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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

Centro de Filosofia e Ciências Humanas


Departamento de História
História Contemporânea – Prof. Dr. Antonio Torres Montenegro

JEREMIAS JEFFESON GOMES DA SILVA

FICHAMENTO DO CAPÍTULO “A ERA DA GUERRA TOTAL” DO LIVRO “A ERA


DOS EXTREMOS” DE ERIC HOBSBAWN

RECIFE
2021
HOBSBAWN, Eric. Era dos extremos: O breve século XXI. São Paulo: Companhia das
Letras, 1995.

TÓPICO 1, RESUMO: O capítulo se inicia falando acerca da perspectiva da


Primeira Guerra Mundial como “os últimos dias da humanidade” e de como nos 31 anos
seguintes ao início da Primeira, entre 1914 a 1945, a humanidade sentiu que o seu fim, ou
pelos menos o fim de uma boa quantidade de seres humanos, estava próximo. O autor segue
falando que a humanidade sobreviveu, todavia o “monumento da civilização” no século XX
desmoronou. Para muitos da geração que viveu os anos de 1914 em diante houve uma ruptura
drástica, existia a vida de paz antes da Guerra e a vida depois dela, em que ela se tornou, até
mesmo quando acabou, a força motriz das disputas políticas e sociais internacionalmente.
Hobsbawn afirma que até 1914 não houvera guerras mundiais e que mesmo as de
maiores proporções envolveram uma nação ou outra, não o mundo todo. A Primeira guerra
envolveu as maiores potências de sua época e, consequentemente, a maioria de seus aliados.
Estava, assim, inaugurada a “era do massacre”, onde as duas grandes guerras demonstraram
novas forças militares capazes de dizimar em massa milhões de pessoas. A partir daí o autor
segue tecendo o panorama político e militar das duas guerras, principalmente da Primeira. Os
grupos se formavam: Alemanha e Áustria-Hungria lideravam de um lado, França, Grã-
Bretanha, Rússia e, posteriormente os EUA, encabeçavam de outro. Segundo o autor, França
e Grã-Bretanha logo sentiram o impacto da Guerra na “Frente Ocidental”: guerreando
principalmente contra os alemães, britânicos e franceses perderam centenas de milhares de
soldados, chegando a tal ponto que consideraram, anos depois, a Primeira Guerra, e não a
Segunda, como a sua “Grande Guerra”. Os russos, por sua vez destronados, se frecharam em
si, e nesse momento se iniciou a Revolução Russa e a formação da força revolucionária
bolchevique que atraiu tantas nações europeias.
Diversos meios tecnológicos foram usados: a guerra química fora proibida, mas os
submarinos não, e destruíam as embarcações com mantimentos dos países, colocando suas
populações em estado de calamidade. Com a entrada dos EUA na guerra, os alemães sentiram
rapidamente o chegar de sua derrota. A revolução invadiu os países derrotados e o Tratado de
Versalhes tratou reorganizar a Europa pós-guerra: acordo de paz entre as principais potências,
subjugação quase total da Alemanha, partilha e remapeamento de diversos territórios
destruídos e a formação de uma unidade anti-bolchevique. Ainda vale salientar o ponto de
vista do autor de que a guerra só tomou essas proporções e se tornou “inevitável” pelos
desejos econômicos megalomaníacos e ilimitados das potências que desejavam tudo controlar.
A competição era de cunho econômico, não de cunho ideológico.

TÓPICO 1, COMENTÁRIO:
Existe um termo que Lênin utiliza em suas Teses de abril que acho muito interessante:
a definição da Primeira Guerra como a “guerra mundial imperialista”. 1 Lênin afirma que as
potências capitalistas faziam a guerra para assumir a supremacia econômica do mundo,
partilhar territórios de nações mais frágeis e para salvaguardar um “capitalismo agonizante”.
Não pretendo entrar nos méritos dessa afirmação, todavia, pelo menos em parte ela parece
casar com o que Hobsbawn fala, ao afirmar que a Guerra não tinha caráter ideológico, mas
sim econômico. Por mais que possamos considerar as ideias capitalistas como de caráter sim
ideológico, não vamos adentrar esse debate, mas sim apenas focar na questão econômica que,
ideológica ou não, ocorreu. Esse parece ser o fio condutor da argumentação de Hobsbawn, ou
seja, os países só entraram numa guerra de “tudo ou nada” porque buscavam atingir objetivos
econômicos ilimitados.
A afirmação de que na Era dos Impérios política e economia haviam se fundido denota
isso tudo. A rivalidade política internacional levou, por exemplo, a Alemanha a desejar um
status político global, como tinham os britânicos, ou os franceses a desejar superar sua
inferioridade demográfica e econômica frente à Alemanha. A guerra, assim, era incólume e
significaria vitória total ou derrota esmagadora. Por isso mesmo a Alemanha sofreu tanto
depois de sua derrota na guerra: na visão dos franceses, por exemplo, os germânicos fora do
jogo político-econômico era exatamente o objetivo. Ou seja, era a vitória total para a França e
o extremo oposto para a Alemanha.
Toda essa luta de interesses e esses milhões de mortes obviamente colocaram fim a
parte da ideia de progresso que existia. Ora, como poderia a humanidade estar progredindo
depois de tantos massacres? Isso surpreende, pois Hobsbawn afirma que a ideia
neocolonialista de “levar a civilização”, o “progresso”, para os “países atrasados” ainda
continuou mesmo após o fim da Primeira Guerra. Enfim, a Primeira Guerra escancarou os
objetivos econômicos das potências e destruiu parte das ilusões de progresso da humanidade,
destroçou diversas nações no Ocidente e Oriente, assim como instigou revoluções em diversos
espaços. Era a “Era do massacre” e os sonhos de paz pareciam impossíveis frente aos
interesses megalomaníacos.

1
ENGELS, Friederich; LÊNIN, Vladimir Ilitch; MARX, Karl. Manifesto Comunista/Teses de Abril. São Paulo:
Boitempo, 2017. P.75.
TÓPICO 2, RESUMO: Esse tópico é destinado a Segunda Guerra Mundial.
Hobsbawn começa afirmando que, diferentemente da Primeira Guerra, a Segunda teve
motivadores muito mais claros: alemães, japoneses e italianos. Segundo ele, os Estados
carregados na luta contra essas três nações não queriam a guerra, e dessa forma “duas
palavras” poderiam resumir o que causou a guerra: Adolf Hitler.
A situação do mundo pós-Primeira Guerra era instável, e o fim da paz já esperado. Por
causa da derrota na Primeira Guerra e do Tratado de Versalhes, a Alemanha, por exemplo,
tinha muitas razões para buscar a guerra. Os japoneses estavam insatisfeitos, assim como os
italianos, que desejavam um controle imperial. Japão e Alemanha buscavam isso: territórios
que os ajudassem a ter recursos na luta pela economia moderna. A guerra começara
meramente europeia, mas os erros de cálculo militar de Hitler e dos japoneses os levaram a
uma guerra que envolveu os EUA, potência decisiva na Primeira Guerra.
A Alemanha buscou uma rápida investida, e de roldão subjugou Noruega, Dinamarca,
Países Baixos, Bélgica e França. A guerra tornava-se, assim entre alemães e britânicos,
todavia os italianos também acabaram descendo para a guerra junto aos germânicos. A
Alemanha também partiu para invadir a URSS, buscando território, recursos e mão de obra
escrava, mas subestimou as forças soviéticas. Já o Japão queria formar um império na Ásia
que os EUA não desejava permitir. Era a entrada os estadunidenses na guerra. Hobsbawn
pontua: “não havia como o Japão vencer essa guerra” e de fato foram destroçados com os
ataques nucleares de Hiroshima e Nagasaki.
O erro de por os EUA na guerra não foi apenas japonês: mesmo cansados pela guerra
contra os soviéticos, Hitler declarou gratuitamente guerra contra os EUA. Hobsbawn afirma
que, diferente da Primeira Guerra, a Segunda era de caráter ideológico, ou seja, os que
guerreavam contra a Alemanha julgavam ser uma luta de vida ou morte contra os interesses
nazistas. O destino da vitória alemã seria escravização e guerra, tendo em vista o que os
alemães fizera, por exemplo, com os judeus nos campos de extermínio.

TÓPICO 2, COMENTÁRIO: Hobsbawn aqui claramente toma partido, e define os


alemães e seus aliados como motivadores da guerra. Um ponto muito interessante é o
contraponto que ele faz entre a Primeira e a Segunda Guerra: uma era de cunho econômico,
imperialista, já outra era de vida ou morte contra o nazismo e as maldições que esse regime
colocava.
Algumas reflexões do autor pareceram um pouco teleológicas, quando não
anacrônicas. Por exemplo, claro que as forças militares dos EUA eram muito maiores que as
do Japão, mas afirmar que não havia como os japoneses vencerem essa guerra é observar o
começo por meio de seu fim. Na Primeira Guerra a força militar alemã destroçou os Aliados,
que foram “salvos” pelos EUA. Se afirmar, por exemplo, que a derrota alemã na Primeira era
inevitável, pois os EUA interveriam na guerra, para mim é tão inconsistente quanto afirmar
que os japoneses não poderiam, de alguma forma, vencer os EUA. Muitas coisas poderiam
influenciar na guerra e ela poderia sim ter tomado outro rumo. Tal qual os EUA interviram na
Primeira, alguma coalizão, mesmo que claramente improvável, poderia ter ajudado o Japão,
talvez, a vencê-los.
Por fim, pontuo que o fim do capítulo, quando ele afirma que os números exatos de
mortes, dado suas grandes proporções, eram pouco importantes é essencial. Muitas vezes o
debate se detém em dizer o impossível: quantas pessoas morreram na guerra. O mais relevante
é saber que foram milhões, mais que qualquer outra coisa na história, e que “os prédios”
seriam mais facilmente reconstruídos do que a dizimação de milhões de vidas.

TÓPICO 3, RESUMO: Neste tópico o autor trata acerca das questões administrativas
da guerra. Ele diz que as guerras mundiais movimentaram as populações inteiras dos seus
países, o que exigia também um movimento de igual totalidade na economia. Ele afirma que
antes do século XX as guerras que movimentavam toda uma sociedade nacional eram
excepcionais, mas a partir dele se tornam uma constante maior. Ele diz que as guerras a partir
de 1914 se tornam “guerras de massa” em todos os sentidos, tanto em material humano,
quanto econômico e bélico. Ou seja, a guerra passou então a movimentar sociedades em sua
totalidade, não mais partes dela.
Por causa desse uso massivo de materiais, toda a indústria teve que se mover em torno
disso, como foi o exemplo da indústria bélica, para as armas, e a indústria de roupa, para os
fardamentos. Ele resume: “a guerra em massa exigia produção em massa”. A guerra, assim,
exigia organização e administração para que os objetivos fossem alcançados. Muitas
indústrias bélicas tinham que produzir mensalmente milhões de armamentos, por exemplo,
mas como pagar tudo isso? Os governantes buscavam a vitória de toda forma e se esqueciam
que ela tinha um custo, tanto financeiro, quanto de vidas. Assim ele passa a teorizar acerca de
erros e acertos de diversas economias na guerra, ponto importante, tendo em vista que as
nações combatentes tendiam a ser, pelo menos suas lideranças de aliança, as potências
econômicas mundiais.
Hobsbawn também se detém acerca da evolução tecnológica da guerra. O quanto as
duas guerras mundiais adiantaram o avanço da tecnologia? Para o autor elas tiveram impacto
preponderante, tendo me vista que as nações em paz dificilmente despenderiam de tantos
meios econômicos para alavancar as tecnologias. Inventar e produzir novos armamentos, por
exemplo, se tornara algo essencial para vencer a guerra. A bomba atômica, por exemplo,
segundo ele não teria se desenvolvido no século XX caso não tivesse existido o medo de que
os alemães se lançassem de forma pioneira nos armamentos nucleares.
Ele termina refletindo se a guerra trouxe crescimento econômico ou não. Em certo
sentido, ele diz, evidentemente que não, pois foram gastos muitos meios produtivos, assim
como boa parte das populações das nações foram dizimadas. Aliás, enquanto os países se
lançavam em uma corrida armamentista seus povos padeciam de fome. Um caso excepcional
foi os EUA, que aproveitou as duas guerras para alcançar um patamar econômico jamais visto
e se colocar como a maior potência econômica da época. Além de estarem longe dos pontos
geográficos de conflito armado, eles eram os principais fornecedores de armamento para a
guerra. Então, ao passo que os países da Europa se destruíam, humana e territorialmente, os
EUA crescia economicamente e se distanciava das outras potências.

TÓPICO 3, COMENTÁRIO: Este é um capítulo mais teórico que reflete mais


acerca de questões administrativas, onde o autor externa a guerra de administração que regia
os conflitos bélicos. É interessante observar todo o esforço que as nações demandaram para
saírem vitoriosas. Se as que venceram a guerra já iriam sofrer economicamente, as que
perderam então, nem se fala. Para a guerra ocorrer as nações deviam se preparar, e algumas
delas aprenderam isso na Primeira Guerra, e utilizou esse conhecimento na Segunda.
Aqui os interesses econômicos saltam aos olhos mais uma vez, agora na figura dos
EUA, principal beneficiado com as duas guerras, ou seja, enquanto a Europa se destruía os
estadunidenses iam a passos largos assumindo o protagonismo econômico e industrial. A
guerra não é neutra, ele destrói uns e beneficiam outros. Os EUA, além de tudo, ao jogar as
bombas atômicas nas cidades japonesas demonstrava ser agora também uma potência bélica
nuclear de força descomunal.
Essa busca pelos interesses econômicos e esses gastos estatais com a guerra
demonstra, por exemplo, a razão de parte do interesse do proletariado e de algumas nações
europeias, pelo menos inicialmente (tendo em vista que a URSS também se acabou na
guerra), em consumir as ideias revolucionárias. Enquanto as nações se matavam usando sua
população, essa mesma população morria de fome e na guerra. Enfim, as duas guerras
reorganizaram, ou desorganizaram, o mundo do século XX como até então nunca se tinha
sentido antes, e os mais beneficiados foram os que souberam lutar a guerra administrativa.

TÓPICO 4, RESUMO: Tópico final. O autor começa a avaliar o impacto humano e


seus custos na guerra. Os russos que perderam 10 milhões na Primeira, perderam 54 milhões
na segunda, mas parecem ter sentido mais o peso da dor na guerra de 1914, pois na Segunda o
massacre já era esperado, ou pelo menos já tinha sido sentido antes. A partir daí o autor vai
refletir acerca de como o caos das duas guerras jogou a humanidade num caos de brutalidade
e ações desumanas. As guerras normalizaram os massacres e trouxera de volta a tortura. Os
avanços tecnológicos permitiam matar “impessoalmente”, pois era mais fácil acionar um
botão que joga uma bomba atômica do que matar uma pessoa com uma baioneta a olhando
nos olhos. O autor diz: “as maiores crueldades de nosso século formas as crueldades
impessoais [...].”
A brutalidade da guerra precisou ser traduzida em novas palavras, era o surgimento do
termo “apátrida” e do “genocídio”. Foi, segundo o autor, a maior catástrofe humana jamais
vista, onde a humanidade passou a conviver com a matança, o exílio e a tortura. Milhões de
pessoas em todo o mundo tornaram-se refugiadas. A ideia de progresso chegara ao fim e o
futuro fora adiado, foi trocado por um presente amargo.
Conclui afirmando que a Segunda Guerra trouxera soluções para a Europa por
décadas. A economia ocidental entrou em sua era de ouro, a vida material melhorou e se
tornou estável, a guerra foi banida para o Terceiro Mundo, e até mesmo a revolução parecia
ter encontrado seu rumo com a URSS.

TÓPICO 4, COMENTÁRIO: Eis o saldo das guerras! Genocídio, tortura, miséria e


brutalidade, além da normalização do absurdo. Milhões de pessoas mortas, incontáveis, e toda
a expectativa de futuro foi relegada ao léu. Novas tecnologias de guerra foram formadas:
armas mais potentes, aviões de ataques aéreos mais desenvolvidos, gás venenoso e as bombas
atômicas, que são capazes de dizimar milhares de pessoas em questão de segundos. Se as
grandes visões progressistas do século XVIII e as revolucionárias do século XIX encontraram
seu golpe mais forte, certamente foi no século XX. Se a Europa em si não foi mais o campo
de guerras, continuavam a ser o Oriente Médio, a Ásia e a África. A nova potência mundial,
os EUA, usou de toda sua influência para ajudar os regimes ditatoriais na América latina. A
vida saiu dos trilhos, milhões de refugiados passaram a existir, e até hoje pessoas de diversos
territórios disputam terras que lhes foram roubadas. Os impactos desses conflitos perpassaram
todo o século XX, e chegam até o XXI. Século XX, o breve século XX, a Era dos extremos, a
era do absurdo.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
- ENGELS, Friederich; LÊNIN, Vladimir Ilitch; MARX, Karl. Manifesto
Comunista/Teses de Abril. São Paulo: Boitempo, 2017.
- HOBSBAWN, Eric. Era dos extremos: O breve século XXI. São Paulo: Companhia
das Letras, 1995.

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