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Relações
Internacionais:
Teoria e História
A Guerra Fria

Muitos autores defendem que, após o fim da II Guerra Mundial, não havia
mais a ideia de uma Sociedade Internacional europeia, criada a partir de 1815.
A instabilidade internacional no período de 1919 a1939, que culminou na II
Guerra, corroeu um estado de equilíbrio de quase 100 anos. A Europa entrou
em uma profunda crise de valores e testemunhou o retorno dos egoísmos
nacionais, como ocorrera no período pós-Westfália.

Um novo sistema jurídico-político-econômico internacional foi erigido ao


final da II Guerra Mundial. Nascia a ONU, que procurava corrigir os erros de
Versalhes e com a qual renascia o ideal da segurança coletiva. Nascia também
o sistema de Bretton Woods, que criou o Fundo Monetário Internacional (FMI) e
o Banco Mundial (BIRD) para reconstruir o mundo destruído pela guerra e fazer
com que a ordem liberal-capitalista anterior retomasse seus passos.

O chamado “Sistema de Bretton Woods” foi um modelo de Ordem


Econômica Internacional que vigorou entre 1944 e 1973. Baseava-se em um
esquema de paridades cambiais fixas (mas ajustáveis), fundamentadas no ouro-
dólar – o dólar tornara-se a moeda forte da economia mundial em virtude da
posição dos EUA como hegemon no sistema. O sistema também incluía as
políticas econômicas aplicadas pelo FMI e pelo BIRD (e que, na década de 1980,
ficariam conhecidas como “consenso de Washington”), instituições que
contribuiriam para auxiliar e orientar as políticas econômicas domésticas.

No âmbito político, o mundo pós-1945 foi marcado pela hegemonia dos EUA e
da URSS e um novo modelo de política internacional: o sistema de zonas de
influência de raio planetário, característico do novo tipo de Ator – a
Superpotência. O mundo seria, portanto, dividido em zonas de influência
soviética e estadunidense. O continente americano e o Ocidente Europeu
constituíram-se em zona de influência dos EUA, e o Leste Europeu, da URSS.
No Mapa 28, é possível identificar com clareza essa zona sob a hegemonia
soviética.
Mapa 28: A Europa em 1946

Fonte: http://perso.numericable.fr/alhouot/alain.houot/Hist/ap45/actuel1.html

Um dos legados mais relevantes da II Guerra Mundial foi o fato do conflito


ter trazido algumas soluções para o caos em que as relações internacionais se
encontravam desde a I Guerra, época em que não se havia logrado criar um
mundo pacífico e democrático. A partir de 1945, não houve mais guerra entre as
Grandes Potências, apesar do estado de tensão constante entre as alianças
militares ocidental e do bloco soviético, e o conflito armado foi transferido para o
chamado Terceiro Mundo. O eurocentrismo chegou a termo, e os velhos
impérios coloniais desapareceriam entre 1945 e a década de 1970.

As organizações internacionais após a II Guerra Mundial são Atores


importantes da segunda metade do século XX. Veja os sítios da ONU e da OEA,
a partir dos quais é possível ter acesso aos sistemas de organizações vinculadas
a esses organismos mundial e regional.
A Guerra Fria

A Gestação da Guerra Fria

"A Guerra Fria foi um período em que a guerra era improvável, e a paz,
impossível."

Com essa frase, o pensador Raymond Aron definiu o período em que a


opinião pública mundial acompanhou o conturbado relacionamento entre os EUA
e a URSS. O termo “Guerra Fria” deve-se ao fato de nunca ter ocorrido um
enfrentamento bélico direto entre as duas Superpotências, o qual poderia acabar
culminando na utilização dos arsenais nucleares e na consequente destruição
massiva do planeta.

A Guerra Fria substituiu o jogo da hegemonia coletiva da Europa sobre as


relações internacionais. Há muitas teorias sobre em que momento a ordem
internacional da Guerra Fria foi gestada. Alguns defendem ter sido na Revolução
Bolchevique e no cerceamento internacional da Rússia nos primeiros anos da
Revolução, outros no “cordão sanitário” do Entre-Guerras, e há os que defendem
ter sido gerada nos anos finais da II Guerra Mundial. O fato é que, após a
liberação recente dos documentos, arquivos e memórias antes proibidos para
pesquisas, os fatos que cercam a Guerra Fria passaram a ganhar novas
interpretações, reforçando a tese da sua gestação ao final da II Guerra Mundial
e como obra do erro estratégico dos aliados com relação ao flanco oriental a
partir de 1943 e da rejeição da URSS à ajuda do Plano Marshall, promovido pelos
EUA.

O Realismo nas relações internacionais parece ter tido mais influência na


política soviética do que a ideologia propriamente dita. Stalin, com seus mais de
20 milhões de mortos na guerra, ensaiava a reconstrução do país com base nas
reparações de guerra e na política de zona de ocupação. As ações do líder
soviético acabaram por confundir os formuladores da política externa dos EUA,
que associaram os movimentos de Moscou à ótica de um projeto expansionista.
A assistência norte-americana para a reconstrução soviética, acertada na
conferência de Teerã de 1943, nunca aconteceu. O bloqueio de Berlim, em 1948,
que marcou o início da tensão, foi feito por Stalin ao perceber o desenvolvimento
da doutrina antissoviética por parte dos EUA, a Doutrina Truman, que pregava a
necessidade de contenção da URSS e do expansionismo dos regimes
comunistas a qualquer custo. Em resposta à Doutrina Truman, os soviéticos
desenvolveram a Doutrina Idanov, que percebia a URSS como um baluarte do
Estado proletário sob constante ameaça das Potências imperialistas e que não
deveria poupar esforços para defender-se, sendo o maior deles a expansão do
comunismo pelo mundo.

Para os EUA, o conceito de Superpotência correspondia à conjugação da


capacidade econômica hegemônica com a vontade de construção de uma
grande área sob a influência dos valores do capitalismo, ou seja, a fusão dos
interesses da indústria e do comércio norte-americanos com a busca da
hegemonia mundial. Para a URSS, correspondia à conjugação da necessidade
de sobrevivência do modelo político-econômico planificado e centralista com a
necessidade de compensar sua fraqueza diante do Ocidente com a criação de
uma área sob a influência dos valores do socialismo.

Ao final da II Guerra Mundial, os países beligerantes haviam-se tornado


um campo de ruínas habitado por povos muito propensos à radicalização e à
revolução contrária ao sistema da livre empresa, do livre comércio e
investimento. O Primeiro-Ministro da França foi a Washington advertir que, sem
apoio econômico, era provável que se inclinasse para os comunistas.
Assustados com o aumento dos votos para os comunistas nas eleições
europeias no imediato pós-guerra, os estadunidenses desenvolveram a versão
econômica da Doutrina Truman: o Plano Marshall, que visava orientar a
presença dos EUA na reconstrução econômica da Europa Ocidental, o que seria
uma maneira de reverter o quadro de debilidade das democracias ocidentais e
do capitalismo diante da penetração soviética.

A ajuda do Plano Marshall foi oferecida aos países da Europa envolvidos


na II Guerra Mundial, inclusive à URSS. Stalin rejeitou o dinheiro americano e
denunciou o Plano Marshall como uma declaração de guerra econômica à
URSS. Ademais, impediu os países ocupados pela URSS (Polônia, Países
Bálticos, Tchecoslováquia, Romênia, Hungria, Bulgária e Alemanha Oriental) de
aceitá-lo. E, como resposta ao Plano Marshall, a URSS criou o Conselho de
Assistência Econômica Mútua (COMECOM), com o objetivo de organizar
economicamente o bloco socialista.
Em valores, a ajuda era de US$ 13 bilhões na época, o que seria
equivalente a cerca de US$ 100 bilhões em 2002.

Costuma-se dividir a Guerra Fria em três fases:

· fase “quente”, que vai de 1945 a 1955;

· fase da “coexistência pacífica”, de 1955 a 1979;

· fase da “nova Guerra Fria”, de 1979 a 1991.

Todavia, há os que separam a segunda fase em duas, com uma fase


conhecida como détente (distensão), entre 1969 a 1979, que marca a fundação
de um concerto americano-soviético e o início da decomposição ideológica do
conflito Leste-Oeste.

A Guerra Fria

A Fase “Quente”: 1945-1955

O período inicial da Guerra Fria é marcado pelo início da rivalidade entre


EUA e URSS e pela divisão do mundo em um modelo bipolar. Nos EUA, que
entre 1945 e 1949 eram os únicos detentores da arma atômica, George Kennan
denunciou as pretensões soviéticas de expandir o modelo socialista pelo mundo
e formulou a “doutrina da contenção”.

Em termos militares, houve reformas na organização militar interna dos


EUA, em 1947, e na estrutura militar da aliança atlântica. No campo doméstico,
a Lei de Segurança Nacional (1947) criava o Departamento de Defesa, a Agência
Central de Inteligência (CIA) e o Conselho de Segurança Nacional. Também foi
criada a Força Aérea estadunidense.

No plano internacional, o bloco liderado pelos EUA constituiria um sistema


mundial unificado de defesa, e foi criada, em 1949, a Organização do Tratado do
Atlântico Norte (OTAN), composta por EUA, França, Grã-Bretanha, Bélgica,
Canadá, Dinamarca, Irlanda, Itália, Luxemburgo, Países Baixos, Noruega e
Portugal. Tratava-se de um sistema de defesa que deveria fazer frente a uma
eventual agressão soviética contra seus membros.
A contenção do avanço comunista deveria ocorrer nos campos político e
militar, mas também nas áreas ideológica e econômica. Daí o advento do Plano
Marshall, cujo objetivo era, por meio da ajuda econômica, garantir a presença
norte-americana na Europa Ocidental e a sua reconstrução segundo os valores
democráticos e capitalistas. Acompanhava o Plano Marshall o estabelecimento
da Organização Europeia de Cooperação Econômica (OCDE), instituição que se
encarregaria de aplicar a ajuda estadunidense e servir de foro para novas
iniciativas de cooperação europeia. O Plano Marshall estabeleceria os alicerces
da reconstrução europeia e do processo de integração, que teve como marco os
Tratados de Roma de 1957, embrião da atual União Europeia.

A Guerra Fria

A Fase "Quente": 1945-1955

Segundo Giovanni Arrighi (1996), a expansão econômica mundial e a


integração europeia exigiam uma reciclagem muito maior da liquidez mundial do
que estava implícito no Plano Marshall. O rearmamento foi uma forma de superar
as limitações do Plano. A ideia era fazer com que uma economia nacional não
mais ficasse dependente da manutenção de um superávit de exportações (em
uma época de câmbio fixo, sob pena de depreciação de sua moeda). O
rearmamento nacional era um meio de sustentar a demanda, por meio do
seguinte processo:

rearmamento
(produção - tecnologi - sustentaç - fortalecimento
industrial e > as > ão e > do
desenvolvime colocada excitação mercadodomés
nto s no da tico
tecnológico) mercado demanda
doméstic
a

A assistência militar dos EUA à Europa foi um meio de continuar a prestar


assistência ao velho continente após o fim do Plano Marshall. Os gastos militares
no exterior (que saltaram entre 1950 e 1958 e entre 1964 e 1973) forneceram à
economia mundial a liquidez necessária para se expandir, num processo de
“keynesianismo militar” global.

Havia, ainda, a preocupação particular com a Alemanha. Foram feitos


investimentos em grandes quantidades na Alemanha Ocidental ao final da
década de 1940, com o objetivo de fazer do país reconstruído e de Berlim
Ocidental a vitrine do capitalismo, solidificando a ideia da área como fronteira
das democracias capitalistas. Também se buscava evitar qualquer sentimento
revanchista alemão por meio da incorporação plena do país à Aliança Atlântica.
Os EUA percebiam uma Alemanha Ocidental forte, econômica e militarmente,
como a primeira linha de defesa contra uma eventual expansão soviética rumo
à Europa Ocidental.

Diante das ações estadunidenses, a URSS reagiu. Intensificou o processo


de militarização das fronteiras, o recrudescimento da política de espaços na
Europa Oriental e a aceleração do projeto de desenvolvimento da bomba
atômica: essa seria a resposta de Moscou à política antissoviética adotada pelos
EUA.

Passo importante na fundação do sistema bipolar seria a detonação da


primeira bomba atômica soviética, em 1949. Os soviéticos haviam obtido
tecnologia nuclear dos EUA e da Grã-Bretanha por meio de uma eficiente
operação de espionagem. Isso desencadearia uma perseguição aos comunistas
– ou aqueles suspeitos de simpatia à URSS – que provocaria um período de
terror nos EUA conhecido como Macartismo. De toda maneira, com a bomba, a
URSS mostrava ao mundo que havia, a partir de então, uma outra Potência
nuclear. Começava a corrida armamentista entre as duas Superpotências.

A Guerra Fria

A Fase "Quente": 1945-1955

Além da força nuclear, Moscou buscou garantir também um sistema de


defesa convencional baseado em uma aliança militar para contrapor-se à OTAN
(que, em 1952, incorporava a Grécia e a Turquia) e, em 1955, foi criado o Pacto
de Varsóvia, integrado por URSS, Albânia, Bulgária, Tchecoslováquia, Hungria,
Polônia e Romênia: estabelecia-se o guarda-chuva militar de Moscou sobre a
Europa Oriental.

Ainda no que concerne à Europa Oriental, ocupada pelo Exército


Vermelho, esta foi rapidamente “sovietizada”. Moscou não aceitaria democracias
populares multipartidárias em sua área de influência. Em 1947, foi criado o
Kominform, em substituição à Internacional Comunista. O Kominform tinha por
objetivo propagar a revolução comunista no mundo e garantir o controle
ideológico dos partidos comunistas no Leste por Stalin, momento em que ficou
clara a liderança soviética sobre os movimentos de organização dos comunistas
franceses, italianos, iugoslavos, tchecos, poloneses, húngaros, romenos e
búlgaros.

Mas Moscou também se mostrava disposta a patrocinar a revolução


socialista em qualquer parte do mundo. Daí seu apoio à Revolução Chinesa de
1949, talvez o evento mais importante da história da Ásia no século XX. Com a
vitória comunista sobre os nacionalistas, a China foi reorganizada nos moldes
comunistas, com a coletivização das terras e o controle estatal sobre a
economia. Do dia para a noite, um quinto da população do planeta passava a
viver sob regime comunista. Ademais, nascia uma nova Potência, que logo
ocuparia seu espaço no cenário mundial e rivalizaria com a URSS a liderança do
bloco socialista.

No campo econômico, foi criado o Conselho Econômico de Ajuda Mútua


(COMECOM) para estruturar as relações econômicas entre os membros do
bloco socialista e para se contrapor ao Plano Marshall. O COMECOM
simbolizava o internacionalismo soviético na Economia. Composto inicialmente
por seis países (Bulgária, Hungria, Polônia, Romênia, Tchecoslováquia e a
própria URSS), o COMECOM teria a adesão da Alemanha Oriental em 1950. Em
1962, o ingresso da Mongólia representou um primeiro passo para uma
estruturação do COMECOM para além da Europa. Entre 1956 e 1968, Coreia e
República Democrática do Vietnã obtiveram o status de observadores junto ao
COMECOM. Em 1964, foi assinado acordo com a República Federativa
Socialista da Iugoslávia e, em 1972, Cuba ingressou na Organização.
A hegemonia soviética na Europa Oriental criou uma área de influência a
que Churchill chamou de “cortina de ferro”.

O bloco socialista na Europa e a cortina de ferro estão registrados no


Mapa 29, com as respectivas datas de ingresso de cada país no bloco socialista.

Mapa 29: A Expansão da URSS no Leste Europeu no Pós-II Guerra e a Cortina


de Ferro.

Fonte:http://perso.numericable.fr/alhouot/alain.houot/Hist/ap45/actuel3.html

Para conhecer o clima de tensão da Guerra Fria, assista a Treze dias que
abalaram o mundo (Thirteen days, 2000), dirigido por Roger Donaldson, com
Kevin Costner e Bruce Greenwood. O filme conta a história da Crise dos Mísseis
de Cuba (1962), com ênfase na maneira como se conduziu o processo decisório
no Governo Kennedy e as negociações com os soviéticos, que culminariam na
reestruturação das relações entre as Superpotências.
Outro filme fundamental para a compreensão do período e da maneira
como eram tomadas as decisões é Sob a Névoa da Guerra, dirigido por Errol
Morris. Vencedor do Oscar de melhor documentário de 2004, o filme se molda a
partir de uma longa entrevista do cineasta com Robert Strange McNamara,
Secretário de Defesa estadunidense dos governos de John F. Kennedy e Lyndon
Johnson (entre 1961 e 1967). McNamara apresenta, de forma realista, como se
conduziram a política externa e as relações com a URSS e outros atores em uma
das épocas mais conturbadas da Guerra Fria.

A Guerra Fria

A Guerra da Coreia e a disputa bipolar na Ásia

Estavam, portanto, definidos os dois “condomínios” internacionais de


influência. Entre 1950 e 1953, as duas Superpotências jogaram todos os seus
esforços na demonstração de poder mundial na Guerra da Coreia. Com a
proclamação da República Popular Democrática da Coreia pelos revolucionários
comunistas, os EUA desembarcam tropas no sul do país e estabeleceram um
governo antirrevolucionário de notáveis. A ONU reconheceu a divisão do país
em dois pelo Paralelo 38 e uma guerra se iniciou em 1950, quando os norte-
coreanos invadiram o território ao sul do paralelo em resposta ao envio norte-
americano de esquadras para Taiwan e para a Coreia do Sul. Foi o maior conflito
armado desde a II Guerra Mundial.

A ONU enviou tropas multinacionais sob o comando dos EUA, e os norte-


coreanos recuaram de volta ao Paralelo 38. Migs soviéticos sobrevoaram e
bombardearam a Coreia do Sul e, com o apoio de tropas chinesas, impuseram
vitória sobre as tropas norte-americanas, as quais, por sua vez, por meio da
Operação Killer, jogaram bombas de napalm e ameaçaram a China com o uso
de armas atômicas. Só se chegou a um equilíbrio militar ao final de 1951, quando
as tropas dos EUA se retiraram, e teve início uma política de acomodação.

Em 1953, foi assinado o armistício de Panmunjom, por meio do qual se


criou uma zona de segurança separando as duas Coreias, compreendendo uma
área de quatro quilômetros ao longo do Paralelo 38, sob a vigilância da ONU.
Convém lembrar que o armistício apenas suspendeu os embates bélicos, de
modo que, tecnicamente, a guerra continua até nossos dias. As duas Coreias se
tornaram um monumento dos anos quentes da Guerra Fria (SARAIVA, 1997).

Outro país a se dividir foi o Vietnã, em 1954: Vietnã do Norte, comunista,


e o do Sul, capitalista. A posição dos EUA na Ásia estava fragilizada, e os norte-
americanos mais que nunca temiam o risco do “efeito dominó”, ou seja, de que
o que acontecera na China, na Coreia e no Vietnã acabasse repercutindo por
toda a Ásia, com o estabelecimento de regimes comunistas de influência
soviética pelo continente e a consequente perda de poder estadunidense na
região. Em virtude dessa ameaça, os tomadores de decisão nos EUA concluíram
que o país deveria envidar todos os esforços possíveis para conter o avanço do
comunismo pelo mundo. Essa decisão teria grandes repercussões pelas
décadas da Guerra Fria, entre as quais a entrada dos EUA na guerra do Vietnã
e o apoio estadunidense a regimes capitalistas do extremo oriente – Japão,
Coreia do Sul e Taiwan, por exemplo.

No que concerne à Guerra do Vietnã, dois filmes são sugeridos:


Apocalipse Now,de Francis Ford Copolla, estrelado por Marlon Brando, e
Platoon, de Oliver Stone. Ambos foram produções marcantes que revelaram
muitos dos horrores da Guerra do Vietnã, a grande chaga na política externa dos
EUA na segunda metade do século XX.

A Guerra Fria

Mais disputa bipolar

A fragilidade dos EUA em relação à hegemonia global também começava


a acontecer em outras regiões do planeta. A Comunidade Econômica Europeia
foi instituída, em 1957, pelo Tratado de Roma, tendo como núcleo a unidade
franco-germânica, e se apresentou como alternativa ao plano norte-americano
de integração do continente. Na incontestável zona de influência norte-
americana, a América Latina, o estabelecimento de um regime comunista pró-
soviético em Cuba, após a Revolução de 1959 (que, inicialmente, nem
tendências comunistas tinha), com o fracassado desembarque na Baía dos
Porcos, revelou que as estruturas da Guerra Fria não eram tão absolutas quanto
se desejava, e que era claro o risco da perda da influência norte-americana em
quaisquer regiões do planeta.

Os EUA começaram a perceber que grandes volumes de bombas e


maciços investimentos na segurança internacional não eram suficientes para
construir a legitimidade internacional. A URSS, por sua vez, tornava-se mais
forte, mas pouco disposta a bater de frente com os EUA.

Desembarque na Baía dos Porcos - trata-se de uma fracassada tentativa


de cubanos contrários à Revolução de desembarcarem na ilha e porem fim ao
regime de Fidel Castro. Os anticastristas encontravam-se nos EUA e tiveram
apoio da CIA e do governo norte-americano para realizar a ação armada contra
o regime de Castro.

Com a morte de Stalin e a chegada ao poder de Nikita Krushev, acabariam


os anos quentes e começaria a fase da coexistência pacífica.

A Guerra Fria

A Fase da Coexistência Pacífica: 1955-1968

Alguns autores conjugam as fases da coexistência pacífica com a


dadétente. Outros, porém, consideram que essa segunda fase marca o início da
flexibilização da ordem bipolar, e a terceira, mais tardia, marca um momento de
deliberada atitude das duas Superpotências de pôr fim à era de diferenças. Por
motivos didáticos, adotamos essa posição.

A coexistência pacífica foi a fase da flexibilização da política externa dos


EUA e da URSS em que, respectivamente, Eisenhower substituiu Truman e
Krushev substituiu Stalin.
Também caracterizaram essa segunda fase os seguintes acontecimentos:


Recuperação econômica e política da Europa
Ocidental: tentava-se o retorno da Europa ao centro das
relações internacionais, após a reconstrução proporcionada
pelo êxito dos investimentos e doações norte-americanas por
intermédio do Plano Marshall. A Europa deixava
gradativamente de ser um centro de poder alinhado
automaticamente aos EUA.

Início da desintegração do bloco comunista: a ruptura


√ chinesa (com a disputa sino-soviética no início dos anos de
1960) e o casamento de crenças divergentes de alguns
partidos comunistas com o nacionalismo (Albânia, Bulgária,
Romênia e Tchecoslováquia) começavam a descaracterizar a
unidade comunista na Europa Oriental. O condomínio
comunista não deu sinais de expansão significativa entre a
Revolução Chinesa e a década de 1970.

Descolonização das nações afro-asiáticas: a multiplicação


√ repentina de Estados soberanos e o discurso de igualdade
jurídica modificaram o quadro dos organismos internacionais,
como a ONU. Traziam-se aos foros internacionais novas
reivindicações por parte do chamado “Terceiro Mundo”.

O não alinhamento dos novos Estados pós-coloniais: a maior


√ parte dos novos Estados não era comunista em sua política
interna e considerava-se “não alinhada” em sua política
externa (Movimento dos Países Não Alinhados, que conjugou
seu discurso com o discurso do Grupo dos 77, criado pelos
países do Terceiro Mundo, por uma nova ordem econômica
internacional na década de 1970).

Articulação independente e própria dos países mais


√ industrializados da América Latina: Brasil e Argentina
começaram a construir seus próprios interesses na inserção
internacional do período. A noção de “quintal” dos EUA foi
substituída pela noção moderna de alinhamento negociado.

A crise dos mísseis em Cuba (1962): tentativa de Krushev, por meio


√ da alocação de mísseis na ilha de Cuba, de alterar o equilíbrio de poder
mundial em prol da URSS, tendo em vista o avanço do projeto de
Mísseis Antibalísticos (ABMs) dos EUA e a nova doutrina militar da
OTAN na Europa (nuclearização).

O declínio gradual das armas nucleares no equilíbrio de poder entre


√ as Superpotências: após a crise de Cuba, criou-se um acordo tácito
entre a Casa Branca e o Kremlin e iniciaram-se os processos de
negociações de acordos para controle e limitação das armas
nucleares, como os SALT I e II e o acordo sobre ABMs;

Surgimento de um novo Ator importante: a China de Mao Tsé-Tung.


√ Ao explodir sua primeira bomba atômica, em outubro de 1964, a
China mudava a correlação de forças no cenário internacional.

O Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares (TNP), de 1968: as


√ Grandes Potências conclamavam os países não nucleares a não
fazerem experimentos e os países nucleares a congelarem os seus
arsenais.

A Guerra Fria

A Fase da Coexistência Pacífica: 1955-1968

Assim, o mundo continuava dividido entre as esferas de poder das duas


Superpotências. Entretanto, sobretudo após a crise dos mísseis de Cuba,
quando EUA e URSS quase entraram em um confronto direto, a decisão de
Washington e Moscou foi de estabelecer mecanismos que permitissem a
convivência entre os dois blocos e evitassem uma hecatombe nuclear.

O Mapa 30 ilustra o mundo dividido entre as esferas de influência de Washington


e Moscou.
Mapa 30: Os Dois Blocos em 1955

Fonte:http://perso.numericable.fr/alhouot/alain.houot/Hist/ap45/actuel8.html

Por mais estranho que possa parecer, há dois filmes que simbolizam bem
a percepção norte-americana dos valores do capitalismo na Guerra Fria na
década de 1980: Rambo III e Rocky IV. Em Rambo III, um veterano da Guerra
do Vietnã (Sylvester Stallone) é enviado ao Afeganistão para libertar seu mentor,
que caiu nas mãos dos soviéticos, durante a ocupação daquele país, e conta
com o apoio dos Talibãs. Interessante, sobretudo, se relacionarmos o filme à
realidade de duas décadas depois: a película retrata os vínculos dos EUA com
os guerrilheiros afegãos no combate aos soviéticos.

Stallone passa a ser o símbolo do herói estadunidense dos anos 1980 e


a causa Talibã, um dos focos da política externa dos EUA. Atente para a
dedicatória ao final do filme.

Já em Rocky IV, o personagem de Stallone encontra um adversário


diferente para lutar nos ringues de boxe: Drago (Dolf Lundgren), um lutador de
1,90 m de altura e 130 kg que representa a URSS. O programa de treinamento
de Rocky o leva à fria Sibéria, onde ele se prepara para o combate em Moscou.
O filme é marcado pela exaltação ao patriotismo norte-americano.
A Guerra Fria

A Fase da “Distensão”: 1969-1979

Muitos autores defendem que só se pode falar em Guerra Fria até o final
dos anos de 1960, uma vez que a fase que se segue é apenas um concerto entre
as duas Superpotências. Outros preferem chamar essa fase de “Segunda
Guerra Fria”, pois é o momento em que as duas Superpotências transferem sua
competição para o chamado Terceiro Mundo (Vietnã, Angola, Afeganistão, Líbia,
entre outros).

Se a década de 1960 fez transparecer uma perda de poder dos soviéticos,


a década de 1970 assinalava uma perda do domínio norte-americano e seu
relativo isolamento: na Guerra do Vietnã (1959-1975) e na Guerra do Yom Kippur
(1973), os EUA não receberam ajuda europeia. A crise do petróleo parecia
sugerir enfraquecimento no domínio internacional dos EUA, enquanto fez os
preços das jazidas de petróleo e gás natural da URSS quadruplicarem. Entre
1974 e 1979, regimes na África, na Ásia e na América Latina começaram a ser
atraídos para o lado soviético. Além disso, o escândalo envolvendo a
administração Richard Nixon (Watergate) causou uma certa desordem na
presidência dos EUA.

Quatro fatos são relevantes nessa fase:

1) O concerto americano-soviético, que anunciava a flexibilização deliberada


no relacionamento das duas Superpotências:

· os planos SALT (Strategic Arms Limitation Talks) congelaram por cinco anos
o desenvolvimento e a produção de armas estratégicas e o controle sobre
mísseis intercontinentais e lançadores balísticos submarinos;

· os encontros pessoais, entre 1972 e 1974, dos dois chefes de Estado


reativaram fluxos comerciais e financeiros estagnados, como aqueles entre a
URSS e os países capitalistas ocidentais (de 1970 a 1975, as exportações
ocidentais para a URSS quadruplicaram).

2) Consciência da diversidade de interesses no Sistema Internacional:


· a confirmação da vocação integracionista da Europa: a Europa dos Seis de
1957 (França, Alemanha, Itália, Bélgica, Países Baixos e Luxemburgo) passa a
ser a Europa dos Nove em 1973 (com a adesão da Grã-Bretanha, Dinamarca e
Irlanda), matriz do que viria a ser, duas décadas depois, o núcleo de poder da
União Europeia: criava-se uma alternativa ao sistema bipolar, mas não da forma
harmônica e autônoma que qualificara a hegemonia coletiva europeia do século
XIX;

· a América Latina aproveita o clima da détente para a sua reinserção


internacional: com a crise da liderança norte-americana na região, as relações
internacionais são desideologizadas em seus países mais importantes, como
Brasil, México e Argentina, que passam a adotar linhas de condutas próprias nos
negócios internacionais;

. quatro grandes Atores na Ásia desenvolvem capacidades de defesa de


interesses próprios na agenda internacional: Vietnã, Índia, China e Japão.
Destaque para a República Popular da China, a China comunista, que rompe
com o seu isolacionismo e retorna ao sistema internacional na década de 1970
(inclusive passando a assumir a cadeira chinesa no Conselho de Segurança da
ONU em 1971), recusando a hegemonia soviética e ensaiando uma
aproximação com os EUA, e para o Japão, que iniciava sua caminhada para se
tornar a segunda economia do planeta.

3) Esforço de construção de uma nova ordem econômica internacional pelos


países do Terceiro Mundo para a redução da dependência com relação
aos centros hegemônicos de poder:

· reforço das ilusões igualitaristas dos países afro-asiáticos: irrompem tentativas


dos países do Sul de estabelecerem um diálogo sólido com o Norte;

· a África como um todo e parte da América Latina e da Ásia buscam afirmar o


conceito de Terceiro Mundo nas relações internacionais;

· as dificuldades de diálogo encontradas na década de 1960, no âmbito das


sessões da Conferência da ONU para o Comércio e o Desenvolvimento
(Unctad), levaram o Terceiro Mundo a propor a Declaração e o Programa de
Ação sobre o Estabelecimento de uma Nova Ordem Econômica Internacional
(NOEI), convertida em Resolução da ONU em 1979.

4) Crise energética e financeira, que testou o grau de adaptabilidade do


capitalismo:

· os choques do petróleo em 1973 e 1979 tornam o Sistema Internacional da


détente vulnerável e abalam os componentes da produção, do comércio e das
finanças internacionais;

· a crise de conversibilidade do dólar, pondo fim ao sistema monetário de


Bretton Woods: diminuição da importância da economia dos EUA e elevação das
taxas de juros internacionais, anunciando o desastre para as economias que
haviam orientado a sua inserção nas relações econômicas internacionais pela
via do endividamento externo, como o Brasil, o México e a Argentina;

· os países árabes, detentores do petróleo, tornam-se Atores de relevo no


sistema internacional, passando a reivindicar posições-chaves no planejamento
das atividades econômicas em escala global;

· aceleração do processo de globalização dos mercados: as empresas, em


reação à estagnação da produção de bens, à inflação dos preços e ao custo
energético, desenvolvem novos processos de produção de bens e de
organização do mundo do trabalho e do consumo, o que acabará por provocar
uma revisão dos próprios papéis dos Estados nacionais na política internacional;
o surgimento de uma nova economia sustentada na concentração de inteligência
e na robótica, criando um novo paradigma tecnológico-industrial (momento
também conhecido como “Terceira Revolução Industrial”).

A Guerra Fria

O Fim da Guerra Fria: 1980-1991

A década de 1980 marcou o que muitos autores chamam de “Nova Guerra


Fria”. No período, mereceu destaque a exacerbação anticomunista do novo
presidente norte-americano, Ronald Reagan, estabelecendo-se um retorno ao
Realismo nas relações internacionais (em substituição ao Idealismo de Jimmy
Carter). As concessões unilaterais efetuadas pelo governo Carter foram
substituídas por uma política de confrontação diplomática e de endurecimento
econômico, com bloqueio econômico e tecnológico aos países do sistema
soviético.

O aumento das despesas militares resultou em acúmulo de déficits


orçamentários para ambos os lados. No entanto, os EUA possuíam uma clara
vantagem nesse processo: os estadunidenses podiam financiar sua dívida
pública por meio de emissão de uma moeda que era o principal meio de reserva
internacional ou pela colocação de títulos do Tesouro dos EUA no mercado –
mecanismos impossíveis de serem utilizados pela URSS, dada a sua tradicional
separação da economia mundial. Assim, segundo Paulo Roberto de Almeida, o
ocaso final do modo de produção socialista teve início quando os EUA adotaram
o programa armamentista conhecido como Guerra nas Estrelas, forçando a
URSS a tentar reproduzir o “keynesianismo militar” do governo Reagan, que se
revelava oneroso demais.

No final da década de 1980, o mundo veria o bloco socialista desmoronar,


em um processo intensificado a partir das reformas do novo líder soviético,
Mikhail Gorbatchev, que chegou ao poder em 1985. Em alguns meses, o sistema
socialista desapareceria da Europa Oriental, escapando das mãos soviéticas
sem que Moscou tivesse como impedir o processo. O assunto será tratado na
Unidade seguinte.

O Mapa 31 mostra o colapso do bloco socialista, com as novas fronteiras


europeias ao final do século XX.
Mapa 31: O Colapso do Bloco Socialista (1987-1990)

Fonte:http://perso.numericable.fr/alhouot/alain.houot/Hist/ap45/actuel20.html

Do ponto de vista econômico, a década de 1980 testemunhou amplo


processo de conversão das economias planejadas em economias de mercado:
reformas econômicas introduzidas na República Popular da China pela equipe
de Deng Xiao-Ping; liberalização do regime soviético a partir de 1985, com a
adoção da Perestroika por Gorbatchev, que alcançou o Vietnã a partir de 1986,
espalhou-se pela Europa Oriental a partir da queda do Muro de Berlim, em 1989,
e culminou na conversão para a economia de mercado de praticamente todas
as ex-repúblicas socialistas que apareceram após a desintegração da URSS,
concluída em 1991. Do período que vai de1917 a 1991, algo ficou claro para o
mundo: o capitalismo mostrava-se muito mais adaptável ao Sistema
Internacional do que o socialismo.

Há muitos sítios interessantes sobre a Guerra Fria. Veja, por exemplo o


da TV Cultura que reserva um espaço interessante com textos sobre a Guerra
Fria. Confira também o da Educaterra, que traz no História por Voltaire Schilling,
o texto: Os Estados Unidos e o início da Guerra Fria (1945-49).

O cinema procurou explorar a temática da Guerra Fria em vários filmes


interessantes. Destacamos um filme-catástrofe de 1983, O Dia Seguinte, de
Nicholas Meyer. Trata da vida de estadunidenses após o desencadeamento da
guerra nuclear contra a URSS e a destruição causada pelas Superpotências. As
cenas são fortes, sobretudo as que mostram os efeitos da radiação sobre as
pessoas, e marcou uma posição de parte da opinião pública dos EUA contrária
à corrida nuclear. Recentemente foi produzido mais um filme retratando esse
período conturbado da relação entre as Superpotências nos anos 60, K-19: The
Widowmaker, dirigido por Kathryn Bigelow, com elenco principal formado
Harrison Ford e Liam Neeson. A história é um thriller de conspiração de guerra
baseada em fatos reais, envolvendo um acidente com o submarino nuclear russo
“K-19”, em 1961, que poderia ter causado um conflito internacional de grandes
proporções, culminando até numa guerra atômica. Esse acontecimento real foi
ocultado por vinte e oito anos pelos russos. Os marinheiros envolvidos na
operação foram afastados de suas funções e proibidos de revelar a história, até
que finalmente os fatos vieram à tona após o fim da União Soviética.

Uma sugestão de leitura é Construtores da Estratégia Moderna, de Peter


Paret, editado pela Biblioteca do Exército. Outras obras interessantes podem ser
encontradas no sítio dessa editora.

Unidade 3 - O Fim da Guerra Fria e a Nova Ordem da Década de 1990

Ao final desta Unidade, o aluno deverá estar apto a:

• discorrer sobre o surgimento de um mundo multipolar após o fim da Guerra


Fria;

• apresentar as principais características da nova ordem internacional pós-


Guerra Fria.
Estamos na reta final do nosso estudo introdutório! Seja perseverante,
estude com afinco!

Antecedentes: as transformações da década de 1980

A década de 1980 foi, para muitos, uma década de ruptura. Começaram


a aparecer, na doutrina internacional, expressões como: “queda dos impérios”,
“fim do Estado-nação”, “fim do Estado-territorial” e ascensão do “Estado-
comercial”, “fim do Terceiro Mundo”, “fim das ideologias”. A década marcou o fim
do dualismo econômico entre socialismo e capitalismo e o aprofundamento da
diferenciação entre países pobres e países ricos, com as crises da dívida externa
nos países em desenvolvimento.

Do ponto de vista das relações internacionais, o período foi de superação


do conflito Leste-Oeste e de fragmentação do Terceiro Mundo. Surgia um
sistema pós-hegemônico, no qual vários grandes Atores mundiais passavam a
reger coletivamente os negócios internacionais (multipolaridade estratégica). Um
desses novos Atores, que funcionava em uma espécie de consórcio informal, foi
o Grupo dos Sete (G7), composto por EUA, Japão, Alemanha, França, Itália,
Grã-Bretanha e Canadá, as nações mais ricas do planeta. A partir de 1992, a
Rússia, apesar de não ser a oitava economia do globo, incorporou-se ao Grupo,
que passou a ser conhecido como G8.

A tentativa de Gorbatchev de reforma do regime soviético, com a


Perestroika e a Glasnost, e o rápido abandono do comunismo nos países da
Europa Central e Oriental, seguido pelo desaparecimento da própria URSS, em
1991, provocaram a mais expressiva transformação no sistema internacional
desde o final da II Guerra Mundial. Após a perda de controle do bloco socialista,
em virtude das rápidas transformações nos antigos regimes do Leste Europeu,
a URSS viu sua influência declinar no cenário internacional. No início da década
de 1990, começou o que seria praticamente inconcebível dez anos antes: a sua
desintegração. As primeiras Repúblicas a se separarem foram os Estados
bálticos – Letônia, Estônia e Lituânia –, que haviam sido incorporados à URSS
no início da II Guerra Mundial. Após uma grave crise institucional em agosto de
1991, marcada pela vitória popular liderada por Boris Yeltsin sobre uma tentativa
de golpe da linha dura soviética, o governo de Gorbatchev perdeu a legitimidade
e, em 25 de dezembro de 1991, o último líder soviético anunciava formalmente
o fim da URSS.

A Perestroika, ou “reestruturação econômica”, é iniciada em 1986, logo


após a instalação do governo Gorbatchev. Constituía-se em um projeto
ambicioso de reintrodução dos mecanismos de mercado, renovação do direito à
propriedade privada em diferentes setores e retomada do crescimento, tendo,
entre seus objetivos, o de liquidar os monopólios estatais, descentralizar as
decisões empresariais e criar setores industriais, comerciais e de serviços em
mãos da iniciativa privada nacional e estrangeira. O Estado continuava como
principal detentor dos principais meios de produção, mas foi autorizada a
propriedade privada em setores secundários de bens de consumo, comércio
varejista e serviços não-essenciais. Na agricultura, foi permitido o arrendamento
de terras estatais e cooperativas por grupos familiares e indivíduos. A retomada
do crescimento seria projetada por meio da conversão de indústrias militares em
civis, voltadas para a produção de bens de consumo, e pelo ingresso de
investimentos estrangeiros.

A Glasnost, ou “transparência política”, desencadeada paralelamente ao


anúncio da Perestroika, tinha por objetivos alterar a mentalidade social, liquidar
a burocracia e criar uma vontade política nacional de realizar as reformas. Incluía
o fim da perseguição aos dissidentes políticos, marcada simbolicamente pelo
retorno do exílio do físico Andrei Sakharov, em 1986, e envolveu campanhas
contra a corrupção e a ineficiência administrativa, realizadas com a intervenção
ativa dos meios de comunicação e a crescente participação da população.
Avançou também na abertura cultural, com a liberação de obras proibidas, a
permissão para a publicação de uma nova safra de obras literárias críticas ao
regime e a liberdade de imprensa, o que provocou o surgimento de um número
crescente de jornais e programas de rádio e TV, que abriam espaço às críticas
ao regime.
Antecedentes: as transformações da década de 1980

Acabava definitivamente a Guerra Fria, e uma Nova Ordem Internacional


começava a se estruturar.

O Mapa 32 ilustra a nova configuração da antiga área de influência


soviética com a desintegração do bloco socialista.

Mapa 32: A Desintegração da URSS e do Bloco Socialista (1991)

Fonte: http://perso.numericable.fr/alhouot/alain.houot/Hist/ap45/actuel19.html

Um dos eventos mais marcantes do fim da Guerra Fria foi o acidente


nuclear de Chernobyl. Para buscar mais informações sobre essa tragédia,
considerada uma das maiores do século XX, confira o sítio.

Um novo paradigma para as relações internacionais

Após o fim da Guerra Fria, o mundo viu-se diante do desafio de produzir


um novo paradigma para as relações internacionais. A doutrina internacional não
entrava em consenso a respeito da natureza das relações internacionais ao final
do século XX. Alguns teóricos voltaram a falar em Sociedade Internacional,
conforme concebido pela Escola Inglesa, apesar do convívio entre regras velhas
e regras novas; outros preferiram falar em Sistema Internacional, defendendo
que a ordem bipolar de poder foi substituída por uma ordem multipolar; outros,
ainda, preconizaram que sequer se pode continuar a falar em equilíbrio de poder;
por fim, há os que defendiam ser a década de 1990 apenas um período de
transição nas relações internacionais.

Todavia, pode-se dizer, numa perspectiva realista, que o sistema


internacional dos anos de 1990 ainda trazia consigo a natureza anárquica, a
hierarquia das Potências, a prevalência de relações hegemônicas, a estrutura
capitalista e liberal de conformação e os conflitos de interesses. Não obstante, o
mundo passava a buscar novos princípios e regras de conduta, mudanças na
estrutura do sistema internacional, o que ficou claro a partir de meados da
década de 1980

A década de 1980 testemunhou uma expansão generalizada da


democracia, movimento que se estendeu ao Leste europeu após a queda do
muro de Berlim, em 1989, e aos novos Estados independentes oriundos da ex-
URSS, fenômeno que elevou dois fatores à condição de papel fundamental nas
relações internacionais contemporâneas: o Direito Internacional e a proteção aos
direitos humanos. Houve significativa redução nos gastos com Defesa no mundo
inteiro. Meio Ambiente também se mostrou um tema central na agenda
internacional.

Os processos de integração foram a marca do mundo Pós-Guerra Fria.


Obtenha maiores informações sobre a União Europeia e o Mercosul nos sítios
desses blocos. Veja, também, o sítio da ALADI.
Incertezas e complexidades na Nova Ordem Internacional

Contudo, o novo mundo tornava-se mais incerto, mais complexo e mais


imprevisível:

√ surgiram zonas de conflito em áreas de dissolução da URSS, nos


Bálcãs, no Oriente Próximo e em alguns países africanos
(Somália, Chade, Congo, Angola, Libéria);

√ o Terceiro Mundo desintegrou-se com as crises da dívida


externa, pondo-se fim à unidade do discurso da década de 1970;

√ novas levas de imigrantes rumaram das zonas pobres para os


países desenvolvidos;

fim do diálogo Norte-Sul, que se iniciara na década de 1960: as


√ Grandes Potências desviaram o interesse no desenvolvimento
dos países mais pobres em prol de políticas ambientais e de
combate a migrações indesejadas;

a quantidade de armas que havia no mundo, fruto da lógica da


√ Guerra Fria, somada à formação de vazios de poder e de leis em
muitos países, estimulou o aparecimento de redes internacionais
de crime e de organizações político-terroristas;

ocorreu um refluxo nas políticas de segurança em alguns


√ Estados, como foi o caso da França, que passou a realizar uma
série de testes nucleares nos anos de 1995 e 1996;

houve redução da coesão entre as Grandes Potências devido à


√ ausência de um inimigo comum: os polos ocidentais (EUA,
Europa e Japão) passam a ser guiados por percepções de
interesses especificamente nacionais;

desenvolveram-se tendências introspectivas na Europa, com a


√ institucionalização da União Europeia (UE), a nacionalização da
segurança e o protecionismo;

os EUA viram-se como única Superpotência global, mas sem


√ condições de estruturar por si uma nova ordem internacional.
Assim, sua política externa passou a orientar-se para (1) a
criação de um duopólio com a Rússia (ao alargar o G7 para G8),
com o intuito de não ter que arcarem sozinhos com a ordem a
construir; (2) o papel de “Estado catalisador” de uma ordem que
seria também construída com aliados, como na Guerra do Golfo
e na Guerra da Iugoslávia; (3) o papel de garante de uma ordem
inspirada na sua própria estrutura de Estado – liberalismo
econômico, democracia política e direitos humanos;

a Rússia, após o fim da URSS e o estabelecimento da


√ Comunidade dos Estados Independentes (CEI), emergiu com sua
antiga autonomia sem perder de vista os desígnios de influência
a exercer sobre a Europa Oriental, sendo que, dessa vez, com
apoio dos EUA, interessados em mantê-la como potência singular
no Oriente;

teve-se a contestação dos valores do Ocidente pela dinâmica


√ região formada no Leste Asiático, como liberalismo, democracia
e direitos humanos, com a negativa de sua universalidade;

√ dualidade entre modelo de desenvolvimento asiático e modelo


de desenvolvimento do “consenso de Washington” (FMI e BIRD);

√ a América Latina reaproximou-se da Europa e dos EUA;

a dificuldade para regular a nova ordem anárquico-multilateral


√ conduziu à crise de credibilidade da ONU, do Conselho de
Segurança, do FMI, do BIRD, da Organização Mundial do
Comércio (OMC) e do G7;

blocos regionais foram criados: União Europeia (UE);


√ Cooperação Econômica da Ásia-Pacífico (APEC); Acordo de Livre
Comércio da América do Norte (NAFTA); Associação Latino-
Americana de Integração (ALADI); Associação das Nações do
Sudeste Asiático (ASEAN); Mercado Comum do Sul (Mercosul);

vislumbravam-se conflitos de transição entre Grandes Potências,


√ como China e Rússia, que ainda mantinham riscos de confronto
com a Superpotência EUA, e também conflitos de equilíbrio
regional de poder entre Estados que buscavam uma hegemonia
regional, como Coreia do Norte, Iraque e Irã, considerados
inimigos pelos EUA pelo fato de sua ascensão perturbar a ordem
vigente;

conflitos entre comunidades e identidades nacionais (islamismo,


√ identidades nacionais na Rússia, identidades étnicas, religiosas
ou linguísticas nos Bálcãs, na África e na Ásia).

O fracasso da recente rodada comercial de Doha (2001-2008) é um


corolário disso. “ Curiosidade”
Um filme que retrata de maneira bem-humorada essa nova ordem
internacional sob a ótica de quem “perdeu a Guerra Fria” é Adeus, Lênin
(Alemanha, 2003), dirigido por Wolfgang Becker, sobre as transformações na
Alemanha a partir da reunificação, em 1989.

Globalização e regionalização

Há um consenso, na doutrina internacional, de que o mundo que surgiu


na década de 1990 caracteriza-se pelos seguintes aspectos: globalização;
regionalização; mudança de papel do Estado-nação e inexistência de uma
administração racional para os principais interesses coletivos da humanidade.
São aspectos que não vieram de forma abrupta, mas já se delineavam nas
relações internacionais desde, pelo menos, a década de 1970.

Na década de 1990, o fenômeno da globalização já se mostrava


irreversível. O mundo se integrava cada vez mais em virtude da abertura
democrática em diversas regiões, da queda de barreiras comerciais e políticas,
das novas estruturas de mercados financeiros transnacionais e do
desenvolvimento tecnológico, sobretudo o de telecomunicações. Nesse sentido,
o fenômeno da Internet não encontra precedentes e, definitivamente, passou a
unir pessoas por todo o planeta e a transmitir informações em tempo real.

Entretanto, à medida que se globalizava, o mundo presenciava o


recrudescimento de nacionalismos em várias regiões do planeta, que repercutia
tanto em conquistas políticas e sociais de alguns grupos dentro de nações
quanto em processos de independência – uns pacíficos, a maioria nem tanto.
Também associado a alguns movimentos nacionalistas, ganhou força o
terrorismo, processo facilitado pelo vazio de poder do fim da Guerra Fria e pela
oferta de mão de obra especializada e de equipamentos oriundos do
esfacelamento do sistema socialista.

Paralelamente também ao processo de globalização, percebeu-se um


incremento da regionalização. Por todo o planeta, países se aproximaram e
estabeleceram acordos de comércio, cooperação e aproximação política. Na
Europa, povos que até cinquenta anos eram inimigos figadais, tornaram-se
parceiros, e aquilo que fora tentado pelas armas, diversas vezes, ocorreu,
finalmente, por via pacífica: a formação de uma União Europeia.

Apesar de mais notório, o caso europeu não ocorreu isoladamente. Em


todos os continentes testemunharam-se processos de integração, fortalecendo
organizações e uniões regionais. Na América do Sul, a criação e o
desenvolvimento do Mercosul é um bom exemplo. Quem poderia supor, há
algumas décadas, que Brasil e Argentina teriam um no outro seu principal
parceiro e que as rivalidades militares entre os dois desapareceriam?

Há o livro de Anthony Giddens, O Mundo na Era da Globalização


(Presença, 2000). Novamente, as obras de Manuel Castells também são
essenciais para entender essa nova realidade internacional: A Sociedade em
Rede (Paz e Terra, 2007), O Poder da Identidade (Paz e Terra,

2000), Fim de Milênio (Paz e Terra, 2002).

Novos temas na Agenda Internacional

Três grandes conferências pareciam anunciar uma era de


responsabilidades e consensos transnacionais com os grandes temas que
marcariam a agenda internacional na década:

a Segunda Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e


Desenvolvimento (Rio de Janeiro, 1992): difundiu as noções de
desenvolvimento sustentável, de incompatibilidade entre crescimento
demográfico ilimitado e planeta finito, de subordinação da tecnologia à
ecologia, de poluição e pobreza provocadas pelo consumo incontido, de
necessidade de medidas locais e globais para a proteção do meio ambiente;

a Segunda Conferência das Nações Unidas sobre Direitos Humanos (Viena,


1993): difundiu a implementação de medidas nacionais, a interação e a ação
conjunta dos órgãos e agências da ONU e de órgãos globais e regionais para
o fomento de uma cultura comum e universal sobre direitos humanos;
a Rodada Uruguai do GATT – Acordo Geral de Comércio e Tarifas (1994), que
instituiu a Organização Mundial do Comércio (OMC): regulamentação dos
fluxos de bens, serviços e propriedade intelectual entre os países e a solução
de controvérsias a respeito.

Direitos humanos, meio ambiente e comércio internacional são, portanto,


questões-chaves desde os anos 1990. São temas que afetam não a um Estado
isoladamente ou a um grupo específico de pessoas, mas que dizem respeito à
humanidade como um todo.

A Questão da Segurança

Houve aumento considerável na demanda por serviços de garantia e


manutenção de paz junto à ONU, expresso no número crescente de resoluções
do Conselho de Segurança, apesar de esse fato não ter sido acompanhado de
vontade política para a sua implementação.

Pequenas e grandes operações de paz, com baixos ou nulos índices de


sucesso, como no Camboja, na Somália, em Ruanda e na ex-Iugoslávia,
começaram a lançar dúvidas sobre a real capacidade operacional da ONU. O
custo relativamente reduzido dessas operações em comparação com os
orçamentos nacionais de segurança demonstrava que não se tratava de um
óbice financeiro, mas de um impasse político nas relações internacionais.

A Guerra do Golfo, de 1991, pareceu anunciar um retorno do velho


imperialismo ocidental sob cobertura da ONU, o que contribuiu para tornar mais
difícil um consenso internacional de aprovação às novas operações de paz. O
que parecia para o mundo na década de 1990 era que a ONU estava falhando
em sua missão de prevenção (e os países ocidentais não estavam
incrementando seus intuitos de fiscalizar os resultados dos conflitos regionais, a
não ser quando afetassem seus interesses essenciais ou de segurança
imediata). Aumentava a descrença em resultados duradouros de intervenções
maciças e multilaterais, como ocorreu no Oriente Médio durante a Guerra do
Golfo e na ex-Iugoslávia, e, já no início do século XXI, com o Iraque. O fato é
que restrições políticas, econômicas e, muitas vezes, eleitorais conjugavam-se
para impedir a construção de um sistema de segurança global, o que reforça a
tendência das relações internacionais contemporâneas para a adversidade de
sistemas de segurança e para a regionalização.

A Europa da década de 1990 buscou a fórmula do concerto do século XIX


mais do que a construção de um novo equilíbrio de poder. A Rússia, por sua vez,
após extinguir o Pacto de Varsóvia e opor-se à extensão da OTAN ao Leste,
reivindicou papel especial nesse concerto, ao mesmo tempo em que a Grã-
Bretanha reforçou sua inclinação para a OTAN e para os EUA, e a França
buscou caminhos independentes, como a retomada do desenvolvimento de uma
força nuclear própria.

A Questão da Segurança

O Oriente Médio tornou-se um barril de pólvora após o fim da Guerra Fria


ter “descongelado” o ambiente litigioso que se formara desde 1948, com a
criação do Estado de Israel, na Palestina, pela ONU. A questão palestina tornou-
se um dos principais motivos de instabilidade na região, contribuindo para o
desenvolvimento de núcleos terroristas – alguns efetivamente apoiados por
países islâmicos –, que viam não só em Israel e nos EUA, mas também nos
valores ocidentais, um inimigo contra o qual se justificaria uma “guerra santa”. A
Guerra do Golfo evidenciou a divisão dos mundos árabe e muçulmano, e uma
comunidade de segurança ao estilo europeu ainda está longe do horizonte
regional.

O Nordeste Asiático tornou-se um complexo regional em que se


confrontam os interesses de três Grandes Potências (Japão, China e Rússia) e
da Superpotência (EUA), os quais têm raízes na questão das duas Coreias, na
questão de Taiwan e na rivalidade entre EUA e Japão relativa às políticas de
comércio exterior e a outras questões econômicas, além da rivalidade
econômica já sinalizada para o século XXI: EUA e China. A Associação das
Nações do Sudeste Asiático (ASEAN) e a América Latina compõem o que se
denomina de “comunidade pluralista de segurança”, para usar expressão de Karl
Deutsch: as duas regiões permaneceram à margem dos confrontos Leste-Oeste
mais importantes e criaram instituições de controle da segurança, o que tornou
o grau de tensão e de conflitos potenciais em seus territórios muito baixo. Já o
Caribe e a América Central continuaram a ser, depois da Guerra Fria, zonas de
intervenções unilaterais dos EUA, como demonstraram as operações no
Panamá e no Haiti e a política de embargo ao regime de Cuba.

A ASEAN foi estabelecida em 1967, atualmente é composta por 10 países


(Brunei, Camboja, Indonésia, Laos, Malásia, Miamar, Filipinas,
Singapura,Tailândia e Vietnã). Entre seus objetivos, incluem-se acelerar o
crescimento econômico e social na região e garantir a paz e a estabilidade
entre seus membros por meio da cooperação entre eles.

A Pax Americana, por seus métodos e imposições unilaterais, vem sendo


cada vez mais contestada pelo Ocidente, principalmente pelos países da
Organização dos Estados Americanos (OEA) e da União Europeia. O papel dos
EUA como principal agente do policiamento mundial, segundo muitos autores,
tem pouca chance de vingar como novo paradigma geopolítico mundial, em
virtude da sua visão unilateral e introspectiva da ordem internacional, da baixa
capacidade de diálogo, do peso do xenofobismo (principalmente em períodos
eleitorais) e da dificuldade em tolerar os interesses de outros povos e
comunidades em jogo nas relações internacionais. Isso ficou ainda mais claro
com o Governo Bush (2001-2008) e a sua política de “guerra preventiva” após
os ataques terroristas de 11 de setembro de 2001 em território estadunidense.

Muitos livros buscam tratar das transformações das relações internacionais


após a Guerra Fria. Veja, por exemplo, O Lexus e a Oliveira, de Thomas
Friedmann
(Quetzal, 2000).

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