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SISTEMA FINANCEIRO

INTERNACIONAL
AULA 2

Profª. Polyanna Rodrigues Gondin


CONVERSA INICIAL

Na aula anterior, estudamos alguns dos conceitos básicos em termos da


economia mundial. Conceitos como política monetária e cambial, balanço de
pagamentos, mercado de capitais e empréstimos internacionais, foram
abarcados para tornar possível a análise do Sistema Financeiro Internacional.
Nesta aula, a atenção será voltada para o Sistema de Bretton Woods e para a
nova dinâmica internacional, que emergiu após esse sistema. Iniciamos com a
compreensão do que foi o Plano White e o Plano Keynes e a prevalência do
primeiro, reforçando o papel do dólar nas transações internacionais. Na
sequência, partimos para o entendimento do contexto histórico internacional do
surgimento do Bretton Woods, sua configuração e objetivos, com a finalidade de
compreender as medidas tomadas e os impactos delas na configuração de uma
nova ordem econômica mundial. Por fim, dedicamo-nos à análise do colapso
desse novo regime, implementado em 1944.

TEMA 1 – BRETTON WOODS: CONTEXTO HISTÓRICO

O Sistema de Bretton Woods teve seus antecedentes mais remotos na


discussão entre Estados Unidos (Plano White) e Grã-Bretanha (Plano Keynes)
sobre os caminhos a serem trilhados após a guerra (Carvalho, 2004). O intuito
era evitar a repetição de conflitos e crises como os registrados após a Primeira
Guerra Mundial (1914-1918), notadamente a Grande Depressão dos anos de
1930. Esta perdurou durante toda a década de 1930, terminando apenas com o
início da Segunda Guerra Mundial. Como consequência, houve um aumento do
desemprego, queda do Produto Interno Bruto (PIB) e da produção industrial em
várias economias.
Carvalho (2004, p. 54) afirma: o período que antecede a Segunda Guerra
Mundial foi marcado “pelo desemprego e agitação social nos países
democráticos, ou pela paz dos cemitérios, sob os regimes fascistas”. Com isso,
no início da década de 1940, predominava a visão de que, “quando a guerra
terminasse, os problemas da década anterior retornariam com a mesma
virulência”. Essa visão era dominante, pois acreditava-se que a Segunda Guerra
havia interrompido a Depressão de 1930, pois demandava recursos. Assim, o
medo de que, com o fim da Segunda Guerra, os problemas como desemprego
e os conflitos sociais retornariam era constante.

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Além disso, considerava-se que medidas domésticas não seriam
suficientes para acabar com o risco da volta da Depressão. Existia a necessidade
de, na esfera internacional, criarem-se regras e instituições, com vistas a
organizar formalmente o sistema de pagamentos internacionais
(Carvalho, 2004, p. 54). Então, diante dessa visão e das perspectivas de retorno
à crise, foi proposta, na conferência de Bretton Woods, a construção de uma
nova forma de organização social.

TEMA 2 – O QUE FOI O PLANO WHITE E O PLANO KEYNES?

De acordo com Carvalho (2004), um dos principais embates que


antecedeu e deu base à Conferência de Bretton Woods foi travado meses antes,
entre as propostas das delegações norte-americana (Plano White) e a britânica
(Plano Keynes). Esses dois planos tinham como fundamentação o temor de que
o fim da guerra desencadeasse uma grande depressão como a dos anos de
1930. Apesar disso, os planos eram rivais e impunham diferentes obrigações aos
países em relação à flexibilidade da taxa de câmbio e à mobilidade de capital.
O Plano White foi formulado em 1942 e almejava a implantação de
regimes cambiais organizados, os quais permitissem a expansão do comércio
internacional e, ao mesmo tempo, tonassem ilegais controles administrativos
contra suas exportações. Assim, este plano previa a criação de uma instituição
com papel duplo. O primeiro seria de servir de fórum para o exame das
condições econômicas dos associados, para avaliar a necessidade de ajustes
das taxas de câmbio das economias associadas (Carvalho, 2004,
p. 58). O segundo papel dessa instituição “seria o de financiar o ajuste de curto
prazo de problemas de balanço de pagamentos dos países-membros”, para
evitar pressões passageiras sobre a taxa de câmbio. O Plano White previa ainda
um mundo livre de controle sobre fluxos comerciais e financeiros e de paridades
fixas sob a supervisão de uma instituição internacional (Lins, 2015).
O Plano Keynes, por sua vez, se opunha à restauração do padrão ouro
no Pós-guerra por acreditar que impunha altos custos às economias, em termos
de produto e emprego, além de provocar ajuste assimétrico. Assim, buscavam
um arranjo que lhes desse liberdade para adotar políticas visando alcançar e
sustentar o pleno emprego. Propuseram, então, a criação de uma Câmara de
Compensações Internacionais, a qual centralizaria todos os pagamentos
referentes às exportações e importações de bens, serviços e ativos (Carvalho,
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2004). Logo, o Plano Keynes tinha como intuito modificar as taxas de câmbio e
adotar restrições cambiais e comerciais, de acordo com as necessidades, para
manter o equilíbrio do balanço de pagamentos e buscar o pleno emprego.

TEMA 3 – BRETTON WOODS: DEFINIÇÕES

Em julho de 1944, representantes de 44 países reuniram-se em Bretton


Woods, para discutir a reconstrução e a reestruturação econômica do
Pós-guerra. O objetivo dessa reunião, de acordo com Carvalho (2004), era
estabelecer um sistema de pagamentos internacionais alternativo ao padrão
ouro e ao sistema de desvalorizações cambiais competitivas (que eram
praticadas em períodos de instabilidade, como a Grande Depressão dos anos
1930). Buscava-se assim “definir regras comuns de comportamento para os
países participantes, com a intenção de garantir a prosperidade e estabilidade
macroeconômica, de acordo com Carvalho (2004, p. 51).
Foram analisados os Planos White e o Plano Keynes, os quais, como
anunciado anteriormente, foram a base da conferência. Os norte-americanos
opuseram-se ao Plano Keynes, que propunha obrigações ilimitadas para os
credores. Ao fim do embate, o Plano White prevaleceu, confirmando o dólar
como a nova moeda internacional e o estabelecimento de um regime cambial
baseado em taxas fixas (Simon, 2011).

TEMA 4 – BRETTON WOODS: RESULTADOS E IMPLICAÇÕES PARA NOVA


ORDEM ECONÔMICA MUNDIAL

Com a vitória da proposta do norte-americano Harry Dexter White, houve


a consagração do dólar como moeda internacional e a criação do Fundo
Monetário Internacional (FMI) para a sustentação de um regime de câmbio fixo
“ajustável”, por meio da regulação do comércio e das práticas monetárias dos
países-membros (Carvalho, 2004). Além do FMI, foi criado também o Banco
Internacional de Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD), para financiar a
reconstrução das economias europeias no Pós-guerra. É importante ressaltar
que, antes de receber ajuda do BIRD, os países devedores deveriam tornar-se
membros do FMI, com o intuito de assegurarem um comportamento adequado.
No ano de 1946, no estado da Geórgia, foi realizada uma segunda
conferência para definir a composição da diretoria do FMI, sua organização,

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localização, entre outros detalhes. A partir de 1947, após a definição de sua
estrutura operacional, o FMI passou a considerar solicitações de apoio. Simon
(2011) afirma que os Estados Unidos foram responsáveis pela maior parte dos
fundos do BIRD e do FMI, assegurando-lhe poder. Por isso, o direito de votos foi
distribuído para a outorgar maior poder de decisão à economia norte-americana,
concedendo-lhe, inclusive, o poder de veto. Os desdobramentos da conferência
de Bretton Woods foram a base para a construção da hegemonia econômica
norte-americana, uma vez que subordinava as novas instituições à política desse
país.

TEMA 5 – BRETTON WOODS: COLAPSO

A Conferência de Bretton Woods foi realizada devido à preocupação de


que uma depressão como a dos anos de 1930 se alastrasse após o fim da
Segunda Guerra Mundial. De acordo com Carvalho (2004, p. 58), em 1947, o
diagnóstico predominante não era de ameaça de depressão, mas sim, de
ameaça de inflação. Muitos países membros do FMI, entre eles “os Estados
Unidos, passaram a acreditar que a estabilidade cambial internacional poderia
ser abalada mais provavelmente pelo excesso de demanda” que foi causado
pela tentativa europeia de rápida recuperação. Essa preocupação se alastrou e
foi confirmada com base nas políticas adotadas pelas economias-membro do
FMI. Os Estados Unidos, por exemplo, adotaram uma política voltada ao pleno
emprego, enquanto outros países tinham como objetivo a manutenção de
elevado nível de atividades (Carvalho, 2004).
Fernandes (2009) afirma que a consequência direta das políticas até
então adotadas foi a rápida recuperação do comércio externo dos países aliados
e o forte aumento das importações dos Estados Unidos. Assim, o superávit que
os EUA possuíam na conta de transações correntes foi caindo, até que em 1971
apresentou seu primeiro déficit. Os norte-americanos precisavam então
recuperar a competitividade da economia, porém, não podiam desvalorizar sua
moeda sem quebrar a disciplina firmada em Bretton Woods. Após vários
embates, em 1971, diante das pressões protecionistas por parte do Congresso
norte-americano, do declínio da competividade e diante das pressões na
demanda internacional por ouro, o presidente dos Estados Unidos à época,
Richard Nixon, decretou o fim do padrão ouro (Villela, 2014). Além disso, Nixon,
de forma unilateral, suspendeu o sistema monetário dos acordos de Bretton
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Woods, cancelando a conversão direta do dólar em ouro. Esse ocorrido fez com
que a moeda sofresse uma desvalorização significativa, quebrando o acordo
pela primeira vez.

TROCANDO IDEIAS

Tema 1
Leitura complementar: para um entendimento sobre o contexto histórico de
surgimento do Bretton Woods leia: “De Bretton Woods ao Plano Marshall: a
Política Externa Norte-Americana em Relação à Europa (1944-1952)”. Acesse
em: http://revista.unicuritiba.edu.br/index.php/RIMA/article/view/196/171

Tema 2

Saiba mais: Para um entendimento mais aprofundado sobre o debate entre o


Plano Keynes e o Plano White, que antecedeu a conferência de Bretton Woods,
leia o artigo “O sistema de Bretton Woods e a dinâmica do sistema monetário
internacional Contemporâneo”, disponível no link
http://revistas.pucsp.br/index.php/rpe/article/view/7570/5510

Tema 3

Leitura complementar: Para compreender melhor as definições do Bretton


Woods, leia o texto “Economia Mundial após Segunda Grande Guerra”, de:
GREMAUD, A. P.; VASCONCELLOS, M. A. S.; TONETO JÚNIOR, R. Economia
brasileira contemporânea. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2011.

Leia também: “De Bretton Woods ao Plano Marshall: a política externa norte-
americana em relação à Europa (1944-1952)”.

SIMON, S. A. S. De Bretton Woods ao Plano Marshall: a política externa norte-


americana em relação à Europa (1944-1952). Revista Unicuritiba, v. 2, n. 14,
2011. Disponível em:
<http://revista.unicuritiba.edu.br/index.php/RIMA/article/viewFile/196/171>
Acesso em: 18 ago. 2016.

Tema 4

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Leitura complementar: para entender os Resultados do Bretton Woods leia o
texto “Economia Mundial após Segunda Grande Guerra” de:

GREMAUD, A. P.; VASCONCELLOS, M. A. S.; TONETO JÚNIOR, R. Economia


brasileira contemporânea. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2011.

Leia também: “O sistema de Bretton Woods e a dinâmica do sistema monetário


internacional contemporâneo”:

OLIVEIRA, G. C.; MAIA, G.; MARIANO, J. O sistema de Bretton Woods e a


dinâmica do sistema monetário internacional contemporâneo. Pesquisa &
Debate, v. 18, n. 2, p. 195-219, 2008. Disponível em:
<http://revistas.pucsp.br/index.php/rpe/article/view/7570/5510>. Acesso em: 13
dez. 2016.

Tema 5

Saiba mais: para compreender sobre o Colapso do Bretton Woods e seus


desdobramentos leia “O declínio de Bretton Woods e a emergência dos
mercados globalizados”. Acesse em:

BELLUZZO, L. G. M. O declínio de Bretton Woods e a emergência dos mercados


“globalizados”. Economia e sociedade, v. 4, n. 1. Disponível em:
<http://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/ecos/article/view/8643205/1075
4>. Acesso em: 13 dez. 2016.

Leia também: “O dólar e os desequilíbrios globais”. Acesse em:

BELUZZO, L. G. M. O dólar e os desequilíbrios globais. Revista de Economia


Política, v. 25, n. 3, p. 224-232, jul./set. 2005. Disponível em:
<http://www.scielo.br/pdf/rep/v25n3/a04v25n3>. Acesso em: 13 dez. 2016.

SÍNTESE

Ao longo desta aula, nos dedicamos à Conferência de Bretton Woods.


Como estudado, o que levou à realização dessa conferência foi a preocupação
de que, com o fim da Segunda Guerra, a crise e a depressão assolassem o
mundo. Essa conferência teve como base a discussão travada anteriormente à
sua realização entre o Plano White (Estados Unidos), que defendia uma política
neoliberal, e o Plano Keynes (Grã-Bretanha), que defendia a indispensável
atuação do Estado no controle da economia. Ao fim do embate, o Plano White
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prevaleceu, criou-se o FMI e o BIRD, além de confirmar o dólar como nova
moeda internacional e estabelecer um regime de câmbio fixo.
A preocupação com a ocorrência de uma depressão após a Segunda
Guerra foi tomada pela preocupação de um processo inflacionário. Por isso,
diante das pressões protecionistas dos Estados Unidos, do declínio da
competitividade de sua economia e das pressões na demanda internacional por
ouro, em 1971 decretou-se o fim do padrão ouro. Além disso, Richard Nixon,
presidente dos Estados Unidos à época, suspendeu o sistema monetário dos
acordos firmados em Bretton Woods, cancelando a conversão direta do dólar em
ouro, desvalorizando o dólar e quebrando o acordo de Bretton Woods pela
primeira vez.

REFERÊNCIAS

CARVALHO, F. C. Bretton Woods aos 60 anos. Revista Novos Estudos, n. 70,


2004. Disponível em:
<http://novosestudos.uol.com.br/v1/files/uploads/contents/104/20080627_bretto
n_woods.pdf>. Acesso em: 13 dez. 2016

FERNANDES, M. O fim do regime de Bretton Woods como reação do império


norte-americano. Vermelho, 6 fev. 2009. Disponível em:
<http://www.vermelho.org.br/coluna.php?id_coluna_texto=2056>. Acesso em:
13 dez. 2016.

LINS, M. A. D. T. Economia Política das Relações Monetárias e Financeiras


Internacionais. São Paulo: USP, 2015.

SIMON, S. A. S. De Bretton Woods ao Plano Marshall: a política externa norte-


americana em relação à Europa (1944-1952). Revista Unicuritiba, v. 2, n. 14,
2011. Disponível em:
<http://revista.unicuritiba.edu.br/index.php/RIMA/article/viewFile/196/171>. Acesso
em: 18 ago. 2016.

VILLELA, G. Conferência de Bretton Woods decidiu rumos do Pós-Guerra e criou


o FMI. O Globo, 18 jul. 2014. Disponível em:
<http://acervo.oglobo.globo.com/fatos-historicos/conferencia-de-bretton-woods-
decidiu-rumos-do-pos-guerra-criou-fmi-13310362#ixzz4I7YF3NPp>. Acesso
em: 13 dez. 2016.

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