Você está na página 1de 22

As transformações das primeiras décadas do século XX:

Um novo equilíbrio global:


- A primeira Guerra Mundial distinguiu-se pela sua duração,
pela extensão geográfica e por ter sido uma guerra total. Entre 1914
e 1918 beligerantes de todos os continentes participam no conflito,
formando-se então duas coligações:
- Aliados: Sérvia, França, Grã-Bretanha, Rússia, Japão,
Itália, Grécia, Portugal, Roménia, Estados Unidos;
- Potências Centrais: Império Austro-Húngaro, Império
Alemão, Império Otomano e Bulgária.
- A 1ª Guerra Mundial chegou ao fim em 11 de novembro de
1918, com a capitalização da Alemanha. Teve então lugar na
França a assinatura do armistício entre os generais aliados e os
alemães.
- Os soldados saíram de cena, enquanto os políticos subiam
ao palco das negociações. O presidente Wilson assumiu um papel
de relevo. Em janeiro de 1918, numa mensagem constituído por 14
pontos endereçada ao Congresso na qual apresentava os princípios
que deveriam nortear uma convivência internacional pacífica:
prática de uma diplomacia transparente; liberdade de navegação e
de trocas; redução dos armamentos; respeito para com as
nacionalidades; criação de uma liga das nações.

O triunfo das nacionalidades e da democracia:


- A Conferência de paz teve início em janeiro de 1919, em
Paris. Apenas estiveram presentes as potências vencedoras e,
somente quatro acabaram por assumir a liderança: a França, com
Clemenceau; Grã-Bretanha, através de Lloyd George; Estados
Unidos, Wilson; Itália por Vittorio Orlando.
- Apesar das dificuldades os interesses dos vencedores
divergiram, os acordos de paz surgiram a partir de junho 1919. O
tratado de Versalhes foi assinado com a Alemanha, logo seguido do
tratado de Saint-Germain-en-Laye, de Neuily, de Trianon e de
Sèvres, com a Áustria, Bélgica, Hungria e o Império Otomano. A
eles ficou a dever-se uma nova ordem internacional e uma nova
geografia política, com claras implicações no mapa da Europa e do
médio oriente:
- Colapso dos impérios (alemão, austro-húngaro e
otomano);
- Nascimento de novos Estados: na europa (Finlândia,
Estónia, Letónia, Lituânia, Polónia, Checoslováquia, Jugoslávia e
Hungria; na Ásia (Arábia Saudita, Síria e Líbano) Ira que e
Palestina.
- Ampliação de fronteiras: a França recuperou a Alsácia-
Lorenas; a Bélgica ganhou Eupen e Malmédy; a Itália o Tirol e
Ístroa; a Dinamarca ganhou parte do Norte Schleswig; a Roménia
recebeu a Transilvânia e a Bessarábia; e a Grécia tomou posse da
Tácia.
- As perdas territoriais afiguraram-se deveras pesadas e
violentas para os Estados derrotados. A Áustria ficou reduzida aos
Alpes Orientais e uma pequena parte da planície danubiana. A
Bulgária priva-se do acesso ao Mediterrâneo. A nova Turquia
reduziu-se a Constantinopla e à Ásia Menor.

O caso da Alemanha:
- A grande perdedora foi a Alemanha, considerada pelas
cláusulas do Tratado de Versalhes, responsável pela guerra. Perdeu
1/7 do seu solo e foi cortada em duas. Perdeu 1/10 da sua
população, todas as suas colónias, a frota de guerra, parte da frota,
as minas de carvão do Sarre e foi obrigada a reparar
financeiramente os prejuízos causados pela guerra.
- As perdas geográficas e económicas, os Aliados, feriram o
forte orgulho alemão, aniquilando a sua capacidade militar: o
exército foi desprovido de artilharia pesada e de carros de assalto,
ficou reduzido a 100 mil homens; o serviço militar cessou de ser
obrigatório; o Estado-Maior alemão foi extinto; a margem esquerda
do Reno sofreu a ocupação aliada e a desmilitarização.
- O isolamento da Alemanha chegou ao ponto de ser vedada a
estrada na Sociedade das Nações, organismo destinado a
salvaguardar a paz e segurança internacionais.

A Sociedade das Nações:


- O projeto de uma liga de nações, proposto pelo presidente
Wilson, no Pacto da Sociedade das Nações (SDN) integrado na
primeira parte do Tratado de Versalhes. Tinha sede em Genebra na
qual empenhava-se na cooperação entre os povos, na promoção do
desarmamento e na solução dos litígios pela via da arbitragem
pacífica.
- Apenas 9 foram os Conselhos, encarregado de gerir os
conflitos que ameaçassem a paz. A Sociedade das Nações, foi
acima de tudo, um instrumento de esperança.

Uma paz frágil:


- Os povos vencidos (humilhados) rejeitaram sempre os
tratados. A Alemanha ficou de rastos com o Tratado de Versalhes. O
seu orgulho ferido, habilmente manipulado, acabou por permitir a
ascensão do nazismo e com este o segundo conflito mundial.
- A insatisfação com os tratados de paz, se fez sentir entre os
vencedores. A Itália, era um dos elementos da Entente, falava então
de uma “vitória mutilada” por não ter recebido a Dalmácia e a
cidade de Fiúme, na Ístria, que franceses e ingleses lhe haviam
prometido.
- Outros países, como Portugal, protestaram contra o
esquecimento “os grandes” os queriam votar, não os contemplando
nas reparações devidas aos Estados aliados.
- A regulamentação das fronteiras e a não resolução, de forma
satisfatória, da questão das “minorias nacionais”, as relações
internacionais. A questão das reparações de guerra tornou-se outro
obstáculo a uma paz duradoura. A França fez profissão de fé do
princípio “ a Alemanha pagará”. Os Estados Unidos contrariaram
pretensões hegemónicas dos aliados, não aceitando a reconstrução
dos vencedores à custa da asfixia económica. O Congresso
americano, uma maioria de republicanos desde 1919, não ratificou
o Tratado de Versalhes e os Estados Unidos desistiram então de
participar na Sociedade das Nações.

O declínio da Europa:
- A Primeira Guerra, deixou uma Europa arruinada no plano
humano e material: a população ativa foi substancialmente ceifada;
os campos não produziam; as fábricas, as minas e as frotas
estavam destruídas. As economias europeias registaram grandes e
naturais dificuldades de reconversão. A adaptação à paz foi lenta e
o desânimo instalou-se no Velho Continente.
- A Europa, durante a guerra tornou-se extremamente
dependente dos Estados Unidos, continuou a importar bens e
serviços americanos e viu o endividamento agravar-se. Os
dirigentes europeus recorreram à emissão massiva de notas, por
não ser acompanhada de um aumento, provocando uma
desvalorização monetária e uma inflação galopante.
- A situação atingiu entre os vencidos da guerra, ao
pagamento de pesadas indemnizações. Em 1923, na Alemanha, a
desvalorização do marco era de tal ordem que as notas se
utilizaram como combustível, para as crianças, para as crianças
brincaram ou para forrar paredes.

A ascensão dos Estados Unidos e a recuperação


europeia:
- O regresso ao isolacionismo, a economia americana não
ficou imune às dificuldades da Europa. Em 1920-1921 registou-se
uma crise breve, mas violenta com a diminuição da procura externa.
Esta crise mão travou a ascensão dos Estados Unidos.
Empréstimos avulados seguiram, desde 1924, para a Europa,
nomeadamente para a Alemanha, permitindo-lhe pagar as
reparações devidas à França, e à Inglaterra.
- Estes países ficaram em condições de reembolsar os
Estados Unidos, das dívidas de guerra e dos empréstimos. A
dependência da Europa em relação aos Estados Unidos, estava
consagrada. Entre 1925 e 1929 o mundo capitalista respirou fundo.
O lema de uma produção de massa para um consumo de massa,
viveram-se anos da prosperidade americana e os felizes anos 20 na
Europa, caracterizava-se por um clima de otimismo e de confiança
no capitalismo liberal.

Os antecedentes da revolução russa:


-Em outubro de 1917, a Rússia viveu uma revolução que fez
do país o primeiro Estado socialista do mundo.
- Depois da inesperada derrota frente ao Japão, em 1905, a
Rússia iniciou um movimento de contestação à autocracia do czar
Nicolau II. Trabalhadores ocuparam as fábricas, soldados e
marinheiros amotinaram-se e em muitas cidades, estabeleceram-se
sovietes (assembleias). Para evitar uma guerra civil, Nicolau II
permitiu eleições para a Duma (parlamento).
- Entre os mais interventivos estavam os membros do Partido
Operário Social-Democrata, de influência marxista. Fundado em
1898, o partido dividiu-se em dois grupos: os mencheviques (fação
minoritária, adeptos do reformismo); os bolcheviques (fação
maioritária, defensores intransigentes da luta de classes.
-A este ambiente político explosivo juntamente as tensões
decorrentes dos contrates da sociedade russa. Os camponeses
constituíam 85% da população, clamavam por terras, concentradas
nas mãos dos grandes senhores e latifundiários. O operariado,
escasso exigia melhores condições de vida e trabalho. À burguesia
e à nobreza liberal, desejavam a abertura política e a modernização
do país.
- A participação da Rússia na Primeira Guerra Mundial, desde
1914, agravou mais as fraquezas do regime. A desorganização da
economia, falta de géneros e fome justificavam as manifestações e
as greves, as derrotas face à Alemanha estimulavam o
anticzarismo.
A Revolução de Fevereiro:
- Num ambiente de generalizado descontentamento e
oposição ao czarismo sucederam-se na capital do império, entre 23
a 27 de fevereiro de 1917, manifestações de mulheres,
acompanhadas de greves dos operários da cidade.
- Reunidos numa assembleia popular (Soviete), os operários
incitavam ao derrube do czar, com a adesão de milhares de
militares. O Nicolau II abdicou 2 de março a favor do irmão, o grão-
duque Miguel, este recusou a regência. O czarismo acabou, e a
Rússia tornou-se uma república.
- Os destinos da Rússia ficaram nas mãos do Governo
Provisório, pela burguesia liberal. Dirigido por Lvov, e depois por,
Kerensky, empenhou-se na instauração de uma democracia
parlamentar e na continuação da guerra, com a Alemanha
acreditava que podia ganhar.
- Controlados pelos bolcheviques, após o regresso em abril de
Lenine à Rússia, os sovietes de operários, camponeses, soldados e
marinheiros proliferaram por todo o território.
- Lenine divulgou as “Teses de abril”, incluía as seguintes
reivindicações dos sovietes: retirada imediata da guerra; derrube do
Governo Provisório; entrega do poder aos sovietes; confiscação da
grande propriedade. O Governo Provisório e os sovietes,
mergulhou a Rússia numa autêntica dualidade de poderes.

Revolução de Outubro:
- Em 24 e 25 de outubro, ocorreu uma nova revolução. As
bolcheviques conhecidas por Guardas Vermelhos, controlaram
pontos estratégicos da cidade, assaltaram o Palácio de Inverno e
derrubaram o Governo Provisório. O II Congresso dos Sovietes,
reunido em Petrogrado, o poder ao Conselho dos Comissários do
Povo, por bolcheviques. Lenine ocupou a presidência, Trotsky a
Pasta da Guerra e Estaline a das Nacionalidades.
- Pela primeira vez na História, os representantes do
proletariado conquistavam o poder político. Como Marx sugerira:
recorrendo à luta de classes e à revolução. O novo Governo iniciou
funções com a publicação dos decretos revolucionários sobre: a
paz convidava o povo beligerante à negociação; a terra, abolindo
então sem indemnização, a grande propriedade, entregando-a
sovietes camponeses; o controlo operário, atribuindo aos
operários das empresas a superintendência e a gestão da respetiva
produção; as nacionalidades conferindo a todos os povos do
antigo Império Russo o estatuto de igualdade e o direito à
autodeterminação. Daí dizer-se que os primeiros tempos da
Revolução de Outubro se viveram sob o signo da democracia dos
sovietes.

A guerra civil (1918-1920)


- O governo bolchevique assinou o armistício com as
Potências Centrais, no dia 15 de dezembro de 1917, em Brest-
Litovk. Longas negociações na mesma cidade sob a direção de
Trotsky, a Rússia, acordou então em 3 de março de 1918, uma paz
separada com a Alemanha, perdendo certos territórios: a Polónio,
Ucrânia, as províncias bálticas (Estónia, Letónia e Lituânia) e a
Finlândia. Este acordo saldou-se na perda de ¼ da sua população e
das suas terras cultiváveis e de ¾ das minas de ferro e de carvão.
Segundo Lenine, uma paz desastrosa.
- Prosseguia a aplicação dos decretos relativos à terra e ao
controlo operário. A inevitável oposição de proprietários e
empresários, o projeto bolchevique encontrava resistências junto de
uma parte substancial da população russa afetada pela
persistência da carestia e da inflação. Esta resistência ao
bolchevismo resultou num dos mais dramáticos episódios da
revolução russa, a terrível guerra civil. Iniciada em março de 1918,
prolongou-se até 1920:
- Os brancos: opositores ao bolchevismo, foram
apoiados por corpos expedicionários de Inglaterra, França, Estados
Unidos e Japão;
- Os vermelho: defensores do governo bolchevique,
dispuseram de um coeso e disciplinado Exército Vermelho,
organizado por Trotsky desde janeiro de 1918.
O comunismo de guerra, face da ditadura do
proletariado (19918-1921):
- A ditadura do proletariado assume-se como uma etapa
transitória, no processo de construção da sociedade socialista.
Servindo-se então “supremacia política”, o proletariado retira “todo o
capital à burguesia” e centralizaria todos os instrumentos de
produção nas mãos do Estado. Uma classe sobre a outra, deixava
de fazer sentido e se extinguia também: o comunismo, Marx
chamava “a forma mais alta de organização da sociedade”.
- Fiel ao marxismo, Lenine escondeu os seus propósitos de
implementação imediata da ditadura do proletariado. Na Rússia
bolchevista, revestiu-se de aspetos bem específicos. Marx
entendia-o formado pelos operários, vítimas da exploração
capitalista. Já Lenine incluía nele os camponeses, pois tinha em
consideração o atraso industrial da Rússia.
- A resistência aos decretos revolucionários e o clima da
guerra civil conduziram ao comunismo de guerra, conferindo à
ditadura do proletariado de um carácter violento e implacável.
Longe de ceder, porque entendia a construção do socialismo,
Lenine tomou as seguintes medidas:
- Nacionalização da economia: requisição de género
aos camponeses por destacamentos de operários e soldados;
nacionalização dos bancos, do comércio interno e externo, da frota
mercante e das empresas com mais de cinco operários e um motor;
- Apelo ao heroísmo revolucionário: trabalho
obrigatório dos 16 aos 50 anos; aumento do horário de trabalho;
repressão da indisciplina.
- Promoção cultura: combate ao analfabetismo;
nacionalização de museus e de obras artísticas, literárias e
científicas, declarados património do Estado e do povo;
- Institucionalização do Terror: criação da polícia
política, a Tcheka, nos finais de 1917; prisão e julgamentos rápidos
dos suspeitos; campos de concentração e execuções sumárias.
- A ditadura do proletariado foi antes de mais, a ditadura do
Partido Comunista, adotado pelo Partido Bolchevique em março de
1918. Em janeiro, já a Assembleia Constituinte, onde os
bolcheviques obtinham apenas um quarto dos lugares, fora
dissolvida. Até 1922, os partidos políticos, à exceção do comunista,
seriam proibidos tal como os jornais “burgueses”. A mesma
orientação seria seguida nos sovietes, que se viram depurados dos
seus membros mencheviques e socialistas revolucionários.

A nova política económica (1921-1927):


- O preço foi bem alto a pagar pela vitória da Rússia
bolchevista na guerra civil. A vida a cerda de 10 milhões de seres
humanos custou, na qual apareceu a fome, o frio e epidemias. Nos
inícios de 1921, a economia do país estava na ruína. A produção
de cereais descera para metade da de 1913. Forem então sujeitos à
requisição de géneros, os camponeses não produziam e até
escondiam ou destruíam as suas colheitas. A produção industrial
diminuíra ¾ relativamente à de 1913. As minas de carvão estavam
inutilizadas, os caminhos de ferro paralisados.
- Em fevereiro de 1921, os operários e marinheiros
revoltaram-se contra o rumo que a revolução socialista tomara,
reivindicando liberdade de expressão e de imprensa, eleições
democráticas e libertação dos prisioneiros políticos. O exército
Vermelho tinha esmagado com ferocidade e a ameaça parecesse
controlada. Lenine obteve a autorização do Congresso dos Sovietes
para inverter a marcha da Revolução. O comunismo de guerra deu
lugar à Nova Política Económica (NEP) um recuo estratégico que
recorreu ao capitalismo, já que o socialismo não deveria edificar-se
sobre ruínas.
- Embora que os transportes, os bancos, a média e grande
indústria e o comércio externo continuasse, o regresso parcial ao
capitalismo seguiram-se medidas:
- Agricultura: substituição das requisições por um
imposto em géneros; suspensão da coletivização agrária;
- Comércio: autorização para os camponeses venderem
parte dos seus excedentes;
- Indústria: desnacionalização das empresas com
menos de 20 operários; fomento do investimento estrangeiro,
permitindo-se a entrada de técnicos, máquinas e matérias-primas;
supressão do trabalho obrigatório; atribuição de prémios como
incentivo à produtividade.
- Os camponeses por causa da possibilidade da venda no
comercio interno, aumentaram então as produções, também a
percentagem de terras incultas desceu de 25% para 2,6% e a
produção de trigo mais do que duplicou. Esta política económica,
punha em causa o ideal comunista de uma sociedade sem classe.
Uma classe de camponeses abastados e de pequenos
comerciantes suscitou os ódios de muitos bolcheviques e do
Partido Comunista.
O impacto do socialismo revolucionário:
- Em março de 1919, foi fundado a III Internacional, também
chamada de Internacional Comunista. Em nome do princípio
marxista do internacionalismo proletário, propunha-se coordenar
a luta dos partidos operários para que o marxismo-leninismo
triunfasse. Segundo Lenine e Trotsky a revolução socialista
europeia deveria ser conduzida por partidos comunistas decalcados
do modelo russo e fiéis ao marxismo-leninismo. No 2º Congresso
do Komintern, em julho de 1920 os partidos socialistas e sociais-
democratas foram obrigados a libertarem-se das tendências
reformistas-revisionistas, anarquistas e pequeno-burgueses como
defenderam a Rússia bolchevique. Aqueles que o fizeram passaram
a ser designados por partidos comunistas, enquanto os partidos
socialistas e sociais-democratas ficaram para sempre
identificados com o reformismo.
- A onda vermelha chegou com força à Europa. Na Alemanha,
após a capitulação perante os Aliados constituíram-se conselhos de
operários, soldados e marinheiros, inspirados nos sovietes russos.
Em janeiro de 1919, acabaram dominados pelas forças leais aos
governos. Esta vaga revolucionária avançou para muitos outros
países do mundo, não só através de revoluções proletárias, mas
também com greves na Grã-Bretanha, na França, nos Estados
Unidos e até na Austrália. Em Portugal, o precário nível de vida, os
salários não acompanharam a inflação dos preços, esteve então na
origem de violentas greves, entre 1919 e 1921.

O choque da guerra e a crise dos valores


tradicionais:
- Em 1918, a Grande Guerra terminou, os alicerces do mundo
ocidental pareciam ter sucumbido à lama das trincheiras. A
brutalidade do conflito, que ceifou a vida de milhões de homens,
desfez impérios e deixou a Europa exausta e abalou
profundamente as consciências. A crença numa civilização de
valores sólidos e confiáveis que tinha marcado a sociedade
burguesa do século XX, desmoronou-se.
- O impacto da destruição gerou um sentimento de
descrença e pessimismo, afetou os intelectuais como a gente
comum. Do choque da guerra nasceu, a convicção de que o mundo
não mais voltaria a ser o que era. Uma vaga de contestação a
todos os níveis abalou a sociedade que mergulhava numa
profunda “crise de consciência”. A família, a indissolubilidade do
casamento, a moral, sexual, o papel da mulher, os preceitos
religiosos, as regras de conduta social deixaram de ter um padrão
rígido e foram abertas e sistematicamente subvertidas. Instalou-se
um clima de anomia, ou seja, a ausência de normas morais e
socais que com clareza, distinguissem o certo e o errado.
- Este relativismo de valores, punha em questão tudo,
fazendo com que se acelerasse as mudanças já em curso,
invadiram o dia a dia das grandes cidades.

A emancipação feminina:
- No século XX, a emancipação feminina revestiu duas facetas
distintas: a alteração dos padrões de conduta, a permitir à mulher
uma maior liberdade de atuação e novas formas de sociabilidade; e
a luta pela igualdade jurídica, adquiriu especial relevância o
direito e ao voto. A mulher adquire, uma visibilidade até aí
impensável: sai para ir às compras, para tomar chá e refrescos,
para ir à praia, para dançar num clube noturno. A convivência entre
os sexos torna-se mais livre e ousada e a prática do desporto abre-
se também ao sexo feminino. Alguns exemplos de símbolos de
liberdade, eram o vestuário feminino transfigura-se: o espartilho
desaparece, as sais sobem, caiam direitas e fluidas, sem
constrangerem os movimentos. O cabelo curto, de corte a direito,
torna-se o último grito da moda.
- Este fenómeno de mudança extrema chama-se flapper-
termo que designa a rapariga estouvada que desafia todas as
regras- marca os loucos anos 20. A luta pela igualdade jurídica
assumiu um lugar central no movimento feminista.
- O movimento feminista organizado remonta ao século XIX.
Por volta de 1850, centravam-se no direito das mulheres casadas à
propriedade dos seus bens (nem mesmo lhes era reconhecida a
liberdade de dispor do seu salário), à tutela dos filhos (em caso de
viuvez o poder parental era exercido por um parente masculino) ao
acesso à educação e ao trabalho socialmente valorizado. As
primeiras feministas lutaram por alterações jurídicas que
terminassem com o estatuto de eterna menoridade que a sociedade
burguesa oitocentista reservava à mulher.
- Cerca de 1900, o direito de participação na vida política
(direito ao voto) passou a assumir um papel importante nas
reivindicações femininas. Organizaram-se numerosas associações
de sufragistas, com um enorme espírito de militância
desencadeando uma luta pelo voto feminista. Emmeline Pankhurst
viria a marcar o feminismo do princípio do século. A oposição que
lhes deparava, as sufragistas inglesas procuraram atrair a atenção
pública que incluíam longas e ruidosas, marchas públicas, piquetes,
apedrejamentos de polícias e montras, irrupções intempestivas no
Parlamento, greve de fome.
- Em Portugal, fundou-se em 1909 a Liga Republicana das
Mulheres Portuguesas, e mais tarde, o Conselho Nacional das
Mulheres Portuguesas (1914), perseguiram objetivos idênticos aos
das congéneres europeias e o esforço de mulheres prestigiadas
(ex: Carolina Beatriz Ângelo). Com exceção, de um pequeno
punhado de países, como a Austrália ou a Finlândia, as pretensões
políticas femininas chocaram, até à Primeira Guerra Mundial,
com uma forte oposição, sendo alvo da censura e do escárnio dos
poderes políticos e da própria sociedade. As convulsões da
guerra vieram alterar este estado de espírito. Os homens nas
trincheiras, as mulheres viram-se livres das suas tradicionais
limitações como donas de casa, assumindo a autoridade do lar e o
sustento da família. Podiam ser vistas a trabalhar nas fábricas de
armamento, a conduzir carrinhas e autocarros, a fazer reparações
elétricas, a carregar materiais pesados. No campo, também o
trabalho masculino e mesmo na frente de batalha tornaram-se
imprescindíveis, os cuidados de enfermagem, com risco da própria
vida.
-Este esforço reforçou a autoconfiança feminina e granjeou-
lhe a valorização social que até aí lhe faltava. Nas décadas ao
final do conflito, em grande parte as mulheres adquiriram o direito
de intervenção política «, consolidaram a posição jurídica na família
e viram aberto o acesso a carreiras profissionais prestigiadas.
A técnica revoluciona o quotidiano e as
mentalidades:
- Os transportes e os meios de comunicação que mais
contribuíram para alterar o estilo de vida e as mentalidades. Henry
Ford tornou o automóvel um bem de consumo corrente. Era
agora possível residir nos subúrbios e trabalhar nas cidades; nos
dias de lazer; os passeios de automóvel e os piqueniques tornaram-
se rotina; o gosto pela velocidade e uma sensação de liberdade
inteiramente nova impregnaram os espíritos.
- Este alargar de horizontes que a revolução automóvel foi
reforçado pela criação das primeiras carreiras aéreas de
passageiros, que deram passos de gigante após a 1ª Guerra
Mundial. Ao mesmo tempo que o automóvel e o avião encurtavam
distâncias físicas, outras tecnologias revolucionárias
aproximavam os cidadãos do mesmo país e do mundo inteiro.
- Cerca de 1910 mais de 6 milhões de americanos já tinham
instalado nas suas casas o telefone de Bell, que veio acentuar mais
a sensação de rapidez e imediatismo que impregnava o novo
século. O impacto do telefone foi enorme, nos mais variados
setores: melhorou a eficiências da administração pública, permitiu
acudir rapidamente a todo o tipo de emergências, beneficiou
empresas e negócios. Contribuiu, juntamente com a revolução nos
transportes e outras inovações técnicas, para a rápida difusão das
notícias.

O advento dos mass media:


- A possibilidade de difundir rapidamente impulsionou os
meios de comunicação de massas (mass media). Dirigidos para
um público essencialmente urbano e escolarizado, os mas media
homenageou valores, gostos e comportamentos, operando uma
verdadeira revolução nas mentalidades. A imprensa, a rádio e o
cinema foram os principais meios de comunicação de massas das
primeiras décadas do século XX.
- Dotados de novas técnicas de impressão, que lhes baixam
o preço e lhes dão maior qualidade, os jornais conhecem, então,
um período dourado. A par dos jornais proliferam as revistas, com
as temáticas mais diversas. Sobre política, eventos sociais,
desporto, moda ou cinema, enchem periodicamente os escaparates
dos quiosques e instalavam-se rotina nos leitores. O
aperfeiçoamento da telegrafia sem fios (TSF) em 1896, abriu
então caminho à rádio, após o primeiro conflito mundial, o mais
popular dos meios de comunicação.
- A rádio tornou-se um importante meio de difusão cultural:
transmite notícias, música, novelas radiofónicas, anúncios
publicitários. Com pouca distância relativamente à radio, o cinema
rapidamente se universaliza. Nascido em França pela mão dos
irmãos Lumière, tornou-se um sucesso de público na Europa, na
América e na Ásia.
- O nascimento do cinema sonoro, em 1927, com o file “The
Jazz Singer”. O cinema adquire uma dimensão muito mais próxima
da realidade e cultiva outros géneros com destaque para o musical.

A ciência testa os seus limites:


- A viragem para o século XX foi marcado por novas e
desconcertantes descobertas científicas.
- Em 1905, Albert Einstein dá a conhecer Teoria da
Relatividade, que abala princípios fundamentais da Física clássica
ao negar o carácter absoluto do espaço e do tempo. Ninguém
imaginava que o tempo fosse uma variável e decorresse mais
depressa ou mais devagar consoante a velocidade dos corpos. O
físico alemão, Max Plank revela a mecânica quântica e o mundo
da microfísica determina, com rigor, o que está a acontecer e
prever o que acontecerá. Assim caiu por terra a conceção
positivista de um Universo ordenado, por leis claras e rigorosas
que a ciência poderia desvendar. Em sentido inverso uma nova
conceção científica, o relativismo, aceita o mistério e a desordem
como partes integrantes do Universo. O próprio funcionamento da
mente humana foi posto em causa pelo trabalho do médico
austríaco Sigmund Freud, ele revelou a existência no psiquismo
humano, na qual o indivíduo não controla e da qual não tem
consciência, mas que se manifesta permanentes no
comportamento, o inconsciente.
- A revelação, por Freud, bem como o reconhecimento da
pulsão sexual, com uma das maiores importantes que deram força
aos movimentos de contestação dos valores e das convenções
sociais que marcaram os loucos anos 20.

As vanguardas:
- No início do XX, Paris era o centro incontestável da arte
europeia. A ousadia dos impressionistas, escândalo tinha causado
na década de 1870, reforçando o prestígio da cidade. Em comum
uma reivindicação essencial: o artista é livre para criar, não está
submetido nem às regras das academias nem às formas de
Natureza.
- Arte não reproduz o mundo tal como ele aparenta ser,
mas como o artista o vê e sente. Completa liberdade da criação
artística, que modificou o próprio conceito de arte.

O fauvismo:
- Constituiu a primeira vaga de assalto da arte moderna
propriamente dita. Rebento em 1905, por pintores pouco
conhecidos Henri Matisse, André Derain, Maurice de Vlaminck,
Georges Rouault. As telas que se encontravam na sala eram, de
facto, chocantes, com um colorismo muito intenso, aplicando de
forma aparentemente arbitrária, tornava-as, à 1ª vista obras
estranhas quase selvagens.
- O fauvismo foi um movimento marcadamente francês com
intenções de índole social ou psicológica.

Características:
- Primitivismo, os artistas do fauvismo utilizam
massivamente as cores puras em obras;
- Foge dos padrões tradicionais;
- Pintura não tradicional;
- Não tinham caráter crítica, político, social, como
em outros movimentos artísticos;
- Simplificação das formas;
- Cores vibrantes(laranja, amarelo, vermelho,
roxo).

Expressionismo:
- Nasce quase ao mesmo tempo em diversas cidades alemãs,
como uma tentativa de abalar o conservadorismo. Mas nasce
também como um grito de revolta individual contra uma
sociedade excessivamente moralista e hierarquizada.
- Em 1905, paralelamente ao nascimento do Fauvismo em
França, quatro jovens estudantes que fundaram um grupo artístico
revolucionário a que chamam Die Brucke. Os artistas de Die
Brucke defendiam uma arte impulsiva, fortemente individual,
que representasse o impulso artístico. Recorriam então à utilização
de grandes manchas de cor, intensas e contrastantes, aplicadas
livremente, tinha também uma temática pesada.
Características:
- Uso de cores fortes e contrastantes;
- Deformação da figura;
- Uso de pinceladas marcantes;
- Valorização da arte primitiva e gravura;
- Grossas camadas de tinta;
- Temas sombrios;
- Emoção como centro da mensagem.
O cubismo:
- Nasceu cerca de 1908 pela mão de Pablo Picasso e do seu
amigo francês Georges Braque. Os dois pintores centraram-se na
representação dos volumes, que reduziram as formas
geométricas, sobrepostas numa aparente anarquia. A verdadeira
novidade do Cubismo não estava, porém, na geometrização, mas
na destruição completa das leis da perspetiva.
Características:
- Geometrização das formas;
- Alteração da perspetiva tradicional;
- Distorção da realidade;
- Diferentes pontos de vista;
- Preferência por linha cortadas ou cruzadas;
- Cores frias.

Abstracionismo:
- Desde o fim do século XIX, a arte foi tornando-se
progressivamente mais abstrata. Nasceu então em 1910 o
abstracionismo.
- Kandinsky e com muitos outros pintores do seu tempo
deixando-se seduzir pelas cores fortes e vibrantes, considerava
então que as cores e as formas têm em si uma força expressiva
própria. Tal como a música, as abstrações de forma e de cor
constituem uma linguagem universal.
- Existiam duas vias principais desta vanguarda:
abstracionismo sensível ou lírico que apelava à cor e às
emoções, procurando exprimir a interioridade do pintor. O
abstracionismo geométrico busca uma expressão intelectualizada
do mundo exterior.
Características:
- Arte não representacional;
- Ausência de objetos reconhecíveis;
- Arte subjetiva;
- Oposição ao modelo renascentista e à arte
figurativa;
- Valorização de formas, cores, linhas e texturas.

Futurismo:
- Em 1909 enquanto o Cubismo se desenvolvia em França, o
poeta italiano Filippo Marinetti, a partir de Milão, desenvolveu o
futurismo.
- O manifesto de Marinetti é um hino à vida moderna que
rejeita o passado e glorifica o futuro. A máquina, conquista e
emblema do mundo moderno, assume o lugar central de ídolo dos
futuristas, com ela a velocidade devotam um verdadeiro culto.
Características:
- Dinamismo;
- Valorização do homem;
- Exaltação da tecnologia;
- Uso de cores vibrantes e contraste;
- Movimento e velocidade;
- Onomatopeias;
- Versos livres.

Dadaísmo:
- Nasceu em Zurique, em 1916 desenvolveu-se também em
outros polos, como Nova Iorque, Berlim e Paris.
- Aplicaram-se assim em destruir os fundamentos da arte
criando a antiarte. Através do culto do absurdo: assemblages, as
composições ao acaso, tudo servia para negar a arte e o seu
valor.
- Tentavam criar a antiarte, os dadaístas provocavam grande
agitação nos meios artísticos com panfletos e artigos obscenos,
insultos ao público que visitava, curioso, as suas exposições e
espetáculos desconcertantes em que montavam pequenas peças
sem nexo.
Características:
- Ausência simétrica;
- Rompimento dos modelos tradicionais;
- Anarquismo e niilismo (negação, descrença);
- Aversão à guerra;
- Crítica aos capitalismos e ao consumismo;
- Conteúdos sem lógica;
- Caráter pessimistas e irônicos.

Surrealismo:
- Por volta de 1912, o dadaísmo chega ao fim da sua
evolução. Sob a influência de Freud e da psicanálise, o movimento
iniciado por Breton. Desde modo, o “modelos” da arte”, que
erradamente tinha sido na realidade exterior, deslocava-se para o
mundo da interioridade, era agora procurando na mente do
artista. O surrealismo não se prende com questões formais.
- Cada um exprime-se à sua própria maneira, cada um
encontra a via pessoal de acesso ao seu próprio psiquismo.
Características:
- Imagens imprevisíveis;
- Livre expressão do pensamento;
- Automatismo e espontaneidade;
- Influência de Freud;
- Figuras disformes e justapostas;
- Valorização do inconsciente.

Em síntese:
- Até ao século XX, a pintura permaneceu fiel ao “principio da
realidade” representando um mundo de aparência e objetos
reconhecíveis. As vanguardas vieram romper com este universo
plástico:
- Libertaram a figuração da sujeição ao modelo:
Distorcendo as formas e utilizando arbitrariamente as cores, sem
atender à sua fidelidade. Assumida por fauves e expressionistas,
tornou-se uma característica comum a todas as correntes.
- Desconstruíram o espaço pictórico: desde o
renascimento segundo as leis da perspetiva. Os esbatimentos dos
volumes e da profundidade, presentes nas telas fauvistas e
expressionistas anunciando o regresso da pintura à sua natureza
bidimensional. Ao cubismo a desarticulação completa das regras
da figuração.
- Adotaram novos objetos temáticos: índole abstrata
ou projetos peço inconsciente humano. Pela primeira vez, a pintura
desliga totalmente os seus temas da realidade sensível.
- Alargaram o universo da pintura: ao introduzirem
aspetos desde sempre;
e tinham sido alheios, como o movimento e o tempo, esboçados
pelo cubismo e plenamente desenvolvidos pelo Futurismo.
- Introduziram um conjunto vasto de novos materiais
artísticos: aumentando significativamente o potencial plástico e
expressivo da pintura. Iniciada pelo Cubismo, adotada também
pelos movimentos posteriores.

Você também pode gostar