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Nova Ordem

Econômica
Internacional

A Nova Ordem Econômica Internacional


foi imposta por um conjunto de
propostas elaboradas e expressas pela
Assembleia Geral das Nações Unidas
nos documentos "Declaração de
Estabelecimento de uma Nova Ordem
Econômica Mundial" (Resolução 3.201,
de 1º de Maio de 1974), "Plano de Ação
para o Estabelecimento de uma Nova
Ordem Econômica Mundial" (Resolução
3.202, de 1º de Maio de 1974) e "Carta
de Direitos e Deveres dos Estados"
(Resolução 3.281, de 12 de Dezembro de
1974).

A crescente importância dos problemas


econômicos e seu impacto nas relações
internacionais contemporâneas
refletiram-se nas resoluções, adotadas
em maio de 1974 pela Assembleia Geral
da ONU, em sua VI Sessão
Extraordinária, englobando a "Declaração
sobre o Estabelecimento de Nova Ordem
Econômica Internacional" e o "Programa
de Ação sobre o Estabelecimento de
Nova Ordem Econômica Internacional".[1]

Assembleia Geral na sede da ONU,


em Nova Iorque.

O objetivo era diminuir a disparidade de


poder nas relações econômicas entre
países industrializados e países em
desenvolvimento.

As propostas situavam-se em torno de


algumas reivindicações específicas dos
países em desenvolvimento, dentre as
quais podemos citar:

- estabilidade de preços para


commodities e matéria prima;
- transferência de recursos de países
ricos para pobres;

- industrialização e tecnologia;

- corporações transnacionais;

- acesso a mercados;

- reforma no Sistema Monetário


Internacional;

- maior poder nas discussões


internacionais.

Circunstâncias históricas

As mudanças no antigo sistema


Bretton Woods
Os planos e negociações da conferência
de Bretton Woods tiveram início ainda
em 1942, nos Estados Unidos e no Reino
Unido, diante do cenário então criado
pela Segunda Guerra Mundial.

O Hotel Mount Washington, em Bretton Woods, New Hampshire,


local da histórica Conferência de 1944.

Nesta conferência, foram criados dois


órgãos financeiros internacionais
permanentes, o Fundo Monetário
Internacional (FMI) e o Banco Mundial
(Banco Internacional para Reconstrução
e Desenvolvimento). Todos os países
membros deveriam contribuir com
recursos para estes dois organismos
internacionais.

O FMI teria como função auxiliar os


países para que atingissem estabilidade
financeira através do crescimento e da
destinação de recursos que atendessem
aos propósitos estabelecidos na
Convenção.

O Banco Mundial seria focado no


desenvolvimento econômico de longo
prazo e na reconstrução dos países
abalados pela Guerra e, posteriormente,
dos países que ainda se encontravam à
margem do sistema econômico mundial.
A estrutura de Bretton Woods desenhou
um modelo de sistema monetário
internacional que se manteve rígido por
muitas décadas. Contudo, é possível
observar que a lógica deste sistema foi
recentemente superada.

As crises experimentadas pelos países


em desenvolvimento nas décadas de
1980 e 1990 originaram uma
mobilização internacional gigantesca,
como não se fazia desde o período do
pós-guerra. O intuito era o de recuperar a
economia destes países o mais rápido
possível para que os impactos e
prejuízos não tivessem dimensões
globais trágicas.
A crise do México (1994-95) é um
exemplo claro da capacidade de
mobilização de recursos internacionais
em situações emergenciais. De acordo
com Andreas Lowenfeld,[2] neste
episódio, não foi só o FMI que impôs
condições para a concessão de recursos
para a recuperação do país. Os Estados
Unidos insistiram em condições próprias,
focadas nas políticas econômicas
mexicanas e na segurança para
empréstimos americanos. O México
celebrou com os EUA o Framework
Agreement for Mexican Economic
Stabilization e diversos anexos em que
as condições impostas eram mais
rígidas do que as do FMI. O tesouro
americano poderia pedir informações a
qualquer tempo, além de ter exigido a
elaboração de um plano financeiro
detalhado de como o dinheiro americano
seria utilizado. Ademais, a lei aplicável
escolhida foi a de Nova York, que
também foi eleita como fórum para
resolução de conflitos. No final do século
XX foi exigido que o México depositasse
no Federal Reserve, de Nova York, o valor
das exportações de petróleo feitas pela
PEMEX, que seria repassado ao tesouro
americano, instruído pelo Banco do
México, como forma de saldar as dívidas
mexicanas. O crédito continuaria com o
México, mas os recursos advindos das
vendas de petróleo ficariam em mãos
americanas.

Este episódio demonstra que os limites


de assistência do FMI se tornaram
irrelevantes. Do ponto de vista financeiro,
a recuperação do México foi um
sucesso, razão pela qual a mesma
solução se repetiu nas crises do Sudeste
Asiático e da Rússia, também nos anos
1990, o que reforça a superação do
Sistema Bretton Woods.

A instauração da Nova Ordem


Econômica também foi responsável por
outras mudanças na estrutura deste
sistema.
Novas demandas e preocupações
tiveram que ser incorporadas à agenda
do Sistema Bretton Woods, em
decorrência de sua interação com os
países em desenvolvimento. Assim, na
interação com esses movimentos, o
sistema Bretton Woods teve de se
reinventar diversas vezes para que fosse
capaz de gerenciar e atender as
demandas da realidade social dos países
do terceiro mundo.

É evidente que devido ao gigantesco


montante de recursos de que dispõem
as instituições do sistema Bretton
Woods, elas possuem uma grande
importância e influência na formulação
de políticas financeiras e econômicas
nos países em desenvolvimento. De
acordo com o autor indiano Balakrishnan
Rajagopal,[3] estas instituições teriam o
papel de guardiãs dos portões para o
sistema econômico internacional
(incluindo o acesso ao capital ocidental),
daí sua importância para os países do
terceiro mundo.

Ainda de acordo com o autor, no curso


de sua interação com os países do
terceiro mundo, as instituições do
sistema Bretton Woods estabeleceram
novas preocupações em suas agendas,
especialmente a partir dos anos 1970,
momento em que se deu início às
discussões relativas à necessidade de
instauração de uma nova ordem
econômica.

Os ativistas dos países em


desenvolvimento que fizeram parte deste
movimento focavam suas críticas nos
custos sociais e humanos do
desenvolvimento imposto pelo sistema
Bretton Woods aos países
subdesenvolvidos. Para os membros do
terceiro mundo, o problema não seria a
falha na promoção do desenvolvimento,
mas sim no fomento de um
desenvolvimento que estaria deixando
estes países ainda mais miseráveis.
Preocupações como meio ambiente,
direitos humanos, pobreza, equidade e
outras demandas de cunho social
passaram a ser também parte da agenda
das instituições do sistema Bretton
Woods e surgiram como resultado de um
complexo processo de interação entre
esses organismos e os movimentos
populares emergentes na década de
1970.

Instauração de uma Nova Ordem


Econômica Internacional

O tema do desenvolvimento somente


ganhou relevância no cenário
internacional após a Segunda Guerra
Mundial. Antes disso, a cooperação entre
os países para o estímulo ao
desenvolvimento estava baseada em
acordos bilaterais. Foi somente após
esta data que se incorporou ao Direito
internacional uma nova relação entre
países industrializados e países menos
desenvolvidos: o dever de solidariedade
dos primeiros em relação aos últimos e o
direito ao desenvolvimento destes
últimos.

De acordo com Rajagopal,[3] a


conferência de Bandung, em 1955, foi a
primeira conferência na história de que
fizeram parte somente Estados asiáticos
e africanos e simbolizou o novo espírito
de solidariedade do terceiro mundo. Foi
nessa conferência que surgiu um dos
principais pilares das demandas que
seriam discutidas no cenário da Nova
Ordem Econômica: o desejo de criação
de uma nova posição política capaz de
distinguir os países do terceiro mundo, "a
third way".

Esta busca por maiores níveis de


desenvolvimento foi viabilizada a partir
da organização de um grupo de pressão
e da atuação dos países menos
desenvolvidos em organizações
internacionais e multilaterais, tais como
a Organização das Nações Unidas (ONU)
e o Acordo Geral de Tarifas e Comércio
(GATT).
O reconhecimento das desigualdades e a
atuação no combate às mesmas no
âmbito do sistema multilateral do
comércio é um efeito direto das
tentativas dos países menos
desenvolvidos de instituir uma Nova
Ordem Econômica Internacional no
âmbito da ONU.[4] Desta forma, países
como o Brasil exigiam o reconhecimento
internacional de seu direito ao
desenvolvimento, reivindicando maior
participação na definição das normas
constantes do direito internacional, de
forma a refletir nelas seus interesses.

Duas circunstâncias históricas


contribuíram para que este movimento
fosse possível e eficaz: primeiramente,
grande parte dos países participantes
deste movimento eram Estados
independentes e, portanto, participantes
plenos da comunidade internacional em
busca de sua identidade nacional
própria. Em segundo lugar, a Guerra Fria,
que dividiu o mundo em dois blocos
antagônicos, colocou em relevo estes
países menos desenvolvidos, uma vez
que seu apoio era muito disputado.

A forma escolhida por estes países para


atingirem os seus objetivos foi a atuação
na Assembleia Geral da ONU, por meio
da criação de um órgão, a Conferência
das Nações Unidas sobre Comércio e
Desenvolvimento (UNCTAD). O
movimento por uma nova ordem
econômica internacional teve início na
década de 1950, com a constituição do
Grupo dos Países Não-Alinhados,
passando pelo Grupo dos 77 (em 1964)
e pelo estabelecimento da UNCTAD
como órgão permanente da Assembleia
Geral da ONU, culminando com a
aprovação, na década de 1970, de
importantes resoluções na Assembleia
Geral da ONU.

Resoluções da Assembleia
Geral da ONU

Declaração de Estabelecimento de
uma Nova Ordem Econômica
Mundial: Resolução 3.201, de 1° de
maio de 1974

Após Sessão Especial da Assembleia


Geral para estudar os problemas de
matéria prima e desenvolvimento, tendo
em vista os objetivos da Carta das
Nações Unidas de promoção do
desenvolvimento econômico e progresso
social, a ONU emitiu a Resolução 3.201,
pela qual buscava demonstrar a
determinação de seus países membros
de trabalhar urgentemente para o
estabelecimento de uma Nova Ordem
Econômica Mundial.
Com o objetivo de distribuir de forma
mais justa os recursos naturais,
humanos e econômicos, a declaração
tem como base 20 princípios, dentre os
quais podemos mencionar: soberania
dos Estados no gerenciamento de
recursos naturais e atividades
econômicas, aumento da assistência
para países em desenvolvimento,
promoção de condições favoráveis para
a transferência de recursos financeiros
para países em desenvolvimento, acesso
à tecnologia e ciência moderna aos
países em desenvolvimento, entre
muitos outros.

Plano de ação para uma Nova


Ordem Econômica Mundial:
Resolução 3.202, de 1° de maio de
1974

Se, por um lado, a Resolução 3.201 era


um conjunto de princípios com o intuito
de orientar as práticas dos países em
uma Nova Ordem Econômica
Internacional, a Resolução 3.202 buscou
dar concretude a esses princípios,
estabelecendo um plano de ação.

Assim como a Declaração, o Plano


dispunha sobre áreas de reivindicações
dos países em desenvolvimento: matéria
prima e commodities, financiamento dos
países em desenvolvimento e o Sistema
Monetário Internacional, industrialização,
transferência de tecnologia, regulação e
controle das empresas transnacionais,
direitos e deveres dos Estados,
cooperação entre Estados, promoção da
cooperação entre países em
desenvolvimento, assistência no
exercício de soberania dos Estados e
controle de recursos naturais, aumento
do papel da ONU no campo de
cooperação econômica internacional e o
plano especial emergencial, para
diminuir as dificuldades pelas quais os
países em desenvolvimento passavam
na crise econômica.

Carta de direitos e deveres


econômicos dos Estados: Resolução
3.281, de 12 de dezembro de 1974

Considerando o espírito das duas


resoluções anteriores, no sentido de se
estabelecer uma Nova Ordem
Econômica Internacional, era de vital
importância que se criasse um
instrumento efetivo para a concretização
dos princípios e instrumentos
estabelecidos. Nesse contexto, a
Assembleia Geral da ONU proclamou a
Carta de Direitos e Deveres Econômicos
dos Estados.

A Carta estabeleceu os princípios que


devem reger as relações econômicas e
políticas entre os Estados, dentre os
quais podemos citar: soberania, não
agressão, solução pacífica de
controvérsias, respeito aos direitos
humanos, entre outros. Além dos
princípios, foram estabelecidos, em 28
artigos, os deveres econômicos dos
Estados e mais dois dispositivos acerca
da responsabilidade comum dos
Estados perante a comunidade
internacional. Por fim, a Carta
estabeleceu que na 30ª Sessão da
Assembleia Geral e, depois, de 5 em 5
sessões, a Carta seria discutida para
averiguar o seu devido cumprimento.

Tratamento diferenciado
nas relações comerciais
internacionais
A construção de uma Nova Ordem
Econômica Internacional foi um
processo, culminando com a aprovação
das resoluções na Assembleia Geral da
ONU, em 1974.

Como a realidade demonstrava


diferenças de nível de desenvolvimento
entre os participantes do comércio
internacional, viu-se necessária a criação
de instrumentos corretivos, visando criar
exceções ao princípio da Cláusula da
Nação mais Favorecida. Este princípio,
fundamental ao comércio internacional,
estabelece que todo benefício ou
vantagem conferida por um membro da
Organização Mundial do Comércio
(OMC) a outro deve ser estendida,
automaticamente, a todos os outros
membros. Haveria, também, uma ideia
de não-discriminação nos tratamentos
comerciais entre os países.

Abaixo estão exemplificadas algumas


adoções feitas anteriormente às
Resoluções no âmbito do comércio
internacional, de forma a reconhecer as
diferenças de grau de desenvolvimento
entre os países e melhorá-las.

GATT — 1947
O Tratamento Diferenciado concedido
aos países em desenvolvimento foi
consagrado pelo próprio GATT de 1947,
através do estabelecimento do Artigo
XVIII, e suas Seções A, B, C e D, intitulado
"Auxílio do Estado em favor do
desenvolvimento econômico".

A Seção A permite que os países em


desenvolvimento retirem ou alterem
alguma concessão, caso isso seja
necessário para possibilitar a
implantação de determinada indústria no
país.

A Seção B permite que sejam impostas


restrições às importações, de forma a
alcançar um maior equilíbrio da balança
de pagamentos.

As Seções C e D permitem a imposição


de restrições às importações quando for
necessário o estímulo de indústrias
nacionais incipientes, consideradas
fundamentais para o desenvolvimento
do país.

A adoção destas medidas não pode ser


irrestrita: ela está sujeita a condições,
tais como a obrigação de notificação aos
outros países da adoção de tais
medidas, a promoção de consultas e de
alteração das medidas se elas forem
consideradas abusivas ou
inconsistentes.
GATT — 1964

Um dos resultados alcançados pelo


movimento dos países menos
desenvolvidos em busca da obtenção de
um tratamento preferencial no âmbito do
comércio internacional e,
consequentemente, de seu direito ao
desenvolvimento, foi o acréscimo da
chamada Parte IV ao GATT, em 1964.
Esta parte tem três artigos — 36, 37 e 38
— e trata do tema "Comércio e
Desenvolvimento".

Este dispositivo reconhece a importância


do desenvolvimento dos países menos
desenvolvidos, permitindo a
flexibilização do princípio da
reciprocidade em favor desses países.
Além disso, também estabelece
compromissos dos países
desenvolvidos, agindo de forma a
possibilitarem a consecução dos
objetivos desta Parte IV. No entanto,
como estes compromissos não tem
força obrigatória, sua aplicação restou
bastante limitada.

Sistema Geral de Preferências

O Sistema Geral de Preferências diz


respeito à concessão, por parte dos
países desenvolvidos, de privilégios e
vantagens no tratamento comercial aos
países menos desenvolvidos, de forma a
tentar reduzir as diferenças nos graus de
desenvolvimento.

Em 1971, foi estabelecida a sua


aplicação a todos os países em
desenvolvimento membros do GATT por
um período de dez anos. Com isso, abria-
se mão, expressamente, de princípios
como o da Cláusula da Nação Mais
Favorecida e da não-discriminação. Em
1979, a adoção do Sistema Geral de
Preferências foi renovada, desta vez,
sem limitação temporal.

Os resultados: a perspectiva
do Brasil
Rabih Ali Nasser[4] afirma que é possível
perceber que os resultados alcançados
não foram suficientes para diminuir a
diferença nos graus de desenvolvimento.
Tem sido frequentemente questionado
até que ponto os interesses dos países
em desenvolvimento têm sido atendidos
com o novo regime jurídico aplicável ao
comércio internacional. O que é
importante perceber é que os países em
desenvolvimento já estão, de fato, mais
integrados ao sistema do comércio
internacional. O que o autor ressalta é
que, em contrapartida, eles estão cada
vez mais sujeitos às normas negociadas,
beneficiando-se, cada vez menos, de
tratamento especial ou privilegiado. Isso
é verdade principalmente no que se
refere aos mais desenvolvidos entre os
países em desenvolvimento, como é o
caso do Brasil. Os países desenvolvidos
vêem o Brasil como um membro pleno,
que não deve receber tratamento
privilegiado ou mais benéfico. Desta
forma, este país possui praticamente as
mesmas obrigações e as mesmas
restrições à liberdade que os países
desenvolvidos, sem ter atingido um grau
de desenvolvimento comparável.

Assim, o autor supracitado sustenta que


por mais positivo que possa parecer a
integração dos países em
desenvolvimento, a experiência dos anos
que se passaram desde a Rodada
Uruguai não demonstra perspectivas
otimistas: a participação dos países em
desenvolvimento no comércio
internacional não tem aumentado, e isso
é exclusivamente preocupante quando
se tem em mente que esta participação
é condição fundamental para que se
atinja maiores níveis de
desenvolvimento.

A divisão internacional do
trabalho na Nova Ordem
Econômica Internacional
Pode-se dividir em três fases a divisão
internacional do trabalho. A primeira fase
diz respeito à época do colonialismo,
quando as potências exploravam as suas
colônias, de forma a obter produtos
agrícolas e tudo o mais que não
conseguiam produzir em seus países.

Na segunda fase, apesar de as ex-


colônias já estarem independentes, a
estrutura anterior da DIT colonial
mantêm-se: os países subdesenvolvidos
(antigas ex-colônias) são responsáveis
por exportar aos países desenvolvidos
matérias primas e produtos agrícolas,
enquanto importavam destes últimos
produtos manufaturados e
industrializados, com alto valor
agregado.
No contexto da nova ordem econômica
internacional, surge a terceira fase da
divisão internacional do trabalho (que co-
existe com a segunda fase). Os países
subdesenvolvidos não são mais
meramente agrícolas, exportadores de
matéria-prima. Claro que esta
característica ainda é muito marcante
em sua economia, mas a indústria já
aparece como fator relevante. Além
disso, não são mais somente as
exportações e importações de produtos
que configuram a divisão internacional
do trabalho, envolvendo também os
fluxos de capitais, com os investimentos
diretos. Desta forma, vê-se que a nova
divisão internacional do trabalho é mais
complexa, envolvendo o fluxo de
mercadorias e de capitais e tendo os
países subdesenvolvidos não mais como
somente fornecedores de matéria-prima
para os desenvolvidos.

Considerações finais a
respeito da Nova Ordem
Econômica Internacional
De acordo com o autor indiano
Balakrishnan Rajagopal,[3] a Nova Ordem
Econômica Internacional (NOEI)
simbolizou um momento de desafio para
o direito internacional que resultou na
transformação e expansão de seu
alcance. Contudo, esta nova ordem
também encontrou limitações devido à
extensão de seu radicalismo. Em outras
palavras, o estabelecimento da nova
ordem econômica não foi nem tão falho,
como muitos sustentam, nem tão radical
como outros acreditam. É importante
notar assim que, enquanto as propostas
da NOEI visavam à expansão das
instituições da ONU, a natureza limitada
destas propostas teve também o efeito
de institucionalizar o radicalismo que
estava emergindo do terceiro mundo.

Na visão do autor, por meio deste


processo, o radicalismo dos países do
terceiro mundo foi gradualmente se
tornando institucionalizado e controlado.
Isto pode ser percebido com clareza, no
caso da Seção Especial de UNGA,
ocorrida em setembro de 1975. Em
primeiro lugar, após um longo período de
liderança de uma ala radical dos países
do terceiro mundo, representados pela
Argélia, uma ala mais moderada passou
a liderar o bloco do terceiro mundo. Em
segundo lugar, nesta ocasião, os EUA
aderiram a uma postura mais moderada
e realizaram diversas propostas
concretas designadas a responder as
demandas dos países do terceiro
mundo. O embaixador americano, Daniel
Patrick Moyhnihan sugeriu
financiamentos facilitados perante o
FMI, melhor acesso ao capital ocidental,
mercados e tecnologia, compromissos
de negociar tarifas para promover o
comércio com os países em
desenvolvimento, programas para
assegurar fornecimento de alimentos e
contribuição na agricultura,
financiamento para produção pelo Banco
Mundial e um aumento no auxílio contra
a pobreza.

Em parte devido a estas concessões


americanas, em parte devido ao espírito
de solidariedade que coage as facções
mais radicais a estabelecerem um
compromisso, o radicalismo do bloco
dos países subdesenvolvidos foi
efetivamente contido neste encontro,
sem grandes prejuízos para os
interesses econômicos dos países mais
abastados.

Assim, o que há de mais importante


neste cenário é que os países do terceiro
mundo haviam finalmente ganho real
importância e poder perante as
instituições internacionais capazes de
gerenciar e atender de maneira mais
eficaz a realidade social destes países.

Referências
1. As Nações Unidas e a Nova Ordem
Econômica Internacional. Trindade,
Antonio Augusto Cançado. 1984.

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