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1.

O contexto histórico

Antes de proceder a análise das fontes selecionadas para este trabalho, é


fundamental realizar uma breve contextualização acerca dos discursos de Mussolini e de
Hitler.

1.1. O regime fascista italiano e a invasão da Etiópia

Desde o começo da década de 1920, a Itália passou a reavaliar sua política


colonial em África e, inicialmente, pretendia estabelecer uma influência pacífica na
Etiópia, através de acordos diplomáticos e comerciais. Contudo, as tentativas de
inserção económica italiana encontraram uma resistência por parte do governo etíope, e
a colaboração entre os países não saiu do papel. Em dezembro de 1934, ocorreu o
incidente de Wal-Wal, um confronto armado entre soldados somalis a serviço da Itália e
soldados etíopes na província de Ogaden, um território etíope a 160 quilómetros da
Somália italiana, resultando na morte de mais de 140 pessoas. Após o episódio,
Mussolini apresenta uma série de exigências que, caso não fossem cumpridas, poderia
resultar numa invasão. Diante disto, Hailé Selassié, o imperador etíope, pediu a
submissão do assunto à arbitragem internacional. A Itália, por sua vez, não aceitava
qualquer tipo de arbitragem, iniciando, assim, um jogo diplomático (Marques, 2008).

Em abril de 1935, Mussolini concordou em estabelecer uma comissão de


arbitragem, desde que somente a responsabilidade pelo incidente fosse investigada e
nenhum etíope fizesse parte da comissão. Apenas no dia 3 de setembro a comissão
organizada chegou a um parecer que considerava que tal assunto não se relacionava à
Sociedade das Nações (SDN) e, por isso, não deveria haver o envolvimento de uma
responsabilidade internacional. No dia seguinte, o governo italiano apresentou ao
Conselho da SDN um dossiê no qual a Itália reivindicava uma prioridade sob a Etiópia,
pois havia sido o primeiro país a realizar uma “obra civilizatória” na região. Como
consequência, um novo comitê da SDN foi designado para elaborar uma nova
negociação, que foi entregue a 18 de setembro e recusada pelo conselho de ministros
italianos três dias depois (Marques, 2008).

Ainda em setembro, o ministro inglês Samuel Hoare realizou um discurso na


Assembleia da SDN em que defendia a manutenção da paz. Neste sentido, a Inglaterra
anunciou que reforçaria a esquadra naval no Mediterrâneo, principalmente em
Alexandria, sendo apoiada pela França. Percebendo as reais intenções de Mussolini, o
imperador etíope ordenou, a 28 de setembro, uma mobilização geral para que os
exércitos se mantivessem a 30 quilómetros da fronteira da Eritreia. Diante deste cenário,
Mussolini aumentou as tropas italianas na Líbia, utilizando esta tensão diplomática para
entusiasmar o povo italiano frente ao projeto expansionista em África (Marques, 2008).

É precisamente neste contexto que se insere o discurso de Mussolini analisado


no presente trabalho. No dia 02 de outubro de 1935, às 15h30, o chefe italiano, a partir
do Palazzo Venezia, anunciou, com um discurso transmitido pelo rádio, o início das
hostilidades contra a Etiópia para o dia seguinte. Assim, em 3 de outubro de 1935,
Mussolini inicia o ataque à Etiópia.

1.2. O regime nazista alemão e a anexação dos Sudetas

Em 1º de outubro de 1933, o alemão Konrad Henlein funda o Partido Alemão


dos Sudetas na Checoslováquia com a ajuda financeira do Ministro das Relações
Exteriores da Alemanha. Dentre as reivindicações do Partido, estava a exigência de
autonomia para a região. Por sua vez, o presidente checo Edvard Benes rejeitava esta
solicitação, pois a via como um prelúdio à anexação. Após a incorporação da Áustria à
Alemanha em março de 1938, o clima de tensão aumentou, uma vez que Hitler passou a
defender os alemães da Checoslováquia e este país agora encontrava-se cercado pela
Alemanha por três lados. Ademais, o Partido Alemão dos Sudetas ganhava cada vez
mais popularidade e nas eleições municipais realizadas em junho, levou mais de 90% do
total de votos nos Sudetas (Gilbert, 2016).

Buscando evitar uma guerra contra a Alemanha, no dia 8 de setembro, o


presidente Benes fez uma proposta ao Partido Alemão dos Sudetas que incluía um
empréstimo financeiro para investir na indústria da região, uma política de autonomia
local e igualdade para o idioma, e a completa autonomia regional. Entretanto, a oferta
foi recusada, e em todo o território dos Sudetas ocorreram manifestações a favor da
anexação à Alemanha. Neste contexto, Hitler declarou que a “opressão” dos alemães
dos Sudetas pelos checos precisava acabar, o que foi entendido como uma conclamação
de uma revolta. No dia 20 de setembro, a Inglaterra e a França propuseram a realização
de um plebiscito e a cessão das áreas de língua alemã da Checoslováquia que tivessem
votado a favor da união à Alemanha. Este plano correspondia às intenções de Hitler, que
aceitou mediante duas condições: a ocupação de tropas alemãs nas áreas de língua
alemã e a entrega de todos os materiais bélicos da região dos Sudetas à Alemanha
(Gilbert, 2016).

Assim, no dia 26 de setembro, Hitler faz um discurso no Berlin Sportpalast


assistido por dezenas de milhares de pessoas para explicar as suas decisões em relação à
crise dos Sudetas (Diário Carioca, 1938). Tal discurso, que será analisado a seguir,
precede o Acordo de Munique, assinado quatro dias depois por Neville Chamberlain,
Édouard Daladier, Mussolini e Hitler, que define os detalhes da transferência dos
Sudetas para a Alemanha sem a participação da Checoslováquia. Em 01 de outubro de
1938, foi iniciada a ocupação dos Sudetas pelas tropas alemãs, concluída dez dias
depois.

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