2ª PROVA DE CONTEMPORÂNEA II – 7ª aula – 3ª Questão
Aluno: Eduardo Chu Professor: Bernardo Kocher
Aproximadamente 21 anos separam a 1ª guerra mundial de sua sucessora; muitos dos
países que protagonizaram a grande guerra se encontraram novamente no campo de batalha, que por sinal, também é quase o mesmo. O que nos leva á “Paz Frustrada”, expressão utilizada por Amando Luiz Cervo para definir este período, uma vez que não havia um desejo pela guerra, todavia, a conjuntura de instabilidade somada ás decisões diplomáticas, que segundo John Keynes (1919, p.153) “não continham qualquer disposição orientada para a reabilitação econômica da Europa” acabaram resultando no maior conflito presenciado pela humanidade. O primeiro fator que colaborou para a guerra foi a singularidade do tratado de Versalhes, pela primeira vez na Europa, os derrotados haviam sido excluídos das negociações de paz, na verdade, apenas cinco países participaram (EUA, Grã-Bretanha, França, Itália e Japão). Na conferência de Paris ocorreu uma disputa entre duas formas de lidar com a paz, a primeira foi o tratado de Versalhes (carregado do revanchismo francês que guiara a política externa francesa desde 1871), visando imputar não apenas pesadas sanções e punições, mas também a culpa da guerra á Alemanha. Do outro lado, o presidente americano propôs os catorze pontos de Wilson, que defendiam medidas para manutenção da paz e a estabilidade, como um meio de evitar novos conflitos. No fim, o tratado de Versalhes e seus equivalentes (para outras nações) triunfaram, Cervo explica que a França tinha grande influência nas negociações pois havia saído da guerra como a grande vitoriosa sobre os alemães; presidia a conferência; era vista como a maior potência militar do mundo; e que não tinha seus inimigos para questioná-la. Alemanha perdeu 1/7 do seu território, 1/10 de sua população, foi condenada a pagar 132 bilhões de marcos,sofreu desarmamento militar e ainda teve parte de seus territórios ocupados. O resultado da conferência da paz priorizava a rivalidade européia á estabilidade, na medida em que se pretendia impedir um retorno da Alemanha como grande potência, quando todo o planejamento de recuperação européia dependia do pagamento das reparações. Keynes apontava que, nas condições iniciais do tratado, a Alemanha não teria condições de obter matéria-prima, o que condenaria parte de sua indústria, diminuindo os empregos e logo precisaria importar cada vez mais alimentos, até o ponto que não conseguiria mais atender á demanda, causando fome. No entanto, a queda do padrão de vida aconteceria em toda a Europa, pois esta já não tinha um sistema auto-suficiente, pois sua população estava desigualmente distribuída, com o agravante de ter tido sua organização assolada pela guerra e seu fluxo de provisões interrompido pela aniquilação dos sistemas de transporte e comércio, a fome não tardaria a aparecer caso não fosse tomado alguma providência. O próprio autor chama atenção para os possíveis rebuliços que poderiam acontecer com um crescente descontentamento, temia principalmente algo como um levante bolchevique. No entre guerras, os EUA, com grandes quantidades de ouro, consolidavam sua posição de 1ª potência mundial, num mundo diferente do anterior á 1ª guerra. Já se viam sinais da crise do liberalismo: O comércio não recobrara o dinamismo anterior; o clima instável desestimulava o investimento, fazendo com que o livre mercado fosse substituído pelo protecionismo em muitos países, o que fez com que os Estados Unidos adotassem a prática de fechar seu mercado e pressionar pela abertura de mercados alheios. A Europa passou pegar empréstimos americanos (usados para sua reconstrução), os EUA então se aproveitaram da debilidade econômica européia para aumentar sua frota de comércio e expandir-se aos mercados asiáticos, enquanto se aproximavam da América Latina, trocando o “big stick”, por uma política de boa vizinhança; internamente, os republicanos não viram com bons olhos a sua entrada dos nas Nações Unidas (criada por Wilson em 1919) e nem sua disposição no cenário internacional, e conseguiram convencer o povo disso, pois com a vitória do partido republicano nas eleições de 1921, os estados unidos voltaram á uma política isolacionista. A Rússia comandada pelos bolcheviques organizou a 3ª internacional comunista em 1919, reunindo partidos comunistas do mundo inteiro que se beneficiariam do clima instável do pós-guerra para derrubar a burguesia. Em alguns países como Grã-Breteanha, Itália, Áustria e França surgiram ondas revolucionárias comunistas, mas que foram rapidamente sufocadas, gerando uma grande rejeição por parte dos governos desses países, com esse fracasso, a nova diretriz bolchevique foi a coexistência pacífica com o mundo capitalista e o focando em sua estruturação interna e industrialização. O Japão foi outro país que ascendeu á um papel de maior relevância internacional no pós-guerra, depois de décadas de modernização e industrialização da era Meiji, e sua continuação com o período Tasho, marcado pela busca de matérias primas, o governo japonês já pensava numa campanha imperialista direcionada á china, que se concretizaria no futuro. O protecionismo, a humilhação dos países derrotados, os traumas da guerra, as dificuldades, a instabilidade das crises e a ascensão do nacionalismo acabaram pro engendrar diversas ideologias, nas quais as pessoas, coletivamente, depositavam suas esperanças, assim se deu o inicio de correntes como o fascismo, o comunismo e o pacifismo. A coletividade dessas ideologias, em pouco tempo, deu grande importância á opinião pública, principalmente nas relações exteriores. Os primeiros anos após a conferência de Paris aconteceram como previsto, a Alemanha não conseguiu progredir economicamente, prejudicando a Europa, que dependia justamente do pagamento dessas reparações pra quitar os empréstimos americanos. Os tratados, segundo Cervo, causaram tensões e guerras pela Europa, principalmente em relação ás novas fronteiras impostas (como foi o caso da guerra russo-polonesa ou a questão dos territórios austríacos dados á Itália). A situação européia só começaria melhorar após 1924, quando foi elaborado o Plano Dawes, que tinha como objetivo uma estabilizar a moeda alemã, incluí-la na lista de empréstimos americanos e ajustar os pagamentos da dívida de forma progressiva, além de resolver a questão diplomática criada em 1923, quando a França ocupou parte da Alemanha depois da última ter abandonado a conferência de 1922 e assinado um acordo bilateral de perdão de dívidas com a URSS. É válido ressaltar que, segundo Cervo, o declínio da França como potência e a ascensão de governos de esquerda foram um dos principais fatores para a maior tolerância diplomática francesa. O plano Dawes inaugura uma época de esperança de paz. A URSS foi reconhecida e aceita como parte da sociedade das nações, enquanto os EUA faziam seu retorno; França e Alemanha começaram a cooperar junto com os EUA, inaugurando o “triangulo financeiro da paz”, que consistia em investimentos americanos na Alemanha, os quais permitiam pagar as reparações francesas, que por sua vez possibilitavam a França pagar os empréstimos aos EUA. Em 1926, o foram assinado os tratados de Locarno permitiriam a entrada alemã na liga das nações; garantias de que os aliados não ocupasse mais seu território; a habilitaria possuir colônias novamente; desde que desmilitarizasse a Renânia. Nesse mesmo ano, houve a conferência imperial, que mudou o status britânico de “império” para “comunidade”, dando inicio á independência de diversas de colônias inglesas de forma pacífica, o mesmo não ocorreu com as colônias na África e Ásia, onde os europeus alegavam que o “fardo do homem branco” de civilizar essas populações não estava completo, o que levou á algumas lutas por independência, como a Turquia, China, Iraque e Egito. O auge da campanha pacifista foi o Pacto Kellogg-Briand (1928), que basicamente proibia a guerra, mas depois do pico, sempre há a queda, a partir de 1929, com a grande crise, as tensões voltaram. Cervo aponta que, os tratados de estabilidade não incluíram a URSS e nem conciliaram os países insatisfeitos (principalmente na Europa oriental) e não combateu o crescente nacionalismo alemão, crítico duro da comunidade internacional. O autor também destaca que a crise, potencializada pela dependência do ocidente á economia americana, desestimulou a cooperação entre as nações e que as soluções para a mesma eram inadequadas, não serviam para o escopo internacional. Durante a crise, os três futuros membros do eixo começaram a mover suas peças: Na Alemanha, Adolf Hitler ascenderia através de um nacionalismo que não reconhecia a igualdade entre povos, que culpava a comunidade internacional pela miséria alemã, que desejava unir o povo alemão espalhado pela Europa numa Grande Alemanha; o totalitarismo japonês, cansado das contenções ocidentais, abandonaria o pacifismo e invadiria a China; na Itália, Mussolini começaria sua política de força bruta, buscando o que os tratados não haviam cedido, a expansão em direção ao mediterrâneo. O crash de 29 interrompe os empréstimos americanos á Europa e em 1932 as reparações alemães são perdoadas em Lausanne, o que fez com que a Inglaterra e a França suspendessem o pagamento aos EUA. No mesmo ano, a conferência pelo desarmamento em Genebra, que estabeleceria um limite nas forças armadas se mostrou um fracasso político, que culminou com a saída da Alemanha, não apenas da conferência, mas também da liga das nações em si. Em 1933, diversos países se reuniram na conferência de Londres, para solucionar a crise econômica através de soluções verdadeiramente internacionais, que pudessem beneficiar o conjunto, no entanto, nenhum país parecia disposto a ceder e deixar de perseguir interesses nacionais, ou seja, outro grande fracasso, e ao final do ano EUA, URSS e Japão também estariam fora da Sociedade das Nações. As ditaduras pela Europa se multiplicavam, todas de cunho nacionalista, com grande apoio popular e forte propaganda, se utilizando da opinião pública para se legitimar e guiar as políticas externas. As grandes potências que poderiam fazer algum contrapeso demonstraram extrema passividade, os EUA não queriam se envolver com uma guerra na Europa, se pautando por um “egoísmo sagrado”, enquanto a Inglaterra e França sempre recuavam ao invés de lidar com um possível choque diplomático, a estratégia delas era evitar uma nova guerra á todo custo e continuar a seguir seus próprios interesses. Segundo Cervo, a URSS ao perceber a dominação hitleriana no leste buscou se aproximar do ocidente (época que entrou na sociedade das nações), mas quando propôs uma frente antifascista, as potências preferindo não intervir nas ações de Hitler, os soviéticos então se limitaram á se fechar e apoiar o movimento antifascista de modo geral. Nas democracias, a opinião pública dificultava a luta contra o fascismo, pois o povo desgastado pelas crises e guerras priorizava direitos sociais e uma melhor situação econômica do que qualquer política que demandasse renúncia material, logo, a interseção entre a opinião publica dos países democráticos e a das ditaduras eram os interesses econômicos, não o desejo de guerra. A sociedade das nações em seu declínio, permitiu o crescimento dos nacionalismos exacerbados. Durante a invasão da Itália sobre a Etiópia, sociedade das nações se posicionou contra a primeira, mas rapidamente recuou, enquanto o silêncio alemão rendeu o apoio de Mussolini, que retirou seu apoio á independência austríaca (que estava sobre domínio alemão); da mesma forma nada foi feito sobre a remilitarização da Renânia; nem sobre o golpe fascista de Franco na Espanha; nem sobre intensificação do domínio japonês na China (pois a Inglaterra ainda tinha seus interesses nela). As potências democráticas eram um grupo confuso e desarticulado, enquanto os governos autoritários nacionalistas se uniam num só bloco, a política de apaziguamento continuou, assistindo e legitimando (divisão da Tchecoslováquia) a expansão alemã, que tinha sua economia voltada para a guerra e se via em constante necessidade de matéria-prima. A Inglaterra só fez frente á Alemanha quando esta decidiu invadir a polônia em 1939, mas no mesmo ano, depois de negociações infrutíferas sobre o destino da Polônia com as democracias, Stálin decidiu forjar o pacto Ribbentrop-Molotov de não agressão com a Alemanha que estipulava a divisão de diversos países do leste europeu entre as duas nações, sacrificando a ideologia comunista por resultados imediatos. No dia 3 de setembro foi declarada guerra á Alemanha por parte da França e Inglaterra, os conflitos europeus começavam enquanto a guerra já acontecia na Ásia, tornando-se mundial com a entrada da URSS e EUA.
Para concluir, o quadro de instabilidade na política internacional é resultado direto da
conferência de Paris (1919) ao priorizar o revanchismo á uma reconstrução da Europa. A sociedade das nações conseguiu começar a solucionar parcialmente o problema durante o período de reconciliação com o plano Young, a contenção japonesa e a inclusão alemã, No entanto, com a quebra da bolsa a instabilidade econômica atravessou o campo da polítca, numa Europa que ainda tinha traços mal resolvidos dos tratados de 1919 em relação á diversas fronteiras e que o nacionalismo exacerbado se instalava em toda Europa com respaldo da opinião pública, um fenômeno desagregador que não foi combatido pelas entidade internacional. Por fim, as buscas dos próprios interesses nacionais e o temor de uma guerra deixaram o caminho livre para essas ideologias avançarem, todos da frente antinazista acabaram se aliando ou acordando algo com a Alemanha, pouco tempo depois. No fim, o egoísmo estatal em conjunto com uma decisões diplomáticas erradas causaram a 2ª guerra Mundial. Bibliografia:
CERVO, Amado Luiz. A instabilidade Internacional (1919-1939). In: INSTITUTO BRASILEIRO DE
RELAÇÕES INTERNACIONAIS. História das Relações Internacionais Contemporâneas. São Paulo: Saraiva, 2007.
KEYNES, John Maynard. As Consequências Econômicas da Paz. [S. l.]: UNB, 2002.