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Titulo: Arte-Terapia. Criatividade e Simbolismo.

Autora: Daniela Martins

Capa: Bruno Neves


Diagramação/Revisão: Hugo Martins
Impressão: Print On Demand Liberis
1ª Edição: 2018
2ª Edição: 2020
3ª Edução: 2023

www.circulos.pt
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Depósito Legal: 443122/18


ISBN: 978-989-20-9210-2
ARTE-TERAPIA
CRIATIVIDADE E SIMBOLISMO

Índice
Prefácio
Introdução

A Arte-Terapia
O que é Arte-Terapia?
Fantasia, imaginação e simbolismo. Bases da Psicanálise para a Arte-Terapia
Arte-Terapia e a Educação Artística

História da Arte-Terapia
Caminhos da arte pelo sagrado e pela emoção
Na pré-história
A música, a dança e o teatro primitivo
A emoção da liberdade e da razão
Os sentimentos românticos e a modernidade
Arte e Psiquiatria
Pintores e poetas portuguesesA Psicanálise e as correntes psicoterapêuticas
Os pioneiros da Arte-Terapia
Uma história de saúde
A Arte na Arte-Terapia
A criação artística na Arte-Terapia
A armadura, o escudo e a arte – Mecanismos de defesa na criação
Arte como idealização e máscara social
Arte-Terapia e criatividade
Dar forma às emoções – Arte-Terapia e a experiência estética

Criar e transformar em Arte-Terapia


A relação com o material artístico
Criar e construir - o fazer com o material
A matéria, o imaginário e os seus símbolos
Simbolismo e criatividade
O Desenho
A Pintura
A Colagem
A Modelagem em barro

Criação e criadores
Criação com o desenho
Criação com a pintura
Criação com a colagem
Criação com a modelagem em barro

Concluindo ideias
Introdução
A arte, a criação e a terapia. Como a arte pode reestruturar vidas. Como a
criação se estrutura proporcionando crescimento e transformação. Parece magia,
mas há estudo, ciência, teoria e técnica. Este método chama-se Arte-Terapia.
A prática da Arte-Terapia incorpora a criação artística no tratamento
destinado a promover a saúde mental, utilizando-se diferentes expressões artísticas.
Através das várias formas expressivas das artes, a pessoa comunica e explora os
seus sentimentos. O desenvolvimento criativo leva o indivíduo a romper
resistências e a reconhecer as suas próprias capacidades, o que se traduz em
sentimentos de maior autoestima e equilíbrio. O exercício da criatividade possibilita
uma visão diferenciada sobre si mesmo e favorece o encontro de pontos de vista
alternativos para as suas problemáticas. O objetivo é o crescimento pessoal, o
contacto com o seu mundo sensível e o desenvolvimento emocional.
A Arte-Terapia é feita de criação artística que por sua vez requer materiais
artísticos. São os que se interrelacionam com a pessoa e a ajuda na sua
comunicação, são os que concretizam a sua expressividade. A expressão plástica,
musical, dramática, corporal, literária e lúdica são os meios empregados com a
finalidade de criação, expressão e comunicação no setting arte-terapêutico. O
simbolismo e a criatividade de quem está em processo em Arte-Terapia é ativada
através do processo criativo que desenvolve. A simbologia associada a cada material
é significativa mediante as necessidades expressivas e criativas do paciente.
A criação artística espontânea é também relevante em outros contextos que
não seja apenas o terapêutico. A observação do potencial criativo e simbólico dos
materiais e propostas criativas pode ser de ótima aplicação em Educação Artística.
Os princípios de execução artística aplicados em Arte-Terapia podem ser muito
bem aproveitados na área educacional. Vamos comparar esses dois campos de
atuação através das artes, o educacional e o terapêutico, apresentando as suas
diferenças e afinidades em termos metodológicos, demonstrando o que cada área
pode usufruir da relação entre as duas matérias.
E porquê falar sobre Arte-Terapia e Educação Artística? Destacamos o
ponto de vista artístico e o educacional da Arte-Terapia apesar das evidências
históricas que a fazem estar ligada ao meio clínico, como um tratamento
psicoterapêutico, de utilização da arte apenas como um meio facilitador.
Historicamente a Arte-Terapia surge a partir do trabalho efetuado dentro dos
hospitais. Contribuiu para o seu estabelecimento a valorização do trabalho artístico
realizado por doentes mentais, num movimento iniciado no século XIX. Boa parte
da teoria da Arte-Terapia é composta por pressupostos psicológicos. Além de tudo,
a Arte-Terapia é uma proposta de tratamento do foro psíquico, visando o
desenvolvimento pessoal e a mudança de aspetos menos adaptados do indivíduo
para que este possa sentir um bem-estar maior e ter uma vida mais produtiva e
significativa. Contudo, a prática da Arte-Terapia é fundamentada no meio
educacional por profissionais que investiram esforços numa metodologia
vocacionada para o desenvolvimento do potencial criativo.
As primeiras intervenções arte-terapêuticas, seja em Inglaterra, nos Estados
Unidos ou em França, estabelecem fortes ligações com a Arte-Educação, sendo de
grande influência as teorias contemporâneas da Educação Artística. Autores como
Herbert Read, Viktor Lowenfeld, John Dewey, e mais tarde Howard Gardner, entre
outros, são referências teóricas para aplicação da Arte-Terapia com crianças. É
nesse momento que a intervenção arte-terapêutica sai dos círculos hospitalares e se
instala nas escolas, quando é dada uma importância diferenciada para o
desenvolvimento integral infantil. No momento em que a arte é vista como um dos
principais meios promovedores de crescimento e desenvolvimento emocional da
criança. O brincar passa a ser observado por psicanalistas e educadores. Freud dá
uma importância inédita às brincadeiras das crianças, apresentando-as como atos
sintomáticos, ou seja, como uma atividade em que a criança elabora a sua realidade e
dá voz às suas fantasias. Dessa maneira o brincar passa a ser uma coisa séria, digna
de estudos e observações por pedagogos, psicólogos, educadores, médicos e demais
profissionais interessados no desenvolvimento infantil. O brincar, portanto, não é
mais apenas recreação e divertimento.

A antítese de brincar não é o que é sério, mas o que é real. Apesar de toda a
emoção com que a criança catexiza seu mundo de brinquedo, ela o distingue
perfeitamente da realidade, e gosta de ligar seus objetos e situações imaginados às
coisas visíveis e tangíveis do mundo real. Essa conexão é tudo o que diferencia o
brincar infantil do fantasiar.1

Dessa maneira, no meio educacional, a arte deixa de ser vista apenas pelo seu
caráter lúdico, e, por outro lado, para além do aspeto técnico e instrutivo do
desenho e das artes em geral, passa a ser promovida a expressividade pessoal, a
espontaneidade gestual e a liberdade criativa. A Arte-Terapia começa a ser aplicada
em instituições com crianças com traumas, doenças, dificuldades e limitações várias
comprometedoras do desenvolvimento psíquico.
A arte, em Arte-Terapia, não tem apenas um papel acessório e é sim uma
condição essencial que fundamenta o estímulo à criatividade para se atingir níveis
mais elevados de satisfação e resolução de conflitos internos. Na criação artística
operam-se funções mentais fundamentais para o equilíbrio pessoal. O pensamento
divergente dos processos criativos integra fatores de simbolização, abstração e uma
cognição específica para uma aprendizagem que inclui os sistemas sensorial e
emocional. É um contraponto do pensamento lógico mas as experiências, quando
integradas, favorecem um desenvolvimento ampliado e fundamentalmente mais
adaptado à realidade do indivíduo, que, tendo uma postura mais criativa perante a
vida, pode responder com mais precisão às suas necessidades.

1
Freud, S. (1908-[1907]). Escritores criativos e devaneios. In S. Freud, Delírios e sonhos na Gradiva de Jensen (1907
[1906]) (Vol. 9). Rio de Janeiro: Imago. p. 79.
A expressão artística, apesar de ser um meio em Arte-Terapia e de não
requerer ou objetivar a técnica tradicional, possui características de execução e de
relação estética. A produção em Arte-Terapia não é considerada como arte
conforme a aceção tradicional ou profissional da produção artística. Não visa os
processos técnicos de desenvolvimento da habilidade dos artistas. Um arte-
terapeuta não tem a competência dos professores de arte. Não ensina arte, mas sim
promove o exercício da atividade criativa pelos veículos artísticos, seja pelas artes
plásticas, pela expressão corporal, pela expressão musical ou pela expressão
dramática. Estimula a comunicação dos afetos por meio da expressão artística, de
maneira a mobilizar a capacidade criativa do indivíduo considerada como inerente.
A Arte-Terapia é praticada há várias décadas e atualmente encontramos
intervenções em praticamente todos os países. Em toda a Europa há exemplos de
atuação arte-terapêutica, bem como nos demais continentes. A formação de arte-
terapeutas é efetivada para que não haja mais equívocos como os iniciais, nos
primórdios da Arte-Terapia, em que o papel do arte-terapeuta era difuso,
confundindo-se com os dos outros profissionais, como psicólogos que se utilizam
da arte, artistas investigadores de teorias psicológicas, arte-educadores, terapeutas
ocupacionais, etc. No momento atual o movimento de afirmação da Arte-Terapia é
patente, o que passa por diferenciar o arte-terapeuta dos demais profissionais,
através de uma formação bem consolidada.
Mesmo os profissionais mais próximos da área arte-terapêutica e abertos às
novas abordagens desconhecem os verdadeiros objetivos da Arte-Terapia, sendo
desenvolvidas visões erróneas e limitativas associando-a, por exemplo, à criação
feita nos hospitais psiquiátricos, conhecida genericamente como arte bruta, ou
mesmo arte psicopatológica, aos ateliês semelhantes aos de Terapia Ocupacional, aos
métodos interpretativos do desenho e da imagem. Ainda de maneira quase caricata,
a Arte-Terapia é ingenuamente associada a um método de “cura pelo desenho”, ou
de ocupação de tempos livres, bem como à linhagem esotérica, ligando a Arte-
Terapia à prática de ioga, meditação e às demais terapias alternativas popularmente
conhecidas. Os profissionais das áreas clínicas pouco conhecem os seus benefícios
terapêuticos, e na área da Educação desconhecem como pode ser integrada,
visando o desenvolvimento criativo e emocional. Por estes motivos, sendo a Arte-
Terapia um campo de investigação estruturado teoricamente e com particularidades
técnicas próprias e específicas, é urgente a distinção e o reconhecimento científico
enquanto prática psicoterapêutica.
O desenho, a pintura, a colagem e a modelagem em barro surgem neste livro
como exemplos de formas expressivas em que apresentamos as suas
particularidades específicas em Arte-Terapia: características gerais, a população
mais indicada, o simbolismo e o processo criativo que auxiliam os pacientes a
atingirem os objetivos arte-terapêuticos. Demonstramos como este é um trabalho
que se mantém em aberto, uma vez que o imaginário de cada pessoa indica um
sistema simbólico próprio, e possui necessidades criativas particulares. Esta
descrição é feita da maneira mais abrangente possível neste momento mas, no
melhor sentido de que cada caso é um caso, torna-se evidente que esta é uma
pesquisa ininterrupta. É uma investigação empírica, através da experiência própria
como arte-terapeuta e arte-psicoterapeuta, na observação direta do trabalho criativo
executado pelos pacientes. Da mesma forma, apoiam-nos a experiência e as
observações de outros arte-terapeutas, a que temos acesso em publicações diversas
sobre o assunto.
As criações apresentadas são isoladas do processo da pessoa, sendo
observadas separadamente do contínuo que há entre as sessões arte-terapêuticas ou
arte-psicoterapêuticas. Descrevemos o seu conteúdo de maneira fenomenológica, a
partir da temática emergida na sessão ou da proposta criativa apresentada. É
considerada a expressão verbal do paciente relativamente à sua criação, isto é, a
descrição que o criador faz da sua obra. No caso do grupo de Arte-Terapia é
demonstrado genericamente o contexto social de desenvolvimento da intervenção.
Os resultados são apresentados considerando a qualidade criativa e simbólica
da expressão artística promovida pelo processo criativo arte-terapêutico.
Sublinhamos como o paciente beneficia de tais qualidades para se exprimir com
mais clareza, trazendo para si um melhor entendimento do fenómeno emocional.

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