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O discurso proferido por Mussolini tem, indubitavelmente, um tom épico.

A
escolha das palavras é meticulosa e busca reforçar a grandiosidade do Estado italiano. O
Duce inicia sua fala trazendo o número impressionante de 20 milhões de italianos que
estariam a ouvir seu discurso, ou, como o próprio caracteriza, o “espetáculo mais
gigantesco”. Neste primeiro momento, Mussolini reforça também a ideia de uma
unidade do povo italiano em “um coração, uma vontade, uma decisão” e que “a Itália e
o fascismo constituem uma identidade perfeita, absoluta e inalterável”.

A seguir, o chefe italiano retoma o período pós-Primeira Guerra Mundial para


destacar a traição dos Aliados que deram apenas “algumas migalhas” para a Itália e a
paciência que o país demonstra em relação à esta situação, bem como em relação à
Etiópia. Assim, Mussolini entoa um discurso vitimista que reforça uma ideia de
injustiça e que serve como justificação para as ações do governante. Ademais, Mussolini
menciona as Sociedade das Nações de forma estratégica para enaltecer a França e a
Inglaterra e reafirmar que estes países jamais apoiariam qualquer tipo de sanção à Itália.

O Duce traz ainda traz uma tónica bélica para afirmar que as reações da Itália
serão na mesma medida do que for feito ao país: “Responderemos aos atos de guerra
com atos de guerra” e que lutarão até o fim antes de desistir. O líder italiano ainda
tranquiliza seus ouvintes ao dizer que não pretende que a guerra colonial se transforme
em um conflito europeu. Por fim, o discurso epopeico termina com a exaltação do povo
e dos feitos da Itália.

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Hitler constrói seu discurso habilmente no sentido de evocar o “inimigo comum”


e a necessidade de combatê-lo. Seu discurso pode ser dividido em quatro partes, que são
encadeadas de forma muito natural e quase imperceptível. Inicialmente, o líder alemão
pontua o objetivo da sua política externa: “assegurar a existência dos nossos súbditos
alemães” e “servir ao povo germânico” que funciona como uma justificação para os atos
que pretende realizar frente à Checoslováquia.

A seguir, Hitler recorre ao passado recente, especificamente a conjuntura pós-


Primeira Guerra Mundial, para enquadrar a Alemanha como a grande injustiçada. Neste
sentido, o discurso do Führer enfatiza como desarmamento imposto pelo Tratado de
Versalhes foi responsável pelo “terrível destino” da Alemanha e que, mesmo assim, o
país tornou-se “grande, livre e forte” por causa da força do próprio povo. Neste
contexto, Hitler realça seu desejo de manter a “política de paz” quando propôs “uma
série de acordos como sinal visível de esquecimento de qualquer vingança [...] do resto
do mundo”, mas que, entretanto, foram todos recusados. De forma minuciosa, Hitler
menciona a relação de paz durável que procurou estabelecer com a Inglaterra e com a
França. Entretanto, mesmo mostrando um tom pacifista, Hitler não perde a retórica
bélica ao intitular-se “um soldado de primeira linha”.

Posteriormente, o líder alemão menciona os dez milhões de alemães que viviam


fora da Alemanha e que “ansiavam por ter o Reich como a sua pátria”, e afirma que não
poderia negligenciar estes alemães ou não teria o “direito moral de ser o Führer da
nação alemã”. Por isso, tal como a França reclamou a volta de três milhões de franceses
que viviam na Alsácia, a Alemanha também poderia insistir pelo repatriamento dos dez
milhões de alemães. Assim, ao trazer o exemplo francês, Hitler busca dar legitimidade
para seu objetivo final, que é, precisamente, anexar os Sudetos à Alemanha. Em
contrapartida, já começando a desenhar o inimigo e a deslegitimar suas ações, Hitler
critica a atitude de Edvard Benes de anexar a Eslováquia e criar a Checoslováquia,
sendo que os eslovacos não queriam ter nada em comum com os checos,
“contrariamente ao direito de autodeterminação”. Hitler caracteriza, ainda, o “reino do
terror” criado por Benes na Checoslováquia, principalmente no que tange os alemães
que lá viviam.

Prosseguindo, o Führer relata todas as tentativas diplomáticas de resolver a


situação, sempre contrapondo sua atitude pacífica com a reação violenta de Benes. Por
exemplo, Hitler afirma que o presidente checo mentiu ao afirmar que a Alemanha havia
promovido conflitos no território e que isto deu pretexto à ocupação militar checa dos
Sudetos, e que a Alemanha “Nem sequer havia pensado em solucionar esse problema
com os métodos militares”. Entretanto, Hitler afirma que “com respeito no problema
dos sudetos, a minha paciência chegou ao fim”, que Benes deveria entregar aquele
território até o dia 1º de outubro e que “ele [o presidente checo] tem a paz ou a guerra
em suas mãos”. No final de seu discurso, o líder alemão menciona diversas vezes que
ele é um soldado do seu povo e que a decisão do que se prosseguirá é do presidente
checo. Neste sentido, Hitler quer dar um caráter de inevitabilidade à guerra que ele já
planeava iniciar, ao mesmo tempo que se redime da responsabilidade por ela.

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