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Psicodiagnóstico Interventivo

Aula 01

Procedimentos utilizados
● A Nossa Casa
O objetivo dessa atividade é o de tornar possível a conversa sobre a família de
forma que crianças e adultos consigam participar. É importante notar que o indivíduo
faz parte de um contexto de interações, e um comportamento diferente (um
problema no comportamento) diria respeito não somente ao contexto, mas também
às relações que o compõem.
A Nossa Casa é recurso terapêutico em que é proposto à família um jogo, onde
será feito um único desenho por toda a família; para saber quem fez cada parte, cada
um escolherá uma cor diferente. Todos vão participar. O título do desenho será A
Nossa Casa. É apresentado o material disponível (2 folhas de cartolina, um rolo de fita
e um estojo com lápis de cor).
O jogo se assemelha à como a família funciona, como eles se inter-relacionam
no dia-a-dia. E a cor escolhida representará as individualidades e suas possíveis
fronteiras no sistema familiar. Sendo assim, o desenho resultará na interação entre as
individualidades de cada um.
O desenho dura cerca de 15 a 20 minutos, e durante todo o processo o
terapeuta não deve ajudar, apenas observar a organização da família para a
elaboração da atividade, e de que forma eles vão interagir - a execução que é o mais
importante.
Após o término, o desenho será prendido na parede, e todos, sentados, deverão
observar o desenho. Serão feitas perguntas com uma linguagem simples sobre como
foi o processo para cada um: “como foi?”, “como vocês se dividiram?”, “parece que
houve tal dificuldade. Como vocês resolveram?”, “quem ficou com cada cor?”, “o que
acharam do resultado final?”.
Através dessa conversa, o terapeuta constrói um “roteiro”, juntando o desenho
com a sua execução e pergunta à família, se é assim que acontece em casa, se a
descrição feita pelo terapeuta faz sentido para eles. Essa parte deve ser feita com
cuidado para que a família não se sinta constrangida. A história que eles contarem
provavelmente se assimilará com a história do dia-a-dia deles, pois no fundo A Nossa
Casa representa A Nossa Família.
A criança poderá levar o desenho no final do processo de psicodiagnóstico.

● Colagem
Tem o objetivo de ser utilizado tanto como experiência sensorial, como
também manifestação emocional. O processo por si só da colagem ou o relato
posterior desta, é o conteúdo mais significativo para o psicólogo. Muita coisa é
revelada através da seleção das figuras.
Material: figuras de revistas, tesouras, colas, cartolinas para serem usadas como
fundo, incluindo lápis preto e de cor, canetinhas e/ou giz de cera, caso haja interesse
em complementar a atividade com desenhos ou escrita.
As figuras são recortadas previamente; essas figuras devem abordar diversos
temas, não apenas temas que a criança se interessa. Não é recomendado a utilização
de figuras de artistas ou personagens, nem imagens com conotação sexual.
Pode ser feito dois tipos de colagem: o que a criança gosta e não gosta (nós
deixaremos a cartolina dividida ao meio para fazer a atividade e após concluída, os
pais vão entrar no setting (sem a criança) e observar as atividades de todas as
crianças para descobrir qual delas é a do filho - o terapeuta deverá observar se esse
processo foi difícil ou simples); e o álbum de família (a criança vai selecionar qual
imagem representa qual pessoa da família).
De modo geral deve ser observado:
● Tempo de reação;
● Postura e modo de reação — observação a distância, ou impulsividade,
descuido etc;
● Figuras escolhidas, figuras coladas, figuras abandonadas;
● Tema preferido;
● Tamanhos das figuras;
● Uso do espaço da cartolina;
● Uso do verso da cartolina;
● Localização das figuras na cartolina, coladas de forma aleatória ou ligadas,
apresentando uma organização ou aglutinação;
● Sentimentos expressos, impressões que a colagem causa ao ser observada;
● Figura central e/ou localização;
● Recortar a figura já cortada — para caber na cartolina, ou para separar, excluir
elementos;
● Associações, explicações, falas durante a atividade;
● Uso do lápis de cor, canetinhas — para molduras, ligações, complementos,
abandono da colagem para fazer desenhos;
● Modo de utilização da cola — em excesso, colocada cuidadosamente, pouca
quantidade.

● Consultas terapêuticas com pais e filhos


A proposta é apresentada como um momento em que eles poderão brincar
juntos. Entendendo que ao brincar a criança comunica experiências pretéritas e
atuais, e que se esse for um momento com o qual os pais compartilhem, a consulta
pode vir a se tornar terapêutica também para os pais, na medida em que mobiliza a
identificação e a empatia dos pais em relação à criança, levando-os muitas vezes a
rever aspectos de suas próprias experiências que podem estar ligados aos seus
próprios impedimentos de manterem-se capazes de serem suficientemente bons.
O terapeuta deve se manter como um facilitador do diálogo entre a criança e
seus pais,

● Desenho-Estória
Podemos sintetizar, dizendo que o Procedimento de Desenhos-Estórias tem
como características principais: 1) o uso de associações livres por parte do
examinando; 2) o objetivo de atingir aspectos inconscientes da personalidade; 3) o
emprego de meios indiretos de expressão; 4) a participação em recursos de
investigação próprios das técnicas projetivas; 5) a ampliação das possibilidades da
observação livre; 6) a extensão dos processos da entrevista semi-estruturada e
não-estruturada.
O Procedimento de Desenhos-Estórias consistem em cinco produções, que são
realizadas pelo examinando, sendo cada qual composta por desenho livre, estória,
“inquérito” e título. O examinando faz o primeiro desenho livre, com o qual verbaliza
uma estória e, em seguida, responde às questões do examinador, e por fim, traz um
título para essa unidade de produção.
Esse processo se repetirá 5 vezes, para serem realizados 5 desenhos-estória.
Pode se estender até duas sessões no máximo, porém a história deve ser contada na
mesma sessão que foi realizada o desenho. A história deve ser escrita em outra folha.
Vamos espalhar os lápis de cor e lápis preto no chão (o uso da borracha deve
ser evitado), entregar uma folha sulfite para a criança, na horizontal, e pedir que ela
faça um desenho (o que ela quiser); após concluir, é solicitado a criança que conte
uma estória associada ao desenho; se a criança tiver dificuldades para contar,
podemos estimular dizendo: “você pode começar falando a respeito do desenho que
fez”. Concluída essa fase, podemos questionar as razões de cada detalhe do desenho,
com o objetivo de compreender e interpretar tanto o desenho quanto a estória; Ao
final, pediremos um título.
O examinador tomará nota detalhada da estória, da verbalização do sujeito
enquanto desenha, da ordem de realização, dos recursos auxiliares empregados, das
perguntas e respostas da fase de “inquérito”, do título, bem como de todas as reações
expressivas, verbalizações paralelas e outros comportamentos observados durante a
aplicação.
Do ponto de vista da fenomenologia existencial, toda produção de uma criança
é compreendida como manifestação de seu modo particular de ser-no-mundo, ou
seja, como ela estabelece relações consigo, com o mundo e com os outros, a partir
dos sentidos dados às suas vivências. Com isso, o sentido do desenho é a atribuição
que a criança dá ao que ela própria faz ou desenha.

Aula 02

Visita Escolar
O psicodiagnóstico interventivo tem como pressuposto compreender a criança
no seu contexto, do qual faz parte a escola. Por isso é proposto a inclusão desse
contexto não só como parte do processo de avaliação, mas também como objeto de
intervenção, através de devolutivas e orientações em relação à queixa apresentada no
encaminhamento da criança.
Sendo assim, o objetivo é compreender a forma como a família e a criança se
relaciona com a escola e com o processo de aprendizagem, e compreender como a
criança está relacionada à queixa.
A visita também contribui para reduzir os riscos de toda a problemática infantil
ser atribuída apenas a problemas intrapsíquicos - como se o problema estivesse na
“cabeça” da criança.

O que deve ser observado:


● Espaço físico (quais espaços a escola oferece?)
● Higiene ambiental (é uma escola limpa? organizada?)
● Disposição do espaço e do mobiliário (os móveis/materiais estão bem
conservados?)
● Merenda (o que é oferecido? qual horário?)
● Materiais pedagógicos, livros e recursos audiovisuais (está atualizado? o que
tem disponível?)
Além dessas informações, o foco principal deve ser nas relações sociais da criança
com os amigos, professores e como a criança é percebida por eles.

Entrevistar o professor: saber como a criança se comporta na sala de aula e


como é o seu relacionamento com ele e com os colegas; na visão do professor, como
os pais acompanham a escolaridade do filho, se e como participam de festividades e
reuniões pedagógicas; como o professor se conduz diante das dificuldades
apresentadas pela criança.
Observar a criança: compreender como ela se relaciona com os professores e
colegas, como se organiza para a realização das tarefas que lhe são propostas, como
se relaciona com a aprendizagem, seu envolvimento e interesse.
Caderno escolar: olhar o material da criança como um todo, do começo ao
fim. Deve estar atento ao tamanho e legibilidade da letra, uso da borracha,
organização, erros cometidos, correções feitas pelos professores, identificar se foi
cópia da lousa, com auxílio do professor, sozinho e/ou em grupo; observar também o
cuidado com o material escolar. Se possível observe o caderno de outra criança da
mesma série, para fazer uma análise comparativa.
De forma resumida, iremos observar o ambiente - entrevistar o professor -
observar a criança - observar o caderno escolar. No momento em que for observar a
criança, não deixe que ela seja o foco, tente observar no recreio; e se a professora
começar a reclamar muito da criança, tente mudar o foco da conversa.

É importante comunicar os pais desde o primeiro contato, que talvez seja


necessária a realização dessa visita e quando for avisar que de fato a visita será
realizada, é necessário explicar tanto para eles quanto para a criança o porquê da
visita escolar. Será enviado uma solicitação para a escola, pedindo um relatório escolar
como também a permissão para a visita.
Concluída a visita, será programada uma sessão com os pais para expor as
impressões sobre o papel da escola na etapa do processo de aprendizagem em que a
criança se encontra, as relações pessoais que ela estabelece no ambiente escolar.

Visita Domiciliar
A função da visita é basicamente observar os padrões de interação familiar e a
adaptação ao papel familiar. Tem ainda um interesse especial no clima emocional da
casa, na identidade psicossocial da família e na sua expressão em um ambiente
definido.
A visita domiciliar não tem um caráter apenas investigativo e de observação,
ela possibilita a compreensão da estrutura e da dinâmica familiar e das relações que
nela se estabelecem e, mais do que isto, permite entrar em contato com o ambiente
físico, que revela aspectos fundamentais
A visita deve ser informal (não fique feito ‘estátua’, faça de forma leve), e durar
no máximo uma hora (se ver que está desconfortável para eles, pode encerrar antes).
Essa visita deve ser marcada quando todos (ou a maior parte da família)
estiverem presentes e com a permissão deles. Se os pais não autorizarem, pergunte o
porquê. Da mesma forma que será explicada a razão da visita escolar, explique
também o motivo da visita domiciliar.
Deve ser observado:
● cada membro da família e suas interações
● os aspectos da casa que mais chamam a atenção
● o que os pais permitem à criança fazer; a casa é organizada e limpa?
● Observe de acordo com a queixa e principalmente em torno dos membros da
família: como se relacionavam, qual a dinâmica que se estabelecia.
Deixe que a visita ocorra na parte da casa escolhida por eles.
As devoluções serão feitas apenas no setting terapêutico, na visita será apenas
observação.

Aula 03

Instrumentos de Avaliação
➔ CDI (Inventário de Depressão para crianças)
É avaliado sintomas afetivos, cognitivos e comportamentais da depressão em
crianças e adolescentes. Cada item possui três alternativas de resposta e a correção
varia em uma escala de 0 (ausência de sintoma), 1 (presença do sintoma), e 2 pontos
(sintoma grave).
◆ aplicação individual
◆ são 27 itens
◆ válido para crianças acima de 7 anos
◆ crianças novas ou que tenham dificuldade na leitura - pode auxiliar a leitura
◆ não permita que a criança responda sempre no intermediário
◆ Para ter o resultado, basta somar todos os itens.

➔ O que penso e sinto (RCMAS)


Se dividem em duas escalas, uma para avaliação de ansiedade e outra, chamada
“escala de mentira”; destina-se a uma avaliação qualitativa da concordância social da
criança e da validade das respostas na escala de ansiedade.
◆ aplicação individual
◆ são 37 itens
◆ válido para crianças acima de 7 anos
◆ crianças novas ou que tenham dificuldade na leitura - pode auxiliar a leitura
◆ Para obter o resultado, basta somar os 8 fatores separadamente, e depois,
somar o total (excluindo a escala da mentira). A soma total será avaliada em
uma tabela e a soma da escala da mentira será avaliada em outra tabela.

➔ EQIF (Escalas de Qualidade na Interação Familiar)


É verificado aspectos de interação familiar por meio do relato dos pais e dos filhos,
que respondem separadamente sobre sua interação. São 40 questões em sistema
Likert de cinco pontos (nunca, quase nunca, às vezes, quase sempre, sempre),
agrupadas em nove escalas. Seis delas abordam aspectos da interação familiar
considerados “positivos”: envolvimento, regras e monitoria, comunicação positiva dos
filhos, clima conjugal positivo, modelo parental, sentimento dos filhos. As outras três
referem-se a aspectos considerados “negativos”: comunicação negativa, punição
corporal, clima conjugal negativo.
◆ São 40 questões que devem ser respondidas pelos pais e pelos filhos,
separadamente
◆ Os pais irão levar para casa e responder cada um o seu questionário
◆ O filho responderá no setting terapêutico
◆ Material: folhas de respostas, lápis e borracha

➔ MASC (Escala Multidimensional de Ansiedade para Crianças)


Avalia sintomas de ansiedade em crianças e adolescentes. É composta por 39 itens
avaliados numa escala tipo Likert de 4 pontos (entre 0 = Nunca e 3 = Muitas Vezes). A
MASC possui quatro fatores principais, três dos quais com subfactores (a) Sintomas
Físicos (12 itens), que inclui os subfatores Tensão/Inquietude e Somático/Autonómico;
(b) Evitamento do Perigo (9 itens), composto pelos subfatores Perfeccionismo e
Coping Ansioso; (c) Ansiedade Social (9 itens), subdividido em Humilhação/Rejeição e
Desempenho Público; (d) e, finalmente, Ansiedade de Separação.
◆ aplicação individual
◆ são 39 questões de múltipla escolha
◆ válido para crianças acima de 8 anos
◆ crianças novas ou que tenham dificuldade na leitura - pode auxiliar a leitura

➔ Madeleine Thomas
◆ são 17 questões
◆ não tem tabela de correção - é um teste projetivo
◆ o aplicador pode escrever, caso a criança seja analfabeta. Se assim for, peça
para que a criança diga a história devagar, para poder escrever o mais
próximo possível do que foi dito.
◆ peça que a criança escreva o nome dela e a data
◆ Caso a criança peça para trocar a história, deixe as duas respostas transcritas
no papel.

Aula 04

Devolutiva
“O objetivo essencial da devolutiva deve ser, portanto, auxiliar o paciente a realizar
uma integração psíquica daqueles aspectos de sua personalidade que estão
dissociados, contribuindo, desse modo, para a preservação de sua identidade. Se isto
é conseguido, a devolução terá para ele um caráter terapêutico. Vale lembrar a
complexidade dessa tarefa, considerando-se as peculiaridades do desenvolvimento
da criança.”

Devolutiva com os pais: serve para que os pais compreendam as causas daquelas
questões iniciais do processo. O relatório irá contar a história que eles contaram e as
informações colhidas durante o processo (através das sessões, visitas, conversas com
os pais e testagens), que geraram uma compreensão sobre o que a criança tem e
qual encaminhamento deverá ser feito.

Devolutiva com a criança: deve ser comunicada à criança, de forma que ela
compreenda - através de conto de fadas, pois este representa o mundo infantil, e
separa através de suas histórias o bem do mal; isso facilita a compreensão da criança.
“Os contos de fada trazem à luz comportamentos latentes e manifestos, oferecem
mensagens de desenvolvimento e encorajamento, falando à criança muito mais
que qualquer outro tipo de literatura. O caráter mágico dos contos de fada tem
proximidade com o universo psíquico da criança, atingindo-o em suas diferentes
nuances, possibilitando que ela entre em contato com suas lutas internas e
problemas existenciais, bem como com outras batalhas que a aguardam no
decorrer de sua vida. Nos contos de fada o mal e o bem existem, mas estão
separados, e há um caráter moral em cada história”
Vamos contar a história da criança, em aspectos de um conto de fadas, de forma que
a criança compreenda o que ocorreu durante todo o processo do psicodiagnóstico.
Vamos explicar o porquê ela esteve ali e o que compreendemos dela. A história deve
ser legal, dinâmica e combinar com a criança, para que seja mais fácil a compreensão.
É importante escolher animais/objetos com características que combine com a
personalidade da criança.
“Consideramos que o livro de história é o resultado da compreensão de todo o
trabalho realizado no psicodiagnóstico. Ele contém aspectos significativos do
desenvolvimento da criança e de suas relações com o meio em que vive, assim como
uma compreensão de seus sintomas. Supomos que, desse modo, é possível dar a ela
um entendimento melhor de seu problema, contextualizando-o em sua história
familiar e pessoal, incluindo também seus recursos para lidar com as dificuldades
apresentadas.”
Nesta história precisa conter/ser:
● uma metáfora (não precisa contar exatamente a história dela)
● personagens que combine com a história e que não tenham sentidos
conotativos (ruins)
● contar o que é importante na história da criança - o que contribuiu para ela
estar aqui?
● deve conter os sintomas da criança (a queixa)
● precisa ser falado sobre a busca do atendimento e sobre a relação da criança
com os estagiários - a partir daqui, eu trago os aspectos coletados para a
devolutiva
● o final da história trará o encaminhamento ou mostrará que os problemas
foram resolvidos
● No final, perguntar o que a criança achou da história, o que mais gostou, se
desejaria mudar algo e qual solução ela daria para o final.
É importante aconselhar os pais a lerem o livro com a criança em outros momentos.

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