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No último dos 14 pontos que serviram de base às negociações de paz, propostos pelo
Presidente Wilson, era feito um apelo à formação de uma organização geral das nações,
que tivesse por objetivo “assegurar as garantias mútuas de independência política e
integridade territorial tanto aos pequenos como aos grandes Estados”.
A organização proposta pelo presidente dos EUA concretizou-se, ainda em 1919, com a
formação da Sociedade das Nações - a SDN.
A organização tinha como objetivo fundamental desenvolver a cooperação entre as
nações e garantir a paz e a segurança. Para isso, os 45 países signatários
comprometiam-se a manter relações francas e abertas fundadas na justiça e na honra e a
salvaguardar a paz pela subordinação rigorosa das suas relações às prescrições do Direito
Internacional. Em conformidade, eventuais conflitos que surgissem entre as partes
contrastantes eram resolvidos pela arbitragem de um órgão judicial - o Tribunal
Permanente de Justiça Internacional.
Para salvaguarda destes princípios, eram previstas medidas tendentes ao desarmamento,
era claramente expressa a obrigação de os estados-membros respeitarem a integridade
territorial e a independência recíproca. Para o Estado que infringisse qualquer dos
princípios acordados eram definidas sanções a aplicar. Finalmente, era também acordado
que a agressão a um dos países membros obrigava os outros a intervir na defesa do país
agredido.
A ordem internacional saída da Conferência de Paz e traduzida nos vários acordos e
tratados assinados não favoreceu o sucesso político da SDN. Com efeito:
● a paz entre vencedores e vencidos não foi “tratada” como pressupõe a designação
dos pretensos acordos estabelecidos entre os países beligerantes. Como mais tarde
hão de clamar os nacionalistas alemães, em particular, os tratados foram “ditados”
(impostos) pelos países vencedores aos países vencidos, que nem sequer
participaram na elaboração dos textos. Desta forma, o fim da Primeira Guerra
Mundial mais não trouxe à Europa do que a afirmação prepotente e humilhante dos
países vencedores sobre os países vencidos;
● entre os vencedores, cedo sobressaíram as tradicionais rivalidades e ambições
hegemónicas interrompidas durante o conflito;
● a distribuição das reparações de guerra gerou descontentamento entre alguns dos
países participantes no conflito, que se consideraram secundarizados nos seus
interesses, como Portugal;
● outros sentiram-se frustrados nos interesses geoestratégicos que tinham motivado a
sua intervenção ao lado dos Aliados. Por exemplo, a Itália, que abandonou a
neutralidade inicial e entrou na guerra ao lado da Tríplice Entente, considerava a
sua vitória incompleta por não lhe ser reconhecido o direito sobre os territórios que
lhe tinham sido prometidos pelas democracias triunfantes;
● na redefinição das fronteiras, a questão das minorias nacionais não foi devidamente
considerada. Por interesses particulares de quem decidia, uma multiplicidade de
povos ficou dispersa por vários dos novos países, sem respeito pela sua identidade
étnica e cultural. Milhões de pessoas decidiram abandonar as suas áreas de
residência e deslocaram-se para os seus novos Estados, dando origem a uma das
mais violentas movimentações de povos da História;
● para complicar mais o sucesso político da SDN, no senado americano triunfou o
tradicional isolacionismo face à política mundial, apenas contrariado pelo
Presidente Wilson. Assim, o Senado recusou ratificar o Tratado de Versalhes, e,
consequentemente, a adesão dos EUA a esta organização. Os senadores americanos
opunham-se às pretensões hegemónicas das potências europeias e mostravam
desagrado com o facto de os vencedores reconstruírem as suas economias à custa
da asfixia dos vencidos.
Assim, a ordem internacional definida pela SDN saía claramente ameaçada pela própria
associação dos países que a instituíram.
O declínio da Europa
Para além das alterações geopolíticas, a Primeira Guerra Mundial provocou profundas
alterações na situação económica e financeira da Europa, o principal palco das
destruições.
● Alterações demográficas. As elevadíssimas perdas humanas, provocadas por
milhões de mortos e estropiados, provocaram alterações na demografia europeia.
Além da diminuição da mão de obra, assistiu-se ao envelhecimento da população e
ao excedente da população feminina, numa altura em que toda a força de trabalho
era pouca para arrancar o processo de reconstrução.
● Perdas materiais. Sobretudo na Europa Central, todo o setor produtivo foi atingido:
solos agrícolas devastados, casas, fábricas e minas destruídas, vias de comunicação
desorganizadas constituíam a imagem de uma Europa em ruínas.
● A inflação galopante. Como a procura excedia a oferta, tornou-se prática o
racionamento dos bens essenciais. Em consequência, os preços galoparam e
tornaram-se incomportáveis para as classes médias de rendimentos fixos, cujos
aumentos nos salários não acompanhavam o aumento dos preços. Para obviar às
dificuldades, os governos limitavam-se a aumentar a massa monetária em
circulação, sem ser acompanhada pelo desenvolvimento do processo produtivo.
Assim, a moeda circulante não tinha correspondência na riqueza dos Estados e
rapidamente perdia o seu valor, agravando ainda mais a inflação.
● Agravamento do défice. A situação económica e financeira da Europa tornava-se
ainda mais complicada pela crescente dependência dos empréstimos e
fornecimentos de material estrangeiro imprescindíveis para o lançamento dos
grandes empreendimentos. Como as exportações eram quase inexistentes,
tornava-se muito difícil equilibrar a balança de pagamentos. A contração de novos
empréstimos era o recurso inevitável dos governos. O agravamento dos Estados era
a consequência imediata.
Foi bem alto o preço a pagar pela vitória da Rússia bolchevista na guerra civil
(1918-1920). Em inícios de 1921, a economia do país estava na ruína. A produção de
cereais descera para metade da de 1913. Obrigados à requisição de géneros, os
camponeses não produziam, escondiam ou destruíam as suas colheitas. Depois de um
inverno difícil em 1920-21, a seca do verão de 1921, nas regiões meridionais, fez 3
milhões de mortos de fome. Nas cidades e nas fábricas, a situação não se mostrava mais
favorável. A produção industrial diminuíram ¾ relativamente à de 1913. As minas de
hulha estavam inutilizadas, os caminhos de ferro paralisados.
Em fevereiro de 1921, os operários e camponeses de Cronstadt revoltaram-se contra o
rumo que a revolução socialista tomara. Pediam liberdade de expressão e de imprensa,
eleições democráticas e libertação dos presos políticos. Embora o Exército Vermelho
tenha esmagado a revolta com ferocidade e a ameaça parecesse controlada, Lenine
obteve, de imediato, a autorização do Congresso dos Sovietes para inverter a marcha da
Revolução. O comunismo de guerra cedeu lugar à Nova Política Económica (NEP), um
recuo estratégico que recorreu ao capitalismo, já que o socialismo não deveria edificar-se
sobre ruínas.
Com a NEP, o Governo socialista aceitava a iniciativa privada em setores secundários,
mas essenciais da produção, mantendo no Estado os setores fundamentais da economia.
Assim, era permitido aos setores privados agrícola, industrial e comercial intervir no
mercado com alguma liberdade, para travar o agravamento da carência de bens e de
primeira necessidade. A Rússia conseguiu modernizar-se e, em 1927, a pequena e a
média burguesia dos negócios, os nepmen, e pequenos proprietários rurais, os kulaks,
resultantes da adoção de algumas medidas de tipo capitalista, tinham resposto e até
ultrapassado os níveis de produtividade anteriores à Grande Guerra. Falecido em 1924,
Lenine já não pôde assistir aos resultados da sua Nova Política Económica.
3. A regressão do demoliberalismo
Os anos que se seguiram ao pós-guerra foram atravessados por profundas dificuldades
económicas. Neste contexto, grandes greves e movimentos revolucionários irromperam
na Europa, alimentados pelo exemplo da revolução bolchevique na Rússia Soviética.
Assistiu-se a uma radicalização social e política.
Era o tempo das ditaduras que se aproximava com o avanço da extrema-direita e o triunfo
de regimes totalitários na Hungria, em 1920, na Itália, em 1922, na Turquia e na Espanha,
em 1923, na Albânia, em 1925, na Lituânia, na Polónia e em Portugal, em 1926, na
Jugoslávia, em 1929.
Mas era a evolução política da Alemanha aquela que prenunciava consequências mais
trágicas para a História europeia do século XX, já que Hitler e o partido nazi ganhavam
cada vez mais adeptos.
A imagem da rapariga estouvada que, de saia curta e cabelo arrapazado, desafia todas as
convenções marcou, sem dúvida, a década de 20, durante a qual a mulher deu grandes
passos no caminho da sua emancipação. No entanto, ela é apenas o lado mais
escandaloso e fútil do longo e difícil percurso que conduziu à emancipação feminina. O
movimento feminista remonta ao século XIX. Por volta de 1850, as reivindicações
centravam-se no direito das mulheres casadas à propriedade dos seus bens, à tutela dos
filhos (em caso de viuvez, o poder paternal era exercido por um parente masculino), ao
acesso à educação e a um trabalho socialmente valorizado. Em suma, as primeiras
feministas lutaram por alterações jurídicas que terminassem com o estatuto de eterna
menoridade que a sociedade burguesa oitocentista reservava à mulher.
Cerca de 1900, o direito de participação na vida política (direito ao voto) passou a
assumir um papel preponderante nas reivindicações femininas. Organizaram-se então
numerosas associações de sufragistas que, com um enorme espírito de militância,
desencadearam uma luta tenaz pelo voto feminino.
Na Europa, destacaram-se as sufragistas britânicas lideradas pela célebre Emmeline
Pankhurst que viria a marcar o feminismo do princípio do século.
Em Portugal fundou-se, em 1909, a Liga Republicana das Mulheres Portuguesas e, mais
tarde, a Associação de Propaganda Feminista (1911), que perseguiram vários objetivos
idênticos aos das suas congéneres europeias e contaram com a dedicação e o esforço de
mulheres prestigiadas como Ana de Castro Osório, Carolina Beatriz Ângelo, Adelaida
Cabete, Mariva Veleda, entre outras.
Com exceção de um pequeno punhado de países como a Austrália ou a Finlândia, as
pretensões políticas femininas chocaram, até à Primeira Guerra Mundial, com uma forte
oposição, sendo alvo de censura e do escárnio dos poderes políticos e da própria
sociedade, maioritariamente conservadora.
As convulsões da guerra vieram alterar este estado de espírito. Com os homens nas
trincheiras, as mulheres viram-se libertas das suas tradicionais limitações como donas de
casa, assumindo a autoridade do lar e o sustento da família. Podiam ser vistas a trabalhar
nas fábricas de armamento, a conduzirem carrinhas e autocarros, a fazerem reparações
elétricas, a carregarem materiais pesados. No campo, realizavam também o trabalho
masculino e mesmo na frente de batalha se tornaram imprescindíveis, assegurando os
cuidados de enfermagem. Este esforço reforçou a autoconfiança feminina e granjeou-lhe
a valorização social que até aí lhe faltava. Nas décadas subsequentes ao final do conflito,
em grande parte dos países ocidentais as mulheres adquiriram o direito de intervenção
política, consolidaram a sua posição jurídica na família e viram aberto o acesso a
carreiras profissionais prestigiadas.
Nesta conjuntura intelectual, a crença de que o ser humano conseguiria desvendar, com
uma certeza absoluta, todas as leis que regem o Universo e aplicar essas leis a todas as
áreas do conhecimento, incluindo as ciências sociais e humanas, é profundamente
abalada com a formulação de teorias que defendem a existência de áreas do
conhecimento em que a certeza é impossível, não se podendo ir além das probabilidades
e da intuição. Abriam-se novos campos do conhecimentos que, gradualmente, têm de
abandonar o culto do racionalismo clássico, da certeza positivista e adotar a incerteza e o
relativismo.
Da certeza objetiva caminhou-se para a subjetividade do conhecimento. O sujeito que
conhece impõe-se ao objeto que é conhecido, resultando deste pressuposto que todo o
conhecimento é uma construção subjetiva que nunca poderá ser absoluta, mas relativa ao
sujeito e condicionada pelas suas emoções.