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UFMS – CPTL

HISTÓRIA – LICENCIATURA

Discente: Matheus Medeiros Piquera

Docente: Rafael Athaides

PROVA 2 – QUESTÃO 2

A Segunda Guerra Mundial como um conflito de massas nasce com uma amplitude
causal muito além da concepção do imaginário popular de ser uma guerra de Hitler.
Essencialmente dizer que o confronto se deu por conta do líder da Alemanha nazista seria
uma afirmação correta, contudo, uma afirmação rasa. Gonçalves em seu texto apresenta
um panorama de possibilidades causais da segunda guerra que envolviam todas as
animosidades do mundo pós-guerra vinculado as péssimas tendências das relações
internacionais do período.

Inicialmente o autor elenca o pensamento das principais correntes historiográficas


acerca das causas da guerra, a corrente liberal e a corrente marxista. Ambas ainda
trabalham com ideia de que a culpa da guerra cair inteiramente sobre Hitler, a corrente
liberal com a perspectiva de Hitler ser a encarnação do delírio totalitário, na visão
marxista Hitler mostrava a faceta mais agressiva do imperialismo capitalista e por isso
causou a inevitável guerra visando aumentar seus territórios. Entretanto havia uma
terceira corrente historiográfica que surgiu através da contestação de que Hitler gerara a
guerra por si só, esta corrente veio de A. J. P. Taylor, que teorizava que a Segunda Guerra
não passou de uma continuação das demais guerras que a Alemanha se envolvera, na
intenção clara de assegurar o controle do Centro-Leste europeu. A política expansionista
de Hitler, para Taylor, apenas era uma continuação dos projetos político-militares dos
demais líderes da Alemanha.

Dessa forma, Gonçalves, após estipular este panorama do pensamento


historiográfico do século XX acerca da Segunda Grande Guerra, inicia a reflexão sobre
as demais causas essenciais para o confronto. O autor coloca como causalidade principal
a quebra da bolsa de valores e a crise de 1929, que alterou todo o status da economia
mundial do entre guerras e definitivamente afundou a Europa, já fragilizada, em uma crise
econômica de dimensões nunca antes vistas. O liberalismo não se sustentou e causou sua
própria fragilização, e medidas protecionistas foram adotadas por diversas nações que
viam seus cidadãos lutarem pela sobrevivência em meio ao caos econômico.

A onde política que se seguiu trouxe à tona governos de caráter autoritário, a fim
de controlar a situação desastrosa gerada pela Grande Depressão, e a instabilidade dos
parlamentos que pouco agiam frente à crise. O autor enfatiza que o plano ideológico
valorizava a força e a ação, o que caracterizava os regimes ditatórias que se seguiram na
europa e no mundo durante o século XX, mais precisamente aos fascismos.

A Alemanha também é fator fundamental para o início da guerra, o papel de Hitler


é sim parte central na formação das animosidades do período, o ressentimento da rendição
na Primeira Guerra Mundial ainda era pulsante, e devido a Grande Depressão esse
inconformismo apenas se reinstaurou com força nos alemães. O partido criado por Hitler
dos Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães conseguiu explorar esse ódio
generalizado que surgia na sociedade à derrota na primeira guerra, e se firmou com uma
forte adesão utilizando essa paixão desenfreada. A culpa da Grande Depressão foi jogada,
pelos nazistas, nos banqueiros judeus, nos comunistas, nos grandes empresários, em
liberais, e aos países europeus que humilharam a grande nação alemã. A ascensão de
Hitler e do partido nazista apenas solidificou, em bases racistas, o modelo fascista mais
duradouro da história, o crescimento desenfreado veio através da dominação paramilitar
e da política externa de Hitler abertamente ofensiva aos demais países exceto à Itália, que
foi apoiada pela Alemanha na invasão e tomada da Etiópia.

Com os demais países europeus paralisados frente as ofensivas de Hitler em todos


os campos, os nazistas apenas tiram proveito da situação fazendo acordos políticos que
apenas beneficiavam a Alemanha nazista, como o que ocorreu na desastrosa Conferência
de Munique de setembro de 1938. Hitler não tinha, como já bem observara Churchill,
nenhum interesse em frear sua ofensiva na dominação da Europa e na sua ideologia
expurgo racial o que tornou a Política de Apaziguamento uma ideia fadada ao fracasso.
A terrível Conferência de Berlim ainda piorou a tensão entre a URSS e os demais países
do bloco ocidental que além de não convidarem Stalin, cederam territórios muito
próximos dos seus para Hitler e os nazistas contra seu conhecimento, fora a falta de apoio
que recebera após o fim da Primeira Guerra e as pobres relações diplomáticas. Tudo isso,
acarreta uma forte desconfiança da URSS com os países ocidentais, fator fundamental
para o que viria ser a Guerra Fria.

A causa final para o início do conflito na Europa foi a aproximação de Stalin e


Hitler com a assinatura do pacto de não agressão, Stalin conseguiu estrategicamente
escapar temporariamente do conflito inevitável para a forte preparação militar que viria a
ter na URSS, mas os efeitos da assinatura do pacto logo foram sentidos, do lado alemão
veio a segurança necessária para propriamente avançar e tomar a parte da Polônia
desejada por Hitler, e do lado aliada veio a desconfiança de Stalin que acabara de firmar
um acordo com o inimigo direto, tal desconfiança novamente atiçava o confronto
ideológico que viria a tomar forma na década de 50.

Porém, não apenas essas causas desencadearam na guerra total, a guerra no


pacífico também teve suas especificidades. A expansão japonesa era algo já conhecido,
desde o século XIX o Japão tentava avançar seus territórios o que já havia causado
conflitos com a China anteriormente e a Guerra Russo-Japonesa. O Japão sofria de um
forte crescimento econômico e uma pesada industrialização que se efetivava cada vez
mais, contudo o país era pobre em matérias-primas necessárias e também em espaço, logo
o imperialismo japonês avançava pelos territórios do Pacífico, na China e em territórios
disputados com a Rússia. Após a Primeira Guerra as animosidades entre Japão e EUA já
eram evidentes e o descontentamento japonês na diplomacia mundial dentro das
conferências de relações internacionais também eram perceptíveis, a insatisfação do país
era resultado dos poucos ganhos japoneses recentes em comparação aos demais países
envolvidos. Após a ocupação da Manchúria pelo Japão em 1931, a animosidade com os
EUA se tornou mais forte, o pedido de paridade naval em 34, recusado pelos EUA, a
recusa da diplomacia japonesa na Conferência Naval de Londres de 1936, em resultado
as negativas dos EUA já deixavam evidente o conflito inevitável devido a postura de
ambos os países e suas características culturais. O comunicado americano em 1939, da
suspensão do Tratado Americano-Japonês de Comércio e Navegação, apenas serviu para
inflamar ainda mais o Japão e dar início a inevitável Guerra do Pacífico que teve como
ponto de ignição a ataque a Pearl Harbor em 1941.

Estas são as causas centrais, elencadas por Gonçalves, que geraram e conduziram
o caminho para o maior conflito armado já presenciado no planeta. A guerra de Hitler, foi
uma guerra de muitos fatores sendo Hitler apenas mais um deles, a situação na Europa e
no Pacífico era de uma tensão tão grande no entreguerras que fica evidente a
multiplicidade e a complexidade que tornou possível a Segunda Guerra Mundial.

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