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HISTÓRIA A – MÓDULO 7

- resumos (1.ª parte) – até pág. 51

A geografia política após a 1ª. Guerra Mundial

As ambições territoriais dos impérios e o seu desrespeito para com as nacionalidades


conduziram a um clima de antagonismos, responsável pela I Guerra Mundial: a França não
perdoava a perda da Alsácia-Lorena para a Alemanha e a Rússia necessitava de uma saída para
o Mediterrâneo na Península Balcânica, só possível pela proteção dos eslavos oprimidos pelo
Imperador Austro-húngaro.

Logo, os Balcãs eram dinamite pronto a explodir, o que aconteceu de facto, com o assassinato
de Serajevo, em 28 de Junho de 1914, que vitimou, pela mão de um nacionalista sérvio da
Bósnia-Herzegovina, anexada em 1908, Francisco Fernando e sua esposa, herdeiros do trono
da Áustria-Hungria. E, assim, começa a I Guerra Mundial: de um lado a Tríplice Aliança
(Alemanha e Áustria-Hungria) e de outro a Tríplice Entente (França, Rússia e Grã-Bretanha).

Quando o conflito terminou, em Novembro de 1918, os impérios europeus estavam condenados


ao desmembramento: um ano antes, na Rússia, o czar tinha sido deposto, com a Revolução de
Fevereiro; no mesmo ano, a Revolução de Outubro do movimento bolchevique fez a paz
separada com a Alemanha, abdicando da Finlândia, da Polónia, da Ucrânia e das províncias
bálticas (Estónia, Letónia e Lituânia), e proclamou o direito à autonomia das nacionalidades do
ex-Império russo; na Alemanha e na Áustria, aquando da assinatura do armistício, levantamentos
políticos levaram à abdicação dos respetivos imperadores e proclamaram-se repúblicas
democráticas, sendo o destino dos povos subjugados traçado de imediato na Conferência da
Paz e nos tratados impostos aos vencidos, entre 1919 e 1920.

Deste modo, uma nova ordem internacional nascia, assente no direito dos povos a disporem de
si próprios e no respeito pelos seus Estados soberanos, nas autonomias, e na democracia que
progressivamente evoluía.

A Sociedade das Nações

A Sociedade das Nações, também conhecida como Liga das Nações, foi uma organização
internacional, a princípio idealizada em Janeiro de 1919, em Versalhes. Inicialmente, as
potências vencedoras do conflito da Primeira Guerra Mundial reuniram-se nesta data, para
negociar um acordo de paz.

Um dos pontos do amplo tratado referiu-se à criação de uma Assembleia Internacional, cujo
papel seria o de assegurar a paz. A 28 de Julho de 1919 foi assinado o tratado de Versalhes,
cuja sede passou a ser na cidade de Genebra, na Suíça. No entanto, passou a existir oficialmente
no dia 10 de Janeiro de 1920, quando a Alemanha, um dos países vencidos da Primeira Guerra,
passou a constar na sede.

Porém, a paz seria temporária e instável, pois em Setembro de 1939, Adolf Hitler desencadeou
a Segunda Guerra Mundial. A Liga das Nações, tendo fracassado em manter a paz no mundo,
foi dissolvida. Estava extinta por volta de 1942. No entanto, a 18 de Abril de 1946, o organismo
passou as responsabilidades à recém-criada Organização das Nações Unidas, a ONU.

A sua criação foi baseada na proposta de paz conhecida como Catorze Pontos, já publicada no
Diário Universal, feita pelo Presidente norte-americano Woodrow Wilson, numa mensagem
enviada ao Congresso dos Estados Unidos a 8 de Janeiro de 1918. Os Catorze Pontos

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propunham as bases para a paz e a reorganização das relações internacionais no fim da Primeira
Guerra Mundial, e o pacto para a criação da Sociedade das Nações constituíram os 30 primeiros
artigos do Tratado de Versalhes.

Um dos problemas que levou ao fracasso da Sociedade foi o facto de o Congresso dos EUA não
ter ratificado o Tratado de Versalhes, logo, por conseguinte, não terem entrado na Liga das
Nações.

Durante as negociações na Conferência de Paz de Paris, foi incluída na primeira parte do Tratado
de Versalhes a criação da Liga. Os países integrantes originais eram 32 membros do anexo ao
Pacto e 113 dos estados convidados para participar, ficando aberto o futuro ingresso aos outros
países do mundo. As exceções foram Alemanha, Turquia e a União das Repúblicas Socialistas
Soviéticas.

As crises do pós-guerra

A democracia triunfara na I Guerra Mundial, mas, em 1920, a situação económica da Europa era
muito má: arruinada e endividada, viu a Áustria a declarar a falência, ficando sob o controlo
financeiro da SDN, devido à inflação monetária, e viu o dinheiro transformar-se em brinquedo na
Alemanha, com a forte desvalorização da moeda.

Entretanto, duas fortes crises se fizeram sentir:

• Crise de 1920-21: na sequência da diminuição da procura interna (devido à alta dos preços)
e europeia (em consequência das restrições do crédito à Europa), os stocks acumularam-se,
os preços baixaram, fazendo-se sentir uma enorme inflação.

A partir de 1922, iniciou-se um período de recuperação, impulsionado pelo esforço na aplicação


dos métodos de racionalização do trabalho, para diminuir os custos de produção, o que permitiu,
juntamente com a concentração de empresas, que muitas empresas continuassem viáveis.
Deste modo, foi o capitalismo liberal e a sua produção em massa para um consumo em massa
que trouxeram “os loucos anos 20”, os anos da prosperity americana, que foi, no entanto, breve
e ilusória, dada a crise que se seguiu.

• Crise de 1929: o crash de Wall Street, a grande crise do capitalismo, acionada pela
especulação bolsista e pela superprodução, que levou à acumulação de enormes stocks, o
que trouxe o desemprego, crescendo vertiginosamente a deflação, prosseguindo-se então, à
destruição de stocks, diminuindo assim, a procura, levando à falência de bancos e empresas.

Tendo sido os EUA fortemente atingidos por ambas as crises, a Europa não pôde resistir, dado
estar a receber todos os investimentos dos EUA. Logo, ambas as crises tiveram um cariz mundial
e também global, pois não só atingiram a nível financeiro e económico, como também a nível
político e social: com o desemprego a subir em flecha, instalou-se o descrédito no modelo político
e económico capitalista, sucedendo-se as convulsões económicas e políticas; e do Leste
europeu, surgem o comunismo e o fascismo como aparente soluções para o momento de crise
vivido na Europa capitalista devastada pela guerra, baseando-se no corporativismo, no
intervencionismo do Estado e no conservadorismo e com promessas de uma estabilização. Daí
a adesão em massa a estas novas ideologias.

A difícil recuperação da Europa e a dependência em relação aos Estados Unidos

Com o final da guerra, à Europa colocou-se o problema da reconversão da sua economia. Na


realidade, a guerra, além da hecatombe humana, tinha provocado devastações nos campos e
nas fábricas e fizera orientar o aparelho produtivo predominantemente para a economia de

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guerra. Era necessário reorientar a atividade económica para a produção de alimentos, a
reinstalação das indústrias ou a aquisição de maquinaria. De momento, estas necessidades
foram satisfeitas com recurso a importações maciças dos EUA, tendo a reconversão económica
sido suportada também com base em empréstimos americanos.

Estes fatores contribuíram para desequilibrar as balanças de pagamento dos países europeus.
A solução encontrada para este desequilíbrio consistiu na desvinculação das moedas europeias
em relação ao padrão-ouro de modo a possibilitar a emissão do papel-moeda necessário ao
pagamento das importações ou das indemnizações de guerra.

Em consequência, a inflação disparou para valores nunca antes verificados, facto que teve
profundas repercussões políticas e sociais. Só em 1925, com base em investimentos
americanos, a economia europeia começou a apresentar sinais de recuperação, auxiliada pela
contenção na emissão de papel-moeda, depois de, novamente, se ter acordado o regresso ao
padrão-ouro, permitindo então reequilibrar as balanças de pagamentos.

A difícil recuperação económica da Europa estimulou a ascensão dos EUA. Afastados do teatro
de operações no decurso da guerra, os americanos continuaram a exportar bens, serviços e
capitais para a Europa, o que contribuiu para a forte entrada de moeda e para uma balança
comercial largamente positiva.

A saúde da economia americana, além do crescimento das exportações, residiu ainda no forte
incremento da procura interna propiciada, em simultâneo, pela elevação dos salários e pela
descida dos preços. Esta última resultou do desenvolvimento dos princípios tayloristas da
racionalização do trabalho, efetuado por Henry Ford. Ford introduziu a linha de montagem na
fábrica de acordo com os princípios tayloristas: o trabalho dividido em operações simples, a
progressão do produto era contínua e sequencial, o ritmo fixado pela velocidade do tapete rolante
que levava o trabalho ao operário, em vez de ser este a procurá-lo. Estas inovações traduziram-
se no abaixamento do tempo de produção do carro e na redução do seu preço, tornando-o um
produto de consumo cada vez mais acessível.

A implantação do marxismo-leninismo na Rússia

O imenso Império Russo, com 22 milhões de km2 e 174 milhões de habitantes, governado
autocraticamente pelo czar Nicolau II, estava à beira do abismo.

As tensões sociais aumentavam de intensidade de dia para dia com os camponeses, que
constituíam 85% da população, clamando por terras, concentradas nas mãos dos grandes
senhores e latifundiários, seus antigos patrões, no sistema de servidão; com o operariado, que
embora escasso era extremamente reivindicativo, exigindo maiores salários e melhores
condições de vida e trabalho; e com a nobreza liberal e a burguesia, desejando a abertura
política, assim como a modernização do país.

Por outro lado, a contestação política era muita e gerava um estado de confusão, pois era
protagonizada pelos socialistas-revolucionários, que reclamavam a partilha de terras; pelos
socialistas-democratas, divididos em bolcheviques e mencheviques*; e pelos constitucionais-
democratas.

A participação da Rússia na Primeira Guerra Mundial, desde o seu início, como parte da Entente,
contribuiu para que se gerasse um sentimento anti czarista, já que as derrotas na frente – onde
os soldados desertavam ou se auto-mutilavam para não combaterem – eram constantes,
agravando as fraquezas do regime de Nicolau II, que ainda teve que contar com a
desorganização económica, com a falta de géneros, que levava a grandes manifestações

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populares devido à fome, e com as denúncias da sua incompetência e a dos seus ministros, por
parte dos liberais e dos socialistas.

O mal-estar político e social na Rússia era muito grave e em breve a situação estaria para
rebentar. As revoluções (de Fevereiro e de Outubro) suceder-se-iam no ano de 1917.

* Bolcheviques – fação maioritária do Partido Social-Democrata Russo, aquando da sua cisão


no Congresso de Bruxelas, em 1903. Dirigidos por Lenine, os bolcheviques mantiveram-se
intransigentes na defesa da luta de classes e da ditadura do proletariado, enquanto que os
* mencheviques (fação minoritária) se mostraram adeptos do reformismo. Em 1912, os
bolcheviques tornaram-se num partido único, e em 1918 adotam o nome de Partido Comunista.

A Revolução Socialista Soviética – as revoluções de 1917

No ano de 1917 deram-se as mais famosas revoluções da História Russa: a Revolução de


Fevereiro e a Revolução de Outubro.

A primeira dá-se em consequência de uma grande manifestação liderada, inicialmente, por


mulheres, em Petrogrado, que protestavam contra o aumento do preço do pão. A este protesto
juntaram-se operários, camponeses e mesmo o exército, que quando lhe foi ordenado que
controlasse a manifestação, acabou por aderir à causa. Na sequência deste último ato, da
tomada do Palácio de Inverno e do apelo do Soviete* de Petrogrado, o movimento popular
ganhou um carácter político, tendo levado o czar Nicolau II, agora desprovido de qualquer apoio,
a abdicar do trono, a 2 de Março.

A Rússia tornou-se numa República através do fim do czarismo, mas os problemas da nação
não se resolveram: criou-se um Governo Provisório, que, escolhido pela Duma, apoiado pelo
Partido Constitucional-Democrata e empenhado na instauração de uma democracia parlamentar,
tinha prometido ao povo a retirada da Rússia da guerra com a Alemanha. No entanto, isto não
foi cumprido, o que foi causa direta da forte oposição dos Sovietes de todo país.

Como os Sovietes tinham a massa popular do seu lado (opondo-se à guerra, reivindicando a
distribuição das terras pelos camponeses, exigindo aumentos nos salários e o dia de trabalho de
8 horas), mas também havia um governo no poder, diz-se que a Rússia viveu num período de
dualidade de poderes.

No entanto, o Governo Provisório foi desacreditado progressivamente e abalado por três fatores-
chave: o regresso do bolchevique Lenine, cujas Teses de Abril apelavam à retirada da guerra,
ao derrube do Governo, à confiscação da grande propriedade e à entrega do poder aos Sovietes,
dando aos bolcheviques maior protagonismo, que se foram impondo nos Sovietes; a inflação
galopante; e as continuadas derrotas sofridas nas frentes de guerra. Tudo isto tornou o Governo
fraco, incapaz de impor alguma ordem, pois os Sovietes apoderavam-se quase livremente de
fábricas nas cidades e terras nas províncias.

Esta situação de dualidade de poderes termina em Outubro de 1917, quando os Guardas


Vermelhos (milícia formada pelos bolcheviques entre a Rev. de Fevereiro e a Rev. Outubro)
tomaram pontos estratégicos em Petrogrado (correios, pontes, gares ferroviárias), assaltaram o
Palácio de Inverno e derrubaram o Governo Provisório.

A 26 de Outubro, o II Congresso dos Sovietes ratificou o golpe bolchevista e elegeu um novo


Governo – o Concelho dos Comissários do Povo, composto exclusivamente por bolcheviques,
com Lenine na presidência, Trotsky na Pasta da Guerra e Estaline na das Nacionalidades – a
primeira revolução socialista do séc. XX estava em marcha.

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* Sovietes – concelhos de camponeses, operários, soldados e marinheiros da Rússia que,
teoricamente, exprimem coletivamente a vontade do povo. Os primeiros, constituídos
exclusivamente por operários, remontam à Revolução de 1905, e foram instalados nas fábricas
como focos de ligação e dinamização dos grevistas. Contidos pelo fracasso do movimento,
reapareceram em Fevereiro de 1917. A Revolução bolchevista de Outubro buscou nos Sovietes
a legitimação popular e deles fez a base da futura organização do Estado da URSS.

O modelo soviético de Lenine – a coletivização

Lenine desejava que a ditadura do proletariado, fundamento do marxismo, fosse implementada


imediatamente, tendo em consideração as estruturas arcaicas e rurais da Rússia, não
negligenciando o papel dos camponeses na revolução operária – um dos aspetos do marxismo-
leninismo*.

No entanto, a sua implementação na Rússia não foi só um produto da ideologia marxista; foi
também um produto das circunstâncias em que se vivia, desde que os bolcheviques tomaram
posse da chefia da nação russa:
• Fortes oposições às negociações em Brest-Litovsk, quando a Rússia assinou a paz separada
com a Alemanha, abdicando das suas províncias, que eram boas fontes de riqueza;
• Fortes resistências por parte de proprietários (Kulaks) e empresários (Nepmen) à aplicação
dos decretos relativos à terra e ao controlo operário (inicia-se a conspiração das antigas
classes possidentes);
• Desorganização da economia provocada pelo estado de guerra vivido e agravado pela
privação de matérias-primas, pela persistência da carestia e da inflação, pelo regresso de
sete milhões de soldados sem hipótese imediata de reintegração na vida civil, pelos atos de
pilhagem e de banditismo que se seguiram;
• Guerra civil, iniciada em Março de 1918, arrastando-se até 1920, que vitimou mais de 10
milhões de pessoas, entre brancos (todos os que se opunham aos bolcheviques, apoiados
pela Inglaterra, França, EUA e Japão, não interessados na expansão do bolchevismo) e
vermelhos (os bolcheviques), que acabaram por vencer, através do seu coeso e
disciplinado Exército Vermelho, organizado por Trotsky, desde 1918.

Tendo em conta a situação, Lenine implantou medidas enérgicas, conhecidas pelo nome de
comunismo de guerra.

* Marxismo-leninismo – desenvolvimento teórico e aplicação prática das ideias de Marx e


Engels na Rússia por Lenine. Caracterizou-se por enfatizar o papel do proletariado, rural e
urbano, na conquista do poder, pela via revolucionária e jamais pela evolução política; pela
identificação do Estado com o Partido Comunista, considerado a vanguarda do proletariado; e
pelo recurso à força e à violência na concretização da ditadura do proletariado.

O modelo soviético de Lenine – O comunismo de guerra.

O comunismo de guerra consistiu nas seguintes medidas:


• Toda a economia foi nacionalizada, segundo a proposta de Marx de “centralização dos meios
de produção nas mãos do Estado”, para destruição do capitalismo; os camponeses foram
obrigados a entregar as colheitas; os bancos, o comércio interno e externo, a frota mercante
e as empresas com mais de 5 trabalhadores e um motor foram estatizadas, competindo ao
Estado a distribuição de bens de acordo com os novos critérios de justiça social: para o
Exército Vermelho, guardião da revolução proletária, cabia o essencial, o restante para
operários e camponeses e, no fim, os burgueses;
• Apelando ao heroísmo revolucionário para desenvolver a produção, instaurou-se o trabalho
obrigatório dos 16 aos 50 anos, prolongou-se o tempo de trabalho, reprimiu-se a indisciplina,
atribuiu-se o salário conforme o rendimento;
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• Proibição dos jornais burgueses e de todos os partidos políticos, exceto o Partido Comunista,
quem liderou realmente esta ditadura; dissolveu-se a Assembleia Constituinte; retiraram-se
dos Sovietes os membros não-comunistas; constituição da Tcheca, a polícia política, que
tinha amplos poderes, fazendo desaparecer qualquer suspeito de conspiração, recorrendo
aos campos de concentração e às execuções sumárias muito frequentemente.

O conjunto de medidas económicas e sociais de emergência, que ficaram conhecidas pelo nome
“comunismo de guerra”, foram as seguintes:
• Destruição do sistema capitalista e coletivização de toda a economia;
• Abolição da grande propriedade;
• Apropriação da produção agrícola dos camponeses (entrega dos campos aos sovietes
para que estes depois os redistribuíssem), para posterior distribuição pelo Estado, que a
faria de forma mais igualitária, abolindo-se assim, o comércio livre;
• Nacionalização das empresas, da banca e do comércio;
• Proibição dos partidos políticos, à exceção do Partido Comunista, criando-se um sistema
de partido único;
• Criação da polícia política;
• Incentivo à reunião da III Internacional, a Internacional Comunista;
• Formação da URSS.

O modelo soviético de Lenine – a NEP, Nova Política Económica

A guerra civil termina com a vitória dos bolcheviques, mas a economia russa, no entanto,
estava arruinada, sendo que Lenine reconhece o carácter excessivo destas medidas, que,
apesar de terem em conta o programa socialista, vai, igualmente, contra o mesmo, dado o
contexto de guerra civil.

Lenine temeu que o caos levasse à revolta do povo, e toma medidas para relançar a economia
– a Nova Política Económica: o Estado mantém o controlo da banca, do comércio externo e
dos principais sectores da indústria, mas volta a ser possível:
• a exploração privada da terra e a venda de excedentes nos mercados, pelos camponeses;
• liberdade de produção industrial e venda dos seus produtos;
• abertura ao investimento estrangeiro.

Com isto, a recuperação da Rússia foi inegável: melhorou a produção, o comércio e as


condições de vida; os kulaks (proprietários agrícolas) e os nepmen (homens de negócios,
comerciantes e industriais) enriqueceram, o que colocou em perigo o ideal da sociedade sem
classes, fazendo com que os objetivos da construção de um Estado socialista saiam, em parte,
fracassados.
Lenine morre em 1924, dá-se um período intermédio de consolidação do poder, e Estaline
assume o poder em 1928.

As repercussões no resto da Europa da Revolução Socialista Soviética

Face ao aumento da conflitualidade social (ocupação de fábricas e de terras, greves em diversos


sectores), decorrente do aprofundamento da crise, associada às atividades
do Komintern, órgão criado com o objetivo de coordenar a ação dos partidos comunistas
que contribuiu para a propagação dos ideais da revolução bolchevista, instalou-se o temor
no seio da burguesia e das classes médias. Estas, afetadas pela inflação, pela quebra do poder
de compra e pela ameaça de proletarização, desejosas de estabilidade social e política,
constituíram o alvo preferencial dos apelos da direita que, perante o espantalho do perigo
comunista, preconizava o estabelecimento de soluções autoritárias.
Como consequência, em vários países da Europa (Inglaterra, França, Alemanha, Itália), e
mesmo nos EUA, assistiu-se a uma reação conservadora, nacionalista e autoritária que se
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concretizou pela viragem à direita por parte de muitos governos, na progressão dos movimentos
racistas e nas limitações à imigração. Se o termo da I Guerra Mundial significara o relançamento
das democracias parlamentares, no final dos anos 20 e 30 a democracia parecia em nítida
regressão.

As transformações da vida urbana

O desenvolvimento urbano foi um dos fenómenos mais importantes dos finais do século XX e
inícios do séc. XX, que vai romper o equilíbrio milenar entre a cidade e o campo (campos
esvaziam-se e enchem-se as cidades).
- Na cidade surgem novas atividades (indústria, serviços que atraem a população rural). O êxodo
rural faz engrossar as cidades.
O número de cidades aumenta e o número de habitantes também.
As cidades são o centro de atividades poderosas e fundamentais relacionadas com a política,
administração, indústria, comércio, banca e serviços públicos ligados às novas necessidades
das cidades: redes de transportes (autocarros, elétricos, comboios), abastecimento (alimentos,
água, energia), escolas, hospitais, saneamento básico e, entre outros, recolha de lixo.
Surgiram as “Metrópoles” (gigantescas áreas urbanizadas) como Nova Iorque, Chicago, Paris e
Londres.
Surgem as “Megalópoles” (áreas urbanizadas de kms, ligando cidades nos E.U.A., Japão,
Alemanha, Holanda).
Mudança na estrutura urbana:
• Novos centros urbanos (já não é a Catedral ou a Praça), mas locais onde estão grandes
edifícios públicos, bancos, centros comerciais, grandes empresas. O poder económico).
• Bairros elegantes do centro onde se instala a Burguesia.
• Bairros operários
• Bairros do submundo de pobreza humana
• Subúrbios (bairros da periferia)

Novas sociabilidades

Surge uma nova sociabilidade e sente-se a desagregação das tradicionais solidariedades dos
meios rurais. Assiste-se, efetivamente, a uma massificação da vida urbana, alienação do trabalho
e verdadeiras formas de anomia social

Massificação da vida urbana


Surge nas cidades uma sociedade de massas, caracterizada por: elevado número de pessoas,
dispersão espacial, anonimato (as populações vivem em bairros estandardizados, trabalham em
grandes empresas e vivem sem estabelecer relações interpessoais com a vizinhança ou com
colegas de trabalho), consumo de massas, uniformização de comportamentos (modo de vestir,
falar, atitudes), novo clima de ócio, ânsia de divertimento.
Alienação do trabalho
Termo marxista para designar o trabalho automatizado imposto pela máquina de montagem. O
trabalho passou a ser anónimo e abstrato. O produto final deixou de ser o produto da criatividade
do operário, para ser o produto da máquina.
Do trabalho operário, o conceito de alienação do trabalho alargou-se, também, ao trabalho
burocrático.

Desagregação das solidariedades e a anomia social


Nas sociedades urbanas quebram-se os laços de solidariedade e as relações entre os homens
desumanizam-se. Os homens vivem cada vez mais isolados, fechados em si próprios.
Nas zonas degradadas dos bairros pobres (urbanos e suburbanos) a pobreza conduz a situações
de marginalização que levam à violência e à criminalidade.

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- Surgem situações de “Anomia Social” que se evidenciam por comportamentos urbanos
marcados por uma ausência de regras ou de leis, de princípios e de valores. São
comportamentos marginais de indivíduos desenraizados que não se integrando na sociedade,
assumem comportamentos agressivos que conduzem à criminalidade (gangsters como Al
Capone, Bonnie e Clyde, vivendo à margem da lei, sem quaisquer princípios morais).

A crise dos valores tradicionais

Os valores tradicionais estão definitivamente em crise. Perdeu-se a confiança na superioridade


da civilização ocidental; na ciência, indústria e no progresso ocidental; na propriedade privada.
A 1.ª Guerra Mundial caracterizou-se por uma tal brutalidade que pôs em causa a confiança e o
otimismo do passado recente.
As consequências da Guerra são: uma deceção generalizada, a descrença, o pessimismo. A
ciência e a sua capacidade de gerar progresso são postas em causa, surge a contestação a
todos os níveis (comportamentos, família, sexual, casamento indissolúvel, papel da mulher, arte
tradicional); é até contestada a política das democracias por grupos revolucionários e por grupos
conservadores e autoritários.

Os movimentos feministas

O século XX assiste à emancipação progressiva da mulher, até então totalmente na


dependência do homem. Vários fatores contribuíram para isso:
• Revolução industrial que utiliza a mulher como mão-de-obra imprescindível para certas
indústrias, como o têxtil. Apesar de ser altamente explorada com salários muito inferiores aos
do homem, esse trabalho permitiu às mulheres uma independência económica que antes não
tinham.
• A 1.ª Guerra Mundial exigiu um papel ativo das mulheres que se viram obrigadas a substituir
os homens nas fábricas, campos e serviços, enquanto eles partiam para as frentes da
batalha.
• Elevação do nível de instrução da mulher que começa a acontecer por iniciativas dos
governos ou para iniciativas particulares de espíritos filantrópicos.
• Surge o Feminismo: corrente que defende o movimento da luta das mulheres pela igualdade
de direitos em relação ao homem. Elas lutam pela: igualdade Jurídica (leis), igualdade
intelectual (instrução), igualdade económica (profissão, trabalho e salários), igualdade política
(direito de voto, possibilidade de ser eleita), igualdade social (família, sociedade).

Direitos conseguidos pelas mulheres:


• Direito de voto (conquista de voto universal)
• Acesso a profissões de nível superior (medicina, advocacia, engenharia e professorado)
• Acesso ao mundo dos serviços
• Maior intervenção dentro da família: maior liberdade de movimentação; maior liberdade
sexual, com uso dos métodos contracetivos.

Reflexo da emancipação das mulheres:


• Nos costumes – novo estilo de vida mais livre, vida social mais intensa, prática do desporto,
procura de divertimentos, acesso aos vícios masculinos (beber e fumar).
• Na moda – mais simples e desportiva, com saias curtas, saia-calça, cabelo curto à
“garçonne”, substituição do espartilho pelo soutien, decotes maiores, maquilhagem.

Surgem revistas femininas que exaltam a mulher e que a orientam no sentido de cuidarem da
sua imagem, exaltando a sua emancipação.

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