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INDICE
Boas vindas ..................................................................................................................................................3
Glossário da ETM..........................................................................................................................................5
Os cegos e o elefante.................................................................................................................................14
Clarificação de Valores..............................................................................................................................32
Adjetivos....................................................................................................................................................33
Escala de Disposição..................................................................................................................................34
Balança Decisória.......................................................................................................................................37
Prós e Contras............................................................................................................................................38
Mapeamento de Agenda...........................................................................................................................39
Plano de Mudança.....................................................................................................................................40
Processos na EM.........................................................................................................................................44
Conversa em EM ........................................................................................................................................45
E-P-E............................................................................................................................................................46
A escutatória ..............................................................................................................................................52
TODOS OS DIREITOS RESERVADOS. Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio ou processo, especialmente
por sistemas gráficos, micro fílmicos, fotográficos, reprográficos, fonográficos, videográficos. Velada a memorização e/ou
recuperação total ou parcial, bem como a inclusão de qualquer parte desta obra em qualquer sistema de processamento
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direitos autorais é punível como crime (art.184 e parágrafos do Código Penal) com pena de prisão e multa, busca e
apreensão e indenizações diversas (arts. 101 a 110 da Lei 9.610, de 19.02.1998, lei dos Direitos Autorais).
Boas-vindas
Com muito prazer recebo os alunos do Curso de Entrevista Motivacional - Módulo Intermediário!
Dentro de um ambiente de interação, embasamento teórico consistente e prática, pretendo oferecer aos
discentes, um curso capaz de atualizar e sistematizar o conhecimento dos profissionais interessados em
aprofundar suas habilidades clinicas no estudo da Entrevista Motivacional.
Desse modo, dentro de um ambiente de coleguismo e respeito profissional mútuo, por meio de conversas
colaborativas e motivacionais, desejo boas-vindas à nova turma e espero que as expectativas se cumpram
de ambos os lados.
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Willian Miller
*Versão em Português- Brasil traduzido por Neliana Buzi com a cooperação de Marcela Brandina
Aqui estão, em minha opinião, algumas das mudanças mais importantes que
ocorreram em nossa compreensão sobre a Entrevista Motivacional, refletidas na terceira
edição (2013):
• Aprende-se cedo que pensar a EM como uma técnica é um erro. Carl Rogers
teve a mesma experiência. Se a considerarmos uma técnica, então se torna algo que
você faz COM as pessoas, talvez na tentativa de iludi-las a fazer o que você quer que
elas façam. Mentalidade e coração subjacentes - o espírito da EM é fundamental, e
agora descrevemos os seus quatro componentes: Colaboração, Aceitação, Compaixão
e Evocação. (Se você sabe Latim, Pace é um bom acrônimo para iniciais em inglês,
Cace em português).
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• Primeiramente descreveu-se a EM como "diretiva", mas esse termo é facilmente
mal interpretado e equiparado a um papel do especialista. No entanto, há sentido (um
foco) em EM e talvez "direcional" é a melhor maneira de dizê-lo.
• Outro aspecto é que agora pensamos de forma muito diferente sobre o processo
de “ensino" da EM. Começamos com um modelo workshop - venha a esta oficina e você
Notas de Miller:
Nota 1: A proposta de Stephen Rollnick (sobre a mudança além-comportamento) foi incorporada.
Nota 2: A pergunta de Marcos Lopes à Bill Miller sobre as mudanças da EM “ninguém melhor que você
para explicar o que mudou na EM nos últimos 20-30 anos. Por esta razão, gostaria de saber se é possível
dizer de forma breve o que realmente mudou, os dois ou três aspectos principais que mudaram”. O primeiro
resumo das alterações foi aprimorado por Miller para ser traduzido e disponibilizado à comunidade EM
quando solicitado.
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Os cegos e o elefante
Certo dia, um príncipe indiano mandou chamar um grupo de cegos de nascença e os reuniu no
pátio do palácio. Ao mesmo tempo, mandou trazer um elefante e o colocou diante do grupo. Em
seguida, conduzindo-os pela mão, foi levando os cegos até o elefante para que o apalpassem.
Um apalpava a barriga, outro a cauda, outro a orelha, outro a tromba, outro uma das pernas.
Quando todos os cegos tinham apalpado o paquiderme , o príncipe ordenou que cada um
explicasse aos outros como era o elefante, então, o que tinha apalpado a barriga, disse que o
elefante era como uma enorme panela. O que tinha apalpado a cauda até os pelos da
extremidade discordou e disse que o elefante se parecia mais com uma vassoura. "Nada disso
", interrompeu o que tinha apalpado a orelha. "Se alguma coisa se parece é com um grande
leque aberto". O que apalpara a tromba deu uma risada e interferiu: "Vocês estão por fora. O
elefante tem a forma, as ondulações e a flexibilidade de uma mangueira de água...". "Essa não",
replicou o que apalpara a perna, "ele é redondo como uma grande mangueira, mas não tem nada
de ondulações nem de flexibilidade, é rígido como um poste...". Os cegos se envolveram numa
discussão sem fim, cada um querendo provar que os outros estavam errados, e que o certo era
o que ele dizia. Evidentemente cada um se apoiava na sua própria experiência e não conseguia
entender como os demais podiam afirmar o que afirmavam. O príncipe deixou-os falar para ver
se chegavam a um acordo, mas quando percebeu que eram incapazes de aceitar que os outros
podiam ter tido outras experiências, ordenou que se calassem. "O elefante é tudo isso que vocês
falaram.", explicou. "Tudo isso que cada um de vocês percebeu é só uma parte do elefante. Não
devem negar o que os outros perceberam. Deveriam juntar as experiência de todos e tentar
imaginar como a parte que cada um apalpou se une com as outras para formar esse todo que é
o elefante."
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ENTREVISTA MOTIVACIONAL
Uma breve definição: A entrevista motivacional (EM) é um estilo de conversação colaborativo que visa
fortalecer a motivação e o compromisso pessoal com a mudança.
Originou-se no campo do álcool e outras drogas, mas vem sendo aplicada a diversos outros contextos,
com atenção especial na adesão ao tratamento.
A EM é por vezes considerada em uma hierarquia conceitual, com o espírito em sua base.
2. O espírito da EM
O espírito da EM é a sua essência. São quatro os aspectos fundamentais: parceria, aceitação, compaixão
e evocação.
1. Parceria: A EM é uma parceria onde as experiências do cliente, sua perspectiva e opiniões são
respeitadas. O entrevistador oferece um ambiente propício para a mudança ao invés de ser
coercitivo.
2. Aceitação: O entrevistador reconhece o direito do cliente à autodeterminação e facilita uma
escolha informada. Isto inclui um desinteresse (não indiferença) mas sim neutralidade na escolha
/ resultado para o cliente.
3. Compaixão: O entrevistador atua com benevolência na promoção do bem-estar do cliente,
dando prioridade às necessidades do mesmo. A compaixão pode ser compreendida como
um meio de tentar fazer o profissional se aproximar mais verdadeiramente da pessoa e
não do problema dela. Uma vez que o profissional consegue ter acesso à unicidade de
cada um, torna-se possível uma melhor compreensão das complexidades individuais que
dificultam as mudanças de comportamento. É um ato de aproximar-se para
verdadeiramente ajudar.
4. Evocação: A mudança é um processo que ocorre naturalmente; a maioria das pessoas fazem
mudanças em suas vidas sem ajuda profissional. A EM presume que os recursos e a motivação
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para a mudança encontram-se no cliente e daí a necessidade de evoca-los. Evocar quer dizer
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lembrar, recordar.
Explorar as desvantagens do status quo (estado de estagnação): O que o preocupa em relação a sua
atual situação? De que forma isso o preocupa? O que você acha que irá acontecer se você não mudar?
Estimular as vantagens da mudança: Como você gostaria que fossem as coisas? Quais seriam as
vantagens em mudar? Como você gostaria que fosse a sua vida em cinco anos?
Expressar otimismo em relação à mudança: Ao decidir fazer uma mudança, o que o faz pensar que
conseguiria? Quem poderia oferecer-lhe suporte para fazer essa mudança? Quando em sua vida você
fez uma mudança significativa? Como você fez isso?
Buscar pela intenção em mudar: O que você estaria disposto a tentar? Das opções que mencionei, qual
soa como a mais atrativa para você? O que você pode fazer?
Boas perguntas abertas também são “mente aberta”. Se você faz uma pergunta com a possibilidade de
ser surpreendido pela resposta, é um indicativo de que você está no caminho certo.
Afirmações diretas incluem reconhecer as realizações e dificuldades. Elas apontam um traço, uma
atribuição ou uma força; ou simplesmente reconhecem uma luta que o cliente vive. Elas validam a
experiência do cliente, constroem o vínculo e o encorajam a usar as forças reconhecidas. Boas afirmações
estão associadas ao sistema de valores do cliente e não do terapeuta: ou seja, não são elogios genéricos,
mas intervenções altamente específicas, adaptadas ao cliente em sua frente (note que concordar é
diferente de afirmar, pois há um distanciamento das ideias do cliente em relação às ideias do terapeuta).
Destinam-se a reassegurar para “longe da área problemática”: por exemplo, apontar as realizações como
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pai (apesar das dificuldades com o álcool) para construir a auto eficácia no cliente.
A reflexão simples repete o que cliente acabou de falar, fazendo uso das suas próprias palavras. É mais
do que apenas repetir ao cliente, a resposta deve passar por você e ser alterada de alguma forma.
A reflexão amplificada reflete algo de forma exagerada ou amplificada, sendo que o profissional interfere
no conteúdo dito pelo cliente e reflete com palavras novas, ampliando a perspectiva do que foi dito.
A reflexão dupla reflete a última declaração do cliente, com uma afirmação contraditória feita
anteriormente. Você pode reformulá-la em forma de um dilema ou ambivalência que o cliente está
enfrentando, ou construir a discrepância, refletindo um valor com um comportamento.
A reflexão complexa ou de sentimentos envolve repetir algo para além das palavras: tipicamente afeta
também o significado, os valores ou a direção. Pode ser uma simples afirmação (Você parece feliz quando
fala sobre sua esposa), mas pode ser mais sofisticada, por exemplo, ao vincular os sentimentos às
experiências e comportamentos: Você se sente [nomear de forma precisa o sentimento do cliente] quando
[nomear de forma precisa as experiências e comportamentos que dão origem ao sentimento]. Esta é uma
abordagem bastante previsível! Uma vez que você se acostuma à ideia de vincular sentimentos com
comportamentos e experiências, use as suas próprias palavras. Como regra geral, desvie da
compreensão do conteúdo emocional quando refletir; se você exagerar, o cliente pode recuar e rejeitar a
emoção.
A Metáfora ou Parafrasear movimenta-se muito além de conteúdo para fornecer um modelo para a
compreensão, valendo-se de figuras ou frases/ditados para que o cliente consiga apreender o conteúdo.
3.4 Resumir
Use uma transição acentuada ao anunciar que você irá resumir onde precisa ir, por exemplo: ¨ Deixe-me
ver se entendi bem, você me disse que ....¨. É importante o profissional estar aberto à correções/adições
por parte do cliente.
Resumir é também uma ótima técnica para usar quando você não sabe o que dizer, porque ela situa o
que foi dito.
4. Ambivalência
mudança – por vezes brevemente, ou por períodos mais longos de tempo. A ambivalência é chamada
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de a âncora conceitual da EM.
A ambivalência pode paralisar o comportamento ou causar repetidas oscilações (jogar fora os cigarros às
oito da manhã, procurar por cigarros pela noite).
Há um elemento de “autocorreção” na psique humana, de modo que (para uma pessoa ambivalente) se
você fornecer os argumentos para a mudança, eles irão responder com argumentos a favor do status
quo. Em geral , os clientes se veem rotulados como “resistentes” ao apresentarem esse tipo de
comportamento.
A ambivalência, segundo a EM, deve ser explorada em um espírito de respeitosa curiosidade, usando o
PARR.
5. Discurso de Mudança
Dentro da EM há técnicas para moderar a dissonância e o discurso sustentado; e táticas para estimular
e consolidar o discurso de mudança.
O cliente expressa as desvantagens do status quo, as vantagens da mudança, otimismo para mudar ou
intenção de mudar. Há cinco tipos principais de discurso de mudança, resumidos no acrônimo DARN-
CAT: Desejo, Habilidade, Razão, Necessidade, Compromisso, Ativação, Tomada de Passos.
Peça por elaboração e exemplos: O que? Por quê? Como? Fale-me sobre isso. Siga a sua curiosidade.
Resuma o discurso de mudança: o seu resumo pode incluir a emoção, a informação a partir da balança
decisória, o discurso de mudança, a evidência objetiva de um problema (Exemplo: danos hepáticos em
um usuário de álcool).
O cliente lista as vantagens do status quo ou as desvantagens em mudar; ou expressa intenção em não
mudar ou pessimismo em relação à mudança.
Faça declarações de escuta reflexiva (tente utilizar o “continuar o parágrafo” para enfatizar, então se
afaste da emoção aversiva e do discurso sustentado). Reflexões fechadas correm o risco de reforçar a
resposta aversiva.
6. Linguagem e relação
O discurso sustentado é parte da ambivalência do cliente, e não é interpessoal. Se as coisas não vão
bem, o discurso sustentado pode torna-se dissonante, que é interpessoal: a resistência é chamada de
“ambivalência sob pressão”. A dissonância indica uma ausência de colaboração: argumentos,
desacordos, atritos, minimizações (“não há problema”). A dissonância representa e prevê o movimento
para longe da mudança. Ela está relacionada com o conceito de Alta Emoção Expressa, que tem
demonstrado repetidas vezes estar associada ao pior desempenho em uma série de diagnósticos.
A dissonância muitas vezes encobre sentimentos de constrangimento, vergonha, culpa ou perda, e com
isso, suposições sobre como você se encaixa no esquema relacional do cliente: por trás da raiva, medo
de julgamento, rótulo, perda da liberdade – ou seja, preocupa-se com a sua resposta frente à situação.
A mensagem é: quando a dissonância surgir é um sinal para você (e não para o cliente), fazer algo
diferente.
7. Os quatro processos da EM
Os processos são “lineares” pelo fato que o engajamento necessariamente vem em primeiro lugar e o
foco (identificar um objetivo de mudança) é um pré-requisito para a evocação. Logicamente o
planejamento é um passo posterior. No entanto são recorrentes, engajamento e re-engajamento
continuam durante todo o processo. Às vezes o engajamento pode acontecer de forma rápida e pode
parecer que a conversa move-se rapidamente para a evocação ou planejamento.
7.1 Engajamento
Estabelecer uma relação de trabalho, a fim de criar a segurança psicológica que o cliente precisa na
relação de ajuda. A primeira tarefa é resolver a ambivalência a respeito de quem ajuda. Embora se
pergunte sobre a queixa, a verdadeira tarefa para o cliente é abordar o primeiro dilema não dito: Essa
pessoa é confiável o suficiente para eu dividir os meus problemas? Muitas vezes esse dilema aparece
como ambivalência a respeito de quem ajuda.
De certo modo, embora o conteúdo nesta fase seja sobre mudança ou “obtenção de uma história”, a
tarefa é especialmente focar o processo: perceber se o cliente é engenhosamente vago e tratar as
evitações e elipses dos clientes como legitimas formas de proteção de suas sensibilidades. Se as pessoas
são empurradas para as especificidades muitos cedo, por vezes elas se protegem desvirtuando-se, o que
pode ser difícil recompor posteriormente.
As habilidades para usar incluem o dia típico, pedir permissão e apresentar menus de opções. Algumas
pessoas gostam de começar longe da “queixa de apresentação”: Antes de qualquer coisa, estou curioso
para saber que tipo de pessoa você é. Você pode me falar sobre as suas paixões na vida, em que você
é bom, o que você faz e o que realmente gosta, o que o faz sentir-se orgulhoso?
7.2 Foco
Introdução ao foco
A fase de foco é sobre encontrar uma direção e objetivo quando estes não estão claros desde o princípio.
Qual é o objetivo específico para a mudança neste cliente? Alguns clientes podem levar várias semanas
para chegar neste ponto: já outros estarão lá no primeiro minuto da primeira sessão.
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Clarear o foco
Se um cliente decide que precisa de ajuda e tem alguma ideia sobre o que é, explorar a ambivalência
pode ser ativamente prejudicial: mova-se rapidamente para a evocação. Ocasionalmente, há menos
clareza do que aparenta e, por vezes, pode ser necessário mover-se para o fornecimento de informações
e esclarecimentos.
“Definir a agenda”
A tradicional habilidade definição de agenda é provavelmente melhor pensada como um processo de dois
estágios, mapeamento da agenda e navegação na agenda. Guiar está envolvido em ambos os processos:
por exemplo, o seu conhecimento é colocado à serviço dos interesses, objetivos e valores do cliente
Mapeamento da agenda
Primeiramente, mapear uma agenda com o cliente, coletando todos os interesses que queira discutir, sem
iniciar a discussão pelos itens individuais. Uma boa pergunta para começar, muitas vezes, é algo como:
Como devemos usar o nosso tempo hoje? Listar os itens em círculos em um pedaço de papel e pedir que
o cliente escolha os temas apropriados. Se necessário (e com a permissão), adicionar um ou dois itens
importantes que perceber. Use a escuta reflexiva e tente resignificar as ideias na pessoa, para localizá-
las em seu comportamento.
Em um segundo momento explore a agenda em termos gerais, à procura das ideias do cliente sobre
como os diferentes itens se relacionam. Algumas perguntas úteis: O que essas diferentes preocupações
têm em comum? Quais temas você percebeu? Se fosse tivesse que falar que algo foi a causa de todos
esses problemas, que ideias vêm a mente?
Ao mapear a agenda, às vezes é útil ter em mente a trajetória do tratamento. Isso pode ajudá-lo a auxiliar
o cliente priorizar o seu trabalho dentro do limite de tempo.
• Sessão de hoje;
• Este momento de cuidado;
• A trajetória de vida.
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Navegar na agenda
Use a agenda como um enquadre e planejamento para o hoje e futuras sessões do tratamento. Você
pode precisar para ajudar o cliente priorizar objetivos múltiplos. Por vezes vale a pena, em um primeiro
momento, incentivar o cliente a um objetivo menor, mas realizável, à um objetivo mais importante, porém
desafiador. A agenda pode ser usada tanto quanto um método para estacionar e segurar as divergências,
como um “recipiente” para a ansiedade em torno das questões difíceis. Exemplo: Ok, hoje nós
dedicaremos tempo a sua prioridade número um, sua casa, e deixaremos a questão com as drogas para
outro momento.
Por exemplo, ao trabalhar com um cliente usuário de substâncias, a questão de moradia se ele está
desabrigado, as questões relacionadas ao abuso podem se tornar aparentes. Pode ser que este cliente
não seja capaz de lidar com essas questões nesta fase do tratamento: o seu trabalho neste ponto pode
ser o de ajudar o cliente a realojar-se, envolver-se com os serviços de forma menos caótica e começar a
abordar o uso de drogas, em sequência. Você pode tocar em questões traumáticas, mas não as trabalha
de forma sistemática. Mas ao longo da trajetória do tratamento, a prioridade pode ser deslocada para as
questões traumáticas relacionadas aos problemas de uso de substâncias.
A navegação hábil em torno da agenda pode, ao fazer uso de um estilo guiado, evidenciar questões que
são claramente importantes (por exemplo, o uso de substâncias), mesmo quando não são priorizadas
inicialmente pelo cliente A navegação em torno da agenda pode ser um processo interativo conforme o
cliente confiar em você (e estar preparado para conversar sobre questões rejeitadas inicialmente). Com
o tempo você também poderá ver o sentido de algumas prioridades do cliente que inicialmente não havia
compreendido.
Esclarecer
Às vezes um objetivo de mudança não é evidente a princípio. Esclarecer é um processo de dois estágios,
começa pela exploração neutra e passa para a ampliação do entendimento.
Na exploração neutra o processo é explorar a visão do cliente sem mudar nada, de modo a criar um
entendimento comum sobre o ponto de partida para qualquer iniciativa de mudança. As principais
intervenções são reflexões simples. Em alguém com uma visão de mundo muito polarizada, isso pode
levar algum tempo: use muitos resumos e reflexões (para uma complexa, duas simples) antes de tentar
qualquer coisa, como uma ressignificação. Se houver dissonância, voltar à tarefa de estabelecer uma
relação de trabalho. Outras habilidades para usar incluem o dia típico, e coisas boas e coisas menos
boas.
As habilidades a serem usadas incluem coisas boas e coisas menos boas; balança da decisão, olhar para
trás e para a frente, utilizar a perspectiva de terceiros (por exemplo, O que a sua esposa acha de tudo
isso? Outros clientes que conheci e que estavam em sua posição pensaram da forma x. Como você se
sente sobre isso?).
7.3 Evocação
Esta fase é quando o foco estratégico vem à tona, e você como terapeuta aprofunda e orienta o cliente
ao objetivo em questão, identificado na fase de foco. Faça uso do resumo para finalizar a fase inicial.
Resuma a visão do cliente sobre o problema, apontando a ambivalência e incluindo o reconhecimento
dos aspectos positivos do status quo.
A motivação é impulsionada pela discrepância entre os objetivos de uma pessoa e o seu estado atual.
Objetivos claros são importantes para se instigar a mudança Os valores do cliente são fundamentais e
podem influenciar ambos os lados de sua ambivalência. Ex: Dilema entre a lealdade em beber com os
amigos e a lealdade à família.
Outras habilidades para usar: coisas boas e coisas menos boas; balança da decisão, olhar para trás e
para frente, convidar perspectivas de terceiros, dois futuros (Como estaria a sua vida daqui 05 anos se
você mudar? E se não?), escala de disposição, pergunta milagre (ou a pergunta dos três desejos/ganhar
na loteria). Agora pode ser um momento propício para normalizar a ambivalência. Talvez, use um resumo
e convide o cliente a sair de si mesmo: Quando você olha par você, o que vê? Se você estivesse dando
um conselho a si mesmo agora, o que iria falar?
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7.4 Planejamento
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As habilidades a serem usadas incluem trabalhar com um menu de possíveis soluções boas e ruins ao
invés de centrar-se em uma solução perfeita, assim o cliente escolhe opções em vez de negar sugestões.
Considerar as opções de mudança. Brainstorm: este processo deve incluir ideias explicitamente
estranhas. O objetivo é gerar uma boa lista de possibilidades sem que sejam avaliadas prematuramente.
Se uma opção estimular uma resposta resistente, reflita sobre e reitere que esta é apenas uma lista
criativa de opções. Busque pela vontade do cliente, seus recursos naturais e ofereça suporte ao fazer a
lista. Responda com a escuta reflexiva, enfatizando o discurso de mudança, a responsabilidade pessoal,
a liberdade e escolha. Você poderá usar o exercício balança decisória para avaliar as diferentes opções.
Você pode fazer isso com o cliente ou pedir para que faça em casa.
Resuma os planos do cliente; considere passar para o papel o planejamento, destacando as ações a
serem tomadas.
Tente estimular o compromisso do cliente. Ao apresentar o plano no papel, pergunte ao cliente se é isso
que ele quer fazer. Se ele estiver cauteloso ou ambivalente, você tem ainda algum trabalho a fazer. Não
pressione. O compromisso pode ser melhorado ao torna-lo público e compartilhado (esta estratégia não
é tão boa com famílias com altos níveis de emoção expressa).
Reforçar as pequenas mudanças é importante neste estágio. Alguns clientes podem sair com um
planejamento para reduzir o beber, começar a frequentar o AA e a tomar os seus antidepressivos
regularmente. Outros só conseguem pensar a respeito da mudança e voltam para conversarem mais.
Ambos são passos positivos que garantem uma motivação para a mudança, em intensidades diferentes
, mas que precisam ser respeitadas em conformidade com a prontidão para a mudança que o cliente
apresenta.
8. Leitura complementar
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Baralho de Classificação de Valores Pessoais
O Baralho de Classificação de Valores Pessoais criado em 1999 por William R. Miller, Janet C'de Baca, Daniel B.
Matthews, e Paula L. Wilbourne, Universidade do Novo México (2011) foi atualizado para incluir mais valores até a
versão atual que solicita aos participantes para classificar os valores em níveis de importância.
Fase 1
Pensando em fazer uma mudança em sua vida? Esta atividade irá ajudá-lo a identificar e pensar sobre as questões
importantes para você hoje.
Instruções: Classificar as palavras na página seguinte em quatro categorias: não importantes, menos importantes,
importantes e muito importantes. Depois de atribuir cada valor para uma das quatro categorias, reveja suas opções.
Em seguida, selecione de 3 a 5 de seus valores principais e escreva-os nas respectivas colunas.
Lembre-se de que não há certo ou errado em termos de valores, escolhas ou prioridades. Você pode fazer esta
atividade quantas vezes forem necessárias uma vez que suas prioridades podem mudar ao longo do tempo.
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Agora escolha de 3 a 5 principais valores na sua percepção de vida.
Compaixão: combina-se a um desejo de aliviar ou minorar o sofrimento de outro ser , bem como demonstrar especial
gentileza com aqueles que sofrem. A compaixão pode levar alguém a sentir empatia pelo outro, mas não deve ser
confundida com empatia. A compaixão é frequentemente caracterizada através de ações que buscam ajudar aqueles
pelos quais se compadece.
Generosidade: é a virtude em que a pessoa tem quando acrescenta algo ao próximo. Generosidade se aplica também
quando a pessoa que dá algo a alguém tem o suficiente para dividir ou não.
Espiritualidade: propensão humana a buscar significado para a vida por meio de conceitos que transcendem o
tangível, à procura de um sentido de conexão com algo maior que si próprio. A espiritualidade pode ou não estar
ligada a uma vivência religiosa.
Fase 2
Este baralho pode ser utilizado individualmente ou em grupo . O profissional pode incentivar a exploração de
valores pessoais. Uma vez que os valores foram classificados e priorizados, as perguntas podem ser colocadas em
formato escrito ou verbal para aprofundar a conexão de valores para qualquer crescimento individual ou
profissional. Por exemplo:
• Como que os valores que você escolheu se alinham com as suas escolhas de vida?
• Como que os valores que você escolheu se alinham com as suas escolhas profissionais ou sua situação de
tratamento/vida?
• Se houver um desalinhamento de valores para as escolhas, que mudanças você faria para trazê-los de volta
para o alinhamento?
• Partilhar os seus valores com terceiros, facilita sua explicação sobre seu significado pessoal de cada valor.
• Solicitar esclarecimentos sobre a forma como os outros a percepção de seus valores ou ações criaram
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Família: ter uma família feliz e Generosidade: É a virtude em que a pessoa tem
quando acrescenta algo ao
amorosa próximo. Generosidade se aplica
também quando a pessoa que dá
algo a alguém tem o suficiente
para dividir ou não.
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Clarificação de Valores
Identifique seus principais valores: Como meu comportamento Como posso buscar/cultivar esse valor
interferem em meus valores em minha vida?
Amor
Perdão
Realização profissional
Amizade
Sucesso financeiro
Auto-estima
Crescimento pessoal
Saúde física
Bondade
Diversão
Aprendizagem
Religião
Atividades culturais
Liberdade pessoal
Outros:
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Adjetivos
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Escala de Disposição
Quão importante é para você realizar esta mudança?
0...1...2...3...4...5...6...7...8...9...10
Sem importância Extremamente
0...1...2...3...4...5...6...7...8...9...10
Sem confiança Muito confiante
Perfil
Grupo A: Baixa importância e confiança Grupo B: Baixa importância e alta confiança
Estas pessoas não veem como importante a Estas pessoas não veem como importante a
mudança ou não acreditam que podem ter mudança, mas se acham muito confiantes de que
sucesso se tentarem mudar. conseguirão realizar a mesma se necessário.
Essas pessoas veem como importante mudar, Estas pessoas veem como importante mudar e
mas não se acham em condições de fazê-la. acreditam que podem ter sucesso na realização
da mesma.
Se você decidisse fazer essa mudança hoje, quão confiante você se sentiria?
0...1...2...3...4...5...6...7...8...9...10
Sem importância Extremamente
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• O que teria que acontecer para isso se tornar muito mais importante para você?
• O que teria que acontecer para você considerar seriamente a possibilidade de mudar?
• Por que você se deu um escore tão alto em importância?
• O que precisaria acontecer para seu escore em importância subir de x para y.
• O que faz com que o escore não suba de x para y?
• Quais são as coisas que você gosta e você não gosta a respeito do seu...
( comportamento prejudicial)
• Quais são as preocupações que você tem sobre o seu ... (comportamento prejudicial)?
• Aonde isso te leva agora? (quando você quer perguntar sobre mudança de uma forma neutra)
• O que poderia fazer para se sentir mais confiante em fazer essas mudanças?
• Por que você se deu um escore tão alto de confiança?
• Por que você deu um escore tão baixo de confiança?
• O que precisa acontecer para seu escore de confiança subir de x para y?
• Como eu posso te ajudar a ser bem sucedido (a)?
• Tem alguma coisa que você julgue útil das tentativas anteriores?
• O que você aprendeu com as coisas que deram errado na última vez que você tentou?
• Você conhece alguma coisa que tenha ajudado outras pessoas?
• Quais são as práticas que você terá que fazer para atingir a sua meta? Algumas delas são mais
fáceis de serem atingidas ? Se sim iniciar por estas.
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Entrevista Motivacional - Módulo Intermediário
Desfecho:
Com a avaliação da importância e confiança, é necessário decidir para onde ir em qual destas dimensões
focar – centrar esforços.
Como você se sente no momento sobre...?
Atenção para a Auto – eficácia: relação direta com confiança e auto - estima
O objetivo no trabalho de construção de confiança é que o paciente saia da consulta dizendo ou pensando: ¨Sim,
eu posso conseguir...¨
Auto - eficácia
• Refere-se à confiança da pessoa em fazer uma mudança específica no comportamento (Bandura, 1994)
• Auto- eficácia não é tudo ou nada¨
Metas, estratégias e alvo: os temas variam do geral para o específico
Que mudança você gostaria de fazer? (Uma forma de verificar a meta ou resultado almejado)
• Para investigar estratégicas e alvos, a pergunta é: Como é que você vai atingir esta meta?
• Talvez você esteja focado em construir confiança do paciente pressionando-o para mudar. É hora de
voltar!
• Você está cometendo o erro de propor soluções simplistas para problemas que o cliente considera
complexos?
• Você está olhando para estratégias ou alvos errados para adquirir a mudança?
O paciente frequentemente lhe dirá porque sua sugestão não vai funcionar.
Diga: ¨Só existe uma chance de você ser bem sucedido. Se não funcionar, o problema nunca será resolvido...¨
37
Balança Decisória
Trabalha a capacidade da pessoa em refletir sobre os prós e contras de uma mudança. A idéia é
trabalhar a ambivalencia que o cliente apresenta. Segue alguns exemplos: emagrecer ou manter
o mesmo hábito de alimentação; fazer exercicios fisicos ou não fazer exercicios fisicos; manter o
casamento ou separação; manter o emprego ou mudar de emprego; internação ou tratamento
ambulatorial, etc.
Feedback por parte do profissional: 1) As vantagens de manter o comportamento de uso e as
desvantagens de interromper o uso devem ser foco no tratamento e as desvantagens de manter
o comportamento de uso e as vantagens de interromper o uso devem ser reforçadas
positivamente; 2) Olhar numericamente os itens citados e comparar somas. Posteriormente ter
um olhar qualitativo perante essa avaliação de modo a trabalhar o impacto de cada item em
ordem de importância.
+ -
Vantagens Desvantagens
Manter o consumo
Interromper o
consumo
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Identificar Prós e Contras
Trabalha a capacidade da pessoa em refletir sobre os prós e contras de uma mudança tendo em
mente as consequencias boas e as consequencias não tão boas assim do comportamento a ser
modificado.
Em seguida o profissional solicita que o cliente avalie a importancia de cada item na tomada de
decisão sobre seu comportamento.
+ -
Avaliação Prós Contras
1. Ligeiramente
importante
2. Moderadamente
Importante
3. Muito importante
4. Extremamente
importante
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Mapeamento de Agenda: por onde vamos começar?
Estudos
Família
Saúde
Segurança Stress
Problemas
com a justiça
Lazer
Espiritualidade
Financeiro
Outro:
Trabalho Sono
Fazer uma lista das áreas de vida, especificando os comportamentos que deseja trabalhar.
Se tiver mais que 10 comportamentos, escolha os 5 mais importantes.
Profissional - Para um próximo encontro, liste nas áreas principais escolhidas pelo cliente:
Comportamento:
Estratégia:
O que pode ser feito:
40
▪ As razões são:
41
Alternativas Estratégicas:
42
43
Fluxograma da Conversa em ETM
▪ Abra a conversa Conhecer, tempo e permissão)
▪ Faça perguntas abertas abertas Engajamento
▪ Convide o cliente a falar
▪ Foco nos pontos fortes e sucessos
▪ Negociar a agenda
Foco
▪ Suporte autonomia e escolhas do cliente
▪ Facilite a conversa
▪ Menos é mais!
44
45
Abra a
conversa
Refor +
Reforço
Negocie
E–P-E
agenda
Dividir Informação:
46
EM : E – P - E
extrair feedback
Evocar Eliciar Fornecer Prover Evocar Eliciar
• Perguntar a pessoa o • Pedir permissão • Pedir permissão
que ela deseja saber/ • Oferecer um menu • Pedir à pessoa para
trabalhar de opções selecionar dentre as opções
• Quais idéias vocês • Combinar com aquela que parece ser a
podem ter juntos outras abordagens melhor opção
para resolver a • Ofertar • Feedback - compreensão
situação • Oferecer • Continuidade do tema
• Inserir uma ação inserido na conversa
• Evocar • CHECK DO PROVER
• SUBJETIVO
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Data:
Entrevistador:
Cliente:
Observador:
2.Compassivo 1------2------3-----4------5
1------2------3-----4------5
6. Tom Positivo e esperançoso
7. Evocativo 1------2------3-----4------5
Total
48
1.Suspende o papel especialista-didático-prescritivo-autoridade 1------2------3-----4------5
2.Resiste a "reflexo de endireitamento" (desejo de consertar as 1------2------3-----4------5
coisas)
3. Flui com a resistência (discórdia / fala de perman~encia ou 1------2------3-----4------5
sustentação) invés de combatê-la
4. Ouve primeiro! Cliente fala mais ! 1------2------3-----4------5
5. Usa o Parr (geral) 1------2------3-----4------5
Reflexão 1------2------3-----4------5
Reforço + 1------2------3-----4------5
Resumo 1------2------3-----4------5
49
Score 1
11-20 suficiente
21-30 bom
Acima de 30 excelente
Score 2
16-31 suficiente
32 – 47 bom
Acima de 48 excelente
50
Biografia
Stephen Rollnick
_________________________________
CO-FUNDADOR DE ENTREVISTA MOTIVACIONALCARDIFF, UK
O Dr. Stephen Rollnick é o co-criador da Entrevista Motivacional, uma terapia baseada em evidências que ajuda os clientes
a resolver a ambivalência e encontrar motivação para mudar.
Distinguished Honorary Professor na escola da medicina em Cardiff, a pesquisa do Dr. Rollnick focalizou em promover a
mudança positiva do comportamento entre pacientes, desenvolvendo princípios fundamentais da EM e estendendo a
aplicação aos cuidados básicos de saúde, escolas e e mais recentemente coach na área esportiva.
Psiquiatra clínico experiente e pesquisador dedicado, Dr Rollnick fundou a Motivational Interviewing Network of Trainers
(MINT), uma organização internacional comprometida com a promoção de práticas e treinamento de alta qualidade para
EM.
Com extensas publicações em revistas científicas, o Dr. Rollnick também foi coautor de numerosos textos para profissionais,
incluindo o best-seller, Entrevista Motivacional no Cuidado da Saúde: Ajudando Pacientes a Mudar o
Comportamento, agora em sua 3ª edição e traduzido em 12 idiomas.
O trabalho do Dr. Rollnick também incluiu apoio a programas para adolescentes grávidas, crianças com HIV-AIDS na África,
e também co-fundador do PATA (Tratamento de Aids Pediátrico para a África).
Agora focado em treinamento, consultoria e redação, Dr. Rollnick continua seu trabalho inovador promovendo mudanças
positivas de comportamento, conduzindo palestras e sessões de treinamento internacional, com especial interesse nos
campos da saúde e do esporte.
EDUCATION
Doctor of Clinical PsychologyUniversity of Wales1993
Dip.Clin.PsychologyBritish Psychological Society1982
MSc Research MethodsUniversity of Strathclyde1977
Dip.Clin.PsychologyBritish Psychological Society1982
MSc Research MethodsUniversity of Strathclyde1977
Dip.Clin.PsychologyBritish Psychological Society1982
B.Soc.Sci (Hons) Counselling PsychologyUniversity of Cape Town1975
Dip.Clin.PsychologyBritish Psychological Society1982
B.Soc.Sci (Hons) Counselling PsychologyUniversity of Cape Town1975
MSc Research MethodsUniversity of Strathclyde1977
B.Soc.Sci.University of Cape Town1973
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Biografia
William R. Miller
Dr. William R Miller é professor emérito de Psicologia e Psiquiatria da Universidade do Novo México .
Co-fundador da Entrevista Motivational, a distinta carreira do Dr. Miller abrange quatro décadas, com
foco no desenvolvimento, teste e disseminação de tratamentos comportamentais para vícios.
Fundalmente interessado na psicologia da mudança, o Dr. Miller também mantém um grande interesse
na integração da espiritualidade e da psicologia. A pesquisa dedicada do Dr. Miller revolucionou a forma
como os médicos tratam e respondem aos pacientes.
Com expertise amplamente reconhecida, o Dr. Miller atuou como consultor do Senado dos Estados
Unidos, da Organização Mundial da Saúde, da Academia Nacional de Ciências e do National Institutes of
Health.
Sua carreira prolífica também o fez atuar como co-diretor do Centro de Alcoolismo, Abuso de Substâncias
e Vícios (CASAA) da UNM e Diretor de Treinamento Clínico para o programa de doutorado aprovado pela
APA da UNM em psicologia clínica.
Com mais de 400 artigos e 50 livros, o Institute for Scientific Information o listou como um dos cientistas
mais citados do mundo. Em reconhecimento às suas valiosas contribuições à pesquisa, o Dr. Miller
recebeu o Prêmio Internacional Jellinek Memorial, por sua excelente contribuição para o avanço do
conhecimento no campo do alcoolismo, dois prêmios da Associação Americana de Psicologia e um de
Inovação no Combate ao Abuso de Substâncias. - Prêmio da Fundação Robert Wood Johnson¨.
DETALHES PROFISSIONAIS
Psychology and Psychiatry Emeritus Distinguished Professor of Psychology and Psychiatry
EDUCATION
PhD. Clinical PsychologyUniversity of Oregon
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A Escutatória
Rubens Alves
"Sempre vejo anunciados cursos de oratória. Nunca vi anunciado curso de escutatória. Todo mundo quer
aprender a falar. Ninguém quer aprender a ouvir. Pensei em oferecer um curso de escutatória. Mas acho
que ninguém vai se matricular. Escutar é complicado e sutil…
Parafraseio o Alberto Caeiro: “Não é bastante ter ouvidos para ouvir o que é dito; é preciso também que
haja silêncio dentro da alma”. Daí a dificuldade: a gente não aguenta ouvir o que o outro diz sem logo dar
um palpite melhor, sem misturar o que ele diz com aquilo que a gente tem a dizer…
Nossa incapacidade de ouvir é a manifestação mais constante e sutil de nossa arrogância e vaidade: no
fundo, somos os mais bonitos…
Tenho um velho amigo, Jovelino, que se mudou para os Estados Unidos estimulado pela revolução de 64.
Contou-me de sua experiência com os índios. Reunidos os participantes, ninguém fala. Há um longo, longo
silêncio. (Os pianistas, antes de iniciar o concerto, diante do piano, ficam assentados em silêncio, abrindo
vazios de silêncio, expulsando todas as ideias estranhas). Todos em silêncio, à espera do pensamento
essencial.
Não basta o silêncio de fora. É preciso silêncio dentro. Ausência de pensamentos. E aí, quando se faz o
silêncio dentro, a gente começa a ouvir coisas que não ouvia. Eu comecei a ouvir.
Fernando Pessoa conhecia a experiência, e se referia a algo que se ouve nos interstícios das palavras, no
lugar onde não há palavras. A música acontece no silêncio. A alma é uma catedral submersa. No fundo do
mar – quem faz mergulho sabe – a boca fica fechada. Somos todos olhos e ouvidos. Aí, livres dos ruídos
do falatório e dos saberes da filosofia, ouvimos a melodia que não havia, que de tão linda nos faz chorar.
Para mim, Deus é isto: a beleza que se ouve no silêncio. Daí a importância de saber ouvir os outros: a
beleza mora lá também. Comunhão é quando a beleza do outro e a beleza da gente se juntam num
contraponto. Ouçamos os clamores dos famintos e dos despossuídos de humanidade que teimamos a não
ver nem ouvir. É tempo de renovar, se mais não fosse, a nós mesmos e assim nos tornarmos seres
humanos melhores, para o bem de cada um de nós.
É chegado o momento, não temos mais o que esperar. Ouçamos o humano que habita em cada um de
nós e clama pela nossa humanidade, pela nossa solidariedade, que teima em nos falar e nos fazer ver o
outro que dá sentido e é a razão do nosso existir, sem o qual não somos e jamais seremos humanos na
expressão da palavra.