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O manual escolar “História Sob Investigação (HSI)” apresenta o tema “A abertura ao

mundo” dentro do capítulo “Expansão e mudança nos séculos XV e XVI”, e destina 30


páginas para abordar a referida realidade histórica. Antes de entrar propriamente no conteúdo,
o manual traz duas páginas de contextualização, que trabalham as questões de “quem?”,
“onde?” e “quando” e propõem seis questões para serem investigadas pelo estudante ao longo
do capítulo.

O título “A abertura ao mundo” está divido em 13 subdivisões, como, por exemplo:


“Motivações da expansão”; “Condições da expansão portuguesa”; e “Rumos e etapas da
expansão no tempo do Infante D. Henrique”. Cada uma das subdivisões apresenta uma página
inicial com um conjunto de fontes e questões norteadoras para serem trabalhadas pelos
estudantes. E, ao final do tema, há uma página de resumo em texto e um mapa mental dos
conhecimentos acerca da Expansão Marítima, e uma outra página onde são propostos alguns
exercícios com base em fontes históricas. De forma geral, o manual traz um bom
encadeamento de informações, que são integradas de forma coesa.

Em relação às subdivisões encontradas no HSI, elas seguem à risca os pontos


prescritos nas Aprendizagens Essenciais, mas não necessariamente na mesma ordem proposta
pelo documento curricular. Então, por exemplo, nas AE, encontramos os pontos “Caracterizar
sumariamente as principais civilizações de África, América e Ásia à chegada dos europeus” e
“Distinguir formas de ocupação e de exploração económicas implementadas por Portugal em
África, Índia e Brasil, considerando as especificidades de cada uma dessas regiões” que estão
agrupados nas seguintes subdivisões: “As civilizações de África aquando da expansão
Europeia”, “As civilizações da Ásia aquando da expansão Europeia”, “As civilizações da
América aquando da expansão Europeia”.

O manual ainda adota algumas ações estratégicas de ensino propostas pelas AE, tal
como “Utilizar os conceitos operatórios da História para a compreensão dos diferentes
contextos” que se traduz em uma atividade de análise de fontes no subtema “A submissão
violenta de povos: uma realidade da expansão”, em que o HSI traz uma fonte textual e
pictográfica sobre a exploração do trabalho infantil em 2021 para fazer com que os estudantes
reflitam se “a escravatura foi um problema do período da expansão”. Por outro lado, o manual
HSI não extrapola o conteúdo previsto nas AE, limitando as informações e as atividades ao
que está mencionado no referido documento curricular. Assim, cabe ao professor trazer novos
assuntos ou novas questões para serem trabalhadas em sala de aula.
No capítulo analisado, o manual HSI apresenta uma página de texto explicativo por
subdivisão. Dado o limite espacial, as informações são claras, mas bastante concisas e, por
vezes, superficial demais. De igual modo, o conteúdo limita-se aos conceitos substantivos,
nomeadamente o conhecimento factual, e não explora outras dimensões do conhecimento
histórico, como os conceitos meta-históricos. Assim, para responder as perguntas do capítulo,
o aluno não precisa refletir sobre sua aprendizagem, apenas extrair informações interpretavas
da fonte ou do texto didático. O manual HSI traz, portanto, uma relação de ensino-
aprendizagem que se sustenta, em grande medida, pela memorização do conteúdo e pela
reprodução do conhecimento, e não por uma análise mais profunda que tenha como objetivo a
produção do conhecimento.

Ao analisar as fontes utilizadas no manual HSI, pode-se constatar que existe uma
preocupação em diversificar seu suporte e estatuto. Em um mesmo conjunto, é possível
encontrar diferentes fontes, fazendo com que o estudante tenha que saber interpretar a
informação nelas contida. O subtema “Motivações da expansão”, por exemplo, traz fontes:
escritas – primárias e secundárias – e uma imagem produzida no século XV. Assim, é feita
uma seleção positivamente diversificada das fontes para o manual HSI que propicia ao
estudante uma visão mais ampla sobre a obtenção do conhecimento histórico, que, por vezes,
é limitado à fonte escrita. Portanto, as imagens e esquemas presentes no manual são bem
aproveitados, posto que não são utilizados apenas como “ilustração”, mas possuem um
sentido analítico de fonte histórica, mesmo que de modo raso.

O manual HSI traz uma série de atividades para serem realizadas em sala de aula:
algumas referente às fontes históricas apresentadas no início do subtema e que trazem um
enfoque maior na investigação e análise das fontes para chegar à resposta; e, também, uma
“questão-aula”, que pretende ser uma pergunta que resume o conteúdo visto naquele subtema.
Entretanto, o nível de complexidade das questões é relativamente baixo, visto que nenhuma
delas propõe o desenvolvimento de destrezas mais complexas, como relacionar, avaliar e
criticar.

Outro ponto que se destaca na análise é a utilização de dois termos nos textos não são
os mais indicados pela historiografia mais recente: a palavra “índio” poderia ser substituída
por “indígena” e “escravo” poderia ser substituída por “escravizado”. No capítulo investigado
para este trabalho, não há nenhum recurso de transversal e encontra-se apenas uma menção –
bem simplista – aos âmbitos do saber popular/tradicional. Ao falar sobre a exploração no
Brasil, o manual menciona um aspeto da cultura popular brasileira – a capoeira. Por outro
lado, há uma preocupação em traçar uma interligação com situações cotidianas da vida
quando propõe ao estudante, no tópico “Vou à descoberta”, que identifique nomes de praças
ou ruas ligados à expansão.

De forma geral, o manual HSI pouco se dirige exclusivamente ao professor. A única


parte “exclusiva” do docente é o box na lateral da páginas que traz a sugestão de resposta às
perguntas feitas. Assim, pode-se aferir que o manual não incentiva a autonomia docente, nem
propicia um papel ativo do professor nas tomadas de decisão. O ofício do professor parece ser
limitado a seguir o que está prescrito no manual, sendo o livro o único mediador das
Aprendizagens Essenciais em sala de aula e o professor um simples “executor” do currículo.

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