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SISTEMA FINANCEIRO

INTERNACIONAL
AULA 4

Profª. Polyanna Rodrigues Gondin


CONVERSA INICIAL

Nesta aula, a atenção volta-se para o estudo do sistema interamericano


de crédito. Nela, iremos analisar os principais instrumentos de desenvolvimento
da América, desde o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) até o
Banco de Desenvolvimento dos BRICS, e a crise da dívida nos países em
desenvolvimento. No que diz respeito à esta crise, atenção especial será dada
ao endividamento externo brasileiro nos anos de 1980.
Após essa aula, você será capaz de entender o contexto histórico de
surgimento, objetivos, estrutura institucional e financeira do BID, do Sistema
Econômico Latino-americano (SELA) e do Banco de Desenvolvimento do
BRICS. Além de possuir informações para entender a crise da dívida nos países
em desenvolvimento, bem como a crise econômica instaurada na década de
1980 e o processo de endividamento brasileiro.

TEMA 1 – O BANCO INTERAMERICANO DE DESENVOLVIMENTO (BID)


O Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) foi precursor do
sistema de bancos regionais de desenvolvimento. De acordo com publicação do
BID (2016), ele se configura como o maior e mais antigo banco de
desenvolvimento multilateral regional do mundo e é a principal fonte de
financiamento multilateral para a América Latina e o Caribe. Foi fundado em
1958, com a finalidade de promover o desenvolvimento econômico, social e
institucional, de maneira sustentável, dos países da América Latina e Caribe.
Para isso, desde sua criação, atua concedendo financiamento a investimentos
em projetos prioritários em áreas determinadas. São elas: programas sociais,
modernização do Estado, integração regional e liberalização do comércio.
O banco tem sede em Washington, D.C. (EUA) e um capital em torno de
US$ 100 bilhões. Ao todo, é formado por 47 estados-membros. Deles, 26 países
são beneficiários; os outros 21 não beneficiários, possuem poder de voto
proporcional ao capital subscrito ao banco pelo país. Entre os não beneficiados,
Estados Unidos, Japão, Alemanha, França e Espanha são, respectivamente, os
maiores acionistas (O que é..., 2016). Seu principal órgão de decisão é o
Conselho dos Governadores, que se reúne anualmente e é composto, em
maioria, pelos Ministros das Finanças dos países-membro.

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Desde sua fundação, o BID realizava empréstimos diretos aos países
mutuários, garantidos pelos Estados, caracterizando reduzido fator de risco.
Entretanto, no fim de 2006, iniciou um exercício de reestruturação, com o intuito
de responder mais eficazmente aos desafios da região e expectativas de seus
clientes. Com essa reestruturação, aumentou os recursos destinados ao
financiamento de projetos do setor privado e operações sem garantia soberana
a empresas públicas e municípios. Os empréstimos concedidos por essa
instituição visam à redução da pobreza e à promoção da equidade social (Gpeari,
2016).

TEMA 2 – SISTEMA ECONÔMICO LATINO-AMERICANO (SELA)


De acordo com Sousa e Kinoshita (2002, p. 1), o Sistema Econômico
Latino-americano (SELA) é um “organismo regional de natureza
intergovernamental”, que foi instituído em outubro de 1975 por meio do Convênio
Constitutivo do Panamá. Surgiu em “meados dos anos 1970 em um contexto de
Guerra Fria, crises financeiras internacionais e regimes não democráticos na
maioria dos países da região, como uma forma de organização dos Estados
latino-americanos e caribenhos”. Está localizado em Caracas, na Venezuela. É
integrado por 27 países da América Latina e o Caribe, entre eles: Brasil,
Argentina, Colômbia, Uruguai, Haiti e Jamaica. Esse sistema atua mediante
cooperação internacional, com o objetivo de promover um sistema de consultas
e coordenação de estratégias comuns em termos econômicos para
países-membros e impulsionar a cooperação internacional e a integração
regional entre esses países.
O órgão máximo é o Conselho Latino-americano, composto por um
integrante de cada Estado-membro. Esse Conselho reúne-se anualmente e
encarrega-se do estabelecimento de políticas centrais do Sistema. Além do
Conselho Latino-americano, a estrutura institucional do SELA é formada pelos
Comitês de Trabalho e pela Secretaria Permanente. O SELA realiza fóruns de
discussão nos quais participam membros dos governos e do setor privado,
também promove seminários, cursos e oficinas de formação em áreas temáticas
específicas de interesse econômico, que são destinados ao governo,
empresários, trabalhadores, parlamentares e acadêmicos (Sousa; Kinoshita,
2002).

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Esse sistema tem, basicamente, três áreas temáticas de atuação de
acordo com Sousa e Kinoshita (2002). A primeira diz respeito à inserção dos
países membros no processo de globalização da economia mundial,
concentrando esforços nas relações estrangeiras. A segunda, refere-se ao
melhoramento das relações intrarregionais das sub-regiões da América Latina e
do Caribe. E a última, de acordo com Sousa e Kinoshita (2002, p. 2) diz respeito
às relações extrarregionais, incluindo “em primeiro lugar a análise e seguimento
do processo de globalização e seu impacto sobre o desenvolvimento da área e
sua inserção na economia mundial”.

TEMA 3 – BANCO DE DESENVOLVIMENTO DO BRICS


O Banco de Desenvolvimento do BRICS – também conhecido como Novo
Banco de Desenvolvimento do BRICS – é um banco de desenvolvimento
multilateral. É operado pelos países que compõem o BRICS: Brasil, Rússia,
Índia, China e África do Sul. Em 2013, na Cúpula de Durban, “deu-se início às
negociações para a criação de um novo banco de desenvolvimento liderado
pelos cinco Estados e voltado para o financiamento de projetos de infraestrutura
e desenvolvimento sustentável” (Jesus, 2013). Efetivamente, foi
institucionalizado em julho de 2014 como uma alternativa ao Banco Mundial e ao
FMI. Assim, de acordo com Welle (2015), é considerada como a primeira
instituição de caráter global que não é liderada pela Europa nem Estados Unidos.
Sua atuação formal começou no ano de 2015 e a sede está localizada em
Xangai, na China.
Como afirmado por Jesus (2013), as atividades desse banco voltam-se
essencialmente para o financiamento de projetos de infraestrutura e de
desenvolvimento sustentável, e também para a prestação de assistência aos
países que passaram a sofrer com a volatilidade econômica após o fim da
política monetária expansionista dos Estados Unidos. Em síntese, o banco firma
um compromisso “entre os países de disponibilizarem, caso requerido, parte de
suas reservas na proteção dos demais”. Para tal finalidade, envolve um fundo de
US$ 100 bilhões, que é dividido em partes diferentes entre os vários países:
US$ 41 bilhões da China, US$ 18 bilhões do Brasil, da Rússia e da Índia e, US$
5 bilhões da África do Sul (Dieese, 2014, p. 4).
Existe um multiplicador utilizado para acesso aos recursos do fundo, que
varia a depender do país. O acesso a até 30% dos recursos máximos que cada
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país pode demandar depende apenas de um acordo entre os países-membros.
Entretanto, deve-se salientar que, para acessar um valor correspondente a mais
de 30%, é necessário firmar um acordo com o FMI e, assim, diversos estudiosos
questionam se esse banco seria uma alternativa ou complemento às instituições
dominadas pela hegemonia estadunidense. Por fim, no que diz respeito ao poder
de voto, no Banco dos BRICS cada país tem um voto, sem previsão de vetos e
independente da cota que o país possui junto à instituição (Dieese, 2014).

TEMA 4 – CRISE DA DÍVIDA NOS PAÍSES EM DESENVOLVIMENTO


O problema da dívida nos países em desenvolvimento remonta o fim da
década de 1970 e o começo da década de 1980. A esse respeito Dornbusch
(1988) afirma que, desde 1978, a dívida de países menos desenvolvidos cresceu
142% em termos nominais e 88% em termos reais, sendo o Brasil, uma das
economias mais endividadas nesse período. O autor relata: foram três fatores
que, combinados, contribuíram para o estouro da crise da dívida em 1982.
Primeiro, políticas macroeconômicas deficientes dos países devedores,
incluindo a supervalorização de suas moedas para conter a pressão
inflacionária. Segundo, o descenso na economia mundial, com taxas de juros
elevadas e crescimento menor. Na década de 1970, os EUA apresentaram
inflação crescente devido aos choques do petróleo e às políticas expansionistas
dessa economia. Para inverter esse cenário, de 1971 a 1981, sob a pressão do
colapso do dólar, a economia estadunidense adotou políticas contracionistas. E,
por último, a facilidade inicial para a contratação de empréstimos, até metade de
1982, seguida de recusa por parte dos bancos comerciais, após a moratória
mexicana em agosto de 1982 (Dornbusch, 1988).
Do ponto de vista dos credores, principalmente os Estados Unidos, o
problema da dívida dos países em desenvolvimento representou ameaça ao
sistema financeiro internacional e, assim, a crise da dívida passou a ser
administrada pelo Banco Central Norte-americano. Essa instituição coordenou a
formação de um comitê de bancos que passou a renegociar as dívidas perante
cada economia devedora, contando com o apoio do FMI e do BIRD. Diante do
ajuste proposto pelo FMI, os problemas internos foram agravados, resultando
em uma explosão inflacionária em quase todos os países endividados. Assim, a
década de 1980 foi marcada por uma crise de confiança nos países em

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desenvolvimento e por um aumento dos empréstimos aos países
industrializados (Márcio, 2011).

TEMA 5 – O CASO DO BRASIL: CRISE DA DÍVIDA NOS ANOS 1980


O período compreendido entre 1968 e 1973 na história brasileira é
conhecido como “milagre econômico”. O rápido crescimento econômico,
configurado nesse período, levou ao aparecimento de alguns desequilíbrios que
geraram a alta da inflação e problemas na balança comercial. Para manter esse
ciclo expansionista, em fins de 1973, tornou-se necessário uma situação externa
favorável. Entretanto, o que ocorreu externamente foi uma crise internacional
desencadeada pelo “primeiro choque do petróleo”, que ocorreu nesse ano.
Externamente, deve-se ressaltar também que os Estados Unidos, a partir de
1979, passaram a adotar uma política monetária contracionista, restringindo o
crédito (Gremaud; Vasconcellos; Toneto Júnior, 2011).
Houve então uma inversão: enquanto na década de 1970 o endividamento
externo era visto como uma forma de superar constrangimentos externos, na
década de 1980, tornou-se gerador de dificuldades. Assim, iniciou-se em 1980,
sob a tutela do FMI, um processo de ajustamento externo, visando a geração de
superávits para fazer frente aos serviços da dívida externa na economia
brasileira. O resultado foi uma “profunda recessão em 1981 e 1983, e baixo
crescimento em 1982. A inflação [...] acelerou-se a partir de 1982 devido a alguns
choques de oferta e à deterioração da situação financeira do Estado” (Gremaud;
Vasconcellos; Toneto Júnior, 2011, p. 410).

TROCANDO IDEIAS
Tema 1
Saiba mais: acesse o relatório anual de 2014 do Banco Interamericano de
Desenvolvimento. Nele, você irá compreender um pouco mais sobre a dinâmica
de funcionamento, projetos e recursos do BID. Acesse em:
Banco Interamericano de Desenvolvimento – BID. Relatório anual 2014:
resenha do ano. Washington, 2014. Disponível em:
<https://publications.iadb.org/handle/11319/6855?locale-attribute=em>. Acesso
em: 14 dez. 2016.

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Tema 2
Leitura Complementar: para conhecer um pouco mais sobre a criação e
estrutura do SELA, leia a dissertação de mestrado “O sistema econômico
latino-americano (SELA): integração e relações internacionais (1975-1991)”.
Acesse:

ESTENSSORO, L. E. R. O sistema econômico latino-americano (SELA):


integração e relações internacionais (1975-1991). 200f. Dissertação (Mestrado
em Integração da América Latina) – Universidade de São Paulo, São Paulo,
1994. Disponível em: <http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/84/84131/tde-
16082011-100208/pt-br.php>. Acesso em: 14 dez. 2016.

Saiba mais: para compreender o papel do SELA no contexto de criação da


CELAC e do pensamento da política externa brasileira acerca da integração
regional, leia “A CELAC, o SELA e a Agenda do Brasil para a América Latina e
Caribe”. Acesse em: GONÇALVES, F. T. A CELAC, o SELA e a agenda do Brasil
para América Latina e Caribe. Boletim de Economia e Política Internacional,
n. 8, out. dez. 2010. Disponível em:
<http://repositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/4572/1/BEPI_n08_celac.pdf>.
Acesso em: 14 dez 2016.

Tema 3

Leitura complementar: para conhecer um pouco mais sobre a cooperação


Sul-Sul, leia o texto de Milani e Carvalho “Cooperação Sul-Sul e política externa:
Brasil e China no continente africano”. Acesse em: MILANI, R. S.; CARVALHO,
T. C. O. Cooperação Sul-Sul e política externa: Brasil e China no continente
africano. Estudos internacionais, v. 1, n. 1, jan./jun. 2013. Disponível em:
<http://200.229.32.55/index.php/estudosinternacionais/article/view/5158/5168>.
Acesso em: 14 dez. 2016.

Saiba mais: para entender o processo de institucionalização do BRICS, leia “De


Nova York a Durban: o processo de institucionalização do BRICS”. Acesso em:
JESUS, D. S. V. De Nova York a Durban: o processo de institucionalização do
BRICS. Revista Oikos, Rio de Janeiro, v. 12, n. 1, 2013. Disponível em:
<http://www.revistaoikos.org/seer/index.php/oikos/article/viewArticle/321>.
Acesso em: 14 dez. 2016.

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Tema 4

Leitura complementar: Para entender um pouco mais sobre a crise da dívida


externa, leia o texto: “Dívida Externa e Alternativas de Desenvolvimento da
América Latina”. Acesse em: FFRENCH-DAVIS, R. Dívida externa e alternativas
de desenvolvimento na América Latina. Revista Economia Política, v. 5 n. 5
jul./set. 1985. Disponível em: <http://www.rep.org.br/PDF/19-7.PDF>. Acesso
em: 14 dez. 2016.

Tema 5

Saiba mais: conheça um pouco mais sobre as causas da desaceleração


econômica brasileira no texto “Uma interpretação das causas da desaceleração
econômica do Brasil”. Acesso em: BACHA, L. E.; BONELLI, R. Uma
interpretação das causas da desaceleração econômica do Brasil. Revista
Economia Política, v. 25, n. 3, p.163-189, jul./set. 2005. Disponível em:
<http://www.scielo.br/pdf/rep/v25n3/a01v25n3>. Acesso em: 14 dez. 2016.

SÍNTESE
Nesta aula, você pôde se dedicar ao estudo do sistema interamericano de
crédito. Começamos com a análise do BID, que foi o precursor do sistema de
bancos regionais de desenvolvimento. Seguimos a análise com o Sistema
Econômico Latino-Americano, que busca a cooperação e integração regional,
além de promover um sistema de consultas de estratégias econômicas comuns.
O terceiro tópico dessa aula destinou-se ao estudo do Banco de
Desenvolvimento do BRICS, que foi institucionalizado como alternativa ao Banco
Mundial e ao FMI, ambos sob forte influência dos Estados Unidos. Após a análise
dessas instituições financeiras, foi dada atenção ao processo de crise nos países
em desenvolvimento, em especial, ao caso da crise da dívida brasileira, na
década de 1980.
Então, esta aula foi importante para compreender a dinâmica financeira
internacional e sua influência nas economias em desenvolvimento, mostrando
relevância e ao mesmo tempo o perigo da vulnerabilidade externa.

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REFERÊNCIAS

BID – Banco Interamericano de Desenvolvimento. Relatório anual 2015:


resenha do ano. Washington, 2014. Disponível em:
<https://publications.iadb.org/bitstream/handle/11319/7554/Relatorio-Anual-do-
BID-2015-Resenha-do-ano.pdf?sequence=3>. Acesso em: 15 dez. 2016.

DIEESE – Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos


Socioeconômicos. Nota técnica n. 139: BRICS – acordo de reservas e o novo
banco de desenvolvimento: rumo à institucionalização do bloco. São Paulo,
2006. Disponível em:
<http://www.dieese.org.br/notatecnica/2006/notatec24cambio.pdf>. Acesso em:
10 dez. 2016.

DORNBUSCH, R. As dívidas dos países em desenvolvimento. Revista de


Economia Política, v. 8, n. 1, 1988. Disponível em:
<http://www.rep.org.br/pdf/29-2.pdf> Acesso em: 14 dez. 2016.

GREMAUD, A. P.; VASCONCELLOS, M.A.S.; TONETO JÚNIOR, R. Economia


brasileira contemporânea. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2011.

MÁRCIO, C. Crise: a dívida externa do terceiro mundo. Administradores, 28


dez. 2011. Disponível em:
<http://www.administradores.com.br/artigos/economia-e-financas/crise-a-divida-
externa-do-terceiro-mundo/60692/> Acesso em: 14 dez. 2016.

O QUE É o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID)? GPARI, 2016.


Disponível em: <http://www.gpeari.min-financas.pt/relacoes-
internacionais/relacoes-multilaterais/instituicoes-financeiras-
internacionais/bancos-regionais-de-desenvolvimento/bid/o-que-e-o-bid>.
Acesso em: 14 dez. 2016.

SOUSA, J. F.; KINOSHITA, F. O que é o Sistema Latino Americano Hoje.


Âmbito Jurídico, 2002. Disponível em: <http://www.ambito-
juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=5588>
Acesso em: 14 dez. 2016.

JESUS, D. S. V. De Nova York a Durban: o processo de institucionalização do


BRICS. Revista Oikos, Rio de Janeiro, v. 12, n. 1, 2013. Disponível em:
<http://www.revistaoikos.org/seer/index.php/oikos/article/viewArticle/321>.
Acesso em: 14 dez. 2016.
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WELLE, D. Como o banco do BRICS altera a geopolítica financeira. Carta
Capital, 9 jul. 2015. Disponível em:
<http://www.cartacapital.com.br/internacional/como-o-banco-dos-brics-altera-a-
geopolitica-financeira-3322.html>. Acesso em: 14 dez. 2016.

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