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Atividade 1 - M.H.

S PATTO – A produção do Fracasso escolar (CASO ÂNGELA,


p. 174 –184 do PDF)

Participantes: Carolina Costa, Emanuele Augusta, Gabriela Melo, Heitor Assis,


Isabela Zanella, Kesseni Soares e Natália Paiva

1- Qual a demanda apresentada no caso relatado?

A demanda apresentada pela escola e pelos pais de Ângela é referente


as dificuldades de aprendizagem da menina, bem como sua repetência frequente na
1ª série do ensino fundamental l, no qual deveria ser alfabetizada e vinha
encontrando dificuldades.

2- Quais instrumentos, técnicas e estratégias/procedimentos foram adotados


para conhecer e analisar (caracterizar) o contexto de atuação; e para
identificar e/ou detalhar as demandas?

A pesquisadora designada ao caso realizou visitas domiciliares a casa de


Ângela, além de anamneses com seus pais, separadamente. Primeiro com a mãe,
depois com o pai. Foram colhidas informações através de entrevista na Instituição
de Ensino da qual a criança fazia parte, conversando com suas professoras, que a
haviam encaminhado para uma classe de “repetentes fracos” dentro da escola.

Foram feitas observações dentro do ambiente escolar (especialmente na


sala de aula) e realizadas atividades lúdicas com Ângela em sua casa, que gerou
uma análise de desenhos e a utilização da técnica de roleplaying com a menina,
que interpretava o papel de sua professora na escola, enquanto seus
irmãos/mãe/pesquisadora eram seus alunos. A partir daí, a relação de cumplicidade
entre Ângela e a pesquisadora só continuou crescendo, o que fazia com que a
menina se sentisse mais confortável em dividir seus problemas com a pesquisadora,
que colhia as informações através da escuta ativa.

Por fim, foi feita uma Avaliação psicológica por uma psicóloga integrante
da equipe de uma das clínicas da Prefeitura, avaliando sua inteligência, capacidade
motora e personalidade. Os dois primeiros resultados foram considerados dentro do
padrão da normalidade e no terceiro foi possível entender mais sobre as angústias
internas que pairam sua vida.

3- Qual é o referencial teórico que sustenta o relato e quais são os principais


conceitos identificados no texto?

A partir da leitura do caso Ângela pode-se identificar um referencial


teórico psicanalítico. Ao longo do relato foi identificado conceitos da Psicanalise
como inconsciente, ato falho, projeção, castração, superego, entre outros.

A análise da relação de Cícera e de Ângela revela o referencial teórico


utilizado, ao observar a ambivalência presente nessa relação, no momento que os
filhos começam a realizar um desejo insatisfeito de seus pais - no caso, ser
alfabetizada - expectativas de sucesso, inveja e o peso da responsabilidade de
realizar tal desejo dos pais é depositado nos filhos, com isso Cícera é comparada ao
superego da filha. Também a forma como é analisado as brincadeiras de Ângela
pode-se identificar novamente o referencial teórico psicanalítico, onde a brincadeira
é um lugar em que Ângela, através da fantasia, elabora e expressa suas angústias.

Além disso, pode-se observar um referencial teórico da psicologia crítica,


onde é pontuada críticas a respeito da Escola como produtora da dificuldade de
aprendizagem de Ângela e a patologização das crianças com dificuldades
escolares. A seguinte passagem do relato explicita isso: “A medicalização do
fracasso escolar, tão cara aos educadores, transborda, portanto, os muros da
escola e atinge em cheio não só os pais como as próprias crianças”.

Por fim, também foi identificado o conceito de estigma da Psicologia


Social, Ângela enfrentou o estigma de ser marcada como uma aluna difícil que
apresentava problemas de aprendizagem.

4- Qual a problemática identificada?

A problemática indicada no decorrer do caso foi acerca da reprodução de


rótulos de deficiência mental, preconceitos, discriminação e estigma com Ângela e
sua família, por parte da escola Jardim e seus educadores. Desde cedo, aos 7 anos
de idade Ângela foi considerada inapta, submetida a uma classe para “repetentes
fracos”, onde teve que cursar pela segunda vez a primeira série, juntamente a 13
alunos. Quando na verdade o ensino e atividades de alfabetização da rede eram de
baixa qualidade. Ao separarem ela em uma classe onde já era esperado que
falhasse, automaticamente, fez com que passasse a evitar a escola e a
aprendizagem, acabando, por fim, sendo reduzida a patologização.

Cícera, a mãe de Ângela, diz pensar que a filha apenas foi reprovada
pela primeira vez porque não teve oportunidade de aprender, devido as faltas, por
preferir ficar em casa ajudando nas tarefas doméstica e no cuidado com os irmãos.
Leva em consideração também o fato de que “Por não ter amor na escola, não pode
ter amor à escola”, deixando clara a falta de afeto no ambiente escolar que pode ter
influenciado. Mostrando, dessa forma, a importância da escola em se relacionar
com a subjetividade dos alunos, não levando apenas os problemas familiares em
consideração, como causa, e sim, toda sua experiencia escolar.

Os posicionamentos de alguns educadores de certa forma também


colaboraram para a problemática, como por exemplo, atribuir à Ângela o diagnóstico
de deficiência mental, sem ao menos um laudo cuidadoso. Ou atitudes como a de
relatar à pesquisadora que a mãe de Ângela é paranoica, enfatizando que só
aceitou a presença da pesquisadora nas aulas pois não tinha mais esperanças que
algum dia ela seria aprovada para a série seguinte, e já estava cansada de mandar
as crianças para psicóloga e não obter os resultados dos testes psicológicos. A
escola, por sua vez, insistia sempre em perguntar aos pais de Ângela se havia “algo
de errado” com a mesma, incitando assim ansiedade, ao pensar se ela realmente
possuía alguma deficiência.

Além disso, em diversas situações, ficou claro um preconceito por conta


da classe econômica baixa da família, seja pelo bairro em que moram, ou até
mesmo por todos na família serem analfabetos, durante todas as entrevistas
pediram desculpas envergonhados por “não saber falar direito”. Além do mais, em
dado momento Neide, uma das educadoras se referiu aos pais de Ângela como os
“nortistas ignorantes” em um claro ato de xenofobia. O rótulo, estigmatização,
empregado na escola já era corriqueiro, visto que os professores se referiam aos
alunos como “competentes” e “incompetentes”, fazendo comentários ruins, inclusive,
na frente dos próprios alunos, que por sua vez interiorizavam isso. Toda essa
situação pode ser exemplificada, quando Neide separa Ângela de sua melhor amiga
propositalmente, que disse que não queria saber de amiga burra, ficando então,
sozinha.

Todavia, após todo atendimento com a pesquisadora e uma avaliação


psicológica adequada, feita pela psicóloga integrante da equipe da prefeitura, ficou
evidente que Ângela não possui qualquer quadro de distúrbio de atenção,
psicomotricidade, deficiência na linguagem, imaturidade emocional, e muito menos
de deficiência mental. Pelo contrário, ela possui o desempenho igual a seus colegas
que foram aprovados, ela apenas não entendia explicações que na verdade eram
incompreensivas, dado a didática dos professores. No relatório final da experiencia
escolar de Ângela ficou velada toda a real causa de toda a experiência escolar
(repetição), dando a entender que seu comportamento escolar interdependesse da
escola, onde foi reprovada e estigmatizada. E, convenientemente para o sistema, o
social e para a política, a causa de tudo, segundo o relatório, acabou sendo por
suas experiencias e conflitos familiares, “conflitos muito intensos a nível emocional”.

5- Quais foram os objetivos gerais e específicos definidos para a intervenção?

Dentro do contexto da obra de Maria Helena Souza Patto como um


todo, sendo este o de rever a chamada “produção” do fracasso escolar, o objetivo
do caso Ângela segue esta diretiva inicial, assim como os outros três casos que são
narrados ao longo do sexto capítulo do livro.

Dado isto, observa-se que o objetivo geral desta intervenção em


específico, teve como proposta rever a análise do fracasso escolar de Ângela,
porém de uma perspectiva mais subjetiva e profunda do que simplesmente a visão
de “aluna problema”, investigando seu contexto familiar, psicológico,
socioeconômico e escolar.

Em relação aos objetivos específicos, pôde-se observar que se dividiram


em duas partes que focavam separadamente alguns aspectos centrais. O primeiro
se ateve em analisar a relação intrafamiliar de Ângela, buscando respostas para o
seu comportamento escolar, como sendo consequências de possíveis conflitos
psíquicos. E o segundo objetivo procurou analisar, pormenorizadamente, o cotidiano
escolar da aluna e sua relação com o corpo docente e discente, a fim de encontrar
questões no projeto pedagógico que também pudessem estar afetando o seu
desempenho nos seus mais diversos aspectos.

6- Com relação à metodologia, quais foram as técnicas e


estratégias/procedimentos de intervenção adotadas?

O caso Ângela, da obra de Maria Helena Souza Patto utiliza da


metodologia de pesquisa de campo, pois abrange o pesquisador em um contato
direto com o objeto de estudo, por meio de visitas domiciliares a casa de Ângela,
além de entrevistas individuais com os pais da Ângela e com as professoras da
criança, além disso houve uma coleta de informações com a instituição de Ensino.

Além disso, abrange também uma pesquisa quanti-quali, se classifica


qualitativa porque a pesquisadora expõe suas opiniões e interpretações diante do
estudo de caso. E quantitativa pois consiste em observações e entrevistas
realizadas dentro do ambiente familiar, escolar. E por fim, uma Avaliação
psicológica, na própria escola, realizado por uma psicóloga integrante da equipe de
uma das clínicas da Prefeitura.

As intervenções e estratégias adotadas pela pesquisadora foram a escuta


ativa, atividades lúdicas, brincadeiras e roleplaying no qual a criança interpretou o
papel da professora e a pesquisadora foi a sua aluna.

7- Articulando com os conteúdos teóricos trabalhados, faça uma análise


crítica da intervenção – instrumentos, técnicas, estratégias/procedimentos
utilizados.

A leitura do caso proporcionou uma ótica crítica a respeito do papel da


psicologia na educação. Através da história de Ângela, temas como patologização e
estigma foram abordados, já que a menina é inicialmente considerada causa do
próprio fracasso escolar. A carência de questionamentos a respeito dos contextos
escolar, familiar e socioeconômico que a criança está inserida trouxe diversos
prejuízos para o processo educacional de Ângela. A proposta de intervenção trazida
pela psicóloga considerou dimensões política e social, além da atenção para a
subjetividade da criança; assim, a origem das dificuldades de Ângela não se
restringiu aos dificultadores familiares como antes sugerido.
O conhecimento da história familiar anterior à Ângela se mostrou
essencial para a condução adequada do caso. Por meio dos procedimentos, foi
notado o quanto as expectativas e responsabilidades impostas pela mãe alteram a
visão de Ângela sobre si, revelando uma confusão identitária e uma postura de
inferioridade e submissão diante a vida. Entretanto, outro ponto que corrobora com
o fracasso escolar é a atitude do próprio corpo docente, que mantinha uma conduta
rígida e persecutória com os alunos, afetando o comportamento e o desempenho da
criança dentro e fora da escola, uma vez que desperta medo e ansiedade.

É importante ressaltar o sexo como tabu na família, apesar da casa não


sustentar uma privacidade para tal atividade; daí o destaque dado para a relevância
da educação sexual nas escolas. Ainda no âmbito familiar, notou-se uma disputa
entre mãe e filhos pela atenção da pesquisadora. Apesar desse ambiente com
potencial para comprometer o trabalho que estava sendo feito com Ângela, a
profissional não entrou na demanda dos demais membros da casa e seguiu seu
trabalho com foco no cuidado direcionado para a garota.

Muitas das atividades propostas envolviam brincadeiras e conversas;


assim, por meio do lúdico, discutiam temas como sexo, escola e família. Através
dessas dinâmicas, a menina criou um vínculo com a psicóloga, permitindo que
grandes avanços fossem realizados, proporcionando um ambiente seguro que a
impulsionou tanto no aprendizado acadêmico, quanto em questões subjetivas.
Deste modo, a técnica se mostrou efetiva e adequada a idade da criança, aflorou
curiosidade, agilidade, interesse, despertou energia, melhorou relações
interpessoais e descartou todas as hipóteses estigmatizantes anteriores.

Conclui-se então, que a pesquisadora teve ao longo do processo uma


postura ética frente aos envolvidos no caso, respeitando os limites e as
potencialidades de cada um, especialmente Ângela. Nesse mesmo sentido, o laudo
apresentado pela psicóloga foi claro e objetivo, priorizou o bem estar da criança,
seguiu direção oposta aos rótulos, além de apresentar uma visão ampla a respeito
da problemática a fim de propor recomendações cabíveis.a

REFERÊNCIA
PATTO, Maria Helena Souza. A produçäo do fracasso escolar: histórias de
submissäo e rebeldia. In: A produçäo do fracasso escolar: histórias de
submissäo e rebeldia. 1987. p. sp-sp. Pags. 346 a 367.

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