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BREVE

HISTÓRIA
DAS
ARTISTAS
MULHERES
Susie Hodge
Sumário 54 Timocleia matando o capitão trácio,
Elisabetta Sirani
6 Introdução 56 Natureza-morta com flores em um vaso
9 Como usar este livro de vidro, Rachel Ruysch
58 Autorretrato segurando um retrato da
irmã, Rosalba Carriera
MOVIMENTOS
60 O julgamento de Páris, Angelica
12 Renascimento
Kauffman
13 Maneirismo
62 Autorretrato com duas pupilas, Adélaïde
14 Era de ouro holandesa Labille-Guiard
15 Barroco 64 Madame Vigée-Lebrun e sua
16 Rococó filha, Jeanne-Lucie-Louise,
17 Neoclassicismo Élisabeth Vigée-Lebrun
18 Naturalismo 66 Cena de conversa, Lilly Martin Spencer
19 Impressionismo 68 Hiawatha, Edmonia Lewis
20 Pós-impressionismo 70 Mãe e irmã da artista, Berthe Morisot
21 Art Nouveau 72 Escócia para sempre!, Elizabeth
22 Expressionismo Thompson, Lady Butler
23 Cubismo 76 Interior azul, Harriet Backer
24 Futurismo 78 Gado em repouso numa encosta dos
25 Raionismo Alpes, Rosa Bonheur
26 Construtivismo 80 Vertumno e Pomona, Camille Claudel
27 Suprematismo 82 O banho da criança, Mary Cassatt
28 Dadaísmo 84 A poção do amor, Evelyn De Morgan
29 Harlem Renaissance 86 Ataque, Käthe Kollwitz
30 Surrealismo 88 A escultora Clara Rilke-Westhoff,
31 Art Déco Paula Modersohn-Becker
32 Arte concreta 90 As dez maiores, No 2, Infância,
33 Expressionismo abstrato Grupo IV, Hilma af Klint
34 Op Art 92 Apollinaire e seus amigos, Marie
35 Pop Art Laurencin
36 Nouveau Réalisme 94 Ciclista, Natalia Goncharova
37 Arte feminista 96 Composição com figuras, Liubov
Popova
38 Arte performática
98 Autorretrato com fundo preto,
39 Arte conceitual
Helene Schjerfbeck
100 O quarto azul, Suzanne Valadon
OBRAS
102 Alta finança, Hannah Höch
42 Autorretrato com cavalete, Sofonisba
104 Concha No 1, Georgia O’Keeffe
Anguissola
106 Retrato de Ekaterina Serebriakova, filha
44 Noli Me Tangere, Lavinia Fontana
da artista, Zinaida Serebriakova
46 Natureza-morta com queijos, alcachofra
108 Do outro lado do Yarra, Clarice Beckett
e cerejas, Clara Peeters
110 Três moças, Amrita Sher-Gil
50 O alegre beberrão, Judith Leyster
112 Retrato de Mildred Myers Oldden,
52 Autorretrato como alegoria da Pintura,
Alice Neel
Artemisia Gentileschi
114 A coluna partida, Frida Kahlo 177 Sustento da família
116 Composição, Lee Krasner 178 Royal Academy
118 Meeira, Elizabeth Catlett 179 Peintre des Mesdames
120 Ulu’s Pants, Leonora Carrington 180 Académie Royale
124 Homenagem à Grécia, Agnes Martin 181 Exaltar o feminino
126 Sem título, Mira Schendel 182 Vocação
128 A baía, Helen Frankenthaler 183 Sororidade
130 Sem título, ou Ainda não, Eva Hesse 184 Contradizer “o sexo passivo”
132 Três figuras de Família do homem, 185 Salão de Paris
Barbara Hepworth 186 Apoiar outras artistas mulheres
134 Primavera em Washington, Alma Thomas 187 Ponto de vista feminino
136 O banquete, Judy Chicago 188 Artesanato feminino
138 As vantagens de ser uma artista mulher, 189 Mudar opiniões
Guerrilla Girls 190 Arte abstrata
140 Certo dia, Bridget Riley 191 Assertividade
142 Fantasma, Rachel Whiteread 192 Prix de Roma
144 A estrela ferida (L’Estel Ferit), 193 Rejeitar a autoridade masculina
Rebecca Horn 194 Desafiar o desprezo
146 Plano, Jenny Saville 195 Questionar democracias
148 Avestruzes bailarinas do filme “Fantasia”
da Disney, Paula Rego TEMAS
150 Retopística: uma escavação renegada, 198 Autorretrato
Julie Mehretu 199 Identidade
154 Aranha gigante abaixada, 200 Religião
Louise Bourgeois 201 História
156 Picturesque (Painel III: Of Your), 202 Sentidos
Kara Walker 203 Trabalho de mulher
158 Nature morte aux grenades, 204 Gênero
Mona Hatoum 205 Herança cultural
160 Invasão, Martha Rosler 206 Natureza
162 Consequências da obliteração da 207 Individualidade
eternidade, Yayoi Kusama 208 Imagem do corpo
164 A artista está presente, 209 Nu
Marina Abramovic
210 Memória
166 Dress-Stage, Rosemarie Trockel
211 Confronto
168 Somos livres para escolher, mas não estamos 212 Raiva
livres das consequências de nossas escolhas:
213 Transformação
Chegada e Partida, Lin Jingjing
214 Raça
215 Ambiente
INOVAÇÕES
216 Conflito
172 Lutar por igualdade
217 Empatia
173 Rejeitar a “mulher-objeto”
174 Ontbijtje
218 Índice
175 Accademia delle Arti del Disegno
223 Museus
176 Independência
224 Créditos das imagens
8 INTRODUÇÃO

Inovações
HELEN FRANKENTHALER: “NÃO EXISTEM REGRAS. É ASSIM
QUE NASCE A ARTE, QUE OCORREM AS INOVAÇÕES. QUEBRE AS
REGRAS OU IGNORE-AS. INVENÇÃO É ISSO”
O escritor e filósofo romano Plínio, o Velho (23-79 d.C.),
relacionou várias artistas de sucesso da Grécia e da Roma
antigas. No entanto, após a queda de Roma, as mulheres não
tiveram mais permissão para exercer funções tão importantes
e somente no século xvi passaram a obter um mínimo de
reconhecimento por suas habilidades.
Devido, em grande parte, a uma mudança de atitude em
relação à educação feminina, promovida sobretudo pela obra
O cortesão, as primeiras artistas de renome vieram da Itália
durante o renascimento. A partir dali, mulheres especialmente
determinadas lutavam contra as restrições de vez em quando e
produziam obras de arte que abriam novos caminhos.
Este capítulo do livro explora algumas dessas inovações,
como as primeiras mulheres a se tornarem membros da Royal
Academy e da Académie Royale; as primeiras pinturas abstratas;
as artistas que eram responsáveis pelo sustento da família; e
obras de arte que transformaram o que tradicionalmente se
considerava “artesanato feminino” em arte erudita.

Temas
MARY CASSATT: “SOU INDEPENDENTE! CONSIGO SOBREVIVER
E ADORO TRABALHAR”
Diferentemente do assunto, o tema geralmente é uma presença
implícita numa obra de arte. Os temas podem ser óbvios ou
obscuros, universais ou singulares, complexos ou simples, e cada
artista os interpreta de uma forma.
Este capítulo do livro contempla 22 temas que têm sido
explorados pelas artistas mulheres. Ele investiga por que as
pessoas escolheram certos temas e por que os interpretaram
de tal forma. Uma vez que os pontos de vista e as atitudes das
mulheres costumam contrastar com os de seus colegas homens,
seus temas muitas vezes parecem diferentes e essas diferenças é
que são particularmente exploradas neste capítulo.
Muitas vezes os temas artísticos transmitem mensagens
sobre a vida, a sociedade ou a natureza humana, geralmente
de forma implícita e não representados explicitamente. Certos
temas são mais predominantes durante determinados períodos
– por exemplo, a religião no renascimento.
9

Como usar este livro


O livro está dividido em quatro capítulos: ajudam a fornecer uma visão geral de como
Movimentos, Obras, Inovações e Temas. as coisas se relacionam e se entrecruzam
Ele pode ser lido na íntegra, ou você pode no mundo da arte, de como as ideias e
ler os capítulos na ordem em que preferir. mudanças se desenvolvem. Os blocos em
No rodapé de cada página você encontrará destaque apresentam fatos importantes e
referências a outras partes do livro, que informações sobre as artistas.

12 MOVIMENTOS MOVIMENTOS 13

Renascimento 1400

Maneirismo 1520
– Datas importantes
1550 1600
PRINCIPAIS ARTISTAS: SOFONISBA ANGUISSOLA • FEDE GALIZIA • PROPERZIA PRINCIPAIS ARTISTAS: LAVINIA FONTANA • LUCIA ANGUISSOLA
DE ROSSI • CATARINA VAN HEMESSEN • CATERINA DE VIGRI • LAVINIA FONTANA DIANA SCULTORI
Principais artistas
Durante o renascimento, ocorreram O maneirismo se desenvolveu entre 1510 e Católica, pregando suas 95 teses na porta da
profundas mudanças culturais na Europa 1520 em Florença ou em Roma ou simul- igreja de Todos os Santos, em Wittenberg,
com a expansão do comércio e a desco- taneamente nas duas cidades. O estilo em 1517, e desencadeando a Reforma
berta de continentes antes desconhecidos. englobava uma série de abordagens diferen- Protestante. Depois disso, para alguns
Após a queda de Constantinopla, em 1453, tes, sobretudo em reação ao idealismo e ao artistas, a serenidade e o classicismo da arte
eruditos bizantinos migraram para a Itália naturalismo da arte do alto renascimento. do alto renascimento pareciam incon-
e introduziram ideias da Grécia antiga que O termo maneirismo deriva do italiano gruentes. Eles adotaram uma abordagem
inspiraram entre as classes mais altas um maniera, que significa “estilo ou maneira”, mais individual, intelectual e expressiva,
novo entusiasmo pelo aprendizado. Surgiu e foi usado para descrever o movimento que cada um interpretava à sua maneira.
o humanismo, uma filosofia preocupada em muito tempo depois que ele ocorreu. As ideias do movimento se difundiram por
retomar muitos conceitos da Antiguidade Enquanto a arte do alto renascimento toda a Itália e norte da Europa. Os artistas
clássica. A invenção da prensa tipográfica enfatiza as proporções e um ideal de beleza, maneiristas incluem Parmigianino (1503-
por Johannes Gutenberg (c. 1398-1468) em o maneirismo é exagerado, muitas vezes 1540), Antonio da Correggio (1489-1534)
1438 permitiu a instrução generalizada e alongado e estilizado, com composições e Pontormo (1494-1556/1557) e, entre as
a disseminação de ideias. Escritores como assimétricas. O movimento se desenvol- mulheres, Lucia Anguissola (1536/1538-c.
Boccaccio (1313-1375), Christine de Pizan veu na época em que Martinho Lutero 1565/1568) e Lavinia Fontana (1552-1614).
(1364-c. 1430) e Castiglione contribuíram (1483-1546) conclamou a reforma da Igreja
para aumentar a aceitação da educa-
ção feminina. O cortesão de Castiglione FATOS RELEVANTES
teve particular influência, assim como Lavinia Fontana tornou-se uma celebridade ainda
em vida: a pintora mais procurada e bem paga
De Mulieribus Claris (Sobre as mulheres
Plautilla Nelli, Lamentação com os santos, 1550, óleo sobre
painel, 288 × 192 cm, Museo di San Marco, Florença, Itália
famosas) de Boccaccio, de 1335-1359, uma
coleção de biografias de mulheres notáveis,
de Bolonha. Seu biógrafo inicial Carlo Cesare
Malvasia (1616-1693) escreveu que “todas as
damas da cidade disputavam, querendo tê-la por
Fatos relevantes
e A cidade das damas e O tesouro da cidade perto [...]; a coisa que mais desejavam era que ela
FATOS RELEVANTES pintasse seus retratos”.
Entre as várias freiras artistas estava Caterina de das damas (ambos c. 1405) de De Pizan.
Vigri (1413-1463), que foi depois canonizada como No entanto, as mulheres ainda enfren-
santa Catarina de Bolonha, a padroeira de todos tavam obstáculos para se tornarem artistas.
os artistas. Plautilla Nelli (1524-1588) ingressou no Atividades como o estudo da anatomia,
convento de santa Catarina de Siena, em Florença,
essencial para grandes obras religiosas,
em 1537, e a obra acima transmite sua atenção aos
detalhes, seu realismo e sua representação dos eram proibidas para elas, e a maioria dos
contrastes tonais e do suave caimento dos tecidos. artistas não aceitava mulheres em seus
ateliês. Por conseguinte, quase todas as que Sagrada família com os santos
se tornavam artistas aprendiam com o pai, Margarida e Francisco, Lavinia Fontana,
também artista, ou eram freiras. 1578, óleo sobre tela, 127 × 104,1 cm,
Davis Museum and Cultural Center,
Wellesley College, Massachusetts,
Estados Unidos

LUTAR POR IGUALDADE p. 172 REJEITAR A “MULHER-OBJETO” p. 173 PONTO DE VISTA FEMININO p. 187 VOCAÇÃO p. 182 PONTO DE VISTA FEMININO p. 187 RELIGIÃO p. 200 HISTÓRIA p. 201 Referências cruzadas
AUTORRETRATO p. 198 RELIGIÃO p. 200 NATUREZA p. 206 NU p. 209 NATUREZA p. 206 NU p. 209

a inovações e temas

Artista, técnica, dimensões e local Data da obra Outras obras importantes da artista

162 OBRAS OBRAS 163

sequências da 2009
OUTRAS OBRAS IMPORTANTES
Nº F, 1959, MoMA, Nova York,
YAYOI KUSAMA
A artista contemporânea mais conhecida do Japão, Yayoi Kusama

Informações gerais
nasceu na cidade de Matsumoto e estudou pintura em Kyoto antes de se
Estados Unidos
obliteração da eternidade Série Minha alma eterna, 2009 –
em andamento, vários locais
mudar nos anos 1950 para Nova York, onde enfrentou dificuldades por
ser uma artista mulher asiática em um ambiente dominado por homens

sobre a artista
ocidentais. No entanto, em meados da década de 1960, ela já havia
YAYOI KUSAMA: MADEIRA, ESPELHO, PLÁSTICO, PAINEL DE ACRÍLICO, Todo o amor eterno que se tornado conhecida no cenário de vanguarda por seus happenings e
LED E INSTALAÇÃO DE ALUMÍNIO • 4,2 × 4,2 × 2,9 M • MUSEUM OF FINE tenho pelas abóboras, 2016, exposições provocativos. Kusama representou o Japão na 45ª Bienal de
vários locais Veneza, em 1993, e atualmente vive e trabalha em Tóquio.
ARTS, HOUSTON, TEXAS, ESTADOS UNIDOS

A partir de uma plataforma central, o observador é


envolvido aos poucos por um arranjo de luzes que
desaparecem rapidamente. Yayoi Kusama (n. 1929) criou
esta instalação em 2009 para expressar suas crenças sobre a
vida, a morte e o infinito.
Inspirada em seu fascínio pela ideia da nossa
assimilação pelo infinito, ela faz o observador entrar na
sala e subir na plataforma central, onde, aos poucos, vai
surgindo uma delicada ilusão cintilante, à medida que
uma infinidade de pequenas luzes, algumas reais, outras
refletidas, iluminam o entorno. Dentro de um minuto,
todas as luzes se extinguem e então o ciclo recomeça.
Kusama explicou: “É a vida que estou sempre tentando
entender; suas profundezas e sua mística de ascensão
e declínio. [...] A cada dia, entendo a grandeza trazida
por essa mística, e também que o amor é eterno e fica
aparecendo e desaparecendo. [...] Estou muito contente
de estar viva [...] e ter conseguido chegar até hoje.
Continuamos brilhando, desaparecendo e voltando a
florescer nesta Eternidade”.
Há muitos anos, Kusama vem criando ambientes que
buscam desorientar ou provocar sensações intensas no
observador, frequentemente incorporando espelhos, luzes
e elementos repetitivos. Esta obra também faz referência
a alucinações que ela sofre desde a infância. Ao criar
este ambiente, ela prestou uma atenção especial ao uso
de espelhos, a fim de criar a ilusão de que as luzes se
prolongam infinitamente.

Referências a
POP ART p. 35 ARTE FEMINISTA p. 37 ARTE CONCEITUAL p.39
INDEPENDÊNCIA p. 176 CONTRADIZER “O SEXO PASSIVO” p. 184 MUDAR OPINIÕES p. 189
IDENTIDADE p. 199 SENTIDOS p. 202 MEMÓRIA p. 210 TRANSFORMAÇÃO p. 213 AMBIENTE p.215 inovações e temas
12 MOVIMENTOS

Renascimento 1400

1550
PRINCIPAIS ARTISTAS: SOFONISBA ANGUISSOLA • FEDE GALIZIA • PROPERZIA
DE ROSSI • CATARINA VAN HEMESSEN • CATERINA DE VIGRI • LAVINIA FONTANA

Durante o renascimento, ocorreram


profundas mudanças culturais na Europa
com a expansão do comércio e a desco-
berta de continentes antes desconhecidos.
Após a queda de Constantinopla, em 1453,
eruditos bizantinos migraram para a Itália
e introduziram ideias da Grécia antiga que
inspiraram entre as classes mais altas um
novo entusiasmo pelo aprendizado. Surgiu
o humanismo, uma filosofia preocupada em
retomar muitos conceitos da Antiguidade
clássica. A invenção da prensa tipográfica
por Johannes Gutenberg (c. 1398-1468) em
1438 permitiu a instrução generalizada e
a disseminação de ideias. Escritores como
Boccaccio (1313-1375), Christine de Pizan
(1364-c. 1430) e Castiglione contribuíram
para aumentar a aceitação da educa-
ção feminina. O cortesão de Castiglione
teve particular influência, assim como
De Mulieribus Claris (Sobre as mulheres
Plautilla Nelli, Lamentação com os santos, 1550, óleo sobre famosas) de Boccaccio, de 1335-1359, uma
painel, 288 × 192 cm, Museo di San Marco, Florença, Itália
coleção de biografias de mulheres notáveis,
e A cidade das damas e O tesouro da cidade
FATOS RELEVANTES
Entre as várias freiras artistas estava Caterina de das damas (ambos c. 1405) de De Pizan.
Vigri (1413-1463), que foi depois canonizada como No entanto, as mulheres ainda enfren-
santa Catarina de Bolonha, a padroeira de todos tavam obstáculos para se tornarem artistas.
os artistas. Plautilla Nelli (1524-1588) ingressou no Atividades como o estudo da anatomia,
convento de santa Catarina de Siena, em Florença,
essencial para grandes obras religiosas,
em 1537, e a obra acima transmite sua atenção aos
detalhes, seu realismo e sua representação dos eram proibidas para elas, e a maioria dos
contrastes tonais e do suave caimento dos tecidos. artistas não aceitava mulheres em seus
ateliês. Por conseguinte, quase todas as que
se tornavam artistas aprendiam com o pai,
também artista, ou eram freiras.

LUTAR POR IGUALDADE p. 172 REJEITAR A “MULHER-OBJETO” p. 173 PONTO DE VISTA FEMININO p. 187
AUTORRETRATO p. 198 RELIGIÃO p. 200 NATUREZA p. 206 NU p. 209
MOVIMENTOS 13

Maneirismo 1520

1600
PRINCIPAIS ARTISTAS: LAVINIA FONTANA • LUCIA ANGUISSOLA
DIANA SCULTORI

O maneirismo se desenvolveu entre 1510 e Católica, pregando suas 95 teses na porta da


1520 em Florença ou em Roma ou simul- igreja de Todos os Santos, em Wittenberg,
taneamente nas duas cidades. O estilo em 1517, e desencadeando a Reforma
englobava uma série de abordagens diferen- Protestante. Depois disso, para alguns
tes, sobretudo em reação ao idealismo e ao artistas, a serenidade e o classicismo da arte
naturalismo da arte do alto renascimento. do alto renascimento pareciam incon-
O termo maneirismo deriva do italiano gruentes. Eles adotaram uma abordagem
maniera, que significa “estilo ou maneira”, mais individual, intelectual e expressiva,
e foi usado para descrever o movimento que cada um interpretava à sua maneira.
muito tempo depois que ele ocorreu. As ideias do movimento se difundiram por
Enquanto a arte do alto renascimento toda a Itália e norte da Europa. Os artistas
enfatiza as proporções e um ideal de beleza, maneiristas incluem Parmigianino (1503-
o maneirismo é exagerado, muitas vezes 1540), Antonio da Correggio (1489-1534)
alongado e estilizado, com composições e Pontormo (1494-1556/1557) e, entre as
assimétricas. O movimento se desenvol- mulheres, Lucia Anguissola (1536/1538-c.
veu na época em que Martinho Lutero 1565/1568) e Lavinia Fontana (1552-1614).
(1483-1546) conclamou a reforma da Igreja

FATOS RELEVANTES
Lavinia Fontana tornou-se uma celebridade ainda
em vida: a pintora mais procurada e bem paga
de Bolonha. Seu biógrafo inicial Carlo Cesare
Malvasia (1616-1693) escreveu que “todas as
damas da cidade disputavam, querendo tê-la por
perto [...]; a coisa que mais desejavam era que ela
pintasse seus retratos”.

Sagrada família com os santos


Margarida e Francisco, Lavinia Fontana,
1578, óleo sobre tela, 127 × 104,1 cm,
Davis Museum and Cultural Center,
Wellesley College, Massachusetts,
Estados Unidos

VOCAÇÃO p. 182 PONTO DE VISTA FEMININO p. 187 RELIGIÃO p. 200 HISTÓRIA p. 201
NATUREZA p. 206 NU p. 209
52 OBRAS

Autorretrato como c.1638



alegoria da Pintura 1639

ARTEMISIA GENTILESCHI: ÓLEO SOBRE TELA • 98,6 × 75,2 CM •


ROYAL COLLECTION TRUST, LONDRES, REINO UNIDO

OUTRAS OBRAS IMPORTANTES Principal pintora do período barroco, a romana Artemisia


Judite decapitando Holofernes, Gentileschi (1593-1654 ou depois) seguia o estilo dramático
c. 1620, Galleria degli Uffizi, de Caravaggio (1571-1610).
Florença, Itália A partir de 1638, a convite do rei Carlos i, ela visitou
Jael e Sísara, 1620, Museum of Londres e provavelmente foi quando pintou este
Fine Arts, Budapeste, Hungria
autorretrato. Segurando um pincel numa das mãos e uma
Madona e o Menino, c. 1630, paleta na outra, a imagem representa uma personificação
Palazzo Pitti, Florença, Itália
da pintura baseada nas convenções definidas pelo
iconógrafo Cesare Ripa (1560-1622), que, em seu livro
Iconologia de 1593, descreveu figuras alegóricas e seus
instrumentos e acessórios em grandes detalhes. Artemisia
estava entre os vários artistas do período a ilustrar essas
descrições. Ripa descreveu a Pintura como “uma bela
mulher, com cabelos bem pretos, despenteados e torcidos
de várias maneiras, com sobrancelhas arqueadas que
revelam um pensamento imaginativo, a boca coberta com
um pano amarrado atrás das orelhas, com uma corrente
de ouro no pescoço”. Artemisia captura nesta obra os
elementos essenciais dessa descrição. Usando um avental
marrom por cima do vestido verde, ela se inclina sobre
uma placa de pedra usada para triturar pigmentos, na qual
é visível o reflexo de seu braço esquerdo. Pinceladas rápidas
transmitem o movimento do braço e traços fluidos de
branco delineiam o contorno de sua manga.

ARTEMISIA GENTILESCHI
O renomado artista Orazio Gentileschi (1563-1639) colocou a filha
como aprendiz de seu amigo e colega artista Agostino Tassi (1578-
1644). Porém, Tassi violentou Artemisia, e o julgamento que se seguiu
foi doloroso e humilhante para ela. Logo depois, ela se casou com
outro artista e se mudou de Roma para Florença. Suas obras eram
muito requisitadas; ela se tornou a responsável pelo sustento da
família e, em 1616, a primeira mulher integrante da ilustre Accademia
delle Arti del Disegno florentina.

BARROCO p.15
OBRAS 53

LUTAR POR IGUALDADE p. 172 REJEITAR A “MULHER-OBJETO” p. 173 ACCADEMIA DELLE ARTI DEL
DISEGNO p. 175 SUSTENTO DA FAMÍLIA p. 177 PONTO DE VISTA FEMININO p. 187 AUTORRETRATO p.198
Inovações
LUTAR POR IGUALDADE 172 • REJEITAR A “MULHER-OBJETO” 173 • ONTBIJTJE 174
ACCADEMIA DELLE ARTI DEL DISEGNO 175 • INDEPENDÊNCIA 176 • SUSTENTO DA
FAMÍLIA 177 • ROYAL ACADEMY 178 • PEINTRE DES MESDAMES 179 • ACADÉMIE
ROYALE 180 • EXALTAR O FEMININO 181 • VOCAÇÃO 182 • SORORIDADE 183
CONTRADIZER “O SEXO PASSIVO” 184 • SALÃO DE PARIS 185 • APOIAR OUTRAS
ARTISTAS MULHERES 186 • PONTO DE VISTA FEMININO 187 • ARTESANATO
FEMININO 188 • MUDAR OPINIÕES 189 • ARTE ABSTRATA 190 • ASSERTIVIDADE
191 • PRIX DE ROMA 192 • REJEITAR A AUTORIDADE MASCULINA 193 • DESAFIAR O
DESPREZO 194 • QUESTIONAR DEMOCRACIAS 195
172 INOVAÇÕES

Lutar por igualdade


PRINCIPAIS ARTISTAS: LAVINIA FONTANA • JUDITH LEYSTER • SOFONISBA ANGUISSOLA
RACHEL RUYSCH • NATALIA GONCHAROVA • AUGUSTA SAVAGE • SUZANNE VALADON

FATOS RELEVANTES
Uma das cerca de quarenta
mulheres atuantes na Itália
renascentista, Properzia
de Rossi (c. 1490-1530) foi
também uma das primeiras
escultoras, numa época em que
a escultura era considerada
uma atividade masculina.
Além disso, ela estava entre as
quatro únicas mulheres a serem
mencionadas no livro Vidas dos
artistas, de Giorgio Vasari. O
entalhe à esquerda é sua única
obra comprovada em mármore:
um relevo para a Catedral de
São Petrônio, em Bolonha.

José e a mulher de Potifar, Properzia de


Rossi, c. 1520, mármore, 54,5 × 59 cm,
Museo de San Petronio, Bolonha, Itália

A mitologia da Grécia antiga atribui a trabalhar assumindo nomes masculinos.


invenção da pintura a uma jovem mulher Outras não recebiam crédito algum e
que desenhou na parede o contorno da eram simplesmente obrigadas a trabalhar
sombra de seu amado antes que ele fosse nos bastidores, e outras ainda foram
para a guerra. Nos séculos seguintes, apagadas da história depois que morreram,
algumas artistas mulheres conquistaram tendo suas assinaturas trocadas pelas de
respeito, mas poucas receberam o mesmo substitutos do gênero masculino. Plautilla
julgamento que os homens. Nelli (1524-1588), Judith Leyster, Rachel
Sofonisba Anguissola foi uma das Ruysch, Natalia Goncharova e Georgia
primeiras artistas do gênero feminino a O’Keeffe foram algumas das poucas artistas
conquistar uma reputação internacional mulheres que receberam um julgamento
– apesar de não vir de uma família de quase igual ao de seus colegas do gênero
artistas, a maneira comum pela qual as masculino. No fim do século xx e no século
mulheres se envolviam no mundo da arte. xxi, muitas passaram a usar materiais
Várias artistas mulheres de Bolonha, entre pouco comuns e a criar tipos de arte
elas Lavinia Fontana, também ganharam diferenciados, para que sua obra fosse vista
respeito e uma posição quase igual à dos independentemente da arte dos homens.
homens, mas a vasta maioria tinha que

RENASCIMENTO p. 12 BARROCO p. 15 HARLEM RENAISSANCE p. 29 ARTE FEMINISTA p. 37 ARTE PERFORMÁTICA


p. 38 NOLI ME TANGERE p. 44 AS DEZ MAIORES, NO. 2, INFÂNCIA, GRUPO IV p. 90 ALTA FINANÇA p.102
INOVAÇÕES 173

Rejeitar a “mulher-objeto”
PRINCIPAIS ARTISTAS: ARTEMISIA GENTILESCHI • SOFONISBA ANGUISSOLA • ELISABETTA SIRANI
EMILY CARR • LEONORA CARRINGTON • JUDY CHICAGO • MARINA ABRAMOVIĆ • JENNY SAVILLE

Audaciosas, anônimas e determinadas a FATOS RELEVANTES


expor a discriminação contra as mulheres Durante séculos a arte foi julgada
no mundo da arte, as Guerrilla Girls pelos padrões masculinos. Desde
apareceram pela primeira vez, em 1985. o renascimento até o fim do
Elas estavam defendendo não somente as século XIX, se uma obra criada por
artistas, mas todas as mulheres envolvidas uma mulher fosse descrita como
“masculina” ou “viril” era um
com arte, inclusive aquelas que dirigiam
elogio. No entanto, numa época em
museus e compravam arte, como Lillie P. que profissionais ambiciosas eram
Bliss (1864-1931), Mary Quinn Sullivan consideradas pouco femininas (um
(1877-1939) e Abby Aldrich Rockefeller insulto), Sofonisba Anguissola se
(1874-1948), que, em 1929, foi cofundadora tornou famosa e sua obra procurava
do Museu de Arte Moderna de Nova York, rejeitar a representação de
o MoMA. mulheres como objetos.
As Guerrilla Girls causaram impacto
com seu cartaz satírico As mulheres precisam
estar nuas para entrar no Metropolitan?,
de 1988. Porém, elas foram precedidas
por muitas artistas mulheres que, ao
longo da história, procuraram rejeitar as
tradições predominantemente masculinas
de objetificar as mulheres. Artemisia
Gentileschi, por exemplo, pintou o popular
tema barroco Susana e os anciãos, em 1610,
interpretando-o de uma maneira que
contrastava drasticamente com as versões
de muitos artistas do gênero masculino. A
Susana de Gentileschi não é idealizada e
não se sente confortável em ser observada
por dois homens ao se banhar. Inúmeras
outras artistas mulheres, como Elisabetta
Sirani, Emily Carr, Leonora Carrington,
Barbara Kruger e Jenny Saville, fizeram fortes
assertivas visuais que rejeitam a objetificação
masculina das mulheres e ajudam a mudar
noções há muito estabelecidas.
Retrato de uma mulher, sentada à direita, Sofonisba
Anguissola, c. 1540-1626, papel e giz, 18,4 × 12,4 cm,
Rijksmuseum, Amsterdã, Holanda

BARROCO p. 15 NEOCLASSICISMO p. 17 PÓS-IMPRESSIONISMO p. 20 SURREALISMO p. 30 TIMOCLEIA


MATANDO O CAPITÃO TRÁCIO p. 54 A ESCULTORA CLARA RILKE-WESTHOFF p.88
194 INOVAÇÕES

Desafiar o desprezo
PRINCIPAIS ARTISTAS: EDMONIA LEWIS • AUGUSTA SAVAGE • LOÏS MAILOU JONES • FRIDA
KAHLO • GEORGIA O’KEEFFE • PAULINE BOTY • ELIZABETH CATLETT • ALICE NEEL • PAULA REGO

Embora muitas artistas do gênero feminino hostilidade. A Pop Art era notoriamente
enfrentassem desprezo de várias formas, misógina, mas Pauline Boty – a única
as maneiras variadas e muitas vezes mulher na ala britânica – desafiou
irreverentes ou determinadas pelas quais o as atitudes de seus colegas do gênero
desafiaram podem ser surpreendentes. masculino abordando temas sérios, muitas
Certos movimentos artísticos eram vezes políticos, a partir de uma perspectiva
mais misóginos do que outros, por isso distintamente feminina. Contrariando
as abordagens das mulheres ao enfrentar noções preconcebidas sobre o papel
o desprezo eram necessariamente da mulher que em muitos aspectos se
diferentes. Por exemplo, as artistas do tornaram normas sociais, muitas artistas
Harlem Renaissance, como Augusta feministas chocaram os críticos, e artistas
Savage, Elizabeth Catlett e Loïs Mailou como Frida Kahlo, Georgia O’Keeffe,
Jones, lidavam tanto com a discriminação Paula Rego e Alice Neel produziram
sexual como com a racial. Elas desafiaram obras que retratam seus temas de forma
o desprezo da crítica produzindo obras audaciosa, visando claramente incentivar
inovadoras e inusitadas, como a dinâmica os observadores a reconsiderar qualquer
Meeira (1952) de Catlett, que confronta preconceito ou desprezo anterior.
abertamente as injustiças sociais, mas sem

FATOS RELEVANTES
Desenhada a partir da observação, a mulher nesta
pintura representa a própria artista, Claudette
Johnson (n. 1959). Criada com linhas geométricas
e tinta rala, e inspirada na pintura Les Demoiselles
d’Avignon (1907) de Picasso, a obra contém
outras três figuras humanas, todas elas usando
máscaras africanas. A obra de Johnson surge da
negatividade que ela percebe ser demonstrada em
relação às artistas negras. Ela afirma querer “dar
espaço” às mulheres negras, que anteriormente
foram “distorcidas, escondidas e negadas”.

Figura em pé com máscaras africanas,


Claudette Johnson, 2018, pastel e
guache sobre papel, 151,5 × 122 cm,
Tate Modern, Londres, Reino Unido

FUTURISMO p. 24 HARLEM RENAISSANCE p. 29 POP ART p. 35 ARTE FEMINISTA p. 37


CONCHA Nº 1 p. 104 RETRATO DE MILDRED MYERS OLDDEN p. 112 A COLUNA PARTIDA p.114
Temas
AUTORRETRATO 198 • IDENTIDADE 199 • RELIGIÃO 200 • HISTÓRIA 201 • SENTIDOS 202
TRABALHO DE MULHER 203 • GÊNERO 204 • HERANÇA CULTURAL 205 • NATUREZA 206
INDIVIDUALIDADE 207 • IMAGEM DO CORPO 208 • NU 209 • MEMÓRIA 210 • CONFRONTO
211 • RAIVA 212 • TRANSFORMAÇÃO 213 • RAÇA 214 • AMBIENTE 215 • CONFLITO 216
EMPATIA 217
198 TEMAS

Autorretrato
PRINCIPAIS ARTISTAS: SOFONISBA ANGUISSOLA • ARTEMISIA GENTILESCHI
ADÉLAÏDE LABILLE-GUIARD • MARIE BASHKIRTSEFF • HELENE SCHJERFBECK • ALICE BAILLY

O autorretrato sempre foi útil para os


artistas como uma forma de praticar a
pintura, aperfeiçoar a coordenação entre
os olhos e as mãos, autopromover-se e
trabalhar com um modelo gratuito.
Para as mulheres, que durante séculos
foram proibidas de frequentar aulas com
modelos-vivos, a produção de autorretratos
era valiosa para aprender sobre anatomia.
Por exemplo, em Autorretrato com cavalete
(1556), Sofonisba Anguissola se apresenta
como uma mulher humilde pintando a
Virgem Maria e Cristo. Sua decisão de
pintar a si mesma com sua paleta, pincel e
tento de apoio foi incomum para a época e
sugere que ela queria reconhecimento por
seu talento artístico. Em Autorretrato como
alegoria da Pintura (1638-1639), Artemisia
Gentileschi se apresenta de forma inovadora
como a personificação da pintura. No
século xviii, Adélaïde Labille-Guiard
Retrato de mulher, provavelmente um autorretrato, Catarina também se retratou pintando, observada
van Hemessen, 1548, óleo sobre painel, 23 × 15,2 cm, por duas alunas em seu Autorretrato com
Rijksmuseum, Amsterdã, Holanda
duas pupilas (1785), e o autorretrato No
estúdio (1881) de Marie Bashkirtseff
FATOS RELEVANTES
Conhecida principalmente por seus retratos representa um grupo de pintoras em uma
de mulheres em pequena escala, Catarina van aula de desenho com modelo-vivo, em que
Hemessen (1528-1588) é muitas vezes apontada um jovem rapaz seminu serve de modelo,
como a primeira artista (de ambos os gêneros) a invertendo a prática usual. O Autorretrato
ter pintado um autorretrato posando diante de um
com fundo preto de Helene Schjerfbeck
cavalete. Este é um de seus outros autorretratos,
mostrando-a jovem e séria. Van Hemessen teve a (1915) e o Autorretrato (1917) da artista
sorte de ser treinada pelo pai, o respeitado artista suíça Alice Bailly (1872-1938) são radicais
Jan Sanders van Hemessen (c. 1500-1566). e de vanguarda. Bailly era fascinada pelo
cubismo, fauvismo e dadaísmo, e inventou
sua própria técnica mista usando fios curtos
de lã colorida para imitar pinceladas.

RENASCIMENTO p. 12 BARROCO p. 15 PÓS-IMPRESSIONISMO p. 20 AUTORRETRATO COM CAVALETE p. 42


AUTORRETRATO COMO ALEGORIA DA PINTURA p. 52 AUTORRETRATO COM FUNDO PRETO p.98

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