. De forma definitiva,
instala-se a amnésia tanto anterógrada quanto retrógrada, ou seja, o
indivíduo perde a capacidade de reter novas informações e de evocar
seu estoque antigo de informações. Tal situação ocorre em demências,
traumas muito graves e intoxicações por monóxido de carbono.

4. Amnésia global transitória – Nessa situação, a amnésia dura


algumas horas, não ultrapassando um dia, e a recuperação é completa.
O indivíduo tem comportamento normal, mas não retém nenhuma
informação durante o episódio, ou seja, apresenta amnésia anterógrada
completa e essa lacuna na memória da pessoa permanece depois da
recuperação. A causa desse distúrbio não está, ainda, totalmente
esclarecida, mas parece estar ligada a uma isquemia transitória que
afeta as partes internas do lobo temporal. Essa patologia tem curso
benigno, sendo excepcional um segundo episódio.

5) Amnésia pós-operatória – Há cerca de 50 anos, um neurocirurgião


americano, para poder tratar um paciente com crises convulsivas que
não respondia ao tratamento com remédios, fez uma cirurgia para
retirar, de ambos os lados, certas partes do lobo temporal (hipocampo
e porção medial). Esse paciente obteve controle das crises, mas ficou
com amnésia anterógrada muito intensa. Por isso, até hoje, existe a
dúvida de que o benefício obtido tenha compensado, se considerarmos
o déficit adquirido. Quanto à lembrança de fatos e conhecimentos
anteriores à cirurgia, esse paciente não sofreu alteração.

 
ESQUECIMENTO

Ao contrário da amnésia em que há perda de uma capacidade, o


esquecimento é uma falha na retenção ou na evocação dos dados da
memória.

Trata-se de fenômeno muito comum que, em maior ou menor grau,


ocorre com qualquer pessoa.

No entanto, é cada vez maior o número de pessoas que se sente


incomodado com o problema e que busca solução.

A principal questão, no que se refere ao esquecimento, é determinar


sua causa. Alguns postulam que ocorre uma debilitação dos traços de
memória com o passar dos anos. Outros, no entanto, acreditam que
novos conhecimentos podem interferir e prejudicar a memória.

O desuso provocaria um enfraquecimento dos circuitos da memória,


conforme o modelo conexionista, tornando cada vez mais difícil o
acesso a essas informações. Isso pode explicar parte do problema, mas
não todo ele. É fato que, com o passar da idade, as pessoas têm mais
dificuldade para lembrar fatos passados, mas essa dificuldade é mais
intensa em relação aos fatos recentes, enquanto fatos remotos
marcantes, ainda que não utilizados com frequência, podem ser
lembrados facilmente, inclusive em detalhes.

Considerando-se o processo de interferência, sabe-se que um novo


aprendizado pode interferir com um antigo que lhe guarde alguma
semelhança ou que lhe possa ser associado. Assim, a cada nova
informação haveria modificação naquelas já sedimentadas. O acúmulo
de informações, ao longo do tempo, faria com que pessoas de mais
idade tivessem maior dificuldade em relação à evocação da memória.

Nenhuma dessas causas explica totalmente a ocorrência do


esquecimento, mas não podem ser descartadas como componentes do
problema.Há, no entanto, outro aspecto importante a ser considerado.

Não é possível evocar uma informação, se ela não foi devidamente


arquivada. Para que o ser humano possa reter na memória 
determinada informação, é necessário que sua atenção esteja voltada
para isso. Sem atenção, não há qualquer possibilidade de guardar-se
um fato e, sem guardá-lo, não há como recuperá-lo depois.

O combate ao esquecimento deve levar em conta a atenção e o poder


de concentração, bem como os fatores que o facilitam ou o dificultam.
Também se deve atentar para os fenômenos do desuso e da
interferência de novos aprendizados.

 
Memória
Memory
Carlos Alberto Mourão JúniorNicole Costa Faria SOBRE OS AUTORES

  Resumo
  Abstract
  Text
o Memória: Conceituação e Processos Envolvidos
o Classificação das Memórias
o Memória Sensorial
o Memória de Trabalho
o Memória de Longa Duração
  Referências
  Datas de Publicação
  Histórico

Resumo
Este artigo tem como objetivo central apresentar os processos de memória de maneira
didática, proporcionando aos alunos e futuros pesquisadores um primeiro contato
satisfatório com o tema. Já há algum tempo, tem sido observada a ocorrência de
confusões conceituais e metodológicas no campo da neurociência cognitiva, tanto em
relação à memória quanto em relação às outras funções psicológicas básicas. Neste
ensaio, alguns conceitos principais são esclarecidos. É apresentada uma classificação
fenomenológica da memória, a qual inclui a memória sensorial, a memória de trabalho e as
memórias de curta duração e de longa duração. Também são explicados os processos de
consolidação e evocação das memórias, evidenciando os mecanismos biológicos
envolvidos nestes processos.

Memória; cognição; neurociências

Abstract
This paper aims to present the memory processes in a didactic manner, providing students
and future researchers with a first contact with this subject. For a long time, we have
observed the occurrence of conceptual and methodological confusion in the field of
cognitive neuroscience, regarding memory and other basic psychological functions. In this
essay, some key concepts are clarified. A phenomenological classification of memory is
presented, which includes sensory memory, working memory and long term memories.
Memory consolidation and retrieval processes are also explained, appraising the biological
background involved in these processes.

Memory; cognition; neurosciences

O presente artigo tem como objetivo central apresentar os processos de memória de


maneira didática, proporcionando aos alunos e futuros pesquisadores um primeiro contato
satisfatório com o tema. O texto é destinado, sobretudo, a iniciantes no assunto, mas
esperamos que também seja útil aos já iniciados. Apesar de não se tratar de um texto
técnico e especializado, não deixaremos de lado o rigor metodológico e conceitual.

Percebemos certa carência de textos curtos de revisão sobre o tema, que permitam aos
interessados em estudar a memória uma visão panorâmica sobre o assunto. Já há algum
tempo, temos observado a ocorrência de confusões conceituais e metodológicas no
campo da neurociência cognitiva, tanto em relação à memória quanto em relação às
outras funções psicológicas básicas. Tentaremos, neste ensaio, sistematizar e esclarecer
alguns conceitos. Não serão colocadas citações ao longo do texto a fim de facilitar a
fluidez da leitura, exceto se apresentarmos dados de outros estudos.

Por fim, é importante deixar claro que a separação das funções psicológicas se dá apenas
no nível teórico para atender a fins didáticos. No entanto, essa separação é artificial, pois
as funções psicológicas não atuam separadamente umas das outras. No processo de
memorização, por exemplo, há outras funções psicológicas envolvidas, como a motivação,
a atenção, a percepção e o aprendizado. Da mesma maneira, para a evocação das
memórias, são necessárias outras funções psicológicas como a função executiva e a
linguagem.

Memória: Conceituação e Processos Envolvidos


"A memória recolhe os incontáveis fenômenos de nossa existência em um todo unitário;
não fosse a força unificadora da memória, nossa consciência se estilhaçaria em tantos
fragmentos quantos os segundos já vividos" Ewald Hering (1920).

Grosso modo, chamamos de memória a capacidade que os seres vivos têm de adquirir,
armazenar e evocar informações. Apesar dessa definição aparentemente simplista,
veremos, no decorrer do texto, que ao falar de memória, definitivamente não estamos
falando de algo simples.

A memória é um dos mais importantes processos psicológicos, pois além de ser


responsável pela nossa identidade pessoal e por guiar em maior ou menor grau nosso dia
a dia, está relacionada a outras funções corticais igualmente importantes, tais como a
função executiva e o aprendizado. Ainda que sem perceber, estamos fazendo uso desse
importante recurso cognitivo a todo momento. Se entramos no carro para ir para a
faculdade, temos necessariamente que nos lembrar para onde estamos indo. Lembrar
envolve diretamente a memória. Não fosse assim, estaríamos impossibilitados de chegar
ao nosso destino. Não fosse a memória, sequer saberíamos que cursamos uma faculdade,
não saberíamos nem mesmo nosso nome, e tampouco o nome de nossos pais, amigos
etc. Em outras situações da vida, somos capazes de identificar comportamentos
automáticos que estão, também, intrinsecamente relacionados à memória. Voltando ao
exemplo do carro, muitas pessoas (aquelas com um tempo considerável de prática) não
estão atentas aos seus movimentos enquanto estão ao volante e dirigem perfeitamente.
Acontece ainda de a pessoa fazer o mesmo trajeto para o trabalho há tanto tempo, que,
não raro, chega ao seu destino sem se lembrar do percurso que tomou. Isso se dá porque
realizamos tão repetidamente certas atividades que é como se nosso corpo memorizasse
os movimentos e pudesse realizá-los automaticamente, sem que nós tenhamos que estar
conscientes dos mesmos.

Com relação à maneira pela qual as memórias são armazenadas, pouco se sabe a esse
respeito. Apesar dos inúmeros avanços feitos pela neurociência nos últimos anos, ainda é
um mistério entender como potenciais elétricos e fenômenos bioquímicos estão ligados às
representações mentais que fazemos, mesmo que alguns neurocientistas se atrevam a dar
saltos conceituais, encerrando premissas que a ciência é incapaz de fundamentar. O que
se sabe, atualmente, é que as informações que chegam ao nosso cérebro formam um
circuito neural, ou seja, a informação recebida ativa uma rede de neurônios, que, caso seja
reforçada, resultará na retenção dessa informação (por informação, entendemos qualquer
evento passível de ser processado pelo sistema nervoso: um fato, um objeto, uma
experiência pessoal, um sentimento ou uma emoção). Por isso considera-se que a
repetição seja uma estratégia necessária para a memória. Não nos esquecemos, por
exemplo, o número do telefone de nossa casa porque, ao longo de nossa vida, repetimos
essa informação inúmeras vezes. Esse processo interfere na memorização do número
exatamente porque toda vez que repetimos os estímulos, ativamos o mesmo circuito
neural. A ativação contínua reforça esse circuito e torna mais fácil a posterior evocação da
informação armazenada.

Sobre o processo de armazenamento, podemos dividi-lo em três subprocessos, quais


sejam: aquisição, consolidação e evocação. A aquisição diz respeito ao momento em que
a informação chega até nosso sistema nervoso e se dá por meio das estruturas sensoriais,
as quais transportam a informação recebida até o cérebro. O estímulo atinge os órgãos
receptores, o qual, através dos nervos sensitivos, chega ao sistema nervoso central
(Kandel, 2006).

Posteriormente, temos o processo de consolidação, que diz respeito ao momento de


armazenar a informação. Esse armazenamento - que representa a memória - pode se dar
de duas maneiras distintas: (a) através de alterações bioquímicas ou (b) através de
fenômenos eletrofisiológicos. Nos fenômenos eletrofisiológicos, ao tentarmos memorizar
uma situação nova, determinados conjuntos de neurônios continuam disparando durante
alguns segundos, retendo temporariamente a informação somente durante o tempo em
que a mesma é necessária, extinguindo-a logo em seguida. Esse tipo de fenômeno tem
duração extremamente efêmera e não forma traços bioquímicos. É isso o que ocorre na
memória sensorial e na memória de trabalho (ou memória operacional) que discutiremos
mais adiante (Squire & Kandel, 2003).

Por outro lado, os fenômenos bioquímicos (também chamados de traços de memória)


incluem dois tipos de alterações: as estruturais (morfológicas) e as funcionais, que
ocorrem, ambas, na circuitaria neural. As alterações estruturais compreendem a formação
de novas espinhas dendríticas (as quais permitem que um determinado neurônio receba
mais aferências de outros neurônios) ou então a formação de novos prolongamentos
axonais (os quais permitem que um dado neurônio transmita mais sinais para os neurônios
com os quais ele se conecta). Podem ocorrer ainda alterações morfológicas que criam
novos circuitos que anteriormente não existiam. Finalmente, no caso das alterações
funcionais, são formados novos canais iônicos ou novas proteínas sinalizadoras, que
otimizam a transmissão sináptica (Purves et al., 2010).

É interessante observar que, tanto as alterações morfológicas quanto as funcionais, têm


como substrato biológico o mesmo fenômeno: a síntese proteica. Assim, a informação
(quando repetida várias vezes), de alguma maneira ainda desconhecida, produz fatores
que atuam no DNA do neurônio, fazendo com que este comande a síntese de novas
proteínas, que podem ser, por exemplo, canais iônicos (produzindo alterações funcionais),
ou espinhas dendríticas e prolongamentos axonais (produzindo alterações morfológicas)
(Luria, 1981).

Fica claro, portanto, que quando dizemos que o cérebro armazena informações, não
podemos imaginar que a informação fique guardada dentro de "gavetas cerebrais", ou
seja, armazenar uma informação não significa colocá-la dentro de certos neurônios como
se estes fossem uma espécie de armário. O armazenamento é possível graças
à neuroplasticidade, que pode ser definida como a capacidade que o cérebro tem de se
transformar diante de pressões (estímulos) do ambiente. Disso, podemos concluir também
que as informações ficam armazenadas em regiões difusas do cérebro, envolvendo redes
complexas de neurônios, as quais modificam-se para armazenar informações (Kandel,
Schwartz, Jessell, Siegelbaum, & Hudspeth, 2013).

Mas, como aquilo que lemos, ouvimos, vemos ou pensamos é capaz de transformar nosso
cérebro? Como potenciais elétricos são capazes de gerar as imagens que vêm à tona em
nossa consciência quando nos lembramos da nossa casa, por exemplo? Ou será que essa
relação de causa e efeito entre fenômenos físico-químicos e representações mentais nem
mesmo pode ser estabelecida? Infelizmente, para essas questões a neurociência ainda
não tem respostas definitivas.
Por fim, após o processo de retenção, estaremos aptos a iniciar, caso assim o desejemos,
o processo de evocação das memórias, o qual diz respeito ao retorno espontâneo ou
voluntário das informações armazenadas. A evocação (ou recuperação) envolve a
organização dos traços de memória em uma sequência coerente no tempo (fenômeno
chamado de integração temporal) e ocorre principalmente no córtex pré-frontal, através de
um processo denominado memória de trabalho, o qual será detalhado mais adiante.
Alguns autores apontam que existem dois tipos de recuperação frequentemente
distinguidos: o reconhecimento e a recordação (Mourão & Melo, 2011b).

A diferença é bem simples: no reconhecimento, estamos diante de um estímulo


previamente conhecido e armazenado, o que implica em certo sentimento de familiaridade.
É o que acontece quando nos encontramos com pessoas que conhecemos, por exemplo.
O contato com um estímulo anteriormente armazenado traz a sensação de
reconhecimento. Por outro lado, na recordação, não há nada de familiar
momentaneamente presente em nossa percepção consciente. Nesse caso, não estamos
diante do estímulo previamente conhecido (o qual será recuperado). É como se
recuperássemos voluntariamente uma informação armazenada. É isso que acontece
quando precisamos nos lembrar de uma fórmula de física durante a prova: temos que
"puxá-la" da memória. Mais uma vez, é importante destacar que normalmente esses
processos estão relacionados. Quando estamos diante de uma pessoa conhecida, por
exemplo, nós a reconhecemos e, logo em seguida, começamos a recordar
espontaneamente uma série de informações referentes a ela, como seu nome, o local
onde a conhecemos, as conversas que tivemos, se é ou não uma pessoa interessante etc.

Por muito tempo, acreditou-se que evocar uma informação era reativar o mesmo circuito
neural que foi ativado quando estivemos em contato com esse estímulo pela primeira vez.
Assim, quanto mais parecido fosse o ambiente externo no momento do armazenamento e
no momento da evocação, mais eficiente seria o nosso processo de evocação, pois mais
parecidos seriam os padrões neurais ativados. No entanto, estudos recentes ( Izquierdo &
Medina, 1997) demonstraram que tanto os mecanismos cerebrais quanto a bioquímica
envolvidos no processo de evocação são diferentes daqueles envolvidos no processo de
armazenamento.

Deve-se atentar para o fato de que os subprocessos descritos acima não acontecem de
maneira linear no tempo, essa divisão é feita apenas para atender a fins didáticos. Na
realidade, o mais das vezes, esses processos acontecem de maneira simultânea. Por
exemplo, enquanto o processo de armazenamento da informação está em curso
(evidentemente esse processo leva algum tempo), podemos dar início ao processo de
evocação dessa mesma informação, sem que para isso tenhamos que "pausar"
momentaneamente o processo de consolidação da informação. Ou então, quando
estamos tentando memorizar um novo conjunto específico de informações, ao mesmo
tempo, o cérebro está recebendo outras tantas informações relacionadas à primeira (logo
os processos de aquisição e consolidação estão em curso concomitantemente). Para
exemplificar, imagine que estejamos estudando sobre o átomo. Enquanto tentamos
construir e armazenar uma possível definição para a palavra átomo, estaremos lendo
(adquirindo) outras inúmeras informações que complementarão tudo aquilo que iremos
armazenar sobre esse assunto, bem como estaremos evocando quaisquer informações
prévias que estejam armazenadas em nosso cérebro e que sejam relacionadas ao tema.

Além disso, é importante ressaltar que, na prática, os processos de armazenamento e


evocação estão intimamente relacionados e são interdependentes, pois o modo de
organizar a informação quando a mesma é armazenada influenciará fortemente na
facilidade ou dificuldade de recuperar essa informação posteriormente. Nota-se, portanto,
que a divisão do fenômeno mnemônico em subprocessos se dá apenas a nível teórico, de
tal maneira que, na realidade, eles acontecem de maneira interdependente e não linear.

Classificação das Memórias


Conhecendo melhor as peculiaridades e detalhes relativos ao processo de memorização,
os pesquisadores da área classificam a memória em diferentes tipos. A literatura fala de
memória de curto prazo e de memória de longo prazo desde o século XIX, no entanto,
algumas classificações mais recentes levam em consideração outras características além
do tempo de retenção da informação.

Lent (2010), por exemplo, propõe que podemos diferenciar as memórias a partir de duas
características centrais: tempo de armazenamento (ultrarrápida, curto prazo e longo prazo)
e natureza da memória (explícita, implícita e de trabalho).

Mourão e Abramov (2011), por outro lado, propõem uma divisão de caráter funcional,
segundo a qual existem dois tipos de memória: a memória de arquivo e a memória de
trabalho. Nesse caso, os autores apontam que a divisão se faz apenas para atender a fins
didáticos, embora tal classificação não se dê apenas no nível teórico, uma vez que os
diferentes tipos de memória são, de fato, operados por regiões cerebrais e por
mecanismos diferentes. Além disso, pode acontecer de as memórias apresentarem até
mesmo uma natureza diferenciada, como no caso, por exemplo, das memórias sensorial,
memória de trabalho e memória de longo prazo.

Em virtude da extrema dificuldade em classificar as memórias, no presente artigo


apresentaremos uma visão fenomenológica das memórias, ou seja, nos limitaremos a
descrever como cada modalidade de memória se apresenta à nossa consciência, sem nos
preocuparmos com classificações, as quais, como já dissemos, acabam por ser mais
artificiais do que elucidativas.

De fato, a confusão conceitual tem sido a regra, e não a exceção, quando se escreve
sobre memória. Por exemplo, dois especialistas em memória, ambos com renome
internacional, conceituam de maneira totalmente diversa o termo "memória de curta
duração". Para Izquierdo (2011), as memórias de curta duração são fenômenos de
natureza bioquímica, que envolvem plasticidade sináptica e que se relacionam com a
consolidação de memórias de longo prazo. Já para Baddeley (2007) as memórias de curta
duração são fenômenos de natureza elétrica (que não formam traços bioquímicos) e que
se resumem ao armazenamento de pequenas quantidades de informação por um breve
período de tempo. Paralelamente, Chan, Shum, Toulopoulou e Chen (2008) citam diversas
classificações diferentes dos "sistemas de memória", desde Luria até os dias atuais. Nesse
artigo pode-se observar que há muito mais dissensão do que consenso.

Como o principal objetivo deste nosso artigo é justamente tentar sanear as confusões
conceituais, passaremos ao largo de classificações ambíguas. Ao contrário, nos
concentraremos nos fenômenos mais facilmente observáveis quando se analisa o ato de
armazenar e evocar informações. Passemos, então à descrição dos tipos de memória, de
acordo às características que podemos perceber em cada um desses tipos.

Memória Sensorial
A memória sensorial é aquela que nos permite reter as informações que chegam até nós
através dos sentidos, podendo ser estímulos visuais, auditivos, gustativos, olfativos, táteis
ou proprioceptivos. Caracteriza-se por ter curtíssima duração, caso o estímulo não seja
recuperado. Outro detalhe importante é que a memória sensorial apresenta capacidade
relativamente grande, se comparada à memória de trabalho (que será discutida no
próximo tópico). Isso quer dizer que, na memória sensorial, registramos mais estímulos do
que podemos recuperar, pois, no caso da evocação da informação, entra em ação da
memória de trabalho, que, como citado, tem capacidade reduzida em relação à memória
sensorial. De fato, a memória de trabalho é capaz de armazenar somente cerca de 5 a 9 (7
mais ou menos 2) itens, conforme discutiremos no próximo tópico. Apesar da capacidade
relativamente maior de reter informações, nem tudo o que fica gravado na memória
sensorial se torna consciente pra nós, apresentando, portanto, caráter pré-consciente
(Mourão & Melo, 2011a).

Além dos atributos citados acima, a memória sensorial se caracteriza biologicamente por
ser um fenômeno de natureza elétrica. Isso quer dizer que essas informações não
produzem alterações morfológicas e nem funcionais nos neurônios envolvidos neste
processo. A informação está disponível apenas enquanto os neurônios disparam
potenciais elétricos. Com o fim desses disparos, perde-se a informação. Por exemplo,
quando vemos um objeto, a imagem fica gravada por frações de segundos por meio de
disparos elétricos em neurônios na região do córtex visual (área visual primária), antes
mesmo que tomemos consciência da imagem. Da mesma maneira, quando ouvimos um
som, este produz o disparo de neurônios do córtex auditivo primário (no lobo temporal),
reverberando ali por segundos, independentemente de ser ou não evocado posteriormente
(Kim, 2011).

A memória sensorial visual é conhecida como memória icônica, e seu registro elétrico fica
retido até cerca de apenas meio segundo (500 milissegundos). Já a memória sensorial
auditiva é conhecida como memória ecoica e seu registro dura até 20 segundos (bem mais
que a memória icônica). Assim, todas as modalidades de memórias sensoriais são
perdidas em menos de meio minuto, sendo, por isso, consideradas memórias de natureza
ultrarrápida (Squire et al., 2013).

Como veremos mais adiante, a memória de trabalho também se caracteriza por ser um
fenômeno de natureza elétrica. Essa característica nos leva a concluir que a memória
sensorial e a memória de trabalho apresentam uma natureza diferente das memórias de
longa duração, as quais produzem alterações físicas nos neurônios, modificando a
morfologia da circuitaria neural e força de conexão entre as sinapses. Podemos, portanto,
assinalar cinco características essenciais da memória sensorial: (a) sua matéria-prima são
as informações que chegam até nós pelos sentidos; (b) é ultrarrápida, ou seja, apresenta
curtíssima duração (da ordem de poucos segundos), apesar da variação de tempo entre
diferentes tipos de estímulos (a memória visual, por exemplo, é mais curta que a memória
auditiva); (c) apresenta maior capacidade de armazenamento que a memória de trabalho,
apesar de durar bem menos tempo que esta; (d) apresenta caráter pré-consciente, ou
seja, ocorre antes que tomemos consciência da informação que os sentidos nos trazem;
(e) tal qual a memória de trabalho, trata-se tão somente de um fenômeno elétrico nos
neurônios, não produzindo alterações morfológicas ou funcionais nas sinapses (como
ocorre com as memórias de longa duração) (Bear, Connors, & Paradiso, 2008).

Memória de Trabalho
Existe um tipo de memória que, contrariando um pouco o senso comum, não serve
somente para armazenar informações. Ela serve, sobretudo, para contextualizar o
indivíduo e para gerenciar as informações que estão transitando pelo cérebro. É o que
chamamos de memória de trabalho. O termo memória de trabalho passou a ser utilizado
há pouco tempo, aparecendo na literatura somente na década de 1960, o que indica que
seu estudo é também recente. Talvez por isso não haja convergência entre os
pesquisadores da área a respeito da definição desse termo. No entanto, há alguns pontos
consensuais a respeito das características da memória de trabalho, a saber: sua duração
ultrarrápida (de apenas poucos segundos) e sua capacidade limitada (retém apenas 5 a 9
itens) (Goldberg, 2009).

A duração da memória de trabalho é ultrarrápida porque ela nos permite armazenar uma
informação apenas enquanto estamos fazendo uso dessa mesma informação, ou seja,
apenas enquanto certo trabalho está sendo realizado ou enquanto precisamos elaborar
determinado comportamento. Quando queremos encomendar uma pizza, por exemplo,
olhamos o número no imã da geladeira e conseguimos guardá-lo tempo suficiente para
que possamos chegar ao telefone e discar o número. Quando a informação
temporariamente armazenada deixa de ser útil, ela é descartada e, normalmente,
esquecida. Portanto, é provável que esqueçamos o número de telefone da pizzaria alguns
minutos após termos discado. A memória de trabalho também entra em ação quando
estamos conversando com alguém e, para que possamos encadear as ideias para que a
conversa tenha sentido, temos que nos lembrar (temporariamente) da última e da
penúltima palavra que foram ditas para que a frase e, posteriormente, a conversa façam
sentido. Ao fim do diálogo, normalmente nos esquecemos da maioria das palavras e nos
lembramos somente de seu conteúdo. É claro que pode acontecer de não nos
esquecermos da informação. Isso dependerá da nossa motivação em armazenar aquela
informação. Portanto, caso seja de nosso interesse, podemos transformá-la em memória
duradoura.

Um modelo conhecido da memória de trabalho é o modelo multicomponente de Baddeley


e Hitch (1974). Segundo esses autores, a memória de trabalho pode ser dividida em 4
componentes principais: (a) executivo central (que representa o sistema atencional do
cérebro); (b) esboço visuoespacial (que gerencia e armazena temporariamente
informações a partir de imagens, como se estivéssemos vendo algo mentalmente); (c) alça
fonológica (que gerencia e armazena temporariamente informações a partir de sons, como
se estivéssemos repetindo sons mentalmente); (d) retentor episódico (que gerencia
informações já arquivadas em nosso cérebro, comparando-as com as novas informações
que chegam através dos sentidos). Portanto, a memória de trabalho é bem mais do que
um sistema de memórias, ela é fundamental na evocação das memórias e no
processamento lógico de informações.

De fato, a memória de trabalho, conserva uma informação na consciência enquanto tal


informação está sendo processada e, após tal processamento, a memória se estingue sem
necessariamente formar traços (ou seja, sem necessariamente se transformar em arquivo
duradouro). Mas sua função vai muito além disso. A outra função fundamental da memória
de trabalho é comparar as novas informações que estamos recebendo com informações
antigas, já consolidadas e armazenadas em nossa memória de longo prazo. Por isso
dizemos que a memória de trabalho trabalha com memórias, ou seja, ela é um sistema de
processamento que confronta as informações que estão chegando ao cérebro pelas vias
sensoriais com as informações que já estão arquivadas nos sistemas cerebrais que
compõem a memória de longa duração (Andrade, Santos, & Bueno, 2004).

Apesar de estar intimamente relacionada às memórias de longa duração, a memória de


trabalho não deve ser confundida com arquivos de memória (Mourão & Melo, 2011b). Um
bom exemplo da relação e da diferença entre a memória de trabalho e os outros sistemas
de memória de longa duração é o seguinte: imagine que tenhamos um depósito grande,
capaz de estocar um número relativamente grande de caixas (que seria a nossa memória
de longa duração). Apesar da capacidade de armazenamento do seu estoque, para retirar
as caixas de lá, precisamos, por exemplo, de um carrinho, que, obviamente, é bem menor
que o nosso depósito, o que nos impede de retirar do estoque toda a mercadoria de uma
só vez (nesse caso, o carrinho representa nossa memória de trabalho). Conclusão: nosso
estoque é capaz de armazenar muitas caixas, mas só somos capazes de transportar
poucas delas simultaneamente. Transpondo esse raciocínio para nossa memória, temos a
seguinte situação: os sistemas de memória de longa duração são capazes de armazenar
muitas informações, no entanto, a memória de trabalho, que entra em ação na evocação
dessas informações, nos permite recuperar apenas algumas delas ao mesmo tempo (Bear
et al., 2008).

Portanto, a memória de trabalho gerencia as informações contidas em nossa memória de


longo prazo, trazendo à consciência as informações de maneira sequencial e ordenada,
criando um fluxo de pensamento coeso e coerente, permitindo que, assim, possamos
produzir nossas ideias em consonância com o que a realidade nos apresenta (Goldberg,
2009).
Convém ressaltar que não temos a menor ideia de como se dá, do ponto de vista
neurobiológico, esse processo de evocação de memória. Em outras palavras, estamos
muito longe de compreender: (a) como a memória de trabalho "sabe" exatamente qual
informação deverá buscar por vez nos arquivos de memória de longo prazo; (b) como ela
localiza tal informação; (c) como ela coloca as informações evocadas na ordem correta a
fim de formarem um todo coeso; (d) como essa sequência de informações evocadas é
trazida à luz da consciência (Bennett & Hacker, 2013).

O pouco que sabemos é que esses processos de integração de informação se localizam


preferencialmente no córtex pré-frontal, e que a dopamina é um neurotransmissor muito
importante para a ocorrência de tais processos. Nada mais sabemos a respeito do mistério
da evocação das memórias (Fuster, 2003).

Algumas doenças que afetam diretamente a memória de trabalho servem para ilustrar sua
função. Dentre elas, podemos citar a esquizofrenia (bem como outras várias psicoses).
Nessa doença o paciente não consegue manter um fluxo coerente de ideias - ele pensa
diversas coisas ao mesmo tempo e as ideias que vêm à sua consciência não se juntam de
maneira organizada. Assim, ele perde o contato com a realidade, ficando invadidos por
ideias delirantes, caóticas e sem qualquer sentido (Fuentes, Malloy-Diniz, Camargo, &
Cosenza, 2008).

Memória de Longa Duração


Como o próprio nome indica, a memória de longa duração (MLD) é aquela que armazena
informações por longos períodos de tempo, meses, anos ou até mesmo décadas. Por isso,
a MLD é também conhecida como memória remota. Uma característica importante da MLD
é sua capacidade de guardar informações por tempo indeterminado, bastando, para tanto,
que a memória continue a ser reforçada com o passar dos anos. Os limites de sua
capacidade de armazenamento são ainda desconhecidos, mas sabe-se que sua
capacidade é muito grande (Bear et al., 2008).

A memória de longa duração pode ser didaticamente dividida em duas categorias


principais: (a) memória declarativa(também conhecida como memória explícita), que
corresponde às memórias que estão prontamente acessíveis à nossa consciência e que
podem ser evocadas através de palavras; (b) memória não declarativa (também conhecida
como memória implícita), que correspondem às memórias que estão em nível
subconsciente, não podendo ser evocadas por palavras, mas sim por ações (Lent, 2010).
Falaremos primeiro da memória declarativa e, ao final deste tópico, faremos comentários
sobre a memória não declarativa.

É na memória declarativa que estão "guardados" os episódios de nossa infância, as


imagens de uma viagem que fizemos há muito tempo e os conhecimentos adquiridos na
escola. Sobre o conteúdo da memória declarativa, podemos subdividi-la em duas
categorias: (a) memória episódica, que diz respeito a experiências passadas, a "episódios"
de nossas vidas (uma viagem, um momento muito triste, o primeiro beijo etc.). A memória
episódica guarda informações relacionadas a um determinado momento no tempo, sendo,
portanto, responsável pela nossa autobiografia; (b) memória semântica, que diz respeito a
conhecimentos não relacionados a tempo e espaço específicos. Trata-se de uma memória
que não guarda momentos, mas sim fatos (e.g. o significado das palavras, os
conhecimentos de biologia, as regras gramaticais de um idioma, símbolos etc.). Essa
subdivisão da memória declarativa se justifica, pois parece que as memórias episódica e
semântica se relacionam a diferentes áreas cerebrais, podendo ser afetadas de maneira
distinta em diversas doenças que acometem o cérebro. Portanto, é possível que um
paciente tenha déficits acentuados de sua memória episódica, a despeito de manter sua
memória semântica praticamente intacta (Hill, 2010).
Como já vimos, para que seja possível guardar tantas informações por tanto tempo, o
cérebro se modifica de algumas maneiras para dar conta do recado. As alterações
possíveis já foram descritas anteriormente, quais sejam: alterações estruturais
(morfológicas) e alterações sinápticas (funcionais) (Hebb, 1949).

No caso das alterações funcionais (fortalecimento das conexões sinápticas), parece que
quanto mais simples é a memória a ser consolidada, menor é o número de sinapses que
precisa ser modificada. Por outro lado, quanto mais complexa é a memória, maior o
número de sinapses a ser modificada. Chamamos de "memórias simples" o fato de
sabermos que não devemos colocar o dedo na tomada, por exemplo. Nesse caso, alguns
milhões de sinapses modificadas em poucas regiões do cérebro são suficientes. No caso
das "memórias complexas" (todo o conhecimento que aprendemos na escola, por
exemplo), são necessários bilhões de novas sinapses em muitas áreas cerebrais. Isso
quer dizer que quanto mais complexa for uma memória, mais difusa ela se encontrará no
cérebro. E, por outro lado, quanto mais simples, mais localizada ela estará. No entanto, a
consolidação das informações apresenta ainda outras peculiaridades ( Gazzaniga, Ivry, &
Mangun, 2006).

A primeira delas é a labilidade da informação nas horas iniciais do processo de


armazenamento. A formação de uma memória de longa duração leva, em média, entre
três e oito horas. Enquanto esse processo não chega ao fim, a informação a ser
consolidada pode sofrer alterações, apresentando-se suscetível, por exemplo, à ação de
drogas, à interferência de outras memórias e ao aumento/declínio excessivo de
neurotransmissores, tais como dopamina, noradrenalina e acetilcolina. Verificou-se
experimentalmente que todos esses fatores, de alguma maneira ainda pouco conhecida,
interferem nos mecanismos cerebrais envolvidos no processo de consolidação. É por esse
motivo que muitas pessoas, após terem sofrido um susto muito grande (um acidente de
carro muito violento, por exemplo) relatam não se lembrar de nada imediatamente antes
da descarga de adrenalina promovida pelo susto (é o que chamamos de amnésia
retrógrada) (James, 1890).

Até certo ponto, o aumento do nível de neurotransmissores associados ao estado de alerta


otimiza a qualidade da consolidação. Isto é, se uma determinada situação tem "colorido
emocional" para o sujeito, ou se ele está atento, é provável que ele se lembre de muitos
detalhes sobre tal situação, mais detalhes do que ele normalmente lembra sobre as
situações cotidianas. Por outro lado, se os níveis de neurotransmissores apresentam-se
muito elevados, o armazenamento da informação é prejudicado, podendo ocorrer perda de
muitos detalhes ou perda total da informação (Mourão & Abramov, 2011).

Vale ressaltar que por mais carregado de emoção que seja um evento, nunca seremos
capazes de nos lembrar de todos os detalhes. Mesmo as "melhores" memórias não são
perfeitas, há sempre algum grau de perda durante o processo de consolidação. Assim,
outra peculiaridade das memórias de longa duração é seu caráter não estável. Além das
perdas que ocorrem logo durante o processo de consolidação, toda vez que evocamos
uma memória, modificamos mais ainda essa mesma memória. Portanto, com o passar do
tempo, ao relatar uma vivência de nossa infância, por exemplo, estamos cada vez mais
distantes de relatar o que realmente aconteceu. De fato, a evocação nada mais é do que
um processo de edição de fragmentos de memória, os quais são organizados pela
memória de trabalho e pelas funções executivas visando formar um todo mais ou menos
coerente. Por isso cada um lembra de um determinado fato à sua maneira. A evocação
está, portanto, longe de ser uma reprodução fiel das informações que foram arquivadas.
Trata-se, em verdade, mais de um processo criativo do que reprodutivo.

As perdas durante o processo de consolidação devem ser encaradas de maneira natural,


uma vez que o que os neurônios realmente fazem é traduzir a realidade por nós percebida
em potenciais elétricos ou em alterações bioquímicas. Em toda tradução há perdas, e
quem já leu a tradução de qualquer texto comparando-o ao original sabe disso. Além
dessa primeira tradução, nossas memórias são novamente traduzidas quando são
evocadas e, novamente, há perdas ou modificações, pois fatos novos podem ser
adicionados, incluindo falsas memórias (Mourão & Abramov, 2011).

A consolidação de memórias ocorre no hipocampo, que é uma região bem delimitada e


filogeneticamente antiga no lobo temporal. O hipocampo tem esse nome por ter a forma de
um cavalo-marinho. Sabemos da importância do hipocampo no processo de consolidação
porque pacientes com lesão bilateral dessa estrutura são totalmente incapazes de guardar
qualquer informação nova. Tornam-se escravos do passado, sendo capazes de lembrar de
tudo o que se passou antes da lesão ocorrer, mas não conseguem mais armazenar nada
de novo. Esse quadro se denomina amnésia anterógrada (Kandel, 2006).

Parece que a consolidação ocorre durante determinadas fases do sono, e é por isso que o
sono é fundamental para a consolidação de novas informações. Acredita-se que os
sonhos, com seu conteúdo muitas vezes desconexo, seja nada mais do que a evocação
de fragmentos de memória que estejam sendo descartados para que novas memórias se
consolidem. Entretanto, apesar dessa hipótese ser atraente, é importante ressaltar que o
sono e os sonhos ainda são um mistério absoluto na neurociência. Além do sono, outros
fatores como atenção, motivação, nível de estresse e estado emocional são fundamentais
para uma boa consolidação de memórias, como já foi dito (Luria, 1981).

Além da perda natural que ocorre com o decorrer do tempo, as induções por parte de
terceiros também podem nos levar a editar nossas lembranças. A psicóloga americana
Elizabeth Loftus (1975)demonstrou a força da indução na alteração de nossas memórias.
Essa força é tamanha que levou muitos indivíduos a criarem uma lembrança
completamente falsa sobre um determinado episódio de suas infâncias. Os sujeitos que
participaram da pesquisa da psicóloga jamais tinham passado pela situação em questão
(estar perdido no shopping) e, apesar disso, após terem sido induzidos por parentes, os
participantes relataram, com certo grau de detalhe, terem passado por essa situação.
Esses achados mostram o quanto pode ser perigoso confiar plenamente em provas
testemunhais, principalmente em processos judiciais, já que é possível fazer alguém
acreditar que viveu uma situação que, de fato, não viveu.

Um aspecto interessante da memória declarativa é que o conhecimento por ela


armazenado interfere fortemente em nossa maneira de perceber o mundo e em nossas
decisões. Passar por uma situação extremamente desagradável em determinado lugar nos
leva a perceber de maneira negativa este mesmo lugar. E, provavelmente, quando formos
escolher um local para ir, decidiremos visitar algum lugar diferente. Essa característica tem
um importante papel adaptativo, pois pode nos livrar de situações de perigo semelhantes a
alguma experiência anterior. Quando uma memória é adquirida em situação de estresse,
ansiedade ou medo, sua evocação será mais rápida e precisa em situações em que o
sujeito apresente-se novamente estressado, ansioso ou amedrontado. Dessa maneira,
diante de uma situação potencialmente perigosa, a qual desperta em nós certa ansiedade,
somos capazes de evocar com mais rapidez e eficiência um maior número de respostas
que já tenhamos emitido em situações semelhantes e que tenham se apresentado
adequadas.

Outro papel adaptativo da memória declarativa é o esquecimento e a extinção. A


importância de ambos os processos é óbvia e está relacionada à economia de sinapses e
à otimização na ocupação de áreas do córtex cerebral com informações. Tão importante
quanto conseguir memorizar é conseguir esquecer. O esquecimento acontece porque
somos bombardeados com incontáveis estímulos o tempo inteiro, muitos dos quais são
totalmente irrelevantes. Por isso, selecionamos as informações mais importantes para
serem arquivadas (Mourão & Abramov, 2011). Se pararmos para pensar, a atividade de
esquecer é mais proeminente que a atividade de armazenar. Quando assistimos a um
filme de duas horas, por exemplo, somos capazes de relatar tudo o que lembramos a seu
respeito em poucos minutos. Portanto, o esquecimento é um processo tão natural quanto a
memorização, sendo extremamente importante para nós.
Sujeitos que são incapazes de esquecer apresentam grandes dificuldades em outros
aspectos cognitivos, por exemplo, na capacidade de interpretação da leitura, no raciocínio
lógico-matemático, entre outros. É como se o cérebro estivesse tão ocupado gravando
cada vez mais informações, que não é capaz de realizar outras atividades cognitivas, tais
como processar as informações que está gravando sem parar. Alguns autores
diferenciam esquecimento de extinção. Segundo eles, uma memória esquecida não pode
mais ser evocada. Por outro lado, uma memória extinta é aquela que fica latente, no
entanto, diante de condições específicas, somos capazes de evocá-las ( Flavel, Miller, &
Miller, 1999).

Como as memórias remotas, uma vez consolidadas, se distribuem difusamente pelo córtex
cerebral, a perda de memórias declarativas - denominada demência - acontece quando
ocorrem lesões corticais extensas. Isso se dá na doença de Alzheimer, na qual ocorre uma
excessiva deposição de proteínas anômalas formando corpúsculos e emaranhados que
impedem o trânsito de substâncias químicas no corpo celular dos neurônios e nas
sinapses. Outras doenças que podem evoluir com quadro demencial são a doença de
Parkinson em fase avançada e a síndrome de Down, quando os pacientes atingem idades
mais avançadas (Bear et al., 2008).

Agora vamos falar sobre uma outra modalidade de memória de longa duração: a memória
não declarativa (MND). As MND operam em nível subconsciente e não se tratam de
processos intelectivos. No grupo das MND incluímos os condicionamentos, as memórias
motoras e o priming. Os condicionamentos nada mais são do que associações que
fazemos entre estímulos ou então entre determinados comportamentos com sua
consequência (recompensa ou punição). Como os condicionamentos se relacionam mais
aos processos de aprendizado, tendo menos relação com a memória em si (Izquierdo &
Medina, 1997), eles fogem ao escopo deste trabalho. Portanto, não discorreremos sobre
eles.

As memórias motoras são memórias relacionadas a procedimentos e habilidades motoras.


São difíceis de serem aprendidas, pois necessitam de muita repetição para se tornarem
consolidadas. Porém, uma vez consolidadas, se tornam automáticas, inconscientes e
extremamente resistentes ao esquecimento. São exemplos de memórias motoras o
aprender a andar de bicicleta ou o aprendizado do manejo de um instrumento musical.
Custamos a aprender; é necessário repetir muitas vezes; mas uma vez aprendido, não
mais conseguimos esquecer. E nem tampouco somos capazes de explicar (declarar) como
tocamos um violoncelo ou andamos de bicicleta. Só conseguimos "explicar" mostrando,
isto é, tocando o instrumento ou andando na bicicleta. As regiões cerebrais envolvidas no
aprendizado e no armazenamento de habilidades motoras são as regiões do encéfalo
relacionadas à motricidade, quais sejam, o cerebelo e os núcleos da base (conhecido
também como corpo estriado) (Fuster, 2003).

Um fenômeno muito interessante relacionado às memórias e que merece ser mencionado


é o priming (também conhecido como pré-ativação). O priming é, na realidade, um tipo de
memória induzido por pistas ou dicas. Às vezes estamos tentando lembrar de uma música
ou de um poema, e não conseguimos. Porém, se alguém cantarolar para nós as primeiras
oitavas da música ou recitar para nós o início dos primeiros versos do poema, quase
instantaneamente nos lembramos de todo o restante, como se fora uma reação em
cascata. De fato, parece que, muitas vezes, só nos lembramos de onde está um prédio
quando dobramos a esquina anterior à sua localização. Da mesma maneira, um animal só
consegue lembrar da saída do labirinto na medida em que vai percorrendo o mesmo -
cada etapa serve de pista para a etapa seguinte (Lashley, 1963).

Não sabemos quais regiões do cérebro estão envolvidas no priming, mas acredita-se que
ele seja um fenômeno difuso e que sua localização tenha a ver com a pista. Se a pista for
visual, o priming se associa a disparos de neurônios do córtex occipital (área visual
primária); se a pista for auditiva, disparam neurônios do lobo temporal (área auditiva
primária), e assim por diante. Entretanto, áreas neocorticais de associação, como o córtex
pré-frontal, estão certamente envolvidas nesse fenômeno, uma vez que o priming envolve
integração temporal de informações (Kandel et al., 2013).

Parece que o priming é mais importante do que imaginamos, pois ele faz com que
tenhamos a tendência de evocar informações sobre as quais já recebemos alguma pista
em algum momento de nossa vida (Kandel et al., 2013). Ocorre que tais pistas nos
chegam, muitas vezes, tão rapidamente que nem tomamos consciência delas, mas elas
serão decisivas para nossas decisões futuras. Um exemplo claro disso são as
propagandas subliminares, nas quais o cérebro é bombardeado com pistas (e.g. uma
determinada marca de refrigerante). Da próxima vez que formos comprar um refrigerante,
nossa "escolha" acabará recaindo sobre a marca que nos foi apresentada no passado.

Finalmente, devemos mencionar que estudar a memória é algo extremamente difícil em


virtude de dois problemas de ordem metodológica. Em primeiro lugar, não há como
estudar a memória de maneira "pura", pois os processos de memória estão totalmente
ligados a outros processos cognitivos, tais como função executiva, atenção, emoção,
motivação, linguagem, nível de estresse etc. Além disso, as inúmeras baterias de testes
psicométricos que se propõem a avaliar a memória apresentam um grande inconveniente
prático: em todas elas o examinador escolhe o que e quando o paciente deve guardar e
evocar uma dada informação. Acontece que, na vida real, não é isso o que ocorre, pois, na
realidade, é o sujeito quem decide o que, quando e como deve lembrar de algo, e isso não
é passível de ser medido por meios objetivos (Luria, 1981).

Referências
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Você sabe o que são memórias


afetivas?
por Jacarandá Casa de Brincaratualizado em 16 de novembro de 2020Deixe um comentárioem Você sabe
o que são memórias afetivas?
Você sabe o que são memórias afetivas?! A memória afetiva é aquela
lembrança que surge por meio de elementos sensoriais e emocionais. Assim,
ela aparece a partir de gatilhos específicos, como sons, cheiros, sabores e
cores que remetem a algum momento importante que aconteceu no passado.
Como, por exemplo, aquele “cheiro de vó”, muito característico ou aquele
“gostinho de infância” e aposto que ao ler esse texto já te deu uma sensação
gostosa no coração.

Como essas memórias são muito especiais para nós, são elas que queremos
criar nas nossas crianças, né? Para isso, ao longo dos dias devemos:

1. Estar presentes no momento. Não é difícil, viu? É só separarmos um tempo


para as nossas crianças e ficarmos longe de tudo que pode nos distrair e
focarmos naquele momento.

2. Contar sobre nossas melhores lembranças. As crianças amam ouvir de nós o


que temos de especial para contar! Sabe aquele dia na casa da sua avó que
vocês brincaram de mangueira no quintal e foi muito divertido? Conte! Isso
gera conexões, vínculos, cumplicidade.

3. Ouvir histórias, prestando atenção e instigando os fatos. “É mesmo?”


“UAU! Que incrível!” “Poxa vida, que engraçado!” Atenção e interesse são
extremamente afetivos e vinculantes

.4. Ouvir músicas, mesmo enquanto fazemos outras atividades. Dançar e


cantar as músicas com empolgação. “A felicidade contagia, vincula, marca e,
mais: mostra às crianças que a vida está aí para ser aproveitada e que não
demanda grandes investimentos para isso: não precisa ter o brinquedo “certo”
— nem um novo.”

5. Fazer, ao menos, uma refeição juntos. O processo de preparação para a


refeição nos deixa abertos ao afeto, vulneráveis para compartilhar.

6. Abraçar, beijar e amassar sempre com respeito. Mas não economizar na


demonstração de afeto.

7. Cozinhar juntos. Sempre dentro da possibilidade da idade de cada criança,


claro, mas compartilhar esse momento.

Esperamos ter contribuido para criarem lindas memórias afetivas.

Feliz dia das crianças! Aproveitem muito!


Com muito amor, equipe Jacarandá

Texto escrito por Tayná Carvalho @makesbytayna


 

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