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Histó ria A

As transformações das primeiras décadas do século XX


UM NOVO EQUILÍBRIO GLOBAL
A geografia política após 1ªGuerra Mundial

A Primeira Guerra Mundial foi impiedosamente destrutiva para a maioria


dos países da Europa, tanto para aqueles pertencentes à Tríplice Aliança como
para aqueles da Tríplice Entente, as principais forças que se debateram no conflito.
Em 1918, a Alemanha foi praticamente encurralada pela milícia dos Aliados e nã o
teve outra opçã o senã o render-se. Foi entã o que, a 11 de novembro de 1918, se
decidiu assinar o Armistício de Compiègne, que serviria como uma espécie de
introduçã o ao Tratado de Versalhes.
Contudo, e antecipado a esses documentos, já tinha surgido outro, redigido
pelo Presidente Norte-americano, W. Wilson que, denunciando como desumana tal
forma de fazer guerra – causa de danos nas vidas e nos bens dos cidadã os –,
assinalava uma forma de fazer uma paz sem vencedores nem vencidos, deixando,
assim, resolvidos os anteriores problemas de maneira a que nunca mais pudesse
existir outra guerra posterior. O seu plano de catorze pontos propunha acabar com
as disputas coloniais, a autodeterminaçã o dos povos submetidos pela Europa, a
proibiçã o dos tratados internacionais secretos (diplomacia transparente), a
liberdade dos mares e das trocas comerciais entre os EUA e a Europa, a limitaçã o
dos armamentos e, o que constituía a maior originalidade, a criaçã o de um
organismo internacional – a Sociedade das Naçõ es – que impediria novas
confrontaçõ es entre os Estados.
Foi somente no ano seguinte, em 1919, e apesar da dificuldade em definir
consensos, surgiram os acordos de paz, entre eles: o Tratado de Versalhes (28 de
junho), o de Saint-Germain-en-Laye, o de Trianon, o de Neuilly e o de Sèvres,
assinados com a Alemanha, a Á ustria, a Hungria, a Bulgá ria e o Império Otomano,
respetivamente, e que redecretavam uma nova conceçã o dos mapas geográ ficos e
políticos europeus, isto é, uma nova ordem internacional.

Politicamente, divulgados os tratados e deposto regime czarista na Rú ssia, outras


regiõ es constituintes dos vá rios Impérios – Alemã o, Austro-Hú ngaro, Otomano –
reivindicam a sua independência e autonomia, proliferando os estados-naçã o,
como é o caso da Finlâ ndia, da Estó nia, Letó nia, Lituâ nia, Poló nia, Checoslová quia,
Jugoslá via e Hungria. O choque armado contribuiu, deste modo, para a queda dos
Impérios de cunho clá ssico, autoritá rios e personalizados, e para a ampliaçã o do
sistema democrá tico parlamentar, o qual vigorou durante algum tempo nestes
novos países. Por outro lado, a França, a Itá lia, a Dinamarca e a Grécia, vêm
alargados os seus domínios territoriais, preenchendo o lugar da Alemanha, da
Á ustria e da Turquia, as principais perdedoras do conflito. E, como se nã o
bastassem as perdas geográ ficas e econó micas, como sendo a perda de populaçã o,
de mã o de obra, das coló nias, da frota de guerra e mercante e das minas de Sarre,
os Aliados decidiram retirar à Alemanha o seu poder militar.
Depois da paz reestabelecida e de punidos os vencidos, “responsá veis” da guerra, a
Europa resolveu finalmente concretizar o projeto proposto pelo Presidente Wilson,
a Sociedade (ou Liga) das Nações, que viria a pô r em prá tica esta nova ordem
internacional prometida, assente no direito dos povos a disporem de si pró prios e
no respeito pelos seus Estados soberanos, na autonomia e no espírito democrá tico
progressivamente evoluído.
No entanto, tal projeto concluiu em fracasso, embora tenha emergido de uma
intençã o positiva, como um instrumento de esperança e de harmonia pacífica entre
os estados-membros. Com sede em Genebra, a SDN possuía uma Assembleia Geral,
onde se reuniam regularmente os representantes de cada um dos países. Havia
igualmente um Conselho, um Secretariado e outros organismos importantes, como
o Tribunal Internacional de Justiça, que tencionava instituir um clima de equidade
entre todos, o Banco Internacional, a Organização Internacional do Trabalho e a
Comissão Permanente dos Mandatos.
Mas o afã de vingança dos vencedores semeou, em lugar de suprimir, os motivos
para futuros conflitos, pois, aprovada a sua criaçã o numa das clá usulas do Tratado
de Versalhes, ela pressupunha uma humilhaçã o constante dos países perdedores.
Além disso, também os Aliados se mostravam insatisfeitos, pois algumas das
promessas circunscritas nos tratados nã o tinham sido cumpridas e a importâ ncia
de certas minorias nacionais nã o tinha o mesmo valor em relaçã o a outros estados-
membros. Além disso, os Estados Unidos renunciaram-se a participar na
organizaçã o, devido à violaçã o de alguns aspetos referidos nos catorze pontos de
Wilson, como, por exemplo, a transparência e a imparcialidade nos tratados
diplomá ticos. Assim, tudo isto contribuiu para o insucesso e o fiasco da ideia inicial
de uma comunidade fraterna e pacífica, regida por sentimentos cívicos e de
respeito entre os países da Europa.
A difícil recuperação económica da Europa
e a dependência em relação aos Estados Unidos

Economicamente, o conflito provocou o momentâ neo relançamento dos


países neutrais (Países Baixos, Suíça, países escandinavos, Espanha, na parte
latino-americana). Contudo, os resultados foram traumá ticos para as economias da
Europa combatente ao produzir-se uma rotura nos circuitos comerciais
tradicionais, dada a estagnaçã o do setor agrícola e industrial, e na generalizaçã o de
políticas inflacioná rias, que trouxeram a desvalorizaçã o da monetá ria devido à s
emissõ es massivas de notas para solucionar as dívidas e multiplicar os meios de
pagamento. Foi precisamente nesta altura que a Á ustria abriu falência, tendo
sobrevivido à custa do financiamento disponibilizado pela Sociedade das Naçõ es.
Os países europeus recorreram principalmente aos empréstimos financeiros dos
Estados Unidos para recuperar a sua prosperidade econó mica, para o pagamento
das suas dívidas de guerra, para a importaçã o de bens essenciais, pois a agricultura
e a indú stria tinham sido arrasadas, arrastando-se para uma grave dependência
em relaçã o aos EUA que nunca foi totalmente ultrapassada. No entanto, podemos
afirmar que o espaço europeu conseguiu superar as suas complicaçõ es pó s-guerra,
tanto pelo auxílio americano como da contençã o da emissã o de moeda e a
diminuiçã o da inflaçã o, com a redefiniçã o do padrã o-ouro.

No entanto, a difícil restabelecimento econó mico dos países europeus


favoreceu a ascensã o dos Estados Unidos, porque, além de afastados do teatro das
operaçõ es beligerantes e continuando a produzir e a exportar normalmente ao
longo da guerra, foram eles que disponibilizaram os meios financeiros necessá rios
à reconversã o econó mica da Europa, que requeria constantemente empréstimos
aos seus bancos. Todavia, registaram também uma breve crise, que logo se
recompô s dados os esforços de reequilíbrio econó mico, nomeadamente através da
aplicaçã o dos métodos de racionalizaçã o do trabalho na indú stria – o taylorismo,
as concentraçõ es empresariais – e iniciou um período de grande florescimento e
abundâ ncia, frequentemente enunciado como os loucos anos 20, caracterizados por
um ambiente de otimismo e confiança no sistema capitalista.
A REVOLUÇÃO RUSSA

A Rússia antes da Revolução

A Primeira Guerra Mundial afetou, em maior ou menor medida, todos os estados


do Mundo, mas nenhum tanto como a Rú ssia. Com efeito, as consequências do
conflito bélico só iriam alterar o precá rio equilíbrio social, político e econó mico
existente no império autoritá rio e repressivo dos czares, como dariam lugar a um
tumulto revolucioná rio sem precedentes na Histó ria contemporâ nea.
Definitivamente, e do ponto de vista econó mico e social, o Império Russo
esteve submetido, pouco antes da Segunda Guerra Mundial, a um importante
processo de transformaçã o nas suas indú strias. Um rá pido e concentrado
desenvolvimento tinha provocado a existência de numeroso proletariado (força
fundamental no processo revolucioná rio) em Petrogrado e Moscovo. No campo,
apesar de uma relativa modernizaçã o, os desequilíbrios provinham tanto das
tensõ es do pró prio setor, albergador de inú meras nacionalidades heterogéneas
que se debatiam entre si pelo acesso aos bens essenciais e arrasado pela guerra,
como do facto de se ter convertido numa fonte de financiamento do
desenvolvimento industrial. Desde o início, a geraçã o revolucioná ria de 1917 dava-
se conta da transformaçã o política e social que se estabelecera na Rú ssia que tinha
de contar com o apoio de ambos os grupos sociais, cujos pedidos deviam satisfazer.
Esta, apoiada em associaçõ es organizadas, os sovietes, era constituída por três
categorias: os socialistas-revolucioná rios e constitucionalistas-democratas,
maioritariamente compostos por elementos da burguesia liberal, e sociais-
democratas, os mais radicais, que se dividiam em mencheviques e bolcheviques e
que formavam o partido mais popular. No geral contestavam a participaçã o na
guerra, a crise econó mica e a falta de géneros, promovendo manifestaçõ es e
greves, contra o autoritarismo repressivo do regime czarista, a partilha das terras e
a melhoria das condiçõ es de vida e de trabalho do proletariado.
Efetivamente, já em 1905, estas revoltas se faziam evidenciar, como foi o
caso do domingo sangrento, a 9 de fevereiro, onde Nicolau II foi obrigado a
autorizar o funcionamento da Duma, isto é, de um Parlamento. A partir daí, tudo
estava encaminhado.
A Revolução de fevereiro e o fim da monarquia czarista

Tal como em 1905, o processo revolucioná rio de 1917 iniciou-se (23 de


fevereiro) em Petrogrado e as suas primeiras manifestaçõ es tomaram a forma de
mobilizaçõ es mú ltiplas contra a insuficiência do abastecimento e pelo
descontentamento geral sobre o desenvolvimento da guerra. A Duma, que tinha
visto suspensas as suas funçõ es, intermitentemente, entre 1914 e 1916, tomou a
iniciativa criando um comité executivo de cará ter moderado e constitucionalista,
que pretendia o restabelecimento da ordem e a direçã o do desenrolar dos
acontecimentos. Pela mesma altura, generalizou-se, a partir de Petrogrado, a
fó rmula dos sovietes, já experimentada em 1905, como representante direto das
forças populares revolucioná rias e com o objetivo de se converterem num ó rgã o
administrativo e institucional da revoluçã o, dando, em princípio, uma notá vel
dimensã o multipartidá ria. Esta situaçã o, cada vez mais grave devido à
continuidade das mobilizaçõ es e greves, acabaria por dar origem à abdicaçã o do
czar Nicolau II na pessoa do seu irmã o, que renunciou ao trono. Caiu, assim, o
regime czarista na Rú ssia, substituído por um governo provisó rio que a duma
constituiu e que era presidido pelo príncipe liberal Lvov, de cará ter moderado e
cujos objetivos aspiravam a ser a soluçã o para os problemas, ou seja, paz imediata
e partilha das terras.
A Revolução de outubro

A instabilidade política, no entanto, continuava. Os bolcheviques, mais radicais,


motivados por Lenine, que entretanto tinha regressado do exílio, começaram a
tomar posiçõ es, sendo frequentes os confrontos entre eles. Nã o pretendiam
implantar a repú blica, mas sim um governo socialista dirigido pelos sovietes de
soldados, camponeses e operá rios. Vivia-se, entã o, uma dualidade de poderes. O
líder dos sovietes, Lenine, chegou a publicar As Teses de abril, um texto que apelava
à retirada imediata da guerra, prometida e nã o cumprida pelo governo provisó rio,
a confiscaçã o dos bens dos proprietá rios, a entrega do poder aos sovietes, dando
aos bolcheviques maior protagonismo, a imposiçã o de ordem e, por fim, o derrube
do Governo. Esta situaçã o só terminou em outubro, quando os guardas vermelhos
(milícia formada pelos bolcheviques) tomaram pontos estratégicos em Petrogrado,
entre eles, o mais importante, o Palá cio de inverno, sede do governo, e
aproveitaram a fuga de Kerensky para iniciar a construçã o do socialismo.
A democracia dos Sovietes: dificuldades e guerra civil (1918-20)

No dia seguinte, o II Congresso dos Sovietes, no qual os bolcheviques tinham a


maioria dos delegados proclamou a queda do governo provisó rio, assim como a
transferência da autoridade política dos sovietes de deputados operá rios,
camponeses e soldados, e aprovou, por unanimidade, alguns decretos que
estabeleciam o início das conversaçõ es para uma paz justa e democrá tica, a
aboliçã o da propriedade privada, o estatuto de igualdade entre todas as
nacionalidades integradas no país, a atribuiçã o da gestã o das empresas aos
operá rios e a criaçã o de um conselho de comissá rios do povo, que funcionaria
como governo provisó rio até à reuniã o da assembleia constituinte, presidido por
Lenine, acompanhado por Trotsky, Estaline e Rikov.
Contudo, estas medidas suscitaram alguns focos de oposiçã o: contestaçõ es
movidas pela assinatura do tratado de Brest-Litovsk, com a Alemanha, no qual a
Rú ssia abdicava de parcelas do seu territó rio; resistências por parte dos
proprietá rios e empresá rios perante a aboliçã o da propriedade privada e o
controlo operá rio; o levantamento de motins devido à insustentabilidade social e
econó mica, pois o povo carecia de géneros alimentares, a agricultura nã o conseguir
satisfazer as necessidades, a inflacçã o crescia cada vez mais e os soldados
retornados da guerra sentiam-se desintegrados. Tudo isto despoletou
inevitavelmente uma guerra civil, entre duas forças adversas, como sendo os
soldados vermelhos (bolcheviques) e brancos (resistentes), que contavam com
ajudas internacionais.
Neste conflito, saiu vencedor o Exército Vermelho, devido à sua organizaçã o e à
influência exercida sobre o campesinato e o operariado.

O comunismo de guerra, face da ditadura do proletariado (1918-21)

Ao mesmo tempo que se desenhava e desenvolvia a política administrativa


e face aos acontecimentos, Lenine ocupou-se da política econó mica e social, cujo
objetivo inicial consistiu em recuperar a capacidade produtiva destroçada pela
guerra e a revoluçã o. Depois da paz – e em plena guerra civil –, iniciou-se um
período de «comunismo de guerra», que se baseou na colocaçã o de medidas
econó micas e sociais que reativavam o desenvolvimento do país, de entre as quais
cabe realçar, em especial, a jornada laboral de oito horas, a nacionalizaçã o da terra,
do comércio externo e de todas as empresas com mais de cinco trabalhadores, a
proibiçã o da divulgaçã o de jornais burgueses e da existência de outros partidos
além do Partido Comunista, a criaçã o da polícia política (a Tcheca) e o apelo ao
heroísmo revolucioná rio, ou seja, à dedicaçã o extrema à causa nacional, através do
trabalho. Também conhecido como ditadura do proletariado, este comunismo de
guerra significava uma fase transitó ria no processo de construçã o do socialismo,
pretendendo, acima de tudo, prostrar o anterior poder burguês e suprimir as
desigualdades sociais por completo.
A NEP (Nova Política Económica) e os planos quinquenais (1921-39)

Terminada a guerra civil com a vitó ria dos bolcheviques, Lenine reconhece
a excessividade das medidas tomadas no comunismo de guerra e o seu fracasso na
resoluçã o dos problemas da Rú ssia. É entã o que surge a NEP, a Nova Política
Econó mica, em 1921. Na essência realizava-se um certo liberalismo econó mico,
reativava-se a iniciativa privada da terra e a venda dos produtos internamente,
abria-se as portas ao investimento estrangeiro e desnacionalizavam-se certos
setores da pequena e média empresa, mantendo-se a intervençã o estatal nas
finanças, na indú stria pesada e no comércio externo. A entrada em vigor destas
medidas teve consequências profundas: a recuperaçã o da Rú ssia foi inegá vel,
tendo melhorado a sua produçã o, o comércio e as condiçõ es de vida da populaçã o,
tendo igualmente feito emergir duas novas classes sociais, os nepmen e os kulaks,
homens de negó cios e proprietá rios de terras, respetivamente. De outra
perspetiva, esta ú ltima consequência pode ser interpretada como um fracasso, pois
violava o ideal da sociedade sem classes proposta pelo socialismo.
A REGRESSÃO DO DEMOLIBERALISMO

A regressã o do demoliberalismo pode justificar-se em três aspetos


essenciais: primeiro, a influência exercida pela criaçã o da III Internacional, mais
conhecida como Komitern, uma ó rgã o soviético que se propunha a coordenar a
açã o reivindicativa dos partidos operá rios a nível mundial e que contribuiu para a
expansã o dos ideais comunistas num espaço europeu atravessado por profundas
marcas de uma crise socioeconó mica sem precedentes, sedentos de esperança e
confiança, ansiosos por melhorar a sua situaçã o, o que aterrorizava a burguesia
endinheirada dos regimes liberais, receosos de uma revoluçã o semelhante à russa;
segundo, a radicalizaçã o social e política na Alemanha e nos países vencidos da
1ªGuerra que, tendo sido humilhados no Tratado de Versalhes, fomentaram dentro
dos seus territó rios um sentimento revanchista e nacionalista extremo, de modo a
vencer a crise e evidenciar-se novamente como potências; e, terceiro, e como
consequência dos dois ú ltimos pontos, temos a emergência dos autoritarismos, por
medo do bolchevismo e pela inabilidade de resoluçã o dos problemas da parte dos
governos demoliberalistas, incapazes de regularizar e ordenar o estado das coisas,
fomentar a prosperidade, a harmonia e a dignidade, bem como proporcionar
melhores condiçõ es de vida à s populaçõ es. Os regimes autoritá rios e
personalizados, como é o caso do fascismo, mostravam-se como os ú nicos
defensores da ordem, ao empreenderem expediçõ es punitivas contra socialistas e
comunistas e ao prometerem novas perspetivas para um futuro venturoso.
MUTAÇÕES NOS COMPORTAMENTOS E NA CULTURA

No início do século XX, as cidades eram o principal foco de atençã o das


populaçõ es, atraindo milhares de pessoas devido à empregabilidade crescente que
oferecia – devido ao desenvolvimento da indú stria –, à s melhores condiçõ es de
vida, ligadas à disponibilizaçã o das necessidades bá sicas (canalizaçã o, alimento,
energia) e, sobretudo, à s novas formas atividades que iam surgindo no espaço
urbano, nomeadamente aquelas ligadas à educaçã o, à banca, ao consumismo, ao
lazer e, por fim, ao ó cio. Ora, esta concentraçã o quase asfixiante de massas teve,
obviamente, consequências: a dispersã o espacial trouxe o anonimato e a
indiferença pelo pró ximo, o espaço individual passou a ser restrito, investindo-se
mais no espaço pú blico e coletivo.
Entã o, assistia-se igualmente a uma crise de valores que tudo colocava em
questã o e que produzia mudanças significativas nas mentalidades. Além do
individualismo e da superficialidade das relaçõ es, a descrença na civilizaçã o
ocidental e a anomia eram uma constante, dados os efeitos negativos determinados
pela guerra, as perdas humanas e materiais, a violência, o sofrimento e a invasã o
de sensaçõ es tremendas. Além disso, o facto de começar a prevalecer acima de
tudo a ambiçã o e a acumulaçã o de bens, estimuladas pela produçã o caó tica do
capitalismo, as sociedades privilegiaram o materialismo e o consumo mais do que
nunca em vez da condiçã o e da dignidade humana.
Ainda, o valor tradicional absoluto da ciência foi reprovado, dando lugar a
um relativismo quase total dos fenó menos ligado à relevâ ncia de outras formas de
conhecimento, ou de inteligência, como a intuiçã o; os preceitos religiosos, cívicos e
morais eram abandonados; a pró pria democracia foi contestada, tendo sido
substituída por regimes autoritá rios e personalizados; a razã o do homem é
desmistificada pela psicaná lise de Freud, que admite vá rias etapas de consciência e
concede importâ ncia à preponderâ ncia dos acontecimentos traumá ticos e dos
problemas sociais nos consequentes comportamentos do indivíduo.

Por outro lado, é nesta altura que se iniciam os principais e mais afincados
movimentos feministas de sempre. As mulheres, que tinham permanecido no seu
país durante a guerra, enquanto os homens partiam para o combate nas
trincheiras, tinham igualmente ocupado os seus postos de trabalho e o seu estatuto
dentro da família, tendo sido capazes de superar as suas fraquezas e sobreviver
sozinhas, na ausência de figuras masculinas. Os governos cedem-lhes o direito à
instruçã o e à educaçã o, o acesso a profissõ es de nível superior e ao mundo dos
serviços e à intervençã o no seio da família. E sã o elas pró prias a demandar a
igualdade de oportunidades e de direitos perante a Naçã o e a Justiça, algo nunca
antes visto. Tudo isto tem consequências, por exemplo, ao nível do vestuá rio e da
postura perante a sociedade.
A arte no início do século

Todas estas mutaçõ es têm consequências nas mentalidades e, por


conseguinte, no modo de compreender a vida em sociedade e de o representar, que
é, aliá s, o papel dos artistas. Assim, nascem vá rias correntes diferentes inspiradas
no novo estado natural das coisas e do mundo.

FAUVISMO: é um movimento pictó rico francês caracterizado principalmente por


um modernismo agressivo, onde é empregada uma simplificaçã o geral das formas
e da perspetiva – quase ausente – e onde se exprime uma orquestraçã o de cores
puras (amarelo e vermelho berrantes), ordenadas em cada tela de maneira
autó noma. Nã o se trata de dar uma transcriçã o fiel do mundo, mas de exprimir as
sensaçõ es e as emoçõ es que ele provoca no pintor. Alguns pintores: Moreau,
Matisse, Marquet, Camoin, Manguin.

EXPRESSIONISMO: é uma corrente intelectual e artística fundada na


subjetividade, na revolta, na violência, ou, por outro lado, a espiritualidade. Foi
essencialmente marcado pelo simbolismo, baseando-se no irrealismo da cor – já
aplicado pelos fauvistas –, por deformaçõ es, pela estilizaçã o abrupta da figura
humana e das pró prias paisagens. Pretendia, assim, ser o reflexo de uma captura
do estado de alma do artista, as suas emoçõ es, a sua individualidade. Por isso,
aborda temá ticas relacionadas com os sentimentos e as sensaçõ es mais fortes,
como o amor, a paz, a felicidade (O Cavaleiro Azul) e o medo, o horror, o sexo, a
miséria (A Ponte). Alguns pintores: Edvard Munch, Ernest Kirchner, Emil Nolde,
Heckel.

CUBISMO: é um movimento artístico que mais ruturas realiza sobre a arte clá ssica,
pois “esbate” completamente a realidade em si mesma, fragmentando-a em
elementos geométricos regulares, com o intuito de conseguir visualizar na íntegra
o objeto representado, através de uma ó tica alargada de todos os â ngulos e de
todas as formas. Constró i-se em três fases: a primeira, liderada por Cézanne, a fase
experimental, no qual se destaca o quadro Les Demoiselles d’Avignon, de Picasso; a
segunda, a fase analítica que contempla a dissecaçã o do objeto em mú ltiplas
facetas numa gama restrita de cores surdas; e a terceira, a fase sintética,
caracterizada pela introduçã o da cor e de outros elementos, como algarismos,
recortes de jornal, e por um abstracionismo menor, sendo possível identificar mais
facilmente o objeto. Esta corrente baseia-se muito na influência da arte africana (as
má scaras), tal como o expressionismo, e na ausência de perspetiva.

FUTURISMO: Propunha a aniquilaçã o de toda e qualquer forma de tradiçã o, a


destruiçã o das grandes obras artísticas e literá rias do passado, anunciando uma
pintura e uma literatura mais adaptadas à era das má quinas, do movimento, da
velocidade e do futuro. Um verdadeiro hino à vida moderna e uma glorificaçã o do
futuro. Linhas elípticas, circulares, pontos de fuga, movimento, regresso da
perspetiva, jogos de contrastes luminosos e sombreados, cores agressivas e
repetitivas.

ABSTRACIONISMO: nã o pretendia retratar a realidade, mas sim libertar-se dela e


criar imagens oníricas, distantes dos sentidos e da intelectualizaçã o das sensaçõ es.
Utilizava uma linguagem universal, que permitia ao pú blico compreender pela sua
pró pria subjetividade. Neste integram-se vá rias correntes: o abstracionismo lírico,
o geométrico, o neoplasticismo e o suprematismo.

DADAÍSMO: Segundo este movimento, a autêntica arte seria a antiarte,


caracterizada pelo uso da troça, do insulto e da crítica, como modo de destruir a
ordem e estabelecer o caos. O seu ú nico princípio é a incoerência. Nada significa
alguma coisa, nem mesmo o nome do movimento. É a chamada «ready made» que
dá valor artístico a um objeto que normalmente o nã o tem.

SURREALISMO: reú ne características do dadaísmo, adicionando-lhe uma


dimensã o internacional. É fortemente influenciado pelas teses de Freud e da
psicaná lise, pois enfatiza o papel do subconsciente no ato da criaçã o. Pretendia
destruir o racionalismo e imprimir uma importâ ncia pela psicologia das
profundezas intuitivas do ser humano. Pintava sobretudo paisagens absurdas,
onde conviviam objetos fora do seu contexto natural, ora utilizando técnicas
académicas e realistas, ora idênticas à quelas do abstracionismo.

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